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Fróes, Fontoura Barreto, Simões Coelho, Avaro Peres, Miguel Santos, Barros
Barbosa, Eduardo Cerca, Armando Gonzaga, Miguel Santos, Azeredo
Cautinho, Gonpio Ramos, Marco Fulvio, Candida Costa, Bruno Nunes, João
deTalma, Mota Lima, Cristiano de Souza, Mateus da Fontoura, Edmundo Lys,
Oswalda de Abreu Fialho, Mário Abrantes, Joracy Camargo, Vaz d'dmeida,
Celestino Silvas, Luiz Rocha, Luiz Iglbsias, Gastáo Pereira da Silva, Bandeira
Duarte, Procópio Ferreira, Elsie Lessa, Carlos Lage, Nair Lacerda, Adacra Filho,
Bibi Ferteira. In: Nunes, Mário, op. cit.
2' MAGALDI, Sibato, op. cit., p. 250.
22 Idem, p. 240.
23 Idem, ibidem, p. 13.
Convenção de Berna em 1922. Outros, não hesitavam em con- indústria livreira dos pontos de vista econômico e político.
tratar escritores multilíngues para adaptar, parafrasear e traduzir, Salientava que a taxação elevava o preço de venda dos livros
ou seja piratear, textos já publicados na Europa e nas Américas do importados e que a alternativa seria traduzi-los, mas poucas
Norte e do Sul. empresas estavam aparelhadas para editar grandes livros técnicos,
e sequer haveria mercado interno para consumir a tiragem míni-
A Era Ergas ma de 10 mil exemplares necessária à cobertura dos custos.
Assim, continuava o documento, certas editoras cobravam
A vez da tradução legal iria chegar após 1930, com a ascensão de uma exorbitância pelo livro traduzido, reduzindo de tal modo a
Getúlio Vargas à presidência da República à frente de uma revolu- diferença entre este e o importado, que muitos preferiam ler o
çáo nacionalista que propunha substituir importaçóes industriali- livro no original novo ou usado, por mais dez mil réis, a lê-lo na
zando o país, aprovar novas leis trabalhistas, educacionais e eleito- tradução, às vezes péssima, por aquele preço. E se era verdade que
rais e promulgar uma Constituição mais adequada a suas metas. precisávamos dos livros técnicos, verdade também era que a lite-
A educação deveria servir ao duplo propósito de produzir ratura de ficção estrangeira náo era gênero de primeira necessida-
máo-de-obra qualificada e difundir o ideário estadonovista, o que de para o espírito, embora constituísse, no mínimo, a metade da
nossa importaçáo, dada a estrondosa preferência que os roman- às nossas importações do continente europeu. Três meses depois,
ces-folhetins e os romances água-com-açúcar europeus continua- o presidente Vargas criava o Departamento de Imprensa e Pro-
vam a gozar em nosso país. paganda - DIP -, com a responsabilidade de censurar o teatro, o
Entre os vários livreiros-editores ouvidos houve também cinema, as funções recreativas e esportivas de qualquer natureza,
quem alertasse o governo para a inocuidade dos subsídios ao a radiodifusáo, a literatura social e política e a imprensa, coibir a
papel e à indústria gráfica, se o governo não se empenhasse em entrada no Brasil de publicações estrangeiras nocivas aos interes-
aumentar o número de leitores no país, como mostra o depoi- ses brasileiros, e interditar, dentro do território nacional, a edição
mento de Abraão Koogan: de quaisquer publicações que ofendessem ou prejudicassem o cré-
dito do país e suas instituições ou a m0ral.5
As dificuldades estáo, principalmente na falta de leitores, na escassez de
Era o endurecimento da censura estadonovista que de 1939 a
público. Quando o Brasil, em vez de 75% de analfabetos tiver só 20%,
o livro, tanto o importado como o impresso no pais, será um negócio 1942 gravaria a produçáo literária brasileira. A prisáo de escrito-
bastante próspero para os livreiros. De onde concluir que, para que a res dissidentes, a censura, apreensáo e destruição de suas obras
indústria e o comércio do livro se desenvolvam é preciso que as escolas levou os editores a concentrar suas atenções na publicação de
aumentem e a maioria dos brasileiros aprenda a ler e a escrever. Nessa livros de ciência, historiografia, didáticos, infantis e traduções de
altura, as edições, que hoje sáo de três a cinco mil exemplares, serão de ficção estrangeira.
