Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
1. Situando a Temática
dada pelo produto l1 l 2 não poderia ser estabelecido a partir de intermináveis medições realizadas
em uma quantidade infinita de tais retângulos. Chega-se a ela através de uma combinação de
premissas e de outros fatos, a ela relacionados, que não levam em conta, por exemplo, a acuidade
visual de quem está com a tarefa de obter a área em questão. O raciocínio dedutivo vale-se dos
nossos conhecidos cinco sentidos, mas não se esgota neles; cria e trata rigorosamente de
situações que não possuem correspondentes no mundo físico. Aliás, faz surgirem outros mundos,
dá-lhes significados específicos.
Vale salientar, porém, que na prática as coisas não se dão de modo estanque, ou seja,
apesar da prevalência do raciocínio dedutivo na exploração do universo matemático, as atividades
neste âmbito são realizadas por uma mescla dessas três formas de organização do pensamento.
2. Problematizando a Temática
Convidado a provar que a soma dos n primeiros números naturais ímpares é dada por n 2 ,
por onde você começaria? Muito provavelmente, procuraria verificar que a anunciada regularidade
acontece para alguns casos particulares, instâncias da proposição:
Para os dois primeiros ( n = 2) , veria que 1 + 3 = 4 = 2 2 ;
E, assim por diante. Ou seja, 1 + 3 + 5 + 7 + ... + (2n − 3) + (2n − 1) =n 2 . Como provar isto?
Dá para perceber que você está diante de um problema que envolve uma propriedade que
diz respeito a todos os elementos de um subconjunto infinito do conjunto dos números naturais, e,
por uma limitação essencial da nossa arquitetura biopsicológica em relação ao infinito, não pode
ser verificada caso a caso. Você tem, portanto, de domar o infinito, ou, no dizer do poeta William
Blake, deter o infinito na palma da mão. É este o tema da Unidade IV.
Trata-se de um tipo de demonstração, essencialmente dedutivo, mas que tem na sua base
uma proposição cujo nome parece estar em desacordo com os procedimentos da dedução: O
Princípio de Indução Matemática. Mas, o desacordo para por aí: fica apenas no nível da aparência.
3. Conhecendo a Temática
3.1 O Princípio de Indução Matemática
Na abertura da Unidade III deste texto (os números primos de Fermat), vimos que a
verificação que uma dada afirmação acerca de números naturais é válida para todo o conjunto
destes números, tomando por base uma regularidade evidenciada somente através de exemplos,
não constitui um método seguro de prova. Para ajudar a consolidar esta observação, consideremos
um caso apresentado por Daepp & Gorkin (Daepp, 2003, p. 207): provocados a demonstrar que,
“se n é um número natural qualquer, então o número n 2 + n + 41 é primo”, certamente
começaríamos a tarefa vendo se a afirmação se sustenta para uma quantidade razoável de casos.
Representemos por f (n ) a sentença “ n 2 + n + 41 é primo”. Assim, encontraríamos:
2. Mostrar que sempre que a afirmação for verdadeira para um natural qualquer k , ela
será verdadeira para o natural seguinte, ou seja, será verdadeira para o número
natural k + 1.
Na prática, o que se passa é o seguinte: tendo verificado a veracidade da afirmação para
n = 1, o passo 2, acima, garante que ela é válida para n = 2 . Reaplicando o passo 2, obtemos a
validade da afirmação para n = 3 , e, assim por diante, estendendo-se para todo e qualquer número
natural.
Um enunciado formal para o Princípio de Indução Matemática é:
Teorema 3.1-1 O Princípio de Indução Matemática
Considere que P (n) seja uma afirmação acerca de um número natural n . Suponhamos que:
. Portanto, o passo de indução não afirma que é verdadeira para todo natural
de indução.
Um comentário
Este teorema pode ser demonstrado usando o fato do conjunto dos números naturais ser
bem-ordenado. Trata-se de uma noção que escapa aos objetivos desta disciplina, mas,
certamente, você será apresentado a ela em disciplinas posteriores, tais como Fundamentos
de Matemática ou Matemática Elementar. Aguarde!
Agora, vamos fazer uso do Princípio de Indução Matemática para a realizar algumas tarefas
matemáticas.
Exemplo 3.1-1
Use o Princípio de Indução Matemática, para provar que a soma dos n primeiros números
n( n + 1)
naturais é dada por .
2
Uma solução
Em símbolos do registro da Matemática, o que temos de provar é:
n(n + 1)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + (n − 2) + ( n − 1) + n = .
