Você está na página 1de 13

Machado, Manoel Pêra, Luiz Eduardo Garrido, Antonio Guimarães, Leonardo

Fróes, Fontoura Barreto, Simões Coelho, Avaro Peres, Miguel Santos, Barros
Barbosa, Eduardo Cerca, Armando Gonzaga, Miguel Santos, Azeredo
Cautinho, Gonpio Ramos, Marco Fulvio, Candida Costa, Bruno Nunes, João
deTalma, Mota Lima, Cristiano de Souza, Mateus da Fontoura, Edmundo Lys,
Oswalda de Abreu Fialho, Mário Abrantes, Joracy Camargo, Vaz d'dmeida,
Celestino Silvas, Luiz Rocha, Luiz Iglbsias, Gastáo Pereira da Silva, Bandeira
Duarte, Procópio Ferreira, Elsie Lessa, Carlos Lage, Nair Lacerda, Adacra Filho,
Bibi Ferteira. In: Nunes, Mário, op. cit.
2' MAGALDI, Sibato, op. cit., p. 250.
22 Idem, p. 240.
23 Idem, ibidem, p. 13.

VIMOSQUE NO SGCULO XIX AS T R A D U Ç ~ E SSE MULTIPLICARAM


no teatro e nos jornais, contornando os muitos fatores que con-
vergiam para entravar a produção de livros nacionais e traduzidos.
As tentativas de fabricar papel no Brasil se frustravam, a mão-de-
obra qualificada era insuficiente. A invençáo da impressora rota-
tiva inviabilizou a prática de usar o tempo ocioso das máquina
dos jornais para imprimir livros a um custo mais baixo. Por sua
vez, o aperfeiçoamento dos navios e sua maior velocidade permi-
tiu aos livreiros importarem livros, revistas e jornais mais baratos
e mais bem-feitos, quinze dias após sua edição na França.
Náo bastasse isso, durante vários períodos o papel e a polpa
importados foram taxados 60% a mais que os próprios livros
importados (1815 a 1836; 1844 a 1860; 1920 a 1929; 1951 a
1957), e os livros que vinham de Portugal mais de uma vez foram
totalmente isentos de taxaçáo.
Somente a partir da virada do século outros fatores começa-
ram a favorecer a nossa produção livreira. A Primeira Guerra
Mundial aumentou o risco das importaçóes por via marítima e fez incluía necessariamente a alfabetização, bem como a publicação
o país voltar suas atençóes para o autor brasileiro - o que já fizera local de livros de ensino e literatura, revistas e jornais de interesse
com relação às peças teatrais - e para a produção de papel nacio- educativo. Incluía, ainda, a tradução de obras inéditas, a reedição
nal. Por volta de 1920, já havia 120 fábricas empregando 1.622 de obras esgotadas e a criação de bibliotecas públicas permanen-
operários, com capacidade para suprir parcialmente a demanda de tes e circulantes - o conjunto todo implicando um decidido estí-
papel, embora continuássemos a depender da importação de mulo oficial à produçáo de papel e livros.
polpa, cuja produção só começou realmente a aumentar em 1939. Para acelerar essas realizaçóes, Vargas criou, em 1937, o
Terminada a guerra, os livreiros voltaram a importar livros, Instituto Nacional do Livro, cuja ação abrangeria apenas tradu-
jornais, revistas e traduçóes editados na Europa. Mas, aos poucos, çóes escolhidas e subsidiadas de "obras raras e preciosas" que inte-
foram surgindo gráficas combinadas a editoras, a livrarias e a ressassem à cultura nacional,' especialmente os relatos de viajan-
papelarias que procuravam concentrar seus investimentos nos tes estrangeiros nos séculos anteriores.
ramos mais rentáveis dessas atividades e na impressão de uns pou- As demais traduçóes passariam ao controle do Serviço de
cos livros didáticos de venda garantida. Divulgação da Chefatura de Polícia, criado no mesmo dia em que
Muitos desses estabelecimentos abriram e fecharam as portas foi decretado o Estado Novo - 10 de novembro de 1937 - oqual
e trocaram de máos e alguns até conseguiram virar empreendi- deveria coordenar "todos os elementos informativos de ordem
mentos sólidos antes da década de 1930. Uns procuravam respei- intelectual sobre os assuntos de interesse para a Polícia Preventiva,
tar os acordos sobre direitos autorais, pois o Brasil regulara a na defesa do Regime e do governo".z
-
matéria no Código Penal Brasileiro em 1890, consolidara o direi- Foi esse Serviço que concluiu, em 11 de novembro de 1938,
to do autor no Código Civil Brasileiro em 1916 e aderira à um relatório interno retratando as muitas deficiências de nossa
--

Convenção de Berna em 1922. Outros, não hesitavam em con- indústria livreira dos pontos de vista econômico e político.
tratar escritores multilíngues para adaptar, parafrasear e traduzir, Salientava que a taxação elevava o preço de venda dos livros
ou seja piratear, textos já publicados na Europa e nas Américas do importados e que a alternativa seria traduzi-los, mas poucas
Norte e do Sul. empresas estavam aparelhadas para editar grandes livros técnicos,
e sequer haveria mercado interno para consumir a tiragem míni-
A Era Ergas ma de 10 mil exemplares necessária à cobertura dos custos.
