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B.

TOMACHEVSKI

"SÓBRE o VERSO"l

A poética coloca o problema da matéria de duas formas dife-


rentes. . Por um lado, podemos tratá-lo como o problema do volumo
da matéria que nos propomos a' estudar, isto é, o problema riR
escolha das obras artísticas sôbre as quais repousa o <:'studo. f.;s!1e
aspecto do problema' não nos interessa agora.
O outro aspecto do probl('ma consiste em precisar os limites
dos fenômenos que delineiam o estudo. .
Se designamos pela palavra" ritmo" I\. todo o sistema fônico
organizado com objetivos poéticos, sistp.ma acessível 11 percepção
dos ouvintE'S, claro está qne tôda a prodnção da palavra humana
será uma matéria para a rítmica na medida ('m que participlf. de
um efeito estéti~o e organiza-se de maneira particular em verso.

1 As passagens reunidas sob êsse titulo pertencem originalmente a


diferentes artigos.

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.- / B. T onl4çbevski Sóbre o Yerso 143

Para precisar alguns dêsses h'a~us, cxawincmos uum. uo!:ões: o "verso". Por outro lado, pode corresponder mnis ou menos às
"vertio" e o "metro". possibilidades naturais da língua, por paralisar ou favorecer mais
..I!.issasno!:oes dc ., n~rso" c "mclro" estão c~trcitawcllte liga- ou menos a expressividade. As leis do equilibrio estético, a f4rça
d~s na JustÓrIa da literatura. No quadro de uma certa escola poé- da tradição c da educação poética do audit6rio literário determinam
tica, o metro representa a norma à qual a língua poética obedece. a predominância de tal ou qual sistema métrico num momento da.
O metro é o traço distintivo dos versos em relação à prosa. do. Os fatôres indicados sustentam em parte um ao outro j por ou-
Mas, as normas métricas são instáveiS. De Melcti ~motritski a tro lado, êles se contradizem e o desenvolvimento do sistema métri-
Fredianovski, de Lomonosso\" a Andrei Bieli, de Hlok a Maiakovski, co segue sua resultante. '.
notamos por tôda a partc algumas deformações das normas métri. O si<Jtema métrico concreto que domina.l" composição do verso
eas. Aoandonamos certos csquemas métrIcos, canonizamos outros. clássico russo reduz-se à contagem dos acéntos canonizados (métri.
Entretan~o, a poeSia é tradlCIOual. Contudo, as tradlçõe3 literárias - cos) esperados. Como todo o método de contagem aparece nltida.
reÜnem diterentes fenômcnos verbais numa só imagem, a da língua m,ente não no decorrpr de uma leitura normal dos versos, no deeur.
poética. Us ver:>os dos malásios e dos antigos gregos, dos japonêses 50 da declamação, ma.<;através de uma leitura particular que põe
e dos' povos romanos reponsam sôbre princípios métricos diferentes. em relêvo a lei de distribuição dos' acr.ntos, isto é, através da es.
Todavia, a imagem do verso une-os e os tradutores de poesia, ao ca.nsão. O metro, o sistema tanonizado que nos ajuda a dar eonta
substituir a norma métrica própria à língua original pela da lín- da capacidade fônica própria às unidades do verso, obrIga-nos, de.
gna da tradução, buscam assim reproduzir o verso por um verso. vido a suas funções, a pôr o esquema métrico em relêvo, a escanelir.
