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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS DIADEMA

ARILTON MARTINS FONSECA

A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAHUASCA EM CONTEXTO


RITUAL NA COGNIÇÃO, TEMPERAMENTO E RELIGIOSIDADE: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE USUÁRIOS EXPERIENTES E INICIANTES DO
CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE – SP.

DIADEMA

2021
ARILTON MARTINS FONSECA

A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAHUASCA EM CONTEXTO


RITUAL NA COGNIÇÃO, TEMPERAMENTO E RELIGIOSIDADE: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE USUÁRIOS EXPERIENTES E INICIANTES DO
CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE – SP.

Tese apresentada, como exigência parcial


para obtenção do título de Doutor em
Ciências, ao Programa de Pós-Graduação em
Biologia Química Stricto Sensu do Instituto de
Ciências Ambientais, Químicas e
Farmacêuticas da Universidade Federal de
São Paulo – Campus Diadema.

Orientadora: Profa. Dra. Eliana Rodrigues

DIADEMA

2021


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ARILTON MARTINS FONSECA

A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAHUASCA EM CONTEXTO RITUAL NA


COGNIÇÃO, TEMPERAMENTO E RELIGIOSIDADE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE
USUÁRIOS EXPERIENTES E INICIANTES DO CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE – SP.

Orientadora: Profa. Dra. Eliana Rodrigues

Tese apresentada, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências, ao
Programa de Pós-Graduação em Biologia Química Stricto Sensu do Instituto de Ciências
Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo – Campus
Diadema.

Data da aprovação: 25/05/2021.

Presidente da Banca:

_____________________________________________________
Profa. Dra. Eliana Rodrigues
Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema

Avaliadores:

_____________________________________________________
Profa. Dra. Emília Longhi Bitencourt
Universidade Nove de Julho - SP

_____________________________________________________
Profa. Dra. Monica Marques Telles
Universidade Federal de São Paulo – Campus São Paulo

_____________________________________________________
Profa. Dra. Teresa H. Schoen
Universidade Federal de São Paulo – Campus São Paulo

_____________________________________________________
Prof. Dr. Valdir Florencio da Veiga Junior
Instituto Militar de Engenharia – RJ

DIADEMA

2021
AGRADECIMENTOS

No decorrer deste estudo, muitas foram as pessoas que acompanharam e


contribuíram de forma inestimável para meu crescimento profissional e pessoal. As palavras
de apoio, incentivo e companheirismo, de grande valia, foram preenchendo os dias que se
passavam e, cada uma delas, à sua maneira, contribuiu para a realização deste estudo.
Assim, meus sinceros agradecimentos:

À Profa. Dra. Eliana Rodrigues, pela sua amizade, pela ajuda incansável como
orientadora, pelo exemplo pessoal, pela possibilidade de crescimento científico e
profissional, num tema multidisciplinar complexo que demanda expertise e dedicação.

Ao Prof. Dr. Thiago A. M. Veiga, colaborador deste estudo, pelo incentivo, pelo
apoio, pela criatividade, profissionalismo e empenho nas análises químicas das bebidas
Ayahuasca e do material botânico no Laboratório de Química Bio-orgânica Otto Gottlieb
(LaBIORG) da UNIFESP.

À Profa. Dra. Lívia Soman de Medeiros, colaboradora deste estudo, pelo apoio,
profissionalismo e paciência no ensino das técnicas de laboratório para análise química das
bebidas Ayahuasca e do material botânico no Laboratório de Química Bio-orgânica Otto
Gottlieb (LaBIORG) da UNIFESP, num momento tão especial da sua vida, a maternidade.

À Profa. Dra. Márcia Regina Fumagali Marteleto, pela amizade, pela parceria
científica, pela valorosa e incomensurável colaboração neste estudo na área da Psicologia.

À Profa. Dra. Sonia Aragaki, pela prestimosa colaboração neste trabalho na área da
Botânica.

À Profa. Dra. Mônica Marques Telles, pela confiança, pelo apoio fundamental e
orientações cruciais para tornar esse estudo possível.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Química, em


especial à coordenadora Profa. Dra. Suzete Maria Cerutti.
Aos dirigentes do Centro Luz Divina Sra. Eunice Regina Maria da Silva Durão e ao Sr.
Carlos Eduardo Durão, pela amizade, pelo companheirismo, pela acolhida, pela
apresentação da irmandade do Santo Daime, pela primorosa atenção e ilimitada paciência
na organização e administração da agenda dos voluntários do estudo, pela doação das
amostras das bebidas Ayahuasca e das plantas (rainha e jagube), e pelas informações
primordiais na construção da etnografia.

Aos filhos do Padrinho Jonas Frederico, Marcos Antonio Santos Frederico e Regina
Célia Santos Frederico, pelas informações, fotografias e documentos sobre a formação da
Igreja Flor de Luz e da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.

A todos os moradores da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP, em especial à


Sra. Niva Aparecida de Oliveira, pela acolhida, amizade, companheirismo e pelas longas
conversas na varanda de sua casa.

Ao Sr. Florentino José Alves Benomino da Silva (Tino), pela sua inestimável
colaboração, pela doação do jagube de seu quintal para a taxonomia e análise química.

À Eliana Otton Brandão, pela acolhida, companheirismo e por sua alegria


contagiante.

Ao colega Fernando Cassas, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia


Química, pela sua generosidade e ajuda nos procedimentos de laboratório para as análises
químicas, tanto das bebidas Ayahuasca quanto das plantas (rainha e jagube).

À Mirtes Veiga, pela amizade e companheirismo desde a graduação, parceira do


primeiro ritual do Santo Daime, pela colaboração na coleta das plantas e pela companhia em
viagens para a Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.

À Patrícia de Oliveira Pereira, pela amizade e companheirismo desde a graduação,


pela colaboração na organização do material para a coleta de dados do grupo iniciante.

À psicóloga Leticia Paranhos R. D. Coelho, pela valorosa ajuda na revisão dos


resultados dos testes neuropsicológicos, pela amizade e confiança desde a Pós-Graduação
em Neuropsicologia no Instituto Neuropsicológico de São Paulo (INESP).
À Profa. Rita Vieira, pela prestimosa colaboração na revisão e correção da Língua
Portuguesa.

Aos colegas pós-graduandos da disciplina Fundamentos em Biologia Química I e II,


em 2018: Ana Calheiros de Carvalho, Andressa Volpe, Beatriz Muratori, Cristiane
Gonçalves da Silva, Daniela Debone, Érica Pinto Campos, Eunice Regina Maria da Silva
Durão, Fernanda Malanconi, Irina E. Manuela T. da Veiga, Jackson Monteiro, Jéssica de
Souza Figueiredo, Jussara Simão, Luciana Leiriao, Meira Machado, Rafael Cossi Silva,
Rafaela Brito, Tânia Matsui e Vitor Jacó Antraco.

À secretária do Programa de Pós-Graduação em Biologia Química, Maria de Fátima


V. Carrasqueira, pela paciência, dedicação e presteza.

Às funcionárias da secretaria do Programa de Pós-Graduação em Biologia Química,


Eliane Domingos e Sheila Caroline Lemos, pelo profissionalismo e prestimosa dedicação.

A todos os funcionários do Campus Diadema – UNIFESP.


Assim, todo o acontecimento cognitivo necessita da conjugação de
processos energéticos, químicos, fisiológicos, cerebrais, existenciais,
psicológicos, culturais, linguísticos, lógicos, ideais, individuais,
coletivos, pessoais, transpessoais e impessoais, que se engrenam uns
ao outros. O conhecimento é, portanto, um fenômeno
multidimensional, no sentido em que é, de maneira inseparável, ao
mesmo tempo físico, biológico, cerebral, mental, psicológico,
cultural, social.
Edgar Morin (1999)
RESUMO

Objetivos: 1) Descrever a história da formação do Centro Luz Divina, Piedade – SP; 2)


descrever as plantas envolvidas na confecção das bebidas Ayahuasca no referido Centro; 3)
identificar os alcaloides existentes nas bebidas Ayahuasca e nas plantas utilizadas nos rituais
religiosos do referido Centro; e 4) avaliar e comparar os parâmetros psicológicos “cognição”,
“temperamento” e “religiosidade” dos usuários experientes (usam Ayahuasca há mais de 20
anos), iniciantes (usam Ayahuasca há menos de 3 anos) e grupo controle (não usuários de
Ayahuasca). Métodos: Por meio da Etnografia, foram coletadas informações sobre a história
de formação do Centro Luz Divina. Métodos da botânica foram utilizados para a coleta e a
identificação das plantas que compõem as bebidas Ayahuasca do referido Centro. Análises
químicas, via UHPLC-HRMS, foram realizadas para identificar os alcaloides de duas bebidas e
das plantas. Para avaliar “cognição”, “temperamento” e “religiosidade” foi realizado um
estudo observacional, descritivo e transversal, do qual participaram 48 pessoas, divididas em
dois grupos: (a) grupo estudo: subdividido em grupo experiente e grupo iniciante, ambos
compostos por 16 pessoas (8 homens e 8 mulheres); (b) grupo controle: 16 pessoas (8
homens e 8 mulheres), pareados por sexo, faixa etária e escolaridade. Foi utilizado o teste
estatístico MANOVA, com significância estatística para um a ≤ 0,05. Resultados: Foram
confirmadas as identidades das plantas Psychotria viridis Ruiz & Pav. (família Rubiaceae) e
Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (família Malpighiaceae). Nas duas bebidas
Ayahuasca, foi encontrada apenas a ß-carbolina Tetrahidroharmina. Nos extratos aquosos
das plantas, realizados em laboratório, foram detectadas a presença de N, N,
Dimetiltriptamina, nas folhas da P. viridis, e apenas a Tetrahidroharmina, nos caules de B.
caapi. Os dados sociodemográficos dos participantes do estudo foram homogêneos. Todos
os grupos estudados apresentaram desempenho intelectual na média. O grupo experiente
obteve desempenho superior em relação ao grupo iniciante nas tarefas Dígitos e Cubos de
Corsi. Evidências significativas da dimensão emocional Vontade foram identificadas apenas
no grupo experiente. As mulheres do grupo experiente se sobressaíram na dimensão
emocional Controle. O grupo experiente apresentou elevados escores de religiosidade,
quando comparado aos grupos iniciante e controle. Conclusões: O grupo experiente obteve
desempenho superior em relação ao grupo iniciante: (a) nas tarefas que envolveram
memória de trabalho verbal e visuoespacial, (b) na dimensão emocional Vontade e (c)
religiosidade. Os participantes do presente estudo parecem não apresentar
comprometimentos cognitivos ou neuropsicológicos, pois os resultados dos testes
denotaram preservação global das funções cognitivas avaliadas.

Palavras-chave: Ayahuasca. Cognição. Etnofarmacologia. Religiosidade. Temperamento.


ABSTRACT

Objectives: 1) To describe the history of the Centro Luz Divina, Piedade - SP; 2) describe the
plants involved in making Ayahuasca beverages at the said Center; 3) identify the alkaloids
found in Ayahuasca drinks and in the plants used in the religious rituals of that Center; and
4) evaluate and compare the psychological parameters "cognition", "temperament" and
"religiosity" of experienced users (using Ayahuasca for over 20 years), beginners (using
Ayahuasca for less than 3 years) and control group (not Ayahuasca users). Methods:
Through Ethnography, information was collected from the history of the Centro Luz Divina.
Botany methods were used to collect and identify the plants that are used to make the
Ayahuasca beverages at that Center. Chemical analyzes, via UHPLC-HRMS, were performed
to identify the alkaloids from two drinks and from plants. To assess “cognition”,
“temperament” and “religiosity” an observational, descriptive and cross-sectional study was
carried out, in which 48 people participated, divided into two groups: (a) study group:
subdivided into an experienced group and a beginner group, both composed of 16 people (8
men and 8 women); (b) control group: 16 people (8 men and 8 women), matched by sex, age
group and education. The MANOVA statistical test was used, with statistical significance for
a a ≤ 0.05. Results: The identities of the plants have been confirmed as Psychotria viridis
Ruiz & Pav. (family Rubiaceae) and Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (family
Malpighiaceae). In the two Ayahuasca beverages, only ß-carboline Tetrahidroharmina was
found. In the aqueous extracts of the plants, carried out in the laboratory, the presence of N,
N, Dimethyltryptamine was detected in the leaves of P. viridis, and only Tetrahydroharmina,
in the stems of B. caapi. The sociodemographic data of the study’s participants were
homogeneous. All groups studied have an average intellectual performance. The
experienced group obtained superior performance in relation to the beginner group in the
Digits and Cubes of Corsi tasks. Significant evidence of the Volition emotional dimension was
identified only in the experienced group. The women in the experienced group stood out in
the emotional dimension Control. The experienced group had high scores for religiosity
when compared to the beginner and control groups. Conclusions: The experienced group
obtained superior performance in relation to the beginner group: (a) in tasks that involved
verbal and visuospatial working memory, (b) in the emotional dimension Volition and (c)
religiosity. The participants in the present study do not appear to have cognitive or
neuropsychological impairments, as the test results denote overall preservation of the
assessed cognitive functions.