Assim, continuava o documento, certas editoras cobravam
A vez da tradução legal iria chegar após 1930, com a ascensão de uma exorbitância pelo livro traduzido, reduzindo de tal modo a
Getúlio Vargas à presidência da República à frente de uma revolu- diferença entre este e o importado, que muitos preferiam ler o
çáo nacionalista que propunha substituir importaçóes industriali- livro no original novo ou usado, por mais dez mil réis, a lê-lo na
zando o país, aprovar novas leis trabalhistas, educacionais e eleito- tradução, às vezes péssima, por aquele preço. E se era verdade que
rais e promulgar uma Constituição mais adequada a suas metas. precisávamos dos livros técnicos, verdade também era que a lite-
A educação deveria servir ao duplo propósito de produzir ratura de ficção estrangeira náo era gênero de primeira necessida-
máo-de-obra qualificada e difundir o ideário estadonovista, o que de para o espírito, embora constituísse, no mínimo, a metade da
nossa importaçáo, dada a estrondosa preferência que os roman- às nossas importações do continente europeu. Três meses depois,
ces-folhetins e os romances água-com-açúcar europeus continua- o presidente Vargas criava o Departamento de Imprensa e Pro-
vam a gozar em nosso país. paganda - DIP -, com a responsabilidade de censurar o teatro, o
Entre os vários livreiros-editores ouvidos houve também cinema, as funções recreativas e esportivas de qualquer natureza,
quem alertasse o governo para a inocuidade dos subsídios ao a radiodifusáo, a literatura social e política e a imprensa, coibir a
papel e à indústria gráfica, se o governo não se empenhasse em entrada no Brasil de publicações estrangeiras nocivas aos interes-
aumentar o número de leitores no país, como mostra o depoi- ses brasileiros, e interditar, dentro do território nacional, a edição
mento de Abraão Koogan: de quaisquer publicações que ofendessem ou prejudicassem o cré-
dito do país e suas instituições ou a m0ral.5
As dificuldades estáo, principalmente na falta de leitores, na escassez de
Era o endurecimento da censura estadonovista que de 1939 a
público. Quando o Brasil, em vez de 75% de analfabetos tiver só 20%,
o livro, tanto o importado como o impresso no pais, será um negócio 1942 gravaria a produçáo literária brasileira. A prisáo de escrito-
bastante próspero para os livreiros. De onde concluir que, para que a res dissidentes, a censura, apreensáo e destruição de suas obras
indústria e o comércio do livro se desenvolvam é preciso que as escolas levou os editores a concentrar suas atenções na publicação de
aumentem e a maioria dos brasileiros aprenda a ler e a escrever. Nessa livros de ciência, historiografia, didáticos, infantis e traduções de
altura, as edições, que hoje sáo de três a cinco mil exemplares, serão de ficção estrangeira.
trinta a cinqüenta mil, o que dará certamente grandes lucros aos edito- As obras historiográficas sobre determinados episódios e per-
res e conseqüentemente aos livreiros.3 sonagens de nossa história identificáveis com o projeto estadono-
vista tornaram-se um negócio ao mesmo tempo patriótico e ren-
As estatísticas de 1920 confirmam os dados citados por
doso, subsidiado que era pelos órgáos encarregados da política
Koogan e mostram que 12 anos depois o número de analfabetos
cultural. Com o intuito de demonstrar a prosperidade do setor
ainda ultrapassava a marca dos 50% da populaçáo, apesar das
editorial na Era Vargas, Wilson Martins arrola um grande núme-
propostas e da propaganda a respeito das realizações do Estado
ro dessas obras e de traduções, bem como registra, como "singu-
Novo no campo da educaçáo.4
laridade bibliográfica do ano de 1939, o número elevado de escri-
tores conhecidos em outros gêneros que publicaram livros de lite-
1920 ratura infantiY.6
Populagáo 30.635.609 Náo se tratava de singularidade: os livros infantis tinham
Sabem ler 7.493.357 venda certa às bibliotecas e escolas pois se enquadravam no proje-
Não sabem 23.142.248 to nacionalista de valorizar os nossos escritores. As traduções, por
Sem declarar -
sua vez, ofereciam ao leitor uma visáo de mundos e tempos dis-
tantes, ou até do mundo conflagrado pela guerra, bem diferentes
Com as medidas unilaterais de expansáo do seu território do mundo ordeiro que o Estado Novo lhe proporcionava. E, para
promovidas pela Alemanha, a Segunda Guerra Mundial eclode os literatos mais interessados na forma do que no conteúdo, as
em setembro de 1939, e com ela surgem as inevitáveis restrições traduções náo somente os familiarizava com os últimos "ismos"
Editou também obras de referência visando aos bacharéis for-
BIBLIOTECA mados pelas universidades recém-criadas. Era o caso da Biblioteca
O i r e ~ ã r de R U B E N S do Pensamento que oferecia traduções comentadas de pensadores
H ISTÓRICA
B O R B 4 DE M O R A E S da categoria de Rousseau, Montaigne, Voltaire, Danvin, Schope-
BRASILEIRA nhauer, Emerson e Niemche. Seu projeto de ficção traduzida, no
I - .TO&"UURICCO RUGEXDAE
-vir- - -llsSDA ATMVS W
entanto, precisou aguardar a normalização da distribuição de pa-
.- .....,. ........
IULbSlLi TndUSLo de 8-LI 2. MtdlpBO. 11.11lMS 00% 110
..............................
UIIM
e o v u r u t o r i do t a t o
I! -*"CUSTE -
DP: aAIKI.-IIIUIRm VIIOXCm A PIIO,VIIOU DE S i 0
101000
pel. Durante a guerra fora preciso racioná-lo, pois era importado
PAVLO R--.
6. =",i+i. mrtu ao
6"
.......................................
