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O Teorema dos Números Primos e a Hipótese de

Riemann
Otávio Cunha Oliveira RA 204263
Professor Fernando Eduardo Torres Orihuela

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Sumário
1 Introdução 3
2 A innitude dos números primos 3
3 O Teorema dos Números Primos 5
4 A Hipótese de Riemann 7
5 Conclusão 9
6 Referências 10

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1 Introdução
Desde os tempos da Grécia antiga, os matemáticos tentam desvendar os segredos dos
chamados números primos. E com o passar dos tempos, cada vez mais problemas surgem
e novas técnicas são desenvolvidas para resolvê-los ou pelo menos conseguir um avanço
na direção da solução.
Um fato interessante é que proposições muito simples sobre números primos podem
necessitar de técnicas matemáticas muito mais desenvolvidas para serem resolvidas. Uma
pergunta que surge naturalmente, após ser dada a denição de número primo, é se o
conjunto formado por esses números tão formosos é innito ou nito. A resposta foi
dada já na época da Grécia Antiga e diz que o conjunto formado pelos números primos é
innito.
Esse resultado tem inúmeras consequências no estudo desses números e cria um vasto
campo de problemas que já foram ou não resolvidos.
Um fato que ilustra tudo o que já foi falado é a conexão da hipótese de Riemann
com o teorema dos números complexos. Essa hipótese é um dos maiores desaos da
Matemática moderna que (até a data que esse trabalho está sendo escrito) não foi resolvido
e envolve técnicas muito mais avançadas comparadas com o que os gregos antigos sabiam.
Apesar disso, ela está ligada com o teorema dos números primos, um problema bem mais
elementar.
Tanto o teorema dos números primos como sua ligação com a hipótese de Riemann
serão o tema dessa monograa.

2 A innitude dos números primos


Na teoria aritmética dos números, um dos conceitos mais importantes é o conceito
de divisibilidade denido dentro do conjunto dos números naturais (N). Nesse trabalho,
N = {1, 2, 3, ..., n, n + 1, .....} em que vale o Princípio de Indução.

Denição 1. Dados n,m ∈ N, dizemos que m divide n se existe k ∈ N tal que n = k · m.


Assim, escremos que m|n e m é dito divisor de n.

Como consequência imediata temos que 1 e n dividem n, pois n = n · 1 e n = 1 · n.


Então todo número natural tem pelo menos dois divisores.
Usaremos a seguinte nomenclatura: o conjunto de divisores de n será escrito como
Div(n), ou seja, Div(n) = {a ∈ N : a | n} e a quantidade de elementos de um conjunto
A (cardinalidade de um conjunto A) será denominada por #A.
O fato de um número natural ter pelo menos dois divisores gera a denição de números
primos, um dos assuntos mais importantes da teoria dos números e o assunto central dessa
monograa.

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Denição 2. Um número k ∈ N é dito primo se, e somente se, #Div(k) = 2.
Em outras palavras, um número natural k é primo se, e somente se, apenas 1 e k são
seus divisores.

A importância dessa classe de números pode ser vista no chamado Teorema Funda-
mental da Aritmética, o qual diz que qualquer número natural pode ser escrito como uma
multiplicação de potências de números primos.
Nessa monograa, provaremos um resultado anterior [1] ao Teorema Fundamental da
Aritmética que será necessário na prova da innitude dos números primos.

Lema 1. Todo número natural n > 1 pode ser escrito como produto de números primos.
Demonstração. Para n = 2, a proposição é verdadeira, pois 2 é um número primo. Su-
ponhamos que ela seja verdadeira para todo natural m, 2 ≤ m < n, provaremos que ela
também vale para n. Se n é primo, o lema já está demonstrado. Caso contrário, n tem
um divisor d tal que 1 < d < n, ou seja, existe c, 1 < c < n, tal que n = cd. Pela hipótese
de Indução, c e d podem ser escritos como produto de primos:

c = p1 ... pr d = q1 ... qs

onde p1 , ..., pr , q1 , ..., qs são números primos. Concluindo, temos que n = p1 ... pr q1 ... qs ,
então a proposição vale também para n. Pelo Segundo Princípio de Indução, a proposição
vale para todo número natural.

Uma das questões mais importantes que surgiram durante o desenvolvimento da Arit-
mética na Grécia Antiga é saber se o conjunto de números primos é nito ou innito. A
resposta dessa questão já aparece na obra Os Elementos de Euclides por volta do ano 300
a.C.

