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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA MILITAR DA

COMARCA DE FLORIANÓPOLIS/SC

MARCELO LUIZ MOREIRA DE AMORIM, brasileiro, casado,


estagiário, portador da cédula de identidade n. 5396473 SSP/SC, CPF n.
081.925.419-32, residente e domiciliado na Rua Carlos Gomes, n. 165, Nossa
Senhora da Salete, Criciúma/SC, Cep: 88.813-370, com endereço eletrônico:
marceloluiz.amorim@gmail.com, vem por meio de seu procurador legalmente
constituído (procuração anexa) perante Vossa Excelência propor

AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO C/C PEDIDO DE


TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

em face do ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de


direito público interno, representado por seu Procurador Geral do Estado, com
endereço na Avenida Osmar Cunha, n. 220, Ed. J.J. Cupertino, Centro, no município
de Florianópolis/SC, Cep: 88.015-100, pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa
a expor.

I – DA JUSTIÇA GRATUITA

O Autor no momento é estudante e desempregado. Conforme


comprova pela documentação anexa, não possuí condições de arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e de sua
família.

Nesta oportunidade, diante da urgência da medida sem tempo hábil


para aguarda expedição da documentação pelo órgão competente, anexa aos autos
comprovantes de requerimento da certidão negativa de registro de imóveis.

Assim que emitida certidão pelo cartório responsável, juntará aos


autos para comprovar sua condição de hipossuficiência financeira.
Razão pela qual, requer-se o benefício da gratuidade da justiça, nos
termos do artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil de 2015.

II – DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

O Colegiado Superior de Segurança Pública, em conjunto com a


Polícia Militar do Estado de Santa Catarina lançaram, edital de concurso Público (Nº
042/CGCP/2019), para admissão no curso de formação de soldados da polícia militar
– CFSd (doc. anexo).
Atendendo aos termos do Edital Nº 042/CGCP/2019 CFSD que
estabelece as instruções especiais destinadas ao Concurso Público para provimento
de 800 (oitocentas) vagas para candidatos do sexo masculino, para admissão no
curso de formação de soldado para ingresso no Quadro de Praças Policiais Militares
– QPPM, o qual o Autor se inscreveu.
Segundo o cronograma previsto (Anexo I, Edital Nº 042/CGCP/2019),
o certame tem previsão para a realização de 04 (quatro) fases, assim constituídas:
Primeira Fase: Inscrições;
Segunda Fase: Prova Escrita;
Terceira Fase: Exames Específicos:
• Preenchimento e Entrega do QIS;
• Avaliação de Saúde;
• Avaliação Psicológica;
• Avaliação Física;
• Entrega do Exame Toxicológico;
• Investigação Social;
Quarta Fase: Homologação e Nomeação

Submetido à primeira etapa do certame – inscrições – o Autor teve


sua inscrição deferida e prosseguiu para a segunda fase, consistente na prova escrita
(objetiva e redação), na qual foi aprovado na colocação 1.331º (milésimo trecentésimo
trigésimo primeiro). Dessa maneira o Autor tornou-se apto a prosseguir nas próximas
fases do concurso, sendo a terceira fase – exames específicos – ocorre que na
avaliação de saúde, sendo convocado conforme Edital (n° 94/CGCP/2019 - doc.
Anexo). A avaliação de saúde foi guiada pelas seguintes normas:
9. TERCEIRA FASE – EXAMES ESPECÍFICOS
DA FASE E SUAS ETAPAS
9.1. A fase de exames específicos será composta das seguintes etapas:
a) Preenchimento do QIS.
b) Avaliação Psicológica.
c) Avaliação Física.
d) Avaliação de Saúde.
e) Entrega do Exame Toxicológico.
f) Investigação Social.
9.1.1. Os candidatos aprovados na Prova Escrita, e convocados dentro do
quantitativo limite do item
8.93. letra “b”, serão submetidos aos Exames Específicos, de caráter eliminatório,
em data e horário conforme estabelecido no Cronograma Previsto (ANEXO I).
9.1.2. Ao Final da Terceira Fase, o candidato que for considerado FALTOSO,
INAPTO ou REPROVADO, em qualquer uma das etapas constantes no item 9.1,
será eliminado do certame.
9.1.3. A convocação dos candidatos para submissão dos Exames Específicos
descritos no item
9.1, letras “c” e “d”, será fracionada, conforme edital de convocação a ser divulgado,
em uma das datas estabelecidas no Cronograma Previsto (ANEXO I), sendo que o
candidato não será recepcionado em data e/ou horário e/ou local diferente do
estabelecido, em hipótese alguma.

