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Faculdade de Tecnologia de Garça “Deputado Julio Julinho Marcondes de Moura”

CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO EMPRESARIAL

VINÍCIUS ARAUJO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA CANNABIS.

Garça
2019
____________________________________________________________________________________________________

Faculdade de Tecnologia de Garça “Deputado Julio Julinho Marcondes de Moura”

CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO EMPRESARIAL

VINÍCIUS ARAUJO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA CANNABIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Tecnologia “Dep. Júlio Julinho
Marcondes de Moura” – FATEC, como requisito
para conclusão do Curso de Tecnologia em Gestão
Empresarial.

Orientador: Sérgio Nougues Wargaftig

Garça
2019
____________________________________________________________________________________________________

Faculdade de Tecnologia de Garça “Deputado Julio Julinho Marcondes de Moura”

CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO EMPRESARIAL

VINÍCIUS ARAUJO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA CANNABIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Tecnologia “Dep. Júlio Julinho
Marcondes de Moura” – FATEC, como requisito
para conclusão do Curso de Tecnologia em Gestão
Empresarial.

Orientador: Sérgio Nougues Wargaftig

Data de Aprovação:

______________________________

Professor Orientador

______________________________

Professor Presidente

______________________________

Professor Convidado
AGRADECIMENTOS

Aos meus ídolos, minha esposa Tiemi Caroline, por sempre estar ao meu lado
sendo minha condutora e companheira de vida. Meus pais Reinaldo e Isabel
Cristina, pelo amor incondicional e pelo exemplo. A minha irmã Isabela, pelos ótimos
momentos de diversão e aprendizado. Também sou grata a minha avó Ana, que me
ensinou valores importantes que contribuíram com minha educação. Não posso
deixar de agradecer meu primo Douglas, que me incentivou a iniciar o curso e me
apresentou ao tema deste trabalho. Aos amigos de infância André e Felipe, e
amigos de classe Carlos, Ricardo, Paulo e Bruno que sempre tornaram os dias
difíceis mais agradáveis. E por fim, sou grato ao professor Sérgio, que me apoiou
nesta empreitada e foi essencial em minha vida acadêmica.

Dedico este trabalho aos que serão amparados


pela lei para a utilização de Cannabis e àqueles
que lutam pela mesma causa.

A liberdade é mais importante que a vida.

Gênesis 1:29
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RESUMO

Proporcionar ao cidadão comum o entendimento a respeito da importância da


regulamentação da Cannabis é o principal propósito deste trabalho que se utiliza de
um panorama macroeconômico para explanar o status quo, comparando a política
de drogas do Brasil com a política de países que recentemente regulamentaram o
uso medicinal e recreativo da Cannabis. Este ensaio analisará a situação
socioeconômica do país propondo uma reflexão a respeito das práticas políticas
vigentes com a finalidade de explorar questões ligadas a viabilidade da
regulamentação da Cannabis, com o propósito de diminuir custos em diversos
segmentos e, por consequência, proporcionar uma melhor qualidade de vida à
sociedade como um todo. Como se nota, a maior parte dos brasileiros exprimem
incomplacência em relação a todas drogas ilícitas, e esta intolerância que circunda a
população associado a Cannabis decorre da falta de informação a respeito de suas
propriedades, bem como, os motivos de sua proibição. Questionar a proibição de
maneira fundamentada possibilita discutir sobre o assunto e proporcionando uma
maior reflexão sobre possíveis mudanças no modus operandi de combate às drogas,
o que é fundamental para o avanço da sociedade.

Palavras–chaves: Cannabis, Droga, Política, Segurança, Saúde, Economia.


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ABSTRACT

Providing the common citizen with an understanding of the importance of cannabis


regulation is the main purpose of this work, is to use a macroeconomic scenario to
explain the status quo, comparing Brazil's drug policy with the policy of countries that
have recently regulated the use medicinal and recreational use of Cannabis. This
essay will analyze the socioeconomic situation of the country by proposing a
reflection on the current political practices in order to explore issues related to the
viability of Cannabis regulation, with the purpose of reducing costs in several
segments and, consequently, to provide a better quality of life to society as a whole.
As can be seen, most Brazilians express discomfort in relation to all illicit drugs, and
this intolerance that surrounds the population associated with Cannabis stems from
the lack of information about their properties, as well as the reasons for their
prohibition. Questioning the prohibition in a well-grounded manner makes it possible
to discuss the issue and provide further reflection on possible changes in the modus
operandi to combat drugs, which is fundamental to the advancement of society.

