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CAMPUS DIADEMA
DIADEMA
2021
ARILTON MARTINS FONSECA
DIADEMA
2021
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Tese apresentada, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências, ao
Programa de Pós-Graduação em Biologia Química Stricto Sensu do Instituto de Ciências
Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo – Campus
Diadema.
Presidente da Banca:
_____________________________________________________
Profa. Dra. Eliana Rodrigues
Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema
Avaliadores:
_____________________________________________________
Profa. Dra. Emília Longhi Bitencourt
Universidade Nove de Julho - SP
_____________________________________________________
Profa. Dra. Monica Marques Telles
Universidade Federal de São Paulo – Campus São Paulo
_____________________________________________________
Profa. Dra. Teresa H. Schoen
Universidade Federal de São Paulo – Campus São Paulo
_____________________________________________________
Prof. Dr. Valdir Florencio da Veiga Junior
Instituto Militar de Engenharia – RJ
DIADEMA
2021
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Eliana Rodrigues, pela sua amizade, pela ajuda incansável como
orientadora, pelo exemplo pessoal, pela possibilidade de crescimento científico e
profissional, num tema multidisciplinar complexo que demanda expertise e dedicação.
Ao Prof. Dr. Thiago A. M. Veiga, colaborador deste estudo, pelo incentivo, pelo
apoio, pela criatividade, profissionalismo e empenho nas análises químicas das bebidas
Ayahuasca e do material botânico no Laboratório de Química Bio-orgânica Otto Gottlieb
(LaBIORG) da UNIFESP.
À Profa. Dra. Lívia Soman de Medeiros, colaboradora deste estudo, pelo apoio,
profissionalismo e paciência no ensino das técnicas de laboratório para análise química das
bebidas Ayahuasca e do material botânico no Laboratório de Química Bio-orgânica Otto
Gottlieb (LaBIORG) da UNIFESP, num momento tão especial da sua vida, a maternidade.
À Profa. Dra. Márcia Regina Fumagali Marteleto, pela amizade, pela parceria
científica, pela valorosa e incomensurável colaboração neste estudo na área da Psicologia.
À Profa. Dra. Sonia Aragaki, pela prestimosa colaboração neste trabalho na área da
Botânica.
À Profa. Dra. Mônica Marques Telles, pela confiança, pelo apoio fundamental e
orientações cruciais para tornar esse estudo possível.
Aos filhos do Padrinho Jonas Frederico, Marcos Antonio Santos Frederico e Regina
Célia Santos Frederico, pelas informações, fotografias e documentos sobre a formação da
Igreja Flor de Luz e da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.
Ao Sr. Florentino José Alves Benomino da Silva (Tino), pela sua inestimável
colaboração, pela doação do jagube de seu quintal para a taxonomia e análise química.
Objectives: 1) To describe the history of the Centro Luz Divina, Piedade - SP; 2) describe the
plants involved in making Ayahuasca beverages at the said Center; 3) identify the alkaloids
found in Ayahuasca drinks and in the plants used in the religious rituals of that Center; and
4) evaluate and compare the psychological parameters "cognition", "temperament" and
"religiosity" of experienced users (using Ayahuasca for over 20 years), beginners (using
Ayahuasca for less than 3 years) and control group (not Ayahuasca users). Methods:
Through Ethnography, information was collected from the history of the Centro Luz Divina.
Botany methods were used to collect and identify the plants that are used to make the
Ayahuasca beverages at that Center. Chemical analyzes, via UHPLC-HRMS, were performed
to identify the alkaloids from two drinks and from plants. To assess “cognition”,
“temperament” and “religiosity” an observational, descriptive and cross-sectional study was
carried out, in which 48 people participated, divided into two groups: (a) study group:
subdivided into an experienced group and a beginner group, both composed of 16 people (8
men and 8 women); (b) control group: 16 people (8 men and 8 women), matched by sex, age
group and education. The MANOVA statistical test was used, with statistical significance for
a a ≤ 0.05. Results: The identities of the plants have been confirmed as Psychotria viridis
Ruiz & Pav. (family Rubiaceae) and Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (family
Malpighiaceae). In the two Ayahuasca beverages, only ß-carboline Tetrahidroharmina was
found. In the aqueous extracts of the plants, carried out in the laboratory, the presence of N,
N, Dimethyltryptamine was detected in the leaves of P. viridis, and only Tetrahydroharmina,
in the stems of B. caapi. The sociodemographic data of the study’s participants were
homogeneous. All groups studied have an average intellectual performance. The
experienced group obtained superior performance in relation to the beginner group in the
Digits and Cubes of Corsi tasks. Significant evidence of the Volition emotional dimension was
identified only in the experienced group. The women in the experienced group stood out in
the emotional dimension Control. The experienced group had high scores for religiosity
when compared to the beginner and control groups. Conclusions: The experienced group
obtained superior performance in relation to the beginner group: (a) in tasks that involved
verbal and visuospatial working memory, (b) in the emotional dimension Volition and (c)
religiosity. The participants in the present study do not appear to have cognitive or
neuropsychological impairments, as the test results denote overall preservation of the
assessed cognitive functions.
AChE – Acetilcolinesterase
ACTH – Adrenocorticotropic hormone (hormônio adrenocorticotrófico)
AFECT – Affective and Emotional Composite Temperament
AFECTS – Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo
Afro – Afro-americano
AIS2C – Ativação-Inibição-Sensibilidade-Coping-Controle
ANOVA – Analysis Of Variance (Análise de variância)
ASI – Addiction Severity Index (Escala de gravidade de dependência)
ASSIST – Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (Teste de
Triagem do Envolvimento com Álcool, Cigarro e outras Substâncias)
BA – Brodmann's área (Áreas de Brodmann)
BFI – Big Five Inventory
BMMRS-P – Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade
BOLD – Blood Oxygenation Level Dependent (Imagem dependente do nível de
oxigênio no sangue)
BPRS – Brief Psychiatric Ratings Scale
BrdU+ – Bromodesoxiuridina
CB – Cubos
CE – Córtex entorrinal
CEBRID – Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas
CEFLU – Centro Eclético de Correntes da Luz Universal
CEFLUFLUZ – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Flor de Luz
CEFLURIS – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
c-fos – Genes de ativação imediata (proteína Fos)
CICLU – Centro de Iluminação Cristã Luz Universal
CIDI – Composite International Diagnostic Interview
CID-10 – Classificação Internacional de Doenças – 10ª Revisão
CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
CONFEN – Conselho Federal de Entorpecentes
CRF – Centro de Regeneração e Fé ou Centro da Rainha da Floresta
C18 – Cartucho para extração em SPE (solid phase extraction)
DAD – Diod Array Detector (Detector de arranjo de diodo)
DAG – Diacylglycerol (Diacilglicerol)
DEMEC – Departamento Médico Científico da União do Vegetal
DIMED – Divisão de Medicamentos
d.C. – Depois de Cristo
DMT – N, N, dimetiltriptamina
DOI – 2,5-dimetoxi-4-iodoanfetamina
DP – Desvio Padrão
DSM-III-R – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 3ª Edição,
Revisada
DYRK1A – Dual-specificity tyrosine phosphorylation-regulated kinase (Quinase regulada
por tirosina-fosforilação com dupla especificidade)
EEG – Eletroencefalograma
Egr-1 – Early growth response protein 1
ESI – Electrospray ionization (Ionização por eletropulverização)
EUA – Estados Unidos da América
F – F-statistics ou F-ratio
FDT – Five Digit Test (Teste dos cinco dígitos)
fMRI – functional Magnetic Resonance Imaging (Imagem por ressonância magnética
funcional)
FWHM – Full Width at Half Maximum (Largura total à meia altura)
g – Inteligência geral (Fator “g”)
GABA – Ácido gama-aminobutírico
GC – Gas Chromatography (Cromatografia gasosa)
GD – Giro denteado
GMT – Grupo Multidisciplinar de Trabalho
GPCR – G protein-coupled receptors (Receptores acoplados a proteína G)
HAM-D – Hamilton Depression Rating Scale (Escala de Avaliação de Depressão de
Hamilton)
HIV/AIDS – Human immunodeficiency vírus/Acquired Immuno-Deficiency Syndrome
(Vírus da imunodeficiência humana/Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida)
hNPCs – Human neural progenitor cells (Células progenitoras neurais humanas)
HPLC – High-performance liquid chromatography (Cromatografia líquida de alta
performance)
HPLC-ESI/ – High-performance liquid chromatography-electrospray ionization/tandem
MS/MS mass spectrometry (Cromatografia líquida de alta performance – ionização
por electropulverização acoplada à espectrometria de massa em Tandem)
HRL – Harmalina
HRM – Harmina
HRMS – High resolution mass spectrometry (Espectrometria de massa de alta
resolução)
HRS – Hallucinogen Rating Scale
HTR2A – Gene serotoninérgico – receptor subtipo 2A
HUFSP – Herbário da Universidade Federal de São Paulo
IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
ICEFLU – Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal – Patrono Sebastião Mota
de Melo
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INESP – Instituto Neuropsicológico de São Paulo
IMAO – Inibidor da monoamino oxidase
IP3 – Inositol trifosfato
ISRS – Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina
LC – Liquid Chromatography (Cromatografia líquida)
LC-MS – Liquid chromatography–mass spectrometry (Cromatografia líquida acoplada
à Espectrometria de massas)
LC-MS/MS – Liquid chromatography-Tandem mass spectrometry (Cromatografia líquida
acoplada à Espectrometria de massas em Tandem)
LNUD – III – Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (III)
LOD – Limit of detection (Limite de detecção)
LSD-25 – Lysergic Acid Diethylamide (Dietilamida do ácido lisérgico)
M Scale – Mysticism Scale
MADRS – Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (Escala de Classificação de
Depressão de Montgomery-Asberg)
MANOVA – Multivariate Analysis Of Variance (Análise de variância multivariada)
MAO – Monoamino oxidase
MAO-A – Monoamino oxidase – subtipo A
MAO-B – Monoamino oxidase – subtipo B
MDMA – 3,4-metilenodioximetanfetamina (Ecstasy)
MEC – Ministério da Educação
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MMSE – Mini-Mental State Examination (Mini Exame do Estado Mental)
MRI – Magnetic resonance imaging (Imagem por ressonância magnética)
MS – Mass spectrometry (Espectrometria de massas)
MS/MS – Tandem mass spectrometry (Espectrometria de massa em Tandem)
MT – Mato Grosso
mTOR – Mammalian target of rapamycin (alvo de mamíferos da rapamicina)
m/z – Relação massa-carga
n – Amostra
NA – Noradrenalina
NART – National Adult Reading Test
NS – Não significativo
h2 – Eta parcial quadrado
ONU – Organização das Nações Unidas
OD – Ordem Direta
OI – Ordem Inversa
p – p-valor (significância estatística)
PEP – Peak Experience Profile
PKC – Proteína quinase C
POMS – Profile of Mood States
QI – Quociente de Inteligência
QIE – Quociente de Inteligência de Execução
QIT – Quociente de Inteligência Total
QIV – Quociente de Inteligência Verbal
QTOF – Quadrupole Time-of-flight (Quadrupolo tempo de voo)
R/E – Religiosidade/espiritualidade
r – Correlação de Pearson
RM – Raciocínio Matricial
RMP – Rede Modo Padrão
RPM – Rotações por minuto
SF-36 – Medical Outcomes Study Short Form-36
Sig. – Valor p
SISBIO – Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
SISGEN – Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento
Tradicional Associado
SM – Semelhanças
SNC – Sistema Nervoso Central
SP – São Paulo
SPE – Solid phase extraction (Extração em fase sólida)
SPECT – Single Photon Emission Computed Tomography (Tomografia
computadorizada por emissão de fóton único)
SWB – Spiritual Well-Being Scale
t – teste t de Student
T – Escore Total
TAP – Test de Acentuación de Palabras (Teste de Acentuação de Palavras)
TC – Tecido cerebral
TCI-R – Temperament and Character Inventory – Revised (Inventário de
Temperamento e Caráter)
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
THH – Tetrahidroharmina
TOF – Time-of-flight (Tempo de voo)
TPQ – Tridimensional Personality Questionnaire
TrkB – Tropomyosin receptor kinase B (Receptor de tropomiosina quinase B)
WHO/UCLA – World Health Organization – University of California – Los Angeles Auditory
Verbal Learning Test
UHPLC – Ultra High Performance Liquid Chromatography (Cromatografia líquida de
alta performance)
UHPLC- – Ultra High Performance Liquid Chromatography Untargeted Mixed-Mode
HRMS Tandem Mass Spectrometry (Cromatografia líquida de alta performance
acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução)
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
UDV – Centro Espírita Beneficente União do Vegetal
UV – Ultraviolet (Ultravioleta)
UV/Vis – Ultraviolet-visible (Ultravioleta-visível)
VC – Vocabulário
X2 – Teste Qui-quadrado
YMRS – Young Mania Rating Scale
z – Carga
WAIS-III – Wechsler Adult Intelligence Scale - III (Escala de Inteligência Wechsler para
Adultos – III)
WASI – Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence (Escala Wechsler Abreviada de
Inteligência)
WCST – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas
WCST-64 – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (versão computadorizada)
WISC-IV – Wechsler Intelligence Scale for Children – IV (Escala Wechsler de Inteligência
para Crianças – IV)
5-HT – Serotonina ou 5-Hidroxitriptamina
5-HT1A – Receptor serotoninérgico – subtipo 1A
5-HT2A – Receptor serotoninérgico – subtipo 2A
5-HT2AR – Gene serotoninérgico – receptor subtipo 2A
5-HT2c – Receptor serotoninérgico – subtipo 2C
5-MeO- – 5-metoxi-N, N-dimetiltriptamina
DMT
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 29
1.1 Motivação e contexto .......................................................................................................... 30
1.2 Justificativa .......................................................................................................................... 31
1.3 Hipótese .............................................................................................................................. 32
1.4 Objetivos ............................................................................................................................. 32
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 33
2.1 Ayahuasca ........................................................................................................................... 34
2.1.1 Histórico ......................................................................................................................................... 34
2.1.2 Religiões ayahuasqueiras brasileiras .............................................................................................. 39
2.1.3 Santo Daime ................................................................................................................................... 40
2.1.4 Santo Daime e Santa Maria ............................................................................................................ 45
2.1.5 Aspectos legais do consumo ritual da Ayahuasca no Brasil ........................................................... 46
2.1.6 O uso de plantas psicoativas em contextos rituais ........................................................................ 49
2.1.6.1 A bebida Ayahuasca no contexto ritual ............................................................................ 51
2.1.7 As plantas que compõem a Ayahuasca .......................................................................................... 52
2.1.8 Efeitos neuroquímicos da Ayahuasca............................................................................................. 55
2.1.8.1 Avaliação do perfil químico da Ayahuasca via LC-HRMS .................................................. 58
2.1.9 Neurogênese e Ayahuasca ............................................................................................................. 62
2.1.10 Farmacologia clínica da Ayahuasca .............................................................................................. 64
2.1.11 Efeitos adversos da Ayahuasca .................................................................................................... 68
2.1.11.1 Interações entre medicamentos antidepressivos e o uso da Ayahuasca ....................... 70
2.1.11.2 Relatos de reações psiquiátricas adversas associadas ao uso da Ayahuasca ................. 72
2.1.11.3 Comércio ilegal da Ayahuasca e turismo xamânico ........................................................ 75
2.2 Cognição e seus componentes ............................................................................................. 77
2.2.1 Inteligência ..................................................................................................................................... 78
2.2.2 Memória......................................................................................................................................... 81
2.2.2.1 Estruturas cerebrais relacionadas à memória .................................................................. 81
2.2.2.2 Tipos de memória ............................................................................................................. 82
2.2.2.3 O papel do receptor 5-HT2A na memória e cognição ........................................................ 88
2.2.3 Habilidades visuoespaciais ............................................................................................................. 91
2.2.3.1 Funções visuoespaciais ..................................................................................................... 93
2.2.4 Rede de modo padrão .................................................................................................................... 94
2.2.5 Funções executivas ........................................................................................................................ 96
2.2.5.1 Córtex pré-frontal e as funções executivas ...................................................................... 98
2.2.5.2 Neurobiologia das funções executivas ........................................................................... 100
2.2.6 Cognição e estudos clínicos com Ayahuasca ................................................................................ 105
2.3 Temperamento .................................................................................................................. 111
2.3.1 Modelo AFECT (Affective and Emotional Composite Temperament) ........................................... 113
2.3.1.1 Princípios universais do modelo AFECT .......................................................................... 114
2.3.2 Sistema de temperamento emocional e afetivo .......................................................................... 116
2.3.2.1 Temperamento emocional ............................................................................................. 116
2.3.2.2 Temperamento afetivo ................................................................................................... 116
2.3.2.3 Relações entre os temperamentos emocionais e afetivos ............................................. 119
2.3.3 Estudos com usuários de substâncias psicoativas avaliados com a AFECTS ................................ 121
2.4 Religiosidade ..................................................................................................................... 123
2.4.1 Religiosidade e o uso da Ayahuasca ............................................................................................. 128
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 131
3.1 Ética .................................................................................................................................. 132
3.2 Etnografia .......................................................................................................................... 132
3.3 Coleta e depósito em herbário do material botânico que compõe a bebida Ayahuasca...... 133
3.3.1 Taxonomia do material botânico ................................................................................................. 133
3.4 Análise química das bebidas Ayahuascas obtidas no Centro Luz Divina .............................. 134
3.4.1 Extração em SPE de amostras das bebidas Ayahuasca ................................................................ 135
3.4.2 Análise por LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca............................................................................ 136
3.5 Coleta e preparo do extrato de plantas que compõem a bebida Ayahuasca para análise
química .............................................................................................................................. 137
3.5.1 Extrato aquoso quente das amostras das plantas Ayahuasca ..................................................... 138
3.5.2 Análise por LC-MS/MS das plantas Ayahuasca ............................................................................ 139
3.6 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade ....................................................... 139
3.6.1 Delineamento da pesquisa ........................................................................................................... 139
3.6.2 Seleção da amostra ...................................................................................................................... 140
3.6.3 Sujeitos ......................................................................................................................................... 140
3.6.4 Coleta de dados............................................................................................................................ 140
3.6.5 Instrumentos ................................................................................................................................ 141
3.6.5.1 Questionário de dados sociodemográficos .................................................................... 141
3.6.5.2 Entrevista de anamnese ................................................................................................. 141
3.6.5.3 Escala Wechsler Abreviada de Inteligência – WASI ........................................................ 142
3.6.5.4 Tarefa de Alcance de Dígitos .......................................................................................... 144
3.6.5.5 Tarefa de Cubos de Corsi ................................................................................................ 146
3.6.5.6 Figuras Complexas de Rey .............................................................................................. 148
3.6.5.7 Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST-64) .................................................. 151
3.6.5.8 FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos .............................................................. 153
3.6.5.9 Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS) .............................. 156
3.6.5.10 Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P) .......... 159
3.7 Análise dos dados .............................................................................................................. 160
4 RESULTADOS e DISCUSSÃO .......................................................................................... 162
4.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 163
4.1.1 Bebida Ayahuasca nº 1 ................................................................................................................. 163
4.1.2 Bebida Ayahuasca nº 2 ................................................................................................................. 164
4.1.3 Análise química via LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina ............................. 165
4.1.4 Análise química via LC-MS/MS dos extratos vegetais da P. viridis e do B. caapi ......................... 174
4.1.4.1 Análise química do extrato de folhas de P. viridis, obtido por extração aquosa a
quente ........................................................................................................................................ 174
4.1.4.2 Análise química do extrato de caules de B. caapi, obtido por extração aquosa a
quente ........................................................................................................................................ 177
4.2 Etnografia .......................................................................................................................... 182
4.2.1 História de formação do Centro Luz Divina.................................................................................. 183
4.2.2 Quais os tipos de bebida Ayahuasca são oferecidos aos adeptos no Centro Luz Divina ............. 197
4.2.3 Como ocorre a confecção de cada bebida Ayahuasca (feitio) ..................................................... 199
4.2.4 Cultivo das plantas que compõem a Ayahuasca na Comunidade Céu de Midam........................ 202
4.2.5 Como ocorrem os rituais religiosos no Centro Luz Divina ............................................................ 204
4.2.5.1 Sobre hino e hinários ...................................................................................................... 205
4.2.5.2 A miração ........................................................................................................................ 207
4.2.5.3 O fardamento e a farda .................................................................................................. 207
4.2.5.4 O salão da igreja ............................................................................................................. 209
4.2.5.5 Os trabalhos no Santo Daime ......................................................................................... 212
4.2.6 Cuidados especiais dos sacerdotes (padrinho e madrinha) ao oferecer as bebidas Ayahuasca
aos adeptos................................................................................................................................. 216
4.3 Características sociodemográficas...................................................................................... 217
4.4 Cognição ............................................................................................................................ 218
4.5 Temperamento .................................................................................................................. 243
4.6 Religiosidade ..................................................................................................................... 256
5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................................. 269
5.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 270
5.2 Etnografia .......................................................................................................................... 270
5.3 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade ....................................................... 270
5.4 Temperamento .................................................................................................................. 272
5.5 Religiosidade ..................................................................................................................... 272
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 273
6.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 274
6.2 Etnografia .......................................................................................................................... 274
6.3 Sociodemográfico .............................................................................................................. 275
6.4 Cognição ............................................................................................................................ 275
6.5 Temperamento .................................................................................................................. 276
6.6 Religiosidade ..................................................................................................................... 276
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 277
8 ANEXOS ....................................................................................................................... 313
ANEXO A – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP. .................... 314
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ............................................... 315
ANEXO C – Questionário de dados sociodemográficos ............................................................. 316
ANEXO D – Entrevista de anamnese semiestruturada .............................................................. 317
ANEXO E – Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS) ........................ 318
ANEXO F – Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P) ...... 319
ANEXO G – Ata da Assembleia Geral de Fundação do Centro Eclético da Fluente Luz Universal
Flor de Luz – CEFLUFLUZ, nº 197634 ....................................................................... 320
ANEXO H – Termo de Declarações registrado em cartório do CEFLUFLUZ ................................. 321
29
1 INTRODUÇÃO
30
Desejo compartilhar com o leitor como surgiu o interesse por este tema e,
consequentemente, como esta pesquisa foi realizada.
O interesse pelo tema substâncias psicoativas surgiu em 2001, quando ingressei no
Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), dirigido pelo Prof.
Dr. E. A. Carlini, para participar do I levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil. Nesse período, o CEBRID estava alocado nas dependências do
Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O Prof.
Carlini mantinha dois grupos de estudos sobre drogas psicotrópicas, Epidemiologia e
Plantas Medicinais. Eu participei do grupo de “epidemio”, assim chamado,
carinhosamente, pelos seus componentes, grupo este que tinha duas vertentes principais
de atividades: uma, voltada para a divulgação de informações científicas e, a outra, para a
produção de informações científicas por meio de pesquisas. A Profa. Dra. Eliana
Rodrigues, minha atual orientadora, na época, pertencia ao grupo de plantas medicinais,
que se concentrava principalmente em três diretrizes de trabalho: etnofarmacologia,
fitoquímica e farmacologia/toxicologia.
O primeiro contato com a literatura sobre a Ayahuasca ocorreu no grupo de
epidemio. Em outra ocasião, cumprindo créditos para o mestrado, em 2007, cursei uma
disciplina intitulada “Drogas e contextos socioculturais”, por meio da qual tive a
oportunidade de conhecer o uso ritual da Ayahuasca.
Esta pesquisa é resultado da convergência de diferentes interesses sobre a
Ayahuasca. O meu interesse em estudar a Ayahuasca está relacionado às funções
cognitivas e ao comportamento humano, pois em minha formação como psicólogo fui
atraído pela Neuropsicologia. A dirigente do Centro Luz Divina, Piedade – SP, Sra. Eunice
Durão, desejava uma aproximação da academia para divulgar o uso ritual da Ayahuasca. A
Profa. Eliana é o elo entre a academia e as possibilidades de estudo sobre a Ayahuasca,
como a coleta e depósito em herbário do material botânico estudado; a Etnografia do
Centro Luz Divina e dos rituais; a farmacologia da Ayahuasca; a análise química da
Ayahuasca utilizada nos rituais; a cognição; o temperamento e a religiosidade relacionada
ao ritual; dos indivíduos que praticam o ritual do Santo Daime na Comunidade Céu de
Midam.
31
1.2 Justificativa
1.3 Hipótese
1.4 Objetivos
1
Usuários experientes serão considerados aqueles que utilizam Ayahuasca em rituais por mais de 20 anos, e
usuários iniciantes aqueles que utilizam Ayahuasca em rituais por menos de 3 anos.
33
2 REVISÃO DE LITERATURA
34
2.1 Ayahuasca
2.1.1 Histórico
La Plata
Island
APPROXIMATE LIMITS OF
MAJOR SALITRES
Gulf of
A VALDIVIA PHASE SITE 3
Guayaquil ;| l O ' ^ '
• MODERN CITY
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(3) Figuras de duas e três cabeças que podem representar imagens percebidas durante a
influência das drogas. Além disso, bandejas e outros objetos para o uso de rapés,
representando figuras humanas que têm mais de uma cabeça, às vezes, com simbolismo
fálico. (4) Figuras representando a cadeira cerimonial do praticante religioso, semelhantes
às poltronas usadas hoje pelos bebedores de Ayahuasca, na bacia amazônica equatoriana
e peruana. (5) Figuras Ceini ou zemis, muito parecidas com os ídolos do Caribe, que
costumavam inalar rapé alucinógeno. Os potenciais candidatos para essa parafernália
incluem uma planta chamada cadiente ou borrachera, que cresce abundantemente nessa
área (Ipomoea carnea), cujas flores e sementes contêm, entre outros alcaloides, ergina ou
ácido D-lisérgico-amida. Outras plantas incluem Anadenanthera, uma potente resina
arbustiva alucinógena, bem como rapé virola (SCHULTES, 1970, 1990).
Miller et al. (2019) encontraram um pacote ritual (uma bolsa de pele animal)
recuperado de escavações arqueológicas em um abrigo rochoso localizado no Lípez
Altiplano do sudoeste da Bolívia, conhecido como Cova do Chileno. O local está situado a
uma altitude de aproximadamente 3.900 metros acima do nível do mar e contém
evidências de ocupações humanas intermitentes, durante os últimos 4000 anos. Os
pesquisadores utilizaram a cromatografia em cadeia de espectrometria de massas (LC-
MS/MS – Liquid chromatography-Tandem mass spectrometry) para analisar resíduos
orgânicos do pacote ritual, datado por radiocarbono de aproximadamente 1000 d.C.
Vestígios químicos de DMT, HRM e cocaína foram identificados, sugerindo que pelo
menos três plantas contendo esses compostos eram parte da parafernália xamânica de
mil anos atrás, o maior número de compostos recuperados de um único artefato dessa
área do mundo, até hoje. Esse também é um caso documentado de um pacote ritual
contendo tanto HRM quanto DMT, os dois principais ingredientes da Ayahuasca. A
presença de múltiplas plantas provenientes de áreas ecológicas diferentes e distantes na
América do Sul sugere que as plantas alucinógenas se moviam por distâncias significativas
e que um intrincado conhecimento botânico era intrínseco às práticas rituais pré-
colombianas (MILLER et al., 2019).
Na Figura 2, pode-se verificar o conteúdo do pacote ritual da Cova do Chileno, que
consiste de: (A) bolsa de couro externa; (B e C) tábuas de madeira entalhadas e decoradas
com estatuetas antropomórficas; (D) intrincado tubo de aspiração antropomórfico, com
37
duas tranças de cabelo humano ligadas a ele; (E) bolsa de pele de animal, constituída por
três focinhos de raposa (L. culpaeus) costurados juntos; (F) duas espátulas ósseas de
camelídeo (L. glama); (G) dois pequenos pedaços de material vegetal seco, ligados à lã e
cordões de fibras; (H) e uma faixa têxtil de tecido policromada. Artefatos (E e G) foram
testados usando análise LC-MS/MS (MILLER et al., 2019).
2
Brugmansia suaveolens (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Bercht. & J.Presl. conhecida, entre muitos outros, pelos
nomes comuns de datura, lírio, véu de noiva, trombeta, zabumba (FLORA DO BRASIL, 2020).
38
privar os sentidos [...]”. No século XIX, um viajante alemão que permaneceu no Peru,
entre 1838 e 1842, Tschudi menciona a Ayahuasca e, algum tempo depois, Albis, um
missionário que, em 1854, visitava a região do rio Caquetá, na Colômbia, escreveu sobre o
“yojé” (yagé), utilizado pelos curandeiros indígenas Macaguaje (SCHULTES; CEBALLOS;
CASTILLO, 1986).
A Ayahuasca também é conhecida por diversos nomes, entre eles: caapi, daime,
yajé, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of
the soul, ou vegetal; essas denominações dependem do grupo étnico linguístico e da
localização geográfica. Por exemplo, a denominação de hoasca é uma adaptação para o
português do termo original da língua quéchua como “corda dos mortos”, pois “Aya”
significa “pessoa morta, alma, espírito”, e “Wasca”, “corda, liana, cipó” (GROB et al., 1996;
LABATE, 2002, p. 232).
As primeiras evidências científicas ocidentais sobre a Ayahuasca foram conduzidas
pelo botânico inglês Richard Spruce, entre 1849 e 1864, em expedições pela Amazônia, no
Equador, na Venezuela e no Brasil (GROB et al., 1996; TORRES, 2019).
No final do século XIX e início do século XX, na Amazônia, após a chegada de
trabalhadores rurais, principalmente os seringueiros, a Ayahuasca foi incorporada a
práticas religiosas sincréticas, nas quais a tradição indígena do uso dessa bebida foi
associada a elementos derivados do catolicismo, do espiritismo kardecista, de tradições
religiosas afro-brasileiras e da magia e esoterismo europeu (GOULART, 2005, p. 360;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 129).