DA ETAPA DE AVALIAÇÃO DE SAÚDE (MÉDICO/ODONTOLÓGICA)

9.5. Os candidatos aprovados na prova escrita, e convocados dentro do quantitativo


limite do item
8.93 letra “b”, serão submetidos à Etapa de Avaliação de Saúde. 9.5.1. A Etapa de
Avaliação de Saúde, de caráter eliminatório, será fracionada, conforme edital de
convocação a ser divulgado em uma das datas prevista no período descrito no
Cronograma Previsto (ANEXO I), sendo que o candidato não será, em hipótese
alguma, recepcionado em data e/ou horário e/ou local diferente do estabelecido
neste Edital e nos editais de convocação complementar.
9.5.2. Os candidatos do sexo feminino serão inspecionados no início dos trabalhos
da Junta de Inspeção de Saúde Especial (JISE), na presença de militares do sexo
feminino e em grupos formados por mais de uma candidata.
9.5.3. Para realização da Avaliação de Saúde o candidato deverá,
OBRIGATORIAMENTE, apresentar no dia da inspeção de saúde, os seguintes
exames:
a) hemograma completo, tipo de sangue e fator RH;
b) triglicerídeos;
c) VDRL;
d) glicemia de jejum;
e) creatinina sérica;
f) colesterol total e LDL colesterol;
g) parcial de urina;
h) radiografia de tórax PA e Perfil, com laudo;
i) radiografia de coluna cérvico-tóraco-lombo-sacra, PA e Perfil, com laudo;
j) eletrocardiograma de repouso (12 derivações), com laudo;
k) gama GT;
l) TGP;
m) audiometria tonal com laudo (bilateral);
n) ressonância magnética de joelhos com laudo, para candidatos que tenham se
submetido à cirurgia de joelho;
o) laudo oftalmológico: avaliação oftalmológica por médico oftalmologista, a ser
preenchido conforme modelo do ANEXO XI, constando: acuidade visual sem
correção em cada olho, acuidade visual com correção em cada olho, refração de
ambos os olhos (grau), teste de Ishihara (senso cromático), tonometria de
aplanação (Goldmann) em cada olho, biomicroscopia de cada olho, fundoscopia de
cada olho, motilidade ocular de cada olho. Caso haja patologia, o médico
oftalmologista deverá registrar CID-10. Toda e qualquer deficiência visual
compatível sem correção deverá, depois de corrigida, obrigatoriamente assegurar
visão igual a (20/20) em ambos os olhos. O modelo de laudo do ANEXO XI deverá
ser impresso e levado pelo candidato ao oftalmologista;
p) radiografia extra bucal panorâmica com laudo;
q) radiografia de pelve em AP com laudo;
r) radiografia de joelho bilateral AP e perfil com laudo.
9.5.4. O candidato cujos exames citados no item anterior apresentarem resultado
duvidoso que possa comprometer a inspeção de saúde, deverá procurar médico
especialista, às suas custas, para ser examinado, visando esclarecer o diagnóstico.
Na data da avaliação de saúde, deverá comparecer munido com o parecer
especializado e exames complementares com os respectivos laudos, se for o caso.
9.5.5. Os exames de que trata o item 9.5.3 deste Edital devem ter seus laudos
datados de no máximo 90 (noventa) dias anteriores à data da realização da Etapa
da Avaliação de Saúde.
9.5.6. A JISE (Junta de Inspeção de Saúde Especial) poderá solicitar outros
exames, se necessário, com a finalidade de esclarecer dúvidas diagnosticadas ou
suscitadas pelos laudos
dos exames apresentados. Os custos dos exames em questão serão de
responsabilidade do candidato.
9.5.7. No caso do item 9.5.4, não sendo suficientes os esclarecimentos ao
diagnóstico, o candidato será considerado INAPTO, cabendo a interposição de
recurso administrativo nos
termos deste Edital.
9.5.8. Em caso de deferimento do recurso administrativo pela Comissão de
Avaliação de Recurso desta fase, o novo exame deverá ser apresentado pelo
candidato na data prevista para a
reavaliação de saúde, conforme estabelecido no Cronograma Previsto (ANEXO I).
9.5.9. A JISE julgará incapaz para o serviço policial militar e para tomar posse no
cargo de Soldado da Polícia Militar, bem como para frequentar o CFSd, o candidato
que:
a) não preencher os índices mínimos e/ou incidir nas condições incapacitantes ou
exceder a proporcionalidade de peso e altura exigidos em conformidade com o
ANEXO II do presente Edital
de Concurso Público;
b) apresentar alterações nos exames complementares consideradas incompatíveis
com o serviço e o cargo do Quadro de Praças da Polícia Militar, bem como para
frequentar o CFSd;
c) deixar de apresentar algum exame previsto neste Edital ou com o respectivo
laudo ausente ou incompleto;
d) incidir em condição clínica que, embora não conste do presente Edital, seja
considerada pela JISE, em parecer fundamentado, como causa de incapacidade
para o serviço e ao cargo de Soldado da Polícia Militar, bem como para frequentar
o CFSd.
9.5.10. Recomenda-se que durante o período compreendido entre a inscrição no
concurso público até a conclusão do CFSd, a candidata não apresente estado de
gravidez, dada a incompatibilidade e riscos com os testes físicos específicos
estabelecidos neste Edital e com as atividades físicas obrigatórias a que será
submetida durante o curso de formação.
9.5.11. Poderá ser realizada pela JISE uma entrevista com o candidato, a fim de
constatar, in loco, eventual deficiência auditiva e/ou visual. Neste caso, o candidato
portador de deficiência de correção auditiva ou visual, deverá se apresentar munido
com os respectivos aparelhos.
9.5.12. Os candidatos serão informados, quando da divulgação do edital de
convocação para a Etapa da Avaliação de Saúde, dos locais de realização dos
exames em Florianópolis e/ou em
cidade da Grande Florianópolis, com confirmação dos respectivos endereços
conforme data e horário estabelecido no Cronograma Previsto (ANEXO I).
9.5.13. O resultado PARCIAL da Etapa da Avaliação de Saúde será divulgado
conforme está estabelecido no Cronograma Previsto (ANEXO I).
DOS RECURSOS DA ETAPA DE AVALIAÇÃO DE SAÚDE