Keywords: Ayahuasca. Cognition. Ethnopharmacology. Religiosity. Temperament.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização dos sítios das Fases de Valdivia e Machalilla ................ 35


Figura 2 – Conteúdo do Pacote ritual da Cova do Chileno ............................... 37
Fotografia 1 – Psychotria viridis, arbusto do quintal da casa da Sra. Eunice,
Piedade – SP .................................................................................... 53
Fotografia 2 – Psychotria viridis com frutos, arbusto do quintal da casa da Sra.
Eunice, Piedade – SP ....................................................................... 53
Figura 3 – Distribuição geográfica da Psychotria viridis: Norte (Acre,
Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais, São Paulo) ............................. 53
Fotografia 3 – Banisteriopsis caapi, cipó do quintal da casa da Sr. Tino, Cotia – SP 54
Fotografia 4 – Banisteriopsis caapi com flores, cipó do quintal da casa do Sr.
Tino, Cotia – SP................................................................................. 54
Figura 4 – Distribuição geográfica do Banisteriopsis caapi: Norte (Acre,
Amazonas, Pará, Rondônia) e Centro-Oeste (Mato Grosso) ........... 54
Figura 5 – Estruturas químicas dos principais alcaloides presentes na
Ayahuasca e a similaridade da DMT com o neurotransmissor 5-HT 55
Figura 6 – Componentes básicos de um sistema LC-MS .................................. 60
Figura 7 – Estruturas cerebrais: lobo temporal, amígdala e hipocampo .......... 82
Figura 8 – Uma abordagem da memória baseada no processamento da
informação ...................................................................................... 82
Figura 9 – Modelo modal de memória proposto por Atkinson e Shiffrin
(1968) ............................................................................................... 83
Figura 10 – O modelo inicial de memória de trabalho proposto por Baddeley
e colaboradores. As setas duplas servem para representar a
transferência paralela de informações para e a partir do esboço,
enquanto as setas simples, o processo de repetição consciente no
interior da alça fonológica ............................................................... 84
Figura 11 – O fluxo de informações através dos sistemas de memória, de
acordo com a concepção do modelo modal de Atkinson e Shiffrin. 85
Figura 12 – A versão de Baddeley (2000) da memória de trabalho de
componentes múltiplos. As ligações com a memória de longa
duração foram especificadas e um novo componente, o episodic
buffer, acrescentado ........................................................................ 86
Figura 13 – Componentes da memória de longa duração ................................. 87
Figura 14 – Vias serotoninégicas no SNC e suas projeções ................................ 89
Figura 15 – Anatomia do hipocampo ................................................................. 90
Figura 16 – Vias e estruturas de processamento visuoespacial (rotas dorsal e
ventral em cérebro de macaco) ...................................................... 92
Quadro 1 – Vias e estruturas de processamento visuoespacial ......................... 93
Figura 17 – Correlações das áreas arquitetônicas do córtex pré-frontal medial
do homem e do macaco .................................................................. 95
Figura 18 – Esquema geral dos componentes que integram as funções
executivas: memória operacional, flexibilidade cognitiva e
controle inibitório ........................................................................... 96
Figura 19 – Áreas do córtex cerebral, de acordo com Brodmann, dispostos em
três aspectos anatômicos principais: lateral, medial e orbital ........ 98
Figura 20 – Córtex pré-frontal (sombreado) em seis espécies animais .............. 99
Figura 21 – Crânio de Phineas Gage com orifício nas regiões frontais ............ 101
Figura 22 – Circuito pré-frontal dorsolateral ...................................................... 102
Figura 23 – Circuito orbitofrontal ....................................................................... 103
Figura 24 – Circuito pré-frontal medial e cíngulo anterior ................................. 104
Figura 25 – O temperamento como função central e integradora de diversos
elementos de humor, comportamento, cognição e valores ............ 114
Quadro 2 – Nove tipos iniciais de temperamentos afetivos ............................... 117
Quadro 3 – Configurações emocionas dos 12 temperamentos afetivos ............ 120
Figura 26 – Localização do Centro Luz Divina, Piedade – SP............................... 133
Fotografia 5 – Amostras nº 1 e nº 2 das bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina. 134
Figura 27 – Etapas do processo de extração em SPE das amostras das bebidas
Ayahuasca ........................................................................................ 135
Quadro 4 – Estrutura molecular, fórmula, massa molar (g mol-1), alcaloide-
alvo e íon precursor (m/z) ............................................................... 137
Fotografia 6 – Folhas trituradas da P. viridis ........................................................... 138
Fotografia 7 – Caules triturados do B. caapi ........................................................... 138
Fotografia 8 – Extrator Soxhlet ............................................................................... 139
Fotografia 9 – Bebida Ayahuasca nº 1 .................................................................... 163
Fotografia 10 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. (família Rubiaceae) ........................... 163
Fotografia 11 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (família
Malpighiaceae) ................................................................................ 163
Fotografia 12 – Bebida Ayahuasca nº 2 .................................................................... 164
Fotografia 13 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. (família Rubiaceae) ........................... 164
Fotografia 14 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (família
Malpighiaceae) ................................................................................ 164
Figura 28 – Cromatograma de UV 190-800nm das duas amostras de bebidas
Ayahuasca ........................................................................................ 165
Figura 29 – Cromatograma da Tetrahidroharmina (THH) e três compostos
(isômeros) de identidade desconhecida, presentes nas duas
amostras das bebidas Ayahuasca .................................................... 166
Figura 30 – (A) Cromatograma de UV obtido a partir das amostras das
bebidas Ayahuasca, Tetrahidroharmina (THH) detectada em
destaque, (B) espectro de full scan e de (C) UV da THH detectada.. 167
Figura 31 – Espectro de íons produto Tetrahidroharmina (THH) (m/z
217.1340) detectada ....................................................................... 167
Figura 32 – (A) cromatograma do primeiro isômero de identidade
desconhecida (m/z 367.1492) em destaque, (B) espectro de full
scan e (C) de UV ............................................................................... 168
Figura 33 – (A) cromatograma do segundo isômero de identidade
desconhecida (m/z 367.1504) em destaque, (B) espectro de full
scan e (C) de UV ............................................................................... 169
Figura 34 – (A) cromatograma do terceiro isômero de identidade
desconhecida (m/z 367.1500) em destaque, (B) espectro de full
scan e (C) de UV ............................................................................... 170
Figura 35 – Cromatograma de íons extraídos para m/z 367 (1) e m/z 217 (2) ... 171
Figura 36 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides alvo (DMT,
HRM, HRL e THH) ............................................................................. 171
Figura 37 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados na
Tetrahidroharmina (THH) ................................................................ 173
Figura 38 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados nos
isômeros desconhecidos (soma) ...................................................... 173
Figura 39 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos das folhas de P.
viridis ............................................................................................... 174
Figura 40 – (A) Cromatograma da Dimetiltriptamina (DMT) e (B) espectro de
full scan, ambos da folha da P. viridis .............................................. 175
Figura 41 – Espectro de íons produto Dimetiltriptamina (DMT) (m/z
189.1381) ......................................................................................... 175
Figura 42 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides alvo (DMT,
HRM, HRL e THH) ............................................................................. 176
Figura 43 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos dos caules do B.
caapi ................................................................................................ 177
Figura 44 – (A) Cromatograma da Tetrahidroharmina (THH) e (B) espectro de
full scan, ambos dos caules do B. caapi ........................................... 178
Figura 45 – Espectro de íons produtos Tetrahidroharmina (THH) (m/z
217.1340) ......................................................................................... 179
Figura 46 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides alvo (DMT,
HRM, HRL e THH) ............................................................................. 180
Figura 47 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides alvo (DMT,
HRM, HRL e THH), a partir da combinação feita dos extratos das
folhas (P. viridis) e do cipó (B. caapi) ............................................... 181
Fotografia 15 – Jonas Frederico no armazém de secos e molhados em Rio Branco,
Acre ................................................................................................. 184
Fotografia 16 – Jonas Frederico (esquerda) e o Padrinho Sebastião Mota de Melo
(direita) ............................................................................................ 185
Fotografia 17 – Padrinho Jonas Frederico no altar do Daime ................................... 188
Fotografia 18 – Placa sinalizadora na Rodovia SP 79, sentido Piedade –
Votorantim, dias atuais .................................................................... 191
Fotografia 19 – Irmandade da igreja Flor de Luz ...................................................... 192
Fotografia 20 – Igreja Flor de Luz – antigo barracão de cebolas ............................... 193
Figura 48 – Lotes da futura Comunidade Céu de Midam ................................... 193
Fotografia 21 – Dia do sorteio dos lotes entre os proprietários ............................... 195
Fotografia 22 – Casa da família Durão (baú de caminhão) ....................................... 195
Fotografia 23 – Centro Luz Divina (atualidade) ......................................................... 197
Fotografia 24 – Mulheres cuidando das folhas (rainha) ........................................... 200
Fotografia 25 – Homens na Casa do Feitio realizando a bateção do cipó (jagube) .. 201
Fotografia 26 – Fornalha para a decocção do Daime (esquerda) e bancada para
escorrer o Daime (direita) ............................................................... 201
Figura 49 – Localidade das plantas: Mapiá – AM, Rondonópolis – MT e Céu de
Midam, Piedade – SP........................................................................ 203
Figura 50 – Farda branca feminina usada nos rituais do Santo Daime .............. 209
Fotografia 27 – Construção da “Catedral da floresta” na Vila Céu do Mapiá –
Amazonas ........................................................................................ 210
Fotografia 28 – Altar do Daime do Centro Luz Divina, Piedade –
SP...................................................................................................... 210
Figura 51 – Disposição dos batalhões dos homens e das mulheres na igreja .... 211
Fotografia 29 – Chão do interior da Igreja Flor de Luz, Piedade, – SP....................... 213
Gráfico 1 – Coeficiente de correlação de Pearson das dimensões emocionais
da AFECTS do grupo estudo (experiente e iniciante) ....................... 251
Gráfico 2 – Características dos Tipo Afetivos (AFECTS) por grupo controle e
estudo (experiente e iniciante) e participantes do sexo masculino
(N=24) .............................................................................................. 253
Gráfico 3 – Características dos Tipo Afetivos (AFECTS) por grupo controle e
estudo (experiente e iniciante) e participantes do sexo feminino
(N=24) .............................................................................................. 254
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características sociodemográficas dos grupos controle e estudo