A perspectiva de que determinadas plantas possibilitam o acesso a conhecimentos
as vincula ao conceito de “plantas mestras”, ou “plantas professoras”, terminologia
proposta originalmente por Luna (2002, p. 183), em suas pesquisas sobre as práticas de
vegetalistas ribeirinhos que fazem uso da Ayahuasca, na Amazônia peruana. As plantas
mestras são consideradas, muitas vezes, habitadas por um espírito, por uma mãe, são
seres inteligentes, com personalidade própria, com as quais se pode relacionar e aprender
(GOULART; LABATE; CARNEIRO, 2005, p. 34; LIRA, 2018).
Considerada uma planta professora por excelência, a Ayahuasca é caracterizada
como “ensinadora” por meio das suas dimensões psíquicas, históricas e educativas.
Historicamente, há evidências da circularidade dessas plantas em diversas culturas e
sociedade, bem como a influência exercida nos processos de sobrevivência e perpetuação
39
dos saberes grupais. Pode-se destacar o profundo impacto cognitivo que é exercido na
mente das pessoas, bem como a capacidade de mediarem uma multiplicidade de saberes
entre a diversidade de espécies que conformam a farmacopeia indígena amazonense da
Ayahuasca (ALBUQUERQUE, 2017).
caboclas, até mesmo dos movimentos “new age” e rastafári (FERREIRA JÚNIOR, 2017, p.
17; OLIVEIRA; BOIN, 2017; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 129).
Para compreensão do processo de criação da doutrina do Santo Daime é
necessário conhecer a biografia de Raimundo Irineu Serra e de Sebastião Mota de Melo,
que serão apresentadas a seguir.
Raimundo Irineu Serra nasceu em 15 de dezembro de 1892, no município de São
Luiz de Férrer3, estado do Maranhão. Era um negro forte e alto, com 1,98 m de altura,
mas, segundo relatos de seus contemporâneos, sua figura era harmoniosa (FRÓES, 1986,
p. 31; MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 69).
Irineu chegou ao Acre em 1912, com 20 anos de idade, atraído pelo Ciclo da
Borracha. Participou da comissão de limites, que traçou as fronteiras do novo território.
Durante esse período, realizou algumas viagens por países da fronteira brasileira, esteve
na Bolívia e no Peru, onde trabalhou como seringueiro. Nesse contexto, junto aos índios,
caboclos e outros patrícios, conheceu uma bebida misteriosa, denominada Ayahuasca.
Conta-se que Mestre Irineu entrou em contato com a bebida por meio de ayahuasqueiros
peruanos, mas o processo de iniciação ocorreu na fronteira com a Bolívia, acompanhado
pelos irmãos André e Antônio Costa. Foi quando o Mestre Irineu teve uma revelação da
Rainha da Floresta, Virgem da Conceição, que recomendou uma dieta preparatória para
uma missão espiritual pela qual ele seria responsável. Então, Mestre Irineu passou oito
dias na mata, sem contato com mulheres, tomando o chá Ayahuasca e se alimentando
apenas de macaxeira insossa. Foi quando ele recebeu da Virgem os fundamentos da
doutrina e consagrou a bebida com o nome de Santo Daime (FRÓES, 1986, p. 32;
GREGORIM, 1991; REVISTA DO CENTENÁRIO, 1992).
No início da década de 1920, Mestre Irineu migrou para a capital, Rio Branco,
estado do Acre, para trabalhar como soldado da Guarda Territorial, ascendeu a cabo,
depois, abandonou definitivamente a corporação, em 1932 (FRÓES, 1986, p. 37;
GREGORIM, 1991; MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 118).
3
O nome do município é uma homenagem ao frade dominicano São Vicente Férrer (1355-1419), um
pregador da igreja espanhola do século XV, nascido na cidade de Valência – Espanha, e que faleceu na
cidade de Vannes – França, onde foi sepultado (MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 119).
42
4
A colônia 5000 se formou a partir de 25 pequenas colônias, em um total de 380 hectares, congregando 43
famílias de seringueiros organizados sob princípios comunitários que se estabeleceram de acordo com o
trabalho doutrinário do Santo Daime; ficou conhecida por esse nome, porque no passado, com a
desativação do seringal Empresa, a terra foi loteada em colônias que foram vendidas a cinco mil cruzeiros
antigos cada uma (FRÓES, 1986, p. 53).
44
da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (CEFLURIS5), levando consigo 70% dos
adeptos da época (FRÓES, 1986, p. 56; GREGORIM, 1991; MOURA, 2019; POLARI, 1992, p.
101; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 131).
Consta nos preâmbulos doutrinários – Normas de Ritual contidas nos Estatutos
Nacionais do CEFLURIS: “No que pese o nosso respeito e apreço a todas as Igreja e Centros
derivados do tronco do Mestre Irineu, consideramos o Padrinho Sebastião Mota de Melo
o continuador espiritual de sua obra”. A Doutrina, sob a direção do Padrinho Sebastião,
passou por momentos de grande progresso. Foi construído um templo na Colônia 5000 e
a comunidade, que já contava com mais de 40 famílias, encontrou-se em franca expansão
e desenvolvimento. Algum tempo depois, essa área tornou-se insuficiente, pois, devido ao
aumento de número de pessoas ali vivendo, somado à pressão urbana e ao
desmatamento progressivo de grandes latifundiários, a comunidade precisou mudar de
local (GREGORIM, 1991; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 1979, diante dessa adversidade, Padrinho Sebastião decidiu transferir-se para a
floresta virgem com os seus adeptos. Sob a orientação do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que lhe ofereceu novas terras, deu-se início ao
êxodo para o futuro Seringal Rio do Ouro (Km 53 da estrada que ligava Boca do Acre,
Amazonas ao Rio Branco, Acre). Nesse período, parte das terras da Colônia 5000 foi
vendida. Em 1980, ocorreu a implantação do Seringal Rio do Ouro, com cerca de 200
pessoas. Mesmo em meio a muitas dificuldades, a comunidade realizou grandes roçados,
abertura de estradas de seringa; e em 1982 já promovera muitas benfeitorias no local, de
aproximadamente 13 mil hectares, com 36 casas construídas, explorando vinte colocações
de seringas e produzindo 15 toneladas de borracha/ano, além das criações de pato e
galinha (FRÓES, 1986, p. 132; MACRAE, 1992, p. 74; MOURA, 2019). Foi quando uma
grande empresa pecuarista reivindicou os direitos das terras. Assim, o INCRA sugeriu uma
nova instalação para a comunidade, nas cabeceiras do igarapé Mapiá, distante 150 km, ou
seja, seis dias de viagem do Rio do Ouro. Padrinho Sebastião, para evitar qualquer
incidente de origem mais grave, aceitou a proposta. Mais uma vez este povo, sem ajuda
financeira de nenhum órgão ou instituição e contando apenas com sua força de trabalho,
5
O CEFLURIS passou por mudanças em sua organização institucional, alterando sua representação jurídica e
sua denominação, e passou a se chamar IDA-CEFLURIS (Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo
Irineu Serra – CEFLURIS). No entanto, o presente estudo se refere sempre a esse grupo pelo seu antigo
nome, ou seja, CEFLURIS.
45
abandonou as terras produtivas para abrir a Vila Céu do Mapiá (FRÓES, 1986, p. 132;
ICEFLU, 2020; MACRAE, 1992, p. 75; MOURA, 2019; POLARI, 1992, p. 60; REHEN, 2016;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 21 de junho de 1988, por meio do Decreto 96.190, o governo brasileiro criou a
Floresta Nacional Purus, no estado do Amazonas, com área estimada de 256.000 hectares,
subordinada e integrante da estrutura básica do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF) (BRASIL, 1988). Nesse período, a Vila Céu do Mapiá já tinha casas
construídas, coleta do látex das seringueiras, plantações para a subsistência, como:
mandioca, milho, feijão; e um templo para as atividades daimistas, tudo sob o comando
do Padrinho Sebastião (GREGORIM, 1991; ICEFLU, 2020; MACRAE, 1992, p. 75;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 19 de outubro de 2011, sob a Portaria 669, foi considerado que a “Vila Céu do
Mapiá”, que está instalada no interior da Floresta, caracteriza-se como uma comunidade
intencional devotada ao Santo Daime, também constituiu um Grupo de Trabalho para
discutir e avaliar as formas de ocupação, crescimento demográfico e emigração na Vila
(BRASIL, 2011; ICEFLU, 2020).
Após a morte de Mestre Irineu, em 1971, surgiram várias lideranças e Centros que
praticam a doutrina instituída por ele. A vertente mais difundida dessa doutrina, no Brasil
e no exterior, é a Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal (ICEFLU6) – Patrono
Sebastião Mota de Melo (BOUTIN, 2016, p. 36; GOULART, 2019; ICEFLU, 2020; OLIVEIRA,
2011).
6
ICEFLU é a instituição religiosa que promove a doutrina do Santo Daime, cabem ao ICEFLU todos os
assuntos pertinentes à esfera espiritual, como: normas de Ritual, uso do Santo Daime e estudo do canto e
da música; formação dos quadros de dirigentes; plantio, produção e distribuição do Santo Daime para os
grupos filiados.
46
chegados e, seguindo as diretrizes cristãs, recebeu-os em sua comunidade, mesmo que tal
decisão chocasse alguns dos seus seguidores mais conservadores. Porém, essa aceitação
não implicava no relaxamento das regras da doutrina daimista, dentre as quais a
delimitação rígida dos papéis de gênero, a ênfase na importância do trabalho e o
conservadorismo político e moral (MACRAE, 2005, p. 467). Em muitos casos, depois de
passar determinado período na comunidade, alguns desses visitantes se convertiam
totalmente ao novo modo de pensar, cortavam os cabelos e adotavam muitos dos valores
amazônicos. No entanto nem sempre essas conversões implicavam no abandono total de
suas antigas práticas, em particular, quando elas não eram tidas como antagônicas às
doutrinas do Santo Daime ou aos costumes da comunidade. Isso ocorreu com o uso de
certas substâncias psicoativas, em especial as tidas “naturais”, tais como, os cogumelos e
a Cannabis (MACRAE, 2005, p. 468; MORTIMER, 2018, p. 22).
Padrinho Sebastião adotou a Cannabis em cerimônias rituais do CEFLURIS
(GOULART, 2019), chegando à conclusão de que, enquanto a Ayahuasca trabalhava com a
energia espiritual de Cristo, a Cannabis veiculava a energia da Virgem, denominada “Santa
Maria”, não sendo considerada droga, mas uma planta sagrada (MACRAE, 2005, p. 470).
Goulart (2019) menciona um demarcado distanciamento entre o CEFLURIS e
outros grupos ligados às religiões ayahuasqueiras, pois a maior abertura a uma espécie de
experimentalismo com demais plantas psicoativas, além da Ayahuasca, entendidas como
“medicinas sagradas”, incluindo a Cannabis, acirrou a diferenciação entre este grupo e as
outras religiões ayahuasqueiras que se colocaram contra esta prática. Em mobilizações
públicas recentes, os representantes do Alto Santo, da UDV e da Barquinha, apontaram o
uso das chamadas “medicinas sagradas”, presentes no CEFLURIS, como um indício do
distanciamento do que eles consideram como a doutrina “original” e “tradicional”
estabelecida pelos “mestres fundadores” dos “três troncos ayahuasqueiros”: Santo
Daime, Barquinha e UDV (GOULART, 2019; GROISMAN, 2021; MACRAE, 2005, p. 479).
Branco, Acre, o que deflagrou batida policial no local (Colônia 5000), onde foi encontrada
uma plantação contendo cerca de 18 pés da planta (Cannabis) (LABATE, 2005, p. 408;
MACRAE, 2005, p. 475; MORTIMER, 2000, p. 207). É bastante provável que os
desdobramentos do uso da Cannabis pelos adeptos do CEFLURIS, apontados pela
literatura acadêmica, são considerados como alguns dos principais fatores responsáveis
pela associação da Ayahuasca à questão das “drogas” e pelo aumento da visibilidade do
fenômeno nos meios de comunicação (MACRAE, 2005, p. 475; MORTIMER, 2000, p. 223).
MacRae (2005, p. 475) destaca que esse episódio da batida policial na Colônia 5000 foi
objeto da primeira notícia divulgada em rede nacional pela mídia7, em 1982.
Esse evento também é tido como estopim para uma série de medidas
governamentais, com o intuito de investigar o uso da Ayahuasca. Assim, em 1982, foi
criada pelo governo brasileiro a primeira comissão8 de investigação sobre as práticas do
CEFLURIS em relação ao consumo ritual da Ayahuasca (LABATE, 2005, p. 408; MACRAE,
2005, p. 475).
Apesar da comissão de 1982 ter emitido um parecer favorável à liberdade do uso
ritual da Ayahuasca, em 1985, a Divisão de Medicamentos (DIMED) do governo federal
incluiu as espécies vegetais utilizadas na composição da Ayahuasca na lista de substâncias
proscritas, ou seja, proibidas. Na intenção de impedir totalmente esse impasse
institucional e atender à demanda das religiões da Ayahuasca que contestaram a
proibição, o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) criou um grupo de trabalho
sem a presença da força policial, o qual tinha por objetivo “examinar a questão da
produção e consumo das substâncias derivadas daqueles vegetais, em todos os seus
aspectos” (BRASIL, 1985), meses depois, suspendeu provisoriamente os efeitos da Portaria
02/85 da DIMED (BRASIL, 1986). Em 26 de agosto de 1987, um relatório final, apresentado
por esse grupo de trabalho, foi favorável à exclusão definitiva das espécies vegetais que
integram a elaboração da bebida denominada Ayahuasca da lista de substâncias proscritas
7
MacRae refere-se à matéria veiculada em agosto de 1982, pela Folha de São Paulo, intitulada “Seita no Acre
usaria drogas em cerimônias”, que cita uma mobilização do Departamento de Polícia Federal para apurar
denúncia sobre a existência de uma seita misteriosa, no estado do Acre, cujos adeptos consumiriam
alucinógenos em larga escala durante os cultos, denominando a comunidade “seita da maconha” (FOLHA DE
SÃO PAULO, 1982).
8
De acordo com Mortimer (2000, p. 224), essa comissão foi formada pelo Procurador Geral da República no
Acre, o Delegado Regional da Polícia Federal e o Comandante da Região Militar sediada em Rio Branco.
Ainda segundo o mesmo autor, integraram essa comissão o psicólogo Paulo Roberto, a historiadora Vera
Fróes, o psiquiatra Joaquim Carvalho e o antropólogo Fernando La Roque Couto.
48
pela DIMED. Assim, o uso da Ayahuasca para fins rituais passou a ser definido como não
criminoso (LABATE, 2005, p. 409).
Em 1992, respondendo a novos questionamentos e denúncias de que as religiões
da Ayahuasca se constituíam em organização criminosa, o CONFEN realizou nova
avaliação e concluiu, outra vez, pela autorização do uso. Entre 1995 e 1997, foi
estabelecida uma polêmica sobre o consumo da Ayahuasca por menores de 18 anos de
idade. O CONFEN aconselhou que pessoas dessa faixa etária não consumissem a
Ayahuasca, assim como pessoas com transtornos mentais. Nos anos 2000, a situação do
uso religioso da Ayahuasca, no Brasil, ainda era instável, pois não existia legislação ou
medida administrativa específica para regular claramente essa prática. Dessa maneira, os
grupos religiosos estavam na completa dependência arbitrária de políticos. Em 2002, o
Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), antigo CONFEN, nomeou a Câmara
de Assessoramento Técnico e Científico sobre o uso da Ayahuasca, a fim de sanar essa
deficiência (BRASIL, 2002). Em parecer técnico de 2004, reiterou-se a liberdade do uso
religioso da Ayahuasca e, no mesmo ano, o CONAD criou o Grupo Multidisciplinar de
Trabalho (GMT), com o objetivo de redigir um documento que traduzisse a deontologia do
uso da Ayahuasca no país (BRASIL, 2004). Diferentemente das experiências anteriores,
que apenas consultavam e pesquisavam os grupos religiosos, o GMT Ayahuasca deveria:
9
O paradigma proibicionista orienta a relação planetária com as substâncias psicoativas e se assenta em três
convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), vigentes e complementares: a Convenção Única
sobre entorpecentes de 1961, que revogou as convenções anteriores e foi revista em 1972; o Convênio
sobre substâncias psicotrópicas, de 1971; e a Convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas, de 1988 (Convenção de Viena).
50
A Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae) (ver FOTOGRAFIAS 1 e 2), arbusto
nativo do território brasileiro, ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Minas Gerais e São
Paulo, nos biomas mata Atlântica e floresta Amazônica (ver FIGURA 3). Foi descrita pela
primeira vez por Ruiz & Pavón, em 1779 (ARANHA; TRAVAINE; CORREA, 1991; QUINTEIRO
et al., 2006), conhecida como chacrona, rainha, além de outras nomenclaturas, possui em
suas folhas o alcaloide alucinógeno DMT. A P. viridis é um grande gênero de arbustos e
pequenas árvores encontradas em regiões tropicais de todo o mundo (incluindo cerca de
1.400 espécies) e sua taxonomia é complexa, pertence à família Rubiaceae (BRITO, 2002,
p. 628; CARLINI, 2003; MCKENNA; TOWERS; ABBOTT, 1984).
Muitas outras espécies são morfologicamente semelhantes à P. viridis e algumas
são provavelmente utilizadas para preparar a Ayahuasca. Outras espécies também podem
ser utilizadas, como Psychotria carthagenensis, Psychotria leiocarpa e Diplopterys
cabrerana (BRITO, 2002, p. 628; CARLINI, 2003; GATES, 1982; MCKENNA; TOWERS;
ABBOTT, 1984; SAÉZ, 2014).
53
Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
Figura 3 – Distribuição geográfica da Psychotria viridis: Norte (Acre, Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais, São
Paulo)
(ARANHA; TRAVAINE; CORREA, 1991; O'CONNEL; LYNN, 1953). É conhecida como yajé,
mariri, caapi, jagube, entre outras denominações, e é um cipó ou parreira gigante,
pertence à família Malpighiaceae, proveniente das zonas tropicais da América do Sul e
Antilhas (CALLAWAY; GROB, 1998).
Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
Figura 4 – Distribuição geográfica do Banisteriopsis caapi: Norte (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia) e Centro-
Oeste (Mato Grosso)
(BARBOSA; GIGLIO; DALGALARRONDO, 2005; DOS SANTOS et al., 2007; DOS SANTOS et al.,
2016a; DOS SANTOS et al., 2016b), Parkinson (KATCHBORIAN-NETO et al., 2020;
SAMOYLENKO et al., 2010), mindfulness (SOLER et al., 2016; MURPHY-BEINER; SOAR,
2020), assim como no bem-estar psicossocial, estilo de vida e estratégias de
enfrentamento (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; ONA et al., 2019; SCHENBERG et al., 2015).
Nesse sentido, é de suma importância compreender as técnicas utilizadas para a
determinação e a quantificação dos compostos ativos que compõem a Ayahuasca.
A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC – High-performance liquid
chromatography) confere a possibilidade de separação de compostos-alvo, mesmo que
estes façam parte de uma complexa mistura de substâncias (WILSON, 2010, p. 435). Por
sua vez, a espectrometria de massas (MS – Mass spectrometry) é essencialmente uma
técnica analítica instrumental que permite a identificação da composição química de
determinado composto, ou de diferentes compostos, por meio da determinação de suas
massas moleculares na forma iônica (isto é, com carga elétrica positiva ou negativa),
baseada na sua movimentação através de um campo elétrico ou magnético. Essa
movimentação é determinada pela razão entre a massa (m) de determinado composto
(analito) sobre sua carga (z), ou seja, m/z (relação massa-carga). Portanto, conhecendo o
valor de m/z de uma molécula, em especial utilizando-se de instrumentos de aquisição em
alta resolução e exatidão de massas (HRMS – High resolution mass spectrometry), como
analisadores do tipo TOF (Time-of-flight), Q-TOF (Quadrupole Time-of-flight) e Orbitrap™,
é possível deduzir sua composição química elementar e, assim, determinar sua estrutura a
partir de consultas em bancos de dados e na literatura (AITKEN, 2010, p. 352; VAN
BRAMER, 1998, p. 23). Por isso, na atualidade, o acoplamento LC-MS (Liquid
chromatography–mass spectrometry) se trata de uma das técnicas mais utilizadas para
análises de identificação de produtos naturais (NIELSEN et al., 2011).
De forma geral, os sistemas de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de
massas (LC-MS – Liquid chromatography–mass spectrometry) compreendem um sistema
de inserção de amostras líquidas (HLPC – High-performance liquid chromatography),
podendo ou não conter o próprio detector (geralmente detector ultravioleta), hifenado
aos espectrômetros de massas (ver FIGURA 6). Estes, por sua vez, são constituídos por:
um sistema de alto vácuo (10-6 torr ou 1 µtorr), uma fonte de íons para converter
moléculas em íons de fase gasosa, permitindo a detecção dos compostos na forma
60
ionizada; um filtro/analisador de massas (podendo ser do tipo TOF; quadrupolo; Ion Trap;
Orbitrap™ ou, mesmo, analisadores hifenados, como Q-TOF); um detector (pode ser um
dínodo de conversão, multiplicador de elétrons ou placa de microcanais); e, finalmente,
um sistema de conversão e tratamento de dados (computador) (AITKEN, 2010, p. 354).
Filtro/
Fonte de Sistema de
Entrada analisador Detector
íons dados
de massa
• Sólido
• Líquido
• Gasoso
1 2 3 4 5 Time [min]
Espectro de massa
Lima da Cruz et al. (2019) realizaram um estudo no qual foi testado se a 5-metoxi-
N, N-dimetiltriptamina (5-MeO-DMT), composto psicodélico natural, é capaz de aumentar
a proliferação de células do giro denteado (GD) da formação hipocampal em
camundongos adultos. Os resultados mostraram que uma única injeção
intracerebroventricular de 5-MeO-DMT aumenta o número de células de
bromodesoxiuridina (BrdU+) no GD. Concluíram que uma dose única de 5-MeO-DMT
pode aumentar a proliferação, a capacidade de sobrevivência e acelerar a maturação dos
neurônios recém-nascidos no GD, provocando alterações morfológicas e funcionais. Esse
trabalho foi o primeiro a demonstrar um efeito direto de um composto psicoativo natural
na neurogênese adulta em seres vivos.
Ly et al. (2018) demonstraram que compostos psicodélicos, como o LSD, a DMT e
DOI (2,5-dimetoxi-4-iodoanfetamina), aumentam a complexidade do espinho dendrítico,
promovem o crescimento da coluna dendrítica e estimulam a formação de sinapses,
efeitos celulares semelhantes aos produzidos por antidepressivos de ação rápida. Assim,
os psicodélicos serotoninérgicos são capazes de aumentar robustamente a neuritogênese
e/ou espinogênese in vitro (culturas corticais de ratos maduros) e in vivo (larvas de
Drosophila). Essas mudanças na estrutura neuronal foram acompanhadas por várias
funções e números de sinapses aumentados, medidos por microscopia de fluorescência e
eletrofisiologia. As alterações estruturais induzidas pelos psicodélicos parecem resultar da
estimulação das vias de sinalização TrkB (Tropomyosin receptor kinase B), mTOR
(Mammalian target of rapamycin) e 5-HT2A e podem explicar a eficácia clínica desses
compostos relacionados à depressão.
63
MAO, mas não da DYRK1A (pargilina). Os resultados mostraram que o HRM aumenta a
proliferação de hNPCs e sugerem que a inibição de DYRK1A pode explicar seus efeitos
sobre a proliferação in vitro e os efeitos antidepressivos in vivo.
(2,2 mL/kg, 0,8 mg de DMT/mL), cada sujeito bebeu 120–200 mL de Ayahuasca (2,2 mL/kg
de peso corporal). A Ayahuasca usada no experimento continha 0,8 mg/mL de DMT e 0,21
mg/mL de HRM, não foi detectada HRL, as amostras foram analisadas por cromatografia
em fase gasosa/espectrometria de massas (GC/MS). Cada sujeito realizou duas sessões de
fMRI. Na primeira sessão, os sujeitos foram escaneados antes da ingestão de Ayahuasca e,
imediatamente após a primeira varredura, os indivíduos tomaram o chá. Para estimar o
curso das mudanças psicológicas associadas à ingestão de Ayahuasca, foram aplicadas
duas escalas psiquiátricas, em intervalos de 0, 40, 80 e 200 minutos após a ingestão de
Ayahuasca: a Brief Psychiatric Ratings Scale (BPRS), para detectar sintomas psicóticos, e a
Young Mania Rating Scale (YMRS), para medir os sintomas da mania. Áreas
estatisticamente significantes de aumento do sinal BOLD [q (FDR) <0,05] compreenderam,
segundo as áreas de Brodmann (1909) (BA): precuneus bilateral (BA7, 18, 19, 31), cuneus
(BA17, 18, 19, 30), giro lingual (BA17, 18, 19, 30), giro fusiforme (BA19 e 37), giro occipital
médio (BA18, 19, 37), giro parahipocampal (BA30), giro cingulado posterior (BA23, 29, 30,
31), giro temporal superior (BA22 e 42), giro frontal superior e médio (BA8, 9, 10, 47) e
giro frontal inferior (BA47). Modulação estatisticamente significante também foi
detectada bilateralmente no giro parahipocampal (BA30), no córtex temporal médio
(BA37) e no córtex frontal (BA10). Os resultados mostram uma resposta consistente e
esperada em centros de idiomas expressivos, como a área de Broca (BA44). Os resultados
da análise de conectividade indicam que a ingestão de Ayahuasca altera fortemente as
relações fronto-occipitais, produzindo mudanças marcantes na ordenação temporal dos
eventos, em várias regiões do cérebro. Em particular, a ingestão de Ayahuasca é
acompanhada por uma capacidade aumentada de BA17 para liderar outras áreas corticais
durante as imagens. A prevalência funcional e a precedência temporal do BA17 durante as
imagens pós-Ayahuasca sugerem que as visões causadas pela ingestão da Ayahuasca são
robustas, mesmo com os olhos fechados, e podem de fato iniciar-se no córtex visual
primário.
Meneguetti e Meneguetti (2014) realizaram uma revisão bibliográfica,
descrevendo os benefícios à saúde humana ocasionada pela ingestão do chá Ayahuasca,
assinalando-o como um instrumento promissor para o tratamento de diversas
enfermidades e dependências químicas. Os autores também constataram que o chá traz
benefícios para seus usuários no contexto social e em sua ação neuropsicológica,
67
conhecidas (CALLAWAY et al., 1999; DOS SANTOS, 2007; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE,
2010; RUFFELL et al., 2020).
Nos EUA, em Centros de Controle de Venenos, foram registradas 538 ligações
telefônicas, em um período de 10 anos (2005 a 2015), para denúncias de exposições à
bebida Ayahuasca. A maioria das chamadas foram de unidades de saúde (83%), 11%
envolveram pacientes internados em enfermarias e 17% pacientes internados em unidade
de terapia intensiva. Cinco por cento dos pacientes necessitaram de intubação
endotraqueal, 2% tiveram convulsões e 2% tiveram parada cardiorrespiratória. Nenhuma
informação adicional foi disponibilizada sobre a dosagem da bebida Ayahuasca, uso
concomitantes de medicamentos ou uso de drogas ilícitas, consequentemente, não foi
possível atribuir causalidade a bebida Ayahuasca (FU; MORALES; CABADA, 2021).
A DMT presente na bebida Ayahuasca aumenta rapidamente os batimentos
cardíacos, bem como a pressão arterial, tanto a sistólica quanto a diastólica. Assim como
as β-carbolinas (HRM, HRL e THH) contribuem para o aumento da quantidade de 5-HT na
fenda sináptica, o acúmulo excessivo destas pode produzir uma série de reações adversas,
como efeitos eméticos, diarreicos, tremores, sudoreses, instabilidade autonômica,
hipertermia, espasmos musculares, alterações na pressão sanguínea, perda do controle
motor, desorientação espaço-temporal e, possivelmente, morte (CALLAWAY et al., 1999;
GABLE, 2007) provocada pela síndrome serotoninérgica, que é caracterizada pelo excesso
de estimulação dos receptores de 5-HT, principalmente os receptores 5-HT1A e 5-HT2A no
sistema nervoso periférico e central (MACHADO et al., 2020).
As reações fisiológicas provocadas pela bebida Ayahuasca são tratadas como
“naturais” dentro do contexto ritual, a simbologia do vômito e da diarreia está associada à
limpeza corporal e espiritual (purificação), e muitas vezes é denominada, entre os
daimistas, “peia do Daime” (ANDERSON et al., 2012; LABATE; PACHECO, 2011, p. 78;
MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 161, WOLFF, 2020, p. 59). As reações adversas do uso da
bebida Ayahuasca podem causar efeitos fisiológicos ainda mais graves no organismo,
como desidratação e descompensação eletrolítica, agravamento este ainda mais sério em
crianças que também usam a bebida Ayahuasca (COSTA; FIGUEIREDO; CAZENAVE, 2005).
Efeitos colaterais, como desconforto físico ou dor crônica, podem ser exacerbados pela
Ayahuasca (CALLAWAY et al., 1999; GABLE, 2007).
70
A posição atual do ICEFLU (2020) é adotar medidas ainda mais exigentes para
aprimorar os mecanismos de triagem e garantir que eles possam ser cumpridos por todas
as igrejas filiadas, o que pressupõe a preparação e a capacitação de pessoal especializado
para manejar entrevistas, anamneses e identificar casos suspeitos e problemáticos,
melhorando os mecanismos de recepção de indivíduos que busquem as igrejas daimistas.
