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Leitura complementar

História da Agricultura

Autor: Diogo Gonçalves Neder

Origem
Milhões de anos depois do alvorecer da vida, o homem iniciou sua longa trajetória pelos
caminhos da terra.
O sopro da vida - era primitiva - surgiu há cerca de 3,8 bilhões de anos. As primeiras
florestas pantanosas, plantas, insetos, peixes, répteis, anfíbios e fósseis de animais surgiram na
Era Primária, há 300 milhões de anos.
Na chamada Era Secundária, há 150 milhões de anos, surgiram plantas floridas e
frutíferas; plantas coníferas e as primeiras aves; os primeiros mamíferos; répteis gigantes (os
dinossauros).
Na Era Terciária, há 50 milhões de anos, ocorreu a formação de cadeias de montanhas
rochosas; o desenvolvimento dos primatas; o desenvolvimento dos símios (macacos). E, há 2,5
milhões a 2 milhões de anos, apareceram os homídeos (Australopithecus, Erethus, Neandertal,
entre outros).
Estudos antropológicos nos asseguram que, há 100.000 anos, o homem perdeu o pelo,
reafirmando-se como o “homo sapiens” de hoje.
Nesse espaço de tempo, infinitamente grande, o homem existia no seio da natureza
como um ser integrante, constituindo um todo harmonioso junto com os demais seres e
elementos da natureza, mas avança contínua e sincronizadamente no caminho da evolução.
Desde os primeiros antropoides até o homem de Neanderthal e até mesmo em eras
bem recentes, o homem vivia exclusivamente da “apreensão” de alimentos, seja de frutas
silvestres, seja da caça de animais. Eram os caçadores-coletores. As tribos viviam em ambientes
que suportavam sua necessidade de alimentos.

Migração
Grupos pequenos iam tomando mais espaços na natureza para sua sobrevivência. Havia
um perfeito equilíbrio ecológico. À medida que os anos passam, a humanidade torna-se mais
numerosa e seu espaço ambiental não supre mais sua necessidade de alimentos.
O ser pensante, fundado nesta necessidade, começa a buscar soluções para os
problemas. A primeira delas foi a migração para outros nichos ecológicos, para outras regiões,
com mais abundância de água e comida.
Os alimentos, no caso, frutas, raízes e pequenos vegetais, começavam a faltar, às vezes,
por causa de fatores climáticos, outras vezes, por causa do excesso de consumo, devido ao
aumento anual do número de pessoas, o acréscimo populacional.
Somente uma alternativa era clara: a saída para outras regiões onde a natureza mais
pródiga pudesse suprir as necessidades básicas. O homem empreende a primeira fuga –
abandona seu “habitat” antigo. Neste momento, também acontece a primeira ruptura entre
“aquele homem e o nicho ecológico”. É o marco histórico do primeiro desequilíbrio ecológico
provocado pelo homem.
Agricultura

A dificuldade da solução migratória na pré-história levou o homem, há cerca de 10.000


anos, a buscar novas alternativas em busca da sua alimentação. Até então, o homem era
essencialmente caçador–coletor. Percebeu, então, que se ele, homem, zelasse, tomasse certos
cuidados, cultivasse certos tipos de plantas, a natureza, as plantas seriam mais ricas e generosas
com ele.
Observando as plantas, o homem percebeu que elas desprendiam sementes, que, ao
caírem na terra, germinavam, dando origem a uma nova planta. Muitas germinavam, mas
muitas se perdiam em solo impróprio.

Ciente da importância das sementes que se perdiam, o homem “rasgou” o solo para
ajudar a natureza a preparar um leito melhor para aquela vida que germinava. Surgia assim a
Agricultura, primitiva ainda, mas intensamente ligada à natureza. Além disso, era uma
oportunidade mais cômoda de sobreviver.

As primeiras práticas agrícolas eram um prolongamento da vida natural. Em vez de


agressão, se é que havia, melhor seria a palavra “intervenção” do homem, que era mínima.
Iniciava, sim, uma intervenção consciente do ser humano no meio ambiente. Este fenômeno
aconteceu no planeta terra, em épocas diferentes, mas dentro de uma cronologia após o
nascimento da agricultura e difundiu-se até épocas recentes.