Por conseguinte, existe um problema geral da forma poética além Entretanto, ('8c;a leitura artificial não é um ato arbitrário, pois
do problema histórico transitório do "Verso) problema próprio a apenas revela a Ipi d<, construção uti1izada n<,stes ,.crsos. A escan.
uma língua, a uma época. . são é obri~at6ria. Só o primeiro estado da percepção poética neces-
A prática européia contcmporâuea tcm o hábito de imprimir sita dessa leitura em voz alta. Para o lcitor possuidor de um ou-
os versos em linhas arbitrárias iguais, e mesmo de realçá-los com vido poético desenvolvido. ('ssa leitura torna-se um ato automático,
maiúsculas; inversamente, publica-se a prosa em linhas ininterrup- subconsciente. e involuntá.rio, do m('~mo modo que R prática de es-
tas. Apesar do isotamento da grafia e da palavra viva, êsse fato é crever para o letrado. Essa escansão silenciosa torn8-!!e imoercep.
significativo, pois, na palavra, certas associações são ligadas à tivel 2'1'&casa seu cará.ter babitual. Entrptanto. ela acomoanha ine-
escrita. Essa divisão da língua poética em versos, .e~ períodos de vitàvelmente a nossa percepção dos versos, s6 nos permite reconhe-
alcance fônico comparável e por fim igual, é evidentemente o traço cê.los e dá sua côr à percepcão da 1ín~a poética. Imoõe-nos n pro-
específico da língua poética. :f.:sses versos ou, para introduzir um núncia dos diferentes versos de .uma certa maneira que cbama.
nôvo têrmo, êsses períodos discursivos eqi.üpotenciais, dão-nos por mos dpclamacão e Que se ot>Õeà pronúncia da 'Pro!l8.
sua sucessão a impressão dc uma repetição organizada de séries sc- O metro aeom'Panha spm'Pre a leitura e a 'Percpncão dos versos,
melhantes em sua sonoridade, a impressão de um caráter "rítmi- seja como esc&nsão si1pnciosa. seja como reDresentac:ões motrir.e8. A
co" ou "poético" do discurso. Percebemos séries isolávcis (versos) pronúncia do metro pxi!!'e uma esl'an!ÜÍoem VO7.a1t.a e 11mif\O('1"Ont8-
e, comparando-as, conscielltizamos a essência do fenômeno rítmico. mo forcado na pronúncia daq sOahas. uml\ distrihnir.ão Dt'r1Mica
A função das normas métricas é facilitar a comparação, dos acentos no interior do!! limites da unidade métrica (o verRO),
revelar os traços pelo examc dos quais podemos avaliar o caráter uma divisão vocálica pro'"nda do disc11rRO'Prommciado em unida-
eqüipotencial dos pcríodos do discurso; o objetivo dessas normas é dP.8 elementares. em neriodos fônicos ooüipotenl'iais.
;isolar a organização convencional que rege o sistema dos fatos fô- O domínio do ritmo não é o da contallem. Lilla-se não à PoRcan-
nicos. :f.:t>sesistema é indispcnsável para a ligação entre o poeta e são ani'icial mas à 'Proni'meia real. Não podemos pôr em rA1Avoo
seus ouvintes, ajuda a compreender o desenho rítmico\ pôSto pelo ritmo DOrQue. ao contrário do mei ro. não é ativo m89 nAAl'livo.não
autor cm seu pocma. enQ'endra o verso. mas é enQ'pnflrltdo por êle. Podemos imRllinl\r 11m
Essa norma métrica pode possuir uma nitidez mais ou menos metro ah!:trato. pois está inteirampnte preRPnte em nO8811conRciên-
grande, isto é, scn'Íl' dt' sinal mais ou mcnos implícito do fenômeno ftia to dpdnz dessa pres('n~1\ o caráter obrigat6rio de BUas normas