111 - DAXIIEL RUIDBR - ~ - 1 S O ~ N D a S
x.~BMI. ~ m . i u 0 8 ~no&
v ~ i r i
DR VLhOEXS PBKWA61N-
. c I>nmot*
f*UQ
do Canadá e dos Estados Unidos a preços elevadíssimos, o que
o u NO annsL T F ~ ~ Y E I Oo. nouetr N. v--~-Iu ml& *mil-
,,- JE"m&m"l;g;"e.ir :' ,"Uar<W<P;;<oBi .iiiSiiia,.
'
161010
obviamente afetou a produção de gráficas e editoras.
- p$OgZstyti& ~ook~t&o~
. *,.-
e I a m do tIIL I VO1-8 Uu.U.dQi
v
AO RLk8Ií. h M u &
Pioi.DG Coi;oii...ii -;=; 9Q'ODo Terminado o conflito, a Martins organizou não uma, mas
ri - d"çW L "0- d l .&.SI.
CBARLES R I B ~ Y ~ ~ I I L ~ S- WVIi" WICB. ,l".trM.
mWlU1600. -u.& de p r s e
......
1S$000
duas coleções de livros traduzidos. Entregou a Edgar Cavalheiro a
- I rolunien LlusLnMos mni 90 <otcilros
- ...................... 7UlQo
VI1
YIII -
I E A N D E LERT
a.*o ar s
JOHAN NIIPUHOEF
.
e*. mu,.t.
N. V u c m m . l L
XAR1UTtVA DE VM& V u O m AO B-B*ll.L. Trn-
- ................................
O -BIS IIOL*IDw
nota. bs Jn6 Xe..iCe BQd‘.ui
..........,...
- ..................
Si o seu iimiro uáo tiver em BtOek faça o aeo pedido
da X d i
no prsio
no V e d o
coordenação da coleção de prosadores estrangeiros já falecidos,
para economizar os direitos autorais, e, a Donald Pierson, antro-
pólogo norte-americano, a coordenação da "Biblioteca de Ciên-
ao nosso Serviço de &eembolno Postai.
cias Sociais", a ser traduzida por profissionais do ramo. Mas o que
LIVRARIA MARTINS a Livraria Martins Editora visou prioritariamente - e com suces-
Rua 15 de Novembro, 135 - Sáo Paulo
so - foi a formação de um plante1 de autores nacionais, abrindo
uma concorrência direta com a José Olympio, que se mudara de
Historiografia brasileira na era Vargas, em rradugóes ilustres.
São Paulo para a capital federal.
Traduzia-se, portanto, muitas obras de ficção e muitas obras
conta do tradutor escolhido, ou dos procedimentos de revisão técnicas, para atender plenamente 2s, necessidades de entreteni-
próprios de cada casa. A José Olympio sentia-se tranqüila acredi- mento e aprendizado do público brasileiro. Com isso crescia o
tando que seus tradutores se preocupariam com a absoluta corre- número de tradutores no mercado, embora a maioria não tivesse
ção do português em suas traduções - mas o problema estava na consciência de sua importância para as editoras e a difusão do
incorreção das traduçóes. conhecimento estrangeiro em nosso país.
A Livraria Martins, uma das últimas a adquirir importância Houve, no entanto, tradutores que perceberam a importância
na Era Vargas, também lançou na década de 1940 uma coleção de do instrumento que tinham em mãos, e o usaram com habilida-
relatos de viajantes estrangeiros sobre o Brasil, organizada pelo de para divulgar criticas ao governo ou fazer propaganda do seu
bibliófilo Rubens de Moraes Borba, cuja tradução foi entregue partido político. Em sua adaptação de Peter Pan, Monteiro
aos... mesmos escritores-tradutores. Foi enfatizadd'em seus anún- Lobato colocou na boca dos personagens do Sítio suas opinióes
cios de lançamento a cuidadosa seleção de títulos, belamente sobre determinadas questóes. "Há no Brasil uma peste chamada
impressos, em "traduções fiéis e integrais, cuidadosamente revis- governo que vai botando impostos e selos em tudo ..." ou "na In-
tas, anotadas e com introduções".lo glaterra os brinquedos náo custam os olhos da cara como aqui...".
Ele foi imediatamente acusado, entre outras coisas, de criar uma sa pela influência americana em nossa cultura, consolidando um
personagem comunista e anticatólica porque divorciada - a bone- processo que vinha desde o início do século.
ca Emília - e os exemplares de sua obra foram confiscados em Embora a tradução continuasse a configurar, por força das
todo o território nacional.11 Tom Sawyer, por sua vez, foi julgado circunstâncias, uma atividade alternativa - algo que se faz tempo-
tão perigoso e subversivo, que a edição brasileira foi destruída e, rária ou complementarmente - seus tradutores não eram mais,
sua tradutora, Cecília Meireles, presa. como nos séculos anteriores, poetas poliglotas e diletantes. Eram
Outras traduçóes, no entanto, tiveram melhor sorte, talvez escritores consagrados em ascensão, ou seja, os responsáveis em
porque à altura de sua publicação, 1943-44, a União Soviética já qualquer cultura pela criação e reprodução dos padróes linguísti-
tivesse deixado de ser um inimigo prioritário. Gustavo Nonnen- cos do idioma. Gente que com o seu trabalho contribuiu para
berg, tradutor de Luta incerta, obra em que John Steinbeck definir os critérios de seleçáo, traduçáo, revisão e edição de obras
denuncia a situação injusta dos bóias-frias norte-americanos, estrangeiras em nosso país.
intercalou em várias partes do texto frases de esclarecimento e Ocorreu porém que, se no skculo XIX, Machado de Assis bra-
doutrinaçáo comunista.12 dava contra as peças teatrais exibidas sem muito ensaio nem cui-
O volume e a variedade de obras traduzidas foram tão gran- dado com sua tradução - "tarefa de que se incumbia qualquer
des e as traduçóes em si tão problemáticas, que deram margem a bípede que entendesse de letra redonda",l4 no século XXas tradu-
que em 1942 o Diário de Noticias, o matutino de maior circula- çóes foram palco de apropriações indebitas e da ganância dos edi-
ção nacional, passasse a publicar aos domingos a coluna ' A mar- tores, diante das facilidades oferecidas pelo governo e da falta de
gem das traduçóes", assinada pelo professor e tradutor Agenor preparo dos escritores no novo idioma de cultura e saber.