(experiente e iniciante) ........................................................................ 217
Tabela 2 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos
grupos controle e estudo (experiente e iniciante), dos escores da
WASI em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo ........................................................................................... 218
Tabela 3 – Resultados da WASI dos grupos controle e estudo (experiente e
iniciante), apresentando as médias, diferença entre grupo e o valor
do p ...................................................................................................... 219
Tabela 4 – Resultados das comparações entre as médias dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), dos escores da WASI em relação aos
efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo, por meio do
procedimento de Bonferroni para comparações múltiplas ................. 221
Tabela 5 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos
grupos controle e estudo (experiente e iniciante) para as medidas de
Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey em relação aos
efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo ...................... 222
Tabela 6 – Resultados da Tarefa de Dígitos dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), em comparação ao estudo de Figueiredo e
Nascimento (2007), apresentando as médias dos escores
ponderados e brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), soma
da OD e OI; diferença entre OD e OI e médias das idades dos
participantes de todos os estudos ....................................................... 223
Tabela 7 – Diferença entre Ordem Direta (OD) e Ordem Indireta (OI), na tarefa
de Dígitos, com acertos abaixo e acima de 3 pontos, dos grupos
controle e grupo estudo (experiente e iniciante) ................................ 224
Tabela 8 – Resultados da tarefa Cubos de Corsi dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), em comparação aos estudos de Kessels et
al. (2000, 2008), apresentando as médias dos escores ponderados,
dos escores brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), média
e DP da soma (OD+OI), escore total e DP, e média das idades dos
participantes e proporção entre homens e mulheres de todos os
estudos ................................................................................................ 225
Tabela 9 – Percentis dos escores totais da tarefa Cubos de Corsi do grupo
controle e estudo (experiente e iniciante), agrupados por idade
segundo Kessels et al. (2000) ............................................................... 226
Tabela 10 – Figuras Complexas de Rey, resultados dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), média, da cópia escore total, cópia tempo,
memória escore total, memória tempo, diferença entre grupo e o
valor do p ............................................................................................. 227
Tabela 11 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos
em Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey dos grupos
controle e estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e
grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para comparações
múltiplas .............................................................................................. 229
Tabela 12 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos
grupos controle e estudo (experiente e iniciante), para as medidas
do WCST em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo ........................................................................................... 231
Tabela 13 – Escores do teste WCST dos grupos controle e estudo (experiente e
iniciante), em comparação aos estudos de Such (2011) e Norman et
al. (2011), mostrando as médias do total de acertos, total de erros,
nível de resposta conceitual, categorias completadas, média das
idades dos participantes e proporção entre homens e mulheres de
todos os estudos .................................................................................. 232
Tabela 14 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no
WCST dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni
para comparações múltiplas ................................................................ 233
Tabela 15 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos
grupos controle e estudo (experiente e iniciante), para as medidas
do FDT, em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo ........................................................................................... 234
Tabela 16 – Desempenho no teste FDT dos grupos controle e estudo (experiente
e iniciante), em relação às médias Tempo (leitura, contagem,
escolha e alternância), comparados aos dados normativos para a
população brasileira como um todo .................................................... 235
Tabela 17 – Médias dos percentis, do teste FDT, dos escores de Tempo (leitura,
contagem, escolha e alternância), inibição e flexibilidade dos grupos
controle e estudo (experiente e iniciante), e da amostra total do
estudo (grupo controle + grupo estudo) .............................................. 236
Tabela 18 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no
FDT dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni
para comparações múltiplas ................................................................ 237
Tabela 19 – Idade (anos) e escolaridade (anos de estudo) dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), apresentando a média, mediana,
moda, amplitude (máximo e mínimo) ................................................. 238
Tabela 20 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente
e iniciante), em relação às dimensões da AFECTS, avaliadas pelo
teste MANOVA ..................................................................................... 243
Tabela 21 – Comparação entre os grupos controle e estudo (experiente e
iniciante) na dimensão emocional Vontade da AFECTS, avaliadas
pelo procedimento post hoc Tukey b .................................................. 244
Tabela 22 – Comparação dos escores da dimensão emocional Vontade, entre o
grupo controle e estudo (experiente e iniciante) ................................ 244
Tabela 23 – Efeitos de interação entre grupo e sexo sobre a dimensão emocional
Controle da AFECTS, avaliado pelo Teste post hoc Tukey b ................ 246
Tabela 24 – Dimensões emocionais da AFECTS apresentadas por grupo, média e
classificação ......................................................................................... 249
Tabela 25 – Coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões
emocionais da AFECTS do grupo estudo (experiente e iniciante) ....... 250
Tabela 26 – Religião de referência dos grupos controle e estudo (experiente e
iniciante) .............................................................................................. 256
Tabela 27 – Características do grupo estudo (experiente e iniciante) quanto ao
tempo de uso da bebida Ayahuasca, frequência de uso atual, no
passado e como conheceu o Santo Daime .......................................... 257
Tabela 28 – Características da História religiosa/espiritual dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante) ............................................................ 258
Tabela 29 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente
e iniciante), em relação às dimensões da BMMRS-P, avaliado pelo
teste MANOVA ..................................................................................... 260
Tabela 30 – Diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante)
nas dimensões da BMMRS-P, segundo teste post hoc Tukey b ........... 260
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AChE – Acetilcolinesterase
ACTH – Adrenocorticotropic hormone (hormônio adrenocorticotrófico)
AFECT – Affective and Emotional Composite Temperament
AFECTS – Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo
Afro – Afro-americano
AIS2C – Ativação-Inibição-Sensibilidade-Coping-Controle
ANOVA – Analysis Of Variance (Análise de variância)
ASI – Addiction Severity Index (Escala de gravidade de dependência)
ASSIST – Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (Teste de
Triagem do Envolvimento com Álcool, Cigarro e outras Substâncias)
BA – Brodmann's área (Áreas de Brodmann)
BFI – Big Five Inventory
BMMRS-P – Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade
BOLD – Blood Oxygenation Level Dependent (Imagem dependente do nível de
oxigênio no sangue)
BPRS – Brief Psychiatric Ratings Scale
BrdU+ – Bromodesoxiuridina
CB – Cubos
CE – Córtex entorrinal
CEBRID – Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas
CEFLU – Centro Eclético de Correntes da Luz Universal
CEFLUFLUZ – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Flor de Luz
CEFLURIS – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
c-fos – Genes de ativação imediata (proteína Fos)
CICLU – Centro de Iluminação Cristã Luz Universal
CIDI – Composite International Diagnostic Interview
CID-10 – Classificação Internacional de Doenças – 10ª Revisão
CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
CONFEN – Conselho Federal de Entorpecentes
CRF – Centro de Regeneração e Fé ou Centro da Rainha da Floresta
C18 – Cartucho para extração em SPE (solid phase extraction)
DAD – Diod Array Detector (Detector de arranjo de diodo)
DAG – Diacylglycerol (Diacilglicerol)
DEMEC – Departamento Médico Científico da União do Vegetal
DIMED – Divisão de Medicamentos
d.C. – Depois de Cristo
DMT – N, N, dimetiltriptamina
DOI – 2,5-dimetoxi-4-iodoanfetamina
DP – Desvio Padrão
DSM-III-R – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 3ª Edição,
Revisada
DYRK1A – Dual-specificity tyrosine phosphorylation-regulated kinase (Quinase regulada
por tirosina-fosforilação com dupla especificidade)
EEG – Eletroencefalograma
Egr-1 – Early growth response protein 1
ESI – Electrospray ionization (Ionização por eletropulverização)
EUA – Estados Unidos da América
F – F-statistics ou F-ratio
FDT – Five Digit Test (Teste dos cinco dígitos)
fMRI – functional Magnetic Resonance Imaging (Imagem por ressonância magnética
funcional)
FWHM – Full Width at Half Maximum (Largura total à meia altura)
g – Inteligência geral (Fator “g”)
GABA – Ácido gama-aminobutírico
GC – Gas Chromatography (Cromatografia gasosa)
GD – Giro denteado
GMT – Grupo Multidisciplinar de Trabalho
GPCR – G protein-coupled receptors (Receptores acoplados a proteína G)
HAM-D – Hamilton Depression Rating Scale (Escala de Avaliação de Depressão de
Hamilton)
HIV/AIDS – Human immunodeficiency vírus/Acquired Immuno-Deficiency Syndrome
(Vírus da imunodeficiência humana/Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida)
hNPCs – Human neural progenitor cells (Células progenitoras neurais humanas)
HPLC – High-performance liquid chromatography (Cromatografia líquida de alta
performance)
HPLC-ESI/ – High-performance liquid chromatography-electrospray ionization/tandem
MS/MS mass spectrometry (Cromatografia líquida de alta performance – ionização
por electropulverização acoplada à espectrometria de massa em Tandem)
HRL – Harmalina
HRM – Harmina
HRMS – High resolution mass spectrometry (Espectrometria de massa de alta
resolução)
HRS – Hallucinogen Rating Scale
HTR2A – Gene serotoninérgico – receptor subtipo 2A
HUFSP – Herbário da Universidade Federal de São Paulo
IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
ICEFLU – Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal – Patrono Sebastião Mota
de Melo
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INESP – Instituto Neuropsicológico de São Paulo
IMAO – Inibidor da monoamino oxidase
IP3 – Inositol trifosfato
ISRS – Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina
LC – Liquid Chromatography (Cromatografia líquida)
LC-MS – Liquid chromatography–mass spectrometry (Cromatografia líquida acoplada
à Espectrometria de massas)
LC-MS/MS – Liquid chromatography-Tandem mass spectrometry (Cromatografia líquida
acoplada à Espectrometria de massas em Tandem)
LNUD – III – Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (III)
LOD – Limit of detection (Limite de detecção)
LSD-25 – Lysergic Acid Diethylamide (Dietilamida do ácido lisérgico)
M Scale – Mysticism Scale
MADRS – Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (Escala de Classificação de
Depressão de Montgomery-Asberg)
MANOVA – Multivariate Analysis Of Variance (Análise de variância multivariada)
MAO – Monoamino oxidase
MAO-A – Monoamino oxidase – subtipo A
MAO-B – Monoamino oxidase – subtipo B
MDMA – 3,4-metilenodioximetanfetamina (Ecstasy)
MEC – Ministério da Educação
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MMSE – Mini-Mental State Examination (Mini Exame do Estado Mental)
MRI – Magnetic resonance imaging (Imagem por ressonância magnética)
MS – Mass spectrometry (Espectrometria de massas)
MS/MS – Tandem mass spectrometry (Espectrometria de massa em Tandem)
MT – Mato Grosso
mTOR – Mammalian target of rapamycin (alvo de mamíferos da rapamicina)
m/z – Relação massa-carga
n – Amostra
NA – Noradrenalina
NART – National Adult Reading Test
NS – Não significativo
h2 – Eta parcial quadrado
ONU – Organização das Nações Unidas
OD – Ordem Direta
OI – Ordem Inversa
p – p-valor (significância estatística)
PEP – Peak Experience Profile
PKC – Proteína quinase C
POMS – Profile of Mood States
QI – Quociente de Inteligência
QIE – Quociente de Inteligência de Execução
QIT – Quociente de Inteligência Total
QIV – Quociente de Inteligência Verbal
QTOF – Quadrupole Time-of-flight (Quadrupolo tempo de voo)
R/E – Religiosidade/espiritualidade
r – Correlação de Pearson
RM – Raciocínio Matricial
RMP – Rede Modo Padrão
RPM – Rotações por minuto
SF-36 – Medical Outcomes Study Short Form-36
Sig. – Valor p
SISBIO – Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
SISGEN – Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento
Tradicional Associado
SM – Semelhanças
SNC – Sistema Nervoso Central
SP – São Paulo
SPE – Solid phase extraction (Extração em fase sólida)
SPECT – Single Photon Emission Computed Tomography (Tomografia
computadorizada por emissão de fóton único)
SWB – Spiritual Well-Being Scale
t – teste t de Student
T – Escore Total
TAP – Test de Acentuación de Palabras (Teste de Acentuação de Palavras)
TC – Tecido cerebral
TCI-R – Temperament and Character Inventory – Revised (Inventário de
Temperamento e Caráter)
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
THH – Tetrahidroharmina
TOF – Time-of-flight (Tempo de voo)
TPQ – Tridimensional Personality Questionnaire
TrkB – Tropomyosin receptor kinase B (Receptor de tropomiosina quinase B)
WHO/UCLA – World Health Organization – University of California – Los Angeles Auditory
Verbal Learning Test
UHPLC – Ultra High Performance Liquid Chromatography (Cromatografia líquida de
alta performance)
UHPLC- – Ultra High Performance Liquid Chromatography Untargeted Mixed-Mode
HRMS Tandem Mass Spectrometry (Cromatografia líquida de alta performance
acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução)
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
UDV – Centro Espírita Beneficente União do Vegetal
UV – Ultraviolet (Ultravioleta)
UV/Vis – Ultraviolet-visible (Ultravioleta-visível)
VC – Vocabulário
X2 – Teste Qui-quadrado
YMRS – Young Mania Rating Scale
z – Carga
WAIS-III – Wechsler Adult Intelligence Scale - III (Escala de Inteligência Wechsler para
Adultos – III)
WASI – Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence (Escala Wechsler Abreviada de
Inteligência)
WCST – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas
WCST-64 – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (versão computadorizada)
WISC-IV – Wechsler Intelligence Scale for Children – IV (Escala Wechsler de Inteligência
para Crianças – IV)
5-HT – Serotonina ou 5-Hidroxitriptamina
5-HT1A – Receptor serotoninérgico – subtipo 1A
5-HT2A – Receptor serotoninérgico – subtipo 2A
5-HT2AR – Gene serotoninérgico – receptor subtipo 2A
5-HT2c – Receptor serotoninérgico – subtipo 2C
5-MeO- – 5-metoxi-N, N-dimetiltriptamina
DMT
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 29
1.1 Motivação e contexto .......................................................................................................... 30
1.2 Justificativa .......................................................................................................................... 31
1.3 Hipótese .............................................................................................................................. 32
1.4 Objetivos ............................................................................................................................. 32
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 33
2.1 Ayahuasca ........................................................................................................................... 34
2.1.1 Histórico ......................................................................................................................................... 34
2.1.2 Religiões ayahuasqueiras brasileiras .............................................................................................. 39
2.1.3 Santo Daime ................................................................................................................................... 40
2.1.4 Santo Daime e Santa Maria ............................................................................................................ 45
2.1.5 Aspectos legais do consumo ritual da Ayahuasca no Brasil ........................................................... 46
2.1.6 O uso de plantas psicoativas em contextos rituais ........................................................................ 49
2.1.6.1 A bebida Ayahuasca no contexto ritual ............................................................................ 51
2.1.7 As plantas que compõem a Ayahuasca .......................................................................................... 52
2.1.8 Efeitos neuroquímicos da Ayahuasca............................................................................................. 55
2.1.8.1 Avaliação do perfil químico da Ayahuasca via LC-HRMS .................................................. 58
2.1.9 Neurogênese e Ayahuasca ............................................................................................................. 62
2.1.10 Farmacologia clínica da Ayahuasca .............................................................................................. 64
2.1.11 Efeitos adversos da Ayahuasca .................................................................................................... 68
2.1.11.1 Interações entre medicamentos antidepressivos e o uso da Ayahuasca ....................... 70
2.1.11.2 Relatos de reações psiquiátricas adversas associadas ao uso da Ayahuasca ................. 72
2.1.11.3 Comércio ilegal da Ayahuasca e turismo xamânico ........................................................ 75
2.2 Cognição e seus componentes ............................................................................................. 77
2.2.1 Inteligência ..................................................................................................................................... 78
2.2.2 Memória......................................................................................................................................... 81
2.2.2.1 Estruturas cerebrais relacionadas à memória .................................................................. 81
2.2.2.2 Tipos de memória ............................................................................................................. 82
2.2.2.3 O papel do receptor 5-HT2A na memória e cognição ........................................................ 88
2.2.3 Habilidades visuoespaciais ............................................................................................................. 91
2.2.3.1 Funções visuoespaciais ..................................................................................................... 93
2.2.4 Rede de modo padrão .................................................................................................................... 94
2.2.5 Funções executivas ........................................................................................................................ 96
2.2.5.1 Córtex pré-frontal e as funções executivas ...................................................................... 98
2.2.5.2 Neurobiologia das funções executivas ........................................................................... 100
2.2.6 Cognição e estudos clínicos com Ayahuasca ................................................................................ 105
2.3 Temperamento .................................................................................................................. 111
2.3.1 Modelo AFECT (Affective and Emotional Composite Temperament) ........................................... 113
2.3.1.1 Princípios universais do modelo AFECT .......................................................................... 114
2.3.2 Sistema de temperamento emocional e afetivo .......................................................................... 116
2.3.2.1 Temperamento emocional ............................................................................................. 116
2.3.2.2 Temperamento afetivo ................................................................................................... 116
2.3.2.3 Relações entre os temperamentos emocionais e afetivos ............................................. 119
2.3.3 Estudos com usuários de substâncias psicoativas avaliados com a AFECTS ................................ 121
2.4 Religiosidade ..................................................................................................................... 123
2.4.1 Religiosidade e o uso da Ayahuasca ............................................................................................. 128
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 131
3.1 Ética .................................................................................................................................. 132
3.2 Etnografia .......................................................................................................................... 132
3.3 Coleta e depósito em herbário do material botânico que compõe a bebida Ayahuasca...... 133
3.3.1 Taxonomia do material botânico ................................................................................................. 133
3.4 Análise química das bebidas Ayahuascas obtidas no Centro Luz Divina .............................. 134
3.4.1 Extração em SPE de amostras das bebidas Ayahuasca ................................................................ 135
3.4.2 Análise por LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca............................................................................ 136
3.5 Coleta e preparo do extrato de plantas que compõem a bebida Ayahuasca para análise
química .............................................................................................................................. 137
3.5.1 Extrato aquoso quente das amostras das plantas Ayahuasca ..................................................... 138
3.5.2 Análise por LC-MS/MS das plantas Ayahuasca ............................................................................ 139
3.6 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade ....................................................... 139
3.6.1 Delineamento da pesquisa ........................................................................................................... 139
3.6.2 Seleção da amostra ...................................................................................................................... 140
3.6.3 Sujeitos ......................................................................................................................................... 140
3.6.4 Coleta de dados............................................................................................................................ 140
3.6.5 Instrumentos ................................................................................................................................ 141
3.6.5.1 Questionário de dados sociodemográficos .................................................................... 141
3.6.5.2 Entrevista de anamnese ................................................................................................. 141
3.6.5.3 Escala Wechsler Abreviada de Inteligência – WASI ........................................................ 142
3.6.5.4 Tarefa de Alcance de Dígitos .......................................................................................... 144
3.6.5.5 Tarefa de Cubos de Corsi ................................................................................................ 146
3.6.5.6 Figuras Complexas de Rey .............................................................................................. 148
3.6.5.7 Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST-64) .................................................. 151
3.6.5.8 FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos .............................................................. 153
3.6.5.9 Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS) .............................. 156
3.6.5.10 Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P) .......... 159
3.7 Análise dos dados .............................................................................................................. 160
4 RESULTADOS e DISCUSSÃO .......................................................................................... 162
4.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 163
4.1.1 Bebida Ayahuasca nº 1 ................................................................................................................. 163
4.1.2 Bebida Ayahuasca nº 2 ................................................................................................................. 164
4.1.3 Análise química via LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina ............................. 165
4.1.4 Análise química via LC-MS/MS dos extratos vegetais da P. viridis e do B. caapi ......................... 174
4.1.4.1 Análise química do extrato de folhas de P. viridis, obtido por extração aquosa a
quente ........................................................................................................................................ 174
4.1.4.2 Análise química do extrato de caules de B. caapi, obtido por extração aquosa a
quente ........................................................................................................................................ 177
4.2 Etnografia .......................................................................................................................... 182
4.2.1 História de formação do Centro Luz Divina.................................................................................. 183
4.2.2 Quais os tipos de bebida Ayahuasca são oferecidos aos adeptos no Centro Luz Divina ............. 197
4.2.3 Como ocorre a confecção de cada bebida Ayahuasca (feitio) ..................................................... 199
4.2.4 Cultivo das plantas que compõem a Ayahuasca na Comunidade Céu de Midam........................ 202
4.2.5 Como ocorrem os rituais religiosos no Centro Luz Divina ............................................................ 204
4.2.5.1 Sobre hino e hinários ...................................................................................................... 205
4.2.5.2 A miração ........................................................................................................................ 207
4.2.5.3 O fardamento e a farda .................................................................................................. 207
4.2.5.4 O salão da igreja ............................................................................................................. 209
4.2.5.5 Os trabalhos no Santo Daime ......................................................................................... 212
4.2.6 Cuidados especiais dos sacerdotes (padrinho e madrinha) ao oferecer as bebidas Ayahuasca
aos adeptos................................................................................................................................. 216
4.3 Características sociodemográficas...................................................................................... 217
4.4 Cognição ............................................................................................................................ 218
4.5 Temperamento .................................................................................................................. 243
4.6 Religiosidade ..................................................................................................................... 256
5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................................. 269
5.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 270
5.2 Etnografia .......................................................................................................................... 270
5.3 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade ....................................................... 270
5.4 Temperamento .................................................................................................................. 272
5.5 Religiosidade ..................................................................................................................... 272
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 273
6.1 Biologia Química das Ayahuascas....................................................................................... 274
6.2 Etnografia .......................................................................................................................... 274
6.3 Sociodemográfico .............................................................................................................. 275
6.4 Cognição ............................................................................................................................ 275
6.5 Temperamento .................................................................................................................. 276
6.6 Religiosidade ..................................................................................................................... 276
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 277
8 ANEXOS ....................................................................................................................... 313
ANEXO A – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP. .................... 314
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ............................................... 315
ANEXO C – Questionário de dados sociodemográficos ............................................................. 316
ANEXO D – Entrevista de anamnese semiestruturada .............................................................. 317
ANEXO E – Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS) ........................ 318
ANEXO F – Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P) ...... 319
ANEXO G – Ata da Assembleia Geral de Fundação do Centro Eclético da Fluente Luz Universal
Flor de Luz – CEFLUFLUZ, nº 197634 ....................................................................... 320
ANEXO H – Termo de Declarações registrado em cartório do CEFLUFLUZ ................................. 321
29