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,.t B.T omaçbnslú Sôbre o Yet'so 145

convencionais através das quais liga o poeta à percepção do ouvin- menos nitidamente, a noção que outorga os objetivos expressivos i1
te ou do leitor. Mas o ritmo é sempre concreto, funda-se unicamen- eufonia se diferencia. É sôbre os fenômcnos da analogia fônicn,
te sôbre os elementos da pronúncia por nós inteligíveis ou tomados sôbre a repetição de grupos de sons semelbant('s que concentramos
realmente em consideração, elementos que estão tanto num discurso tôda a atenção e perguntamos se esta repetição é devida 11.onoma-
rítmico quanto num discurso não rítmico. Não podemos senão re- topéia ou a outras ligações fônicas associativas2.
conh('cer e r('produzir U1l1metro, enquanto que o ouvinte pode per- É sobretudo a análise da natureza acústica dos 80ns que g('-
ceber o ritmo, nH'smo se i~nora as normas subjacentes do verso, !,almente retém a atenção e isso ocasiona uma interpretação mais
mesmo se não prrcebe sen metro. Por is,o, encontram-se freqüente- literal da palavra eufonia. Se me é permitido propor uma hipótese
mente p('ssoas sensíveis ao ritmo e à "mÚsica" do verso, mas de a respeito disto, direi que todos os sons da palavra humana pos-
todo o modo perdidas no domínio do metro, pessoas que não distin- suem em mt>SIDOgrau qualidades musicais. Não é a partir das qua-
gurm o jambo do troquen e que, em sua leitura, deformam desespe- lidades acústicas, mas a partir das qualidades articulntórias da pro-
radam(,llte a natureza métrica do verso. núncia que julgamos se certas sonoridades são harmônicas ou não.
Porém, torna-se evidente que, se o ritmo é composto de elemen- A percepção é acompanhada de um discurso interior, e as imag-ens
tos realmente audívris, a classificação dos fenômenos rítmicos de- evocadas em nossa consciência ob('decem às realizações articulató-
ve fundar-se na análise fonética do discurso. Todo, os elementos rias. O discurso eufônico é um discurso de fácil pronúncia, mns
pronunciados podem ser fatôres do ritmo. A única condição obri- difícil de compreender; o discurso não-harmonioso pro~ocarí\ em
gatória é que a forma poética deve organizar seus elementos em nós uma po,ição incômoda, não habitual, dos órgãos da fala. Dêsse
sérirs regularrs repetindo de qualquer maneira o movimento do dis- .ponto de vista, não existe eufonia internacional, pois 11nrtiruh,,:iío
curso dividido em verso ou deixando-nos a impressão dessa divisão. coloca dificuldades diferentes a falantes de línguas diferl'nt('s. A
eufonia poética reduz-se à sistematização dos fenômenos Ilrti('nla-
tórios próprios à pronúncia. Que se torne a pronúncia mnis difíril
11 ou mais fácil, que se mantenha a articulação no quadro das JJ\rc;mns
posiçõt>S(a eufonia monótona) ou que se alternem diferentrs nrtil'lIla-
ções, que se agrupem as articulações em séries similarrs obedrcendo
Na segunda metade do século XVIII, sob a influência do es- a mesma repartição interior: em todo o caso, a construção é de rn-
tudo dos poetas latinos pusemo-nos a considerar a qualidade dos ráter artieulatório e não acústico. As regularidades acílsticas são
sons no verso como matéria de um nôvo problema. Os versos de uma eonseqüência involuntária das regularidades articnlatórias na
numerosos poetas testemunham essa preocupação que conduziu al- medida em que a passagem dos ~ons abertos para son!'> , fl'('lIados e
guns dentre êles a aberrações tais como o vrrso lipogramático. ~sse as articulações que estão por trás das articulações avan<:adas acom-
problema tomou 1una agudeza particular em nossa época: todo o panham-se de uma troca re~lar do ressonador, de nma nlternân.
estudo de um poeta propõe uma valoração, muitas vêz('s incol'rente cia mais ou menos regular das harmônicas que dão colorido H.fOllia
de sua" orquestração", de sua" harmonia", de sua" inércia fôni- da palavra. O que importa aqui não é o tipo do sistl'ma conc;titníllo
ca", ('tc. Talv('z o exame simplista dêsse problema peque por exagoê- por sons qualitativamente semelhantes, mas ag funções da. eufonia
1'0 de sua importância. Mas se o círculo dos poetas contemporâneos no verso. .
dá grande atenção a êste problema, é porque êle existe realmente A rima é a forma canonizada, métrica, da eufonin. Hoje, pa-
na consciência poética. rece, é geralmente admitido que a rima não é um ornamento sonoro
Mas, até agora, não possuím~s nenhuma classificação integral do verso, mas um fator organizador do metro. Serye não somente
dos fatos eufônicos na língua poética; a atenção dos investigadores
prende-se sobretudo à qualidade dos sons que criam o fato eufônico
e não à sua função no v.erso. . 2 Podemos dizer que o estudo contemporâneo da eufonla é ~I\'morro.
na medida em que, sem referir à posição do som no verso, lcva cm
Por isso, não se distingue bem a imagem do vocalismo eufônico conta apenas sua qualidade.
das imagens do consonantismo eufônico. Por outro lado, ainda que
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J.li6 B. T omaebetJski .Sôb~ o Verso H7