Key–words: Cannabis, Drug, Politics, Security, Health, Economy.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

2. METODOLOGIA ..................................................................................................... 7

3. CANNABIS ............................................................................................................. 8

3.1. Política ........................................................................................................... 11

3.2. Segurança ...................................................................................................... 13

3.3. Saúde ............................................................................................................. 14

3.4. Economia ....................................................................................................... 16

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 17


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1. INTRODUÇÃO

O que vem a sua cabeça quando ouve a palavra maconha?


A Cannabis, popularmente conhecida como maconha é sem sombra de
dúvidas a droga que mais gera discussão e curiosidade no mundo e, por
conseguinte, no Brasil. A maior dificuldade que se encontra ao debater o tema é a
desinformação, pois, quando se abre a discussão sobre maconha, pré-conceitos e
posicionamentos extremistas dificultam análises profundas sobre a eficácia das
medidas políticas adotadas atualmente e possíveis resultados da adoção de
medidas alternativas. Neste estudo será abordado as implicações socioeconômicas
acerca do tema, analisando experiências em países que adotaram políticas mais
permissivas em relação a utilização medicinal, religiosa e recreativa da Cannabis.

2. METODOLOGIA

Utilizando métodos exploratórios de pesquisa, o trabalho visa oferecer


informações sobre o estado econômico do Brasil baseando em sua política de
combate a drogas. Com um enfoque na droga de maior contradição em todo mundo,
a Cannabis, serão feitas comparações entre países que repensaram o assunto e
agiram na contramão do óbvio. O estudo apresentará o status-quo da política de
drogas no brasil analisando dados econômicos concretos, abrirá a discussão sobre
novas formas de combate a drogas e disporá sugerir alternativas para a
regulamentação da maconha no Brasil.
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3. CANNABIS

Em primeira análise para compreender o que é a Cannabis é necessário


entender o sentido original da palavra droga. Proveniente do holandês antigo, a
palavra “droog” significa folha seca, pelo fato de os primeiros medicamentos serem
feitos à base de ervas vegetais. As drogas podem ser divididas em dois grupos,
sendo eles, tóxicos: que produzem efeitos nocivos a organismos vivos, e fármacos:
que provocam efeitos benéficos e úteis. Abordando o grupo dos fármacos podemos
traçar uma linha o separando em naturais e químicos, este sendo os que são
fabricadas por laboratórios (legalizados ou clandestinos), onde se utiliza compostos
químicos que alteram os elementos de uma substância, a fim de adquirir efeitos
mais potentes que a substância de origem, já aquele, provém diretamente da
natureza e são utilizados os elementos in natura.
Um bom exemplo que ilustra a diferença de composto químico comparado ao
natural é a famosa Dipirona, uma planta que sempre foi utilizada como analgésico e
anti-inflamatório pelos povos mais antigos. A maior parte das pessoas conhecem a
Dipirona como o remédio para dor de cabeça graças à Green Pharma, uma empresa
que ao perceber os efeitos benéficos da planta, isolou seu princípio ativo Metamizol
e produziu o medicamento em larga escala, tornando-o acessível para todo mundo.
Os Estados Unidos e alguns países da União Europeia perceberam que o composto
“Metamizol” isolado causa uma deformação no sangue chamada “Agranulocitose” e
proibiram sua comercialização, entretanto, no Brasil, é um dos analgésicos mais
vendidos ao lado da Aspirina, que, por sua vez, também encontra-se proibida nos
Estados Unidos, Canadá, Austrália e na maioria dos países da União Europeia.
Analisando por esta ótica há o surgimento de uma dúvida, afinal, qual é o critério
que se utiliza para julgar qual droga é maléfica para a saúde?
A Cannabis, conhecida popularmente como “Maconha” pelo usuário
recreativo e “Ganja” no âmbito religioso Rastafári1, é uma erva da ordem Rosales,
mesma ordem de plantas como rosas e morangos. A Cannabis é utilizada por
aproximadamente 170 milhões de pessoas, (UNODC 2012, p. 59) e embora seja a

