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Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação

Goiânia, 09 de julho de 2022


Aluno: André Batista Silvestre Série: 1°B

A Influência do Meio Humano no Mundo dos Primatas


Referencial Teórico

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano tem modificado a natureza, com a


finalidade exclusiva de beneficiar a si próprio. A extração de recursos e a caça de animais era
realizada para a subsistência dos povos nômades, porém essa exploração não poderia afetar o
meio ambiente de forma alguma, em razão da quantidade imensa de provisões disponíveis
para uma população pequena e ainda emergente. Ao decorrer dos séculos, com a evolução do
ser humano como espécie, passando pelo Australopithecus Afarensis até chegarmos ao Homo
Sapiens Sapiens, o cérebro do homem se desenvolveu gradualmente, e por fim, passamos a
viver em sociedade. Assim, surgiu a demanda de suprir as necessidades de uma população
que crescia cada vez mais, começando o processo de exploração da natureza, dessa vez não
somente para subsistência, mas para fins financeiros e comerciais. (MORIMOTO; SALVI,
2009).
Segundo Morimoto e Salvi (2009. p.2):
Com o desenvolvimento da era industrial ele [se refere ao ser humano] foi
capaz de alterar a composição da atmosfera, de mudar o curso dos rios, de
interferir na composição dos solos, de desmatar florestas, de extinguir
espécies, de criar outros seres em laboratório, de provocar chuvas, enfim
interferir no ambiente natural conforme seus interesses e necessidades.

Portanto, a humanidade explorou e continua explorando os recursos da natureza de


forma excessiva. Como consequência da extração e do desenvolvimento, as cidades cresceram
ao ponto de não apenas substituírem o espaço das florestas e ambientes naturais, mas
estabeleceram uma fronteira mínima entre o meio natural e urbano. Logo, as paisagens de
diversos locais do mundo se modificaram com a intensa ação do homem, de acordo com a
forma como as populações locais se relacionavam com a natureza e seus elementos.
(MARIANO, et al. 2011) Por isso, hoje diferentes paisagens do nosso planeta, tem uma
quantidade superior ou inferior de resquícios da paisagem natural antes intocada,
ocasionando na presença maior ou menor de biodiversidade, e consequentemente a incidência
de ocasiões de contato entre humanos e os outros elementos da natureza.
O ser humano não deve ser compreendido como diferente, oposto a natureza ou ao
conceito do natural, ele é um animal, que assim como todos seres da extensa fauna de nosso
planeta Terra, está sujeito a interações, sejam negativas ou positivas, com outras formas de
vida (MORIMOTO, C; SALVI, R. F. 2009). Desta forma, ao relacionarmos o contexto da
urbanização com a nossa condição como seres pertencentes à natureza, inicia-se o aumento
constante da incidência de diferentes interações entre humanos e animais. Estas interações se
dão de diferentes formas, já que elas podem beneficiar ou prejudicar diversos seres, o homem
por exemplo, promoveu milhões de encontros violentos com outras criaturas para obter seu
sustento e desenvolver a sua sociedade, afetando diretamente a existência de espécies de todo
o mundo (MORIMOTO, C; SALVI, R. F. 2009 apud. DUARTE, 2003, p. 21). Mas os seres
pertencentes ao meio natural, igualmente aos humanos, podem promover estes encontros,
principalmente os que habitam na zona de encontro entre os meios, sejam eles insetos,
pequenos ou mesmo grandes mamíferos, aves, etc.
O forrageio dos seres está diretamente ligado com a questão a ser tratada, pois os
humanos, que constituem uma sociedade e uma população imensa, produzem toneladas de
lixo diariamente, mas que para outras formas de vida, são fontes quase inesgotáveis de
alimento. Um exemplo dessa relação, é a busca por restos de alimentos feita pelas
baratas-americanas (Periplaneta americana), porque se beneficiam dos nossos restos de
alimentos, favorecendo a sua sobrevivência ao realizar o contato com o meio humano e suas
produções antropomórficas. Para complementar, Vasconcelos e Carvalho (2019 apud.
DAJOZ, 2005) afirmam que:
A busca por alimentos deve ser a mais eficaz possível e tem fortes
influências sob o modo de vida animal. Portanto, os animais têm tendência a
intensificar a procura por alimentos onde estes estão em maior oferta, tendo
em vista que diminuir o tempo e energia gasto no forrageio, se aprimora o
ganho de energia obtido na nutrição.