A agricultura aparece apenas no Neolítico, período compreendido entre 8000 e 5000


a.C. O homem começa a dominar os metais - cobre, estanho e, enfim, o ferro -, forjando-os no
fogo.

Surgem as ferramentas de trabalho.

Diversos historiadores afirmam que a agricultura nasceu na Mesopotâmia (‘terra entre


rios’), há aproximadamente 4 a 5.000 anos a.C. Os responsáveis seriam grupos de tribos da Ásia
Central e das montanhas da Eurásia à procura de áreas férteis e próximas a rios, onde
encontravam pesca e alimentação.

Outros historiadores relatam que os Egípcios, que ocupavam as margens do Rio Nilo, há
6.000 anos a.C., aproveitavam as cheias esporádicas para a prática da agricultura.

Não podemos esquecer os Babilônios que, com a primeira Lei criada pelo Rei Hamurabi,
já instituíam uma legislação que ajudava a controlar os abusos cometidos pelo homem contra a
natureza e contra a sociedade.

Os Jardins Suspensos e a Torre de Babel também foram criados por esses povos, nesta
mesma época.

Todos estes povos já praticavam uma agricultura com base em diversas técnicas. Às
vezes, surpreendente para seu tempo e difícil para o homem moderno entender como chegaram
a este nível.

Evolução
No início, era uma pedra ou um galho de árvore para rasgar o solo; depois a pedra foi
lascada de propósito para melhor cortar; e, mais tarde, sua lâmina foi aparada.

Bem mais tarde, surgiu o ferro, dando-se, novamente, um salto grande na evolução, pois
a ação do homem no solo tornou-se mais precisa, mais “racional”.

Naquela época, a agricultura já era uma prática absorvida e fundamental para a


sobrevivência da humanidade. Como meio de subsistência, a produção de alimentos, é, ao longo
da história, a grande preocupação do homem. Esta preocupação se projeta pelos séculos afora,
cruzando a pré-história, os povos antigos, gregos, romanos, fenícios, afundando e emergindo na
Idade Média, explodindo na era da Revolução Industrial e se tornando ainda maior na era
eletrônica dos tempos atuais.

Durante todos esses milênios, o percurso do homem sobre a terra foi longo e difícil. Sua
ação junto à natureza foi marcante, quase sempre fundada num interesse primordial: a busca
do bem-estar, sendo o primeiro objetivo, a busca do alimento. Nesta trajetória, ficou uma marca
indelével: a agressão à natureza e aos ecossistemas. A modificação do meio ambiente, a marca
poderosa de um ser pensante, o homem, que parece não entender seu papel no seio do
Universo.

Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, em seu livro, Histórias das agriculturas no mundo
- Editora UNESP, 2010, p. 41, tecem o seguinte comentário:

(...) se o homem abandonasse todos os ecossistemas cultivados do planeta, estes


retornariam rapidamente a um estado de natureza próximo daquele no qual ele se encontrava
há 10.000 anos. As plantas cultivadas e os animais domésticos seriam encobertos por uma
vegetação e por uma fauna selvagem infinitamente mais poderosas que hoje. Nove décimos da
população humana pereceria, pois neste jardim de Éden, a simples predação (caça, pesca e
colheita) certamente não permitiria alimentar mais de meio milhão de homens. (...)

Domesticação

Durante a evolução da agricultura muito se mudou, mas talvez nada tão impressionante
quanto as alterações nas características de plantas e animais, obtido por meio da domesticação,
processo pelo qual as plantas e os animais são geneticamente alterados ao longo do tempo por
seres humanos para as características que são mais vantajosas ou desejáveis.
Por exemplo, se um ser humano notar que uma planta particular no campo é mais alta,
e se as plantas mais altas forem consideradas mais valiosas, ele/ela poderá escolher sementes
daquela planta a partir da qual fará um novo plantio. Uma vez que as plantas individuais
selecionadas provavelmente contêm o gene para o traço para o qual foram selecionadas, sua
progênie (filhos) tem maior probabilidade de herdar esse traço. Uma planta alta é mais provável
ter progênie mais alta. Ao longo do tempo, se apenas plantas altas forem escolhidas como
progenitoras, mais e mais plantas serão altas.

