Você está na página 1de 6

Indústria 4.

0, Inovação Aberta e Sustentabilidade


A indústria 4.0 traz uma série de tecnologias que permitirão o uso mais
eficientes de recursos.

Na Idade da Pedra Polida (de 8000 a.C. a 4000 a.C.), a humanidade que,
era até então caracterizada como caçadores e coletores, passam a
cultivar alimentos e domesticar animais. A Primeira Revolução Industrial
potencializou a motorização da produção através da máquina a vapor
no século XIX. A Segunda Revolução Industrial, por meio do aço e da
eletricidade, deu vida à produção em massa. A Terceira Revolução pode
ser atribuída à automatização eletrônica das linhas produtivas e ficou
também conhecida como revolução digital, que ocorreu cem anos
depois, em meados de 1970. Agora, o mundo assiste à Quarta
Revolução Industrial, baseada na digitalização dos processos industriais.

O termo “Indústria 4.0” surgiu a partir de 2011 de um projeto


estratégico de alta tecnologia do governo alemão, ao promover a
informatização da sua manufatura para estabelecer a Alemanha como
um mercado líder e fornecedor de soluções avançadas. Uma associação
de representantes de negócios, política e academia promoveu a ideia
como uma abordagem para fortalecer a competitividade da indústria
manufatureira alemã [1].

A Indústria 4.0 se apoia em tecnologias atuais como a robotização,


informações na nuvem, Inteligência Artificial, aprendizagem de
máquina, Big Data, Internet das Coisas (IoT), impressão 3D e fábrica
inteligente. Nessa revolução há uma alta valorização do conhecimento,
uma vez que o acesso à informação será cada vez mais acessível às
pessoas.

Embora o termo Indústria 4.0 e o modelo de arquitetura de referência


por trás dele sejam originários da Alemanha, a visão e a realidade da
Quarta Revolução Industrial chamaram a atenção de organizações em
todo o mundo e está em franca expansão.

Os recentes avanços tecnológicos na era digital têm o potencial de


impulsionar a economia baseada no conhecimento e na colaboração em
redes. O paradigma refere-se à evolução tecnológica e paradigmas
futurísticos usando sistemas inteligentes, automação e produção
digitalizada. A Indústria 4.0 diz respeito à integração homem-máquina,
máquina-máquina de modo a ter melhoria contínua e foco em
atividades de agregação de valor, evitando desperdícios [2] e criando
negócios para um futuro melhor.

Entretanto, as organizações vigentes nessa era poderão ter dificuldades


para encontrar recursos humanos qualificados para usar essas
tecnologias, analisar os dados, além da aquisição de equipamentos,
robôs e sistemas. Nesse contexto, vemos o crescimento da importância
estratégica da inovação aberta.

A inovação aberta enfatiza a cooperação e o compartilhamento de


informação para a construção do conhecimento e sobrevivência
organizacional. As tecnologias estão produzindo muita informação que
pode ser compartilhada pelos membros do ecossistema de inovação
aberta e que contribui para a consolidação da Indústria 4.0.

A inovação aberta será cada vez mais necessária para o ganho de


competitividade das organizações, pois as empresas necessitam
construir e compartilhar conhecimento para aprender com as parcerias
e colaborar em redes. A inovação aberta é baseada na pesquisa,
desenvolvimento e comercialização de produtos, gerando uma cultura
de aprimoramento e solução de problemas em grupo.

Grande parte das iniciativas de inovação aberta no contexto da


Indústria 4.0 acontecem nas aceleradoras de startups como estratégia
de solução de problemas, criatividade, aprendizagem e tomada de
decisão em grupo [3].

Esse tipo de inovação pode ocorrer não apenas entre as empresas, mas
podem contar também com instituições de pesquisa e organizações
públicas. O Governo também tem papel crucial na inovação aberta, já
que pode fomentar políticas públicas norteadoras do processo inovador
no que tange a aplicação da propriedade intelectual e desenvolvimento
de patentes. Além de criar subsídios fiscais e financeiros para essas
empresas crescerem e competir internacionalmente. Já as universidade
e instituições de pesquisa contribuem com o conhecimento e
aprendizagem dos estudantes, funcionários e gestores.