Soares de Moura.
O relatório Filinto Muller sobre a "Indústria do Livro", regis-
"Competentíssimo, minucioso, sabendo lidar com originais
trou as queixas de editores e livreiros, uns contra os outros, dando
ingleses, alemáes, franceses, espanhóis, italianos, catava os erros
conta das falências e queimas de estoque que desestabilizavam o
das traduçóes brasileiras" elogiou-o Guilherme de Figueiredo.13
mercado aberto a todos que nele quisessem se aventurar.
Ao louvar a contrataçáo do professor como colunista o autor
provavelmente achou ter encontrado a solução para os atritos que
As traduções também são feitas, em muitos casos, desonestamente. Os
suas críticas provocavam no arraial dos escritores-tradutores. Mas originais, além de estropiados na sua essência - em virtude do tradutor
os editores, dizendo-se prejudicados com a má publicidade de mal pago não ter o tempo e a paciência necessários para interpretar fiel-
suas traduções, pressionaram o dono do jornal até a extinção da mente o espírito do idioma e da obra - são mutilados também sem dó
coluna em 1946. nem piedade para baratear o preço da edição. Ainda não há muito que
isso se verificou com obras de Dostoiévski, notadamente com o roman-
A qualiddde das traduçóes ce Os irmãos Karamosoff (sic),cujo texto original foi cortado na tradu-
çáo de mais de 80 páginas.15
A Era Vargas (1930-1953) marcou não apenas um decisivo pro-
gresso em nossa indústria livreira, mas também o início da indús- Pela imprensa, Guilherme de Figueiredo censurou Lúcio
tria de traduções nacionais e da substituição da influência france- Cardoso por inventar um "branco de ovo" quando o certo seria
com raras exceções, todas foram feitas para a Cia. Editora
dizer clara, Monteiro Lobato por um "tão longe quanto a
Nacional, empresa que o próprio Monteiro Lobato fundara em
Democracia pode ser concernida", Marques Rebelo por um gene-
1924.19 As traduções de Lobato incluem Albert Einstein, George
ral Staff, e José Lins do Rego por fazer Isadora Duncan passear
Gamow, Will Durant (Histdria dzfilosofia),Bertrand Russel, mas
numa "Calle Duse" em Florença. O próprio Figueiredo foi acusa-
também Dashiel Hammet, Edgar Rice Burroughs (Tarzan) e
do por Agripino Grieco de transformar um poema de Baudelaire
Eleanor Porter (Poliana), além da História da Biblia de Van Loon
em "uma carcaça de cadela"1G e Grieco, por sua vez, foi ridiculari-
e O nazareno de Scholem Asch, uma alternância de gêneros
zado por Monteiro Lobato em carta a um amigo por ter transfor-
muito semelhante a que encontramos no currículo dos profissio-
mado absinto em bebida feita de bicho de pau podre.17
nais contemporâneos.
Entre todos esses escritores-tradutores, Lobato foi o mais pro-
Além de traduzir para o público adulto, Lobato também
lífico e polêmico por suas posições na política, na indústria, nas
adaptou clássicos europeus como, Dom Quixote de Cervantes,
traduções e na literatura para adultos e crianças. Lutou contra o
Alice no Pais dw Maravilhar de Lewis Carrol, Robison Crusoe de
analfabetismo e a favor do petróleo brasileiro, renovou a editora-
Daniel Defoe, Pinocchio de Collodi, os contos dos Irmáos Grimm
ção, produção, ilustração e distribuiçáo de livros.
e de Andersen, entre muitos outros, para os leitores de sua cole-
A experiência industrial de Monteiro Lohato, grandiosa demais para ção juvenil. E, mais que isto, aproximou a criança brasileira des-
sua época, devemos a revelação de um povo que queria livros e de livrei- ses personagens criados em outros países, fazendo-os conviver
ros que não somente lhe negava o pão do espírito como sacudiam o com os seus próprios personagens no Sitio do Picapau Amareio.
medalhão de brilhantes e se repimpavam todos ao taxá-lo de analfabe- Para Lobato
to crasso.18
A literatura dos povos constitui o maior tesouro da humanidade, e povo
Mesmo com a populaçáo de analfabetos existente em 1937
rico em tradutores faz-se realmente opulento, porque acresce a riqueza
ele conseguiu naquele ano o feito de vender um milhão e duzen- de origem local com a riqueza importada. Por que náo possuir traduto-
tos mil exemplares de suas obras, abrindo pontos de distribuição res torna o povo fechado, pobre, indigente, visto como s6 pode contar
em que ninguém havia jamais pensado, como as "vendinhas"e com a produção literária local.20
armazéns de secos e molhados das capitais e cidades interioranas
do país.