1 INTRODUÇÃO
30

1.1 Motivação e contexto

Desejo compartilhar com o leitor como surgiu o interesse por este tema e,
consequentemente, como esta pesquisa foi realizada.
O interesse pelo tema substâncias psicoativas surgiu em 2001, quando ingressei no
Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), dirigido pelo Prof.
Dr. E. A. Carlini, para participar do I levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil. Nesse período, o CEBRID estava alocado nas dependências do
Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O Prof.
Carlini mantinha dois grupos de estudos sobre drogas psicotrópicas, Epidemiologia e
Plantas Medicinais. Eu participei do grupo de “epidemio”, assim chamado,
carinhosamente, pelos seus componentes, grupo este que tinha duas vertentes principais
de atividades: uma, voltada para a divulgação de informações científicas e, a outra, para a
produção de informações científicas por meio de pesquisas. A Profa. Dra. Eliana
Rodrigues, minha atual orientadora, na época, pertencia ao grupo de plantas medicinais,
que se concentrava principalmente em três diretrizes de trabalho: etnofarmacologia,
fitoquímica e farmacologia/toxicologia.
O primeiro contato com a literatura sobre a Ayahuasca ocorreu no grupo de
epidemio. Em outra ocasião, cumprindo créditos para o mestrado, em 2007, cursei uma
disciplina intitulada “Drogas e contextos socioculturais”, por meio da qual tive a
oportunidade de conhecer o uso ritual da Ayahuasca.
Esta pesquisa é resultado da convergência de diferentes interesses sobre a
Ayahuasca. O meu interesse em estudar a Ayahuasca está relacionado às funções
cognitivas e ao comportamento humano, pois em minha formação como psicólogo fui
atraído pela Neuropsicologia. A dirigente do Centro Luz Divina, Piedade – SP, Sra. Eunice
Durão, desejava uma aproximação da academia para divulgar o uso ritual da Ayahuasca. A
Profa. Eliana é o elo entre a academia e as possibilidades de estudo sobre a Ayahuasca,
como a coleta e depósito em herbário do material botânico estudado; a Etnografia do
Centro Luz Divina e dos rituais; a farmacologia da Ayahuasca; a análise química da
Ayahuasca utilizada nos rituais; a cognição; o temperamento e a religiosidade relacionada
ao ritual; dos indivíduos que praticam o ritual do Santo Daime na Comunidade Céu de
Midam.
31

1.2 Justificativa

É importante ressaltar que a Ayahuasca é uma bebida da Amazônia de uso milenar,


difundida pelo território brasileiro e pelo mundo, nas últimas décadas (ASSIS; LABATE,
2017; LABATE, 2002, p. 233).
Estudos antropológicos, psiquiátricos e neuropsicológicos apontam correlações
positivas entre o uso da Ayahuasca e o bem-estar psicossocial, o estilo de vida e as
estratégias de enfrentamento (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; ONA et al., 2019; SCHENBERG
et al., 2015). A literatura fornece elementos significativos sobre o potencial uso da
Ayahuasca no tratamento/prevenção da dependência química (CANAL; MURNANE, 2017;
CRUZ; NAPPO, 2018; DE SOUZA; MARTINS, 2020; LABATE et al., 2014, p. 155;
MENEGUETTI, MENEGUETTI, 2014; MERCANTE, 2009, 2013; TALIN; SANABRIA, 2017;
WINKELMAN, 2014), da depressão (DOS SANTOS et al., 2016a; DOS SANTOS et al., 2016b;
JIMÉNEZ-GARRIDO et al., 2020; OSÓRIO et al., 2015; PALHANO-FONTES et al., 2019;
ROMEO et al., 2020; SANCHES et al., 2016), da ansiedade (BARBOSA; GIGLIO;
DALGALARRONDO, 2005; DOS SANTOS et al., 2007; DOS SANTOS et al., 2016a; DOS
SANTOS et al., 2016b), Parkinson (KATCHBORIAN-NETO et al., 2020; SAMOYLENKO et al.,
2010), mindfulness (MURPHY-BEINER; SOAR, 2020; SOLER et al., 2016), assim como no
bem-estar, autoconhecimento e experiências espirituais e místicas profundas
(ALBUQUERQUE, 2012; LIRA, 2018; ONA et al., 2019; SHANON, 2003). Esses efeitos se
devem ao fato de que a Ayahuasca possui, em sua composição química, alcaloides capazes
de inibir a enzima monoamino oxidase (MAO) (por meio das ß-carbolinas), inibir a
recaptação seletiva de serotonina (5-HT ou 5-Hidroxitriptamina) (por meio das ß-
carbolinas) e de mimetizar a ação do neurotransmissor 5-HT (por meio da N, N,
Dimetiltriptamina – DMT) (CALLAWAY et al., 1999; CALLAWAY; GROB, 1998; CARLINI,
2003; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE, 2010; RIBA et al., 2006). Os indivíduos que fazem uso
da Ayahuasca em contexto ritual relatam mudanças percebidas em decorrência do
consumo da bebida, como melhorias na sua qualidade de vida (JIMÉNEZ-GARRIDO et al.,
2020; KAASIK; KREEGIPUU, 2020). No entanto, ainda se sabe muito pouco sobre os efeitos
neuroquímicos e psicológicos dessa bebida em relação ao tempo do consumo.
32

1.3 Hipótese

A partir do exposto, a hipótese levantada nessa pesquisa foi de que o consumo


ritual da Ayahuasca, por usuários experientes1, influencia positivamente nos aspectos
cognitivos, no temperamento, e na religiosidade, em relação aos iniciantes.