Indústria 4.0 e Sustentabilidade

A indústria 4.0 traz um impacto profundo em toda cadeia produtiva


global, embarcando uma série de tecnologias que permitirão o uso mais
eficientes de recursos (físicos, financeiros, informacionais e tempo) e,
como consequência, tornará produtos e serviços mais competitivos. Vê-
se uma forte correlação entre os temas Indústria 4.0, inovação aberta e
sustentabilidade.

A Indústria 4.0 pode ser encarada como uma evolução dos modelos
industriais anteriormente adotados ou como uma nova concepção
associada ao conceito da sustentabilidade em que é necessário a
utilização dos recursos como matéria-prima, energia e água de forma
mais eficiente e sustentável. Há uma descentralização dos processos
por meio do uso de diferentes tecnologias interconectadas que
permitam controlar toda a cadeia produtiva e de logística. Trata-se, em
outras palavras, de realizar a fusão entre os processos físicos, digitais e
biológicos da indústria, proporcionando o surgimento de novos
modelos de negócio, modelos de gestão mais eficientes e tomada de
decisões mais assertiva com base em dados coletados e analisados em
tempo real.

Com a eficiência de sistemas autônomos e inteligentes, é possível


reduzir ao máximo os desperdícios e a ocorrência de falhas na
produção, alinhando os processos produtivos à demanda de um
mercado cada vez mais exigente. E isso representa uma verdadeira
revolução, uma vez que todas essas inovações se unem para um
aumento da capacidade preditiva da indústria, seja no que se refere à
manutenção ou a demandas, à novas oportunidades de mercado e
macrotendências tais como a busca por maior sustentabilidade
ambiental.

Para se ter uma ideia, a Agência Brasileira de Desenvolvimento


Industrial (ABDI) estima que, ao migrar a indústria brasileira para o
conceito 4.0, haverá uma redução anual de custos industriais de, no
mínimo, R$ 73 bilhões [4]. Isso envolve ganhos de eficiência e redução
de custos de manutenção e consumo de energia.

Além de toda essa economia na produção, a Indústria 4.0 proporciona a


adoção de tecnologias que se estendem para o contexto urbano como
um todo. Mais do que oferecer novos recursos que prometem
aprimorar o dia a dia nas cidades, o desenvolvimento tecnológico da
indústria 4.0 deve ser acompanhado do comprometimento com o
próximo e o meio ambiente. Alguns exemplos disso são o
desenvolvimento de construções modernas que utilizam energia de
fontes renováveis, tais como energia solar, assim como a implantação
de sistemas de transporte mais inteligentes e limpos.
Seguindo essa onda da Indústria 4.0, há, de modo geral, grande
concordância entre instituições de pesquisa Amazônicas de que se deve
buscar modelos alternativos e sustentáveis de desenvolvimento e que
uma bioeconomia baseada na floresta em pé deve ser testada e deve
adquirir escala.

Durante décadas, o debate sobre o desenvolvimento da Amazônia se


dividiu entre duas visões opostas sobre o uso da terra: de um lado a
visão de reservar grandes extensões das florestas para fins de
conservação da biodiversidade, denominada “Primeira Via”. Do outro
lado, a visão de desenvolvimento baseado na exploração intensiva dos
recursos naturais, principalmente através de agropecuária, energia e
mineração, denominada “Segunda Via”. E mais recentemente surge o
conceito de “Terceira Via Amazônica”, que propõe criar uma alternativa
inovadora a essas visões opostas, destacando o papel que as novas
tecnologias que chegam irreversivelmente através da Quarta Revolução
Industrial, podem desempenhar e fazer emergir o enorme valor tangível
dos ativos biológicos e biomiméticos da biodiversidade.