para criar 11impressão de analogia entre os soml que a constituem, mos a impressão de que a medida forte sucede-se regularmente li
mas também para dividir o discurso em versos, os quais têm seu medida fraca, isto é, a f6rmula deEcritiva .. dois terços do (>CO11ti
fina! marcado por cla, Na medida eUl que a rima é, independente- dá. uma imagem aproximativa do desenho rítmico (Molc/wli,'V} ;
mente das eOllllições fonéticas de sua realização, um fator do metro, prodg) , Podemos contar com o fato de que a eufonia ndotll tlll1l-
e na medida em que, ~raças às~associações fôui~a>l. ajuda o ou"ido bém a divisão do verso em duas partes. Efcti\"umclltt', e1l1'Ont"1111109
fi percebel' a decomposiçilo métrica da lín/{ua lloétiea, os fatos eu- aqui exemplos de vocalismo construído segundo os pl'Íncípioli da
fônicos pertencem inteiramente ao verso, isto é. ao ritmo, pois êstes .eufonia cíclicas,
confirmam a impressão de decomposi<;ão do "e"so e de correspon-
dência cntre suas partes, Sob o nome de .. harmonia do verso",
Granunout descnvoh'eu uma teoria sôbrc a fllnt;iio rítJaica das cor- Z/tíl l.a tIt'(~tc ,'.ve,ar b(~(l11!li
respondências fônieas, Dever-se-ia consenar l'!itt' têl'lUO por unir a Y - c J' - c
llO!;ão de rcgulul'idade cufônica (qualitativa) à das correspondên-
cias rítmicas, Entretanto não escapa li ambigüidllde provocada por On imél odll6 vidé/ljc
analo~ias im}>ortunas com os fenômenos designados por êste nome o - e o - c
em mÚsica e também ao seu inevitável empl'êgo metafórico; por-
I do g,'6úa 11;S od1l6ju
outro lado, ao fato de que se aplica esporàdicamente ~<JCmesmo i - o i - o
tôrmo a muitos fenômenos (assim se opõe às vêzes, a hannonia à
orquestração, a primeira designando o vocalismo, a segunda o con- 1'0 ,'avllíllam
. Pal{:stíllV
.
sonantislllo), 1\a Rússia, é o estudo de Brik (li As repetições dos o - I O-I
sons") (Jue aborda o problema da harmonia,
Uma construção sintática parecida:
A harmonia tem dois objetivos: primeiramente, divide o
discurso cm períodos rítmicos (dissimilação); em segundo lugar Lumen coelltnl, sa.ncta rosa
eria a impressiío de analogia entre os membros assim esboçados (as- Vsjo vljubljó1IlIyj, t'sjo pccltál'nyj,
similação) ,
ConseqÜentemente, a eufonia deve apoiar-se sôbre um sistema
feehado de repetições sonoras sucessivas, Evidentemente, o ritmo cufônico coincide tanto com a sucessão
Podemos encontrar aqui duas situações diferentes. Ou os sons dos acentos léxicos quanto com a decomposição entoável.
se alternam no quadro de cada divisão rítmica sE'~uindo a ordem
Claro está que os fenômenos nãq são canonizados, isto é, não
da divisão inicial. e então dispomos de uma alternâneia de sons uo
interior da divisão. sendo idênticas as diferentes divisões tomadas São os mesmos em versos difert'ntes e não estão presentes em tôdn
a parte, São apenas p'otenciais, buscam realizar-se e realizam~
em sua entidade (eufonia eíclica); ou cada divisão respeita uma
em alguns momentos, sustentam a inércia geral do ritmo,
monotonia que lhe é própria (monotonia contraste). Citarei alguns
exemplos a fim de tornar coneretos êsses proeedimentos, os quais, Tomemos, pelo contrário, os "ersos de Dlok:
uma vez tomados apenas a título de ilustração, podcm parecer al'-
tificiais,
Tomemos o romance de Pnshkin sôbre o Cavalcil'o, escrito em To by~ osypall, zvézdnym CL'étotU",
versos trocaicos a quatro medidas, Podemos dizcr a prior; que êsses KogdQ. obmánet svét vechérnij, , ,
versos tendem a dividir-se em duas partes que não denominarei he-
mistíquios por êsse têrmo pressupor uma ecsura constante, Isso de-
ve-se à estabilidade dos acentos da seg-unda e da quarta medida opos,
ta à estabilidade dos acentos da primeira c da terceira medida, Tc- !
3 Cito a primeira redação do romance,
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...48 B. T OTIUI&beflSki Sóbre o Verso J.l9