trinta a cinqüenta mil, o que dará certamente grandes lucros aos edito- As obras historiográficas sobre determinados episódios e per-
res e conseqüentemente aos livreiros.3 sonagens de nossa história identificáveis com o projeto estadono-
vista tornaram-se um negócio ao mesmo tempo patriótico e ren-
As estatísticas de 1920 confirmam os dados citados por
doso, subsidiado que era pelos órgáos encarregados da política
Koogan e mostram que 12 anos depois o número de analfabetos
cultural. Com o intuito de demonstrar a prosperidade do setor
ainda ultrapassava a marca dos 50% da populaçáo, apesar das
editorial na Era Vargas, Wilson Martins arrola um grande núme-
propostas e da propaganda a respeito das realizações do Estado
ro dessas obras e de traduções, bem como registra, como "singu-
Novo no campo da educaçáo.4
laridade bibliográfica do ano de 1939, o número elevado de escri-
tores conhecidos em outros gêneros que publicaram livros de lite-
1920 ratura infantiY.6
Populagáo 30.635.609 Náo se tratava de singularidade: os livros infantis tinham
Sabem ler 7.493.357 venda certa às bibliotecas e escolas pois se enquadravam no proje-
Não sabem 23.142.248 to nacionalista de valorizar os nossos escritores. As traduções, por
Sem declarar -
sua vez, ofereciam ao leitor uma visáo de mundos e tempos dis-
tantes, ou até do mundo conflagrado pela guerra, bem diferentes
Com as medidas unilaterais de expansáo do seu território do mundo ordeiro que o Estado Novo lhe proporcionava. E, para
promovidas pela Alemanha, a Segunda Guerra Mundial eclode os literatos mais interessados na forma do que no conteúdo, as
em setembro de 1939, e com ela surgem as inevitáveis restrições traduções náo somente os familiarizava com os últimos "ismos"
Editou também obras de referência visando aos bacharéis for-
BIBLIOTECA mados pelas universidades recém-criadas. Era o caso da Biblioteca
O i r e ~ ã r de R U B E N S do Pensamento que oferecia traduções comentadas de pensadores
H ISTÓRICA
B O R B 4 DE M O R A E S da categoria de Rousseau, Montaigne, Voltaire, Danvin, Schope-
BRASILEIRA nhauer, Emerson e Niemche. Seu projeto de ficção traduzida, no
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entanto, precisou aguardar a normalização da distribuição de pa-
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do Canadá e dos Estados Unidos a preços elevadíssimos, o que
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obviamente afetou a produção de gráficas e editoras.
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coordenação da coleção de prosadores estrangeiros já falecidos,
para economizar os direitos autorais, e, a Donald Pierson, antro-
pólogo norte-americano, a coordenação da "Biblioteca de Ciên-
ao nosso Serviço de &eembolno Postai.
cias Sociais", a ser traduzida por profissionais do ramo. Mas o que
LIVRARIA MARTINS a Livraria Martins Editora visou prioritariamente - e com suces-
Rua 15 de Novembro, 135 - Sáo Paulo
so - foi a formação de um plante1 de autores nacionais, abrindo
uma concorrência direta com a José Olympio, que se mudara de
Historiografia brasileira na era Vargas, em rradugóes ilustres.
São Paulo para a capital federal.
Traduzia-se, portanto, muitas obras de ficção e muitas obras
conta do tradutor escolhido, ou dos procedimentos de revisão técnicas, para atender plenamente 2s, necessidades de entreteni-
próprios de cada casa. A José Olympio sentia-se tranqüila acredi- mento e aprendizado do público brasileiro. Com isso crescia o
tando que seus tradutores se preocupariam com a absoluta corre- número de tradutores no mercado, embora a maioria não tivesse
ção do português em suas traduções - mas o problema estava na consciência de sua importância para as editoras e a difusão do
incorreção das traduçóes. conhecimento estrangeiro em nosso país.