Monteiro Lobato inovou igualmente introduzindo o uso da
linguagem coloquial e dando início à fase nacional da literatura
para jovens, até então condenados a ler originais e traduções por- A colegáo de
tuguesas por vezes ininteligíveis, dadas as diferenças entre o por- aventuras da
tuguês falado aqui e na Europa. Suas inovações repercutiriam a Companhia
Editora
curto, médio e longo prazo nas preferências do leitor brasileiro. Nacional:
Edgard Cavalheiro registra os títulos de 82 obras traduzidas terras e
pelo escritor excluindo deste cômputo as revisões, as traduções personagens
feitas em colaboração e as não assinadas. Observa também que exóticos.
O lançamento continuo de traduçóes brasileiras era uma
novidade táo grande que os jornais da capital federal e de outros
centros culturais do pais, em artigos que eram transcritos pelos
jornais do interior, ocupavam-se também de outros aspectos dessa
atividade, cuja relevância ia sendo gradualmente percebida.
No próprio Diário de Notlcius,Mário de Andrade se indigna-
va que as editoras continuassem a inundar o mercado livreiro
nacional de "úteis obras tkcnicas e discutivel literatura" cuja sele-
çáo era orientada por critérios puramente comerciais: notorieda-
des, escândalos, filmes, modismos. E, pior, tinham passado a
entregar tais livros a grandes nomes de nossa literatura - "o que é
um verdadeiro engodo", pois os escritores tinham na tradução um
interesse meramente financeiro. Podiam ganhar com uma tradu-
ção três contos de réis, três vezes mais do que com uma criação ori-
Monteiro Lobaro ginai, o que os levava a se desinteressar da própria criação e se dedi-
em seu escritório car a ligeiras revisóes nas traduçóes feitas por alguém sem expres-
na Companhia são literária com quem dividiam meio a meio o pagamento.23
Editora Nacional, O Correio da Manha, outro matutino carioca, denunciava as
em São Paulo.
más traduçóes seguida e enfaticamente e propunha soluçóes
como os demais, que obviamente não eram sequer consideradas
Lobato traduzia em média vinte páginas por dia, de dois a dada a projeção dos envolvidos:
três livros por mês e "a rapidez com que era compelido a trabalhar
- essa parece ser a sina de quantos tenham de trabalhar profissio- Restringir aos literatos a faculdade de firmar traduçóes literárias - e estas
em número compatível com o que um literato pode produzir... - seria
nalmente para viver - não lhe permitia burilar as suas versóes, pois uma forma com bons precedentes, e bem dentro da ktica profissio-
que, nem sempre modelares, são sempre fluentes, agradáveis de nal que em todos os ramos deviamos preservar.
ler".zI Mas, não era apenas a necessidade de ganhar dinheiro que Pertencem, realmente, aos literatos brasileiros de projeçáo nacional
o impelia, era o profundo desgosto de ver os seus sonhos de um as "traduçóes" que aqui se publicam sob a responsabilidade dos seus
Brasil grande desandarem: "Continuo traduzindo. A tradução é nomes ilustres? Quantas páginas é possivel traduzir-se por dia: vinte,
trinta, quarenta? Parece que náo. Um romance norte-americano .., AP
-.
minha pinga. Traduzo como bêbado bebe: para esquecer, para quatroccntas ou quinhentas paginas no original, náo pode ser trddu~ido
atordoar. Enquanto traduzo náo penso na sabotagem do-petró- e m menos de dois meses de trabalho diariu e dbsor\~ente.Tán dbsonsen-
leo", desabafou com um grande amigo em 1940.22 te que náo deixa ao tradutor horas vagas para outro trabalho intelectual
A margem dw traduções náo perdoava suas cincadas - nome qualquer. Fora disso - e o prazo de dois meses nós o concedemos aos
que davam aos cochilos e erros de decodificaçáo dos tradutores, e tradutores que conheçam perfeitamente ambos os idiomas e que saibam
escrever correntemente i máquina -, 4 obra de carregaçáo tudo o que se
"vergastava" (um termo de época) Lobato quinzenalmente. quiser fazer em benefício da cultura nacional.24
Ora, não interessava aos editores fazer restriçóes aos seus
escritores-tradutores, pois eram o seu maior recurso publicitário
para vender livros. Além disso, por terem um nome a zelar eles
eram uma garantia de que as traduçóes que assinavam náo conti-
vessem erros de gramática, "mas daí a afirmar que estejam em lín-
gua portuguesa vai um mundo. Estão numa linguagem amorfa,
morna e insossa, destituída de qualquer naturalidade",25 denun-
ciava Mário de Andrade.
Quando fez o comentário acima, em 1940, ele argumentava
que o problema talvez se resolvesse com a profis~ionaliza~áo do
tradutor, se ele adquirisse a consciência de sua especialização dei-
3, ,. 21Q c ,:S K li
xando aos escritores a total liberdade de só traduzirem as obras
primas que admirassem. Mas em 1945, pouco antes de falecer,
U M A B I B L I O T E C A S E L E C I O N A D A
COM AS MELHORES PRODUCbES LITERARIAS DO MUNDO! sua argumentação ganhava cores mais dramáticas, e passou a
enunciar com todas as letras o absurdo que estava se perpetuan-
do, embora ainda não pudesse vislumbrar o verdadeiro abismo
que se instalaria entre o português falado pelos brasileiros mais e
menos letrados.
As 100 Obras-Primas da Literatura Universal As obras que a população leitora do Brasil continua gastando são ainda
.<,li ;i iiiii<i<i Ar !I \ I i S C i < i iiii,l,i,.'~, i a i < l r < , , r ,,,,r. iiirrirc.,, i iii.iI. os best-sellers, os romances policiais, os romances... saídos dos filmes.