1.4 Objetivos

Em virtude da hipótese levantada, tem-se como objetivo geral verificar a influência


do consumo da Ayahuasca em contexto ritual, em relação à “cognição”, ao
“temperamento” e à “religiosidade” entre usuários experientes e iniciantes, comparando
e correlacionando essas variáveis.
Como objetivos específicos:
a) Descrever a história da formação da Comunidade Céu de Midam e do Centro
Luz Divina, Piedade – SP;
b) Descrever as plantas envolvidas na confecção das bebidas Ayahuasca no
referido Centro;
c) Identificar a presença de N, N, Dimetiltriptamina (DMT) e das ß-carbolinas:
Harmina (HRM), Harmalina (HRL) e Tetrahidroharmina (THH), existentes nas
plantas e nas bebidas Ayahuasca utilizadas nos rituais religiosos do referido
Centro; e
d) Avaliar e comparar os parâmetros psicológicos “cognição”, “temperamento” e
“religiosidade” do grupo estudo (experiente e iniciante) e grupo controle.

1
Usuários experientes serão considerados aqueles que utilizam Ayahuasca em rituais por mais de 20 anos, e
usuários iniciantes aqueles que utilizam Ayahuasca em rituais por menos de 3 anos.
33

2 REVISÃO DE LITERATURA
34

A literatura trazida neste estudo tem como finalidade descrever a Ayahuasca em


termos históricos, no contexto ritual, seus aspectos botânicos e químicos, assim como
compilar conceitos cognitivos, do temperamento e da religiosidade.

2.1 Ayahuasca

A Ayahuasca é uma bebida, também conhecida como chá, utilizada originalmente


por populações indígenas e mestiças da América do Sul, proveniente da região da Bacia do
Alto Amazonas, no Brasil, e em outros países, como, Colômbia, Peru, Venezuela, Bolívia e
Equador (LUNA, 2011, p. 3). É uma bebida originária da mistura de duas plantas,
preparada pela decocção de cascas e caules do Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.)
Morton (Malpighiaceae) e de folhas da Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae) (BRITO,
2002, p. 628; CARLINI, 2003; MCKENNA; TOWERS; ABBOTT, 1984; PIRES; OLIVEIRA;
YONAMINE, 2010).

2.1.1 Histórico

Meggers, Evans e Estrada (1965) e Bischof e Gamboa (1972) descobriram artefatos


com cerca de 3.000 anos em sítios arqueológicos, Fases Valdivia e Machalilla (ver FIGURA
1), localizados nos limites costeiros de Guayas, no Equador, que indicam relação do uso de
plantas alucinógenas em rituais cerimoniais.
Naranjo (1979) esclarece que, entre milhares de estatuetas e fragmentos de
cerâmica escavados nos sítios das Fases Valdivia e Machalilla, pelo menos cinco tipos de
artefatos comprovam o uso cerimonial de plantas alucinógenas: (1) Pequenos vasos,
conhecidos pelo nome quíchua, iscupuru, lliptu ou poporo, para manter as cinzas de
conchas ou plantas, cal ou alguma outra substância alcalina. Esses álcalis foram usados
junto com as folhas de vegetais alucinógenos, tais como os que são encontrados hoje,
associados ao uso de coca, na Bolívia, na Colômbia, no Peru e no Equador. (2) Alguns
desses poporos, juntamente com outras peças antropomórficas e zoomórficas, revelam o
conceito de um ser imaginário, fantástico, semelhante a um dragão chinês, representando
pessoas mitológicas ou, possivelmente, uma divindade.
35

Figura 1 – Localização dos sítios das Fases de Valdivia e Machalilla


12 SMITHSONIAN CONTRIBUTIONS TO ANTHROPOLOGY VOLUME 1

La Plata
Island

APPROXIMATE LIMITS OF
MAJOR SALITRES
Gulf of
A VALDIVIA PHASE SITE 3
Guayaquil ;| l O ' ^ '

• MACHALILLA PHASE SITE

• MODERN CITY
•\NWfl*JW>w^';

FIGURE 2.—Location of sites of the Valdivia and Machalilla Phases.


Fonte: Meggers, Evans e Estrada (1965).
36

(3) Figuras de duas e três cabeças que podem representar imagens percebidas durante a
influência das drogas. Além disso, bandejas e outros objetos para o uso de rapés,
representando figuras humanas que têm mais de uma cabeça, às vezes, com simbolismo
fálico. (4) Figuras representando a cadeira cerimonial do praticante religioso, semelhantes
às poltronas usadas hoje pelos bebedores de Ayahuasca, na bacia amazônica equatoriana
e peruana. (5) Figuras Ceini ou zemis, muito parecidas com os ídolos do Caribe, que
costumavam inalar rapé alucinógeno. Os potenciais candidatos para essa parafernália
incluem uma planta chamada cadiente ou borrachera, que cresce abundantemente nessa
área (Ipomoea carnea), cujas flores e sementes contêm, entre outros alcaloides, ergina ou
ácido D-lisérgico-amida. Outras plantas incluem Anadenanthera, uma potente resina
arbustiva alucinógena, bem como rapé virola (SCHULTES, 1970, 1990).
Miller et al. (2019) encontraram um pacote ritual (uma bolsa de pele animal)
recuperado de escavações arqueológicas em um abrigo rochoso localizado no Lípez
Altiplano do sudoeste da Bolívia, conhecido como Cova do Chileno. O local está situado a
uma altitude de aproximadamente 3.900 metros acima do nível do mar e contém
evidências de ocupações humanas intermitentes, durante os últimos 4000 anos. Os
pesquisadores utilizaram a cromatografia em cadeia de espectrometria de massas (LC-
MS/MS – Liquid chromatography-Tandem mass spectrometry) para analisar resíduos
orgânicos do pacote ritual, datado por radiocarbono de aproximadamente 1000 d.C.
Vestígios químicos de DMT, HRM e cocaína foram identificados, sugerindo que pelo
menos três plantas contendo esses compostos eram parte da parafernália xamânica de
mil anos atrás, o maior número de compostos recuperados de um único artefato dessa
área do mundo, até hoje. Esse também é um caso documentado de um pacote ritual
contendo tanto HRM quanto DMT, os dois principais ingredientes da Ayahuasca. A
presença de múltiplas plantas provenientes de áreas ecológicas diferentes e distantes na
América do Sul sugere que as plantas alucinógenas se moviam por distâncias significativas
e que um intrincado conhecimento botânico era intrínseco às práticas rituais pré-
colombianas (MILLER et al., 2019).
Na Figura 2, pode-se verificar o conteúdo do pacote ritual da Cova do Chileno, que
consiste de: (A) bolsa de couro externa; (B e C) tábuas de madeira entalhadas e decoradas
com estatuetas antropomórficas; (D) intrincado tubo de aspiração antropomórfico, com
37

duas tranças de cabelo humano ligadas a ele; (E) bolsa de pele de animal, constituída por
três focinhos de raposa (L. culpaeus) costurados juntos; (F) duas espátulas ósseas de
camelídeo (L. glama); (G) dois pequenos pedaços de material vegetal seco, ligados à lã e
cordões de fibras; (H) e uma faixa têxtil de tecido policromada. Artefatos (E e G) foram
testados usando análise LC-MS/MS (MILLER et al., 2019).

Figura 2 – Conteúdo do Pacote ritual da Cova do Chileno

Fonte: Miller et al. (2019).

Os primeiros relatos sobre o uso da bebida Ayahuasca aparecem nas obras de


jesuítas e datam do final do século XVII e início do XVIII. José Chantre y Herrera (1901),
citado por Torres (2019), foi quem fez a primeira descrição detalhada sobre a bebida, a
partir de informações coletadas de documentos jesuítas, na região do rio Marañón, entre
1637 a 1767: “[...] uma mistura infernal, que eles chamam de Ayahuasca, de eficácia
singular para privar o sentido [...]”. Outro relato documentado por Maroni (1937), citado
por Torres (2019), sobre um missionário jesuíta, na região do rio Amazonas, entre 1738 a
1740, atribuiu qualidades divinatórias à Ayahuasca: “[...] para adivinhar, eles costumavam
beber o suco, de alguns floripôndio branco2, que pela figura também chamam Campana,
outros de uma videira vulgarmente chamada de Ayahuasca, ambos muito eficazes em

2
Brugmansia suaveolens (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Bercht. & J.Presl. conhecida, entre muitos outros, pelos
nomes comuns de datura, lírio, véu de noiva, trombeta, zabumba (FLORA DO BRASIL, 2020).
38

privar os sentidos [...]”. No século XIX, um viajante alemão que permaneceu no Peru,
entre 1838 e 1842, Tschudi menciona a Ayahuasca e, algum tempo depois, Albis, um
missionário que, em 1854, visitava a região do rio Caquetá, na Colômbia, escreveu sobre o
“yojé” (yagé), utilizado pelos curandeiros indígenas Macaguaje (SCHULTES; CEBALLOS;
CASTILLO, 1986).
A Ayahuasca também é conhecida por diversos nomes, entre eles: caapi, daime,
yajé, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of
the soul, ou vegetal; essas denominações dependem do grupo étnico linguístico e da
localização geográfica. Por exemplo, a denominação de hoasca é uma adaptação para o
português do termo original da língua quéchua como “corda dos mortos”, pois “Aya”
significa “pessoa morta, alma, espírito”, e “Wasca”, “corda, liana, cipó” (GROB et al., 1996;
LABATE, 2002, p. 232).
As primeiras evidências científicas ocidentais sobre a Ayahuasca foram conduzidas
pelo botânico inglês Richard Spruce, entre 1849 e 1864, em expedições pela Amazônia, no
Equador, na Venezuela e no Brasil (GROB et al., 1996; TORRES, 2019).
No final do século XIX e início do século XX, na Amazônia, após a chegada de
trabalhadores rurais, principalmente os seringueiros, a Ayahuasca foi incorporada a
práticas religiosas sincréticas, nas quais a tradição indígena do uso dessa bebida foi
associada a elementos derivados do catolicismo, do espiritismo kardecista, de tradições
religiosas afro-brasileiras e da magia e esoterismo europeu (GOULART, 2005, p. 360;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 129).
A perspectiva de que determinadas plantas possibilitam o acesso a conhecimentos
as vincula ao conceito de “plantas mestras”, ou “plantas professoras”, terminologia
proposta originalmente por Luna (2002, p. 183), em suas pesquisas sobre as práticas de
vegetalistas ribeirinhos que fazem uso da Ayahuasca, na Amazônia peruana. As plantas
mestras são consideradas, muitas vezes, habitadas por um espírito, por uma mãe, são
seres inteligentes, com personalidade própria, com as quais se pode relacionar e aprender
(GOULART; LABATE; CARNEIRO, 2005, p. 34; LIRA, 2018).
Considerada uma planta professora por excelência, a Ayahuasca é caracterizada
como “ensinadora” por meio das suas dimensões psíquicas, históricas e educativas.
Historicamente, há evidências da circularidade dessas plantas em diversas culturas e
sociedade, bem como a influência exercida nos processos de sobrevivência e perpetuação
39

dos saberes grupais. Pode-se destacar o profundo impacto cognitivo que é exercido na
mente das pessoas, bem como a capacidade de mediarem uma multiplicidade de saberes
entre a diversidade de espécies que conformam a farmacopeia indígena amazonense da
Ayahuasca (ALBUQUERQUE, 2017).

2.1.2 Religiões ayahuasqueiras brasileiras

Essas religiões surgiram em um momento de transformações intensas no Brasil,


principalmente no cenário rural, e, particularmente na Amazônia. Talvez, justamente por
causa das mudanças no âmbito rural, todas as religiões ayahuasqueiras foram organizadas
em um contexto urbano, especificamente na periferia de capitais de estados amazônicos,
Rio Branco e Porto Velho. Durante a primeira metade do século XX, surgiram as igrejas
urbanas que utilizavam a Ayahuasca em seus ritos religiosos (GOULART, 2005, p. 360;
LABATE, 2002, p. 233).
A origem das religiões ayahuasqueiras, no Brasil, sucede da fundação da igreja Alto
Santo, em Rio Branco, Acre, na década de 1930, pelo Mestre Raimundo Irineu Serra
(LABATE, 2002, p. 233). Em 1945, Frei Daniel Pereira de Mattos funda a Barquinha, no
mesmo lugar. Na década de 1960, é constituído o Centro Espírita Beneficente União do
Vegetal (UDV), em Porto Velho, Rondônia, pelo Mestre José Gabriel da Costa (GOULART,
2005, p. 358). No final da década de 1970 e 1980, aconteceu uma expansão da UDV e do
Santo Daime, respectivamente, pelos grandes centros urbanos do país, assim como no
exterior (América Latina, Itália, EUA, Espanha, Japão, França, Holanda, entre outros)
(ASSIS; LABATE, 2017; LABATE, 2002, p. 233). A Barquinha permanece no Acre, quase que
exclusivamente restrita ao seu estado de origem (LABATE, 2002, p. 234; 2004, p. 68).
Os seguidores originais do Mestre Irineu eram seringueiros muito pobres, a
maioria analfabetos e bastante identificados com os valores caboclos amazônicos, com a
mistura de catolicismo popular, pajelança indígena, cultos africanos, kardecismo e outras
correntes espirituais heterodoxas (MACRAE, 2005, p. 467). Durante a década de 1970, o
Brasil estava submetido à ditadura militar e mudanças estavam acontecendo, tanto sociais
quanto políticas. Nesse período, parte da população jovem optou por uma forma de
resistência mais individualista, adotando ideias hippies e da “Nova Era”. Sem demora,
notícias sobre um chá indígena muito potente e que supostamente oferecia acesso direto
40