A Livraria Martins, uma das últimas a adquirir importância Houve, no entanto, tradutores que perceberam a importância
na Era Vargas, também lançou na década de 1940 uma coleção de do instrumento que tinham em mãos, e o usaram com habilida-
relatos de viajantes estrangeiros sobre o Brasil, organizada pelo de para divulgar criticas ao governo ou fazer propaganda do seu
bibliófilo Rubens de Moraes Borba, cuja tradução foi entregue partido político. Em sua adaptação de Peter Pan, Monteiro
aos... mesmos escritores-tradutores. Foi enfatizadd'em seus anún- Lobato colocou na boca dos personagens do Sítio suas opinióes
cios de lançamento a cuidadosa seleção de títulos, belamente sobre determinadas questóes. "Há no Brasil uma peste chamada
impressos, em "traduções fiéis e integrais, cuidadosamente revis- governo que vai botando impostos e selos em tudo ..." ou "na In-
tas, anotadas e com introduções".lo glaterra os brinquedos náo custam os olhos da cara como aqui...".
Ele foi imediatamente acusado, entre outras coisas, de criar uma sa pela influência americana em nossa cultura, consolidando um
personagem comunista e anticatólica porque divorciada - a bone- processo que vinha desde o início do século.
ca Emília - e os exemplares de sua obra foram confiscados em Embora a tradução continuasse a configurar, por força das
todo o território nacional.11 Tom Sawyer, por sua vez, foi julgado circunstâncias, uma atividade alternativa - algo que se faz tempo-
tão perigoso e subversivo, que a edição brasileira foi destruída e, rária ou complementarmente - seus tradutores não eram mais,
sua tradutora, Cecília Meireles, presa. como nos séculos anteriores, poetas poliglotas e diletantes. Eram
Outras traduçóes, no entanto, tiveram melhor sorte, talvez escritores consagrados em ascensão, ou seja, os responsáveis em
porque à altura de sua publicação, 1943-44, a União Soviética já qualquer cultura pela criação e reprodução dos padróes linguísti-
tivesse deixado de ser um inimigo prioritário. Gustavo Nonnen- cos do idioma. Gente que com o seu trabalho contribuiu para
berg, tradutor de Luta incerta, obra em que John Steinbeck definir os critérios de seleçáo, traduçáo, revisão e edição de obras
denuncia a situação injusta dos bóias-frias norte-americanos, estrangeiras em nosso país.
intercalou em várias partes do texto frases de esclarecimento e Ocorreu porém que, se no skculo XIX, Machado de Assis bra-
doutrinaçáo comunista.12 dava contra as peças teatrais exibidas sem muito ensaio nem cui-
O volume e a variedade de obras traduzidas foram tão gran- dado com sua tradução - "tarefa de que se incumbia qualquer
des e as traduçóes em si tão problemáticas, que deram margem a bípede que entendesse de letra redonda",l4 no século XXas tradu-
que em 1942 o Diário de Noticias, o matutino de maior circula- çóes foram palco de apropriações indebitas e da ganância dos edi-
ção nacional, passasse a publicar aos domingos a coluna ' A mar- tores, diante das facilidades oferecidas pelo governo e da falta de
gem das traduçóes", assinada pelo professor e tradutor Agenor preparo dos escritores no novo idioma de cultura e saber.
Soares de Moura.
O relatório Filinto Muller sobre a "Indústria do Livro", regis-
"Competentíssimo, minucioso, sabendo lidar com originais
trou as queixas de editores e livreiros, uns contra os outros, dando
ingleses, alemáes, franceses, espanhóis, italianos, catava os erros
conta das falências e queimas de estoque que desestabilizavam o
das traduçóes brasileiras" elogiou-o Guilherme de Figueiredo.13
mercado aberto a todos que nele quisessem se aventurar.