Oiii,>lii .
;i<alliiiln i1.1 l i t i l i l i < < > <. I ,,,ilai,.i,- iliiii>i,.,l..
iiir'icir,l.
Mas tudo isso é apressadamente traduzido numa linguagem que náo é
U VOLUMES JA PUBUCADOS: de ninguém, nem pode-se chamar qualquer coisa aparentável a um
- OS TRABALHADORES DO MAR iIr
vsctor H"ZO >,a <*!,,".a tv"d\t<&c,,I- 1; \ "estilo". Não é linguagem popular, não é língua literária, não é brasilei-
I I I . . .. ,I" .
! - HISTdRLA DE UMA CONCIPNCLA ro, não é português, náo é nada, na maioria enorme dessas traduçóes. E
I < Romiin Rolland. . . . . . . . . . . i,:.. .
- THAIE i,<.*nar.,ic Francr. . . >; ' . .. ..... assim se fixou um, espero que crime, contra a nossa gente. O critério das
- C R I M E E CASTIGO <Ir Dostoisurky. . li.<
- HlSTdRI.4 COMICA rle Anatols Fian- traduçóes se encastelou nesta lei: para os cultos, traduzir bem; para a
<S. . ......... . X;
- AS DESENCANTADAS <I,. Pisire Loti. I,?,: gente menos culta, traduzir de qualquer maneira. Infelizmente não há
- A REVOLTA DOS ANJOS <ir Ansrd.
Fisnc.. . . . . . . . , . . . . i,.: luta, mas há uma enorme distinsáo de "classes" na tradução nacional!26
:- OCASO D E U M C O R A C A ~ ; I ; st.san
zureig. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7s
b\l 1<21>\ ,'iI.,II,.,III.,S "O DI<<L,,. E , . < 3 l i l l l <i I , . A Manhá,27 matutino dirigido por Monteiro Lobato, Almir
Pedidoa pelo S E R V I C O D E R E E M B O L S O P O S T A L da de Andrade, Adalgisa Nery, Oscar Mendes, Onestaldo de
Os nomes dos
Pennafort, entre outros intelectuais residentes no Rio de Janeiro,
tradutores desaparecem LIVRARIA PONGETTI ressalva a boa qualidade de algumas traduções e lança luz sobre
na coleção organizada OUVIDOR. 1 4 5 - RIODE]ANURO
par Marques Rebelo. outra face do problema: a remuneração dos tradutores. Traduzia

122
mais quem traduzisse mais barato e com o minimo de segurança.
Por isso só traduzia para ganhar tão pouco alguém de nível men-
tal inferior, a quem não faltasse coragem para traduzir qualquer
livro, inclusive obras de escritores geniais. A crítica era virulenta e
desancava também os editores que estariam persuadidos de que o
seu negócio era, ao mesmo tempo, um grande serviço à naçáo.
"Mas Ihes faltava, em geral, o tino do negócio onde este é propria-
mente um esforço cultural." Era preciso que entendessem que
conhecer inglês e francês não era o mesmo que saber traduzir. A
tradução exigia acima de tudo, conhecimento do assunto da obra
a traduzir. Daí que só filósofos poderiam traduzir filosofia, só
poetas poderiam traduzir poesias, só lingüistas poderiam traduzir
lingüística e assim por diante. Sem exceção. "Salvo milagre... ou
falta de probidade intelectual."z8

O "Padrão Globo" Os polici~irrraduridtn dc maior


popularidarle. ,IA ediiora Globo,
Aos poucos a violência das críticas começou a surtir algum efeito, JL I'ono Alegre.
mas foi necessário que Érico Veríssimo e Henrique Bertaso, da
Editora Globo de Porto Alegre, aliassem o conhecimento do ofi-
cio de traduzir ao de editar para que
-
aparecessem
- mais traduçóes A Editora Globo abrira as portas em 1883 como uma peque-
de boa qualidade.
na papelaria-livraria-gráfica e lançara no inicio do século XX dois
Verissimo começara a vida literária traduzindo como colabo-
livros para o curso primário que alcançaram enorme sucesso e
rador e depois como editor da Editora Globo. Assinou a tradução
várias traduções-piratas. No inicio da década de 1930, seu proprie-
de mais de cinqüenta obras, desde novelas policiais e aventuras a
literatura culta além de numerosos artigos adaptados do inglês, tário apostou na competitividade do livro brasileiro em face da
francês e espanhol. São suas E agora, seu moço? de Hans Fallada, retração econômica mundial, na estocagem de papel e no lança-
Contraponto de Aldous Huxley - na qual trabalhou oito duros mento de grandes coleçóes... de livros traduzidos - dois recursos
meses - Felicidade de Katherine Mansfield , Classe 1902 de Ernst usados por editoras iniciantes com o intuito de baratear custos.
~ D I
G L O B O
T ~ R A
Glaeser, Não estamos sós de James Hilton, Maquiavel e a dama de Para divulgar sua produçáo criou a Revista do Globo, onde, a
Somerset Maugham, O mistério da escada circular de M. R. partir de 1931 Verissimo foi a equipe editorial: dirigia, redigia,
Rinehart, Afilha de Fu-Mancbu de Sax Rohmer, A morte mora em ilustrava, paginava e ocasionalmente fazia as vezes de escritor
Chicago e Apista do alfinete novo de Charles Morgan entre outras inglês, americano ou poeta árabe, chinês, persa, japonês, persona-
- a variedade normal na vida de um tradutor literário. gens que ia inventando para preencher os claros da diagramaçáo.