Mesmo no caso das pessoas consideradas aptas para participar das cerimônias religiosas
regularmente, depois de passar pelas entrevistas e trabalho de apresentação, tem-se um
rígido controle sobre as doses do sacramento (bebida Ayahuasca) que são indicadas para
cada tipo de trabalho, dependendo do grau e concentração do mesmo.
seguinte descrição “Este pacote de ervas contém os ingredientes mais importantes para
criar sua própria bebida xamânica de Ayahuasca”. O valor desses ingredientes varia de 16
a 180 dólares, em um site hospedado em Amsterdam, Holanda. Sites como este estão
disseminados pela internet (FU; MORALES; CABADA, 2021).
O turismo xamânico é outro modo de se experimentar a bebida Ayahuasca, no
Peru, na Colômbia e no Brasil (FU; MORALES; CABADA, 2021; WOLFF, 2020). Wolff (2020,
p. 11) relata que, desde a década de 1980, o turismo-Ayahuasca tem se desenvolvido no
Peru, tornando-se um negócio profissional nos últimos 20 anos, devido à demanda
ocidental por ideias e orientações pessoais, catarse emocional, revelação e epifania
espiritual, cura psicossomática e "experiência aventureira". Outro ponto importante do
turismo ocidental da Ayahuasca fica na cidade de Iquitos, localizada na selva do norte do
Peru. Atualmente, aparecem cada vez mais “centros de cura” e lojas que atendem
principalmente viajantes urbanos e ocidentais e oferecem seus rituais de Ayahuasca na
internet. Muitas vezes, é oferecida uma combinação de Ayahuasca-xamanismo e outras
atividades, como visitas a comunidades locais, palestras e seminários mais detalhados
sobre Ayahuasca. Pousadas profissionais geralmente oferecem acomodações com tudo
incluso, e os xamãs que administram esses centros são oriundos de grupos nativos de
diferentes tradições (WOLFF, 2020, p. 11).
Entre as clínicas e “spas” que oferecem sessões de consumo da bebida Ayahuasca,
variam desde luxuosos hotéis, localizados na Amazônia, até cabanas isoladas, onde o
participante pode se submeter a duras e realísticas dietas de iniciação, todas as
modalidades são acompanhadas por curandeiros especializados para esse fim (LABATE,
2005, p. 442). Essas práticas podem promover o uso indiscriminado ou recreativo da
bebida Ayahuasca e facilitar a sua utilização por grupos mais amplos da população, que
ficam expostos a riscos (FU; MORALES; CABADA, 2021; LABATE, 2005, p. 442; TUPPER,
2008). Santos e Carlini (1983), baseados em um estudo com animais, verificaram que
indivíduos carentes de sono podem ter uma sensibilidade ligeiramente aumentada em
relação à síndrome serotoninérgica, chamando a atenção para um fator de risco entre os
“turistas da Ayahuasca”, os quais, devido a voos longos em vários fusos horários, ficam
mais suscetíveis a essa síndrome.
Problemas relacionados ao uso da Ayahuasca fora do contexto religioso ainda são
desconhecidos, dados os poucos casos notificados frente ao grande número de doses
77
2.2.1 Inteligência
2.2.2 Memória
sugerido que ela avalie a importância emocional de uma experiência e, portanto, ative o
nível de atividade do hipocampo (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 12).
Repetição de manutenção
Memória Memória
Input Memória
de curta de longa
sensorial sensorial Atenção Codificação
duração duração
Recuperação
Figura 10 – O modelo inicial de memória de trabalho proposto por Baddeley e colaboradores. As setas
duplas servem para representar a transferência paralela de informações para e a partir do esboço, enquanto
as setas simples, o processo de repetição consciente no interior da alça fonológica
Executivo
Esboço central Alça
visuoespacial fonológica
Figura 11 – O fluxo de informações através dos sistemas de memória, de acordo com a concepção do
modelo modal de Atkinson e Shiffrin
Armazenamento de
Registros sensoriais curta duração
Armazenamento de
Visão Memória de
longa duração
trabalho temporária
Input do Audição Processamento de controle: Armazenamento
ambiente • Repetição permanente da
• Codificação memória
• Decisões
Tato
• Estratégias de evocação
Output (resposta)
informações sobre o mundo, por exemplo, o significado da palavra casa ou a cor de uma
maçã madura. A memória implícita se refere a situações em que, de alguma forma, o
aprendizado ocorreu, no entanto, refletem-se no desempenho em lugar da lembrança
evidente, por exemplo, andar de bicicleta ou tocar um instrumento (BADDELEY, 2011a, p.
22; CAMMAROTA; BEVILAQUA; IZQUIERDO, 2013, p. 246; GAZZANIGA; HEATHERTON,
2005, p. 224).
Memória de longa
duração
Explícita Implícita
(memória (memória não
declaraAva) declarativa)
associativa) como para a região ipsilateral (CA1), via colateral de Schaffer. Os neurônios
piramidais CA1 enviam seus axônios para o subiculum (Sb), de onde, por sua vez,
projetam-se para fora do hipocampo, de volta ao CE (ver FIGURA 15).
822 PART | IV Hallucinogens
(c)
“o que”
orks of visuospatial processing. a | The original formulation1,2,3 of the dorsal and ventral streams in
ey. The ventral stream is a multisynaptic pathway projecting from the striate cortex (area OC) to area
mporal cortex, with a further projection from area TE to ventral prefrontal regionFonte: FDv. TheKravitz
dorsal et al. (2011).
aptic pathway projecting from striate cortex to area PG in the inferior parietal lobule, with a further
a PG to dorsolateral prefrontal region FD∆. On the basis of the effects of lesions in monkeys, the ventral
a ‘What’ pathway supporting object vision, whereas the dorsal stream was labelled a ‘Where’ pathway
A primeira
vision. b | The top panel depicts the location of the lesionsrota (onde)
in patient é subdividida
D.F. (shown em três vias: (a) o primeiro circuito parte do
in blue and indicated
at led to impairment in object perception but not in the accuracy of orienting her hand when reaching
. This pattern of results led to the proposal , depicted in the bottom panel, that the dorsal stream is
8,90
www.nature.com/reviews/neuro
10
Com base nos efeitos das lesões em macacos, a rota ventral foi denominada uma via “o que”, por suportar
a visão do objeto, enquanto a rota dorsal foi rotulada via “onde”, por suportar a visão espacial.
93
A rede de modo padrão (RMP), também conhecida como rede padrão, ou rede
cerebral padrão, é uma rede cerebral de larga escala de regiões do cérebro em interação,
conhecidas por terem atividades altamente correlacionadas entre si e distintas de outras
redes cerebrais. Em particular, a RMP é a mais ativa do sistema cerebral quando os
indivíduos são deixados a pensar por si mesmos sem ser perturbados, ou seja, quando o
cérebro está em estado de repouso ou em divagação mental, sem fixar sua atenção em
nenhuma tarefa específica. A RMP também aumenta quando os indivíduos se envolvem
em tarefas focadas internamente, como pensar sobre si mesmo, incluindo lembranças,
considerando interações sociais e pensar no próprio futuro. Essas propriedades sugerem
que a RMP funciona para permitir explorações mentais flexíveis (simulações) que
fornecem um meio de se preparar para eventos futuros relevantes, antes que eles
aconteçam (BUCKNER; ANDREWS-HANNA; SCHACTER, 2008; RAICHLE, 2015).
Os principais componentes anatômicos que constituem a RMP são um conjunto de
regiões cerebrais que inclui o córtex de associação, componentes sensoriais e córtex
motor, presentes no cérebro humano, primata não humano, gatos e roedores (RAICHLE,
2015). Em particular, o córtex pré-frontal medial está intimamente envolvido, assim como
o córtex cingulado anterior e posterior, o lobo parietal inferior, a formação hipocampal e o
córtex temporal lateral (BUCKNER; ANDREWS-HANNA; SCHACTER, 2008; LEZAK et al.,
2012, p. 92; RAICHLE, 2015).
Algumas abordagens são convergentes na definição da RMP, várias observações
específicas são evidentes nessa análise de sobreposição. Primeiramente, a formação
hipocampal de alta disponibilidade está envolvida na RMP, independentemente da
abordagem usada (desativação induzida por tarefas ou conectividade funcional), mas, em
relação à linha média posterior cerebral e às regiões pré-frontais, a formação hipocampal
é menos proeminente em relação à abordagem de desativações induzidas por tarefas.
Segundo, várias regiões da RMP são funcionalmente correlacionadas com a formação
hipocampal, reforçando a noção de que o lobo temporal medial está incluso na rede. A
95
Figura 17Buckner
– Correlações
et al.: Thedas áreas
Brain’s arquitetônicas
Default Network do córtex pré-frontal medial do homem e do macaco11
Macaco Humano
FIGURE 6. Architectonic areas within medial prefrontal cortex (MPFC) are illustrated for the monkey
and human. The Fonte: Buckner,
human MPFC Andrews-Hanna
is greatly expanded relativee to
Schacter (2008).
the macaque monkey. This expansion is
depicted by the triangle and asterisk that plot putative homologous areas between species based on
Öngür et al. (2003). Area 32 in the macaque is homologous with area 32pl in the human. Area 24c is
expanded and homologous to the caudal part of area 32ac in human. The MPFC region activated within
O córtex pré-frontal medial humano é bastante expandido em relação ao macaco.
the human default network likely corresponds to frontalpolar cortex and its rostral expansion (areas 10m,
10r, and 10p), anterior cingulate (areas 24 and 32ac), and the rostral portion of prefrontal area 9.
Because of differences in functional properties, we sometimes differentiate in this review between dorsal
Essa expansão é representada pelo triângulo e asterisco que traçam áreas homólogas
and ventral portions of MPFC (dMPFC and vMPFC). Adapted with permission from Öngür et al. (2003).
entre as espécies. A área 32, no macaco, é homóloga à área 32pl, no ser humano. A área
parallel areas implicated as components of the default ysis of the functional correlations between regions.
24c é expandida
network. e homóloga à parte caudal da área
FIGURE32ac
7 plotsem humanos.
maps A região
of the intrinsic do córtex
correlations as-
At the broadest level, an important principle sociated with three separate seed regions within the
pré-frontal medial
emerges da RMPthese
from considering humana
anatomicprovavelmente
details: the defaultcorresponde ao the
network in humans: córtex frontal
hippocampal polar e
forma-
default network is not made up of a single monosynap- tion including a portion of parahippocampal cortex
sua expansão rostral
tically connected (áreas
brain system.10m,
Rather,10r e 10p),
the architec- cingulado
(HF+), dMPFC,anterior
and vMPFC. (áreas 24 e 32ac) e a
The hubs—PCC/Rsp,
ture reveals a series of interconnected subsystems that vMPFC, and IPL—are revealed as the regions showing
porção converge
rostralon dakeyárea
“hubs,” in particular9the
pré-frontal doPCC, that
macaco complete
(BUCKNER; overlapANDREWS-HANNA;
across the maps. HF+ forms a sub-
SCHACTER,
are connected with the medial temporal lobe memory system that is distinct from other major components
2008). system. In the next section, we explore evidence for
these subsystems from functional connectivity analysis
of default network including the dMPFC: both are
strongly linked to the core hubs of the default network
in humans. but not to each other. We suspect further analyses will
reveal more subtle organizational properties. Of note,
The Default Network Comprises Interacting the map of the default network’s hubs and subsystems
Subsystems shown in FIGURE 7 bears a striking resemblance to the
The default network comprises a set of brain regions original map of Shulman et al. (1997, FIG. 2) and up-
that are coactivated during passive task states, show in- dates the description of the network to show that it
trinsic functional correlation with one another, and are comprises at least two interacting subsystems.
connected via direct and indirect anatomic projections Normative estimates of the correlation strengths
as estimated from comparison to monkey anatomy. between regions within the default network are pro-
However, there is also clear evidence that the brain vided in FIGURE 8. The bottom panel of FIGURE 8
96
Figura 18 – Esquema geral dos componentes que integram as funções executivas: memória operacional,
flexibilidade cognitiva e controle inibitório
Flexibilidade
Cognitiva
Possibilita pensar criativamente
em diferentes perspectivas,
adaptar-se de forma rápida e
flexível às novas circunstâncias.
Figura 19 – Áreas do córtex cerebral, de acordo com Brodmann, dispostos em três aspectos anatômicos
principais: lateral, medial e orbital
M
MACACO
ESQUILO GATO
MACACO
RHESUS CÃO
CHIPANZÉ
HOMEM
anifestava pouco respeito por seus amigos a haste de ferro ao Dr. John Harlow. Este, por sua 101
mpaciência quando alguns conselhos limi- vez, algum tempo depois, doou-os ao Departamento
conflitavam com seus desejos. Sua mente Médico da Universidade de Harvard. A máscara fa-
dado radicalmente!dos primeiros proponentes dacial em gessodadefunção
localização Phineas Gage, Gage,
cerebral. seu crânio rachado
mediante um etrágico
corrência dessa mudança de personalida- o bastão de metal que deu um novo rumo à Neuro-
experimento natural, forneceulogiaumapermanecem
prova para Ferrier evidenciar
expostos que onocórtex
ao público museupré-frontal
da
mitido da estrada de ferro. O novo Phineas
rejeitado por seusnão
antigos empregadores
era uma e
área do cérebro Harvard
"não funcional". Uma (Figura
Medical School 2 A, B e C). o córtex pré-
haste atravessando
viajar pelos Estados Unidos
frontal e América
de Phineas Gage
Em meados
do(ver FIGURA do século XIX, a literatura médica
21) sinalizou o entendimento entre a relação da
ndo-se em teatros juntamente com a haste discutia fortemente a possibilidade de o intelecto e as
região frontal do cérebro
perfurado seu cérebro. Gage morreu em e as funções poderem
emoções cognitivasser
complexas
afetadoshumanas,
nas lesõescolocando
dos lobosFerrier
São Francisco, Califórnia, 12 anos
como um ícone frontais. Logo
após o da neurociência
na história após o episódio
moderna (FERRIER,Phineas
1878, p.Gage,
28). muitos
Ele não foi submetido à autopsia, mas sua estudos clínicos contribuíram para confirmar tal pos-
a exumação do corpo, doou seu crânio e sibilidade.
Figura 21 – Crânio de Phineas Gage com orifício nas regiões frontais
Estriado ventral
divinos e semidivinos (como, anjos, Jesus Cristo, Buda), itens e cenas pertencentes a
civilizações antigas, figuras históricas e cenas, figuras mitológicas e cenas, episódios
pertencentes à morte e visões nas quais a luz era central. Ocorreram itens específicos que
não se enquadraram em qualquer categoria de agrupamento.
Doering-Silveira et al. (2005) realizaram avaliação neuropsicológica em 80
adolescentes, oriundos de três cidades brasileiras (São Paulo, Campinas e Brasília), sendo
40 consumidores de Ayahuasca em contexto religioso de três igrejas distintas da UDV, e
40 adolescentes que formaram o grupo controle, que não usavam Ayahuasca. Os
controles foram combinados com relação a sexo, idade e educação. A bateria
neuropsicológica incluiu testes de atenção acelerada, busca visual, sequenciamento,
velocidade psicomotora, habilidades verbais e visuais, memória e flexibilidade mental. Os
resultados estatísticos para os sujeitos do grupo controle combinados em medidas
neuropsicológicas foram calculados usando testes-t independentes. De modo geral, os
resultados estatísticos sugeriram que não houve diferença significativa entre os dois
grupos em medidas neuropsicológicas. No entanto, parece que o uso ritual da Ayahuasca
pode servir como fator de proteção para o uso de drogas psicotrópicas entre essa
população.
Bouso et al. (2012) avaliaram o impacto do uso repetido da Ayahuasca no bem-
estar psicológico geral, saúde mental e cognição (funcionamento executivo), e foram
avaliadas as seguintes variáveis: personalidade, psicopatologia, atitudes de vida e
desempenho neuropsicológico em 127 usuários regulares de Ayahuasca (duas vezes por
mês) e 115 controles, todos foram reavaliados um ano depois. Os controles estavam
participando ativamente em religiões não ayahuasqueiras. Os usuários de Ayahuasca
obtiveram pontuações significativamente mais baixas em todas as medidas de
psicopatologia, mostraram melhor desempenho no teste Stroop (atenção seletiva), na
tarefa de Sequência de Números e Letras do WAIS-III (escalas Wechsler, que avalia a
atenção e a memória de trabalho) e melhores escores na Escala de Comportamento de
Sistemas Frontais. A análise das atitudes de vida mostrou maior pontuação no Inventário
de Orientação Espiritual, no Teste de Propósito na Vida e no Teste de Bem-Estar
Psicossocial. Em conclusão, não foram encontradas evidências de inadaptação psicológica,
deterioração da saúde mental ou comprometimento cognitivo no grupo que usa
Ayahuasca regularmente.
107
das partes da RMP, incluindo seus eixos mais consistentes: o córtex cingulado
posterior/precuneus e o córtex medial pré-frontal. A conectividade funcional no córtex
cingulado posterior/precuneus também diminuiu após a ingestão de Ayahuasca.
Nenhuma mudança significativa foi observada na ortogonalidade da RMP nem na rede de
tarefas positivas. No geral, os resultados sustentam a noção de que o estado alterado de
consciência induzido pela Ayahuasca, assim como pela psilocibina, a meditação e o sono
estão ligados à modulação da atividade e à conectividade da RMP.
Barbosa et al. (2016) avaliaram o uso de substâncias e o funcionamento
neuropsicológico e psicológico de usuários regulares de Ayahuasca em um ambiente
religioso. Foram avaliados 30 voluntários da religião brasileira União do Vegetal (UDV), de
uma filial dos Estados Unidos da América que usa Ayahuasca ritualmente. Também foram
avaliados 27 indivíduos controles não-Ayahuasca, pareados por perfil sociodemográfico e
frequência à igreja. Os testes de Mann-Whitney U, Qui-quadrado e Fisher foram usados
para analisar as diferenças entre os grupos. A associação de Spearman e os testes de
regressão logística simples foram usados para analisar o impacto da frequência do uso da
Ayahuasca nas variáveis dependentes. Em relação ao grupo controle, o grupo UDV
demonstrou: escores mais baixos para depressão (p = 0,043, r = 0,27) e confusão (p =
0,032, r = 0,29), conforme avaliado pelo Profile of Mood States (POMS); maiores escores
no instrumento Big Five Inventory (BFI) para as características de afabilidade (p = 0,028, r
= 0,29) e abertura (p = 0,037, r = 0,28); (p = 0,035, r = 0,28); maiores pontuações no papel
do domínio da qualidade de vida, de acordo com o instrumento Medical Outcomes Study
Short Form-36 (SF-36); menor uso recente de álcool (p <0,001, φc = 0,57); maior uso de
álcool para intoxicação (p = 0,007, φc = 0,36) e uso de cannabis (p = 0,001, φc = 0,45) pelo
Addiction Severity Index (ASI), 5ª edição; (p = 0,040, r = 0,27). O tempo de uso da
Ayahuasca no decorrer da vida foi positivamente correlacionado com as limitações de
função devido à saúde física (p = 0,032, rs = 0,39) e negativamente associado ao uso
pesado de álcool na vida (p = 0,034, OR = 0,979). Os resultados indicam que o uso religioso
da Ayahuasca não afeta negativamente o funcionamento neuropsicológico e pode ter
efeitos positivos sobre o abuso de substâncias e o humor.
111
2.3 Temperamento
Segundo Lara et al. (2012) o modelo AFECT (Affective and Emotional Composite
Temperament) está fundamentado na premissa de que o temperamento é um elemento-
chave para o entendimento da saúde e doença no âmbito da mente, em concordância
com os autores Akiskal et al. (2005) e Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993). A configuração
114
humor movimento
afeto ações
Temperamento
cognição caráter
relações
percepção
intenções
desinibido e eutímico. Este último foi incluso para representar a predisposição à saúde
mental e humor de indivíduos equilibrados, conforme se pode visualizar no Quadro 2
(LARA, 2012, p. 61; LARA et al., 2008).
obsessivo, contudo, os obsessivos possuem maior demanda de controle, por terem mais
inibição e raiva do que os outros dois temperamentos estáveis. Em oposição, o controle é
particularmente baixo nos temperamentos volátil, desinibido e apático. Nos
temperamentos ciclotímico, disfórico e eufórico, o controle é moderado e, por
consequência, muitas vezes deficiente para conter seus níveis altos de raiva (LARA, 2012,
p. 67).
nomeados: controle (baixíssimo uso), baixo uso, abuso e dependência. As análises para
traços emocionais mostraram que, nos grupos de abuso e dependência, os níveis de
Vontade e Maturidade (Coping) foram mais baixos, enquanto os escores de Sensibilidade
estavam mais altos, sem diferença entre os grupos controle e baixo uso. O consumo de
álcool foi também associado com baixo Controle, Estabilidade e Cautela, alta Raiva,
Ansiedade e Desejo, apresentando diferenças significativas entre todos os grupos. Com
relação aos tipos de temperamento afetivo, abuso e dependência de álcool foram
associados aos temperamentos eufórico e ciclotímico, em ambos os sexos, acompanhados
de uma menor frequência dos tipos eutímico e hipertímico. A existência de uma disfunção
global de traços emocionais e a predominância de temperamentos ciclotímico e eufórico
foram associados a comportamentos relacionados ao consumo de álcool.
Schneider Jr et al. (2015) realizaram um levantamento sobre temperamento e
traços de caráter associados ao uso de substâncias, em uma grande amostra brasileira, via
questionários on-line. O intuito foi avaliar como os traços de personalidade estão
associados ao uso ocasional, ao abuso e à dependência de álcool, maconha, cocaína,
benzodiazepínicos e alucinógenos, entre a população de adultos. A amostra consistiu em
8.646 indivíduos (24,7% homens e 75,3% mulheres) que completaram uma pesquisa
anônima na web. O envolvimento com drogas e características de temperamento/caráter
foi avaliado por meio do Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test
(ASSIST) e Temperament and Character Inventory – Revised (TCI-R), respectivamente. As
interações entre as variáveis foram analisadas mediante o uso da MANOVA, com ajuste de
Bonferroni. Os resultados apontaram a busca por novidade como o traço mais associado
ao aumento do envolvimento com álcool, maconha e cocaína. Houve uma associação
significativa entre a prevenção de danos e o uso de benzodiazepínicos. A persistência foi
menor em dependentes de maconha, benzodiazepínicos e dependentes de cocaína, assim
como em usuários de alucinógenos. Não foram encontradas relações fortes entre outras
dimensões de temperamento ou caráter e a gravidade do uso de drogas. A busca por
novidade foi associada ao aumento do envolvimento com todas as substâncias estudadas
nesta amostra, embora, em menor grau, com benzodiazepínicos e alucinógenos. O perfil
de temperamento e caráter para o uso de benzodiazepínicos foi diferente de outras
substâncias, devido à relação com maior evitação ao dano e autotranscendência e menor
autodirecionamento.
123
2.4 Religiosidade
espirituais.
Ambos os conceitos são complexos e polêmicos, portanto não existe uma definição
simples que exprima todas as suas dimensões, podendo, ainda, envolver uma terceira
dimensão, a religião.
Religião e espiritualidade são dois conceitos complexos. A etimologia da palavra
religião, do latim: religio,onis, significa culto religioso ou práticas religiosas. De acordo com
Houaiss (2009, p. 1639), religião significa crença na existência de um poder ou princípio
superior, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e
obediência. A palavra espiritualidade provém do latim spiritus,us, que significa sopro,
exalação, espírito, alma. O significado de espiritualidade é qualidade do que é espiritual,
característica ou qualidade do que tem ou revela intensa atividade religiosa ou mística;
tudo o que tem por objeto a vida espiritual (HOUAISS, 2009, p. 820).
Hill et al. (2000) realizaram uma revisão teórica sobre religião e espiritualidade,
reuniram algumas características desses dois constructos que justificam a importância de
seu estudo. Tanto religião como espiritualidade se desenvolvem ao longo da vida das
pessoas, são fenômenos sociopsicológicos, que se expressam intragrupo e/ou são
influenciados por grupos de referência, têm relação com processos cognitivos, afetivos e
emocionais dos indivíduos. Ainda de acordo com os mesmos autores, estes afirmam que a
religião apresenta características multidimensionais, como crenças, comportamentos,
rituais e cerimônias que pertencem às tradições enraizadas nas sociedades, tradições
estas que visam promover identidade pessoal e social.
Koenig (2000) refere utilizar os termos espiritualidade e religião de forma
intercambiável, como sinônimos; além disso, a maioria das pesquisas que ligam
espiritualidade à saúde mediu crenças ou práticas religiosas. Assim, a utilização desses
vocábulos como sinônimos contempla processos subjetivos do indivíduo como um todo,
ou seja, alguém cujo ser tem dimensões físicas, emocionais e espirituais.
Não existe uma definição simples de religião que exprima todas as suas dimensões.
Englobando elementos espirituais pessoais e sociais, é um fenômeno que se manifesta em
todas as culturas, desde a pré-história até à contemporaneidade, conforme pode ser
constatado em pinturas rupestres, funerais de antepassados e na procura por um objetivo
espiritual na vida. Ao longo da história da humanidade, a religião serviu como forma de
compreender os fenômenos naturais e exercer influência sobre eles. Temas, como tempo,
126
estações, vida, morte, criação, vida após a morte e a estrutura do universo estavam
subjugadas às explicações religiosas que evocavam deuses controladores ou um plano da
realidade fora do âmbito visível, habitado por divindades e criaturas místicas. A religião
era um modo de comunicação com os deuses por meio de rituais e rezas, e essas práticas,
quando compartilhadas por membros da comunidade, auxiliaram a consolidar grupos
sociais, reforçar hierarquias e gerar sentido de identidade coletiva ou pertencimento
(JONES; PALFFY, 2014, p. 12).
Vários autores estabelecem correlações positivas entre religiosidade e/ou
espiritualidade e qualidade de vida, em diferentes aspectos e contextos, atuando
principalmente como enfrentamento em situações adversas (PANZINI et al., 2017; DE
FREITA MELO et al., 2015).
De Freitas Melo et al. (2015) realizaram uma revisão bibliográfica de metanálise,
em todos os periódicos indexados no portal Capes, verificando os estudos existentes que
exploram a correlação entre a qualidade de vida e a religiosidade, em diferentes aspectos
e contextos. Os resultados mostraram que a religiosidade e a espiritualidade têm
correlação com a qualidade de vida, atuando principalmente como enfrentamento em
situações adversas. Em relação à qualidade de vida, evidenciaram-se algumas premissas,
como: (a) subjetividade, que é a percepção do indivíduo, ou seja, a perspectiva do
indivíduo que realmente conta, sendo um conceito intrínseco em que o próprio sujeito
participa da sua definição; (b) multidimensionalidade, o indivíduo passa a ser visto como
um ser multidimensional, uma vez que vários aspectos estão envolvidos na sua relação
consigo mesmo e com o mundo, influenciando na sua qualidade de vida; (c) bipolaridade,
que consiste no reconhecimento de características que devem estar presentes e ausentes
para que a qualidade de vida seja considerada satisfatória; (d) mutabilidade, que leva em
consideração que a avaliação da qualidade de vida pode variar de acordo com o tempo, o
local e o contexto cultural no qual se está inserido.
Na maior parte dos artigos, observou-se que a religiosidade/espiritualidade
aparece como uma das estratégias utilizadas para o enfrentamento de situações adversas,
como doenças físicas, transtornos mentais ou o luto. Ela exerce, assim, um auxílio como
mecanismo de defesa, coping, conforto e bem-estar ou, até mesmo, de resignação.
Outrossim, aponta como uma ótima ferramenta de apoio social para esses indivíduos. A
espiritualidade, entendida como um fenômeno mais abrangente, também aparece com
127
resultados bastante significativos nos estudos, como uma forma de o indivíduo dar novos
significados às adversidades e reorganizar suas experiências. Até mesmo em sujeitos que
não são adeptos de nenhuma religião a espiritualidade aparece como uma dimensão
importante, atrelada a questões existenciais significativas (DE FREITAS MELO et al., 2015).
Panzini et al. (2017) revisaram os conceitos e as possíveis relações entre
espiritualidade/religiosidade e qualidade de vida, bem como sua aplicação na área da
saúde, por meio da revisão de estudos científicos obtidos das bases de dados PsycINFO e
PubMed/Medline, datados entre 1979 e 2016. Recentemente, vem ocorrendo
preocupação com o estabelecimento de parâmetros mais abrangentes de avaliação de
saúde que não apenas a morbimortalidade. A partir desse cenário, o desenvolvimento de
medidas de solução, como, “qualidade de vida” e “bem-estar”, tornou-se objeto de
estudo. E indícios de associação com religiosidade/espiritualidade têm sido encontrados.
Diversas pesquisas sobre espiritualidade e suas relações com a qualidade de vida foram
verificadas em 29 países diferentes, em diversas regiões ao redor do mundo. Os países
com mais publicações foram os Estados Unidos da América, com 32 artigos, seguidos do
Irã, com sete artigos, e o Brasil, com seis artigos. Os estudos mais recentes indicam uma
associação positiva entre espiritualidade e qualidade de vida. A população mais estudada
é composta por pacientes oncológicos (26%), com doenças crônicas (por exemplo,
insuficiência renal, HIV/AIDS) (17%) e doenças mentais (8%). Na população, os grupos
mais estudados são cuidadores, idosos e estudantes. Os estudos intervencionistas em
espiritualidade ainda são minoria (5%), usando principalmente conselhos espirituais ou
meditação contemplativa. Há literatura consistente que apoia a existência de uma relação
positiva entre espiritualidade e qualidade de vida.