Ao louvar a contrataçáo do professor como colunista o autor
provavelmente achou ter encontrado a solução para os atritos que
As traduções também são feitas, em muitos casos, desonestamente. Os
suas críticas provocavam no arraial dos escritores-tradutores. Mas originais, além de estropiados na sua essência - em virtude do tradutor
os editores, dizendo-se prejudicados com a má publicidade de mal pago não ter o tempo e a paciência necessários para interpretar fiel-
suas traduções, pressionaram o dono do jornal até a extinção da mente o espírito do idioma e da obra - são mutilados também sem dó
coluna em 1946. nem piedade para baratear o preço da edição. Ainda não há muito que
isso se verificou com obras de Dostoiévski, notadamente com o roman-
A qualiddde das traduçóes ce Os irmãos Karamosoff (sic),cujo texto original foi cortado na tradu-
çáo de mais de 80 páginas.15
A Era Vargas (1930-1953) marcou não apenas um decisivo pro-
gresso em nossa indústria livreira, mas também o início da indús- Pela imprensa, Guilherme de Figueiredo censurou Lúcio
tria de traduções nacionais e da substituição da influência france- Cardoso por inventar um "branco de ovo" quando o certo seria
com raras exceções, todas foram feitas para a Cia. Editora
dizer clara, Monteiro Lobato por um "tão longe quanto a
Nacional, empresa que o próprio Monteiro Lobato fundara em
Democracia pode ser concernida", Marques Rebelo por um gene-
1924.19 As traduções de Lobato incluem Albert Einstein, George
ral Staff, e José Lins do Rego por fazer Isadora Duncan passear
Gamow, Will Durant (Histdria dzfilosofia),Bertrand Russel, mas
numa "Calle Duse" em Florença. O próprio Figueiredo foi acusa-
também Dashiel Hammet, Edgar Rice Burroughs (Tarzan) e
do por Agripino Grieco de transformar um poema de Baudelaire
Eleanor Porter (Poliana), além da História da Biblia de Van Loon
em "uma carcaça de cadela"1G e Grieco, por sua vez, foi ridiculari-
e O nazareno de Scholem Asch, uma alternância de gêneros
zado por Monteiro Lobato em carta a um amigo por ter transfor-
muito semelhante a que encontramos no currículo dos profissio-
mado absinto em bebida feita de bicho de pau podre.17
nais contemporâneos.
Entre todos esses escritores-tradutores, Lobato foi o mais pro-
Além de traduzir para o público adulto, Lobato também
lífico e polêmico por suas posições na política, na indústria, nas
adaptou clássicos europeus como, Dom Quixote de Cervantes,
traduções e na literatura para adultos e crianças. Lutou contra o
Alice no Pais dw Maravilhar de Lewis Carrol, Robison Crusoe de
analfabetismo e a favor do petróleo brasileiro, renovou a editora-
Daniel Defoe, Pinocchio de Collodi, os contos dos Irmáos Grimm
ção, produção, ilustração e distribuiçáo de livros.
e de Andersen, entre muitos outros, para os leitores de sua cole-
A experiência industrial de Monteiro Lohato, grandiosa demais para ção juvenil. E, mais que isto, aproximou a criança brasileira des-
sua época, devemos a revelação de um povo que queria livros e de livrei- ses personagens criados em outros países, fazendo-os conviver
ros que não somente lhe negava o pão do espírito como sacudiam o com os seus próprios personagens no Sitio do Picapau Amareio.
medalhão de brilhantes e se repimpavam todos ao taxá-lo de analfabe- Para Lobato
to crasso.18
A literatura dos povos constitui o maior tesouro da humanidade, e povo
Mesmo com a populaçáo de analfabetos existente em 1937
rico em tradutores faz-se realmente opulento, porque acresce a riqueza
ele conseguiu naquele ano o feito de vender um milhão e duzen- de origem local com a riqueza importada. Por que náo possuir traduto-
tos mil exemplares de suas obras, abrindo pontos de distribuição res torna o povo fechado, pobre, indigente, visto como s6 pode contar
em que ninguém havia jamais pensado, como as "vendinhas"e com a produção literária local.20
armazéns de secos e molhados das capitais e cidades interioranas
do país.
Monteiro Lobato inovou igualmente introduzindo o uso da
linguagem coloquial e dando início à fase nacional da literatura
para jovens, até então condenados a ler originais e traduções por- A colegáo de
tuguesas por vezes ininteligíveis, dadas as diferenças entre o por- aventuras da
tuguês falado aqui e na Europa. Suas inovações repercutiriam a Companhia
Editora
curto, médio e longo prazo nas preferências do leitor brasileiro. Nacional:
Edgard Cavalheiro registra os títulos de 82 obras traduzidas terras e
pelo escritor excluindo deste cômputo as revisões, as traduções personagens
feitas em colaboração e as não assinadas. Observa também que exóticos.