Havia também uns tais Gilbert Sorrow e Dennis Kent, e outro preocupava com a forma literária - costumava ditar a seus secre-
mais permanente, Gilberto Miranda, que fazia críticas literárias, tários duas histórias ao mesmo tempo, caminhando dum lado
traduçóes, moda feminina e masculina, política internacional, psi- para o outro e fumando como um desesperado, cigarro sobre
cologia, história natural, trabalhos manuais, o que fosse preciso.29 cigarro." O curioso é que esta mesma historieta é contada sobre o
Veríssimo traduzia madrugada adentro para complementar o nosso folhetinista Josk Justiniano da Rocha e, antes dele, sobre
orçamento doméstico: "era uma tarefa que não me dava prazer" - um autor francês do Romantismo.
disse de sua primeira traduçáo, O sineiro de Edgar Wallace -"O Sete anos mais tarde, Verissimo passou a trabalhar em colabo-
autor e a história não prestavam, o esforço físico exigido pelo sim- ração mais estreita com Henrique Bertaso, na funçáo de conse-
ples ato de datilografar o texto me produzia dores no corpo."io lheiro literário do departamento editorial. Ali, teve "de pôr meias-
Parece que Wallace lhe provocava um tkdio invencível. Em A solas em traduçóes alheias malfeitas e passar para o nosso idioma
morte mora em Chicago ele confessa que resolveu colaborar com o livros estrangeiros que detestou". Se "não tinha tradutori de verda-
autor modificando-lhe o estilo e produzindo uma tradução de caçava com truúito&"' quando foi preciso verter com urgência
melhor que o original. E justifica: "Dizem que Wallace não se um livro de Erich Maria Remarque do espanhol para o portu-
guês, dividiu-o entre quatro tradutores diferentes.31
Ainda assim, a Editora Globo alcançou gande prosperidade,
o que permitiu a seu conselheiro literário, em 1942, atacar de
frente o problema das lamentáveis traduçóes que publicava, em
nada diferentes da maioria de suas congêneres no sudeste do país.
Para realizar a empreitada contratou, em regime permanente e
com salário fixo, os tradutores Leonel Vallandro, Juvenal Jacinto,
Herbert Caro, Homero de Castro Jobim, Lino Vallandro e, mais
tarde, Agenor Soares de Moura.
Uma vez escolhido, o livro era entregue a um tradutor de
comprovada competência nas línguas fonte e alvo, que trabalhava
sem prazo nem horário determinados, na sede da empresa.
Quando concluía o trabalho, original e traduçáo eram entregues
a outro especialista nas duas línguas que os cotejava para verificar
a fidelidade da recriação. Em uma terceira etapa, outro especialis-
ta examinava o estilo do livro com o tradutor, cujo nome aparecia
Érico Verissimo, editor
sozinho no pórtico do volume.32 Em caso de divergência entre
das melhores traduções
publicadas na decada tradutor e revisor, os dois recorriam ao árbitro, que segundo
de 1940. Mário Quintana era equânime e da maior competência:
contrário daqueles que trabalharam no Arco do Cego, não exer-
ciam uma profissáo temporária em troca de casa, comida e a pers-
pectiva de um bom cargo público, exerciam uma profissáo, ampa-
rados pela legislaçáo trabalhista e condignamente remunerados.
A vigência dessa metodologia inaugurou o que realmente se
pode chamar de Idade de Ouro da traduçáo, de 1942 a 1947,
durante a qual foram publicados os novos títulos da Coleção
Nobel (1933-1958), a coleçáo Biblioteca dos Séculos (1942-
1952) - considerada por José Paulo Paes a melhor coleçáo de
autores traduzidos já publicada no Brasil - bem como as memo-
ráveis obras de Proust e Balzac, em que trabalharam náo apenas os
tradutores da casa mas colaboradores de renome na literatura e
crítica brasileiras como Carlos Drummond de Andrade, Mário
Quintana, Lúcia Miguel Pereira, Manoel Bandeira, James Ama-
do, Marques Rebelo e Sérgio Milliet entre outros.
A famosa Sala dos Tradutores da editora Globo de Porto Alegre, decada de 40. Em 1946, Veríssimo lançou o primeiro volume da ediçáo bra-
sileira de ComPdia humana (1946-1955), que ele afirma ter conse-
Havia a questáo dos revisores - os quais geralmente sofrem de comple- guido transformar em "produçáo hollywoodiana' graças a Mau-
xo redatorial. Lembro-me que ao examinar por pura curiosidade as pro- rício Rosenblatt - e ao feliz acaso que reuniu, no Rio de Janeiro,
vas finais de minha traduçáo do Sparkenbroke de Charles Morgan, vi seu colaborador e Paulo Rónai, grande especialista em Balzac.
com espanto a heroína exclamar, antes de entregar-se ao galã: "Amar-te- Rónai era doutorado em línguas latina e neolatinas e exercia
ei para sempre!" Uma mulher que diz uma coisa dessas numa hora a cátedra de professor da Faculdade de Humanidades Pedro I1
daquelas - tenham paciência! Eu é que não tive paciência, corri imedia- paralelamente às suas atividades de tradutor, cotiferencista, dicio-
tamente até d. Minemina (apelido carinhoso que os tradutores haviam
narista, leitor, editor e colaborador assíduo de publicações brasi-
dado ao Verissimo árbitro).33
leiras e estrangeiras.