Curcio, Lucchetti e Moreira-Almeida (2016, p. 464) identificaram mais de 3.300
estudos originais em revisões sistemáticas recentes sobre as relações entre espiritualidade
e saúde. No entanto ainda não existe consenso científico sobre as definições de
religiosidade e espiritualidade. Aconteceu, nas últimas décadas, um crescimento no
número de estudos que abordam questões relacionadas às implicações da
religiosidade/espiritualidade no bem-estar, na saúde física e na saúde mental dos
indivíduos.
Considerando que o Brasil é um país heterogêneo e sincrético religiosamente,
alguns autores propõem definições ampliadas de espiritualidade, que abarcam aspectos,
128
como sentido e propósito na vida, sentimentos de paz, harmonia, conexão com a natureza
e com os outros. Religiosidade/espiritualidade pode apresentar uma diversidade em suas
dimensões, e por muitas vezes, ocorre relação, de formas distintas, com desfechos de
saúde (CURCIO; LUCCHETTI; MOREIRA-ALMEIDA, 2016, p. 465).
após sua experiência, ser mais empáticos e se sentirem mais conectados aos outros, à
natureza e ao entendimento de Deus ou o divino. Mostraram consistentemente que em
curto prazo se sentem curados, gratos e pacíficos, com um crescente senso de
responsabilidade e reconciliação consigo mesmos, com os outros e com o mundo. Os
dados da pesquisa indicam que essas medidas positivas estão claramente ligadas à
experiência de uma cerimônia de Ayahuasca e revelam o incentivo para mais
investigações sobre a promessa do uso ritual da Ayahuasca.
Harris e Gurel (2012) realizaram uma pesquisa, na qual foram entrevistadas 81
pessoas que usaram a Ayahuasca pelo menos uma vez na vida e compararam com um
grupo de 46 pessoas que participaram de um retiro espiritual católico. Ambos os grupos
responderam ao After the Spiritual Experience Questionnaire e uma série de perguntas
abertas. Foi realizada uma análise fatorial do After the Spiritual Experience Questionnaire,
dividida em três fatores: (a) Alegria na Vida (os itens desse fator refletem uma relação
mais positiva com a vida, com maior alegria e autoconfiança, e um senso mais profundo
de significado, autenticidade e inspiração); (b) Relação com os Sentimentos Sagrados (os
itens agrupados nesse fator refletem experiências espirituais: interconexão de toda a vida;
santidade profunda da vida diária e um profundo sentimento de gratidão); (c) Relação
com os Sentimentos Tóxicos (afetos negativos, como sentimentos de ansiedade ou
nervosismo, sentimentos de tristeza ou depressão e expressão de sentimentos de ódio). A
análise estatística dos três fatores do questionário mostrou que os usuários de Ayahuasca
obtiveram pontuações significativamente maiores em dois fatores: Alegria na Vida e
Relação com os Sentimentos Sagrados. Os dados qualitativos revelaram que os usuários
de Ayahuasca reduziram a ingestão de álcool, fizeram dietas mais saudáveis, desfrutaram
de melhor estado de bom humor e maior autoaceitação e se sentiram mais amorosos e
compassivos em seus relacionamentos.
Albuquerque (2012) realizou um estudo sobre os saberes da Ayahuasca, utilizada
em diferentes contextos culturais, como é o caso da religião brasileira conhecida como
Santo Daime. Partiu-se do pressuposto, declarado nos hinos da doutrina, de que o Daime
(Ayahuasca) é um professor e que na religião se vivencia um processo educativo, no qual
um conjunto de saberes é transitado e apreendido. Esse estudo resulta de uma pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. As fontes consultadas foram bibliografias sobre as
religiões ayahuasqueiras, os cadernos de hinos do Santo Daime e a realização de
130
3 MATERIAIS E MÉTODOS
132
3.1 Ética
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Federal de São Paulo – UNIFESP, parecer número 2.877.224 (ANEXO A). Foi devidamente
apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO B) aos
voluntários do presente estudo, que tomaram ciência dos seus objetivos, bem como dos
seus direitos de anonimato e de interromper sua participação a qualquer momento. Esses
termos foram assinados por todos os voluntários, antes do início do estudo, uma cópia
ficou com o voluntário e outra, com o pesquisador responsável.
Foi realizado o cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e
do Conhecimento Tradicional Associado (SISGEN), nº A4A9C67; e obtida autorização do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), sob nº 73895, ambos do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), para a coleta e o estudo do material biológico das plantas que
compõem a bebida Ayahuasca, bem como para acessar o conhecimento tradicional.
3.2 Etnografia
Para a coleta das informações sobre a história de formação do Centro Luz Divina
foram utilizados métodos de campo sugeridos pela etnografia, como entrevistas não
estruturadas, observação participante e diários de campo (BERNARD, 1988; FOOTE-
WHYTE, 1990). Durante as entrevistas não estruturadas, o pesquisador fixou para si as
perguntas e procurou não interferir nas respostas dos entrevistados. As entrevistas foram
realizadas com os dirigentes do Centro, lideranças que participaram de sua formação,
desde a década de 1980 até os dias de hoje.
Na observação participante, procurou-se entender as interações existentes entre a
comunidade do ritual religioso e as plantas que compõem a bebida Ayahuasca, a partir de
vivências do cotidiano com a comunidade (BERNARD, 1988). Foram registrados, em
diários de campo, relatos detalhados dos participantes do ritual do Santo Daime, da
bebida Ayahuasca, assim como observações expressivas para investigações fitoquímicas e
farmacológicas do material botânico estudado (FOOTE-WHYTE, 1990).
Para as respostas qualitativas, os entrevistados foram identificados por um código
133
Piedade - SP
Centro Luz Divina
3.4 Análise química das bebidas Ayahuasca obtidas no Centro Luz Divina
Para análise química das bebidas Ayahuasca, foram coletadas duas amostras do
arsenal de bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina, cedidas gentilmente pelo dirigente do
Centro. As amostras nº 1 e nº 2 das bebidas Ayahuasca podem ser verificadas na
Fotografia 5.
Nº 2
Nº 1
A extração em fase sólida (SPE – solid phase extraction) de cada amostra da bebida
Ayahuasca obedeceu ao seguinte procedimento: (a) foi utilizado um cartucho de C18
ativado com 8,0 mL de metanol 100% (grau HPLC – JTBaker®); (b) após, foi realizado o
condicionamento com 8,0 mL de água deionizada (Milli-Q®); (c) na sequência, foi inserida
a amostra da bebida Ayahuasca (3,0 mL); (d) depois, foi realizada a lavagem com água
ultrapura (tipo 1) (Milli-Q®); (e) por último, foi efetuada a eluição da amostra com 8,0 mL
de metanol 100% (grau HPLC – JTBaker®).
As etapas do processo de extração em SPE das amostras das bebidas Ayahuasca
pode ser verificado na Figura 27.
Figura 27 – Etapas do processo de extração em SPE das amostras das bebidas Ayahuasca
A análise química dos alcaloides presentes nas bebidas Ayahuasca foi realizada via
cromatografia líquida, acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC –
Ultra High Performance Liquid Chromatography), em sistema com detector DAD (Diod
Array Detector), acoplado ao espectrômetro de massas quadrupolo de tempo de voo
(QTOF) (Bruker, Bremen, Alemanha). O espectrômetro está equipado com fonte de
ionização por eletropulverização (ESI – Electrospray ionization), operada sob a resolução
de 18.000 (FWHM). O intervalo de massas selecionado foi de m/z 50-1200, modo AutoMS,
com energia de colisão variando de 20-65 eV (Electron-volt) de acordo com m/z 50-700,
mantendo-se a energia constante em 65 eV para valores de massa acima de m/z 700. Foi
adquirido o máximo de cinco íons precursores por ciclo. A separação das amostras de 1 μL
foi realizada a 40°C em coluna RP Kinetex C18 (100 × 2,1 mm, 2,6 μm, Phenomenex,
Torrance, CA, EUA), empregando gradiente linear padrão composto por H2O/CH3CN [90:10
→ 0: 100, v/v, ambos tamponados com 20 mM (Unit millimolar) de ácido fórmico],
durante 10 min, sob a vazão de 0,35 mL/min. Os espectros UV/Vis (Ultraviolet-visible)
foram registrados de 200 a 600nm (Nanometer). Todos os extratos foram manualmente
processados com a ajuda do software DataAnaysis 4.3 (Bruker).
Foi realizado o screening de alcaloides-alvo, comumentemente presentes em
bebidas Ayahuasca, reportados na literatura. Os compostos investigados seguem
resumidos no Quadro 4. Para identificação positiva (detecção) de cada composto foram
avaliadas as massas acuradas (erro: ± 5ppm) de cada íon detectado, após a seleção
específica de íons extraídos relativos para cada alvo. Adicionalmente, foram avaliados os
espectros de íons produtos dos compostos detectados para comparação do perfil de
fragmentação existente na literatura (OLIVEIRA et al., 2012).
As quantidades relativas dos analitos-alvo, quando detectados (DMT e ß-
carbolinas: HRM, HRL e THH) nas bebidas Ayahuasca, foram analisadas por meio da
integração da área do pico obtido a partir do cromatograma de íons extraídos de cada
composto de interesse.
O Quadro 4 apresenta a estrutura molecular, a fórmula, a massa molar (g/mol-1), o
alcaloide-alvo e o íon precursor (m/z) (CHEMICALIZE, 2020).
137
Quadro 4 – Estrutura molecular, fórmula, massa molar (g mol-1), alcaloide-alvo e íon precursor (m/z)
3.5 Coleta e preparo do extrato de plantas que compõem a bebida Ayahuasca para
análise química
Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).
Foram feitos três extratos aquosos quentes: (1) um, para as folhas (P.viridis), (2)
um, para o cipó (B. caapi) e (3) outro, com a combinação das folhas e cipó na proporção
de 1:1, na tentativa de simular a preparação da bebida Ayahuasca em laboratório.
Por meio de um extrator Soxhlet (ver FOTOGRAFIA 8), realizou-se a extração
aquosa a quente. Para cada extrato foram utilizados 250 mL de água destilada e,
aproximadamente, 200 g de material (folha, cipó e folha + cipó). A temperatura variou
entre 70°C e 90°C e o tempo de cada processo durou, em média, 10 horas. Após esse
período, os extratos foram liofilizados, obtendo-se a massa seca do material extraído (pó).
139
3.6.3 Sujeitos
3.6.5 Instrumentos
Instrumento para avaliação de dados gerais, como sexo, idade, nível educacional,
condição socioeconômica e estado civil (ANEXO C).
dos itens, a aplicação deverá voltar aos itens dos níveis anteriores, até o acerto de dois
itens consecutivos. A aplicação continua até o indivíduo errar o número de itens
determinados pelo manual de aplicação.
A pontuação bruta obtida em cada subteste é convertida em escores ponderados
por idades, em tabelas correspondentes. A distribuição dos escores de QI para cada escala
WASI tem média 100 e Desvio Padrão (DP) 15. Um Escore Total (T) de 50 ou um escore
ponderado de 10 em qualquer subteste e um escore de QI 100 em qualquer escala de QI
define o desempenho médio de determinado grupo etário. Escore T de 30 a 70, escores
ponderados de 4 a 16 e escores de QI de 70 a 130 desviam-se 2 DP da média.
A WASI fornece quatro escalas de QI, são elas: (a) QI Total (QIT-4) é composto
pelos quatro subtestes: VC, SM, CB e RM; (b) QI Verbal (QIV) é composto pelos dois
subtestes: VC e SM; (c) QI Execução (QIE) é composto pelos dois subtestes: CB e RM; e (d)
QI Total (QIT-2) é composto por dois subtestes: VC (verbal) e RM (não verbal).
As classificações descritivas correspondentes aos escores de QI para a WASI são
consistentes entre todas as escalas Wechsler e foram definidas estatisticamente. A
classificação dos escores QIT-4 da WASI são:
• 130 e acima: Muito Superior;
• 120-129: Superior;
• 110-119: Médio Superior;
• 90-109: Médio;
• 80-89: Médio Inferior;
• 70-79: Limítrofe;
• 69 e abaixo: Extremamente Baixo.
Foi utilizada a Tarefa de Cubos de Corsi, adaptada por Kessels et al. (2000).
A tarefa de Cubos de Corsi é uma medida da memória de trabalho visuoespacial,
utilizada na caracterização do perfil cognitivo, especificamente nas funções visuoespaciais
147
durante a aplicação do teste. Se ao menos uma das sequências for repetida corretamente,
os dois ensaios do item seguinte devem ser administrados. O teste é interrompido quando
o testando erra os dois ensaios de um mesmo item com a mesma quantidade de blocos,
melhor dizendo, com o mesmo alcance. Os cubos devem ser tocados, um por vez, em
velocidade constante. Sugere-se que o cubo seja tocado a cada segundo. Somente após o
examinador finalizar a sequência de toques é que o testando poderá realizar a sequência.
Caso o testando comece a tarefa enquanto o examinador ainda estiver tocando os
blocos, o examinando será instruído a esperar sua vez.
Para a correção, considera-se o item como correto quando uma sequência é
reproduzida na ordem apropriada. Um ponto é atribuído para cada ensaio respondido
corretamente. O escore do testando corresponde ao alcance de itens, isto é, à quantidade
de itens da maior sequência corretamente reproduzida.
Kessels et al. (2000) calculam dois escores: o alcance (quantidade de itens da
maior sequência corretamente repetida) e o escore total (produto entre o alcance e o
total de tentativas corretas), que permite mostrar uma maior discriminação quanto ao
nível de desempenho.
A pontuação bruta obtida nessa tarefa foi convertida em escores padronizados por
idades, em tabelas correspondentes, de acordo com Kessels et al. (2000).
As Figuras Complexas de Rey (REY, 1941) foram idealizadas por André Rey, no
Centre de Psychologie Appliquée de Paris, e foi adaptada e validada para a população
brasileira por Oliveira et al. (2004).
O teste de Figuras Complexas de Rey é usado na prática clínica e tem por objetivo
investigar as funções neuropsicológicas de percepção visual, memória imediata e algumas
funções de planejamento e execução de ações (OLIVEIRA; RIGONI, 2017). O objetivo é
verificar o modo como o testando apreende os dados perceptivos que lhe são
apresentados e o que foi conservado espontaneamente pela memória.
O teste Figuras Complexas de Rey é composto por duas figuras: Figura A, que pode
ser aplicada em indivíduos a partir de 5 anos, e a Figura B, que pode ser aplicada em
indivíduos de 4 a 7 anos. O contexto da aplicação é individual, não é permitido o uso de
149
O teste dos Cinco Dígitos, cuja sigla FDT (Five Digit Test) é originária da língua
inglesa porque o instrumento nasceu nos Estados Unidos da América (EUA), foi idealizado
por Sedó (2004, 2004a). Foi adaptado e validado para a população brasileira por Sedó,
Paula e Malloy-Diniz (2015).
O FDT é um teste multilíngue, utilizado para medir a velocidade de processamento
cognitivo, a capacidade de focar e de reorientar a atenção e as funções executivas
(subcomponentes controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Ele se baseia em
conhecimentos linguísticos mínimos, como a leituras dos dígitos de 1 a 5, a contagem de
quantidades de 1 a 5, além da produção de séries de 50 palavras formuladas pelas
quantidades recorrentes “um”, “dois”, “três”, “quatro” e “cinco”, recombinadas de
maneiras diferentes. O FDT utiliza essas cinco quantidades como simples unidades
cognitivas dentro de tarefas de dificuldade crescente, o que permite medir, em qualquer
idioma, a velocidade e a eficiência mental do indivíduo, bem como identificar
imediatamente a diminuição da velocidade e da eficiência que caracteriza o indivíduo com
dificuldades neurológicas. Além disso, o FDT permite descrever a velocidade e a eficiência
do processamento cognitivo, a constância da atenção focada, a automatização progressiva
da tarefa e a capacidade de mobilizar um esforço mental adicional, quando as séries
apresentam dificuldade crescente e exigem concentração muito maior.
154
testando.
Nas partes de Escolha e Alternância, ao contrário da Leitura e da Contagem, o
indivíduo tem de executar ações controladas e conscientes que o obrigam a mobilizar um
nível superior de recursos mentais. Os itens da segunda parte do teste apresentam
sempre grupos de dígitos em quantidades que são distintas de seus valores aritméticos,
por exemplo, três – 1, quatro – 2, cinco – 3, e isso obriga o testando a lê-las ou contá-las
como duas quantidades diferentes, por exemplo, lendo-as como “1, 2, 3”; ou contando-as
como “três, quatro, cinco”.
As situações controladas são duas: na Escolha, o indivíduo tem de contar os grupos
de dígitos de valores conflitantes, o que requer manter a atenção na contagem, apesar da
interferência da leitura; e inibir sua tendência involuntária de ler os números. Por último,
na Alternância, um de cada cinco grupos de dígitos é delimitado por uma borda mais
grossa; nessa parte, é ordenado ao testando que alterne entre duas operações, contando
80% dos itens, como na Escolha, mas quebrando essa rotina cognitiva cada vez que chegar
a uma borda ou quadro mais grossos, realizando, assim, o esforço adicional de ler
conscientemente os números do grupo, e, no elemento seguinte, retornar à sua regra
habitual, que é a de contar os grupos de dígitos. O resultado da ambiguidade dos itens,
Escolha e Alternância, obriga o testando a mobilizar um esforço voluntário que reduz a
velocidade das respostas, tanto nos indivíduos normais quanto nos casos clínicos. A
diminuição da velocidade é, contudo, muito superior nos casos clínicos, e isso permite
diagnosticar a presença de dificuldade neurocognitiva.
As quatro situações do FDT fornecem informações sobre alguns processos mentais.
Quatro podem ser particularmente relevantes para os diagnósticos neuropsicológicos, são
elas: (1) a velocidade geral do processamento cognitivo; (2) a fluidez verbal, melhor
dizendo, a facilidade para encontrar as palavras; (3) a atenção focada do indivíduo e sua
reação ante o esforço continuado; e, por último (4) a capacidade do indivíduo de mobilizar
o esforço cognitivo adicional, necessário para inibir as respostas voluntárias e,
deliberadamente, alternar entre as duas operações mentais diferentes.
Antes de iniciar a aplicação do FDT, deve-se estimular o testando a responder ao
teste da melhor forma possível. É importante informá-lo de que o teste é composto de
várias partes e que algumas parecerão mais complicadas que outras, enfatizando que isso
é normal e que acontece com todas as pessoas. É fundamental reiterar que os exercícios
156
devem ser realizados o mais rapidamente possível, evitando cometer erros. Antes de
iniciar a aplicação de qualquer das quatro situações, realiza-se um treinamento. É
importante se certificar de que o testando compreendeu bem a tarefa antes de continuar,
caso necessário, deve-se insistir quanto à natureza da tarefa e pedir novamente a ele para
dar exemplos, até ter certeza de que compreendeu bem o que deve fazer.
Para obter as pontuações do FDT, primeiramente, devem ser contados os erros
cometidos pelo testando, em cada uma das partes do teste. Na parte 1 do teste, Leitura,
contam-se os círculos ou marcas utilizadas para assinalar os erros do testando na primeira
fila e anota-se o total no quadro correspondente. Repete-se a operação na segunda fila.
Somam-se os erros de ambas as filas e transferem-se os totais para as caixas
correspondentes do quadro Resumo de Pontuações. É importante lembrar que as
pontuações parciais não devem ser transferidas, somente o total. O tempo é anotado em
segundos, também é levado em conta somente o tempo total. Repete-se o procedimento
em cada uma das três partes restantes do teste. Finalmente, é necessário obter duas
pontuações complementares, são elas: a de inibição das respostas e a de flexibilidade
mental. O cálculo dessas pontuações é bastante simples e dever ser realizado com as
pontuações diretas, não com as derivadas (Percentis); são calculadas as seguintes
diferenças: Inibição é o resultado da Escolha menos Leitura; Flexibilidade é o resultado da
Alternância menos Leitura.
Para a interpretação dos resultados do FDT é necessário consultar as Normas de
Interpretação do manual do FDT, no qual constam Escalas em Percentis e pontuações
típicas (Média e DP), tanto para as quatro situações como para os erros (CAMPOS et al.,
2016; SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015).
Impulso (9-12)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24
Cautela (13-16)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24
Raiva (17-24)
Muito baixa <31 Baixa 31-36 Média 37-41 Alta 42-45 Muito Alta >45
158
Medo (25-28)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24
Controle (45-52)
Muito baixa <28 Baixa 28-36 Média 37-42 Alta 43-48 Muito Alta >48
Ansiedade (53-56)
Muito baixa <11 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24
Estabilidade (57-60)
Muito baixa <11 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24
número 1: “1. muitas vezes ao dia”, o valor atribuído será 6. Essa lógica é aplicada aos
demais itens da escala. As exceções são os itens 20, 21, 22 e 27, em que serão acatados os
valores do próprio item para compor a pontuação, ou seja, não serão invertidos os
valores.
As pontuações alcançadas em cada item da BMMRS-P, de acordo com Curcio,
Lucchetti e Moreira-Almeida (2016), são:
A) experiências espirituais diárias (9-36);
B) valores/crenças (2-8);
C) perdão (5-12);
D) práticas religiosas particulares (5-37);
E) superação religiosa (9-27);
F) apoio religioso (4-16);
G) histórico religioso espiritual (3-6);
H) comprometimento (1-7);
I) religiosidade organizacional (2-12);
J) preferência religiosa (zero);
K) autoavaliação global de R/E (2-8)
4 RESULTADOS e DISCUSSÃO
163
Nº 1
Fotografia 10 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. Fotografia 11 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex
(família Rubiaceae) Griseb.) Morton (família Malpighiaceae)
Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
164
Nº 2
Fotografia 13 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. Fotografia 14 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex
(família Rubiaceae) Griseb.) Morton (família Malpighiaceae)
Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
165
4.1.3 Análise química via LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina
A análise química para detecção dos principais alcaloides presentes nas bebidas
Ayahuasca (DMT, HRM, HRL e THH) foi realizada via dados de cromatografia líquida,
acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC-HRMS).
Os resultados apresentados a seguir são referentes às amostras eluídas em SPE com
100% de MeOH. Cabe destacar que não houve seletividade durante a extração com a fase
sólida utilizada (C18), ou seja, tanto nas frações de lavagem (100% H2O) como de eluição
(100% metanol) oriundas da separação por SPE, houve a detecção dos compostos de
interesse encontrados. Nesse sentido, o processo de SPE funcionou apenas como clean-up
de amostra, com eliminação de interferentes hidrofílicos na lavagem do processo, como
uma tentativa de eliminar possíveis efeitos cruzados.
A Figura 28 mostra o cromatograma do perfil químico das amostras 1 e 2 das bebidas
Ayahuasca estudadas.
Bebida Ayahuasca - 2
Bebida Ayahuasca - 1
1 2 3 4 5 6 7 Time [min]
As duas amostras apresentaram o mesmo perfil químico (ver FIGURA 28). Não foram
encontrados os alcaloides DMT, HRM e HRL em nenhuma das duas amostras das bebidas
Ayahuasca. Apenas a β-carbolina THH foi detectada nas duas amostras estudadas,
surpreendentemente.
Na Figura 29, verifica-se a presença da β-carbolina THH e de três compostos
(isômeros entre si) de identidade desconhecida, nas duas amostras das bebidas Ayahuasca.
Devido à alta similaridade no perfil dos espectros de UV encontrados para os compostos não
166
(B) (A)
Bebida Ayahuasca - 2
Bebida Ayahuasca - 1
1 2 3 4 5 Time [min]
Figura 30 – (A) Cromatograma de UV obtido a partir das amostras das bebidas Ayahuasca, Tetrahidroharmina
(THH) detectada em destaque, (B) espectro de full scan e de (C) UV da THH detectada
(A) Tetrahidroharmina
1 2 3 4 5 Time [min]
3
15
2 10
265 293
5
1
0
0
200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 m/z
1500
1000
157.0902
500
0
80 100 120 140 160 180 200 220 240 m/z
168
Figura 32 – (A) cromatograma do primeiro isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1492) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV
1 2 3 4 5 Time [min]
[M + H]+
1.00 300
0.75
200
0.50
353.1703 100
0.25 290
320.1116
233.1272
0.00 0
50 100 150 200 250 300 350 400 450 m/z 200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
169
A Figura 33 mostra o segundo isômero desconhecido (A), o espectro de full scan (B) e
de UV (C), respectivamente.
Figura 33 – (A) cromatograma do segundo isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1504) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV
1 2 3 4 5 Time [min]
1.00
0.75 100
0.50
529.2038 50
0.25 320.1128 291
350.1246 733.2903
233.1271
0
100 200 300 400 500 600 700 800 m/z
200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
170
A Figura 34 mostra o terceiro isômero desconhecido (A), o espectro de full scan (B) e
de UV (C), respectivamente.
Figura 34 – (A) cromatograma do terceiro isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1500) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV
1 2 3 4 5 Time [min]
(B) Espectro de full scan (C) Espectro de UV
Intens. Intens. UV, 3.1min
+MS, 3.2min
367.1500 [M + H]
x10 4 + [mAU] 220
80
6
60
4
40
2 20 291
529.2031
0
0 200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
200 400 600 800 1000 m/z
A integração das áreas dos picos foi calculada com base nos respectivos
cromatogramas de íons extraídos para m/z 217 e m/z 367, como se verifica na Figura 35.
Figura 35 – Cromatograma de íons extraídos para m/z 367 (1) e m/z 217 (2)
Intens.
x105 1 (m/z 367.1500)
2.0
1.5
1
1.0
2 (m/z 217.1340)
0.5
1
0.0
0 1 2 3 4 5 6 7 Time [min]
Figura 36 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)
Intens.
189.1392±0.005 +All MS
x10 4
Dimetiltriptamina (DMT)
0
Intens.
213.1028±0.005 +All MS
x10 4
1
Harmina (HRM)
0
Intens.
215.1184±0.005 +All MS
x10 4
1.0
0.5
0.0
Harmalina (HRL)
Intens.
217.1340±0.005 +All MS
x10 4
1
Tetrahidroharmina (THH)
0
0 2 4 6 8 10 12 Time [min]
172
Figura 37 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados na Tetrahidroharmina (THH)
Tetrahidroharmina
Tetrahidroharmina
2500000
2000000 1908115,0
1542957,3
1500000
Área Pico
1000000
Tetrahidroharmina
500000
Amostras Média DP
Bebida - 1 1542957,3 39157,1
0
Bebida
C1 - 1 Bebida
C2 - 2 Bebida - 2 1908115,0 343695,8
Figura 38 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados nos isômeros desconhecidos (soma)
6000000
5000000 4740180,3
4000000 3778392,7
Área Pico
3000000
2000000
0
Bebida - 1 4740180,3 372849,9
Bebida
C1 - 1 Bebida
C2 - 2 Bebida - 2 3778392,7 1187491,2
174
4.1.4 Análise química via LC-MS/MS dos extratos vegetais da P. viridis e do B. caapi
A análise química para detecção dos principais alcaloides presentes nas plantas que
compõem a bebida Ayahuasca (DMT, HRM, HRL e THH) foi realizada via dados de
cromatografia líquida, acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC-
HRMS), utilizando-se o extrato liofilizado das folhas de P. viridis e de caules do B. caapi,
conforme descrito na subseção 3.5.
4.1.4.1 Análise química do extrato de folhas de P. viridis, obtido por extração aquosa a
quente
Figura 39 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos das folhas de P. viridis
Intens.
Folha: BPC +All MS
x10 5
1.0
0.5
0.0
Figura 40 – (A) Cromatograma da Dimetiltriptamina (DMT) e (B) espectro de full scan das folhas de P. viridis
0.6
0.4
0.2
0.0
2 4 6 8 10 Time [min]
0.6
0.4
0.2
163.0411 206.1161
0.0
0.0
Folha: +MS2(189.1381), 29.6eV, 1.6min
6000
144.0800
4000
2000
117.0701
0
60 80 100 120 140 160 180 200 220 m/z
176
Figura 42 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)
0.75
0.50
0.25
Dimetiltriptamina (DMT)
0.00
Intens.
Folha: EIC 213.1028±0.005 +All MS
x10 4
1.5
1.0
0.5
Harmina (HRM)
0.0
Intens.
Folha: EIC 215.1184±0.005 +All MS
x10 4
Harmalina (HRL)
0
Intens.
Folha: EIC 217.1340±0.005 +All MS
x10 4
3
1
Tetrahidroharmina (THH)
0
2 4 6 8 10 Time [min]
177
4.1.4.2 Análise química do extrato de caules de B. caapi, obtido por extração aquosa a
quente
Figura 43 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos dos caules do B. caapi
Intens.
Cipo: BPC +All MS
x10 5
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
Figura 44 – (A) Cromatograma da Tetrahidroharmina (THH) e (B) espectro de full scan dos caules de B. caapi
(A) – Tetrahidroharmina (THH)
4
x10 Cipo: EIC 217.1340+All MS
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
2 4 6 8 10 Time [min]
Figura 46 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)
1
Harmalina (HRL)
0
Intens. Cipo: EIC 217.1340 +All MS
x104
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
Tetrahidroharmina (THH)
2 4 6 8 10 Time [min]
181
Outro extrato foi feito com a combinação dos extratos das folhas (P. viridis) e do cipó
(B. caapi), na proporção de 1:1. A ideia foi simular a bebida Ayahuasca em laboratório a
partir dos dois extratos, conforme se verifica os cromatogramas da Figura 47.
Figura 47 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH), a partir da
combinação feita dos extratos das folhas (P. viridis) e do cipó (B. caapi)
Intens.
Mistura: EIC 189.1381 +All MS
x104
2.0
1.5
1.0
0.5
Dimetiltriptamina (DMT)
0.0
Intens.