1
Rastafári é um movimento judaico-cristão surgido na Jamaica nos anos 30, entre negros camponeses
descendentes de africanos escravizados. O movimento proclama Haile Selassie I, o último imperador da Etiópia,
como a segunda vinda do prometido Messias bíblico.
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droga mais consumida no Brasil e no mundo, a maior parte das pessoas não
conhecem os seus efeitos, e talvez seja por isso que exista tanta curiosidade a
respeito dessa notável planta, por isso para conhecer a planta é importante entender
o seu funcionamento no organismo. O cérebro humano é composto por vários
receptores transmenbranares que captam sinais extracelulares e os enviam ao
núcleo das células, um desses receptores se chama canabinoide, ativado
naturalmente por neurotransmissores endocanabinoides. Como os receptores
canabinoides são encontrados naturalmente no corpo humano, eles reagem com os
principais componentes psicoativos da Cannabis, sendo eles, o Tetrahidrocanabinol
(THC), o Canabidiol (CBD) e o Canabinol (CBN). Nas diversas espécies de
Cannabis existentes, estes componentes se dividem em diferentes percentuais,
podendo ser até mesmo nulos. Cada uma das diferentes espécies de Cannabis é
utilizada para diferentes fins, por exemplo, a Cannabis sativa é composta por uma
maior proporção de THC para CBN, já a Cannabis indica é composta por uma maior
proporção de CBN para THC, também existem Cannabis híbridas, geralmente com
proporção igual de THC e CBN.
No geral a Cannabis possui efeitos corporais bem característicos, como:
despressurização intraocular, ocasionando vermelhidão nos olhos; estímulo do
apetite; boca seca; sensação térmica de frio (baixo calor) e relaxamento muscular.
Efeitos estes, que, beneficiam pacientes soropositivos, glaucomatosos, pacientes
com dores crônicas e que fazem tratamento quimioterápico (prevenindo-os de dores,
enjoos e vômitos), são alguns exemplos que ilustram seus benefícios. Embora todas
as espécies Cannabis tenham efeitos corporais semelhantes, seus efeitos psíquicos
são, por muitas vezes, distintos uns dos outros. A Cannabis sativa por ter efeitos
estupefacientes, é usada no tratamento da depressão, transtorno de déficit de
atenção, hiperatividade, fadiga e distúrbios de humor. Já a indica tem um efeito
sedativo, a qual é indicada no tratamento de insônia, espasmos musculares,
ansiedade, enxaqueca, epilepsia e mal de Parkinson.
Por ser a droga mais popular no mundo, existem várias pesquisas acerca
deste tema, por exemplo, um estudo médico feito pelo Medical Research Council, de
Londres, publicado em 2009, apresenta que usuários compulsivos de Cannabis a
longo prazo podem ficar vulneráveis ao vício e à psicose, mesmo que a dependência
seja significantemente menor que a da nicotina e do álcool, por exemplo. Por outro
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lado, neste mesmo estudo descobriram que os pacientes usuários de Cannabis


tinham 62% menos chances de desenvolver câncer cerebral.
Quando se estuda sobre a Cannabis é percebe-se que o maior perigo não é o
risco a saúde do usuário regular, e sim, quando é utilizada por adolescentes. Um
artigo de 2012, divulgado na publicação Brain da Oxford University Press, relatou
deficiência na neuro-conectividade de algumas regiões do cérebro após o uso
prolongado e frequente de Cannabis iniciado na adolescência, embora exista alguns
estudos que se opõe, este ainda é o mais aceitável no meio científico.
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3.1. Política