2
n(n + 1)
Representando por P (n) a sentença 1 + 2 + 3 + 4 + ... + ( n − 2) + ( n − 1) + n = , vem:
2
Verificação do Passo Básico
1(1 + 1)
Como 1 = , constatamos que P (1) é verdadeira.
2
Verificação do Passo de Indução
Seguindo o alerta lançado logo ali atrás, vamos admitir como verdadeira a hipótese de
indução, a saber: P (k ) é verdadeira, para, em seguida, mostrar que P ( k + 1) é verdadeira. Ou seja,
vamos partir de
k (k + 1)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k = , para tentar chegar a
2
(k + 1)[( k + 1) + 1]
[1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k ] + (k + 1) = .
2
Vejamos se isto acontece. Ora, usando a hipótese de indução, vemos que:
k (k + 1)
[1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k ] + (k + 1) = [ ] + (k + 1) . Ou,
2
k (k + 1) + 2(k + 1)
[1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k ] + (k + 1) = . Ou,
2
(k + 1)(k + 2)
[1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k ] + (k + 1) = . Ou,
2
(k + 1)[( k + 1) + 1]
[1 + 2 + 3 + 4 + ... + (k − 2) + (k − 1) + k ] + (k + 1) = , que é justamente
2
P ( k + 1) , aonde queríamos chegar. Com isto, verificamos que a afirmação com que estamos
lidando satisfaz aos dois passos do Princípio de Indução Matemática e, assim, é verdadeira para
todo número natural n . (c.q.d.)
Exemplo 3.1-2
Usando indução matemática, prove que, para todo número natural n , o número 4 n − 1 é
múltiplo de 3 .
Uma solução
Comecemos por lembrar o que significa dizer que o número 4 n − 1 é múltiplo de 3 : existe
. Falando mais diretamente, vamos admitir que o número 4 k − 1 seja múltiplo de 3 , para, na
Assim, admitindo que 4 k − 1 seja múltiplo de 3 , existe um número natural q para o qual
assim, à conclusão que 4 k +1 − 1 é um múltiplo de 3 . Isto mostra que a afirmação com que estamos
trabalhando satisfaz ao Princípio de Indução Matemática, e, desse modo, fica provado que ela é
verdadeira para todo número natural. (c.q.d.)
Exemplo 3.1-3
Use o Princípio de Indução Matemática, para demonstrar que, para todo número natural
positivo n , vale a desigualdade n 2 n .
Uma solução
Representemos por P (n) a sentença “ n 2 n ”. Sigamos em busca da verificação dos dois
passos do Princípio de Indução Matemática.
Exemplo 3.1-4
Usando o Princípio de Indução Matemática, mostre que, para todo número natural 𝑛 ≥ 5,
vale 2 n n 2 .
Uma solução
Representemos por P (n) a sentença 2 n n 2 , e observemos que o menor número natural a
que a afirmação se refere é 5 . Assim, no passo básico, temos de checar se P (5) é verdadeira.
Verificação do passo básico
Como 2 5 5 2 , fica constatada a veracidade de P (5) .
Verificação do passo de indução
Admitamos que P (k ) seja verdadeira, isto é, 2 k k 2 é verdadeira, para, em seguida, checar
2 k +1 = 2 2 k 2k 2 = k 2 + k 2 k 2 + 5k = k 2 + 2k + 3k k 2 + 2k + 1 = (k + 1) 2 .
DAEPP, Ulrich., GORKIN, Pamela. Reading, writing, and proving: a closer look at mathematics. New
York: Springer, 2003.
D’AMORE, Bruno. Epistemologia e didática da matemática. São Paulo: Escrituras Editora, 2005.
DUMMETT, A.A.E. ¿Qué es una teoria del significado? In: Valdés L.M. La búsqueda del significado.
Madrid: Tecnos. 1991.
MACHADO, Nílson J. Matemática e língua materna: análise de uma impregnação mútua. São Paulo:
Cortez, 1990.
MORAIS FILHO, Daniel C. Um convite à matemática. 2. ed. Campina Grande: EDUFCG, 2007.
SOLOW, Daniel. How to read and do proofs: an introduction to mathematical thought processes.
New York: Courier Companies, Inc., 1990.
VELLEMAN, Daniel J. How to prove it: a structured approach. Cambridge: Cambridge University
Press, 1994.
Sites na internet
Wikipedia: www.wikipedia.org
Dicionário Houaiss da língua portuguesa: http://houaiss.uol.com.br