Mistura: EIC 213.1028 +All MS
x104
1.00
0.75
0.50
0.25
Harmina (HRM)
0.00
Intens.
x104 Mistura: EIC 215.1184 +All MS
0.8
0.6
0.4
0.2
Harmalina (HRL)
0.0
Intens.
x104 Mistura: EIC 217.1340 +All MS
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
Tetrahidroharmina (THH)
0.0
2 4 6 8 10 Time [min]
4.2 Etnografia
A primeira reunião com a Sra. Eunice Durão ocorreu por volta de fevereiro de 2017,
para discutir as possibilidades da realização da pesquisa no Centro Luz Divina, sito no
município de Piedade – SP. A Sra. Eunice é casada com o Sr. Carlos Eduardo Durão, ambos
dirigentes do referido Centro. Desde então, outras reuniões ocorreram, durante as quais
informações foram coletadas para estruturar o projeto que resultou nesta pesquisa.
O convívio com a Sra. Eunice foi se tornando mais estreito com o passar do tempo.
No dia 15 de dezembro de 2017, participei do meu primeiro ritual do Santo Daime, um ritual
de Concentração, que ocorreu no mesmo dia em que é comemorado o aniversário do
Mestre Irineu. Coincidência ou não, meu primeiro contato com o ritual e com a bebida
Ayahuasca aconteceu em uma data muito especial para a irmandade daimista.
Durante o trabalho de campo, fiquei hospedado nas dependências do Centro Luz
Divina, Piedade – SP.
Para compreender o processo de formação e constituição do Centro Luz Divina é
necessário, primeiramente, compreender os fatos históricos da formação da Igreja Matriz
Flor de Luz da Comunidade Céu de Midam. E, nesse processo, a Sra. Eunice foi “peça-chave”.
Ela me apresentou aos irmãos da comunidade, que entrevistei posteriormente; também me
colocou em contato com dois filhos do padrinho Jonas Frederico, idealizador e fundador da
comunidade.
Ao longo do processo de coleta de dados, foram entrevistados a Sra. Eunice Durão, o
Sr. Carlos Durão e a Sra. Niva Aparecida de Oliveira, assim como outros irmãos da
comunidade Céu de Midam. No dia 25 de janeiro de 2019, no bairro da Vila Mariana, São
Paulo, Capital, entrevistei Marcos Antonio Santos Frederico e Regina Célia Santos Frederico,
ambos filhos de Jonas Frederico. Outras informações foram complementadas
184
Existe um trecho do livro “Bença, Padrinho”, escrito pelo daimista Lucio Mortimer, no
qual ele narra o dia a dia do povo do Padrinho Sebastião e descreve a presença de Jonas.
185
Todo ano, no tempo seco das tardes ensolaradas, aparecia o Jonas Frederico.
Parece que ele era um representante comercial de São Paulo. O certo é que
periodicamente visitava a Colônia Cinco Mil e com muito gosto o Padrinho
Sebastião o recebia. Sentavam na varanda e durante horas fluía uma conversa
movida pelo bom humor. Em cada retorno ao sul, o Jonas levava alguns litros de
Daime para compartilhar com os amigos. Desta forma, foi o pioneiro, o que
primeiro recebeu o sacramento da floresta, para divulga-lo fora de seus limites
(MORTIMER, 2000; p. 174-175).
Jonas viveu com esses problemas de saúde por muitos anos, apesar do mau prognóstico
realizado pelos médicos do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. A comunidade daimista acredita que o Daime ajudou na recuperação desses
problemas de saúde.
A associação religião-saúde é uma maneira de lidar com as dificuldades ou
sofrimento, conhecido como coping religioso (ONA, 2019; PARGAMENT; PARK, 1995).
Geralmente, é utilizado o enfrentamento, ou coping religioso, em situações de crise ou
estresse psicológico. Ele pode ser explicado desta forma: uso de crenças para facilitar a
resolução ou prevenir e aliviar as consequências do sofrimento, definindo a maneira pela
qual o indivíduo enfrenta as suas dificuldades (MACHADO; HOLANDA, 2016, p. 67). Parece
que Jonas Frederico viveu com qualidade de vida, apesar da sua condição de saúde.
De Assis e Conceição (2016, p. 130) relatam que a cura pode ser vista como um
merecimento e é atingida a partir da disciplina e do aprendizado. O processo de saúde e
adoecimento no Santo Daime está diretamente ligado à tradição espiritualista (carma).
Assim, toda doença é vista como um problema espiritual, a partir do empenho do indivíduo
em se conhecer e reconhecer as suas práticas negativas, provenientes dessa e de outras
vidas, e que possam estar afetando sua saúde. O perdão, o arrependimento, a mudança de
comportamento e a atitude em relação aos fatores negativos que afetam a saúde produzem
a cura do indivíduo. Mercante (2013) menciona que a Ayahuasca atua como um
“terapeuta”, “um professor”, ao possibilitar revelações de verdades do mundo espiritual,
necessárias ao reestabelecimento da saúde.
Sanchez e Nappo (2007) afirmam que pessoas que frequentam cultos religiosos ou
praticam algum tipo de religião professada apresentam melhoras significativas quando sua
recuperação é permeada por experiências religiosas ou espirituais (de qualquer ordem),
quando comparadas às pessoas que são tratadas exclusivamente por meio médico
tradicional. Estudos têm confirmado a relação entre espiritualidade e saúde também no
âmbito da qualidade de vida (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; DE FREITAS MELO et al., 2015;
PARGAMENT; PARK, 1995).
Segue relato de um adepto da Comunidade Céu de Midam, que conviveu
estreitamente com Jonas:
187
“Então, eu vou falar mais da minha experiência com o padrinho Jonas, eu acredito que
pessoas que têm uma religião vivem mais resignadas, porque, no meu entendimento,
assim... a religião dá uma estrutura psicológica, emocional... que a vida é eterna. Porque
existe vida após a morte, né?! As pessoas que têm religião, além de acreditar na vida eterna,
elas passam por sofrimentos e são mais resignadas... elas sabem que a vida não termina
aqui. O padrinho [Jonas] tinha isso e muito mais... ele pode vivenciar isso [doutrina Santo
Daime], e como padrinho! Ele deixou esse legado, o que ele deixou pra gente foi muito mais
do que qualquer religião poderia aplicar na vida da gente. É difícil de explicar em palavras
essa ligação com o padrinho..., porque essa relação não acabou... continuamos todos juntos
[material e espiritual]” (NF58E).
Os trabalhos com o Daime se iniciaram, por volta de 1983, na casa de Jonas, em São
Paulo, a qual ficava na Avenida Lins de Vasconcelos, no bairro da Aclimação. Na época,
participavam poucas pessoas, entre amigos e familiares, cerca de oito em cada trabalho.
Houve um período em que as reuniões aconteciam em vários espaços, o que Jonas
Frederico intitulou “Daime itinerante”. Nessas ocasiões, levava uma espécie de bolsa
contendo o Daime e outros elementos mais fundamentais para o ritual (velas, incensos,
taças, cristais, etc.). Dessa forma, o trabalho era levado para a casa das pessoas, geralmente
amigas da família, e lá ocorriam os encontros. Essa prática aconteceu paralelamente aos
trabalhos em locais fixos, entre 1987 e 1988. Para isso, os amigos sediavam espaços, por
exemplo, o cômodo da casa de uma prima da família, um consultório de um psicólogo, a sala
de estar da casa de um desembargador, o salão de uma empresa de bijuterias ou um salão
de uma empresa de cosméticos. A frequência com que ocorriam as reuniões era de
aproximadamente 30 a 40 dias. Tomava-se o Daime e eram realizados os trabalhos de
concentração, com duração de, aproximadamente, três a quatro horas.
Em junho de 1991, foi alugado o primeiro espaço para a realização dos trabalhos,
esse local ficava na Rua Henry Dunant, 567, altos, esquina com a Rua Tucum, Bairro Chácara
Santo Antônio, São Paulo, Capital. Esse foi o primeiro local com contrato social da entidade,
constituindo-se um ponto fixo da Igreja Flor de Luz, por cerca de dois anos.
Em 15 de janeiro 1992, foi realizado o primeiro fardamento na Henry Dunant, sob o
comando dos dirigentes Jonas Frederico e Maria do Carmo Andrada Neto. Estavam
presentes, nesse trabalho, o Padrinho Alfredo Gregório de Melo (segundo filho do Padrinho
188
anos). Lucas Gabriel da Silva Durão e Rafael Benjamim da Silva Durão nasceram
posteriormente.
Um ponto importante a ser ressaltado é que essas famílias já tinham filhos, os quais
foram introduzidos na doutrina do Santo Daime, que já contava com trabalhos direcionados
às crianças, com duração de duas horas, com hinos pré-selecionados e era dada pouca
quantidade de Daime (bebida Ayahuasca) para elas. De acordo com relatos de alguns
adeptos da doutrina daimista da Comunidade Céu de Midam, resumidamente: “é normal
levar os filhos, assim como em outras religiões que levam seus filhos à igreja, ao centro
espírita, ao terreiro de umbanda, sinagoga”. Muitos filhos foram “gerados no Daime”, como
algumas mães costumam afirmar, pois elas não interromperam o uso do Daime (bebida
Ayahuasca) durante a gravidez. Os bebês, logo após o nascimento, recebiam “Daime” em
conta-gotas. Atualmente, existe a terceira geração dessas crianças, em razão de os filhos dos
filhos dessas famílias hoje serem pais, e continuam mantendo a tradição de oferecer
“Daime” aos seus filhos. Tive a oportunidade de entrevistar uma adepta que estava no
quinto mês de gravidez, durante o processo da coleta de dados, e conhecer o bebê após o
seu nascimento.
Do ponto de vista legal, não existe empecilho para a participação de menores de
idade nos rituais ayahuasqueiros. De acordo com Labate (2005, p. 414), no Santo Daime não
existe uma regra oficial quanto à frequência de menores nos trabalhos espirituais, o que é
decidido em função da natureza do trabalho, da relação que os pais mantêm com a doutrina
e de uma espécie de saber grupal, acumulado e transmitido oralmente. Ainda de acordo
com a autora, os menores recebem menos quantidade da bebida do que os adultos. Esse
tema é motivo de muita polêmica, no entanto o código civil prevê o pátrio poder –
instituição civil que constitui classicamente a instância decisória sobre todos os atos de
criação e educação dos filhos –, que inclui o direito dos pais de educar, inclusive do ponto de
vista religioso (BRASIL, 2018). Em outras palavras, assim como a liberdade de religião é
direito constitucional do indivíduo, de modo igual é, inclusive, a liberdade de ensino e o
direito à criação dos próprios filhos. Mas se o Estado entender que essa “criação” prejudica a
formação da criança, pode tirar o pátrio poder dos pais e transferi-lo para terceiros. Assim,
os pais perdem o pátrio poder em situações, como, vedar o acesso dos filhos à escola ou
proibir a transfusão de sangue (como no caso das Testemunhas de Jeová).
190
Em junho de 1993, a Igreja Flor de Luz teve de se mudar, pois começaram a surgir
problemas no salão da Rua Henry Dunant, da Chácara Santo Antônio, embora fosse um
endereço comercial. Um dos problemas foi em relação à música alta tocada durante o ritual,
que ia até tarde da noite. Outro foi o valor do aluguel, que estava ficando muito caro. Então,
a Igreja foi para um o sítio em Embu das Artes, de propriedade de Luiz Carlos, um psiquiatra,
que cedeu o espaço. Logo após ocorreu nova mudança, dessa vez, para a Avenida Maria
Amália Lopes de Azevedo, no bairro de Tremembé, Zona Norte da Capital.
Durante essa temporada de mudanças da sede da Igreja Flor de Luz, os seus
componentes promoveram buscas para adquirir uma sede própria. A irmandade organizou
uma comissão responsável pela procura e compra das terras em diversos lugares dos
estados de São Paulo e Minas Gerais, principalmente no interior, longe da agitação da
metrópole e do concreto. Durante esse período de buscas pelas terras, eles quase desistiram
da compra de sua sede, pensaram até em devolver o dinheiro que haviam arrecadado. No
entanto, foi realizada uma reunião com todos os integrantes para decidir o que fazer com o
dinheiro, quando Jonas Frederico e demais componentes decidiram que não haveria
devolução do dinheiro.
Em dezembro de 1993, um corretor apresentou 7,5 alqueires de terras, no município
de Piedade, São Paulo, e foi efetivada a compra das terras da sede da Igreja Flor de Luz e
futura Comunidade Céu de Midam. Na ocasião, foi realizado um Ritual de recebimento das
terras.
De acordo com Couto (2002, p. 394), o Ritual é uma ação composta pelo contexto
mítico-social, que tem na bebida Ayahuasca o seu principal agente e na música o seu modo
de expressão. Lembrando que os rituais do Santo Daime não são rituais de inversão, por
exemplo, ao contrário do carnaval, afirma-se que eles são ritos da ordem. A ordem interna é
reafirmada pelo empenho de cada indivíduo, de acordo com sua participação e empenho no
ritual, ao submeter-se às normas e regras do “Império Juramidam11”, o que, na prática,
11
A expressão “Juramidam” refere-se aos descendentes de Juramidam, nome que o Mestre Irineu recebeu das
entidades celestiais do Santo Daime. Juramidam é o chefe da missão, “jura” é o pai, e “midam”, o filho –
Juramidam representa a segunda volta de Cristo na terra, sendo assim, o povo Juramidam é o povo de Jesus
Cristo (FRÓES, 1986, p. 26). Na doutrina do Santo Daime, percebe-se a existência de um universo simbólico que
tem como base a ideia de “Império Juramidam”, que remete a uma filiação mítica, tendo como Mãe a Rainha
da Floresta e, como Pai, o Rei Juramidam, constituindo a “Família Juramidam” (COUTO, 2002, p. 387). Mestre
Irineu ocupa a patente espiritual “Juramidam”. Após sua passagem, ele é representado como o ser espiritual
“Juramidam”, pois estaria presente em todos os rituais do Daime em que se toma a bebida Ayahuasca da
maneira que ensinou (MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 61).
191
Fotografia 18 – Placa sinalizadora na Rodovia SP-79, sentido Piedade – Votorantim, dias atuais
Legenda
1 - Marcos Antonio Frederico
3 6
1 2 - Regina Célia Frederico
2 4
3 - Alexandre Frederico
5
4 - Carlos Durão
5 - Eunice Durão
6 - Geraldo Neork Filho
Fonte: Acervo da família Durão (esquerda e meio) (2019) e Arilton Martins Fonseca (direita) (2019).
196
Na época atual, na Comunidade Céu de Midam, existem duas Igrejas daimistas: Flor
de Luz, dirigida por Kelmir Jones de Andrade, e o Centro Luz Divina, dirigido por Carlos
Durão; mas também um centro de chá Ayahuasca, dirigido por Stela Luz; e a Torre de Jojoha,
que funciona como centro de apoio à Igreja Céu de Cristal, que tem sua sede na Chapada
dos Veadeiros, Goiás, dirigida por Geraldo Neork Filho.
A Comunidade Céu de Midam é uma das maiores comunidades daimistas do Brasil,
com 32 casas construídas, nas quais 19 famílias são moradoras de fato.
4.2.2 Quais os tipos de bebida Ayahuasca são oferecidos aos adeptos no Centro Luz Divina
Não existe apenas um tipo de bebida Ayahuasca, mas várias, tendo diferentes
graduações.
De maneira geral, a confecção da bebida é realizada a partir do cipó do jagube, folha
da rainha, e água, os quais são dispostos em uma panela, colocada em uma fornalha
(espécie de fogão a lenha gigante), para o cozimento (decocção) das plantas, até obter uma
redução de, aproximadamente, 50% do total do conteúdo da panela. Esse primeiro
cozimento já é uma bebida Ayahuasca denominada Primeiro Grau. Em relação à graduação
da bebida, do ponto de vista farmacológico, quanto maior o grau, mais potente é a bebida.
198
“O Daime era assim, tirava o Primeiro Grau, depois o Segundo Grau e nem se pensava em
Terceiro, isso na época do Mestre [Irineu] e do Padrinho Sebastião no Alto Santo.” (MM67E).
Outro entrevistado que possui casa na Vila Céu do Mapiá – AM, e costuma passar
três meses do ano por lá, afirma:
“[...] com o aumento do número de pessoas tomando Daime e para melhor aproveitar o
material [plantas], o Padrinho Alfredo [filho do Padrinho Sebastião] realizou estudos e
começou a tirar mais graus do material e depois reduzia, dependendo da quantidade e
qualidade do material, teoricamente pode se tirar até o Nono Grau.” (EF52E).
Foi observado que no Centro luz Divina as bebidas são produzidas com plantas
cultivadas tanto na Comunidade Céu de Midam quanto no próprio centro, no entanto é
importante observar que outras plantas (não identificadas) de diferentes regiões (Minas
Gerais, Nordeste e Amazônia) também podem ser utilizadas na produção destas bebidas.
Porém, essas plantas não foram coletadas e/ou identificadas, pois não estavam disponíveis
durante o trabalho de campo. Essas observações comprovam que não existe apenas um tipo
de bebida ayahuasca, mas várias bebidas que variam de acordo com o tempo de cozimento,
a concentração e a diversidade de plantas utilizadas. Essas variáveis afetam diretamente as
diferentes “potências” da bebida do ponto de vista químico e farmacológico (FONSECA;
RODRIGUES, 2021).
Entre os tipos de bebida Ayahuasca, existe uma denominada “mel”, resultado de
uma redução (apuração) que pode ser realizada com qualquer tipo de bebida (Primeiro
Grau, Terceiro Grau, etc.): basta apurar (reduzir) a bebida até engrossar e se transformar em
um “mel” (parecido com a consistência do mel de abelha). Esse tipo de bebida foi
desenvolvido com o intuito de facilitar o transporte, assim ficaria mais econômico
transportar quantidades maiores, inclusive para a exportação para as igrejas fora do Brasil.
199
Em relação às doses das bebidas Ayahuasca servidas aos adeptos, Labate (2004, p.
243) relata que as recomendações oficiais do CEFLURIS são de servir inicialmente uma dose
de 120 mL de Daime de Primeiro Grau, ou 70 mL de Daime de Segundo Grau, ou 40 mL da
bebida de Terceiro Grau. Essas são referências para doses máximas a serem tomadas no
primeiro “despacho12”. As próximas doses a serem consumidas durante o mesmo dia do
ritual devem ser menores. Durante a realização dos trabalhos de hinário, por exemplo, as
doses são menores, contudo, tomam-se mais doses, pois os trabalhos são mais longos. Nos
trabalhos de concentração e, especialmente, nos trabalhos de cura, há demanda por um
número superior de doses da bebida (ICEFLU, 2020). Sobre as repetições das doses da
bebida Ayahuasca durante os trabalhos, Labate (2004, p. 243) descreve que estas devem ser
decrescentes sucessivamente, por exemplo, redução de um terço para a segunda dose,
redução da metade para a terceira dose. Caso haja mais “despachos” da bebida, eles devem
ser sempre opcionais, de acordo com as recomendações oficiais do CEFLURIS (LABATE, 2004,
p. 243).
O Daime é feito com a união de plantas nativas da floresta amazônica, o cipó (jagube)
é o elemento masculino e a folha (chacrona) é o elemento feminino. A bebida é, em parte,
natureza, em parte, cultura do “Império Juramidam” (COUTO, 2002, p. 392; MORTIMER,
2018, p. 47).
Polari (1992, p. 160) explica que o “feitio” é o grande trabalho da doutrina, porque
representa a oportunidade de produzir o Daime que se consome nos rituais. O feitio segue
regras rigorosas ritualísticas, com o máximo respeito, silêncio, devoção e esforço físico. O
feitio é uma cerimônia carregada de simbolismo espiritual, sendo o testemunho da
idoneidade cultural e da pureza ritual da doutrina do Santo Daime. É um rito que remete às
origens dos povos indígenas que ainda hoje habitam a floresta Amazônica Ocidental. É a
produção de um Sacramento e durante o feitio tudo é realizado tomando Daime e cantando
hinos.
12
De acordo com o CEFLURIS, “despacho” é um termo utilizado na Doutrina do Santo Daime para a distribuição
da bebida Ayahuasca. O responsável pelo “despacho” é um adepto com experiência e familiaridade dentro da
doutrina daimista. Geralmente, em um trabalho são “despachados”, em média, três doses da bebida
Ayahuasca, em horários diferentes (ICEFLU, 2020; LABATE, 2004, p. 243).
200
O processo do feitio envolve várias etapas, segundo Polari (1995, p. 71), começando
pela localização da matéria-prima na mata (jagube e rainha). As mulheres são responsáveis
pela coleta e pela limpeza das folhas da rainha, tarefa que é realizada no interior da igreja,
manualmente, folha a folha, posteriormente, são levadas para a Casa do Feitio (ver
FOTOGRAFIA 24). Os homens colhem, limpam e rapam o cipó na Casa do Feitio, depois de
limpo, tem início a bateção (macerar).
Fotografia 26 – Fornalha para a decocção do Daime (à esquerda) e bancada para escorrer o Daime (à direita)
Groisman (1999, p. 104) relata que o feitio é o rito de elaboração física e simbólica do
Daime, nele se encontram sintetizados todos os elementos que compõem simbolicamente a
luta pela elevação espiritual, pela superação das entidades negativas que envolvem as
relações entre os indivíduos. O feitio é o momento de fabricar o Daime, um rito de
comunhão e reforço dos laços coletivos, mas também de mostrar a força, a organização e a
eficiência do grupo. O feitio é um tempo especial, durante o qual a comunidade toda se
envolve no trabalho sagrado de fazer a bebida, de dar à luz o ser divino. Ao mesmo tempo,
ele é especial porque é cíclico, não sendo contado por dias, mas sim, pelo começo, pelo
desenrolar e pela conclusão do processo de produção da bebida (POLARI, 1992, p. 160).
Essa forma coletiva e ritualizada de produção do Daime provavelmente foi criada por
Irineu Serra. Mantém-se a fidelidade aos passos rituais e à manutenção das técnicas que ele
institucionalizou e que, embora tenham-se modificado no decorrer dos tempos, são tratados
como verdadeira ortodoxia, guardada e transmitida cuidadosamente pelos mais velhos e
mais experientes. São eles que instruem e orientam diretamente os novatos nas diversas
tarefas, desde as mais simples, de preparação, até as mais complexas, de cozimento
(GROISMAN, 1999, p. 104). De acordo com Groisman (2021), o sucesso do feitio está
relacionado a uma preparação adequada do feitor (conhecimentos) e seu contato com o
mundo espiritual.
4.2.4 Cultivo das plantas que compõem a Ayahuasca na Comunidade Céu de Midam
No ano de 1995, Carlos Durão e Alexandre Santos Frederico (um dos filhos do
Padrinho Jonas) foram até o município de Rondonópolis, Mato Grosso, distante 1.313 km de
Piedade – SP, buscar mudas de rainha (P. viridis) e de jagube (B. caapi) para plantar na
Comunidade Céu de Midam. Em uma viagem específica e rápida, de apenas 2 dias, a dupla
dividiu o volante de uma caminhonete para apanhar 200 mudas de rainha e 100 mudas de
jagube. Essas mudas, colhidas em Rondonópolis, eram originárias da Vila Céu do Mapiá,
quartel general do Santo Daime, no estado do Amazonas. O responsável por trazer as
primeiras mudas do Mapiá para Rondonópolis foi o Sr. Rodolfo, que era amigo do Mestre
Irineu e do Padrinho Sebastião, assim como era próximo do Padrinho Jonas. Dessa forma, a
igreja Flor de Luz passou a ter seu próprio reinado (plantio de rainhas) e plantio de jagube
em suas terras, Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.
203
As rainhas plantadas no quintal da família Durão e nas cercanias do Centro Luz Divina
são oriundas das mudas trazidas de Rondonópolis, em 1995, assim como os pés de jagubes
existentes nas cercanias do Centro Luz Divina.
A Figura 49 mostra a localidade da Vila Céu do Mapiá – AM, origem das plantas; a
localidade do município de Rondonópolis – MT, onde o Sr. Rodolfo plantou as mudas
trazidas do Amazonas; e a localidade da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP, onde
foram plantadas as mudas trazidas de Rondonópolis.
Figura 49 – Localidade das plantas: Mapiá – AM, Rondonópolis – MT e Céu de Midam, Piedade – SP
É importante ressaltar o local de origem das plantas, por exemplo, a P. viridis (rainha)
é endêmica no Brasil, no Norte (Acre e Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) (ver
FIGURA 3). No entanto as mudas trazidas para a Comunidade Céu de Midam são originárias
das mudas trazidas da Vila Céu do Mapiá – AM, que foram plantadas em Rondonópolis – MT,
que não é seu local de origem, ou seja, as mudas plantadas na Comunidade Céu de Midam
fizeram uma escala em um local onde não é natural encontrá-las.
O mesmo raciocínio pode ser realizado com o B. caapi (jagube), que é endêmico no
Brasil, no Norte (Acre, Amazonas, Pará e Rondônia) e Centro-Oeste (Mato Grosso) (ver
FIGURA 4). As mudas de jagube trazidas de Rondonópolis – MT, permaneceram em seu local
204
de origem, mesmo quando foram levadas da Vila Céu de Mapiá – AM para Rondonópolis –
MT. Porém quando esses jagubes são trazidos para o Sudeste, especificamente o estado de
São Paulo, eles ficam fora do seu local de origem, ou melhor, estão plantados na
Comunidade Céu de Midam, lugar que não é natural encontrá-los, pois não são endêmicos
no Sudeste do Brasil.
astrais” (sensação de morte e renascimento, angústia, prazer, visões belas, elucidativas e/ou
terríficos) (CEMIN, 2002, p. 349).
De acordo com Groisman (1999, p. 45), os daimistas nomeiam o modelo de
espiritualismo que praticam de ecletismo evolutivo, com base na tradição oral herdada do
Mestre Irineu. Uma possível explicação, talvez, a associação de Irineu Serra com o Círculo
Esotérico da Comunhão do Pensamento, entidade espiritualista, com sede em São Paulo,
Capital, que tenha sido a motivação para que adotasse esse modelo. Ecletismo, nesse caso, é
muito mais um conjunto de valores do que uma escola de pensamento. Esse conjunto de
valores tem como base essencial a aceitação das tradições espirituais diversas na busca
espiritual com o Daime. Não existe um texto a que os daimistas do CEFLURIS se reportem,
mas sim, a interpretação dos conteúdos da tradição oral de Irineu Serra. A designação
ecletismo evolutivo remete ao espiritismo brasileiro na gênese do culto, o que parece
justificar a convivência entre diversos sistemas cosmológicos, como a umbanda, o
esoterismo, o espiritismo kardecista, entre outros (GROISMAN, 1999, p. 46).
Labate e Pacheco (2009, p. 16) discorrem sobre a estreita relação entre a música e o
uso de Ayahuasca, que é característica marcante entre as religiões ayahuasqueiras
brasileiras, como o Santo Daime (em suas vertentes do Alto Santo e CEFLURIS), a Barquinha
e a UDV. Cada uma desenvolveu formas específicas de manejar a música em suas práticas
rituais, incluindo a criação de um vasto repertório musical próprio, composto por hinos
(Santo Daime), salmos (Barquinha) e chamadas (UDV). Em suma, a doutrina daimista é
cantada, os hinos são o principal instrumento doutrinário do Santo Daime, agindo como um
autêntico corpo “semântico” estruturado dessa prática religiosa (LABATE; PACHECO, 2009,
p. 33).
As cerimônias religiosas do Santo Daime são rituais em que se passa a maior parte do
tempo cantando. É um testemunho evidente a importância da música para essa doutrina,
pois o fardado do Santo Daime dispende grande parte de tempo cantando, escutando,
tocando e ensaiando os hinos, tanto nos rituais quanto em seu dia a dia (LABATE; PACHECO,
2009, p. 33; REHEN, 2016).
No Santo Daime, os hinários compõem o principal acervo de ensinamentos e são
206
4.2.5.2 A miração
O ritual daimista funcionou durante muitos anos com uma hierarquia explícita na
farda, de tal modo que, quanto maior o número de estrelas na farda, mais alta era a patente
do “irmão”. No entanto cerca de uns quinze anos antes de morrer, Mestre Irineu nivelou
todos, de modo que todos ficaram iguais. Couto (2002, p. 396) esclarece que os irmãos eram
conhecidos por divisão (patente), que ia de uma estrela até nove, mas, devido à
incompreensão dos próprios irmãos, ou seja, quem tinha mais estrelas se achava no direito
de “massacrar” quem tinha menos, o Mestre extinguiu essa divisão.
O salão da igreja deve ser preferencialmente na forma de uma estrela de seis pontas
(ver FOTOGRAFIA 27), assim como a mesa central. No centro da mesa deve estar o Santo
Cruzeiro (Cruz de Caravaca), principal símbolo da doutrina do Mestre Irineu, com um terço
no eixo vertical. Ele deve estar virado para a porta de entrada e sem nada na frente, com no
mínimo três velas acesas, que simbolizam o Sol, a Lua e as Estrelas. Uma quarta vela deve
ser acesa, em homenagem a todos os seres divinos e guias espirituais da doutrina. É
permitido que haja também uma garrafa ou jarra de água para uso. Os objetos rituais ficam
210
sobre a mesa; ao lado do Santo Cruzeiro, a imagem de Cristo, da Virgem Maria, do Mestre
Irineu e de Padrinho Sebastião (ICEFLU, 2020).