Em meados do século XX, através do Decreto-Lei nº 891, assinado por


Getúlio Vargas em 1938, a maconha passou a ser ilegal no Brasil seguindo os
modelos propostos em três convenções internacionais: a Convenção Única sobre
Estupefacientes, de 1961 (emendada pelo Protocolo de 1972), o Convênio sobre
substâncias Psicotrópicas, de 1971, e a Convenção contra o Tráfico Ilícito de
Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, de 1988. Tais convenções sugerem
parâmetros considerados proibicionistas, no qual o uso e o tráfico de substâncias
como a maconha, estejam inseridos em âmbito do Direito Penal. Estes modelos
foram seguidos pela maioria dos países signatários das referidas convenções, até o
ano 1976, quando a Holanda adotou uma política mais permissiva,
descriminalizando e regulamentando o uso medicinal e recreativa da Cannabis.
Desde então cada ano que passa, modelos de descriminalização e políticas de
redução de danos são testadas, e propostas alternativas para a utilização da
Cannabis são adotadas, isso gera um incentivo para que diversos países reavaliem
o padrão proposto pela ONU em 1961, e adotem medidas mais adequadas a cada
realidade local. Portugal em 2001, México em 2009, Espanha em 2010, Uruguai em
2013, alguns estados norte-americanos em 2017, Canadá em 2018 (sendo o
segundo país no mundo a legalizar o uso recreativo da Cannabis, após o Uruguai e
nove estados americanos), e mais 40 países ao redor do mundo, reavaliaram suas
políticas de drogas e adotaram políticas mais permissivas em relação ao tema.
Em Portugal, onde a maconha é descriminalizada há 17 anos, quem for pego
portando a droga é orientado a participar de um programa de reabilitação na
Comissão de Dissuasão da Toxicodependência (IDT), um grupo formado por um
advogado, um médico e um educador social, estes profissionais apresentam opções
para que o usuário possa tratar sua dependência, se for o caso do usuário ser um
dependente. Porem os usuários, jamais serão punidos se estiverem portando uma
quantia de dez doses diárias do entorpecente. Este modelo tem se mostrado muito
eficaz na prevenção da saúde e no combate às vendas. No Brasil, usuários
recreativos e religiosos, atualmente, só conseguem adquirir maconha de forma
ilegal, financiando o tráfico de drogas. Já para o uso medicinal, onde ela é
extremamente importante no tratamento de algumas doenças e na melhoria da
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qualidade de vida dos pacientes, existem algumas exceções, onde pacientes


obtiveram respaldo judicial para cultivar Cannabis em seu apartamento.
Para entender o assunto de uma forma clara, é importante destacar a
diferença entre legalização e descriminalização, embora sejam parecidos, estes
termos são bem distintos entre si. Quando se fala em descriminalizar, refere-se a
não penalização de um comportamento individual em âmbito jurídico, ou seja, o
porte da droga para uso pessoal, não deve ser tido como crime. Porém a venda da
droga ou o porte em grandes quantidades ainda permaneceriam sendo uma
transgressão da lei. Com um princípio de redução de danos provocados na saúde e
na vida social dos usuários, esta medida permite que o usuário passe a ser tratado
como um enfermo, e não como um delinquente. Quando se fala em legalização as
coisas já mudam um pouco, o que antes era considerado crime, passa a ser
regulamentado e comercializado pelo governo, o qual fica a cargo o estabelecimento
de regras comerciais, restrições etárias e ambientes adequados para o consumo,
como é feito hoje com álcool e o tabaco. Um exemplo de país que tem a maconha
como droga legalizada é o Uruguai, quando recentemente (2014) a Cannabis foi
completamente legalizada, onde qualquer cidadão uruguaio maior de 18 anos pode
comprar até dez gramas da erva por semana.
No Brasil, o ano de 2018 entrou para a história por causada PLS 514, um
projeto de lei que foi aprovado pela comissão do senado em novembro,
regulamentando o cultivo pessoal para o uso medicinal da Cannabis sativa. Relatado
pela senadora Marta Suplicy, o projeto visa modificar um trecho da legislação onde o
semeio, cultivo e colheita de Cannabis sativa para uso terapêutico deixaria de ser
crime, o texto estabelece que o cultivo poderá ser feito em quantidades não mais do
que suficiente ao tratamento do paciente, de acordo com a prescrição médica. Hoje
a lei determina que quem for pego cultivando Cannabis em casa ficaria sujeito desde
à prestação de serviço comunitários e comparecimentos em programas
socioeducativos até pena de reclusão em regime fechado de 5 a 15 anos, pena a
qual fica sob subjetividade do juiz do caso, assim, existe uma lacuna na lei atual por
não fazer nenhuma ressalva para o uso médico. O PSL 514 propõe preencher esta
lacuna, dando direito de tratamento para quem realmente precisa.
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3.2. Segurança