9.5.14. O recurso da Etapa da Avaliação de Saúde deverá ser entregue em até 02


(dois) dias, iniciando o prazo no dia subsequente da divulgação do resultado parcial,
conforme data e local estabelecido no Cronograma Previsto (ANEXO I).
9.5.15. O resultado final da Etapa da Avaliação de Saúde será divulgado conforme
previsão no Cronograma Previsto (ANEXO I).
9.5.16. Os candidatos que em razão de sua classificação, ou por determinação
judicial, forem convocados depois de decorrido 01 (um) ano da data da realização
da Etapa da Avaliação de Saúde estabelecida no Cronograma Previsto (ANEXO I),
deverão se submeter a nova Avaliação de Saúde, com data e local a serem
definidos em edital subsequente. A reavaliação de saúde prevista neste item
ocorrerá nos mesmos termos do item 9 e seguintes deste Edital, visando à
comprovação de que o candidato mantém todas as condições exigidas para
ingresso.
9.5.17. No caso de nova Avaliação de Saúde, nos termos do item 9.5.16, os exames
exigidos nas alíneas do item 9.5.3 devem ser refeitos e apresentados dentro da
validade prevista no item 9.5.5.
9.5.18. Em nova Avaliação de Saúde, nos termos do item 9.5.16, o candidato que
não mantiver os índices mínimos exigidos para ingresso será eliminado do concurso
público.