O altar do Daime fica no extremo oposto à entrada principal da igreja. Nele também
são colocados um Santo Cruzeiro e dois recipientes de louça, onde fica o Daime. Antes do
início do trabalho, os homens encarregados de servir o Daime já estão a postos, após terem
transportado o Daime em recipientes apropriados. No altar também ficam objetos litúrgicos
auxiliares, como velas, defumadores e copos para o servir de Daime (GROISMAN, 1999, p.
72).
A Fotografia 28 mostra o Altar do Daime do Centro Luz Divina, Piedade – SP. Estão
dispostos, da esquerda para a direita: Sra. Eunice Durão, Mirtes Veiga, Sr. Carlos Durão e
Arilton Martins Fonseca.
Homens
H o e me
me ni
Homens
ns nos
ns
sol
me
tei
Homens solteiros
Ho
Mulheres jovens
ros
e meninos
e meninas
s
ven
s jo as
Mu
lhe nin
lh
M u e me
e
ere
Mulheres
r
Mulheres
da direita para a esquerda. Da mesma maneira, por um critério de altura, os mais altos ficam
à direita, e os mais baixos, à esquerda (GROISMAN, 1999, p. 73).
tivessem encerrado uma verdadeira etapa de suas vidas. Geralmente, toma-se uma sopa
leve de legumes ao final dos trabalhos (GROISMAN, 1999, p. 75).
Durante o bailado, segundo as normas do ICEFLU (2020), a mesa central não é
ocupada fisicamente por ninguém. O bailado se inicia após a primeira estrofe do hino, a
partir do movimento do comandante, que dá o primeiro passo à esquerda. O bailado deve
acompanhar o compasso da música, sem arrastar nem acelerar. O bailado é também uma
vitrine do trabalho espiritual de cada um. Devem-se evitar trejeitos e movimentos
exagerados que quebrem o padrão apresentado pela corrente (CEMIN, 2002, p. 365).
O bailado consiste em uma dança repetitiva, durante a qual a pessoa deve
acompanhar sincronicamente o movimento coletivo, deslocando-se conforme o ritmo dos
hinos e o movimento do grupo. Há três gêneros de bailado: a valsa, em que o tronco se
desloca enquanto os pés ficam no mesmo lugar; a marcha, que lembra um passo marcial e
que consiste em dois meios passos para a esquerda e dois meios passos para a direita, com o
corpo sempre voltado para frente; a mazurca, quando a pessoa realiza um movimento de
180 graus, colocando-se, em um primeiro momento, de frente para sua esquerda e, em um
segundo momento, de frente para sua direita. O bailado é realizado individualmente, dentro
de pequenos retângulos traçados no chão da igreja, que medem aproximadamente 70 x 30
cm (ver FOTOGRAFIA 29) (CEMIN, 2002, p. 365; GROISMAN, 1999, p. 74).
maracás são instrumentos de percussão e arma espiritual, confeccionados com uma lata
(tipo de conserva), um cabo e esferas metálicas, cujo impacto, no interior da lata,
acompanha o ritmo dos hinos e sugere o movimento de tropas militares em marcha. O
maracá marca o compasso e chama força para o trabalho. Tal como os hinos, o maracá, por
meio da vontade humana direcionada, intensifica e faz vibrar a força, potencializando o
poder espiritual (CEMIN, 2002, p. 357; GROISMAN, 1999, p. 74).
A sincronia e o alinhamento das filas do bailado são controlados pelos fiscais. Eles
orientam os participantes a manterem o alinhamento e o ritmo, assim como também
orientam as fileiras quanto à composição, à disposição e à harmonia. Deslocam os
participantes para ocupar eventuais espaços, acompanham os novatos que querem se
retirar da igreja, observam o grupo, procurando manter a “força da corrente”. Os fiscais
assistem também às pessoas que estão vomitando ou que se sentaram, e que necessitam de
acompanhamento espiritual mais intenso, como no caso das “atuações”, que é como os
daimistas chamam as incorporações de espíritos (GROISMAN, 1999, p. 74).
A Santa Missa é um ritual realizado nos dias indicados pelo calendário oficial, por
exemplo, a passagem do Mestre Irineu, no dia 6 de julho; a passagem do Padrinho
Sebastião, no dia 20 de janeiro (dia de São Sebastião), bem como em ocasiões especiais, de
acordo com a presidência do centro local. A missa deve ser realizada sempre às 16 h, os
adeptos devem vestir-se de farda azul, salvo quando realizada após algum dos hinários
oficiais, de farda branca. Não são tocados instrumentos musicais nem há bailado. As pessoas
ficam sentadas em torno da mesa, homens e mulheres em seus respectivos lados (ICEFLU,
2020).
Os trabalhos de concentração, observando as normas do ICEFLU (2020), são
realizados duas vezes no mês, todos os dias 15 e 30, independente do dia da semana, pois
fazem parte do calendário oficial. Após a abertura do trabalho, toma-se o Daime, segue-se
com a leitura do Decreto de Serviço, emitido por Irineu Serra. Esse tipo de trabalho é
marcado pela imobilidade. A distribuição dos irmãos segue as regras da igreja, homens de
um lado e mulheres do outro, uns de frente para os outros, mantêm-se imóveis, sentados e
de olhos fechados, durante mais ou menos uma hora e meia. Nesse período, é frequente
que o dirigente use da palavra para fazer “preleção”, ou seja, dar instruções para a
concentração, advertências e conselhos de ordem moral ou religiosa. Inclusive, as sessões de
concentração são utilizadas muitas vezes com a finalidade de “enquadrar a irmandade”.
215
Características sociodemográficas
Grupo controle Grupo estudo
Teste
Controle Experiente Iniciante p
estatístico
(n=16) (n=16) (n=16)
Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Idade (anos) 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) F(2,45)=1,29 0,285
n (%) n (%) n (%)
Sexo
Masculino 8 (50,0) 8 (50,0) 8 (50,0) Χ² = 0,00 1,000
Feminino 8 (50,0) 8 (50,0) 8 (50,0)
Estado Civil
Solteiro 7 (43,8) 4 (25,0) 6 (37,5)
Casado 7 (43,8) 9 (56,3) 9 (56,3)
Χ² = 3,54 0,738
Separado/divorciado 2 (12,5) 2 (12,5) 1 (6,3)
Outros 0 (0,0) 1 (6,3) 0 (0,0)
Escolaridade
Pós-graduação 3 (18,8) 2 (12,5) 1 (6,3)
Superior 1 (6,3) 6 (37,5) 0 (0,0)
Médio 10 (62,5) 5 (31,3) 13 (81,3) Χ² = 13,85 0,086
Fundamental completo 1 (6,3) 1 (6,3) 1 (6,3)
Fundamental incompleto 1 (6,3) 2 (12,5) 1 (6,3)
Tipo de Trabalho
Do lar 1 (6,3) 1 (6,3) 0 (0,0)
Aposentado 3 (18,8) 2 (12,5) 1 (6,3)
Χ² = 8,80 0,185
Empregado CLT 9 (56,3) 7 (43,8) 4 (25,0)
Autônomo/profissional Liberal 3 (18,8) 6 (37,5) 11 (68,8)
Condição Socioeconômica
1 a 4 salários mínimos 13 (81,3) 12 (75,0) 16 (100,0)
Χ² = 4,43 0,114
5 a 9 salários mínimos 3 (18,8) 4 (25,0) 0 (0,0)
Notas: DP: desvio padrão; F: teste ANOVA; X2: teste Qui-quadrado; *: significativo para p≤0,05.
4.4 Cognição
Tabela 2 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo (experiente
e iniciante), dos escores da WASI em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo
MANOVA - WASI
Variável
Fator F Sig. ᶯ² Poder
dependente
VC 2,02 0,16 0,046 0,28
CB 0,08 0,77 0,002 0,05
SM 3,32 0,07 0,073 0,42
Sexo RM 0,04 0,94 0,000 0,05
QIV 2,50 0,12 0,056 0,34
QIE 0,01 0,90 0,000 0,05
QIT-4 0,87 0,35 0,020 0,15
VCa 7,86 <0,01* 0,273 0,93
CBc 5,05 0,01* 0,194 0,79
SMa 7,09 <0,01* 0,252 0,91
Grupo RMa,c 4,11 0,02* 0,164 0,69
QIVa 8,55 <0,01* 0,289 0,95
QIEa,c 4,76 0,01* 0,185 0,76
QIT-4a,c 8,31 <0,01* 0,284 0,95
VC 2,33 0,10 0,100 0,44
CB 0,06 0,93 0,003 0,05
SM 1,12 0,33 0,051 0,23
Sexo x Grupo RM 0,44 0,64 0,021 0,11
QIV 1,44 0,24 0,064 0,29
QIE 0,30 0,74 0,014 0,09
QIT-4 0,99 0,37 0,045 0,21
Notas: ᶯ²: eta parcial quadrado; *: significativo para p≤0,05; a: iniciante ≠
controle; b: experiente ≠ controle; c: iniciante ≠ experiente.
Tabela 3 – Resultados da WASI dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), apresentando as médias,
diferença entre grupo e o valor do p
Resultados da WASI
Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Total (48) Diferença
WASI p
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) entre grupo
VC 50,93 (±12,77) 40,62 (±15,43) 34,31 (±7,96) 41,95 (±14,01) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,01*
CB 52,37 (±6,02) 54,00 (±7,49) 45,62 (±9,12) 50,66 (±8,33)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
SM 53,37 (±12,10) 46,25 (±12,75) 37,68 (±11,49) 45,77 (±13,52) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
RM 56,75 (±8,40) 56,68 (±9,06) 48,93 (±8,46) 54,12 (±9,23)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
QIV 104,18 (±19,30) 91,06 (±19,36) 79,12 (±13,47) 91,45 (±20,08) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
QIE 107,31 (±10,22) 107,31 (±13,76) 95,43 (±12,42) 103,35 (±13,23)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
QIT-4 106,25 (±15,48) 99,18 (±15,44) 85,68 (±12,24) 97,04 (±16,57)
Cont. ≠ Inic. 0,01*
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,85 (±14,43) – –
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 24:24 – –
dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo. Não foram encontradas diferenças do sexo e
da interação sexo grupo sobre nenhuma das outras medidas da WASI (TABELA 4).
Tabela 4 – Resultados das comparações entre as médias dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante),
dos escores da WASI em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo, por meio do
procedimento de Bonferroni para comparações múltiplas
Diferenças
WASI Sexo Grupo Média (DP)
significativas
Experientea 33,00 (±4,23)
1
Masculino Inicianteb 33,50 (±4,23) NS
Controlec 52,00 (±4,23)
VC
Experientea 48,25 (±4,23)
Feminino2 Inicianteb 35,12 (±4,23) NS
Controlec 49,87 (±4,32)
Experientea 53,75 (±2,79)
1
Masculino Inicianteb 46,25 (±2,79) NS
Controlec 53,00 (±2,79)
CB
Experientea 54,25 (±2,79)
2
Feminino Inicianteb 45,00 (±2,79) NS
c
Controle 51,75 (±2,79)
Experientea 40,12 (±4,17)
Masculino1 Inicianteb 34,37 (±4,17) NS
Controlec 53,50 (±4,17)
SM
Experientea 52,37 (±4,17)
Feminino2 Inicianteb 41,00 (±4,17) NS
c
Controle 53,25 (±4,17)
Experientea 56,62 (±3,13)
Masculino1 Inicianteb 47,62 (±3,13) NS
Controlec 58,37 (±3,13)
RM
Experientea 56,75 (±3,13)
Feminino2 Inicianteb 50,25 (±3,13) NS
c
Controle 55,12 (±3,13)
Experientea 81,37 (±6,06)
Masculino1 Inicianteb 76,87 (±6,06) NS
Controlec 104,37 (±6,06)
QIV
Experientea 100,75 (±6,06)
2 b
Feminino Iniciante 81,37 (±6,06) NS
Controlec 104,00 (±6,06)
Experientea 106,25 (±4,44)
1
Masculino Inicianteb 95,00 (±4,44) NS
Controlec 109,50 (±4,44)
QIE
Experientea 108,37 (±4,44)
2 b
Feminino Iniciante 95,87 (±4,44) NS
Controlec 105,12 (±4,44)
Experientea 93,37 (±5,12)
1
Masculino Inicianteb 84,25 (±5,12) NS
Controlec 107,62 (±5,12)
QIT-4
Experientea 105,00 (±5,12)
2 b
Feminino Iniciante 87,12 (±5,12) NS
Controlec 104,87 (±5,12)
Notas: DP: desvio padrão; NS: não significativo; 1: Masculino; 2: Feminino; a: experiente; b: iniciante; c: controle.
222
Tabela 5 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo (experiente
e iniciante) para as medidas de Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey, em relação aos efeitos dos
fatores sexo, grupo e interação sexo grupo
Ordem Direta (OD), Ordem Inversa (OI), soma das OD e OI, diferença da OD e OI e as médias
das idades dos participantes de todos os estudos.
Tabela 6 – Resultados da Tarefa de Dígitos dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
comparação ao estudo de Figueiredo e Nascimento (2007), apresentando as médias dos escores ponderados e
brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), soma da OD e OI; diferença entre OD e OI e médias das idades
dos participantes de todos os estudos
Comparação dos resultados da tarefa Dígitos
Figueiredo e Nascimento
Controle Estudo
(2007)
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) WISC-III (801) WAIS-III (788)
Escores
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Ponderados 11,25 (±3,10) 13,00 (±2,58) 9,62 (±2,18)a* – –
Brutos
OD 8,50 (±2,30) 9,93 (±1,52) 7,75 (±2,11) 6,88 (±2,11) 6,93 (±2,22)
OI 5,12 (±2,30) 5,87 (±2,18) 3,62 (±1,58) 3,66 (±2,11) 4,81 (±2,35)
Soma (OD+OI) 6,81 (±2,17) 7,90 (±1,67) 5,68 (±1,50) – –
Diferença (OD-OI) 3,37 (±1,54) 4,06 (±1,73) 4,12 (±2,21) 3,22 (±1,84) 2,12 (±1,92)
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) Todas idades Todas idades
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 392:409 –
Notas: DP: desvio padrão; a: experiente ≠ iniciante; *: significativo para p<0,01.
Cunha (2000, p. 567) afirma que adultos com inteligência normal, ou seja, na média,
têm a capacidade de reter pelo menos 5 dígitos na OD e 3 na OI. Baron (2004, p. 225)
assegura que, entre crianças de 7 a 9 anos, é previsto um alcance de 5 dígitos na OD e 3
dígitos na OI; até os 9 anos, é esperado que tenham um alcance de 3 dígitos na OI e, após
essa idade, a média do alcance aumenta para 4 dígitos.
Constata-se, na Tabela 6, que a média do escore ponderado do grupo experiente foi
superior (13,00) ao dos outros grupos. O grupo experiente reteve 9,9 dígitos, em média, na
OD, o dobro do indicado na literatura (CUNHA, 2000, p. 567), superior ao grupo iniciante e
ao estudo de Figueiredo e Nascimento (2007). A retenção de dígitos na OI, pelo grupo
experiente, foi em média de 5,8 dígitos, enquanto a literatura indica 4 (BARON, 2004, p. 225;
ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017, p. 128). O grupo experiente obteve um ponto a mais
(5,87) que os participantes adultos (4,81) descritos por Figueiredo e Nascimento (2007), e
mais que dois pontos em relação ao grupo iniciante (3,62).
No que se refere à diferença entre OD e OI o grupo experiente (ver TABELA 6),
pontuou o dobro (4,0 na média), em relação a Figueiredo e Nascimento (2007), na
população adulta (2,12), a literatura afirma que uma diferença de 3 pontos é significante
224
(BARON, 2004, p. 225; ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017. p. 128). Portanto, o grupo
experiente está acima da média em relação a essa pontuação, em comparação aos estudos
apresentados.
A Tabela 7 mostra as diferenças entre OD e OI dos grupos controle e grupo estudo
(experiente e iniciante), menor que três e maior que três, na tarefa Dígitos.
Tabela 7 – Diferença entre Ordem Direta (OD) e Ordem Indireta (OI), na tarefa Dígitos, com acertos abaixo e
acima de 3 pontos, dos grupos controle e grupo estudo (experiente e iniciante)
Dígitos – diferença entre OD e OI
Controle Estudo
Dígitos Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
n (%) n (%) n (%)
Diferença (OD-OI)
< que 3 4 (25,0) 2 (12,5) 5 (31,2)
> que 3 12 (75,0) 14 (87,5) 11 (68,8)
Total 16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)
do escore total, médias das idades dos participantes e proporção entre homens e mulheres
de todos os estudos.
Tabela 8 – Resultados da tarefa Cubos de Corsi dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
comparação aos estudos de Kessels et al. (2000, 2008), apresentando as médias dos escores ponderados, dos
escores brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), média e DP da soma (OD+OI), escore total e DP, e
média das idades dos participantes e proporção entre homens e mulheres de todos os estudos
Comparação dos resultados da tarefa Cubos de Corsi
Controle Estudo Kessels (2000) Kessels (2008)
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Amostra1 (70) Amostra2 (37)
Escores
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Ponderados 9,06 (±3,23) 9,68 (±2,72) 6,93 (±2,54)a* – –
Brutos
OD 8,00 (±1,70) 8,00 (±1,54) 6,62 (±1,54) – 7,6 (±1,3)
OI 6,50 (±2,82) 6,81 (±1,93) 5,62 (±2,36) – 7,8 (±1,7)
Média (OD+OI) 7,25 (±1,99) 7,40 (±2,73) 6,12 (±3,33) 6,2 (±1,3) 7,7 (±1,5)
Escore total 82,62 (±35,29) 83,06 (±25,94) 60,25 (±25,87) 55,7 (±20,3) 40,8 (±11,6)
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 31,2 (±14,1) 56,2 (±2,5)
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 43:27 11:26
1
Notas: DP: desvio padrão; a: experiente ≠ iniciante; *: significativo para p<0,05; : Voluntários saudáveis;
2
: Idosos saudáveis de 50 a 59 anos.
pontuação superior (83,06) ao grupo iniciante (60,25) e a Kessels et al. (2000) (55,7); e o
dobro em relação a Kessels et al. (2008) (40,8).
A Tabela 9 mostra os percentis dos escores totais alcançados na tarefa Cubos de
Corsi dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), agrupados por idade, segundo
Kessels et al. (2000).
Tabela 9 – Percentis dos escores totais da tarefa Cubos de Corsi do grupo controle e estudo (experiente e
iniciante), agrupados por idade, segundo Kessels et al. (2000)
Percentis da tarefa Cubos de Corsi segundo Kessels et al. (2000)*
Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
Idade Idade Idade
20-40 >40 20-40 >40 20-40 >40
Percentil
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
5 – – – – 2 (12,5) –
20 – 1 (6,25) – – – –
30 – 1 (6,25) – – 2 (12,5) 1 (6,25)
40 – – 1 (6,25) – – –
50 1 (6,25) 1 (6,25) – 2 (12,5) – 1 (6,25)
60 – – – – 1 (6,25) 1 (6,25)
70 1 (6,25) – – – – 1 (6,25)
80 – 1 (6,25) – 2 (12,5) 1 (6,25) –
90 – 1 (6,25) – 1 (6,25) 2 (12,5)
95 5 (31,25) 4 (25,0) 5 (31,25) 6 (37,5) 2 (12,5) 1 (6,25)
7 (43,75) 9 (56,25) 6 (37,5) 10 (62,5) 9 (56,25) 7 (43,75)
Total
16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)
Nota: *: os valores dos percentis foram extraídos do estudo de Kessels et al. (2000) e usados
como parâmetro no presente estudo, distribuídos de acordo com a faixa etária.
Tabela 10 – Figuras Complexas de Rey, resultados dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), média,
da cópia escore total, cópia tempo, memória escore total, memória tempo, diferença entre grupo e o valor do
p
Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Total (48) Diferença
Rey p
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) entre grupo
Expe. ≠ Inic.
Cópia escore total 31,40 (±4,48) 30,59 (±3,41) 25,40 (±5,51) 29,13 (±5,19) <0,01*
Cont. ≠ Inic.
Cópia tempo† 3,68 (±1,07) 4,31 (±1,40) 3,75 (±1,43) 3,91 (±1,31) – NS
Memória escore total 18,87 (±7,91) 16,10 (±7,44) 13,06 (±5,70) 16,01 (±7,33) – NS
Memória tempo† 2,62 (±0,71) 2,31 (±1,01) 2,37 (±0,71) 2,43 (±0,82) – NS
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,83 (±14,4) – –
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 24:24 – –
Notas: DP: desvio padrão; †: tempo em minutos; *: significativo para p≤0,05; NS: não significativo.
Tabela 11 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos em Dígitos, Cubos de Corsi e
Figuras Complexas de Rey dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e
grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para comparações múltiplas
feminino. Logo, não houve diferença entre o grupo feminino experiente e o grupo feminino
controle, ambos tiveram desempenho semelhante nessa tarefa. Ainda sobre Figuras
Complexas de Rey, o grupo experiente masculino apresentou melhor desempenho que o
grupo iniciante masculino, no entanto, de acordo com os dados (ver TABELA 11), não houve
diferença entre os grupos experiente e controle nessa mesma tarefa. O que pode ter
ocorrido é que, quando se busca por diferenças específicas (efeito sexo e sexo grupo),
podem ocorrer diferenças que não são detectadas no grupo. Nas demais medidas não foram
encontradas diferenças.
Baron (2004, p. 228) discute as influências demográficas que precisam ser levadas em
consideração no momento da interpretação do teste Dígitos, são elas: idade, nível
educacional e idioma; este autor afirma que diferenças entre gênero não são importantes.
Em relação ao teste Figuras Complexas de Rey, as tabelas normativas do estudo brasileiro
foram elaboradas levando em consideração somente a idade (OLIVEIRA; RIGONI, 2017).
Diante dessas informações, parece que, nesses testes, a diferença entre sexo não é
importante.
Em relação às medidas do WCST, o teste MANOVA mostrou efeito significante da
interação sexo e grupo dos participantes sobre as medidas de Tempo [F(2,47) = 3,43; p=0,04] e
Fracasso em manter o contexto [F(2,47) = 4,29; p=0,02]. Não foram encontrados efeitos do
grupo e do sexo dos participantes do presente estudo, separadamente, sobre nenhuma das
medidas do WCST, como pode ser observado na Tabela 12.
No presente estudo, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos
controle e estudo (experiente e iniciante) para nenhuma medida do WCST (ver TABELA 12).
Bouso et al. (2015) encontraram uma tendência no WCST para um número maior de
respostas corretas (p=0,055) e erros menores (p=0,081) entre os usuários da Ayahuasca,
nenhuma outra variável diferiu entre os grupos.
231
Tabela 12 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), para as medidas do WCST em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo
MANOVA - WCST
Tabela 13 – Escores do teste WCST dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em comparação aos
estudos de Such (2011) e Norman et al. (2011), mostrando as médias do total de acertos, total de erros, nível
de resposta conceitual, categorias completadas, média das idades dos participantes e proporção entre homens
e mulheres de todos os estudos
Tabela 14 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no WCST dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para
comparações múltiplas
Nota-se, na Tabela 14, que no teste WCST ocorreu efeito significante entre sexo e
grupo na medida Tempo, o grupo iniciante masculino se sobressaiu em relação ao grupo
controle, ou seja, fez a tarefa em tempo menor. Na medida Fracasso em manter o contexto,
o grupo controle masculino teve melhor desempenho em relação ao grupo experiente
masculino. Fracasso em manter o contexto ocorre quando o indivíduo comete um erro após
ter feito pelo menos cinco acertos consecutivos, assim, contabiliza-se o número de vezes em
que o individuo fracassou. Nesse sentido, o grupo experiente cometeu mais erros que o
grupo controle (MIGUEL, 2005).
É importante ressaltar que no processo de validação do WCST não houve indícios de
influência significativa do sexo, por esse motivo, as tabelas normativas brasileiras do WCST
foram agrupadas por idade, assim como nos Estados Unidos da América. Essa informação
mostra que a diferença entre sexo não é relevante para esse teste (MIGUEL, 2005).
Em relação às medidas do FDT, o teste MANOVA mostrou efeito significante entre os
grupos controle e estudo (experiente e iniciante) sobre a medida de Leitura tempo [F(2,47) =
3,97; p=0,02]. Não foram encontrados outros efeitos do grupo, do sexo e da interação grupo
e sexo dos participantes do presente estudo sobre nenhuma das outras medidas do FDT (ver
TABELA 15).
Tabela 15 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), para as medidas do FDT, em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo
MANOVA - FDT
Tabela 16 – Desempenho no teste FDT dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
médias Tempo (leitura, contagem, escolha e alternância), comparadas aos dados normativos para a população
brasileira como um todo
Comparação dos resultados do teste FDT
Como apontado anteriormente, o grupo controle foi melhor do que o grupo iniciante
no escore Tempo leitura no teste FDT. O objetivo de apresentar os dados da Tabela 16 é
poder comparar as médias dos participantes do presente estudo com os dados normativos
da versão brasileira do FDT (SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015).
A Tabela 17 indica as médias dos percentis, do teste FDT, dos escores de Tempo
(leitura, contagem, escolha e alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante) e da amostra total do presente estudo (grupo controle +
grupo estudo).
236
Tabela 17 – Médias dos percentis, do teste FDT, dos escores de Tempo (leitura, contagem, escolha e
alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), e da amostra total do
estudo (grupo controle + grupo estudo)
Percentis FDT
FDT Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Controle + Estudo (48)
Média PC (DP) Média PC (DP) Média PC (DP) Média PC (DP)
Podem-se verificar, na Tabela 17, as médias dos percentis alcançados nos escores de
Tempo (leitura, contagem, escolha e alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle
e estudo (experiente e iniciante) e da amostra total do presente estudo (grupo controle +
grupo estudo). Observa-se que as médias dos percentis do grupo iniciante são mais baixos
do que os alcançados pelos outros grupos, assim como a média da soma dos grupos controle
e estudo.
O resultado da comparação, ajustada pelo procedimento de Bonferroni, não mostrou
diferença nas medidas do FDT, quando comparadas as médias para a interação sexo e grupo
dos participantes do presente estudo (ver TABELA 18).
A literatura sobre o desempenho nos testes que avaliam as funções executivas de
usuários de Ayahuasca mostrou que os usuários experientes obtiveram melhor desempenho
que o grupo controle no teste Stroop, mas não para o WCST (BOUSO et al., 2012). Outro
estudo encontrou uma maior tendência para respostas corretas (p=0,055) e erros menores
(p=0,081) no teste WCST, entre os usuários experientes de Ayahuasca (BOUSO et al., 2015).
Dois estudos não encontraram diferenças significativas nos testes Stroop e WCST (BOUSO et
al., 2013; DOERING-SILVEIRA et al., 2005). Diante dos dados apresentados, a literatura não
se mostrou conclusiva em relação ao uso de Ayahuasca e um melhor desempenho nos testes
que avaliam as funções executivas.
237
Tabela 18 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no FDT dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para
comparações múltiplas
Tabela 19 – Idade (anos) e escolaridade (anos de estudo) dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante),
apresentando a média, mediana, moda, amplitude (máximo e mínimo)
Idade (anos)
Média (DP) 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,85 (±14,43)
Mediana 45,5 51,5 33,5 44,0
Moda 20 38 57 57
Amplitude (máx. – mín.) 45 (65 – 20) 44 (66 – 22) 37 (57 – 20) 46 (66 – 20)
Escolaridade (anos de estudo)
Média (DP) 13,25 (±3,41) 13,00 (±4,09) 12,50 (±2,80) 12,91 (±3,41)
Mediana 13,0 14,0 13,0 13,0
Moda 13 15 13 13
Amplitude (máx. – mín.) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4)
Nota: DP: desvio padrão.
Notas: Moda (idade): grupo controle 2 (20); experiente: 2 (38); iniciante: 3 (57); total: 4 (57).
Notas: Moda (escolaridade): grupo controle 10 (13); experiente: 8 (15); iniciante: 13 (13); total: 27 (13).
Notas: Indicadores de escolaridade em anos de estudo: ensino fundamental incompleto (1 a 8 anos);
fundamental completo (8 a 10 anos); ensino médio completo (11 a 14 anos); ensino superior completo (15
anos ou mais) (BRASIL, 2004a).
exemplo, fora do contexto ritual religioso, podem apresentar incidência de efeitos adversos,
levando à forma mais grave de intoxicação aguda, que é síndrome serotoninérgica, assim
como a manifestação de ansiedade, euforia, perturbações cognitivas, paranoia, confusão,
medo da morte e autocontrole desordenado (FRECSKA, 2011, p. 161).
A bebida Ayahuasca empresta um status de realidade às experiências interiores, no
entanto as explicações dos efeitos psicodislépticos no SNC podem ser compreendidas a
partir de funções cognitivas. De Araujo et al. (2011) verificaram, por meio de IRMf, que a
Ayahuasca produz um aumento na ativação de várias áreas occipitais, temporais e frontais.
Na área visual primária, o efeito foi comparável, em magnitude, aos níveis de ativação da
imagem natural com os olhos abertos. A atividade das áreas corticais de Brodmann BA30 e
BA37 (ver FIGURA 19), conhecidas por estarem envolvidas na recuperação de memória
episódica e no processamento de associações contextuais, também foi potencializada pela
ingestão de Ayahuasca durante as imagens. Esses autores detectaram uma modulação
positiva da Ayahuasca da área BA10, uma área frontal envolvida com imaginação
prospectiva intencional, memória de trabalho e processamento de informações de fontes
internas.
O papel do receptor 5-HT2AR, segundo Zhang e Stackman Jr (2015), está
estreitamente relacionado às funções que envolvem memória operacional e cognição
espacial, indicando que o uso prolongado de Ayahuasca pode favorecer essas funções
cognitivas. Esses autores afirmam que as alucinações visuais, induzidas por 5-HT2AR, podem
exercer influência potencial sobre a cognição espacial guiada. Os psicodislépticos
serotoninérgicos estimulam a expressão c-fos nos córtices medial pré-frontal e cingulado
anterior e aumentam a expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro no córtex pré-
frontal (BOUSO et al., 2015).