Teorema 1. (Euclides) O conjunto dos números primos é innito.


Demonstração. Suponhamos, por absurdo, que o conjunto de números primos seja nito
e que esses números sejam p1 , p2 , ..., pn . Seja então o seguinte número natural:

p = p1 p2 ... pn + 1

Temos que p 6= pj ∀j ∈ {1, ..., n}. Então, como p não é primo, ele tem um divisor
primo pi pelo Lema 1. Como pi ∈ {p1 , p2 , ..., pn }, então pi | (p1 p2 ... pn ). Portanto, pi
também divide 1 = p − (p1 p2 ... pn ), o que é uma contradição, pois 1 somente é divisível
por 1 que não é um número primo.

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Esse resultado [1] abre muitas portas dentro da Teoria dos Números, pois dele surgem
vários outros problemas.
Diz-se que dois números primos são primos gêmeos se a diferença entre o maior e o
menor é 2. Exemplos: 3 e 5, 5 e 7, 11 e 13, 41 e 43.
Foi-se conjecturado que o conjunto de pares de números primos gêmeos é innito, o
que ainda não se foi provado [1].
Um dos príncipais problemas relacionados com os números primos é a sua distribuição
dentro da reta real, assunto da próxima seção.

3 O Teorema dos Números Primos


Primeiramente, deniremos a função π para x ∈ N e x ≥ 2:

1, se k por primo
Denição 3. π(x) = dk em que dk =
X
0, caso contrário
2≤k≤x

Ou seja, dado um número natural x ≥ 2, ela retorna π(x) que é a quantidade de


números primos menores que x.

O teorema dos número primos trata da "velocidade" que os números primos apare-
cem na reta quando vamos observando números cada vez maiores. Ou seja, trata-se do
comportamento assintótico da função
Z π . No resultado a seguir, ln x signica o logaritmo
x
dt
natural de x, denido por ln x = para x ∈ R e x > 0.
1 t
Teorema 2. Teorema dos números primos
π(x)
lim =1
x→∞ x/ln x

Esse resultado já era observado por Legendre e por Gauss no século 18, mas somente
foi provado por Hadamart e de La Vallée Poussin em 1896 independentemente. [1]

x
Em linguagem assintótica dizemos que π(x) ∼ .
ln x
A demonstração desse teorema utiliza teorias mais avançadas, o que foge do intuito
desse trabalho.
x
Podemos interpretá-lo da seguinte forma: quanto maior o valor de x, melhor
ln x
aproxima o valor de π(x): o erro relativo entre as duas funções ca cada vez menor.
Podemos reformular esse teorema da seguinte maneira [3] que surge como consequência
do teorema 2:

5
Corolário 1. Se (pn )n∈N representa a sequência de números primos, ou seja, pn é o
n-ésimos número primo, então:
pn
lim =1
n→∞ n ln (n)

Também em linguagem assintótica: pn ∼ n ln (n)

Iremos denir uma função importante para entender melhor o comportamento assin-
tótico de π(x), o chamado logaritmo integral euleriano Li:
Z x
dt
Denição 4. Li(x) = para x ∈ R e x > 0
2 ln t
Uma aproximação melhor de π(x) é dada por essa função.
Hadamard e de La Vallee Poussin provaram em 1896 em seus trabalhos sobre o teorema
dos números primos que [4]:

π(x) = Li(x) + O(xe−a lnx
)

.
Onde a "O notation" indica o comportamenro assintótico da função.

Figura 1: π(x) está representada em vermelho, Li(x) em azul e x/ln x em verde, ver
referência [5]

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Um resultado relevante sobre essse tema se encontra na próxima seção, pois precisamos
falar sobre a hipótese de Riemann primeiro.

4 A Hipótese de Riemann
Denição 5. A Função Zeta de Riemann é denida para todo s ∈ C com |s| ≥ 1, como

X 1
ζ(s) =
k=0
ks

Aqui k s = es·ln(k) em que e é o número de Euler.



1
Vemos que ζ(1) = é a conhecida série harmônica que já foi provado que ela
X

k=0
k
diverge.

