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LE CIMETIÈRE MARIN O CEMITÉRIO MARINHO

Paul Valéry Tradução: Jorge Wanderley

Me, phila psukha, Bion athanaton Ó minha alma, não aspira à vida
spheude, tan demphrakton anlei makhanan. imortal, mas esgota o campo do possível.
(Pindare. Phythiques III) (Píticas, III)

Ce toit tranquille, oú marchant des colombes, Esse teto tranquilo, onde andam pombas,
Entre les pins palpite, entre les tombes; Freme em tumbas e pinhos, quando tomba
Midi le juste y compose de feux Pleno o Meio-Dia e cria, abrasado,
La mer, la mer, toujours recommencée! O mar, o mar, sempre recomeçado!
O récompense aprés une pensée Ó recompensa, após o ter pensado,
Qu'un long regard sur le calme des dieux! O olhar à paz dos deuses, prolongado!

Quel pur travail de fins éclairs consume Que labor de lampejos se consuma
Maint diamant d'imperceptible écume, Plural diamante de furtiva espuma
Et quelle paix semble se concevoir! E a paz que se parece conceber!
Quand sur l'abîme un soleil se repose, Quando no abismo um sol procura pausa,
Ouvrages purs d'une éternelle cause, Pura obra-prima de uma eterna causa,
Le Temps scintille et le Songe est savoir. O Tempo cintila e o Sonho é saber.

Stable trésor, temple simple à Minerve, Tesouro estável, templo de Minerva,


Masse de calme, et visible réserve, Massa de calma e visível reserva,
Eau sourcilleuse, Oeil qui gardes em toi Mar soberano, olho a guardar secreto
Tant de sommeil sous un voile de flamme, Sob um véu de chama o sono que acalma,
O mon silence!.. Èdifice dans l'âme, Ó meu silêncio!.. Edifício em minh'alma
Mais comble d'or aux tuiles, Toit! Dourado cume de mil telhas, Teto!

Temple du Temps, qu'un seul soupir résume, Templo do Tempo, expresso num suspiro
A ce point pur je monte et m'accoutume, Chegado ao alto eu amo o meu retiro,
Tout entouré de mon regard marin; De todo envolto em meu olhar marinho;
Et comme aux dieux mon offrande suprême, E como aos deuses melhor doação,
La scintillation sereine sème Semeia a serena cintilação
Sur l'altitude un dédain souverain. Desdém soberbo em meu alto caminho.

Comme le fruit se fond em jouissance, Como no gozo o fruto se dissolve,


Comme em délice il change son absence E em delícia sua ausência se resolve
Dans une bouche oú sa forme se meurt, Na boca em que se extingue sua forma,
Je hume ici ma future fumée, Sorvo aqui o futuro dos meus fumos,
Et le ciel chante à l'âme consumée E canta o céu, à alma que consumo,
Le changement des rives em rumeur. As margens que em rumores se transformam.

Beau ciel, vrai ciel, regarde-moi qui change! Belo céu, vero céu me transfiguro!
Après tant d'orgueil. après tant d'étrange Depois de tanto orgulho e estranho e impuro
Oisiveté, mais pleine de pouvoir, Lazer – mesmo com forças a contento -
Je m'abandonne à ce brillant espace, Eu me abandono ao reluzente espaço
Sur les maisons des morts mon ombre passe E ao lar dos mortos, feito sombra, passo
Qui m'apprivoise à son frêle mouvir. Confinado a seus débeis movimentos.
L'âme exposée aux torches du solstice, Às tochas do solstício a alma aceita
Je te soutiens, admirable justice E bem defende a justiça perfeita
De la limière aux armes sans pitié! Da luz, com suas armas sem piedade!
Je te rends pure à ta place première: Torno-te, em teu lugar de origem, pura;
Regarde-toi!... Mais rendre la lumière, Mas olha!... ter a luz por criatura
Suppose d'ombre une morne moitié. Supõe de sombra uma triste metade.

O pour moi seul, à moi seul, em moi-même, Só pra mim, exclusividade extrema,
Auprès d'un coeur, aux sources du poème, Perto de um peito, às fontes do poema,
Entre le vide et l'événement pur, Dividido entre o vácuo e o fato puro,
J'attends l'écho de ma grandeur interne, Quero escutar minha grandeza interna,
Amère, sombre et sonore citerne, Amarga, escura e sonora cisterna,
Sonnant dans l'âme un creux toujours futur! N'alma um vazio som, sempre futuro!