ao mundo espiritual começou a se espalhar, e uma movimentação de jovens rebeldes,


cabeludos, usuários de drogas, foi surgindo em diversos grupos de Daime, atraídos pela
religião devido ao fato de seu principal sacramento doutrinário consistir na ingestão de
uma bebida psicoativa (MACRAE, 2005, p. 468).
Na Amazônia Ocidental, de acordo com Luna (2011, p. 1), foram estimados
diversos grupos indígenas que utilizam a Ayahuasca, vinculados ao xamanismo. Outra
possibilidade de consumo dessa bebida é a do vegetalismo, uma forma de medicina
popular, à base de vegetais alucinógenos, cantos e dietas. Os vegetalistas são curandeiros
de populações rurais do Peru e da Colômbia, os quais mantêm elementos dos antigos
conhecimentos indígenas sobre as plantas. De acordo com Labate (2000, p. 29), em vários
países da América do Sul, como Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia, observa-se uma
tradição de consumo da Ayahuasca por xamãs e vegetalistas; somente no Brasil,
curiosamente, desenvolvem-se religiões de populações não indígenas que fazem uso
dessa bebida.
Em 2015, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) realizou o III Levantamento
Nacional Sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira (III LNUD). Nesse estudo, foram
entrevistadas 16.273 pessoas, com idade entre 12 e 65 anos. Os resultados mostraram
que 567 pessoas fizeram uso, pelo menos uma vez na vida, da bebida Ayahuasca. Destas,
181 pessoas fizeram uso no último ano, e 118 afirmaram ter ingerido Ayahuasca nos
últimos 30 dias que antecederam a pesquisa. O estudo apresentou uma estimativa inédita
entre a população brasileira sobre o uso da bebida Ayahuasca (BASTOS et al., 2017, p.
111).

2.1.3 Santo Daime

A primeira religião ayahuasqueira, no Brasil, é o Santo Daime, criada pelo ex-


seringueiro Raimundo Irineu Serra, no início dos anos 1930, na periferia da cidade de Rio
Branco, no Acre (GOULART, 2005, p. 357; LABATE, 2000, p. 29; 2002, p. 233).
Formada de maneira eclética, a doutrina do Santo Daime apresenta variações
ritualísticas, derivadas de seu processo constitutivo híbrido. Encontram-se elementos do
curandeirismo amazônico, do catolicismo popular, da umbanda, das tradições indígenas,
41

caboclas, até mesmo dos movimentos “new age” e rastafári (FERREIRA JÚNIOR, 2017, p.
17; OLIVEIRA; BOIN, 2017; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 129).
Para compreensão do processo de criação da doutrina do Santo Daime é
necessário conhecer a biografia de Raimundo Irineu Serra e de Sebastião Mota de Melo,
que serão apresentadas a seguir.
Raimundo Irineu Serra nasceu em 15 de dezembro de 1892, no município de São
Luiz de Férrer3, estado do Maranhão. Era um negro forte e alto, com 1,98 m de altura,
mas, segundo relatos de seus contemporâneos, sua figura era harmoniosa (FRÓES, 1986,
p. 31; MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 69).
Irineu chegou ao Acre em 1912, com 20 anos de idade, atraído pelo Ciclo da
Borracha. Participou da comissão de limites, que traçou as fronteiras do novo território.
Durante esse período, realizou algumas viagens por países da fronteira brasileira, esteve
na Bolívia e no Peru, onde trabalhou como seringueiro. Nesse contexto, junto aos índios,
caboclos e outros patrícios, conheceu uma bebida misteriosa, denominada Ayahuasca.
Conta-se que Mestre Irineu entrou em contato com a bebida por meio de ayahuasqueiros
peruanos, mas o processo de iniciação ocorreu na fronteira com a Bolívia, acompanhado
pelos irmãos André e Antônio Costa. Foi quando o Mestre Irineu teve uma revelação da
Rainha da Floresta, Virgem da Conceição, que recomendou uma dieta preparatória para
uma missão espiritual pela qual ele seria responsável. Então, Mestre Irineu passou oito
dias na mata, sem contato com mulheres, tomando o chá Ayahuasca e se alimentando
apenas de macaxeira insossa. Foi quando ele recebeu da Virgem os fundamentos da
doutrina e consagrou a bebida com o nome de Santo Daime (FRÓES, 1986, p. 32;
GREGORIM, 1991; REVISTA DO CENTENÁRIO, 1992).
No início da década de 1920, Mestre Irineu migrou para a capital, Rio Branco,
estado do Acre, para trabalhar como soldado da Guarda Territorial, ascendeu a cabo,
depois, abandonou definitivamente a corporação, em 1932 (FRÓES, 1986, p. 37;
GREGORIM, 1991; MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 118).

3
O nome do município é uma homenagem ao frade dominicano São Vicente Férrer (1355-1419), um
pregador da igreja espanhola do século XV, nascido na cidade de Valência – Espanha, e que faleceu na
cidade de Vannes – França, onde foi sepultado (MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 119).
42

No mês de maio de 1930, foi aberto o primeiro trabalho da doutrina do Santo


Daime pelo Mestre Irineu e os irmãos Costa. No mesmo ano, foi fundado, em Brasiléia, na
fronteira do Acre com a Bolívia, o Centro de Regeneração e Fé (CRF), também conhecido
como Centro da Rainha da Floresta. Nesse período, Mestre Irineu passou a denominar a
bebida Ayahuasca pelo nome “Daime”, recebida da Rainha da Floresta, que deriva do
verbo dar e das invocações “dai-me força”, “dai-me amor”, “dai-me luz” (COUTO, 2002, p.
392; FRÓES, 1986, p. 32; LABATE, 2004, p. 61; MORTIMER, 2018, p. 44).
Em 1931, Mestre Irineu se estabeleceu na Vila Ivonete que, na época, era zona
rural, mas que atualmente é um bairro urbano da cidade Rio Branco, capital do estado do
Acre. Nesse lugar, desenvolveu os ensinos de sua iniciação com a Rainha da Floresta
(Nossa Senhora da Conceição), revelados principalmente por meio dos Hinários. Os
trabalhos eram realizados em sua casa, junto de um pequeno grupo de pessoas
(GREGORIM, 1991; REVISTA DO CENTENÁRIO, 1992).
Em 1935, Mestre Irineu deu novos contornos ao ritual, quando começou a realizar
trabalhos de Daime, geralmente às quartas-feiras ou aos sábados de cada semana. Às
quartas-feiras, ocorriam os trabalhos dedicados à cura, já aos sábados os trabalhos eram
dedicados à irmandade, no entanto não havia uma rotina rígida. Nesse período, Mestre
Irineu também começou a organizar os trabalhos de hinário. O primeiro deles ocorreu no
dia 23 de junho de 1935, na véspera do dia de São João (MOREIRA; MACRAE, 2011, p.
163).
Em 1945, mudou-se para a colônia Custódio Freire, que resultou da doação de um
terreno pelo governador do estado do Acre. Mestre Irineu repartiu a terra entre seus
seguidores e esse local passou a ser conhecido como Alto Santo. Ali, foram construídas
sua casa e a sede do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU), onde o Mestre
desenvolveu sua doutrina, com base em seu considerável conhecimento dos segredos da
floresta e das plantas curativas. Trabalhou durante mais de 40 anos, curando e ensinando.
O seu Hinário “O Cruzeiro”, com 132 hinos, é o testemunho dessa missão (FRÓES, 1986, p.
37; GREGORIM, 1991; REHEN, 2016; REVISTA DO CENTENÁRIO, 1992).
Em 1955, Mestre Irineu recebeu honrarias do Círculo Esotérico da Comunhão do
Pensamento, uma entidade esotérica que tem como intuito estimular a espiritualidade na
vida das pessoas; também pertenceu à Ordem Rosa Cruz (FRÓES, 1986, p. 47; GREGORIM,
1991; MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 103; REHEN, 2016).
43

Sebastião Mota de Melo nasceu no dia 07 de outubro de 1920, às margens do Rio


Juruá, na cidade de Eirunepé, estado do Amazonas. Existem relatos de que desde criança
ele tinha visões e sonhos acerca de sua missão. Trabalhou como seringueiro, agricultor e
construtor de casas e canoas. Em 1959, Sebastião e família se mudaram para a cidade do
Rio Branco, estado do Acre, indo viver nas terras da família de sua mulher, Sra. Rita
Gregório, nos arredores da cidade. Antes de conhecer o Daime, já trabalhava com
espiritismo kardecista (FRÓES, 1986, p. 51; GREGORIM, 1991).
Em 1965, Padrinho Sebastião tomou Daime pela primeira vez com o Mestre Irineu,
no Alto Santo. Padrinho Sebastião tinha um problema no fígado e foi curado durante a
realização de “cirurgia astral” com o Santo Daime. A partir de então, passou a frequentar
o centro e a conquistar a confiança da irmandade daimista (GREGORIM, 1991; MOURA,
2019).
Em 1971, aos 79 anos de idade, Mestre Irineu faz a passagem e, em decorrência de
sua morte, a doutrina viveu momentos de transformação. O Sr. Leôncio Gomes, então
presidente do CICLU, assumiu os comandos dos trabalhos, no entanto não conseguiu
manter a união entre seus membros. Muito antes do falecimento do Mestre Irineu,
Padrinho Sebastião era autorizado por ele a fazer Daime e realizar trabalhos na sua
Colônia 50004, prestando atendimentos aos doentes. Havia um trato entre ambos de que
50% da produção do Daime pertenciam ao Alto Santo. Esse trato vigorou por algum
tempo após a morte do Mestre Irineu, até que um dia o Sr. Leôncio quis ficar com todo o
Daime produzido pelo Padrinho Sebastião, que não concordou, mas continuou
frequentando o Alto Santo (GREGORIM, 1991; MOURA, 2019).
Em 1973, a Polícia Federal começou a perseguir o Santo Daime. O sr. Leôncio
Gomes e Padrinho Sebastião fizeram uma reunião, pois Padrinho Sebastião queria fazer
um trabalho para as autoridades, mas o Sr. Leôncio não concordou, dizendo que ele
estava “inventando moda” na doutrina e que ele fosse levantar essa bandeira na sua
própria casa. Nesse período, Padrinho Sebastião recebeu o hino “Levanto esta Bandeira”,
e, em 1974, afirmou de vez sua dissidência e fundou, na Colônia 5000, o Centro Eclético

4
A colônia 5000 se formou a partir de 25 pequenas colônias, em um total de 380 hectares, congregando 43
famílias de seringueiros organizados sob princípios comunitários que se estabeleceram de acordo com o
trabalho doutrinário do Santo Daime; ficou conhecida por esse nome, porque no passado, com a
desativação do seringal Empresa, a terra foi loteada em colônias que foram vendidas a cinco mil cruzeiros
antigos cada uma (FRÓES, 1986, p. 53).
44

da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (CEFLURIS5), levando consigo 70% dos
adeptos da época (FRÓES, 1986, p. 56; GREGORIM, 1991; MOURA, 2019; POLARI, 1992, p.
101; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 131).
Consta nos preâmbulos doutrinários – Normas de Ritual contidas nos Estatutos
Nacionais do CEFLURIS: “No que pese o nosso respeito e apreço a todas as Igreja e Centros
derivados do tronco do Mestre Irineu, consideramos o Padrinho Sebastião Mota de Melo
o continuador espiritual de sua obra”. A Doutrina, sob a direção do Padrinho Sebastião,
passou por momentos de grande progresso. Foi construído um templo na Colônia 5000 e
a comunidade, que já contava com mais de 40 famílias, encontrou-se em franca expansão
e desenvolvimento. Algum tempo depois, essa área tornou-se insuficiente, pois, devido ao
aumento de número de pessoas ali vivendo, somado à pressão urbana e ao
desmatamento progressivo de grandes latifundiários, a comunidade precisou mudar de
local (GREGORIM, 1991; SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 1979, diante dessa adversidade, Padrinho Sebastião decidiu transferir-se para a
floresta virgem com os seus adeptos. Sob a orientação do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que lhe ofereceu novas terras, deu-se início ao
êxodo para o futuro Seringal Rio do Ouro (Km 53 da estrada que ligava Boca do Acre,
Amazonas ao Rio Branco, Acre). Nesse período, parte das terras da Colônia 5000 foi
vendida. Em 1980, ocorreu a implantação do Seringal Rio do Ouro, com cerca de 200
pessoas. Mesmo em meio a muitas dificuldades, a comunidade realizou grandes roçados,
abertura de estradas de seringa; e em 1982 já promovera muitas benfeitorias no local, de
aproximadamente 13 mil hectares, com 36 casas construídas, explorando vinte colocações
de seringas e produzindo 15 toneladas de borracha/ano, além das criações de pato e
galinha (FRÓES, 1986, p. 132; MACRAE, 1992, p. 74; MOURA, 2019). Foi quando uma
grande empresa pecuarista reivindicou os direitos das terras. Assim, o INCRA sugeriu uma
nova instalação para a comunidade, nas cabeceiras do igarapé Mapiá, distante 150 km, ou
seja, seis dias de viagem do Rio do Ouro. Padrinho Sebastião, para evitar qualquer
incidente de origem mais grave, aceitou a proposta. Mais uma vez este povo, sem ajuda
financeira de nenhum órgão ou instituição e contando apenas com sua força de trabalho,