Euler foi o primeiro a analisar substancialmente essa função, mas ele manteve sua
análise na reta real. Ele obteve o seguinte resultado:

1 1 1 π2
ζ(2) = 1 + + + + .... =
4 9 16 6

Em 1735, Euler obteve o chamado produto euleriano:


Y
ζ(s) = (1 − p−s )−1
p primo

para a Função Zeta de Riemann com s ∈ C e Re(s) > 1, o que já demonstra uma relação
entre essa função e a distribuição de números primos.
Vemos que esse produto nunca é zero e, como ele é válido para Re(s) > 1, a função
zeta de Riemann não tem zeros nesse região do plano complexo.
É possível provar que a linha vertical Re(s) = 1 não contém zeros da função zeta de
Riemann e que essa armação é equivalente ao teorema dos números primos [2].

Agora vamos enunciar a hipótese de Riemann e mostrar suas ligações com o teorema
dos números primos.

Conjectura 1. (A hipótese de Riemann) Todos os zeros não triviais de ζ(s), ou seja,


1
quando s tem valor diferente de −2, −4, −6, ... , cam na linha crítica de Re(s) = .
2
Veremos agora resultados que ligam o teorema dos números primos com a hipótese
de Riemann, que como não foi provada ainda, esses resultados não estão seguramente
garantidos.

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Em 1901, Helge von Koch provou que

Z x √
dt
π(x) = Li(x) + O( x lnx) = + O( x lnx)
2 ln t

, se e somente se, a hipótese de Riemann for verdadeira [2].

Temos uma melhor estimatica de como a função π(x) varia assintoticamente compa-
rada com os resultados da seção anterior, pois o erro entre π(x) e Li(x) é da ordem de

x lnx e melhor ca essa estimativa quanto maior o valor de x tomarmos.
Veremos agora que tanto o teorema dos números primos como a hipótese de Riemann
são equivalentes a resultados muito parecidos mostrando o quanto eles estão interligados.

Denição 6. A função de Liouville é denida, para n ∈ N, por

λ(n) = (−1)ω(n)

em que ω(n) é o número de, não necessariamente distintos, fatores primos de n, contando
com sua multiplicidade.

Na tese de doutorado de Edmund Landau em 1899 [2], ele provou que:

Teorema 3. A hipótese de Riemann é equivalente a dizer que, para qualquer  > 0 real
xado, temos
λ(1) + λ(2) + ... + λ(n)
lim 1 =0
n→∞ n2 + 
Na mesma tese, Landau prova uma versão do teorema dos números primos em termos
da função de Liouville:

Teorema 4. O teorema dos números primos é equivalente à armação


λ(1) + λ(2) + ... + λ(n)
lim =0
n→∞ n

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5 Conclusão
Todos esses resultados dessa seção mostram que um problema simples como contar
números primos, os quais são assunto desde o começo do ensino fundamental no Brasil,
pode estar intimamente ligado à resultados que utilizam técnicas de Cálculo como limites
e integrais, os quais são geralmente vistos em cursos de ensino superior.
Podemos observar também que há uma relação bem forte entre armações de natureza,
previamente bem diferentes que no caso são funções de variáveis complexas e teoria dos
números primos.
O estudo sobre os números primos está longe de acabar e ainda é uma área bastante
pesquisada nas universidades do mundo.
Como a hipótese de Riemann é um dos problemas de Hilbert e um dos sete problemas
do milênio do Instituto de Matemática Clay, ela é considerada um dos maiores problemas
na Matemática que ainda não foi resolvido, apesar das inúmeras tentativas.

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6 Referências
[1] MILIES, César Polcino. Números: uma introdução à matemática. Coautoria de
Sônia Pitta Coelho. 3. ed. São Paulo, SP: Edusp, 2001. 240 p. (Acadêmica, 20). ISBN
8531404584 (broch.).

[2] THE RIEMANN hypothesis: a resource for the acionado and virtuoso alike. Edi-
ção de Peter B. Borwein. New York, NY: Springer, 2008. 533 p., il. (CMS books in
mathematics). ISBN 9780387721255 (enc.).

[3] TEORIA dos números: um passeio com primos e outros números familiares pelo
mundo inteiro. Coautoria de Fabio Brochero Martinez. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: IMPA,
c2011. 457 p. (Projeto Euclides). ISBN 9788524403125 (broch.).

[4] THE PRIMES PAGE. The Riemann Hypothesis. Disponível em:


<https://primes.utm.edu/notes/rh.html>. Acesso em: 29 set. 2018.

[5] WIKIPEDIA. Teorema do número primo. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/teorema_do_número_primo>. Acesso em: 29 set. 2018.

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