O combate ao tráfico de drogas no Brasil já dura mais de trinta anos, mesmo


o governo gastando cada vez mais com a chamada “guerra as drogas”, em cada ano
que passa o mercado clandestino drogas ilegais cresce exponencialmente, do
mesmo modo que aumentam as mortes e prisões decorrente do tráfico. Enquanto há
pessoas a favor da atual política de combate as drogas vigente a três décadas,
existem pessoas qualificadas que ao perceber a necessidade de mudança no jeito
que se combate as drogas no Brasil, que lutam pela regulamentação e legalização
da Cannabis, por exemplo a LEAP (Agentes da Lei Contra a Proibição), uma
associação onde juízes, delegados, policiais e carcereiros defendem uma forma
mais permissiva de controle e comércio da Cannabis. Profissionais que vão na
contramão do óbvio, discutem e opinam a respeito do status quo da Cannabis no
Brasil, a opinião do delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone é de que a polícia
deve se aproximar das pessoas no sentido de comunicar as suas questões. A
questão das drogas não pode ser vista como uma questão policial. Debater a
legalização é muito importante, a juíza aposentada Maria Lúcia Karam, também
integrante da LEAP, tem a consciência que as drogas podem ser profundamente
destrutivas na vida de uma pessoa, mas argumenta que a guerra às drogas é muito
pior.
O Brasil, dentre todos os países no mundo, é recordista em homicídios, com
64 mil mortes por ano, segundo dados da OMS. Essas mortes provém, de grande
parte, da chamada política de guerra as drogas, lançada pelos Estados Unidos no
ano de 1980, está política de combate a drogas, a qual, passou a ser vista como
única solução possível de combate à entorpecentes, acabou influenciando a maioria
dos países da América do Sul, sobretudo o Brasil, o qual, em toda a história, foi
utilizado como “marionete” dos EUA, vide a forte influência recebida na década de
1920, através da Liga das Nações Unidas, favorável a criminalização da Cannabis.
Contudo, quando o Uruguai legalizou a Cannabis em 2013, houve uma redução
significativa da população penitenciária do país, além de desorganizar o tráfico de
drogas local, um dos principais pilares do crime organizado. Na economia, gastos
com sistema prisional e repressão policial diminuíram, além de haver um
redirecionamento de verba e esforços em inteligência policial.
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3.3. Saúde

É imprescindível repensar a política de drogas do país quando o assunto é


saúde, neste quesito a regulamentação da Cannabis causaria um grande impacto
socioeconômico no Brasil. Imaginando que doenças graves como mal de Alzheimer,
mal de Parkinson, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral (AVC), entre outras,
poderiam ser tratadas com remédios à base de maconha cultivada na própria
residência, o país sofreria radicais movimentações econômicas, principalmente no
que interfere à indústria farmacêutica. Com tantas histórias de luta das famílias que
usam a Cannabis para tratar crianças com epilepsia refratária (doença que
necessariamente deve ser tratada com Cannabis), por exemplo, a indústria
farmacêutica reluta para manter a Cannabis proibida. Para que um medicamento
seja aprovado e comercializado, é preciso que ele tenha passado por testes clínicos
que comprovem sua segurança e eficácia. Como esses testes custam muito caro,
para que o investimento tenha retorno financeiro, é preciso que a empresa tenha
exclusividade na venda dele por pelo menos um período. No caso de medicamentos
à base de Cannabis, as empresas não investem em estudos, pois, posteriormente
teriam que lidar com a competição de extratos caseiros e com a erva plantada nas
residências. Seria uma disputa perdida, afinal, as pessoas teriam em seu próprio
jardim o recurso terapêutico para tratar e prevenir dezenas de doenças, desde uma
insônia ou mal-estar, até um AVC. Isso afetaria a indústria farmacêutica de forma
significativa.
Existem algumas doenças que são imprescindíveis a utilização da Cannabis
no tratamento, e no brasil estas doenças, muitas vezes, são tratadas de forma
paliativa com medicamentos sem eficácia. Pacientes frustrados com tratamentos
convencionais, têm que assumir o risco de enfrentar as sanções judiciais importando
Cannabis de outros países de forma clandestina, ou comprando em “bocas de fumo”
no Brasil. Comprar drogas de forma ilegal no Brasil tem muitos riscos, além de
causar problemas com a justiça e com o tráfico, depender da Cannabis vendida de
forma ilegal no brasil é se submeter aos seus efeitos, que são tão obscuros quanto a
sua composição. Como não existe nenhuma vigilância para garantir a qualidade da
Cannabis clandestina, na sua composição podem haver outras substâncias
misturadas que podem vir a agravar o quadro dos pacientes que fazem seu uso.
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No entanto, o ano de 2019 começou com uma mudança significativa e