o mesmo efeito de decomposição do verso cm duas partes foi cria o segmento de entoação, o padrão (1\11'servirii pal'a di\'idinllo!'!
obtido aqui através de uma, monotonia em contraste. o disl'u;-sO em verso' O primeiro dever do pesquisador {. ol)'t'I'\'1I1'
a eutoação do verso.
Sendo dado que uma metodolo~ia nos é nrcessíll'ill 1"\1'11"0\1,
;r-r e-e duzir essa observação, a difieuldade de IW!o;!o;O probll'llId 11111111'11111
a- a e-e consideràyelmente. Bntretallto, apenas a pronÚncia I'\'al, 11 "1110/1.
ção real do verso pre"ta-se a uma cOlIstallH;ão objetiva. ('111lI'!l!'a...
palavras, só a declamação permitr-nos UIJIII análisl' PX11I'ri1ll1'1I11I1.
Evidentemente, êssrs dois tipos não esgotam tot10s os procedi- Mas podemos recit.ar o mrslllo poema de II1l1itas maneiras S"íll j:1I1I1Iio;
IIH'utos da harmonia. Ligados i'ts analogias estróficas, podrm dife- violar sna illt!,~ridade t"stética. Explicamos ês..e fellôml'no ('!li parle
l'l'!H:jaN;(', e a rítmica d~'~;(:l'itivadeverá classificá-Ios a todos. Xão pelo fato de (11Ie a realização das entoa(:'lr8 tem lIma 1:II,'l'd:I.I,'
('itnl'ei mais que um exemplo onde se obtém o efrito por uma ana- maior {(ur n dos acentos léxicos. A frase pode condnzir 110 1I1t'~1I\O
10ll'ia das vogais acentuadas figurantes nas medidas pares dos ver- efeito s('n'indo-se _de mrios diferentes: a ('ntoa<:iio II\rl6di('1I Í' "lIm-
sos ímpares e rimados de estrofes: pensada por ullla !'ntoll<;ão dinâmica 011 rítmica. Obl<'lIIoo; 1'!'l'ilo!)
de pallAA por lima ('II(lpJl(:ia enérgica, Ex ist"JIl alg-111IlaS"~lIhst itlli-
ções", alg'lImns variallt!'s ('ntoávf'i!'!. Além disso, to(los 0'4 ('I..mpn-
No bredjót za dállnim póljllsom o-o tos lingiiístil'os não têm importância ig-IIal para o proc('dilllt'lIlo (la
Sólnce sel'dca mojegó criação artísli('R. COl1s(>qii(>ntrn1('nt(', a ohl'n lilprlÍrin nHO ,'ollIPIII
L dínyrn skóvannoe pójasom o-o semprl' ilH1iNI'-:ô(>s P:'\lIilSI iVIIs sôbrr SUII 1'l'lIli;rIlI::io \'01'111 t' 1I111t11'1'0,,"0"
B(,zlla~hâlja mojegó, traços seus dão oportllnidade a Hlna livre inll'rpr('III<;:io,
1'nk vzojdí-zh v moróznom ince l-I O deelama<Ior ,'p-se obrigado a rcsol\'l'r IIrhilrilriamrlllp IIIlIi.
N cpomérnyj svet-zarjá! tas questões sôhrp as quais a obra não <IÚ illtli('IH;ôrs sllfit'j"lItrs,
Podnimí nad aálju sínej i-i Assim devemos "drspojar" a declama<;iio rral para obt('r os (h\(los
ZJzézl pomérkshergo carjá, nl'ces5.'Írios sôhre a entoação estética, isto é. 1I!(1I('laque é Ileesc;ívrl
à percepção l'stética. A análise sintática ofprr<'r-no!l vÍtrias ViM
invPN:lIs para r('cone;;trnir a E'ntoação da ohra, E1Itrrtnnto, A'! difi-
Aqui a composição por estrofe encontra-se,trforçada pela mo- culdades pm (Jl1(>troT)(>~Amosaqui são tiio j!raIHI"", !!pnão maior("!,
notonia contraste das vogais. quanto aquelas <10método t'xprrirorntaI. Contll,Jo. po(lrmo<1r('('ol1s-
Não multiplicarei os exemplos, pois êsses, pareer-me, ilustram truir a. entoarão t'stética do vprso; isso ororrp t ii(\-~c\lJ1rntpporque a
suficientemente' meu pensamento. H'nl!na poética rE'pOl1AA sôbre ela. e. portAnto, porrl1W I'la (':'(i!ltprf'at-
Assim rolocada a questão, o problema da "harmonia" do verso mente. Devemos apoiar-nos aqni não R\lmpute st.hre a ob<;ef"8<:ão
integra-se na teoria do ritmo. dirpta do ritmo E'utoável do '\"t'rso. m8!'! tnmhém !!cihrf'o e,tudo das
formas métrica.'!,vistas sob o ânA'l1lo da conRtrl1~ão sintlÍtica..
O que é o ml'tro' Se a líng-na poética. é divididl1 PII1srA'f!1entos
1922 pntoáveis equival(>nteR, devemo!'! dispor de uma medida pIara r ma-
nif,'sta dessa ('ql1ivalência. E o metro ofprece-nos essa medida ob-
jetiva. Assim, êll' não tem valor autônomo, ma!'! 8uxilinr. ('n.1a fun-
lU ção é facilitar o r<"eonbrcimt"nto oa mrrlida (Oti aq anlPlitnrll').
O ml'tro é 8 mrdida. pois dá vÍlriae;; inrl iplIGõessôhrr a i!Z'l1al.
i datI!' dos segmentos f'ntoáveis (dos verso!'!), sôhre !'!ua eo.presença'"
Podemos assim formular o problema da versificação: em pri- I
meiro lugar, como se organiza geralmente a frase, isto é, como se 4 O princípio de «co-presença:>, que introduzi na definlçiio de metro
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150 B. T omllçhenki Sõbre O Verso 1~1