Nossos ancestrais humanos começaram este processo selecionando o teosinte (o


ancestral do milho) que tinha espigas maiores, e mais fileiras de sementes. Com o passar do
tempo eles provavelmente também foram selecionados para outros traços úteis, tais como
grãos que caem da planta, grãos expostos (sem a parte protetora externa do grão) e maior
rendimento.

Uma vez que as características selecionadas são vantajosas para os seres humanos, mas
não necessariamente vantajosas para as plantas, estas plantas recentemente desenvolvidas têm
frequentemente perdido a capacidade de sobreviver na natureza sem seres humanos.

Por exemplo, os grandes grãos das espigas de milho contemporâneas não são facilmente
dispersos pelo vento ou pássaros. Se fossem deixados sozinhos na natureza, eles simplesmente
cairão no chão, onde brotarão muito próximos uns dos outros para poderem crescer e dar
origem em grandes plantas saudáveis.

Sucesso(?)

O sucesso do novo modelo de obtenção de alimentos pelo homem foi tanto que de 8
mil ac a 5.000 a.C., no período neolítico, o crescimento populacional foi tão intensivo que a
população mundial se elevou em uma magnitude de 100 vezes. Posteriormente, entre 5.000 a.C.
até a revolução industrial no século XIX a população cresceu 10 vezes, atingindo o seu primeiro
bilhão de pessoas.

E foi neste período que a visão de um brilhante economista inglês, Thomas Malthus,
ganhou força. A visão de Malthus sobre a vida social de seu tempo era bem pessimista: para ele,
a humanidade sempre iria se defrontar com a escassez de alimentos. É nesse contexto, em 1798,
ele publica um artigo que teria um impacto tremendo no cenário mundial. Em "Um ensaio sobre
o princípio da população", ele defendia a tese de que a população cresce em progressão
geométrica enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, um
descompasso que provoca a fome e estimula a disputa entre os homens.

Em seu ensaio sobre a população, Malthus destacava que o crescimento das populações
é limitado pelos recursos alimentares disponíveis. Seus argumentos podem ser resumidos de
forma simples:

1) a humanidade tem uma tendência natural para aumentar;


2) a produção de alimentos não consegue acompanhar esse crescimento;
3) mas tende a haver um equilíbrio entre esses polos, porque o número de pessoas é restringido
pelas limitações naturais, como morte, fome, doenças, ou por ações humanas, como a guerra.
Revolução

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) quando a fome era um problema real em
países da África subsaariana e da Ásia meridional.

O temor de que a humanidade havia atingindo seu limite e que uma fome global se
aproximava assombrava a humanidade. Entretanto, nos anos vindouros, um conjunto de
descobertas cientificas e avanços tecnológicos afastaram este temor. A agricultura ainda
baseada nos princípios desenvolvidos pelos nossos ancestrais e ainda de produção modesta
estava prestes a ser substituída por um novo modelo.

A Revolução consistiu em usar a melhor tecnologia para produzir mais alimentos no


mesmo espaço de terra.
Do modelo industrial saíram máquinas, tratores e implementos, que assim como na
cidade podiam realizar a tarefas de dezenas ou até centenas de homens com perfeição. E a
agricultura passou a depender cada vez mais destas máquinas e dos combustíveis fosseis para
movimenta-las.
Do meio cientifico houveram descobertas que permitiram compreender o processo de
seleção das plantas e animais com base nos princípios da hereditariedade de Mendel e da
evolução de Darwin. Novas técnicas foram empregadas gerando plantas cada vez mais
produtivas e resistentes a pragas e doenças. O surgimento das chamadas plantas hibridas
permitiram um elevado salto de produtividade, especialmente em culturas como o milho e
outros cereais. Com tais plantas disponíveis, os agricultores aos poucos foram abandonando as
sementes tradicionais, também conhecidas como crioulas, que eram passadas de geração para
geração entre as famílias de agricultores e passaram a adquirir sementes produzidas por grandes
empresas.
Por fim, das indústrias químicas saíram dois outros grupos que marcariam o surgimento
desta uma nova agricultura: os fertilizantes químicos, os quais permitiram ao ser humano aplicar
grandes doses de nutrientes diretamente ao solo, bombardeando a planta com uma dose
elevada e forçando-a a um crescimento bastante intenso e o surgimento dos pesticidas ou
agrotóxicos, moléculas capazes de exterminar grandes grupos de organismos, a exemplo dos
inseticidas (insetos), fungicidas (fungos), bactericidas (bactérias), herbicidas (plantas daninhas),
entre outros. Estes agentes apresentam impactos significativos no meio ambiente e na saúde
do homem.
A combinação destes elementos permitiu o surgimento de um novo modelo de
agricultura, conhecido atualmente como convencional, tal modelo permitiu a elevação
substancial da produção de alimentos, e novamente o esquecimento da teoria de Malthus.
A população humana então continua crescendo, juntamente com a produção de
alimentos, atingindo atualmente mais de 7 bilhões de habitantes. Para 2050 a previsão é que a
população humana atinja 9 bilhões de pessoas, senão mais, e continue crescendo até estabilizar,
o que deve ocorrer por volta dos 12 ou 14 bilhões.
Evidentemente, o aumento da população e do consumo, gera uma pressão sobre o
sistemas de produção, exigindo que cada vez mais alimentos.