O Autor realizou os exames elencados e compareceu, conforme edital


de convocação no dia 22 de setembro de 2019 no local designado para tanto, levou
consigo todos exames solicitados, obteve resultados positivos na avaliação de saúde.
Porém para sua infelicidade, restou considerado INCAPAZ
TEMPORARIAMENTE PARA O SERVIÇO DA POLÍCIA MILITAR DE SC – INAPTO
(doc. Anexo), devido a sua ACUIDADE VISUAL SEM CORREÇÃO.
Conforme comprova por meio do laudo oftalmológico, cada olho
separadamente atinge o índice de 20/40. Porquanto o Edital estabelece índice mínimo
sem correção 20/30, cada olho separadamente ou 20/40 em um olho desde que outro
atinja 20/20.
Não conformado com o resultado, o autor interpôs recurso
administrativo, o qual não fora indeferido com a sucinta motivação de o candidato
questionar requisitos do edital, logo não houve alteração em sua condição de INAPTO
na avaliação de saúde, vem perante o Poder Judiciário buscar amparo para
prosseguimento no certame.
Cumpre salientar que o Autor pretende que o Poder Judiciário analise
a legalidade, proporcionalidade e razoabilidade do ato administrativo praticado pela
comissão do concurso público quando reprovou o Autor por conta de uma
incompatibilidade temporária, prejudicando o Autor em um ato totalmente eivado de
ilegalidade.
Conquanto se reconheça que a Administração Pública possua certa
dose de discricionariedade na elaboração das normas destinadas à realização de
concursos públicos, como atos administrativos que são, devem tais normas estar em
plena consonância com a Constituição Federal e toda a legislação infraconstitucional
que rege a atividade pública.
Decorre, daí, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário no
que toca à realização de concursos públicos, toda vez que for observado eventual
ilegalidade do ato administrativo.
À vista disso, é indiscutível que os atos emanados pelas Comissões
de Concursos Públicos, como no presente caso, podem e devem ser examinados pelo
Poder Judiciário, como garantia de sua legalidade, o que inclui a forma como são
realizados os exames e o controle da fundamentação exarada pela Comissão
Organizadora do certame quanto à exclusão de candidatos.
Como se vê, não se trata de análise do mérito do ato administrativo,
mas sim a exigência de atuação da Administração Pública em conformidade com a
legalidade, notadamente quando suas decisões implicam restrição de direitos.
A presente demanda se volta à análise e indicação formal e material
de todos os equívocos que são observados nos índices mínimos exigidos para o
exame de saúde.
O edital em discussão prevê em os índices mínimos para a avaliação
de saúde e no tópico em que o Requerente foi reprovado consta o seguinte:
Acuidade visual: Será avaliada a acuidade visual segundo a escala de Snellen, sendo
considerados APTOS os que atenderem a todos os itens abaixo:
a) sem correção visual (sem óculos ou lentes de contato), apresentar visão mínima de (20/30)
em cada olho separadamente ou visão até (20/40) em um olho, desde que o outro apresente
(20/20);
b) com correção (usando óculos ou lentes contato), apresentar visão igual a (20/20) em cada
olho, separadamente, com correção máxima de 1,5 para dioptrias esféricas ou cilíndricas;
c) toda e qualquer deficiência visual compatível sem correção deverá, após corrigida,
assegurar visão igual a (20/20) em ambos os olhos;
d) o candidato deverá comparecer à Avaliação de Saúde de posse do laudo oftalmológico
preenchido e assinado por médico oftalmologista, conforme ANEXO XI.

Ocorre que, conforme própria notificação de reprovação (documento


anexo) a comissão do concurso estabeleceu que o Autor “foi considerado incapaz
temporariamente para o ingresso na PMSC”. O motivo descrito na notificação é
“Acuidade visual fora dos padrões exigidos pelo edital”

III – DA DECISÃO DESPROPORCIONAL

Pois bem Excelência, o Autor foi reprovado por não ter acuidade
visual sem correção compatível com o exigido, no entanto, a visão do Autor é
de 100% (20/20) com o uso de óculos ou lentes corretivas.
Frisa-se que, além de ser facilmente corrigido com óculos, o
Autor tem a possibilidade de fazer cirurgia e corrigir sua visão para tê-la em
perfeição sem o uso de óculos ou lentes corretivas.
Excelência, ao contrário dos critérios de idade e altura, o índice
mínimo de acuidade visual é totalmente injusto, visto que tal incompatibilidade
é temporária e pode ser corrigida com uso de lentes ou óculos e também
totalmente sanada com intervenção cirúrgica.
Ressalte-se, excelência que o Autor só não fez cirurgia corretiva
até o momento por não possuir condições financeiras para arcar com o
procedimento cirúrgico, certamente se nomeado e após ingresso na PMSC, fará
mais breve possível.
Outrossim, as normas para o exame de saúde não são previstas em
lei, sendo totalmente injusta a reprovação do Autor sem antes existir um critério legal
previamente tipificado.
A Lei Complementar n.º 587 de 2013 que dispõe sobre o ingresso nas
carreiras das instituições militares de Santa Catarina estabelece em seu artigo 12:
“O candidato aprovado e classificado na prova escrita será submetido
ao exame de saúde a fim de comprovar, por meio de inspeção médica e de exames
complementares exigidos em edital, que usufrui de boa saúde para o exercício das
atividades inerentes às instituições militares estaduais.”
No entanto, não existe nenhum ato normativo estabelecendo que a
Acuidade Visual do candidato precisa atender aquelas normas acima expostas que
foram previstas em edital.
Seria desproporcional considerar que o candidato seja incapaz de
exercer as funções de policial militar em virtude de deficiência visual completamente
corrigível com uso de lentes corretivas ou até mesmo pelo uso de óculos.
Esse entendimento é totalmente reiterado pela jurisprudência do
Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA COM


PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. CONCURSO PÚBLICO PARA
ADMISSÃO NO CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PARA
INGRESSO NO QUADRO DE PRAÇAS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO
DE SANTA CATARINA. EDITAL N. 014/CESIEP/2015. CANDIDATO
CONSIDERADO INAPTO NO EXAME DE SAÚDE POR POSSUIR BAIXO
GRAU VISUAL SEM CORREÇÃO. LAUDO OFTALMOLÓGICO QUE INDICA
VISÃO NORMAL MEDIANTE O EMPREGO DE LENTES CORRETIVAS.
APTIDÃO DO AUTOR DEMONSTRADA. ATENDIMENTO AOS DITAMES
ESTABELECIDOS NO CERTAME. PRECEDENTES DO GRUPO DE
CÂMARAS DE DIREITO PÚBLICO DESTA CORTE. REMESSA OFICIAL E
RECURSO CONHECIDOS E DESPROVIDOS. "A mitigação da isonomia
(ou sua devida conformação em razão de uma desigualdade antecedente) só
se justifica pela adequação do fator de discrímen e legitimidade dos meios
empregados nesse alinhamento. Na espécie, a Administração excluiu
candidato de concurso público por não demonstrar possuir 'visão normal',
malgrado o edital do certame preveja índice aceitável para verificação do
parâmetro (com e sem o uso de correção óptica). Ainda, não havia previsão
expressa no sentido de o atendimento cumulativo dos critérios. A
interpretação que considera essas imposições concomitantes não passa pela
análise da proporcionalidade por violação do subprincípio da necessidade.
Pode até ser que atenda aos fins propostos pela norma, mas não se trata do
meio menos oneroso. O uso de lentes de contato ou óculos não inviabiliza a
atividade policial e igualmente garante a tal 'acuidade visual' atinge o mesmo
objetivo e não sacrifica desmesuradamente o particular" (Reexame
Necessário n. 0026927-66.2015.8.24.0023, da Capital, Quarta Câmara de
Direito Público, j. 19-10-2017). (TJSC, Apelação / Remessa Necessária n.
0314322-15.2015.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Júlio César Knoll, Terceira
Câmara de Direito Público, j. 28-05-2019).

Como também:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. CONCURSO PÚBLICO


PARA POLÍCIA MILITAR. EDITAL N. 14/CESIEP/2015. EXAME DE
AVALIAÇÃO DE SAÚDE. INAPTIDÃO EM RAZÃO DE BAIXA ACUIDADE
VISUAL. VISÃO CONSIDERADA NORMAL COM O USO DE LENTES
CORRETIVAS. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE
E RACIONALIDADE. RECURSO E REEXAME DESPROVIDOS.
PRECEDENTES DA CORTE. (TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 0302007-
08.2016.8.24.0091, DA CAPITAL, REL. DES. PEDRO MANOEL ABREU,
TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO, J. 23-01-2018).

EM CASO SEMELHANTE, DECIDIU ESTE HONORÁVEL JUÍZO -


AUTOS N. 0314322-15.2015.8.24.002:

Portanto, embora válida a exigência do exame médico, não há como se negar


que devem prevalecer os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Sanada a deficiência visual por meio de lentes corretivas, óculos ou até
mesmo cirurgia, apto se torna o candidato para o cargo a que se
submeteu, não podendo ser reprovado somente pelo motivo indicado.
Com efeito, o autor cumpre exatamente com as condições exigidas, estando,
portanto dentro dos parâmetros fixados pelo edital, mesmo que para tanto
seja necessária a correção através de óculos ou lentes, e, por isso, merece
prosseguir para as demais fases do concurso.
[...]
À vista do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido para afastar a
reprovação do autor no exame de saúde acuidade visual, proporcionando-lhe
que prossiga para as demais fases, e, em sendo aprovado, possa ser
nomeado e frequentar o próximo Curso de Formação de Oficiais da Polícia
Militar do Estado de Santa Catarina.
(TJSC, AUTOS N. 0314322-15.2015.8.24.0023, 5ª VARA CRIMINAL DA
CAPITAL, JUIZ MARCO AURÉLIO GHISI MACHADO)