o IlWt!'Oé o critél'io segundo o qual SI! qualifica o grupo de Dúz olricánj"., ÚII.f.sumI/i I,j", , ,
palavras dI.' admissíwl ou de illad1Dissín~1 na forma poética e!reO-
Jh.iJa. Deyemos r,'lembrar qUI.', se não se leva em couta a análi!.c Entrctanto, êsst'S fcnômenos r;ão iguulm('nh' possí\"<'is após uma
)ll'opusiciollal dos Vl'rSOS,muitos fenômenos ua estrutura métrica pausa sintática:
toruum-sc illl.'ompr,'clIsíni:'l. Assim, a constautl.' ael.'nhu\~ão uo fim Drflgójl Nét, 7Iil.-Ollllí110 .~I'(II'...
11a unidade rítmil'a tl.'11\evidentemente um ,'alor para a frase e Kák, Grandisón' A, Gra11(1i.~ú"",
Hão para a sílaha, pois as sílabas acentuadas c ill8cl.'ntuadas são U tlfI.'sl;oj prúta1li. ])lIí [(Ia,..
I.'lluivalentes ao int('l'ior do verso. O ntlmpro diferente de sílabas 110 Evidenjemente, os acentos DitOl11Hri('o~Rifo 1'111j.!('I'nlposs(,,{'is
int!'rior do V('I'SOou ao scu final, observados IIOSversos franceses ou à entoação de abertura, isto é, no comêl;o da prupotli<;iio. So êI<'8
italianos', ('xpli<:1\-s(,apenas se nos dermos conta da cadência pro- aparecem mais freqüentem ente no com~!:o do Wl'F\O01\ (10 hemistt-
posiciollul final (10 ""rso, cadência rJuc d('forma a p('reep~ão da quio, ~ porque geralmente o comê~o do \'rrso COilll'ille 1'0111oco.
Rílabn, Eiu g('rul, o fenômeno d~ sonoridade final, 110lato sentido mêço da frase, e trata-se de ligar a 8p8ril;ilo (1011aCl'ntoH não mé.
dessas palavras, cxplica-se iinicamcnte p('la organizal.;ão do T('r.;;o tricos com as condições sintáticas. Os estudos u1tl'riorl'~ l'sl.'lal'ecl'rão
em unitlades entoÍlvl'is, isto é, em frases. o mecanismo dt"s'>8união, mas podemos con~tatar dl.'sde jíL a sua
Tomemos fl'llômcllos própI'ios ao jUlIluo russo. Como sabcmos, ~xistêneia.
os 11('eutosnão métl'il'os são possh'eis sobretuuo no comêço llo verso:
--- IV
cm A w'rsifi<,.açiio russa, provocou mullos mal-cntcndidos que devemos
csclareccr. Eis a essência do princípio proposto: devemos chamar, por
exemplo, «jambo a quatro medidas,. a todo o grupo de palavras que Devcmos examiuar os fenômenos quc sc produzem no inh'l'i 01'
podcmos, considerando-o como verso dc um pocma homogêneo em scu
metro, combinar com outros grupos satlsfazcndo a mesma exigência.
do verso de três pontos de \'ista: pdmciram('ntl.', do ponto dc ,'jilht
Scrá talvcz mais preciso falarmos de substituição, isto é, chamarmos da construção individual de um wrso particular (é o flue Audrei
«jambo a quatro mcdldas,. a tôda combinação que possa substituir num Bieli chama "ritmo"); cm sl.'guudo lugar, do ponto dI' ,'iRta da.
poema qualqucr ,'crso jâmbico a quatro medIdas. Em outras palavru, realização n<.>ssefato indi\'idual de uma lei métrica tradil'ional,
se chamarmos, por convenção, um vcrso de Eugênio OneJ{Uln cjambo a
quatro mcdldas», todo o grupo de palavras que podemoll substituir neste indiscutível DO quadro da forma l'scolhida; t", em tcrceiro IU/tar,
verso, sem violar o principio de construção da obra, scrá também um do ponto de vista do impul!;o rítmico concreto que r<>gl!8 f'!lcu!hu
jambo 3. quatro mcdidas. 11: claro que essa substituição equivale à com- tipol,ógiea das formas particulares Das obras de um poeta ou de
binação dêsse verso com outros versos, Isto é, com o contexto dos jam-
bos a quatro mcdldas e nos indica a possibilidade de co-presença dOIl
um estilo poético. O impulso rítmko é diferentc do llll'tro primcira-
versos escritos nesse metro. Isso não exclui a posslbilldade de ligar 011 mente porque é muito menos rígido que o metro: define não a es-
verSos que têm metros
em Brussov, o anfíbraco
diferentes numa mesma estrofe, por c-"templo
a três medidas e o metro dos versos impares,
colha absoluta elas formas particulares ("jambo" -
"não jambo",
sendo êste cstritaml.'nte proibido Da série dariucle), mas a prcft'-
o jambo a duas medldás e os versos pares (c O Kogda by ja nuval
zvojeju Rot' ten'tvoJu,,), mas dever-se-Ia talvez estudar esses versos he- r~eia por ccrtas formas frente a outras; em segundo lugar, o
teromorfos fora do quadro dos metros normais que comportam um nú- impulso rítmico r('ge' não sõmente o~ fenômenos situados no campo
mero igual de sílabas, estudá-los como vcrsos que Dão seguem a estru- esclarecido da cousciência e assim objetivados na métrica tradieio.
tura estabeIcclda por Lomonossov e Pushkin,
nal, mas também todo o compll'xo de fenômenos qUA, mesmo senti.
O número de traços métricos não é o mesmo em diferentes formas: dos confusamente, têm um valor cstútico potencial; em terceiro lu-
podemos incluir no Mtsyd todo o jambo a quatro medidas de rima
masculina e em Boris Gudonov unicamente os jambos a cinco medidas gar, obedecendo ao impulso rítmieo, o poeta l'e~peita menos 89 re-
e com cesura, mas independcntemente do ritmo, admite-se nas fábulaS gras tradicionais do que proci.1ra organizar o discurso seguindo
qualquer tipo dc jambo, independcntemente do número de medidas. Em , as leis do ritmo da palavra, leis que são muito mais interessantes
outras palavras, cada poema pode ter sua característica e sua. compo- I para o observador que 1\ftuáliR(' fie nOl'mnc;métri('n~ dl.'finitivftmcnte
sição métricas.
estabdel'idas c fixas.
I

