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4.

ANÁLISE DA PLUVIOMETRIA

A pluviosidade representa o atributo funda- localidades relacionadas no Quadro 2, que retrata a


mental na análise dos climas tropicais, refletindo a rede meteorológica. Preferiu-se caracterizar todo o
atuação das principais correntes da circulação at- extremo sul e não apenas Porto Seguro e Santa
mosférica. No extremo sul da Bahia, especifica- Cruz Cabrália, por se considerar que uma análise
mente, as chuvas determinam o regime dos rios, a de pluviometria não deve ser apenas pontual, de-
ocupação do solo e a existência da Mata Atlântica, vendo ser observadas as tendências regionais.
sendo imprescindível ao planejamento de qualquer Além disso, a qualidade dos dados das demais es-
atividade o conhecimento da sua dinâmica. Nesta tações meteorológicas, da rede do INMET, pesou
análise utilizaram-se os dados pluviométricos das nessa decisão.

4.1 Intensidade e Variabilidade dos Totais Anuais de Chuva

A distribuição espacial dos totais anuais de A variabilidade com que os totais anuais de
chuva pode ser observada nas Figuras 6 e 7 que chuva se sucedem retratam o ritmo climático
retratam as isoietas anuais. Vê-se que os dois que está intimamente relacionado aos mecanis-
municípios estudados, Porto Seguro e Santa mos da circulação atmosférica regional. Embora
Cruz Cabrália, inserem-se na faixa de isoieta não sejam registrados valores tão baixos como
superior a 1.400mm, sendo então classificados em outras regiões do estado da Bahia, pode-se
com o grau úmido (Quadro 3), tendo Porto Se- notar a alternância de anos secos e chuvosos
guro o registro de 1.767mm de total médio anual (desvios em relação à média), observando-se,
de pluviosidade. Os valores máximos e míni- contudo, que a ocorrência de uns é tão freqüente
mos, tanto de Porto Seguro como das outras lo- quanto as dos outros, numa proporção de 50%
calidades analisadas, revelam o grau de variabi- de cada. Em Caravelas, cuja série histórica de
lidade desse padrão anual. Como a média cons- dados é mais extensa e completa (1961-90), re-
titui uma abstração, sendo importante para a de- gistram-se 15 anos chuvosos, 1 ano normal e 14
finição de modelos, apresenta-se nas Figuras 8 a anos secos. Nenhum ano foi registrado com seca
11 a variação anual da pluviosidade para todas severa em quaisquer das estações (desvio nega-
as estações meteorológicas analisadas. tivo >50%).
Toda a região do extremo sul da Bahia apre- Esses fatos refletem a atuação das frentes
senta-se com o grau úmido, com grau baixo de frias que durante todo o ano afetam essa região
risco de seca (CEI, 1991). do estado da Bahia, mais do que qualquer outra.

4.2 Variação Mensal das Chuvas

A compreensão do ritmo climático se com- como todo o litoral da Bahia ao norte dessa re-
pleta com a análise do regime pluvial, ou seja, gião. Em Caravelas e Guaratinga, com índice de
da distribuição mensal das chuvas. Embora a umidade inferior a 1.400mm anuais, o período
região extremo sul da Bahia tenha uma distri- mais chuvoso é de outubro a fevereiro, como no
buição regular de chuvas durante o ano, dois interior da Bahia. O que individualiza essa área
períodos se destacam, definindo um limite zonal é o fato de registrar índices regulares de pluvio-
bem marcante. Em Canavieiras e Porto Seguro, sidade não só na primavera-verão, mas também
com índice de umidade superior a 1.400mm, o no outono-inverno, quando se revela um máxi-
trimestre mais chuvoso é abril, maio e junho, mo de chuvas secundário.
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Localização Alt. Entidade
Estação / Posto Município Lat. Long. (m) Série Mantenedora
S WGrw
Canavieiras (1) Canavieiras 15°40' 38°57' 3,87 1975-90 INMET
Porto Seguro (2) Porto Seguro 16°27' 39°04' 4,00 1966-87 SUDENE
Caravelas (1) Caravelas 17°44' 39°15' 2,88 1961-90 INMET
Guaratinga (1) Guaratinga 16°44' 39°44' 323,75 1974-90 INMET
(1) Estação meteorológica.
(2) Posto pluviométrico.

Quadro 2 — Rede meteorológica.

15
1400
1300
1200

00
15
40º 39º 30'
00
16

IS
683

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40º 39º 30'

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12

15 0
14
13

0
Fonte: Emb asa & Hyd ro s. D iag nóstico ambienta l e plan o d e p re servaç ão das bac ias
Limites municipais
d o s r i o s B u r a n h é m e d o s M a n g u e s . S a l v a d o r, 1 9 9 7 .
Isoietas
Figura 7 Isoietas.

16
Estação Grau Índice Pluviosidade Anual Trimestre Ris- Entidade
Meteorológi- de de (mm) mais cos de Série Mantenedora
ca
Umidade Umidade Média Máx. Mín. Chuvoso Seca
Canavieiras 1.806 2.263 1.218,9 abril Baixo 1975-90 INMET
Úmido > 1.400mm (1980) (1979) maio
Porto Seguro 1.767 2.307 1.005 junho Baixo 1966-87 SUDENE (1)
(1976) (1982)
Caravelas 1.388 1.850 850,3 out-nov-dez Baixo 1961-90 INMET
Úmido < 1.400mm (1990) (1963)
Guaratinga 1.247 1.535 719,3 dez-jan-fev Baixo 1974-90 INMET
(1978) (1988)
Dados: DNMET. Normais climatológicas. Brasília, 1992 (1961-90).
(1) Posto pluviométrico extinto em 1989.
Organização: Marilene Aouad.