O bom desempenho do grupo experiente na tarefa Cubos de Corsi, que tem relação
com a memória de trabalho visuoespacial, pode ser atribuído a inúmeras variáveis, como
nível intelectual, anos de estudo, idade de ingresso na doutrina, anos de permanência na
doutrina, maneiras individuais de se lidar com novas tarefas e configurações que facilitam o
aprendizado e a memória operacional visuoespacial, além do tempo prolongado de ingestão
da bebida Ayahuasca.
Em se tratando do melhor desempenho do grupo experiente na tarefa Alcance de
Dígitos, que tem relação com a memória de trabalho verbal, podem-se levantar algumas
242
4.5 Temperamento
Tabela 20 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
dimensões da AFECTS, avaliadas pelo teste MANOVA
Tabela 21 – Comparação entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante) na dimensão emocional
Vontade da AFECTS, avaliada pelo procedimento post hoc Tukey b
Diferença
AFECTS (I) Grupo Média (DP) (J) Grupo Média (DP) Sig.b
média (I-J)
Iniciante 43,62 (±4,44) 3,375 0,081
Experiente 47,00 (±4,13)
Controle 42,68 (±4,39) 4,313 0,013*
Vontade
Experiente 47,00 (±4,13) -3,375 0,081
Iniciante 43,62 (±4,44)
Controle 42,68 (±4,39) 0,938 1,000
Notas: DP: desvio padrão; Sig.b: indica valor do p; *: significativo para p≤0,05.
Tabela 22 – Comparação dos escores da dimensão emocional Vontade, entre o grupo controle e estudo
(experiente e iniciante)
Controle Estudo
Escores Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
n (%) n (%) n (%)
Muito baixo < 26 – – –
Baixo 26 - 34 – – –
Médio 35 - 41 5 (31,3) 1 (6,2) 7 (43,8)
Alto 42 - 47 9 (56,3) 7 (43,8) 6 (37,5)
Muito alto > 47 2 (12,4) 8 (50,0) 3 (18,7)
Total 16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)
Nota: escores da dimensão emocional Vontade (LARA, 2012, p. 133).
Constata-se, na Tabela 22, que nenhum grupo pontuou menos que o escore médio
na dimensão emocional Vontade. Oito indivíduos (50,0%) do grupo experiente tiveram
escore muito alto na dimensão emocional Vontade, enquanto no grupo controle apenas dois
indivíduos (12,4%) perfizeram a mesma pontuação.
A vontade é o aspecto mais importante do temperamento, todas as outras
dimensões (raiva, impulso, medo, sensibilidade, coping e controle) se relacionam, direta ou
indiretamente, com essa dimensão emocional (LARA, 2012, p. 147). A vontade é o ponto de
partida, é o que põe a vida em movimento, em direção aos objetivos, ela também permite
245
que tarefas cotidianas sejam realizadas, como num piloto automático, no entanto, a vontade
aumenta sempre que a atividade tem um significado especial.
O grupo experiente denotou significância estatística em relação ao grupo controle na
dimensão emocional Vontade (ver Tabela 21). Lara (2012, p. 141) afirma que a vontade é
diretamente proporcional ao valor afetivo e aos ganhos relacionados ao objetivo do
indivíduo, no entanto é relevante que a vontade esteja relacionada ao processo em si e não
somente ao seu resultado. Pode-se pensar que a vontade é um componente essencial entre
os adeptos do grupo experiente, por exemplo, pelo tempo de permanência na doutrina (em
média 26,7 anos), pela frequência da participação nos rituais (duas vezes ao mês), pelo
comportamento durante o ritual, que tem duração de quatro a doze horas, dependendo do
tipo de trabalho, quando os adeptos têm a obrigação de compor a “corrente”, permanecer
no trabalho cantando, bailando e atentos, ou seja, participando ativamente do ritual
(COUTO, 2002, p. 397; ICEFLU, 2020). O ritual do Santo Daime, por meio de seus múltiplos
agentes (bebida, música, cânticos e dança), estabelece uma relação especial com os
participantes, é compreendido como um evento estruturante da vida social, um espaço-
momento de contato com o mundo espiritual (GROISMAN, 1999, p. 76). Groisman (1999, p.
100) afirma que o Daime (bebida Ayahuasca) é, ao mesmo tempo, substância física e
espiritual, um ser da floresta produzido pela união física e simbólica da luz da rainha (folha)
e da força do jagube (cipó), consolidados pela força do social, dos elementos da natureza e
do espiritual.
A grande maioria do grupo experiente (94%) mora na comunidade Céu de Midam.
Segundo os adeptos, morar na comunidade define a doutrina do Santo Daime, pois exige
transformações das histórias de vida, mudanças de comportamento, modificações nas
relações com a sociedade, alterações nas relações com a natureza e reinterpretações das
concepções de trabalho.
A dimensão emocional Vontade parece ser uma característica importante no
temperamento dos indivíduos do grupo experiente, conforme pode ser verificado no relato
a seguir.
“[...] conviver com a irmandade, procurar um espírito de paz e união entre todos, uma coisa
de igualdade, sabe? manter um equilíbrio... cumprir o calendário oficial do Santo Daime,
tudo isso precisa de muita força de vontade; afirma e reafirma a fé e o compromisso com a
246
O teste MANOVA mostrou efeito da interação entre grupo e sexo sobre a dimensão
emocional Controle [F(5,48) = 7,04; p=0,002] da AFECTS. Os resultados de interação entre
grupo e sexo sobre a dimensão emocional Controle, ajustada pelo Teste post hoc Tukey b,
mostrou efeito significante da interação sexo grupo para homens, na comparação grupo
experiente versus controle e, para mulheres, nas comparações grupo controle versus
experiente, como pode ser constado na Tabela 23.
Tabela 23 – Efeitos de interação entre grupo e sexo sobre a dimensão emocional Controle da AFECTS, avaliados
pelo Teste post hoc Tukey b
Nota-se, na Tabela 24, que a classificação de cada uma das dimensões emocionais,
para todos os grupos (controle e estudo), foi idêntica, ou seja, cada uma das dimensões
emocionais apresentou escores semelhantes que resultaram na mesma classificação.
Todos os grupos do presente estudo (controle e estudo) alcançaram escores altos nas
dimensões emocionais Vontade, Cautela, Maturidade (coping), Controle e Estabilidade (ver
Tabela 24), caracterizando os temperamentos estáveis (obsessivo, eutímico e hipertímico);
já Impulso, Medo e Ansiedade apresentaram escores médios e em Raiva e Sensibilidade
Emocional foram escores baixos.
Observa-se que o perfil de temperamento do usuário da bebida Ayahuasca do
presente estudo foi o contrário do estudo de Leite (2014), quando comparadas as
dimensões emocionais. Leite (2014) verificou que abusadores e dependentes do álcool
pontuaram mais baixo nas dimensões emocional Vontade e Maturidade (coping). A mesma
autora afirma que o consumo de álcool também foi associado com baixo Controle,
Estabilidade e Cautela, mas com alta Raiva, Ansiedade e Impulso.
A Tabela 25 mostra o coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões
emocionais da AFECTS do grupo estudo (experiente e iniciante).
Tabela 25 – Coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões emocionais da AFECTS do grupo estudo
(experiente e iniciante)
Estabilidade
Maturidade
Ansiedade
Controle
Vontade
Impulso
Cautela
Medo
Raiva
Vontade 1,00 -0,21 0,33 -0,25 -0,15 -0.29 0,47* 0,35 -0,27 0,38*
Impulso -0,21 1,00 -0,48* 0,58* 0,19 0,43* -0,16 -0,30 0,46* -0,17
Cautela 0,33 -0,48* 1,00 -0,30 0,10 -0,09 0,33 0,56* 0,05 0,50*
Raiva -0,25 0,58* -0,30 1,00 0,14 0,59* -0,40* -0,36* 0,58* -0,25
Medo -0,15 0,19 0,10 0,14 1,00 0,44* -0,22 -0,20 0,07 0,12
Sens. Emocional -0,29 0,43* -0,09 0,59* 0,44* 1,00 -0,14 -0,17 0,51* -0,23
Maturidade 0,47* -0,16 0,33 -0,40* -0,22 -0,14 1,00 0,72 0,03 0,44*
Controle 0,35* -0,30 0,56* -0,36* -0,20 -0,17 0,72* 1,00 0,09 0,49*
Ansiedade -0,27 0,46* 0,05 0,58* 0,07 0,51* 0,03 0,09 1,00 0,06
Estabilidade 0,38* -0,17 0,50* -0,25 0,12 -0,23 0,44* 0,49* 0,06 1,00
Nota: *: significativo para p≤0,05.
251
Gráfico 1 – Coeficiente de correlação de Pearson das dimensões emocionais da AFECTS do grupo estudo
(experiente e iniciante)
Vontade
Impulso
Vontade
Cautela
Impulso
Sensibilidade Emocional
Raiva
Cautela ❋
Medo
Raiva ❋
Maturidade
Medo
Sensibilidade Emocional ❋ ❋ ❋
Controle
Ansiedade
Maturidade ❋ ❋
Estabilidade
Controle ❋ ❋ ❋
Ansiedade ❋ ❋ ❋
Estabilidade ❋ ❋ ❋ ❋
Gráfico 2 – Características dos Tipos Afetivos (AFECTS) por grupo controle e estudo (experiente e iniciante) e
participantes do sexo masculino (N=24)
Eufórico
Desinibido
Irritável
Obsessivo
Hipertímico
Eutímico
Volátil
Disfórico
Ciclotímico
Apático
Evitativo
Melancólico
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Gráfico 3 – Características dos Tipos Afetivos (AFECTS) por grupo controle e estudo (experiente e iniciante) e
participantes do sexo feminino (N=24)
Eufórico
Desinibido
Irritável
Obsessivo
Hipertímico
Eutímico
Volátil
Disfórico
Ciclotímico
Apático
Evitativo
Melancólico
0 10 20 30 40 50 60
4.6 Religiosidade
Religião de referência
Tabela 27 – Características do grupo estudo (experiente e iniciante) quanto ao tempo de uso da bebida
Ayahuasca, frequência de uso atual, no passado e como conheceu o Santo Daime
Características do tempo e frequência de uso da bebida Ayahuasca e como conheceu o Santo Daime
Grupo estudo
Experiente (n=16) Iniciante (n=16)
Teste estatístico p
Média (DP) Média (DP)
Tempo médio de uso (meses) 321,0 (73,64) 15,94 (12,45) t (30)=16,33 0,001*
Última vez que usou (dias) 8,56 (7,72) 10,36 (7,34) t (30)=-0,68 0,502
n (%) n (%)
Frequência de uso atual
Mensal 4 (25,00) 1 (6,25)
Quinzenal 11 (68,75) 13 (81,25) Χ² = 2,30 0,317
Semanal 1 (6,25) 2 (12,50)
Diariamente 0 (0,00) 0 (0,00)
Frequência de uso no passado
Mensal 2 (12,50) 4 (25,00)
Quinzenal 8 (50,00) 12 (75,00)
Χ² = 7,46 0,058
Semanal 5 (31,25) 0 (0,00)
Diariamente 1 (6,25) 0 (0,00)
Como conheceu o Santo Daime
Amigos 11 (68,75) 11 (68,75)
Familiares 5 (31,25) 3 (18,75)
Χ² = 2,50 0,475
Ouviu falar e procurou 0 (0,00) 1 (6,25)
Marido/Esposa 0 (0,00) 1 (6,25)
2
Nota: DP: desvio padrão; t: teste t de Student; X : teste Qui-quadrado; *: significativo para p≤0,05.
iniciante). O teste ANOVA mostrou efeito significante entre grupos sobre uma dimensão da
BMMRS-P, História religiosa/espiritual, especificamente entre as medidas Mudança de vida
[F(2,45) = 7,13; p=0,002] e Recompensa com a fé [F(2,45) = 8,26; p=0,001]; a medida Perda
significativa da fé não apresentou efeito significante entre nenhum dos grupos.
Tabela 28 – Características da História religiosa/espiritual dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante)
História religiosa/espiritual
“O Daime foi uma revelação, uma mudança de grade valia... radical! Posso te dizer que
mudou completamente minha vida. Mudou minha vida como se eu tivesse renascido, por
exemplo, as pessoas que eu tinha contato, socialmente, antes do Daime, hoje não nem me
reconhecem [...] por isso eu te falei da mudança, é radical mesmo! Foi apresentado o meu
verdadeiro eu [...]” (NF58E).
“Ocorreu mudança sim, na minha vida depois que eu conheci o Santo Daime [...] e fez muito
bem pra minha vida, mudou radicalmente, né?!” (SM53E).
“Então, mudou tudo na minha vida, hoje eu tenho uma concepção diferente do que é minha
fé, minha verdade interna, o que é meu princípio religioso, né?!” (RM24I).
259
Tabela 29 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
dimensões da BMMRS-P, avaliado pelo teste MANOVA
Tabela 30 – Diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante) nas dimensões da BMMRS-P,
segundo teste post hoc Tukey b
“O Daime, ele é um ser divino que nós colocamos pra dentro da gente, que nos desperta, o
inconsciente, né?! simbolicamente o cipó dá a força e a folha traz a luz.” (EF52E).
“Morar na comunidade pra mim é se dedicar aos trabalhos com os hinários, o correto é
participar ativamente dos trabalhos, zelar dos cantos, porque a doutrina é cantada [...]”
(NF58E).
262
“[...] O Daime vai mostrar pra mim, de alguma forma, o que eu posso melhorar, o que eu fiz
de errado [...] e o Daime vai e renova, a gente limpa, reconhece [...]” (EF52E).
“Bem, eu conheci o Daime com quinze anos. Então, eu tive uma mudança significativa, mais,
eu vejo em mim mais do que isso, que é uma construção, então o Daime construiu, né! me
construiu, como cidadão, como ser humano, acreditando nesses princípios, nesses valores
que estão dentro da doutrina mesmo, né!” (CM38E).
“[...] depois que eu comecei a tomar o Daime eu me sinto mais, mais forte! mais
determinada, o que eu quero, eu.... no lado espiritual, eu também sinto essa garra [...] eu
sinto mais confiante depois do Daime [...]” (DF57I).
263
Segundo Pelaez (2002, p. 485), os daimistas apresentam mudanças nas relações com
o corpo, pois o corpo passa a ser percebido como um recinto sagrado e nele reflete o
espírito humano. Ao compreender que o corpo deve estar a serviço do espírito, e não o
contrário, os daimistas vão aprendendo a dominar os impulsos de prazer ou gratificações
para manter o “aparelho” limpo, evitando intoxicá-lo com comidas pesadas, drogas,
medicamentos, álcool, vida desregrada, entre outros. Devido a essas mudanças, segundo a
mesma autora, muitas vezes a pessoa emagrece, em geral, isto é interpretado
positivamente, pois a diminuição de peso corporal é vista como uma eliminação de
excedentes do organismo até chegar ao equilíbrio, isto é, uma “limpeza” viabilizada pelo
Santo Daime.
“Mudei todos os meus hábitos, assim, né?! desde, do alimentar, das noitadas, das
bebedeiras, das drogueiras, né?! daquele mundo, assim, maluco que a gente enfrentava [...]
e o Daime, ele me deu essa freada, ele me colocou assim... é.... num outro modo de vida,
uma coisa mais simples.” (MF61E).
A doutrina do Santo Daime não deixa clara a proibição total do uso de tabaco e de
bebidas alcóolicas. Labate (2005, p. 411) expõe que na UDV e na Barquinha não se permite
que os adeptos façam uso de bebidas alcóolicas, no entanto o CEFLURIS também não
recomenda o uso, nomeadamente três dias antes e depois dos rituais. Em relação ao uso de
tabaco, também é recriminado tanto na UDV como Barquinha, nesta última, a exceção é o
uso de charutos/cachimbos fumados durante os trabalhos pelas entidades espirituais; mas
não é alvo de preocupações entre os daimistas, embora seja proibido fumar próximo das
áreas onde se localiza a igreja.
Constata-se diferença significativa entre o grupo experiente e o grupo controle na
dimensão Comprometimento horas/semana, entretanto o grupo iniciante não apresentou
diferença significativa com nenhum grupo (ver TABELA 30). A dedicação do grupo experiente
em horas/semana, em média, por participante foi de 21,5 horas. É importante ressaltar que
essas horas correspondem às atividades voltadas para a doutrina ou razões religiosas, não
foram computadas, aqui, as horas dedicadas aos rituais (que têm duração média entre
quatro e doze horas, dependendo do tipo de trabalho). Assim, o grupo experiente se
264
dedicou o dobro (21,5 horas) que o grupo iniciante (10,0 horas) e 12 vezes mais que o
controle (1,8 horas).
“[...] morar num espaço desse aqui (comunidade), onde eu vivo com a minha família, é um
privilégio. No sentido de que eu posso estar mais próximo da natureza, mais próximo dos
ideais que eu acredito, pro bem-estar e desenvolvimento, tanto físico quanto moral, ético e
espiritual de toda a minha família. Meu filho gosta muito, também. A gente brinca muito
aqui na mata, né?! E.... é um exercício diário a gente fazer as mudas [...] do cipó e da rainha,
então a gente tenta conciliar isso com um aprendizado para a vida [...]” (CM38E).
“Foi uma experiência muito gratificante pra mim, porque eu pude viver intensamente
[comunidade] com a irmandade, né?! Então a gente tem os rituais, a gente tem os
compromissos com a irmandade [...] eu pude criar meus filhos, né?! dentro dessas ideologias
que tem, né!... na comunidade, de uma forma muito mais tranquila, né?!... a gente, falando
todo mundo a mesma língua, foi muito bom, foi muito prazeroso pra mim.” (EF52E).
“[...] em vê o mundo um pouco diferente, com mais clareza. Vendo o mundo de outra forma,
com mais amor, com mais carinho. Aprendendo a zelar do que é bom, e.... também tem me
trazido muita paz, amor, carinho e dedicação [...] me trazido muitas coisas boas [...] só tenho
a agradecer.” (FM28I).
Nos ritos do Santo Daime, os fiéis (fardados) devem realizar um preparo, abster-se
sexualmente, não ingerir álcool, manter dieta livre de carne e coibir pensamentos e atos
negativos, ou seja, ter consciência do ato a ser desempenhado; a ideia principal é afastar a
atenção das tarefas mais corriqueiras e ordinárias (CEMIN, 2002, p. 353; COUTO, 2002, p.
394). Quando no ritual, que tem duração de quatro a doze horas, os adeptos têm a
obrigação de compor a “corrente”, permanecer no trabalho cantando, bailando e atentos,
ou seja, participando ativamente do ritual. Para os não fardados (visitantes), essa
participação é facultativa, devendo apenas permanecer no espaço do templo relativo ao seu
sexo, respeitar os fiscais, não cruzar os braços ou pernas e permanecer no espaço ritual
(templo ou terreiro), até que os trabalhos se encerrem (COUTO, 2002, p. 397; GROISMAN,
1999, p. 74).
O ritual do Santo Daime, por meio de seus múltiplos agentes (bebida, música,
cânticos e dança), estabelece uma relação especial com os participantes, sensibilizando
todos os sentidos e conduzindo-os a outras dimensões de significado, espaço e tempo
(CEMIN, 2002, p. 352). Mortimer (2018, p. 74) afirma que na música está a magia da
266
“O Daime é uma escola de conhecimento, sou muito aplicada, obediente.... tenho mais
facilidade de trabalhar essa parte espiritual. Vivo aqui [comunidade] mais isolada.” (NF58E).
“Então, acredito que é uma oportunidade enorme de poder vivenciar na prática aquilo que a
gente canta nos hinos, né?! é que na comunidade onde a gente consegue vivenciar os
aspectos que a gente trata lá dentro dos rituais, né?! [...] Então, é o espaço da prática, e é
um estilo de vida, é uma mudança do estilo de vida mesmo, de como a gente olhar o nosso
dia a dia, de como olhar pra gente, de como a gente olhar os sinais da vida. Então é muito
gostoso, eu gosto muito. Viver aqui pra mim é um presente.” (CM38E).
Os hinos, além do uso ritual, onde se chama a “força do astral”, fazem parte do dia a
dia dos adeptos, mantendo-os ligados ao “poder”. É comum, nos lares daimistas, que os
hinos estejam sendo reproduzidos por meio de gravações ou cantados ao vivo por um, ou
mais componentes da família. De acordo com Cemin (2002, p. 358), são mensagens muito
respeitadas no cotidiano, pois recordam um fato ou pessoa, o discípulo fica atento para
decifrar o sentido desse tipo de ocorrência. Labate e Pacheco (2009, p. 33) elucidam que a
música ocupa, no dia a dia dos daimistas, um papel preeminente, que remete à produção de
267
relações sociais positivas e experiências espirituais. Nesse sentido, tais aspectos podem
promover relação positiva com a qualidade de vida e o bem-estar espiritual. No entanto,
ainda se sabe muito pouco sobre os efeitos neuroquímicos e psicológicos da bebida
Ayahuasca em relação ao tempo do consumo. Apesar disso, é valoroso reconhecer o uso da
bebida Ayahuasca em contexto religioso, assim como a riqueza de sua história cultural
brasileira.
269
5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
270
Foi realizada a identificação dos alcaloides (DMT, HRM, HRL e THH) presentes, tanto
nas bebidas Ayahuasca quanto nas plantas que a compõem (P. viridis e B. Caapi), porém, não
foram quantificados.
5.2 Etnografia
Os dados foram coletados por meio de um estudo transversal, constituído por uma
amostra de conveniência.
Estudos transversais, investigações com recorte único no tempo possuem menor
capacidade para estabelecer relações de causa e efeito, no entanto, é importante lembrar
que uma relação de associação não sugere, necessariamente, uma relação de causalidade.
Estudos com esse tipo de delineamento apresentam vantagens que podem ser atribuídas a
diversos fatores, como a definição de uma população de interesse (geral ou específica), que
pode ser estudada por meio de amostragem, baixo custo, facilidade de realização, rapidez
com que é empregado e a objetividade na coleta de dados (BASTOS; DUQUIA, 2007).
No presente estudo, não foram pareados no QI pré-mórbido os grupos estudo
(experiente e iniciante) e controle, ou seja, não foram realizadas avaliações sobre o declínio
cognitivo que aponta uma discrepância entre o nível de funcionamento anterior (a uma
271
lesão ou situação de declínio pré-mórbido) e o estado atual dos indivíduos (ALVES; SIMÕES;
MARTINS, 2014). Portanto, não foi possível identificar se as diferenças encontradas nos
testes neuropsicológicos são devidas a diferenças preexistentes nas habilidades cognitivas
ou se a Ayahuasca usada em contexto ritual é responsável pelas diferenças observadas,
principalmente entre o grupo experiente. Tarefas neuropsicológicas e, principalmente,
testes de memória de trabalho, são influenciados pelo QI (OBERAUER et al., 2005), estudos
futuros devem controlar esta variável. No entanto, existe uma dificuldade em se ter acesso a
populações que usam Ayahuasca em contexto ritual, principalmente usuários de longo
prazo.
Nenhum instrumento para avaliar transtornos psiquiátricos foi utilizado neste
estudo, o que pode ter gerado um viés de autosseleção, mencionado anteriormente
(amostra de conveniência). Provavelmente, os indivíduos avaliados foram aqueles que não
tiveram consequências neuropsiquiátricas negativas derivadas do uso contínuo de
Ayahuasca. Uma hipótese é que os indivíduos com consequências adversas podem ter
abandonado completamente o uso da Ayahuasca e, consequentemente, não estavam entre
os usuários de longo prazo, acessíveis ao pesquisador deste estudo. Futuras investigações
sobre os efeitos neuropsiquiátricos do uso da Ayahuasca também devem incluir pessoas que
usaram Ayahuasca regularmente no passado, mas decidiram interromper seu uso. Nesse
sentido, não é possível extrapolar os resultados deste estudo para outras populações.
Não foi realizada a triagem do uso de drogas psicoativas por meio de nenhum
instrumento. Foi incluído um item: “histórico do uso de substâncias” na entrevista de
anamnese realizada com todos os voluntários, mas não foi identificado nenhum uso, abuso
ou dependência de drogas psicotrópicas no momento da entrevista.
Em relação aos instrumentos utilizados, verificou-se que a WASI, como todas as
escalas breves, apresenta limitações, pois algumas habilidades cognitivas avaliadas em
baterias completas não são consideradas neste instrumento, por exemplo, habilidades
numéricas, percepção visual de detalhes, sequência lógico-temporal, maturidade social e
análise e síntese de objetos (CUNHA, 2000, p. 529).
Uma limitação da Tarefa de Alcance de Dígitos, de acordo com Kessels et al. (2000), é
a existência de diferentes versões desta tarefa, o que dificulta a compreensão da validade
externa do instrumento.
272
Para o Cubos de Corsi, o maior problema diz respeito à ausência de uma versão
padronizada da tarefa (KESSELS et al., 2000). Há versões que diferem na disposição dos
cubos, nas cores dos cubos e algumas delas possuem número de ensaios diferentes para
cada sequência. Em alguns casos, são aplicadas as ordens direta e inversa, e em outros,
apenas a ordem direta. Há, ainda, versões computadorizadas e não computadorizadas, essa
variedade de apresentação do instrumento dificulta a compreensão de sua validade externa.
O teste Figuras Complexas de Rey apresenta limitação em relação ao tempo de
execução da tarefa cópia e reprodução de memória, pois os indivíduos que executarem a
tarefa corretamente, em menor tempo, acabam penalizados. Por exemplo, um indivíduo de
40 anos que executou a tarefa cópia em 3 minutos recebeu classificação percentil 50. Logo,
se ele demorasse mais tempo, por exemplo, 5 minutos, ficaria classificado no percentil 90,
ou seja, quanto mais tempo demorar, melhor classificado. O que não é verdadeiro, pois uma
pessoa pode executar a tarefa cópia corretamente em um tempo igual ou inferior a 3
minutos (OLIVEIRA et al., 2004).
5.4 Temperamento
5.5 Religiosidade
6 CONCLUSÕES
274
¨ Foram confirmadas as identidades das plantas Psychotria viridis Ruiz & Pav. (família
Rubiaceae) e Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (família Malpighiaceae),
da Comunidade Céu de Midam, por meio da taxonomia botânica; foi realizado o
depósito, de ambas as plantas, no Herbário da Universidade Federal de São Paulo
(HUFSP), Campus Diadema, São Paulo.
¨ Nas bebidas Ayahuascas, não foram identificados os alcaloides DMT, HRM e HRL em
nenhuma das duas amostras cedidas pelo Centro Luz Divina, via UHPLC-HRMS;
apenas a THH foi detectada em ambas as amostras, confirmada por meio do íon
pseudomolecular protonado = m/z 217.1340, via UHPLC-HRMS.
¨ Foi identificada a presença do alcaloide DMT no extrato aquoso quente das folhas de
P. viridis, confirmada por meio do íon pseudomolecular protonado = m/z 189.1381,
via UHPLC-HRMS, coletadas da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.
¨ Houve apenas a detecção da THH no extrato aquoso quente de caules de B. caapi,
confirmada por meio do íon pseudomolecular protonado = m/z 217.1340, via UHPLC-
HRMS, coletados em Cotia – SP.
6.2 Etnografia
¨ Jonas Frederico foi o fundador do Centro Eclético da Fluente Luz Universal Flor de Luz
(CEFLUFLUZ), na Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP, em 02 de dezembro de
1992.
¨ Carlos Eduardo Durão e Eunice Durão fundaram o Centro Luz Divina, em Piedade –
SP, em 15 de novembro de 2002.
¨ A Comunidade Céu de Midam é uma das maiores comunidades daimistas do Brasil,
com 32 casas construídas.
275
¨ Foi constatado que existem diferentes tipos de bebidas Ayahuasca, e não apenas
uma. Provavelmente, elas se diferenciem pela duração do tempo de preparo
(decocção), pela diversidade e proporção das plantas utilizadas, que pode resultar
em concentrações diferentes (compostos ativos).
6.3 Sociodemográfico
6.4 Cognição
6.5 Temperamento
6.6 Religiosidade
7 REFERÊNCIAS
278
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313
8 ANEXOS
314
DADOS DA EMENDA
DADOS DO PARECER
Apresentação do Projeto:
Projeto CEP/UNIFESP n: 1005/2017
Objetivo da Pesquisa:
Verificar a influência do consumo em contexto ritual da Ayahuasca em relação ao “temperamento emocional
e afetivo”, “cognição” e “religiosidade” entre usuários experientes e iniciantes; comparando e correlacionado
estas variáveis.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Não se aplica
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1) alterações no resumo:
De: Introdução: a palavra Ayahuasca é originária da língua quéchua e significa: “Aya” (pessoa morta, alma,
espírito), e “Wasca” (corda, liana, cipó); assim, sua tradução para o português “corda dos mortos”. A
Ayahuasca é utilizada tradicionalmente para fins rituais, composta por duas plantas, Psychotria viridis Ruiz &
Pav. (Rubiaceae) que possui em suas folhas o alcalóide alucinógeno N, N-dimetiltriptamina (DMT) e a
Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae) que é um cipó e possui alcalóides ß-
carbolínicos que são potentes inibidores reversíveis da monoaminoxidase (MAO-A).