5
O CEFLURIS passou por mudanças em sua organização institucional, alterando sua representação jurídica e
sua denominação, e passou a se chamar IDA-CEFLURIS (Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo
Irineu Serra – CEFLURIS). No entanto, o presente estudo se refere sempre a esse grupo pelo seu antigo
nome, ou seja, CEFLURIS.
45

abandonou as terras produtivas para abrir a Vila Céu do Mapiá (FRÓES, 1986, p. 132;
ICEFLU, 2020; MACRAE, 1992, p. 75; MOURA, 2019; POLARI, 1992, p. 60; REHEN, 2016;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 21 de junho de 1988, por meio do Decreto 96.190, o governo brasileiro criou a
Floresta Nacional Purus, no estado do Amazonas, com área estimada de 256.000 hectares,
subordinada e integrante da estrutura básica do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF) (BRASIL, 1988). Nesse período, a Vila Céu do Mapiá já tinha casas
construídas, coleta do látex das seringueiras, plantações para a subsistência, como:
mandioca, milho, feijão; e um templo para as atividades daimistas, tudo sob o comando
do Padrinho Sebastião (GREGORIM, 1991; ICEFLU, 2020; MACRAE, 1992, p. 75;
SANGIRARDI JÚNIOR, 1989, p. 132).
Em 19 de outubro de 2011, sob a Portaria 669, foi considerado que a “Vila Céu do
Mapiá”, que está instalada no interior da Floresta, caracteriza-se como uma comunidade
intencional devotada ao Santo Daime, também constituiu um Grupo de Trabalho para
discutir e avaliar as formas de ocupação, crescimento demográfico e emigração na Vila
(BRASIL, 2011; ICEFLU, 2020).
Após a morte de Mestre Irineu, em 1971, surgiram várias lideranças e Centros que
praticam a doutrina instituída por ele. A vertente mais difundida dessa doutrina, no Brasil
e no exterior, é a Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal (ICEFLU6) – Patrono
Sebastião Mota de Melo (BOUTIN, 2016, p. 36; GOULART, 2019; ICEFLU, 2020; OLIVEIRA,
2011).

2.1.4 Santo Daime e Santa Maria

Retomando qual era a população original de seguidores, tanto do Mestre Irineu


quanto do Padrinho Sebastião, eram seringueiros muitos pobres e analfabetos, contudo,
surgiu um novo tipo de fiel, ligado à cultura hippie. A reação dos locais em relação aos
forasteiros era, em sua grande maioria, de rejeição, e poucos destes eram admitidos nas
cerimonias daimistas. Padrinho Sebastião foi exceção, simpatizou com esses recém-

6
ICEFLU é a instituição religiosa que promove a doutrina do Santo Daime, cabem ao ICEFLU todos os
assuntos pertinentes à esfera espiritual, como: normas de Ritual, uso do Santo Daime e estudo do canto e
da música; formação dos quadros de dirigentes; plantio, produção e distribuição do Santo Daime para os
grupos filiados.
46

chegados e, seguindo as diretrizes cristãs, recebeu-os em sua comunidade, mesmo que tal
decisão chocasse alguns dos seus seguidores mais conservadores. Porém, essa aceitação
não implicava no relaxamento das regras da doutrina daimista, dentre as quais a
delimitação rígida dos papéis de gênero, a ênfase na importância do trabalho e o
conservadorismo político e moral (MACRAE, 2005, p. 467). Em muitos casos, depois de
passar determinado período na comunidade, alguns desses visitantes se convertiam
totalmente ao novo modo de pensar, cortavam os cabelos e adotavam muitos dos valores
amazônicos. No entanto nem sempre essas conversões implicavam no abandono total de
suas antigas práticas, em particular, quando elas não eram tidas como antagônicas às
doutrinas do Santo Daime ou aos costumes da comunidade. Isso ocorreu com o uso de
certas substâncias psicoativas, em especial as tidas “naturais”, tais como, os cogumelos e
a Cannabis (MACRAE, 2005, p. 468; MORTIMER, 2018, p. 22).
Padrinho Sebastião adotou a Cannabis em cerimônias rituais do CEFLURIS
(GOULART, 2019), chegando à conclusão de que, enquanto a Ayahuasca trabalhava com a
energia espiritual de Cristo, a Cannabis veiculava a energia da Virgem, denominada “Santa
Maria”, não sendo considerada droga, mas uma planta sagrada (MACRAE, 2005, p. 470).
Goulart (2019) menciona um demarcado distanciamento entre o CEFLURIS e
outros grupos ligados às religiões ayahuasqueiras, pois a maior abertura a uma espécie de
experimentalismo com demais plantas psicoativas, além da Ayahuasca, entendidas como
“medicinas sagradas”, incluindo a Cannabis, acirrou a diferenciação entre este grupo e as
outras religiões ayahuasqueiras que se colocaram contra esta prática. Em mobilizações
públicas recentes, os representantes do Alto Santo, da UDV e da Barquinha, apontaram o
uso das chamadas “medicinas sagradas”, presentes no CEFLURIS, como um indício do
distanciamento do que eles consideram como a doutrina “original” e “tradicional”
estabelecida pelos “mestres fundadores” dos “três troncos ayahuasqueiros”: Santo
Daime, Barquinha e UDV (GOULART, 2019; GROISMAN, 2021; MACRAE, 2005, p. 479).

2.1.5 Aspectos legais do consumo ritual da Ayahuasca no Brasil

É importante destacar um fato ocorrido em setembro de 1981, referido na


literatura acadêmica, sobre a prisão de um jovem frequentador da Colônia 5000, que
estava levando uma garrafa de Daime e uma pequena quantidade de Cannabis, em Rio
47

Branco, Acre, o que deflagrou batida policial no local (Colônia 5000), onde foi encontrada
uma plantação contendo cerca de 18 pés da planta (Cannabis) (LABATE, 2005, p. 408;
MACRAE, 2005, p. 475; MORTIMER, 2000, p. 207). É bastante provável que os
desdobramentos do uso da Cannabis pelos adeptos do CEFLURIS, apontados pela
literatura acadêmica, são considerados como alguns dos principais fatores responsáveis
pela associação da Ayahuasca à questão das “drogas” e pelo aumento da visibilidade do
fenômeno nos meios de comunicação (MACRAE, 2005, p. 475; MORTIMER, 2000, p. 223).
MacRae (2005, p. 475) destaca que esse episódio da batida policial na Colônia 5000 foi
objeto da primeira notícia divulgada em rede nacional pela mídia7, em 1982.
Esse evento também é tido como estopim para uma série de medidas
governamentais, com o intuito de investigar o uso da Ayahuasca. Assim, em 1982, foi
criada pelo governo brasileiro a primeira comissão8 de investigação sobre as práticas do
CEFLURIS em relação ao consumo ritual da Ayahuasca (LABATE, 2005, p. 408; MACRAE,
2005, p. 475).
Apesar da comissão de 1982 ter emitido um parecer favorável à liberdade do uso
ritual da Ayahuasca, em 1985, a Divisão de Medicamentos (DIMED) do governo federal
incluiu as espécies vegetais utilizadas na composição da Ayahuasca na lista de substâncias
proscritas, ou seja, proibidas. Na intenção de impedir totalmente esse impasse
institucional e atender à demanda das religiões da Ayahuasca que contestaram a
proibição, o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) criou um grupo de trabalho
sem a presença da força policial, o qual tinha por objetivo “examinar a questão da
produção e consumo das substâncias derivadas daqueles vegetais, em todos os seus
aspectos” (BRASIL, 1985), meses depois, suspendeu provisoriamente os efeitos da Portaria
02/85 da DIMED (BRASIL, 1986). Em 26 de agosto de 1987, um relatório final, apresentado
por esse grupo de trabalho, foi favorável à exclusão definitiva das espécies vegetais que
integram a elaboração da bebida denominada Ayahuasca da lista de substâncias proscritas

7
MacRae refere-se à matéria veiculada em agosto de 1982, pela Folha de São Paulo, intitulada “Seita no Acre
usaria drogas em cerimônias”, que cita uma mobilização do Departamento de Polícia Federal para apurar
denúncia sobre a existência de uma seita misteriosa, no estado do Acre, cujos adeptos consumiriam
alucinógenos em larga escala durante os cultos, denominando a comunidade “seita da maconha” (FOLHA DE
SÃO PAULO, 1982).
8
De acordo com Mortimer (2000, p. 224), essa comissão foi formada pelo Procurador Geral da República no
Acre, o Delegado Regional da Polícia Federal e o Comandante da Região Militar sediada em Rio Branco.
Ainda segundo o mesmo autor, integraram essa comissão o psicólogo Paulo Roberto, a historiadora Vera
Fróes, o psiquiatra Joaquim Carvalho e o antropólogo Fernando La Roque Couto.
48

pela DIMED. Assim, o uso da Ayahuasca para fins rituais passou a ser definido como não
criminoso (LABATE, 2005, p. 409).
Em 1992, respondendo a novos questionamentos e denúncias de que as religiões
da Ayahuasca se constituíam em organização criminosa, o CONFEN realizou nova
avaliação e concluiu, outra vez, pela autorização do uso. Entre 1995 e 1997, foi
estabelecida uma polêmica sobre o consumo da Ayahuasca por menores de 18 anos de
idade. O CONFEN aconselhou que pessoas dessa faixa etária não consumissem a
Ayahuasca, assim como pessoas com transtornos mentais. Nos anos 2000, a situação do
uso religioso da Ayahuasca, no Brasil, ainda era instável, pois não existia legislação ou
medida administrativa específica para regular claramente essa prática. Dessa maneira, os
grupos religiosos estavam na completa dependência arbitrária de políticos. Em 2002, o
Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), antigo CONFEN, nomeou a Câmara
de Assessoramento Técnico e Científico sobre o uso da Ayahuasca, a fim de sanar essa
deficiência (BRASIL, 2002). Em parecer técnico de 2004, reiterou-se a liberdade do uso
religioso da Ayahuasca e, no mesmo ano, o CONAD criou o Grupo Multidisciplinar de
Trabalho (GMT), com o objetivo de redigir um documento que traduzisse a deontologia do
uso da Ayahuasca no país (BRASIL, 2004). Diferentemente das experiências anteriores,
que apenas consultavam e pesquisavam os grupos religiosos, o GMT Ayahuasca deveria:

Art. 2º O GRUPO MULTIDISCIPLINAR DE TRABALHO será composto por seis


membros, indicados pelo CONAD, das áreas que atendam, entre outros, aos
seguintes aspectos: antropológico, farmacológico/bioquímico, social,
psicológico, psiquiátrico e jurídico. Além disso, o grupo será integrado por mais
seis membros, convidados pelo CONAD, representantes dos grupos religiosos,
usuários da ayahuasca (BRASIL, 2004).

Nesse sentido, facilitou-se o entendimento sobre o uso religioso da Ayahuasca,


considerando sua origem e filosofia (COSTA, 2017; COUTINHO, 2013; LABATE, 2005, p.
422).
Em 2010, foi aprovado, na íntegra, pelo CONAD (BRASIL, 2010), o que fora decidido
no relatório apresentado pelo GMT, em 23 de novembro de 2006, ou seja, foram
estabelecidos parâmetros deontológicos para o consumo ritual da Ayahuasca, o que
garantiu o direito à liberdade religiosa dos fiéis. Dessa maneira, o Brasil constituiu-se,
assim, em uma referência para outros países que também têm enfrentado a questão do
49

uso religioso de psicoativos inseridos no paradigma proibicionista9 (COSTA, 2017;


COUTINHO, 2013).