Sais-tu, fausse captive des feuillages, Ó falso prisioneiro da folhagem,


Golfe mangeur de ces maigres grillages, Golfo que engole as grades em ramagem,
Sur mes yeux clos, secrets éblouissants, Vês nos meus olhos segredos ardentes,
Quel corps me traine à sa fin paresseuse, Que corpo ao seu fim ocioso me impele,
Quel front l'attire à cette terre osseuse? Que fronte aos ossos da terra o compele?
Une étincelle y pense à mes absents. Uma centelha lembra meus ausentes.

Fermé, sacré, plein d'un feu sans matière, Fechado, sacro, em fogo imaterial,
Fragment terrestre offert à la lumiére, Terreno ofertado à luz matinal,
Ce lieu me plaît, dominé de flambeaux, Pleno de chamas – amo este lugar,
Composé d'or, de pierre et d'arbres sombres, Composto em ouro e pedra, sombras, árvores
Où tant de marbre est tremblant sur tant d'ombres; Onde por sobre sombras treme o mármore;
La mer fidèle y dort sur mes tombeaux! Sobre as tumbas, fiel, repousa o mar!

Chienne splendide, écarte l'idolâtre! Cão esplendente, afasta adoradores!


Quand solitaire ou sourire de pâtre, Quando sozinho, em riso de pastores
Je pais longtemps, moutons mystérieux, Calmo apascento ovelhas misteriosas,
Le blanc troupeau de mês tranquilles tombes, Rebanho branco de tumbas quiescentes,
Éloignes-en les prudentes colombes, Afasta logo essas pombas prudentes,
Le songes vains, le anges curieux! E os sonhos vãos e os anjos curiosos!

Ici venu, lávenir est paresse. Aqui chegado, é preguiça, o futuro,


L'insecte net gratte la sécheresse; Toda a secura arranha, o inseto puro;
Tout est brûlé, défait, reçu dans l'air Queimado e findo é tudo ao ar doado
A je ne sais quelle sévère essence... E a alguma que não sei, severa essência...
La vie est vaste, étant ivre d'absence, A vida é ampla, quando ébria de ausência
Et l'amertume est douce, et l'esprit clair. Doce amargura , o espírito aclarado.

Les morts cachés sont bien dans cette terre Os mortos vão bem, guardados na terra
Qui les réchauffe et sèche leur mystère. Que os aquece e os mistérios lhes encerra.
Midi là-haut, Mid sans mouvement O meio-dia imóvel na amplidão
em soi se pense et convient à soi-même... Pensa em si mesmo, e se vê satisfeito...
Tête complète et parfait diadème, Completa fronte, diadema perfeito,
Je suis em toi le secret changement. Eu sou em ti secreta alteração.
Tu n'as que moi pour contenir tes craintes! Só tens a mim para te proteger!
Mes repentirs, mes doutes, mes contraintes Remorsos, dúvidas que eu conhecer,
Sont le défaut de ton grand diamant... Do teu grande diamante são defeitos...
Mais dans leur nuit toute lourde de marbres, Mas numa noite pesada de mármores
Un peuple vague aux racines des arbres Um povo errante entre raízes de árvores
A pris déjà ton parti lentement. Tem lentamente o teu partido aceito.

Ils ont fondu dans une absence épaisse, Eles se apagam numa ausência franca,
L'argile rouge a bu la blanche espèce, Bebeu a argila rubra a espécie branca.
Le don de vivre a passé dans les fleurs! O dom da vida em flores se recria!
Où sont des morts les phrases familières, Dos mortos, onde as frases familiares
L'art personnel, les âmes singulières? As artes próprias, almas singulares?
La larve file où se formaient des pleurs. E fia a larva onde o pranto nascia.

Les cris aigus des filles chatouillées, Os gritos das donzelas excitadas,
Les yeux, les dents, les paupières mouillées, Os olhos, dentes, pálpebras molhadas,
Le sein charmant qui joue avec le feu, O seio, encanto que brinca com fogo,
Le sang qui brille aux lèvres qui se rendent, O sangue, luz nos lábios que se rendem,
Les derniers dons, les doigts qui les défendent, Os bens finais e os dedos que os defendem,
Tout va sous terre et rentre dans le jeu! Tudo retorna à terra e ao mesmo jogo!