Quadro 3 — Extremo sul da Bahia — Estrutura pluvial.

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P (mm) 2300
2200
2100
2000
1900
1800

Média 1700
1.806 mm 1600
1500
1400
1300
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

Dados: INMET (1975-1990). Elaboração: Marilene Aouad.

Figura 8 — Variação anual da pluviosidade em Canavieiras.


Lat.: 15º 40' S Long.: 38º 57' W Grw Altitude = 3,87m

18
P 2400
(mm) 2300
2200
2100
2000
1900
1800
1700
1600
1500
1400
1300
1200
Média 1100
1.766,9 mm 1000
Ausência de Dados

Ausência de Dados

Ausência de Dados
Ausência de Dados
Ausência de Dados
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1966

1967

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

Dados: SUDENE (1) (1966-1987). Elaboração: Marilene 1987


Aouad.
(1)
Posto pluviométrico extinto em 1989.

Figura 9 — Variação anual da pluviosidade em Porto Seguro.


Lat.: 16º 27' S Long.: 39º 04' W Grw Altitude = 4m

19
P (mm) 2300
2200
2100
2000
1900
1800
1700
1600
1500
1400
Média
1.388 mm 1300
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1961

1962

1963

1964

1965

1966

1967

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990
Dados: INMET (1961-1990). Elaboração: Marilene Aouad.

Figura 10 — Variação anual da pluviosidade em Caravelas.


Lat.: 17º 44' S Long.: 39º 15' W Grw Altitude = 2,88m

20
P (mm) 2300
2200
2100
2000
1900
1800
1700
1600
1500
1400
1300
Média 1200
1.247 mm 1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

Dados: INMET (1974-1990). Elaboração: Marilene Aouad.

Figura 11 — Variação anual da pluviosidade em Guaratinga.


Lat.: 16º 33' S Long.: 39º 44' W Grw Altitude = 323,76m

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Nas Figuras 12 a 15 observa-se a distribui- com o inverno (junho, julho, agosto) mais seco.
ção mensal das chuvas, notando-se que o padrão Esses dados podem ser notados no Quadro 4,
de Porto Seguro (Figura 12) e de Canavieiras que representa os índices médios de pluviosida-
(Figura 13) é um, não se registrando mês seco, de mensal, assim como o percentual de partici-
enquanto já se nota uma redução da pluviosida- pação de cada mês no total anual de chuvas.
de em alguns meses em Caravelas e Guaratinga, Assim como ocorre com os totais anuais de
sobretudo no mês de agosto. Em Caravelas, lito- chuva, os valores mensais também estão sub-
ral, a freqüência de chuvas é mais alta, não se metidos a alta variabilidade na sua ocorrência,
definindo propriamente um período seco, o que fato este retratado no Quadro 5, que registra os
não ocorre com Guaratinga, cujo regime de chu- valores mensais extremos, máximos e mínimos
vas se aproxima do regime do interior da Bahia ocorridos no período analisado em cada estação.

5. CLIMA E CALENDÁRIO TURÍSTICO

A “costa do descobrimento”, como é co- baixos de nebulosidade, sobretudo no mês de


nhecida a região que abrange os municípios agosto.
de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália e o Vale salientar que estes são dados obtidos
Parque Nacional de Monte Pascoal, representa nas estações de Canavieiras e Caravelas que
uma área “nobre” do ponto de vista turístico, dispõem das informações, publicadas pelo
razão pela qual se destacam os atributos cli- INMET nas Normais Climatológicos (1992).
máticos dirigidos a essa atividade econômica Observamos no Quadro 6, que retrata os
e de lazer. atributos climáticos de verão, que a pluviosida-
Optou-se por configurar as duas épocas de de em Caravelas é bem mais baixa que em Ca-
alta estação turística no Brasil, correspondentes navieiras, confirmando a tendência observada na
às férias escolares (verão e inverno), representa- Figura 3. Essa situação se acentua no número de
das pelos trimestres dezembro, janeiro e feverei- dias de chuvas em janeiro e fevereiro; conse-
ro, e junho, julho e agosto. Nos Quadros 6 e 7 qüentemente, a temperatura máxima absoluta é
representam-se os dados mais pertinentes ao in- bem mais alta em Caravelas.
teresse dos turistas, quais sejam, a pluviosidade No inverno (Quadro 7), os índices pluviais
total mensal, o número de dias de chuva, a ne- são mais altos em Canavieiras e bem mais bai-
bulosidade (número de horas de brilho solar), a xos em Caravelas, confirmando a sua transição
temperatura média máxima e máxima absoluta para o clima do Sudeste, o que se reflete tam-
no verão, a média mínima e a mínima absoluta bém no número de dias de chuvas, mais baixos
no inverno. Observa-se que a temperatura não que os de Canavieiras. As temperaturas médias
oferece restrições ao uso das praias pelos turis- se aproximam, enquanto as mínimas se apre-
tas em qualquer época do ano. Embora alcance sentam mais baixas em Canavieiras, provavel-
limites mais baixos no inverno, quando aumenta mente por causa das chuvas. De modo geral, Ca-
também o número de dias de chuva, não chega a ravelas apresenta situação mais favorável para o
impedir o acesso dos turistas às praias, condição turismo de praia que Canavieiras, no inverno e
que se torna mais favorável pelos graus mais no verão.

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