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O DIA DO ESCRITOR

Júlio Antonio Lopes


Desde os tempos mais remotos que o homem tem a compulsão para deixar
gravados os registros de seus sentimentos, de suas ideias, de suas aventuras e
de suas criações. Primeiro foi na pedra, no interior das cavernas; depois nas
mais diversas plataformas: argila, papiro, metal, papel e, hoje, nas redes
cibernéticas...
A palavra, traduzida em símbolos e conduzindo pensamentos, foi capaz das maiores
proezas e, também, não se negue, quando “mal ditas”, das maiores tragédias. Há
poder nas palavras, como já disse o pregador americano Don Gosset. Tanto, ensinava
ele, que a energia espiritual da palavra seria capaz de trazer para a vida do indivíduo
aquilo que fosse verbalizado. Por isso, devemos ter cuidado não apenas com o que
pensamos, mas também com o que falamos ou escrevemos.
Não foi por outro motivo que, ao longo da história, o ofício de escrever e a
capacidade de ler, com entendimento, esteve reservada a uma classe especial,
os escribas, os sacerdotes, os príncipes... Esteve no centro de projetos de
dominação política e religiosa. Os romanos queimaram a Biblioteca de
Alexandria. Na Idade Média, livros só nos mosteiros. Os tiranos, em todas as
épocas, implantaram a censura e quiseram manter o povo na ignorância.
Tempos em que a palavra esteve perdida... Hoje, mesmo, e não precisamos ir
tão longe, a sanha inquisitorial e ditatorial de alguns ministros do STF, por
exemplo, impede a livre expressão do pensamento daqueles que não
comungam de suas visões de mundo.
Sempre houve, todavia, os heróis da resistência. Os escritores e os poetas que
mesmo sob o látego da perseguição, do exílio, da tortura e até da morte,
insistiram em deixar para seus contemporâneos e para os pósteros a versão
não oficial dos fatos e, por isto mesmo, a mais verdadeira, o que permitiu que a
sociedade se instruísse, se inspirasse e alcançasse o discernimento necessário
para evoluir do estado de barbárie ao estado de conquista de direitos.
Esses heróis traduziram a Bíblia, quando era proibido traduzir. Eles divulgaram
manifestos, que resultaram em revoluções. Eles ajudaram a escrever as
constituições, como limites ao absolutismo. Eles cantaram amores e aqueceram
corações, quando o ódio vicejava. Eles denunciaram, em prosa e verso, a
ocorrência de abusos e mantiveram acesa a chama, em todos os corações, de
que dias melhores estavam por vir. Eles, os escritores, os cronistas, os poetas!
Agora, na segunda-feira, dia 25/07, comemora-se o Dia do Escritor. Em Manaus,
dentre as muitas festividades promovidas pelas agremiações e movimentos
culturais, uma tocou fundo – e não poderia ser diferente – o meu coração: a
homenagem que a CASA DO ESCRITOR, projeto lindo, idealizado e erguido pelas
mãos operosas, pelo espírito de luz e pela generosidade abrangente do
jornalista RÔMULO SENA, que a todos quer ver brilhar, prestará aos escritores
do Amazonas, entregando aos convidados uma medalha que leva o meu
humilde nome...
O que eu poderia dizer? Sou grato. Grato a Deus, revelado pelo Senhor Jesus, que me tem
guiado desde a minha mais tenra infância. Ele me deu mais do que eu pedi ou mereci. A Ele
toda honra e toda glória. Sou grato aos meus familiares e amigos, especialmente mamãe e
papai, pelo esforço que fizeram para me educar, bem como aos meus irmãos. Grato também
a esposa e filhos. Sou grato ao Rômulo e aos escritores, que me honram com a adesão ao
projeto. E aqui eu lhes faço uma confissão: o que me deixa mais alegre não é lançar um livro
novo, de minha autoria, mas ajudar novos escritores a concretizar os seus sonhos. Já fui
editor, organizador e prefaciador de centenas de obras, como também ajudei a fundar
academias e associações culturais, o que me faz genuinamente feliz. Sempre estive e estou
disponível para ver a luz do outro resplandecer, pois acredito, como diz antigo ditado, que
quando você acende uma vela, o primeiro a ser iluminado é você. E tudo o que é bom, o que
é útil, o que é belo, o que é gostoso, enfim, sempre é feito juntos, em boa companhia.
Agradeço a todos pelas flores em vida.
*Texto publicado no jornal A Crítica em 23/07/2022, no blog do Francisco Gomes, em 25/07/2002 e lido na
cerimônia de entrega da Medalha Casa do Escritor, na noite de 25/07/2022.
Na imagem Rômulo Sena e Júlio Antonio Lopes. Foto: Cleomir Santos

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