Et vous, grande âme, espérez-vous un songe E tu, grande alma, por um sonho esperas
Qui n'aura plus ces couleurs de mensonge Que já não tem as cores das quimeras
Qu'aux yeux de chair l'onde et l'or font ici? Que a humanos olhos o ouro e a onda trazem?
Chanterez-vous quand serez vaporeuse? Cantarás, quando apenas vaporosa?
Allez! Tout fuit! Ma présence est poreuse, Tudo me foge à presença porosa,
La sainte impatience meurt aussi! Sagradas ânsias também se desfazem!

Maigre immortalité noire et dorée, Magra imortalidade, negra e de ouro.


Consolatrice affreusement laurée, Consoladora horrível em seus louros,
Qui de la mort fais un sein maternel, Que fazes da morte um seio materno,
Le beau mensonge et la pieuse ruse! Bela mentira, a cilada mais pia,
Qui ne connaît, et qui ne les refuse, Quem não conhece e quem não repudia
Ce crâne vide et ce rir éternel! O crânio oco, este sorrir eterno?

Péres profonds, têtes inhabitées, Profundos pais, cabeças desertadas,


Qui sous le poids de tant de pelletées, Sob o peso e o trabalho das enxadas
Êtes la terre et confondez nos pas, Sois a terra, e os passos nos perturbais;
Le vrai rongeur, le ver irréfutable O irrefutável roedor, o verme,
N'est ´point pour vous qui dormez sous la table, Não é para vós, que dormis inermes,
Il vit de vie, il ne me quitte pas! É para a vida e não me deixa mais!

Amour, peut-être, ou de moi-même haine? Amor, talvez, ou ódio é que o anima?


Sa dent secrète est de moi si prochaine Tanto o seu dente oculto se aproxima
Que tous les noms lui peuvent convenir! Que os nomes todos lhe são convenientes!
Qu'importe! Il voit, il veut, il songe, il touche! Que importa? Ele vê, sonha, quer, reclama!
Ma chair lui plaît, et jusque sur ma couche, Ama-me a carne, e mesmo em minha cama
A ce vivant je vis d'appartenir! A este ser pertenço eternamente!
Zénon! Cruel Zénon! Zénon d'Elée! Zenão, Zenão de Eléia, desumano!
M'as-tu percé de cette flèche ailée Feriste-me de um dardo alado e insano
Qui vibre, vole, et qui ne vole pas! Que voa e está inerte nos espaços!
Le son m'enfante et la flèche me tue! Gera-me o som, rouba-me o dardo a vida!
Ah! le soleil... Quelle ombre de tortue Ó sol... Que tartaruga à alma surgida,
Pour l'âme, Achille Immobile à grands pas! Ver Aquiles imóvel nos seus passos!

Non, non!... Debout! Dans l'ère sucessive! Não, não!... De pé!... às horas sucessivas!
Brisez, mon corps, cette forme pensive! Quebra, meu corpo, a forma pensativa!
Buvez, mon sein, la naissance du vent! Bebe, meu seio, a brisa renascida!
Une fraîcheur, de la mer exhalée, Um novo frescor, do mar exalado
Me rend mon âme... O puissance salée! Devolve-me a alma... Ó poder salgado!
Courons à l'onde em rejaillir vivant! Vamos à onda, ao ímpeto da vida!

Oui! Grande mer de lélires douée, Sim! Grande mar de delírios dotado,
Peau de panthère et chlamyde trouée Pelo de pantera, manto rasgado
De mille et mille idoles du soleil, É por mil ídolos do sol ferido,
Hydre absolue, ivre de ta chair bleue, Ébria da carne azul, hidra absoluta
Qui te remords l'étincelante queue Que em luz a própria cauda morde e luta
Dans un tumulte au silence pareil, Num tumulto ao silêncio parecido,

Le vent se lève!... il faut tenter de vivre! Eis se ergue o vento!... Há que tentar viver!
L'air immense ouvre et referme mon livre, O ar me abre e fecha o livro que ia ler;
La vague em poudre ose jaillir des rocs! Vaga audaciosa, às rochas te esfacelas!
Envolez-vous, pages tout éblouies! Pois voa, página que enlouqueceste!
Rompez, vagues! Rompez d'eaux réjouies Rompei, vagas,de águas felizes, este
Ce toit tranquille où picoraient des focs! Teto tranquilo onde bicavam velas!

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