Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
O processo de Abolição da escravidão no Brasil teve um papel funcional da maçonaria na
propagação dos ideais abolicionistas e nas práticas emancipatórias nas províncias. No
Amazonas, Grão-Pará, São Paulo e entre várias outras regiões tiveram a participação de
maçons atuando para que a abolição fosse aderida na respectiva localidade e apoiada pelos
mecanismos legislativos e judiciários da época, utilizando as ferramentas que estavam
dispostas para tal, isto é, utilizando de suas posições dentro da sociedade para legitimar a
causa. Dentre essas personalidades, cabe aqui analisar e discutir acerca de um grupo dentro
da maçonaria essencial, os negros maçons que estavam lutando para que a abolição fosse
aderida na sociedade.
Partiremos de um retrato, a imagem de José Carlos do Patrocínio para a tentativa de recolher
elementos que possam vir a responder e contextualizar quem eram esses homens, quais suas
posições dentro da sociedade da época e suas participações dentro do processo abolicionista.
Todavia, cabe aqui deixar claro que estas perguntas estão subjetivamente intrínsecas no
processo de interpretação do autor, sem a busca direta dessas perspectivas na análise, mas
encontradas no processo posterior da observação da fotografia, seguindo o que é dito em,
“Um historiador que estuda as imagens, dizendo: "E isso que eu estava procurando,
porque essa imagem se inscreve em tal contexto, pertence a tal situação",
naturalmente vai encontrar o que procura, mas não vai encontrar o que não estava
procurando. Por isso, é preciso não procurar nada numa imagem, para ser capaz de
descobrir aquilo em que não estávamos pensando,
que não era imaginável a priori.” (DE MORAES, Marieta apud DUBOIS, Phillipe,
Entrevista, 2003, P.154)
Pode ser vislumbrado também a posição social do indivíduo assim que é observado o
conjunto das vestimentas que o cobria. É notório que, o casaco abotoado cobre uma peça
branca e sobrepõe um conjunto social da época utilizado pela elite em festas ou para registro
de imagens, que pode ser o caso da foto. O "terno" utilizado sinaliza que o homem fazia parte
de uma casta social alta, além de ser uma figura importante pela necessidade do registro
fotográfico que foi outrora exposto em jornal. Além disso, a postura ocular do sujeito fitando
o horizonte parece emular o que deveria ser uma tentativa de tornar a foto ainda mais natural,
como se houvesse uma necessidade de suavizar o personagem registrado para quem pudesse
vir a observá-lo.
Entrando no âmbito secular da fotografia, há de ser dito que, a época da foto corresponde a
séculos atrás e as ferramentas para tal tinham um grau de limitação maior do que os atuais,
porém, a etnia do sujeito pode ser observada e nos diz bastante sobre os tantos outros nuances
e elementos já identificados até aqui. A princípio, a configuração corporal desajustada tende
a esclarecer que, a condição do homem parecia ser mais de desconforto do que desleixo para
o registro devido a condições externas da foto, isto é, partindo do princípio que a foto foi
tirado antes da abolição em seu local de origem (nesse casso, o Brasil) não seria tão comum
que um homem preto estivesse em voga para o registro naquelas condições, fazendo assim
uma quebra de paradigma e um ato em contrapartida as práticas da época, mas ao mesmo
tempo gerando esse desconforto do imprevisível que poderia vir com o registro do mesmo.
Analisando características mais técnicas da imagem, o filtro utilizado que demarca o período
do registro também gera uma reflexão sobre de que forma os artistas fotográficos queriam
que observássemos as pessoas da época. Obviamente há um conflito entre possibilidades de
cores em imagem e intenções de manipular uma fotografia. Aqui, o homem que foi registrado,
por mais que fosse inserido a sociedade como um membro da elite, também pode ter sido
“maquiado” pelo filtro na tentativa de embranquecer sua pele ou até mesmo confundir a
tonalidade da mesma para que o observador não consiga distinguir a tonalidade certa da
mesma. Intencional ou não, o fato é que quando visualizado rapidamente, cria-se uma
corriqueira confusão acerca da etnia do homem, mas logo decai quando é visto as
características étnicas, podendo ser o filtro mais um reflexo do que a sociedade empunhava
para o visualmente aceitável do que uma estratégica sistemática e direta de divergir a ideia
sobre o protagonista da foto. Ainda assim, a possível manipulação da foto deve ser levada em
consideração e faz parte da análise, pois nos diz sobre uma tendência ideológica da época, a
exemplo do que é dito no texto de Ulpiano sobre a autenticidade da imagem, podendo ser
visto em,
“E, se caso pudesse ser confirmada a intenção deliberada de produzir uma imagem
voltada para a indução de determinados efeitos ideológicos, isso seria importante,
como já se afirmou acima, para caracterizar práticas (dominantes ou transgressoras)
Referências Bibliográficas