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Sugata Mitra: “As provas não servem mais, são uma ameaça”
Professor da Universidade de Newcastle ganhou o Prêmio TED em 2013. Seu método de ensino
é seguido em 50 países
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Na sua conferência de 20 minutos, este engenheiro, que trabalha como professor na Universidade de
Newcastle, critica o atual sistema de ensino. Acredita que está baseado em um modelo que foi concebido
há 300 anos, na era dos impérios, quando os governos formavam cidadãos idênticos para que
funcionassem em qualquer ponto do planeta.
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Para ele, a revolução educacional deve acabar com os programas acadêmicos para colocar a Internet no
centro da aprendizagem. Também defende o fim das provas como ferramenta de avaliação.
Simplesmente porque “o tempo das trincheiras acabou e os alunos não precisam mais aprender com a
ameaça e o medo como uma constante”.
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Pergunta: O senhor diz que os exames não são mais úteis, porque não permitem aos
alunos pensarem com clareza. Já fez alguma pesquisa a respeito disso?
P: Na década de 90, trabalhava para uma empresa indiana de informática. Quando começou a se
interessar pela educação?
R: Não foi premeditado. Eu estava encarregado de projetar programas de treinamento, mas acabei
fazendo o contrário: mostrar que a tecnologia pode ser aprendida por conta própria. Nos anos noventa,
éramos poucos que tinham computador em casa e um dia comentei a um grupo de amigos a facilidade
com que nossos filhos mexiam com eles mesmo sem orientação. Como experiência, pensei em
incorporar um computador em um muro de um bairro pobre em Nova Delhi para analisar a reação das
crianças. Oito horas depois, estavam navegando pela rede e ensinando os outros a fazer o mesmo. Essas
crianças nunca tinham ido à escola e não sabiam inglês. Fiz o mesmo teste em áreas remotas da Índia e
com o apoio financeiro do Banco Mundial realizei a primeira pesquisa em 2002. A grande descoberta:
um grupo de crianças sem qualquer supervisor e com acesso à Internet pode aprender em nove meses a
usar um computador como qualquer secretário do Ocidente.
R: Anos depois, a Universidade de Newcastle me chamou para levar a experiência às escolas da Índia. Aí
descobrimos que acontecia o mesmo com a matemática, a física e a arte; as crianças aprendiam sem as
lições do professor, só trabalhando em grupos com um computador conectado à Internet. A única
orientação que recebiam era uma grande questão que devia ser respondida. Por que chove? Uma
professora de uma escola britânica entrou em contato comigo para levar o sistema ao seu colégio.
Quando foi testado, os professores disseram que o impossível estava acontecendo; os meninos aprendiam
sem um ensino dirigido. Não falavam sobre vantagens ou desvantagens, só que poderia ser feito. Nos
países desenvolvidos, SOLE acaba com a rigidez do sistema, ajuda a abrir a mente.
Sugata Mitra.
CARLOS ROSILLO
R: Já se falava de aprendizagem autodirigida nos anos 20 Um caso conhecido é o do padre jesuíta que
lançou um sistema na Índia, no qual os alunos dos cursos superiores ensinavam os mais jovens. Qual é a
diferença? Internet. Minha pesquisa fala de outra forma na qual as crianças podem aprender, um método
mais rápido e igualmente eficiente.
P: Surgiram muitas vozes críticas a seu projeto SOLE. Foi acusado de falta de provas científicas que
provem que realmente funciona.
R: É muito difícil definir o que é funcionar bem quando estamos defendendo a mudança da nossa forma
de avaliar. A realidade é que há mais de 1.000 SOLE em todo o mundo, grupos de crianças conectados à
Internet e aprendendo em grupos. A melhor prova do sucesso do modelo são os dados que
recompilamos do Twitter: mais de 10.000 professores estão falando do SOLE. Quando pergunto aos
críticos se eles leram minha pesquisa, a resposta é geralmente negativa. São 15 publicações nos últimos 17
anos em revistas científicas como British Journal of Educational Technology ou American Educational
Research Association. Os documentos mostram que a aprendizagem das crianças é exponencial, sempre
sobem de nível ou melhoram seu inglês, entre muitos outros aspectos. Este ano quero lançar uma equipe
de investigação na Universidade de Newcastle para medir o impacto desse aprendizado.
R: O trabalho deles não é ensinar, mas deixar que as crianças aprendam. Eles têm que tirar o foco de si
mesmos, perder o protagonismo. Sua função é fazer as perguntas certas, mesmo se não souberem a
resposta. É aí que ocorre o aprendizado. Eles não têm de falar aos seus alunos “eu tenho a resposta”, mas
“isso é o que vocês encontraram”.
P: Como estão reagindo os governos dos diferentes continentes a seu modelo de aprendizagem?
R: Com exceção dos países escandinavos, que têm a capacidade de mudar, a maioria dos governos,
especialmente aqueles que tiveram grandes impérios como o Reino Unido e a Índia, não sabem como
avançar e são incapazes de mudar. Os burocratas entendem o que proponho, mas chegaram a me dizer
que, enquanto eles viverem, a mudança de paradigma não irá ocorrer. Os livros didáticos são uma
indústria que move trilhões de dólares, é impossível retirá-los. Sua máxima é manter as coisas como
estão para preservar seu trabalho.
R: Devemos mudar a norma do que deve ser avaliado. Acho que a chave é analisar a criatividade de cada
um, e com as ferramentas que temos agora não é possível. Não tenho certeza se precisamos da avaliação
individual ou apenas em grupo. Agora o mundo funciona com sinergias. A virtude que será valorizada
em alguns anos será a de ser capaz de se fazer perguntas continuamente e ter a capacidade de respondê-
las.
R: Se sou, é por acidente. Não tenho nenhuma habilidade especial para conseguir mudanças sociais, e
nem é meu objetivo. Só quero ajudar as crianças a se encaixarem em um cenário no qual todas as regras
serão diferentes das de agora. Em 20 ou 30 anos, os robôs irão controlar o mercado de trabalho e só
sobreviverão aqueles que souberem construir ou inventar. Os chamados makers.
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CRISTINA DELGADO | MADRI
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