positiva no âmbito da saúde, em janeiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
reclassificou a planta inteira de Cannabis como para fins medicinais, antes somente
o composto CBD isolado era regulamentado no Brasil, após essa mudança tanto a
planta in natura como sua resina foram retiradas do anexo IV, a categoria mais
restritiva da convenção de drogas de 1961 assinada por países de todo o mundo.
Esta alteração manteve o rumo na qual a pesquisa da Cannabis havia tomado após
o último relatório publicado pelo comitê de especialistas da OMS sobre dependência
de droga (Cannabis plant and Cannabis resin), publicado em junho de 2018 na
Suíça, refutando os principais argumentos utilizados por proibicionistas na área da
saúde. Segundo o comitê especialista, “Quando novos modos de distribuição de
medicamentos se tornarem mais amplamente disponíveis (por exemplo,
vaporização, administração sublingual ou oral), associações entre o consumo de
Cannabis e eventos cardiovasculares podem se tornar menos pronunciadas, ou
mesmo ausentes”, explica também: “O consumo de Cannabis melhora muito a
dinâmica das vias aéreas e a capacidade expiratória devido aos efeitos
broncodilatadores do Delta9-THC”, e finaliza enfatizando que o comitê “não
encontrou nenhuma associação entre o uso de Cannabis e a redução da função
cognitiva”.
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3.4. Economia

Evidentemente que mudanças na legislação de combate a drogas no Brasil,


afetaria diretamente o mercado nacional, assim como, relações comerciais com
outros países. Para depreender como o mercado se comportaria regulamentando a
Cannabis no Brasil, é inevitável a comparação com países que recentemente
mudaram suas políticas de combate a drogas para uma forma mais permissiva. O
último país que se propôs a fazer mudanças desta natureza foi o Canadá em
outubro de 2018, quando foi liberado o consumo recreativo de Cannabis no país
(para uso medicinal já é regulamentado desde 2001). Curiosamente no dia da
legalização após dezesseis horas de legalização não havia mais Cannabis no país,
segundo a SQDC (Sociedade de cânabis de Quebec, responsável pelo comércio da
droga na província), mais de 42,5 mil transações comerciais foram realizadas
apenas no primeiro dia de legalização. Estes dados complementam com os que
dizem que regulamentando a maconha, o número de usuários teria uma perspectiva
de aumento de 17% em seu primeiro ano, baseado no aumento que houve no
estado do Colorado, nos Estados Unido, com este aumento o mercado passaria a
movimentar R$ 6,68 bilhões anuais, exponencialmente.
Segundo relatórios do estudo encomendado pelo congresso nacional sobre
impacto econômico de drogas do Brasil (2016), 2,8 milhões de pessoas utilizam
maconha diariamente no Brasil. Apesar da proibição, a população usuária de
maconha para seus mais diversos fins, movimentam R$ 5,69 bilhões por ano, com
cada consumidor gastando, em média, R$ 2.073,60 consumindo 480 gramas anuais.
Pela Consultoria Legislativa de da Câmara dos Deputados, a arrecadação de
impostos levantaria cerca de R$ 6 bilhões, anualmente (Revista Galileu, 2016).
No Brasil se arrecada 60% de impostos sobre o mercado tabagista e 40%
sobre o mercado de bebidas alcoólicas, com estes mercados cada vez mais em
baixa, a tendência é de que muitos usuários destas drogas, hoje regulamentadas,
migrem para o uso da Cannabis, expandindo a arrecadação de impostos ano a ano.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mais importante para saber ao se tratar sobre Cannabis é entender