O lançamento continuo de traduçóes brasileiras era uma
novidade táo grande que os jornais da capital federal e de outros
centros culturais do pais, em artigos que eram transcritos pelos
jornais do interior, ocupavam-se também de outros aspectos dessa
atividade, cuja relevância ia sendo gradualmente percebida.
No próprio Diário de Notlcius,Mário de Andrade se indigna-
va que as editoras continuassem a inundar o mercado livreiro
nacional de "úteis obras tkcnicas e discutivel literatura" cuja sele-
çáo era orientada por critérios puramente comerciais: notorieda-
des, escândalos, filmes, modismos. E, pior, tinham passado a
entregar tais livros a grandes nomes de nossa literatura - "o que é
um verdadeiro engodo", pois os escritores tinham na tradução um
interesse meramente financeiro. Podiam ganhar com uma tradu-
ção três contos de réis, três vezes mais do que com uma criação ori-
Monteiro Lobaro ginai, o que os levava a se desinteressar da própria criação e se dedi-
em seu escritório car a ligeiras revisóes nas traduçóes feitas por alguém sem expres-
na Companhia são literária com quem dividiam meio a meio o pagamento.23
Editora Nacional, O Correio da Manha, outro matutino carioca, denunciava as
em São Paulo.
más traduçóes seguida e enfaticamente e propunha soluçóes
como os demais, que obviamente não eram sequer consideradas
Lobato traduzia em média vinte páginas por dia, de dois a dada a projeção dos envolvidos:
três livros por mês e "a rapidez com que era compelido a trabalhar
- essa parece ser a sina de quantos tenham de trabalhar profissio- Restringir aos literatos a faculdade de firmar traduçóes literárias - e estas
em número compatível com o que um literato pode produzir... - seria
nalmente para viver - não lhe permitia burilar as suas versóes, pois uma forma com bons precedentes, e bem dentro da ktica profissio-
que, nem sempre modelares, são sempre fluentes, agradáveis de nal que em todos os ramos deviamos preservar.
ler".zI Mas, não era apenas a necessidade de ganhar dinheiro que Pertencem, realmente, aos literatos brasileiros de projeçáo nacional
o impelia, era o profundo desgosto de ver os seus sonhos de um as "traduçóes" que aqui se publicam sob a responsabilidade dos seus
Brasil grande desandarem: "Continuo traduzindo. A tradução é nomes ilustres? Quantas páginas é possivel traduzir-se por dia: vinte,
trinta, quarenta? Parece que náo. Um romance norte-americano .., AP
-.
minha pinga. Traduzo como bêbado bebe: para esquecer, para quatroccntas ou quinhentas paginas no original, náo pode ser trddu~ido
atordoar. Enquanto traduzo náo penso na sabotagem do-petró- e m menos de dois meses de trabalho diariu e dbsor\~ente.Tán dbsonsen-
leo", desabafou com um grande amigo em 1940.22 te que náo deixa ao tradutor horas vagas para outro trabalho intelectual
A margem dw traduções náo perdoava suas cincadas - nome qualquer. Fora disso - e o prazo de dois meses nós o concedemos aos
que davam aos cochilos e erros de decodificaçáo dos tradutores, e tradutores que conheçam perfeitamente ambos os idiomas e que saibam
escrever correntemente i máquina -, 4 obra de carregaçáo tudo o que se
"vergastava" (um termo de época) Lobato quinzenalmente. quiser fazer em benefício da cultura nacional.24
Ora, não interessava aos editores fazer restriçóes aos seus
escritores-tradutores, pois eram o seu maior recurso publicitário
para vender livros. Além disso, por terem um nome a zelar eles
eram uma garantia de que as traduçóes que assinavam náo conti-
vessem erros de gramática, "mas daí a afirmar que estejam em lín-
gua portuguesa vai um mundo. Estão numa linguagem amorfa,
morna e insossa, destituída de qualquer naturalidade",25 denun-
ciava Mário de Andrade.
