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Sonetos

1.1. Vaso Chinês (Alberto de Oliveira)


Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado Mas, talvez por contraste à desventura,
Contador sobre o mármor luzidio, Quem o sabe?... de um velho mandarim
Entre um leque e o começo de um bordado. Também lá estava a singular figura;

Fino artista chinês, enamorado, Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Nele pusera o coração doentio Sentia um não sei quê com aquele chim
Em rubras flores de um sutil lavrado, De olhos cortados à feição de amêndoa.
Na tinta ardente, de um calor sombrio. Publicado no livro Sonetos e poemas (1886).
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1.2. Vaso Grego

Esta, de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia, Depois... Mas o lavor da taça admira,
Já de aos deuses servir como cansada, Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Era o poeta de Teos que a suspendia Ignota voz, qual se da antiga lira
Então e, ora repleta ora esvazada, Fosse a encantada música das cordas,
A taça amiga aos dedos seus tinia Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
Toda de roxas pétalas colmada.

Alberto de Oliveira
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1.3. Fogo-Fátuo
Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma Esta melancolia sem remédio,
A esta tortura de homem e de artista: Saudade sem razão, louca esperança
Desdém pelo que encerra a minha palma, Ardendo em choros e findando em tédio;
E ambição pelo mais que não exista;
Esta ansiedade absurda, esta corrida

Esta febre, que o espírito me encalma Para fugir o que o meu sonho alcança,

E logo me enregela; esta conquista Para querer o que não há na vida!

De idéias, ao nascer, morrendo na alma,


De mundos, ao raiar, murchando à vista:

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