primeiramente que se trata de uma planta, cujo do uso pode produzir efeitos
benéficos ou maléficos como qualquer outro remédio, logo, é necessário deixar o
preconceito de lado e trata-la com o máximo de respeito pelo fato de em muito dos
casos a Cannabis ser a única alternativa para o tratamento de algumas doenças
graves. Se tornando cada vez mais defendida a regulamentação do uso medicinal
da Cannabis, ainda existem leis que cerceiam os indivíduos de recorrerem a
determinado tipo de tratamento para algumas doenças, e nestes casos legisladores
devem agir, possibilitando ao paciente um tratamento seguro e lícito. O PLS 514 é
uma alternativa válida a ser discutida para que pessoas que dependam do uso da
Cannabis para ter uma vida saudável possam receber um tratamento digno.
Recentemente o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF),
decidiu que importar sementes de Cannabis não é crime, pelo fato da semente não
ser qualificada como droga já que não possui o princípio ativo THC, esta decisão
curiosa torna permitido comprar uma semente de Cannabis, porém não podendo
planta-la, mesmo essa decisão parecendo incoerente, se trata de um grande avanço
no país e mostra que é só questão de tempo para a droga ser regulamentada no
Brasil.
Embora até hoje não exista nenhum registro de morte provocada pelo o uso
de Cannabis, a sua proibição vem de uma política que criminaliza, violenta e mata
mais do que qualquer outra droga já conhecida, tanto pela repressão policial, quanto
em disputa de território por traficantes, essa guerra já se mostrou fracassada e
ineficiente, afinal, além de matar milhões de inocentes todos, cada ano que passa os
números de usuários recreativos e de pacientes que dependem da Cannabis só
aumentam.
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REFERÊNCIAS

EFE, Agência. Canadá se prepara para legalizar uso recreativo da maconha em


2018, nov. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/canada-se-
prepara-para-legalizar-uso-recreativo-da-maconha-em-2018.ghtml>. Acesso em 12
dez. 2018

G1, Jornal. Veja como é a legislação relativa à maconha em outros países, dez.
2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/12/veja-como-e-
legislacao-relativa-maconha-em-outros-paises.html>. Acesso em 12 dez. 2018

G1, Jornal. STF decide que importar semente de maconha não é crime, mai. 2019.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/stf-decide-que-importar-
semente-de-maconha-nao-crime-23664858>. Acesso em 3 jun. 2019

BRÍGIDO, Carolina. Uso e legalização da maconha dividem opiniões no Brasil, jul.


2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/07/uso-e-
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D’Alama, Luna. Estudo diz que 1,5 milhão de pessoas usam maconha diariamente
no país, ago. 2012. Disponível em:
<http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/08/estudo-diz-que-15-milhao-de-pessoas-
usam-maconha-diariamente-no-pais.html>. Acesso em 12 dez. 2018

Carvalho, André. Maconha medicinal no Brasil? nov. 2018. Disponível em:


<https://www.uol/noticias/especiais/maconha-medicinal.htm#maconha-medicinal-no-
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ALENCAR, Lucas. Brasil arrecadaria mais de R$ 5 bilhões por ano com a


legalização da maconha, jun. 2016. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/06/brasil-arrecadaria-mais-
de-r-5-bi-por-ano-com-legalizacao-da-maconha.html>. Acesso em 13 fev. 2019

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2018. Disponível em: <https://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/canadá-legaliza-
consumo-de-maconha-para-uso-recreativo/ar-BBOvaXb>. Acesso em 13 fev. 2019
19

IGARAPÉ, Instituto. Dez motivos para mudar a política de drogas no Brasil, jul. 2015.
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<http://www.smokebuddies.com.br/massachusetts-vendas-de-maconha-atingem-
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UMDOIS, Canal. Comissão aprova maconha no Senado! E agora? nov. 2018.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EBhioFvGMFk>. Acesso em 20
abr. 2019

MOVA, Canal. Maconha faz bem? Devemos legalizar? - Prof. Dr. Sidarta Ribeiro -
Legalização e descriminalização, jul. 2014. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=zel3lRhlxhI>. Acesso em 20 abr. 2019

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