Então, é mais vantajoso para uma espécie se adaptar ao meio humano e à presença de
pessoas, a fim de conseguir alimentos de forma rápida e com pouco gasto energético, através
do forrageio por alimentos antropomorfizados, do que procurá-los na natureza, o que é
cansativo e muitas vezes perigoso. Por isso, espécies como o pombo-comum, as várias
espécies de roedores e insetos em geral, se adaptaram ao meio urbano, pois souberam
aproveitar as vantagens proporcionadas.
Além destas espécies mencionadas, as espécies de símios, principalmente os chamados
“Macacos do Novo Mundo”, sendo estes os primatas do clado platirrinos encontrados na
América, puderam se adaptar a urbanização das cidades, na medida do possível, pois
infelizmente por ser uma mudança de ambiente rápida e radical, muitos não se adequaram e
morreram por falta de alimentos, atropelamentos, etc. Como descreve Silva (2019) em sua
pesquisa com um grupo de macacos-prego-amarelo (Sapajus libidinosus) no Parque Nacional
de Brasília (PNB), muitos visitantes do parque reclamam da presença dos macacos neste
espaço de lazer compartilhado por ambas as espécies, porque os encontros entre os primatas e
humanos causaram naquele ambiente reações agressivas, já que as pessoas queriam proteger
os seus pertences, inclusive os seus alimentos, e os macacos tentam obtê-los para se alimentar.
Logo, os macacos de várias partes do mundo, após perderem seu habitat e fontes de alimento
original, foram inclusive caçados pelo homem, visto que são compreendidos como uma praga
por muitos, causando a redução drástica na população de macacos.
Mas enquanto milhares de grupos de macacos foram mortos, alguns permaneceram e
ainda residem em áreas protegidas, em que a caça ou a morte proposital dos primatas é
proibida, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) é um exemplo de
local onde os macacos podem permanecer sem correr risco de serem mortos por pessoas.
Nestes espaços de proteção, os macacos puderam se adequar às condições impostas a eles
através de diferentes formas, além de usarem a presença humana como uma vantagem. Esta
adaptação foi possível, porque os primatas têm uma capacidade maior de se adaptar a
ambientes novos, pois possuem cérebro altamente desenvolvido, polegares opositores e
capacidade de modificar suas técnicas de forrageio e comportamentos de acordo com o tipo
de alimento presente e onde se encontra (VASCONCELOS, L. L. P. M.; CARVALHO, A. V.
2019).
Em razão dessas mudanças, pode-se dizer que há diferenças no comportamento dos
grupos de primatas-não-humanos, principalmente entre os que vivem no meio natural e os que
se adaptaram ao meio urbano. Por existir a presença de alimentos antropomorfizados e
industrializados, de fácil acesso e provido por diferentes fontes, os macacos presentes no meio
urbano vão focar em conseguir estes alimentos através de diversos métodos, que incluem a
interação direta com pessoas que portam junto de si alimentos como estes. Contudo, os
macacos que não estão em contato com o meio urbano, vão conseguir o alimento por meio de
frutos, insetos e outros recursos naturais. Este fator não indica que os macacos não possam
usufruir de alimentos antropomorfizados e de alimentos naturais em sua dieta, sabendo que
são animais onívoros, e a sua dieta pode variar conforme as necessidades do indivíduo.
Além dessas diferenças, uma qualidade única dos macacos que convivem no meio
urbano, é a tolerância à presença humana, já que estes têm mais facilidade em lidar e entender
o comportamento humano, quando se trata de serem expulsos, afugentados ou mesmo o
fornecimento de comida (VASCONCELOS, L. L. P. M.; CARVALHO, A. V. 2019). Este fato
justifica a ideia de que esses animais podem mudar e aprender com o ambiente para
sobreviver. Segundo Silva (2019), os macacos podem recorrer a diferentes métodos para ter
acesso aos alimentos antropomorfizados: Eles “pedem” para o humano que carrega consigo o
alimento desejado, demonstrando sinais que indicam o que querem, bem como gestos e a
aproximação, com a finalidade de receber a comida, semelhante a uma ação de piedade ou
compaixão, mesmo que não estejam demonstrando necessariamente estas emoções; E
interações mais agressivas também podem ser adotadas, como a ameaça por meio da
expressão corporal, pois esta quando percebida pela pessoa, passa a ideia de que será atacada,
assustando-a com o perigo iminente e fazendo com que derrube o alimento procurado pelo
primata; A oportunidade também é usada por vários macacos para acessar as comidas
industrializadas, principalmente em casos de desvio do olhar de seus donos e a disposição
para o saque, entre outros exemplos de momentos oportunos aproveitados por esses
mamíferos oportunistas. Estes hábitos não são aplicados a todos os grupos e espécies de
primatas, mas não são exclusivos do grupo catalogado pela pesquisadora, diferentes grupos
adotarão métodos diversificados, porém todos terão o mesmo objetivo de adquirir alimentos
provenientes da produção humana.
Ainda analisando a pesquisa de Silva, as pessoas que são submetidas a essas encontros
- que são muitas vezes desagradáveis - tendem a se proteger de diferentes formas, assim como
os alimentos trazidos e seus pertences, escondendo-os em recipientes lacrados para impedir o
acesso, ou mesmo afastando os macacos com gestos e uma postura agressiva. Se observa uma
relação de competição entre essas espécies, em que uma faz o máximo para proteger o que lhe
pertence, enquanto a outra tenta de diferentes formas burlar esses sistemas de segurança. Mas
este não é um padrão único de interação, já que os encontros também podem ocorrer de forma
pacífica, em que nem o primata apresenta agressividade e a pessoa fornece o alimento
propositalmente, seja por compaixão, pena ou pela ideia de que o animal não consegue
encontrar o seu próprio alimento no ambiente onde ele vive (SILVA, Mariana Machado e.
2019). Porém essas relações se dão de diferentes formas em várias partes do mundo, e vão
afetar a forma como os humanos tratam e percebem os macacos, assim como os macacos irão
se relacionar de outra maneira com os humanos. Um exemplo da aplicação desta variável, é a
população de macacos presentes nos templos da Indonésia, na província de Bali, que
convivem junto dos seres humanos, em destaque os turistas que visitam o local. Enquanto os
macacos atraem a atenção dos turistas e contribuem para o lucro e quantidade de visitantes do
lugar, eles têm o seu espaço respeitado e podem viver pacificamente.

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