A sala dos tradutores era equipada com máquina de escrever, Ao ser convidado a colaborar na produçáo da Comédia hrma-
fita, manutençáo e papel, uma rica biblioteca de consulta com na já em andamento, Rónai convenceu a Globo a tomar por fonte
dicionários de todo o tipo (a Globo também se especializou em a melhor ediçáo francesa e contratar os melhores intelectuais de
livros técnicos) e enciclopédias estrangeiras famosas. Porto Alegre e de todo o Brasil para fazer a traduçáo, além, é
Além da garantia de trabalho, os tradutores também conta- claro, de profissionais competentes para revisarem o conteúdo e a
vam com a inestimável oportunidade de discutir com colegas as ortografia. Propôs ainda restabelecer a divisáo da obra em capítu-
dúvidas que sempre surgem no decorrer de uma traduçáo. Mas ao los, acrescentar-lhe ensaios críticos, biografia do autor, documen-
taçáo iconográfica, prefácios e pés-de-página, transformando-a na 12 Informação divulgada por Guy de Holanda, aluno de pós-graduação da
melhor ediçáo crítica de Balzac no exterior. UNESP, no VIII Encontro Nacional de Tradutores, Belo Horizonte, 2001.
13 FIGUEIREDO, Guilherme de. Rio de Janeiro: Última Hora, 15 de maio de
As traduçóes da Globo foram saudadas com entusiasmo pela
1975.
crítica e o público - enfim de acordo-mas a equipe montada por 14 MACHADO DE ASSIS, J. M., Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1959,
Veríssimo foi dissolvida para cortar custos em 1947, ano financei- v. 3, p. 803.
ramente mau para a editora, que já amargava uma perda de 50 15 Esre caso é confirmado por Leôncio Basbaum nos Anais da Biblioreca Nacional.
toneladas de livros tornados obsoletos pela reforma ortográfica de o tradutor reclamara do prazo e o editor Abraáo Koogan preferiu arrancar 80
páginas do meio do livro a dar uma extensão de prazo ao tradutor.
1942 e as medidas econômicas do governo do general Eurico
16 GRIECO, Agripino. "Traduçóes, suas vitimas e heróis", Ria de Janeiro: Última
Gaspar Dutra (1946-1951). Continuou, no entanto, a lançar Hora, 15/5/1975.
suas coleçóes, fortemente respaldada por reediçóes de suas exce- 17 LOBATO, Monteira. A barca de Glgire. São Paulo: Brasiliense, 1961,
lentes traduçóes técnicas, literárias e de obras de referência, como v. 2, p. 335.
o inigualável Dicionário Inglêr-Português de Leonel Vallandro e 18 PONGETTI, Henrique. "Em dez curtos anos". In: Anuário Brarileim de
Lireratura. Rio de Janeiro: Pongetti, 1937.
Lino Vallandro, até ser comprada em 1986 pela Rio Gráfica
19 CAVALHEIRO, Edgard. Monreiro Lobaro - vida e obra. São Paulo: Cia.
Editora, empresa do grupo Info-Globo Comunicações Ltda, do Distribuidora de LivrosICia. Editora Nacional, 1955, v. 2, p. 763.
Rio de Janeiro. 20 LOBATO, Monteiro. "Traducçóes." Porto Alegre: Coweio do Povo, 311211933.
21 PAES, Jose Paulo. Tradupío: aponte neccs~á~ia. São Paulo: Atica, 1990, p. 27.
22 LOBATO, Monteiro, op. cit.
23 ANDRADE, Mário de. "Vida Literária", Rio de Janeiro: 7/7/1940.
24 Revirra da Academia Paulirra de Lewas no 26, ano VII, 12/6/1944.
1 Texto da Decreto de Criação do Instituto Nacional do Livro em CARONE, 25 ANDRADE, Mário de. In: Diário dp Notícias, "Vida Literária", 7/7/1940.
Edgar. A terceira república (1937-1949.São Paulo: Difel, 1976. 26 ANDRADE, Mário de. "Traduções". In: Diário de Noticiar, l 0 Suplemento,
2 Arquivo Filinto Miiller, série ChP, SIPS, Relatórios (FGVICPDOC). 21/1/1945.
3 Idem, depoimento de Abraáo Kaogan. 27 Artigo sem assinatura transcrito na Revirta da Academia Paulirta drLer/ar, nnO25,
4 Anuário IBGE. ano VII, 13/3/1944.
5 CARONE, Edgar, op. cit. 25 Idem, ibidem.
6 MARTINS, Wilson. H d r i a da inteligência brarileira. São Paulo: CultrixIUSP, 29 VERfSSIMO, Erico. Um certo Hmrique Bertao. Porto Alegre: Edirora Globo,
1977-8, p. 23. 1972.
7 OLYMPIO, José. Anudrio Literdrio Braileiro, Rio de Janeiro, Pongetti, 1937, 30 AMORIM, Sonia. De Agatha Chrirtie a Marcel Prolut (1930-1950). Diss. de
p. 401. mestrado Escola de Comunicação e Artes da Universidade de Sáa Paulo, 1991,
8 Declaração de José Olympio ao Anuário Literário Brasileiro. Rio de Janeiro: p. 55.
Pongetti, 1938. 31 vER~SSIMO,Érico, op. cit., p. 27.
9 OLYMPIO, José. Anuário Literário Brarileiro, Rio de Janeiro: Pongetti, 1939, 32 Idem, ibidem.
p. 13. 33 AMORIM, Sonia, op. cit., p. 82-3.
10 HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiras 1985.
11 CARNEIRO, M. Luiza Tucci. Livrorproibidor, idéia maldita: o DOPS e ai
minorias silenciadar.São Paulo: Estasão Liberdade, 1997.

Você também pode gostar