J...
B. Tomachet:ski Sóbre o Verso 15.3
152

o est ndo (10 illlpuh;o rítmico reduz-se à obsen-ação das vari,lIl- Con;"('(lÜentel11entl', existem tipo,; pl1rI itl1ln res d,' ver".), Ii\Tes
tes eal'aC.'terbliI:a'i de um ver~o dentro dos limites das ooras ullid~~ dotados de uma domiuante métriea, Ao lado dêsses \"('\'sos, ,'o:lhs\:-
pela Hlt'litidadl' da fOl'lI1aJ'Ítllllca por (exemplo" o troq lIell de l'us!!- mos uma composi<;ão "(,IU mosaico" (subrl'ludo (']11 Klponiko\' e :\,
kin nos iíl'm; ()unfui; da dé('ada de trinta"); ao e.;tabeleeilllellto do TikhoJlov) onde se admitl'JII livrrUlelltp Y"I' o" '11:(' sali"fnz,'11I 111101'-
gl'au dI.' iíIHIfrcljiiêllt;U; à oosprvação dos desvios do tipo; ;1 uu:,,:r- mas métricas diferentes, mas que li~nul-s,' d,' 1lIilllPil'It '111" s"l1; illlO'\
a 110rma métrica dI' cada verso. Assim, a \'1'lh-)o ol'ig-illal d,' Stf, 11-
yação do sistema segundo o qual se organizam os diferentl"i a~pl'C-
tos fônieos do fellôuH'IIOestudado (os pretensos traços seclllHlÚrio:i tiltlll de Tiutchev contém jamous (' allfílJl'I'.o~ 1/111' ('0;1I]10I'tn1ll 11111
do yerso) ; à definÜ;ão das funções construtivas dêsses desvios (" as nÚmt'ro ig:ual de sílabas. Enfim, exisl., 11111<1 ~I'.Illd,' (,IIIS"" d(' V\'I'~O-;
figuras rítmicas") e u interpretação das observações. Jivres que não admitem nrllhullla IIlIi;j() '.0111 IIS I'itlllo,", hllbitlllli'\
Essa interpretal;ão é tão mais fecuuda quanto o impulso rít- dos versos regulart's c 1lecessitulO d,' 11111 I'rilJt'ípio allIÔI:uIIIO dI.!