Quando fez o comentário acima, em 1940, ele argumentava
que o problema talvez se resolvesse com a profis~ionaliza~áo do
tradutor, se ele adquirisse a consciência de sua especialização dei-
3, ,. 21Q c ,:S K li
xando aos escritores a total liberdade de só traduzirem as obras
primas que admirassem. Mas em 1945, pouco antes de falecer,
U M A B I B L I O T E C A S E L E C I O N A D A
COM AS MELHORES PRODUCbES LITERARIAS DO MUNDO! sua argumentação ganhava cores mais dramáticas, e passou a
enunciar com todas as letras o absurdo que estava se perpetuan-
do, embora ainda não pudesse vislumbrar o verdadeiro abismo
que se instalaria entre o português falado pelos brasileiros mais e
menos letrados.
As 100 Obras-Primas da Literatura Universal As obras que a população leitora do Brasil continua gastando são ainda
.<,li ;i iiiii<i<i Ar !I \ I i S C i < i iiii,l,i,.'~, i a i < l r < , , r ,,,,r. iiirrirc.,, i iii.iI. os best-sellers, os romances policiais, os romances... saídos dos filmes.
Oiii,>lii .
;i<alliiiln i1.1 l i t i l i l i < < > <. I ,,,ilai,.i,- iliiii>i,.,l..
iiir'icir,l.
Mas tudo isso é apressadamente traduzido numa linguagem que náo é
U VOLUMES JA PUBUCADOS: de ninguém, nem pode-se chamar qualquer coisa aparentável a um
- OS TRABALHADORES DO MAR iIr
vsctor H"ZO >,a <*!,,".a tv"d\t<&c,,I- 1; \ "estilo". Não é linguagem popular, não é língua literária, não é brasilei-
I I I . . .. ,I" .
! - HISTdRLA DE UMA CONCIPNCLA ro, não é português, náo é nada, na maioria enorme dessas traduçóes. E
I < Romiin Rolland. . . . . . . . . . . i,:.. .
- THAIE i,<.*nar.,ic Francr. . . >; ' . .. ..... assim se fixou um, espero que crime, contra a nossa gente. O critério das
- C R I M E E CASTIGO <Ir Dostoisurky. . li.<
- HlSTdRI.4 COMICA rle Anatols Fian- traduçóes se encastelou nesta lei: para os cultos, traduzir bem; para a
<S. . ......... . X;
- AS DESENCANTADAS <I,. Pisire Loti. I,?,: gente menos culta, traduzir de qualquer maneira. Infelizmente não há
- A REVOLTA DOS ANJOS <ir Ansrd.
Fisnc.. . . . . . . . , . . . . i,.: luta, mas há uma enorme distinsáo de "classes" na tradução nacional!26
:- OCASO D E U M C O R A C A ~ ; I ; st.san
zureig. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7s
b\l 1<21>\ ,'iI.,II,.,III.,S "O DI<<L,,. E , . < 3 l i l l l <i I , . A Manhá,27 matutino dirigido por Monteiro Lobato, Almir
Pedidoa pelo S E R V I C O D E R E E M B O L S O P O S T A L da de Andrade, Adalgisa Nery, Oscar Mendes, Onestaldo de
Os nomes dos
Pennafort, entre outros intelectuais residentes no Rio de Janeiro,
tradutores desaparecem LIVRARIA PONGETTI ressalva a boa qualidade de algumas traduções e lança luz sobre
na coleção organizada OUVIDOR. 1 4 5 - RIODE]ANURO
par Marques Rebelo. outra face do problema: a remuneração dos tradutores. Traduzia
122
mais quem traduzisse mais barato e com o minimo de segurança.
Por isso só traduzia para ganhar tão pouco alguém de nível men-
tal inferior, a quem não faltasse coragem para traduzir qualquer
livro, inclusive obras de escritores geniais. A crítica era virulenta e
desancava também os editores que estariam persuadidos de que o
seu negócio era, ao mesmo tempo, um grande serviço à naçáo.
"Mas Ihes faltava, em geral, o tino do negócio onde este é propria-
mente um esforço cultural." Era preciso que entendessem que
conhecer inglês e francês não era o mesmo que saber traduzir. A
tradução exigia acima de tudo, conhecimento do assunto da obra
a traduzir. Daí que só filósofos poderiam traduzir filosofia, só
poetas poderiam traduzir poesias, só lingüistas poderiam traduzir
lingüística e assim por diante. Sem exceção. "Salvo milagre... ou
falta de probidade intelectual."z8