Para: Introdução: a palavra Ayahuasca originária da língua quéchua significa: “Aya” (pessoa morta, alma,
espírito), e “Wasca” (corda, liana, cipó); sendo sua tradução para o português “corda dos mortos”. A
Ayahuasca é uma bebida consumida originalmente em rituais religiosos, composta por
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duas plantas, Psychotria viridis que possui em suas folhas o alcalóide psicodisléptico N, N-dimetiltriptamina
(DMT) e a Banisteriopsis caapi, um cipó que possui alcaloides ß-carbolínicos, potentes inibidores reversíveis
da monoaminoxidase (MAO-A). Objetivo principal: Verificar a influência do consumo da bebida Ayahuasca,
em contexto religioso, em relação à “cognição”, “temperamento emocional e afetivo” e “religiosidade” entre
usuários experientes (que vem consumindo a bebida por mais de 20 anos) e iniciantes (que vem
consumindo a bebida há menos de 3 anos), no Centro Luz Divina, Piedade, SP. Materiais e Métodos: por
meio da Etnografia – entrevistas não-estruturadas, observação participante e diário de campo - serão
coletas informações sobre a história de formação do Centro Luz Divina e os aspectos que envolvem seus
rituais durante o qual é consumida a bebida Ayahuasca. Métodos da botânica serão utilizados para a coleta
das plantas utilizadas na confecção de cada bebida de Ayahuasca confeccionada e oferecida no referido
centro. Para cada bebida será realizado o registro da respectiva receita por meio da etnografia, bem como
suas análises químicas por LC-MS/MS, para que se possa quantificar seus alcaloides. Para a coleta dos
dados sobre o efeito das bebidas na “cognição”, “temperamento” e “religiosidade” dos frequentadores do
referido centro será conduzido um estudo transversal. Serão selecionados 60 (sessenta) sujeitos que
utilizem Ayahuasca em rituais religiosos, com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos. Eles serão
distribuídos em dois grupos (G1 usuários experientes e G2 usuários iniciantes). Serão aplicados os
seguintes instrumentos: Questionário de dados sociodemográficos; Escala Wechsler Abreviada de
Inteligência (WASI); Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS); Medida
Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P). A análise estatística dos resultados
buscará dados comparativos por sexo (homens experientes versus homens iniciantes e mulheres
experientes versus mulheres iniciantes), idade e escolaridade. As provas estatísticas serão descritivas e
inferenciais (usuários experientes e usuários iniciantes); e correlacionará as variáveis: “temperamento
afetivo e emocional”, “cognição” e “religiosidade” com o tempo de uso da ayahuasca. Será considerada
diferença estatisticamente significativa aquela cujo valor de p seja menor que 0,05. Os dados etnográficos
serão analisados por meio de análise de conteúdo. Resultados esperados: As análises sobre a “cognição”,
“temperamento” e “religiosidade” fornecerão dados relevantes para se determinar até que ponto o uso
contínuo e a longo prazo destas bebidas são favorecidas ou desfavorecidas quando comparadas a usuários
de curto prazo. As correlações entre as diferentes bebidas oferecidas no referido centro - do ponto de vista
botânico, da sua forma de preparo e composição química serão relevantes, não apenas para embasar as
análises do efeito da bebida sobre os sujeitos, alvo deste estudo, mas também para que se conheça os
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princípios ativos do ponto de vista quantitativo e qualitativo presentes nestas bebidas. Esta análise não foi
encontrada na literatura até o momento, tendo, portanto, um apelo forte para que seja estabelecida, e para
que seja um ponto de partida para futuras investigações em outros centros dessa religião no Brasil.
2) alteração no título:
3) Alteração na hipótese:
De: O consumo ritual da Ayahuasca, por usuarios experientes, influencia positivamente no temperamento
emocional e afetivo, nos aspectos cognitivos e na religiosidade; em relacao aos iniciantes.
Para: 3. HIPÓTESES - Os usuários experientes de Ayahuasca apresentam melhor performance nas escalas
avaliadas: “temperamento emocional e afetivo”, “cognição” e religiosidade/espiritualidade”, em relação aos
usuários iniciantes.
As diferentes bebidas de Ayahuasca oferecidas durante o ritual religioso no Centro Luz Divina possuem
diferentes concentrações de alcalóides N, N, dimetiltriptamina e ß-carboninas (harmina, harmalina e
tetrahidroharmina).
4) Objetivo Geral
De: 2 OBJETIVOS - Verificar a influencia do consumo em contexto ritual da Ayahuasca em relacao ao
“temperamento emocional e afetivo”, “cognicao” e “religiosidade” entre usuarios experientes e iniciantes;
comparando e correlacionado estas variaveis.
Para: 2. OBJETIVO GERAL - Verificar a influência do consumo da bebida Ayahuasca, em
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Para: 4.5.3. CRITÉIROS DE INCLUSÃO E ELEGIBILIDADE DOS SUJEITOS - Serão selecionados sujeitos
de ambos os sexos na faixa etária acima de 18 anos, capazes, saudáveis, que utilizem Ayahuasca em
rituais religiosos no Centro Luz Divina, que não apresentem transtornos mentais.
INCLUSÕES
1) Foram inclusos como professores CO-ORIENTADORES no projeto: o Prof. Dr. THIAGO ANDRÉ
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A) 3.4.1 ETNOGRAFIA sobre a história do Centro Luz Divina: - Para a coleta das informações sobre a
história de formação do Centro Luz Divina e do ritual religioso do Santo Daime praticado neste centro, serão
utilizados métodos de campo sugeridos pela etnografia, tais como entrevistas não-estruturadas, observação
participante e diários de campo (BERNARD, 1988; FOOTE-WHYTE, 1990). Assim, os seguintes aspectos
serão registrados:
história de formação do Centro Luz Divina;
quais os tipos de bebidas (Ayahuasca) são oferecidos durante os rituais;
como ocorrem os rituais religiosos;
cuidados especiais dos sacerdotes (madrinha e o padrinho) durante o oferecimento das bebidas aos
adeptos;
como ocorre a confecção de cada bebida;
quais as plantas estão envolvidas na confecção de cada bebida e
qual o critério de escolha de cada tipo de bebida ao adepto e/ou ao ritual.
Nas entrevistas não-estruturadas, o pesquisador deve ter fixas para si as perguntas, mas não deve controlar
as respostas do entrevistado. O ideal é que este tipo de entrevistas seja utilizado na medida em que o
pesquisador dispõe de muito tempo para o trabalho de campo (BERNARD, 1988). As entrevistas serão
realizadas com os sacerdotes do centro, lideranças que participaram da sua formação desde o seu início, na
década de 1980 e até os dias de hoje.
B) 3.4.2 COLETA E DEPÓSITO EM HERBÁRIO DO MATERIAL BOTÂNICO: A coleta das plantas utilizadas
na confecção de cada bebida de Ayahuasca será acompanhada pela madrinha/padrinho. Três amostras
coletadas de cada planta serão armazenadas em campo pelo método seco (MORI et al., 1985). Assim, cada
amostra deverá ser arrumada entre folhas de jornais dobradas e empilhadas, amarradas com barbante e
mantidas em prensas de madeira até chegar no herbário, onde sofrerão o processo de desidratação,
durante 3 dias em uma estufa a 60C. Sua identificação taxonômica e depósito serão realizados pela equipe
do Herbário Municipal do estado de São Paulo.
C) 4.4 ANÁLISE QUÍMICA DAS BEBIDAS DE AYAHUASCA: - Depois de terem sido coletadas as plantas e
feitas as observações e anotações sobre as receitas de cada bebida de Ayahuasca, estas serão fornecidas
pelos seus sacerdotes para que se possa quantificar seus alcaloides (N, N,
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Dimetiltriptamina e ß-Carbolinas). Estas bebidas serão acondicionadas em geladeira, tal como é feito no
centro Luz Divina. Para estas análises serão adquiridos do comércio os padrões de N, N, Dimetiltriptamina e
as ß-Carbolinas (harmina, harmalina e tetrahidroharmina) da Sigma.
D) 4.4.1 ANÁLISE POR LC-MS/MS: Os experimentos para análise química dos alcaloides presentes na
bebida serão realizados via cromatografia líquida acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução
(UHPLC-HRMS), em sistema com detector DAD acoplado ao espectrômetro de massas quadrupolo de
tempo de vôo (QTOF) (Bruker, Bremen, Alemanha). O espectrômetro está equipado com fonte de
electrospray (ESI), operada sob a resolução de 18.000 de largura total em meio máximo (FWHM), com
espectros de massa registrados na faixa de 100 a 1200 Da com 5 varreduras/segundo. A separação das
amostras de 1 L será realizada a 40°C em coluna RP Kinetex C18 (100 × 2,1 mm, 2,6 m, Phenomenex,
Torrance, CA, EUA), empregando gradiente linear padrão composto por H2O/CH3CN (90:10 0 : 100, v/v,
ambos tamponados com 20 mM de ácido fórmico) durante 10 min sob a vazão de 0,4 mL/min. Os espectros
UV/Vis serão registrados de 200 a 700 nm. Todos os extratos serão manualmente processados com a ajuda
do software DataAnaysis 4.3 (Bruker).
1) Cubos de Corsi – Cubos de Corsi é um instrumento que avalia o alcance da memória de curto prazo
utilizando a alça visuoespacial. O teste consiste de uma base quadrada com nove blocos idênticos. Blocos
de Corsi ordem direta e inversa (LEZAK et al., 2012), essa prova de memória visuoespacial, na qual a
ordem direta o avaliador toca em alguns blocos e na sequência o sujeito deve realizar os mesmos
movimentos. Conforme a pessoa acerta a sequência, o número de itens a serem tocados aumenta, podendo
chegar até 10. Na ordem inversa o avaliador toca em alguns blocos e na sequência o sujeito deve realizar
os movimentos iniciando do último bloco que foi tocado até o primeiro e, deste modo, realizar a sequência
inversa. Conforme a pessoa acerta a sequência, o número de itens a serem tocados aumenta, podendo
chegar até 10 (CORSI, 1973).
1. CORSI, P.M. Human memory and the medial temporal region of the brain. 1973. Tese de Doutorado.
McGill University, 1973.
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3. SANTOS, F. H., MELLO, C. B. BUENO, O. F. A., DELLATOLAS, G. Cross-cultural differences for three
visual memory tasks in brazilian children. Perceptual and Motor Skills, 101(2), 421-433, 2005.
2) Dígitos (WAIS-III) – O subteste Dígitos está incluído no WAIS-III, constituindo uma medida de atenção e
memória de trabalho. O subteste Dígitos é composto de oito séries para ordem direta e sete para inversa,
havendo um aumento gradual da quantidade de dígitos em cada série. A ordem direta é aplicada em
primeiro lugar, seguida pela inversa, que é administrada independentemente se o examinando fracassa
totalmente na ordem direta. Cada item é formado de dois conjuntos de dígitos constituindo em duas
tentativas, sendo ambas aplicadas. A pontuação máxima no subteste é de 30 pontos, sendo que o resultado
bruto máximo na ordem direta é de 16 pontos enquanto na ordem inversa é de 14 pontos (WECHSLER,
2004).
3) Figura de Rey – As Figuras de Rey têm por objetivo avaliar a percepção visual e a memória imediata nas
fases de cópia e reprodução de memória. Desse modo, é possível verificar como o sujeito apreende os
dados perceptivos que lhe são apresentados e o que foi conservado espontaneamente pela memória.
Oliveira et al., (2004), realizou estudo para adaptação brasileira do Teste de Figuras Complexas de Rey – A.
Compuseram a amostra 501 sujeitos de ambos os sexos, com idades entre 5 e 65 anos. Na análise de
consistência interna o coeficiente de alfa de Cronbach foi 0,86 para cópia e 0,81 para a memória. A
fidedignidade foi verificada pelo método teste-reteste obtendo-se um coeficiente linear de Pearson de 0,76.
Na avaliação inter-juizes houve concordância em todos os itens. Concluiu-se que o Rey avalia a percepção
visual e a memória imediata de forma precisa.
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4) Wisconsin (WCST) – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) é utilizado na avaliação das
funções executivas, consideradas essenciais para gerenciar o comportamento humano e, por isso,
pertencem a avaliação neuropsicológica de indivíduos normais ou com alterações cognitivas ou
neurocomportamentais de causas diversas. A aplicação computadorizada deste teste tem como benefícios a
precisão na apresentação dos estímulos, feedback, medidas temporais (reação e duração das respostas) e
registro preciso das respostas, eliminando assim possíveis erros na obtenção dos dados e pontuação. A
aplicação pelo examinador permite atividades como encorajamento do sujeito, esclarecimento das regras,
auxilia-lo a focar na tarefa, além de obter dados qualitativos durante o teste que não são possíveis observar
apenas com a pontuação obtida. Os dados obtidos demonstraram similaridades significativas entre as
versões manual e computadorizada do WCST-64 considerando os índices número de acertos, categorias
completadas e número e percentual de erros, indicando possível validade convergente entre as versões
deste teste, tal como foi mencionado em estudos similares, porém com diferenças na metodologia. A
presente pesquisa de validade convergente desses instrumentos foi um primeiro passo para a realização de
estudos futuros que objetivem normatizar as versões computadorizadas na população brasileira (REPPOLD
et al., 2010).
1. REPPOLD, C. T.; PEDROM, A. C.; TRENTINI, C. M. Avaliação das funções executivas por meio do Teste
Wisconsin de Classificação de Cartas–versão computadorizada. Estudos de testes informatizados para
avaliação psicológica, p. 45-62, 2010.
5) FDT (Test Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos – O FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos
(SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015) é um teste neuropsicológico que avalia as funções cognitivas
(executivas), em especial a atenção sustentada. O objetivo do instrumento é medir a velocidade de
processamento cognitivo, a capacidade de focar e de reorientar a atenção e de lidar com interferências
(subcomponentes controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Uma de suas principais vantagens é que ele
pode ser utilizado em pessoas com baixa instrução, incluindo
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2. OLIVEIRA, T. D.O., MALLOY-DINIZ, L.F., MAGALHÃES, S., COSTA, D.S., LACERDA, S.R., QUERINO,
E.H.G., et al. Propriedades psicométricas do Teste dos Cinco Dígitos para o contexto brasileiro: estudo
preliminar com a população adulta. In: I Congresso da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia Jovem.
Disponivel em: <https://www.researchgate.net/publication/277873709_
Propriedades_psicometricas_do_Teste_dos_Cinco_Digitos_para_o_contexto_
brasileiro_estudo_preliminar_com_a_populacao_adulta>.
3. SEDÓ, M., PAULA, J. J., MALLOY-DINIZ, L. F. O teste dos cinco dígitos. São Paulo: Hogrefe CETEPP,
2015
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Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
Assinado por:
Miguel Roberto Jorge
(Coordenador)
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O Sr. (a) está sendo convidado (a) como voluntário (a) para participar da seguinte pesquisa:
5. Riscos:Os possíveis riscos desta pesquisa podem decorrer do fato de estarmos trabalhando com
a aplicação de escalas e testes que pode remetê-lo às suas vivências pessoais. Além disto, você
poderá vir a lembrar de eventos ocorridos em seu trajeto. Caso isto ocorra, favor entrar em contato
comigo.
8. Garantia de acesso: Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis
pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. A pesquisador é Arilton Martins Fonseca.
Que pode ser encontrado no endereço Rua Prof. Artur Riedel, 275 - Jardim Eldorado - CEP: 09972-
270 – Diadema – SP - Fone: (11) 33193554. Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre a
1/2
ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua: Prof. Francisco
de Castro, nº 55, - CEP 04020-050, Fone: 011 5571-1062, FAX: 5539-7162 – E-mail:
cep@unifesp.edu.br.
9. Duas vias: Esse termo foi elaborado em duas vias originais, devidamente assinadas, sendo que
uma ficará com o Sr. (a) e a outra conosco. As folhas estão numeradas, e todas as páginas deverão
ser rubricadas pelo pesquisador e pelo participante da pesquisa.
12. Acompanhamento: Direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas,
quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores;
13. Despesas e compensações: Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do
estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer
despesa adicional, ela será absorvida pelo pesquisador.
15. Utilização dos dados: Os dados e o material coletado serão utilizados somente para esta
pesquisa.
Data: ____/____/_____
_______________________________________ _________________________________
Nome do participante da pesquisa Assinatura
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária, o Termo de Consentimentos Livre e Esclarecido
deste paciente (ou representante legal) para a participação neste estudo. Declaro ainda que me
comprometo a cumprir todos os termos aqui descritos.
Data:_____/_____/_____
2/2
316
1. Nome:______________________________________________________________
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Data de nascimento: ___/___/_____ Idade em anos completos: _____________
4. Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado/divorciado ( ) viúvo ( ) outros
5. Escolaridade:
a. ( ) Fundamental - Incompleto
b. ( ) Fundamental - Completo
c. ( ) Médio - Incompleto
d. ( ) Médio - Completo
e. ( ) Superior - Incompleto
f. ( ) Superior - Completo
g. ( ) Pós-graduação (Lato senso) - Incompleto
h. ( ) Pós-graduação (Lato senso) - Completo
i. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível mestrado) - Incompleto
j. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível mestrado) - Completo
k. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível doutor) - Incompleto
l. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível doutor) – Completo
6. Profissão: ___________________________________________________________
7. Está trabalhando: ( ) sim ( ) não
a. ( ) do lar
b. ( ) aposentado
c. ( ) pensionista
d. ( ) empregado com carteira assinada
e. ( ) autônomo/profissional liberal.
8. Condição socioeconômica:
a. ( ) 1 a 4 salários mínimos
b. ( ) 5 a 9 salários mínimos
c. ( ) acima de 10 salários mínimos
1/2
Sobre o Santo Daime
No passado:
2/2
317
LEVANTAMENTO DE SINTOMAS
Preocupações físicas
o Dores de cabeça
o Tonturas
o Enjôos ou vômitos
o Fadiga excessiva
o Incontinência urinária/fecal
o Problemas intestinais
o Fraqueza de um lado do corpo ___________________(Indicar a parte do corpo)
o Problemas com a coordenação
o Tremores
o Tiques ou movimentos estranhos
o Problemas de equilíbrio
o Desmaios
Sensórias
o Perda de sensações / Dormências (Indique o local) _______________________________________________
o Formigamentos ou sensações estranhas na pele (Indique o local)____________________________________
o Dificuldade de diferenciar quente e frio
o Comprometimento visual
o Vê coisas que não estão lá
o Breves períodos de cegueira
o Perda auditiva
o Zumbidos nos ouvidos
o Escuta sons estranhos
o Dores (descreva) ___________________________________________________________________________
Preocupações Intelectuais
o Dificuldade de resolver problemas que a maioria consegue
o Dificuldade de pensar rapidamente quando necessário
o Dificuldade de completar atividades em tempo razoável
o Dificuldade de fazer coisas seqüencialmente
Linguagem_________________________________________________________________________________
Memória __________________________________________________________________________________
Humor/Comportamento/Personalidade __________________________________________________________
Tristeza ou depressão ____________________________
1/3
Ansiedade ou nervosismo ____________________________
Estresse ____________________________
Problemas no sono [cochilo ( ) / dormindo muito ( )] ___________
Tem pesadelos em uma base diária/semanal ___________
Fica irritado facilmente ___________
Sente euforia (se sentindo no topo do mundo) ___________
Se sente muito emotivo (chorando facilmente) ___________
Se sente como se nada mais importasse ___________
Fica facilmente frustrado ___________
Faz coisas automaticamente (sem consciência) ___________
Se sente menos inibido (fazendo coisas que não fazia antes) ___________
Tem dificuldade em ser espontâneo ___________
Houve mudança na energia [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no apetite [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no peso [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no interesse sexual [aumento ( ) / queda ( )] ___________
Houve falta de interesse em atividades prazerosas ___________
Houve aumento de irritabilidade ___________
Houve aumento na agressividade ___________
Outras mudanças no humor, personalidade ou em como lida com as pessoas?___________________________
O paciente está passando por algum problema em sua vida nos aspectos a seguir
listados?
Matrimonial/Familiar:_________________________________________________________________________
Financeiro/Jurídico: __________________________________________________________________________
Serviços domésticos/Gerenciamento de dinheiro: __________________________________________________
Condução de veículos: ________________________________________________________________________
Início dos Sintomas:__________________________________________________________________________
Sintomas se desenvolveram ( ) vagarosamente ( ) rapidamente
Seus sintomas ocorrem ( ) de vez em quando ( ) freqüentemente
O que parece que faz o problema piorar? _________________________________________________________
Histórico Médico
Problemas médicos apresentados antes da condição atual do paciente:
Arteriosclerose ______________________________________________________________________________
Demência __________________________________________________________________________________
Outras infecções no cérebro ou desordens (meningite, encefalite, privação de oxigênio etc) ________________
Diabetes ___________________________________________________________________________________
Doenças cardíacas ___________________________________________________________________________
Câncer ____________________________________________________________________________________
Doenças graves/desordens (doenças imunológicas, paralisia cerebral, pólio, pneumonia, etc) _______________
Exposição à substância tóxica (ex: chumbo, solventes, químicos) ______________________________________
Grandes cirurgias ____________________________________________________________________________
Problemas psiquiátricos _______________________________________________________________________
Outros ____________________________________________________________________________________
O paciente normalmente toma medicamentos? ___________________________________________________
O paciente fez consulta ou está sob tratamento psiquiátrico? Sim ( ) Não ( )
Histórico do uso de substâncias
___________________________________________________________________________________________
História da família
Quantos irmãos o paciente tem?________________________________________________________________
Tem algum problema em comum (físico, acadêmico, psicológico) associado com algum dos seus
irmãos?____________________________________________________________________________________
Relação com a família: ________________________________________________________________________
Estado civil:_________________________________________________________________________________
Quantos anos de casado(a) tem: de __________ até__________
2/3
Nome do(a) esposo(a): _______________________________________________________________________
Profissão do(a) esposo (a): ____________________________________________________________________
Saúde do(a) esposo (a): Excelente Boa Ruim
Há crianças em casa: _________________________________________________________________________
Quem mais atualmente vive em casa? ___________________________________________________________
Algum membro da família tem problema de saúde ou necessidades especiais significantes? ________________
Histórico Profissional
O paciente trabalha atualmente? ( ) Sim ( ) Não
O paciente já se aposentou? ( ) Sim ( ) Não
Cargo ou função no trabalho: __________________________________________________________________
Lazer
Resuma os tipos de lazer que o paciente gosta: ____________________________________________________
Ainda é capaz de realizar estas atividades? _______________________________________________________
Tem alguma religião ou frequenta alguma igreja? Sim Não. Se sim, qual? _______________________________
3/3
318
1..DIMENSÕES EMOCIONAIS - Marque a alternativa que mais corresponde ao seu jeito de ser
e agir em geral (somente uma alternativa de 0 a 6 por linha). Não há respostas certas ou
erradas, responda de acordo com o que você é, e não como desejaria ser. Veja o exemplo de
quem se sente relativamente seguro. O escore 0 é um extremo, o 6 é o outro extremo e o 3 é o
meio termo.
45 a 52
Desatento 0 1 2 3 4 5 6 Atento
Dispersivo 0 1 2 3 4 5 6 Focado
Planejo mal minhas atividades 0 1 2 3 4 5 6 Planejo bem minhas atividades
Não concluo as tarefas que eu começo 0 1 2 3 4 5 6 Concluo as tarefas, mesmo longas e difíceis
Desorganizado 0 1 2 3 4 5 6 Organizado
Indisciplinado 0 1 2 3 4 5 6 Disciplinado
Irresponsável 0 1 2 3 4 5 6 Responsável
Displicente 0 1 2 3 4 5 6 Perfeccionista
53 a 56
Em paz 0 1 2 3 4 5 6 Ansioso
Relaxado 0 1 2 3 4 5 6 Tenso
Sereno 0 1 2 3 4 5 6 Apreensivo
Dificilmente me angustio 0 1 2 3 4 5 6 Facilmente me angustio
57 a 60
Oscilante 0 1 2 3 4 5 6 Regular
Instável 0 1 2 3 4 5 6 Estável
Imprevisível 0 1 2 3 4 5 6 Previsível
Turbulento 0 1 2 3 4 5 6 Equilibrado
A. Tenho tendência à tristeza e à melancolia; vejo pouca graça nas coisas; tendo a me
desvalorizar; não gosto muito de mudanças; prefiro ouvir a falar.
E. Tenho uma forte tendência a me sentir agitado, tenso, ansioso e irritado ao mesmo tempo.
G. Sou exigente, dedicado, perfeccionista, detalhista e rígido; preciso ter o controle das coisas;
não lido bem com incertezas e erros.
H. Meu humor é equilibrado e previsível, costuma mudar só quando há um motivo claro; tenho
boa disposição e, em geral, me sinto bem comigo mesmo.
I. Estou sempre de bom humor, sou muito confiante e me divirto facilmente; adoro novidades;
faço várias coisas sem me cansar; vou atrás do que quero até conquistar; tenho forte tendência
à liderança.
J. Sou muito sincero, direto e determinado, mas também irritado, explosivo e desconfiado.
K. Sou inquieto, ativo, espontâneo e distraído; muitas vezes ajo de maneira precipitada e
inconsequente; é muito comum eu deixar para fazer as coisas na última hora; quando me irrito,
logo fico bem de novo.
Das 12 descrições que você acabou de responder (questão 2 acima), escolha a que mais
se aproxima do seu perfil e marque a sua letra correspondente abaixo (somente uma
alternativa). Releia as descrições que mais têm a ver com você antes de optar pela
resposta.
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)
Em que medida você tem problemas ou prejuízos pessoais em função do seu jeito de ser, do
seu comportamento e do seu padrão de humor?
5- Sinto o amor de Deus por mim, diretamente ou 11- Sei que Deus me perdoa.
por meio dos outros. 1. Sempre ou quase sempre
1. Muitas vezes ao dia 2. Frequentemente
2. Todos os dias 3. Raramente
3. A maior parte dos dias 4. Nunca
4. Alguns dias
5. De vez em quando
6. Nunca ou quase nunca
1
1. Em todas as refeições
D) Práticas religiosas particulares 2. Uma vez ao dia
3. No mínimo uma vez por semana
12- Com que frequência você reza (ora) 4. Apenas em ocasiões especiais
intimamente em lugares que não sejam igreja ou 5. Nunca.
templo religioso?
E) Superação Religiosa e Espiritual
1. Mais de uma vez ao dia
2. Uma vez ao dia Pense a respeito do que você entende e como lida
3. Algumas vezes por semana com os principais problemas em sua vida. Com que
4. Uma vez por semana intensidade você se vê envolvido nessas maneiras
5. Algumas vezes no mês de enfrentá-los?
6. Uma vez no mês
7. Menos de uma vez ao mês 17- Penso que minha vida faz parte de uma força
8. Nunca espiritual maior.
1. Muito
13- De acordo com sua tradição religiosa ou 2. Bastante
espiritual, com que frequência você medita 3. Um pouco
(intimidade com Deus)? 4. Nada
1. Mais de uma vez ao dia
2. Uma vez ao dia 18- Trabalho em união com Deus
3. Algumas vezes por semana 1. Muito
4. Uma vez por semana 2. Bastante
5. Algumas vezes no mês 3. Um pouco
6. Uma vez no mês 4. Nada
7. Menos de uma vez ao mês
8. Nunca 19- Vejo Deus como força, suporte e guia.
1. Muito
14- Com que frequência você assiste ou ouve 2. Bastante
programas religiosos na TV ou rádio? 3. Um pouco
1. Mais de uma vez ao dia 4. Nada
2. Uma vez ao dia
3. Algumas vezes por semana 20- Sinto que Deus me castiga por meus pecados
4. Uma vez por semana ou falta de espiritualidade.
5. Algumas vezes no mês 1. Muito
6. Uma vez no mês 2. Bastante
7. Menos de uma vez ao mês 3. Um pouco
8. Nunca 4. Nada
15- Com que frequência você lê a bíblia ou outra 21- Eu me pergunto se Deus me abandonou.
literatura religiosa (livros, jornais, revistas e 1. Muito
folhetos)? 2. Bastante
1. Mais de uma vez ao dia 3. Um pouco
2. Uma vez ao dia 4. Nada
3. Algumas vezes por semana
4. Uma vez por semana 22- Tento entender o problema e resolvê-lo sem
5. Algumas vezes no mês confiar em Deus.
6. Uma vez no mês 1. Muito
7. Menos de uma vez ao mês 2. Bastante
8. Nunca 3. Um pouco
4. Nada
16 - Com que frequência são feitas orações ou
agradecimentos antes ou após as refeições em sua
casa?
2
23- O quanto sua religião está envolvida Se SIM, qual era a sua idade quando essa
(interessada) na compreensão e na maneira de experiência aconteceu?
lidar com situações estressantes (difíceis)? ______________________________________
1. Muito envolvida
______________________________________
2. Pouco envolvida
3. Não muito envolvida
4. Nem um pouco envolvida 29- Você já teve alguma recompensa com a sua
fé?
F) Suporte Religioso ( ) Não ( ) Sim
Essas questões são destinadas a verificar o quanto Se SIM, qual era a sua idade quando essa
de ajuda as pessoas de sua comunidade religiosa experiência aconteceu?
iriam lhe proporcionar, caso você precisasse no ______________________________________
futuro. ______________________________________
G) História religiosa/espiritual
3
I) Religiosidade Organizacional 39 - Autoavaliação de Saúde
34- Com que frequência você participa de De forma geral, como o Sr. (a) classificaria a sua
serviços religiosos (rituais, missas, cultos, saúde nos últimos 30 dias?
celebrações)? 0. Muito boa
1. Mais de uma vez por semana 1. Boa
2. Toda a semana (semanal) 2. Regular
3. Uma ou duas vezes por mês 3. Ruim
4. Todo mês (mensal) 4. Muito ruim
5. Uma ou duas vezes por ano
6. Nunca
J) Preferência religiosa
K) Autoavaliação Global
4
320