mico age de modo mais autônomo e mais claro, isto é, quanto a iu- COllst rHl;ão.
fluência do metro é mais fraca porque é precisamente êle fIHe li- Infelizmt'ntr, não pO'suímoslu'lIhllllla r]n""ifi";If;;jo eil'lIl ífil'l1
mita as formas livres do verso. Por isso, é importante para a teoria do ycrso livre. É claro que taJ classifica<;ão {h'\'I' ftllH1III'-S:' s(,bl"t'
do wrso não só observar os versos métricos regulares, mas também, o maior llÚmero de traços rítmicos de 11111\'('rso I' lI:ill "1'01"1' o 1111'1101'
c sobrrtudo, estudar os metros dito:>livres. nÚmero. Entrl'tanto, a tradução dos velhos mallllHi,; dI' lIIéll'il'lI
O têrmo "verso livre" por sua earactt'rística negativa UIIC dirigia os inw;;ti~adores a lima fórmula il qual IÔdll's dS Val'ill(;,il"';
numrrasas e diversas formas particu'aJ'rs. Os versos livrrs de Dlo!;: do verso li\"l'(, olwdrcrriam. É perfritamrllll' lIatlll'al 1/111' tal fO1'1I1II
são milis distanciados dos versos livrcs de Maiakovski que dos versos pareça ser bastant(' ampla (r, consrljiil'lItl'lI1l'lItl', 111'1111'11.illlpes-
reguJares de Fet. O têrmo "livre" só é Útil por sua caraetrríst i,'a I>oal, amorfa) 11I-Ira qnc possamos eoloeHr' lIiío SIIIII"I,II' Iodo..; os ra-
negativa: indica a ausência de uma tradição métrica rígida e não sos possíveis dr v('rso livrl', mas tamb('11l Iodo,; os ,IT"'h I',,;!\tlarl's.
limita, poi~, de maneira precisa, o número de variações possíveis. dos jambos aos anapesloR (' às Vl-ZI'S alé I1II'SIIIO 11 JlI'O"II. E",u fr'n'-
MRR, elH JlOSSOCRSO,eRsa liberdade é uma noção bastante relativa. mula não servia, porque não dava illllica«;llt's s(',lIrl' o rit 111" ,'olu'rr-
Assim, os hrxâmetros, dátilo-trocaicos russos que se unem ao verso to do vrrso t'studado. Sua nniversalidlldl' I'r/l f'il'j í,.ill 1111 IIII'dida
livre, Rão rigoro-:amente limitados pela tradição métrica. Os verSOR em <1n(' estabeJrcia as Jpis grrdis do vl'r,;o i::nol"/lIIdo o rillllO poé-
de Mainkovski só são limitados pelo impulso rítmico, e admitem, tico. Xa maior partr dos casos, ('SSIlSfórlllll!ns {'rllm I'st{.rl'is ('1\1vir-
embora rarameute, oC:'sviossensívC:'isdo tipo médio sem dar limites tude do srn l'ilrÍtter simbólico 110 (IUal li grllfill ('ul'obrill-lIos () I'on-
preciRos fi seus desvios. teúdo fônil'o do v~rso,
Além diss~, segundo o caráter do impuJso rítmico que rege os A análise do Vl'rso livre não deve procura r rstab('lccer 11111,1 f\',1'-
versos lineR, podemos delinear tôda uma série de domínios autô- mula geral, mas deve encontrar fórmulas partienlares, },d"1r1l1j.;,
nomos do wrso livre que não se confundem. Assim, o impulso rít- já que o verso livre rrpousa sôbre a violação do tradiciollnl, é inÍttil
mico do \'('r80 livre pode seI' uma forma regular, onde as sílabas buscarmos uma lei rígida qur não admita exce~iio, Dt'V('1110Sbno.;ear
têm 11m nÍlm!'ro definido, Podemos escrever versos livres ajustados apenas a norma média eestnoar a amplitude da digT\'ss5o '111('si-
ao tom de anfíbracos, de jambo, de troqueu e perceber-se-á clara- tua cada forma em relação a essa média, Não lIIsistiremos IIÓ"Hlllel1tc
mente eRsa dominante métrica, Por isso, nos estudos já antigos, na injustiça que possui um "objetivismo" ilusório 110 rst lido (los
aproximé ORvcrsos de Tiutchev: "O kak na sklone nashix leI ", versos 111'111na necessidade de estndar o verso rl11 sua di('t;iío (' não
(Oh, como sôbre o declínio de nossa vida) ao jambo a quatro me- nos textos. N('nhum estudo ótico 011 l1IrSII1Ocillr~rÍlfico pol1('r(1 Ilar-
didas; "As canções dos eslavos ocidentais" ao troqueu a cinco me- nos um domínio constituído dI.' atos puramentc psíquicos da per-
didas c a maior parte dos versos ditos" dolnik"5 às nossas métricas cepção rítmica.
ternárias (principalmente anfibráquicas).

1927
5 dolllilt (r,): verso tônico,

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