Desequilíbrio
a agricultura convencional moderna é potencialmente prejudicial ao meio ambiente e à
saúde humana, vejamos:
- O desmatamento constitui talvez o primeiro impacto da produção agrícola. O terreno a ser
cultivado precisa estar limpo para que se possa fazer a preparação do solo e o plantio das
sementes e mudas. Área extensas de matas e florestas já foram e continuam sendo devastadas
para disponibilizar solo para a agricultura e pecuária;
- A mecanização da agricultura trouxe agilidade à produção, além de diminuir muito a
necessidade de mão de obra. Todavia, para a utilização desses maquinários agrícolas, é preciso
queimar combustíveis fósseis, como o óleo diesel, o que prejudica a qualidade do ar, ampliando
a poluição atmosférica;
- Poluição dos solos e da água em virtude da utilização de insumos agrícolas, como adubos
químicos, corretores do solo, pesticidas (os chamados agrotóxicos) etc. Quando a lavoura recebe
a chuva ou é irrigada, esses insumos podem escoar para os rios, contaminar os solos e o lençol
freático;

As técnicas aplicadas à agricultura, como a utilização de agrotóxicos, podem causar impactos


ao meio ambiente
- Diminuição da biodiversidade por causa do uso agrotóxicos (pesticidas), que, muitas vezes, são
pulverizados por aviões e atingem as áreas vizinhas, matando, assim, animais e plantas. O
desmatamento também contribui para a diminuição da biodiversidade;
- Erosão causada pela irrigação e manejo inadequado dos solos. A retirada da cobertura vegetal
que protege o solo também contribui para que surjam erosões. Além disso, a retirada da mata
ciliar para o plantio pode ocasionar o assoreamento dos rios;
- Exaustão dos mananciais de água doce – O maior responsável pelo consumo de água doce é a
atividade agrícola. Ela responde por mais da metade do consumo. Em tempos de diminuição
crescente de rios e córregos limpos, essa é uma questão preocupante;
- Contaminação de alimentos e água – devido ao uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos,
resíduos de pesticidas são encontrados em nossos alimentos e na água em que bebemos. Tais
resíduos são encontrados por vezes em níveis bastante elevados, estando associados a
ocorrência de doenças diversas e intoxicações em humanos e animais;

Uma Nova Revolução

Chegamos ao século XXI com um novo desafio: como produzir alimentos saudáveis, para
uma população crescente, de forma economicamente viável, minimizando os impactos
ambientais e garantindo a sustentabilidade ao médio e longo prazo. Ou seja, não basta produzir,
está produção deverá ser constante ao longo do tempo para gerações futuras.

Um novo modelo de agricultura deverá ser construído, muito se têm discutido e


propostas diversas são feitas. Entretanto, nos dias de hoje, dentre as diferentes correntes de
agricultura alternativa, a agricultura orgânica é a que recebe maior destaque. Este modelo de
produção é amplamente conhecido e desejado pela população em geral e apesar de ainda novo,
em termos de conhecimentos e pesquisa cientifica, promete lançar as bases para a agricultura
do futuro.
Referência
O homem, a agricultura e a historia O homem, a agricultura e a história / Leopoldo Feldens
- Lajeado : Ed. Univates, 2018. 171 p. ISBN 978-85-8167-241-0 1.

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