Como uma das estratégias de implementação dessa Terceira Via,


chamada Amazônia 4.0, vemos uma iniciativa inovadora, concebida com
vistas à novas oportunidades de pesquisa, tecnologia e aprendizado
para valorizar e proteger os ecossistemas amazônicos e para servir
igualmente aos interesses das populações locais, povos indígenas e
tradicionais, que são seus mantenedores. Ela visa o desenvolvimento de
uma “economia verde”, equitativa e socialmente inclusiva, orientada
para a biodiversidade, aproveitando o valor da natureza através de
produtos sustentáveis das florestas tropicais em pé, com rios que fluem.
A iniciativa “Amazônia 4.0”, em alusão à Quarta Revolução Industrial,
está em seus primórdios de discussão e aprofundamento conceitual.
Além disso, requer a sinergia de esforços, investimentos públicos e
privados e políticas públicas em ciência, tecnologia e inovação voltadas
ao surgimento de uma nova bioeconomia a partir das possibilidades que
emergem da Quarta Revolução Industrial.

As universidades desempenhem papel central nesse contexto.


Primeiramente, formando pessoas para esta nova bioeconomia, algo
ainda muito distante do típico currículo escolar das universidades da
Amazônia, os quais reproduzem modelos de universidades, formações e
carreiras de outras regiões do país. Em segundo lugar, os laboratórios
públicos das universidades e dos institutos de pesquisa devem ser
equipados como ‘laboratórios avançados de biologia’ para fornecer o
conhecimento a ser transformado em aplicações para esta nova
bioeconomia. A formação de uma nova geração de pesquisadores e
empreendedores para esta inovadora bioeconomia, base de uma
revolucionária bioindustrialização para a região.

Impensável há alguns anos, uma escola de negócios localizada no


coração da Floresta Amazônica. Mas, com a criação da Rainforest Social
Business School, há o início da possibilidade de formar uma nova
geração de especialistas capazes de combinar conhecimento científico
com oportunidades de mercado no âmbito da Amazônia 4.0. A iniciativa
visa ser um centro agregador de pesquisas já realizadas e que ainda não
foram aplicadas e sinérgico aos tema de Indústria 4.0, inovação aberta e
sustentabilidade. A escola é coordenada pela Universidade do Estado
do Amazonas (UEA) e tem como parceiro o Instituto de
Desenvolvimento Tecnológico (INDT), que fomenta o
empreendedorismo dos povos da floresta.
Desafios da Indústria 4.0 no Brasil
Segundo a Fundação CERTI, a transição para a indústria 4.0 é gradual e
não ocorre de uma hora para outra. Muitas indústrias já utilizam alguns
dos conceitos de manufatura digital, mas ainda não migraram
totalmente. Isso acontece por alguns motivos, como:

 Fornecedores desatualizados: toda a cadeia produtiva precisa se adaptar


aos novos tempos e isso inclui os fornecedores da indústria.
 Investimentos altos: toda mudança exige um nível de investimento e, com
a conjuntura econômica atual, muitas empresas ainda têm receio de
investir, apesar dos inúmeros benefícios comprovados que são trazidos
pela indústria 4.0.
 Infraestrutura defasada: para a implementação da manufatura digital é
necessário uma infraestrutura potente, que inclui redes móveis e internet
de alta velocidade (em especial, fibra óptica), devido ao grande fluxo de
informações durante os processos industriais.
Mesmo a Indústria 4.0 sendo um contexto propício à inovação aberta,
ela demanda um aumento por ética nas parcerias, devido às questões
como patentes e propriedade intelectual na era digital. Adicionalmente,
os processos derivados da implementação da Indústria 4.0 exigem a
adaptação dos ecossistemas de inovação e dos profissionais. As
tecnologias empregadas são conectadas à sistemas Ciber-Físicos. Por
isso, os profissionais precisam saber como usar essas tecnologias,
buscar a informação e construir conhecimento constantemente.

A indústria 4.0 traz uma série de tecnologias que permitirão o uso mais
eficientes de recursos. Se a consolidação da Indústria 4.0 nos meios
urbanos e industriais convencionais já é desafiadora, quando pensamos
no território Amazônico, outros desafios são adicionados. Questões
como conectividade, logística, adensamento populacional, formação de
recursos humanos e cultura empreendedora são ainda críticos para se
chegar à Indústria 4.0, inovação e sustentabilidade. Por outro lado, a
região já parte de um novo paradigma e pode dar um salto quântico
rumo à Indústria 4.0, inovação aberta e sustentabilidade, caso haja
convergência de fatores ideais necessários.

Você também pode gostar