Em vista disso, cabe ao poder Judiciário realizar o controle do ato


administrativo manifestamente desproporcional e desarrazoado e que restrinja direitos
dos particulares – o que de fato acontece no caso em apreço.
Excelência, conforme acosta documento anexo, o Autor já foi
militar das forças armadas - Exército, ingressou pelo serviço militar obrigatório,
progrediu na carreira militar, permanecendo na graduação de Cabo até sua
movimentação para reserva das forças armadas, momento o qual recebeu a
graduação de 3º Sargento do Exército, conforme certificado de reservista. Em
nenhum momento houve qualquer prejuízo em suas atividades como militar
devido sua acuidade visual.
Considerando as razões acima expendidas, conclui-se que a Banca
Examinadora incorreu em flagrante ilegalidade ao reprovar o Autor no Exame de
Saúde, incorrendo em total desproporcionalidade, violando, assim, o direito do Autor
em prosseguir no concurso e terminar as demais fases do concurso em apreço.

IV) DA TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA

Dispõe o Código de Processo Civil em seu artigo 300, que “a tutela de


urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
A probabilidade do direito está consubstanciada na ilegalidade no que
tange a decisão administrativa - desproporcional e desarrazoada - que considerou o
candidato INAPTO em virtude de deficiência visual completamente corrigível com uso
de lentes corretivas, ou uso de óculos.
O concurso público para praças da polícia militar encontra-se na
terceira fase, restando demonstrada a urgência, de modo que o “periculum in mora”
repousa, no prejuízo acarretado ao Autor caso a decisão não seja exarada antes do
resultado das avaliações, será impedido de realizar os demais exames específicos
do concurso, por constar inapto na avaliação de saúde.

Ademais, extrai-se do cronograma editalício: A HOMOLOGAÇÃO


OCORRERÁ DIA 08 DE NOVEMBRO DE 2019

Ou seja, caso a tutela de urgência não seja deferida, evidencia-se o


risco ao resultado útil do processo, pois como participará das demais etapas do
concurso público ante a inaptidão administrativa na avaliação de saúde.
Salienta-se que se o Autor necessitar aguardar o julgamento do mérito
da demanda, necessariamente terá prejudicada sua nomeação no tempo correto.
Ademais, não há perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão
que conceder a tutela de urgência de natureza antecipada pleiteada.
Assim, a não concessão da tutela antecipada poderá resultar em
manifesto prejuízo ao direito do Autor, uma vez que a demora no julgamento poderá
acarretar a ineficácia da medida diante da teoria do fato consumado. Isso porque o
presente concurso já entrará na fase das nomeações, de acordo com resultado
classificatório final, no qual o prejuízo do requerente é manifesto.

V) DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

a) o recebimento da presente com os documentos que a instruem;


b) o deferimento do benefício da Justiça Gratuita ao Autor, nos
termos do artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil;

c) seja concedida a tutela de urgência de natureza antecipada, a fim


de que seja determinado por Vossa Excelência, com fulcro no art.
300, do CPC, afastar a inaptidão do candidato na avaliação de
saúde, com consequente reclassificação do candidato.
Assegurando-lhe a possibilidade de participar das demais fases do
concurso, destinado a selecionar candidatos para o curso de
formação de soldados (CFSD) e posterior provimento de vagas do
quadro de praças da polícia militar (QPPM);

d) pugna pela total procedência do pedido, afastando a inaptidão do


candidato na avaliação de saúde, considerando-o apto para o
exercício das atividades da carreira de policial militar do Estado de
Santa Catarina, considerando definitiva a antecipação dos efeitos
da tutela de urgência concedida, seja realizada a convocação do
Autor para as próximas fases do concurso Público; seja realizada
a reclassificação do Autor no presente concurso, bem como lhe
seja autorizada a tomar posse e frequentar o Curso de Formação
de Soldados da Polícia Militar em eventual aprovação em todas as
fases do certame.

e) a notificação do feito a banca INCAB e a Comissão de Concurso


Públicos da Polícia Militar/SC, responsáveis pela realização e
organização das etapas do Concurso Público;

f) a citação do Estado de Santa Catarina, na pessoa de seu


Procurador Geral do Estado, com endereço na Avenida Osmar
Cunha, n. 220, Ed. J.J. Cupertino, Centro, no município de
Florianópolis/SC, Cep: 88.015-100;

g) requer a oitiva do honorável órgão do Ministério Público;


h) por fim, requer-se a produção de todas as provas em direito
admitidas, em especial a documental.

Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (mil reais)

Nestes termos, pede deferimento

Içara/SC, 08 de outubro de 2019

Emanuel Gislon dos Santos Moreira


OAB/SC – 33.478
[documento assinado digitalmente]

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