2.1.6 O uso de plantas psicoativas em contextos rituais

Ao longo da história da humanidade, tem sido conferida ampla gama de usos de


substâncias psicoativas, sejam elas de natureza recreativa, sejam medicinal ou espiritual. É
neste último caso que o uso ritual é mais aplicável para estimular a percepção do
divino/sagrado. Alguns pesquisadores sugerem o neologismo “enteógeno”, na tentativa
de afastar as conotações pejorativas do termo “droga” ou “alucinógeno”. O novo termo,
enteógeno, derivado de entheos, palavra do grego antigo que significa, literalmente,
"manifestação interior do divino", expressa um estado no qual a pessoa se encontra
quando inspirada ou possuída por um Deus que adentrou em seu corpo. Logo, enteógeno
denota a ideia de “levar alguém a ter o divino dentro de si” (MACRAE, 1992, p. 16; 2002,
p. 495).
As plantas que alteram as funções normais da mente e do corpo são consideradas
sagradas pelos povos conhecidos vulgarmente como “selvagens” ou “primitivos” – termos
sugeridos por vários antropólogos, entre eles, Strauss (1989) – pois é por meio delas que
eles podem tomar contato com o sobrenatural, ou ainda, comunicar-se com o mundo
espiritual em contextos rituais.
Segundo Schultes (1979), as plantas alucinógenas constituem os remédios ou
medicamentos por excelência, porque tornam possível a comunicação direta, por
intermédio de visões, entre o curandeiro e os espíritos que veem as doenças e a morte.
O uso de plantas em cerimônias ou rituais foi abordado por alguns pesquisadores
das áreas de antropologia e etnobotânica (CAZENEUVE, 1958; GLUCKMAN, 1962;
RODRIGUES; CARLINI, 2005; SCHULTES, 1979; SCHULTES; HOFMANN, 2000, p. 20;
STRAUSS, 1970, 1989; TURNER, 1964, 1967, 1974; VERGER, 1995).

9
O paradigma proibicionista orienta a relação planetária com as substâncias psicoativas e se assenta em três
convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), vigentes e complementares: a Convenção Única
sobre entorpecentes de 1961, que revogou as convenções anteriores e foi revista em 1972; o Convênio
sobre substâncias psicotrópicas, de 1971; e a Convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas, de 1988 (Convenção de Viena).
50

Muitas dessas plantas são consideradas psicodislépticas e têm o poder de afetar os


aspectos da mente e do comportamento, incluindo padrões de pensamento, humor,
ansiedade, desempenho de cognição e bem-estar (BARBOSA; GIGLIO; DALGALARRONDO,
2005; BOUSO et al., 2012; CARLINI, 2003; DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; DOS SANTOS et al.,
2007; PALHANO-FONTES et al., 2019; RODRIGUES; CARLINI, 2005; SCHULTES; HOFMANN,
2000, p. 10; ZHANG; STACKMAN JR, 2015).
Delay e Deniker (1957) propuseram a classificação das drogas psicotrópicas de
acordo com o efeito psíquico dominante, divididas em três classes: (a) psicolépticos que
causam a sedação da atividade cerebral; (b) psicoanalépticos que causam a estimulação
da atividade cerebral; e (c) psicodislépticos que produzem distorções e anormalidades da
atividade cerebral. Outro pesquisador francês, chamado Chaloult (1971), apresentou
classificação diferente para as drogas psicotrópicas, ele dividiu o que denominou Drogas
Toxicomanógenas (drogas viciantes) em três grandes grupos: (a) depressoras do Sistema
Nervoso Central (SNC), (b) estimulantes do SNC e (c) perturbadoras do SNC. No presente
trabalho, será utilizada a classificação de Delay e Deniker (1957) para as substâncias
psicotrópicas.
Várias plantas utilizadas em contextos rituais e religiosos pertencem ao grupo das
“alucinógenas” ou “psicodislépticas”. Assim, os Waikás, índios que ocupam o sul da
Venezuela e o norte do Brasil, aspiram um pó “alucinógeno”, usando longos talos vegetais
que são introduzidos nos orifícios nasais. Antes de inalar o pó, reúnem-se e cantam,
evocando os espíritos de Hekula, com os quais os xamãs se comunicam durante o transe.
Esse pó, preparado com as sementes da espécie Anadenanthera peregrina (L.) Speg., é
denominado yopo e seus princípios ativos são derivados da triptamina (SCHULTES;
HOFMANN, 2000, p. 35), indicando a interação dessa planta com o sistema serotonérgico
do SNC.
No continente americano, desde tempos pré-colombianos, também se utilizava
uma vasta série de plantas visionárias com finalidades rituais, de maneira similar à
utilização de cogumelos alucinógenos entre xamãs da Sibéria e regiões setentrionais da
Europa. No continente africano, pouco conhecido dentro desse contexto, também se fazia
uso religioso da Tabernanthe iboga, que possui um princípio ativo similar à dietilamida do
ácido lisérgico (LSD-25 - Lysergic Acid Diethylamide) (ALBUQUERQUE, 2017; MACRAE,
2010, p. 28).
51

O vinho feito da Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (Fabaceae), conhecida


popularmente como jurema-preta, uma planta de grande porte, predominante da
caatinga e do cerrado brasileiro (FLORA DO BRASIL, 2020). O vinho é produzido a partir da
casca, do tronco e das raízes da M. tenuiflora, que possuem altas concentrações de DMT
(CAMARGO, 2014; SCHULTES, 1976), e é utilizado em cultos religiosos de tradições
indígenas de origem do Nordeste brasileiro. Acredita-se que tal bebida possui a
propriedade de transportar os homens para o mundo sagrado, ao mundo dos espíritos,
possibilitando a comunicação com os seres que lá habitam (SANTIAGO, 2008; TORRES,
2019). A forma de preparo do vinho da jurema varia de acordo com o contexto, entre os
indígenas e os cultos Afro-brasileiros, como o Catimbó, a Umbanda e Candomblé, tendo
cada um deles uma metodologia própria de confeccionar a bebida, porém eles possuem
em comum a planta jurema como ingrediente obrigatório. No entanto, as informações
disponíveis sobre o preparo são muito escassas e mantêm-se, até os dias de hoje, em
segredo (SANTIAGO, 2008).

2.1.6.1 A bebida Ayahuasca no contexto ritual

Entre os adeptos das religiões ayahuasqueiras, a bebida não é considerada uma


droga ou um alucinógeno. Especificamente no Santo Daime, ela é considerada um
sacramento, tal como "o sangue de Cristo" ou um "ser divino" que tem grandes poderes,
incluindo o que chamam de “vontade própria”. Assim, segundo relatos de consumidores,
toda vez que uma pessoa ingere a bebida tem a oportunidade de “entrar em contato
direto com o divino”, remetendo ao efeito enteógeno (MACRAE, 2000, p. 76).
Os sacerdotes que conduzem o ritual, conhecidos como padrinho ou madrinha,
possuem grandes conhecimentos da floresta e das propriedades das plantas; são
encarregados de organizar, conduzir as cerimônias religiosas e oferecer a Ayahuasca aos
participantes (MACRAE, 1992, p. 133; OLIVEIRA, 2011). O consumo da Ayahuasca nesses
contextos rituais é “controlado”, tanto a dose quanto a frequência de consumo. Assim, os
sacerdotes determinam a quantidade da bebida a ser oferecida para cada adepto. Para
tanto, observam características físicas e psicológicas dos adeptos, mediante
preenchimento de formulário prévio e entrevista feita por um sacerdote, durante a qual é
realizada uma anamnese (ICEFLU, 2020). A bebida é consumida a cada 15 dias, momento
52

em que ocorrem os rituais religiosos. Esses consumos acontecem dentro do contexto


ritual e não recreativo ou hedonístico, conferindo certa “segurança” ao consumo da
substância (MACRAE, 1992, p. 119). MacRae (1992, p. 29) cita alguns antropólogos e
botânicos que listaram uma série de usos da Ayahuasca, a saber: (1) Ayahuasca e o
sobrenatural: (a) rituais mágicos e religiosos (para receber orientação divina e se
comunicar com os espíritos que animam as plantas; para receber um espírito protetor);
(b) adivinhação (para saber se estão chegando estranhos; descobrir o paradeiro de
inimigos e quais os seus planos; para saber se um cônjuge foi infiel; prever o futuro com
clareza); (c) feitiçaria (causar doenças por meios psíquicos; prevenção contra as más
intenções de terceiros). (2) Ayahuasca e o tratamento de doenças (para determinar a
causa de uma moléstia e/ou a cura). (3) Ayahuasca para o prazer e interação social (para
produzir estados prazerosos ou afrodisíacos, para reforçar a atividade sexual, para atingir
o êxtase ou um estado de intoxicação; para facilitar a interação social entre os homens).

2.1.7 As plantas que compõem a Ayahuasca

A Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae) (ver FOTOGRAFIAS 1 e 2), arbusto
nativo do território brasileiro, ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Minas Gerais e São
Paulo, nos biomas mata Atlântica e floresta Amazônica (ver FIGURA 3). Foi descrita pela
primeira vez por Ruiz & Pavón, em 1779 (ARANHA; TRAVAINE; CORREA, 1991; QUINTEIRO
et al., 2006), conhecida como chacrona, rainha, além de outras nomenclaturas, possui em
suas folhas o alcaloide alucinógeno DMT. A P. viridis é um grande gênero de arbustos e
pequenas árvores encontradas em regiões tropicais de todo o mundo (incluindo cerca de
1.400 espécies) e sua taxonomia é complexa, pertence à família Rubiaceae (BRITO, 2002,
p. 628; CARLINI, 2003; MCKENNA; TOWERS; ABBOTT, 1984).
Muitas outras espécies são morfologicamente semelhantes à P. viridis e algumas
são provavelmente utilizadas para preparar a Ayahuasca. Outras espécies também podem
ser utilizadas, como Psychotria carthagenensis, Psychotria leiocarpa e Diplopterys
cabrerana (BRITO, 2002, p. 628; CARLINI, 2003; GATES, 1982; MCKENNA; TOWERS;
ABBOTT, 1984; SAÉZ, 2014).
53

Fotografia 1 – Psychotria viridis, arbusto do Fotografia 2 - Psychotria viridis com frutos,


quintal da casa da Sra. Eunice, Piedade – SP arbusto do quintal da casa da Sra. Eunice,
Piedade - SP

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).

Figura 3 – Distribuição geográfica da Psychotria viridis: Norte (Acre, Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais, São
Paulo)

Fonte: Flora do Brasil (2020).

Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae) (ver


FOTOGRAFIAS 3 e 4), nativa do território brasileiro, ocorre nos estados de Acre,
Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso, sempre na floresta Amazônica (ver FIGURA 4),
liana classificada por Morton, em 1931, que pode atingir 300 metros de comprimento
54

(ARANHA; TRAVAINE; CORREA, 1991; O'CONNEL; LYNN, 1953). É conhecida como yajé,
mariri, caapi, jagube, entre outras denominações, e é um cipó ou parreira gigante,
pertence à família Malpighiaceae, proveniente das zonas tropicais da América do Sul e
Antilhas (CALLAWAY; GROB, 1998).

Fotografia 3 – Banisteriopsis caapi, cipó do Fotografia 4 – Banisteriopsis caapi com flores,


quintal da casa do Sr. Tino, Cotia – SP cipó do quintal da casa do Sr. Tino, Cotia – SP

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).

Figura 4 – Distribuição geográfica do Banisteriopsis caapi: Norte (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia) e Centro-
Oeste (Mato Grosso)

Fonte: Flora do Brasil (2020).


55

Os constituintes químicos da Ayahuasca já foram bem caracterizados pelos


pesquisadores
Ayahuasca: Mckenna,
revisão farmaco-toxicológica Towers e Abbott (1984) e Rivier e Lindgren (1972), assim como
das plantas usadas na sua preparação. As concentrações de alcaloides descritas para o B.
na área somática por náuseas, vômitos, abaixo do limiar de sua atividade alucinogênica Ayahuasca: revisão própria,farmaco-toxicológica
uras, debilidade, contratura caapi variam que
muscular, desão0,05% de 300 à 500 a mg 1,95%para HRL do e THH pesoe de 100 seco,mg parae, para a P. viridis, a concentração de
ores generalizadas, taquicardia (Callaway & HRM. Por outro lado, estão acima do limiar para atividade
o plano psíquico, verificam-se profundas e como inibidora da MAO (Brito, 2004).
es dos estados emocionais: alcaloides o indivíduo vai varia de 0,1% adas
A seletividade 0,66%
β-carbolinas
Ayahuasca:
doparapeso
revisão MAO-Aseco. sobre Valores e variações similares foram
farmaco-toxicológica
euforia em poucos segundos. Pânico, apatia, exemplificados a MAO-B (baixa na área somática
afinidade à MAO por náuseas,
no fígadovômitos,
comparada abaixo do limiar de sua atividade alucinogênica própria,
emória e no pensamento, despersonalização descritos por
bilidade, medo, insônia e sensação de hiperreflexia,
tremores,
ambos
com MAOos
a tonturas,
relatos dedores
no grupos
debilidade,
cérebro)
crisesgeneralizadas,
podede
hipertensivastaquicardia
investigação
contratura
explicar muscular,
porque
associadas(Callaway
não há
com a ingestão &
(BRITO, 2002, p. 629; MCKENNA, 2004;
que são de 300 à 500 mg para HRL e THH e de 100 mg para
HRM. Por outro lado, estão acima do limiar para atividade
também podem ser observados. No plano Grob, da 1998).
ayahuasca No plano psíquico, verificam-se
em combinação com alimentos profundas e
contendo como inibidora da MAO (Brito, 2004).
orial observam-se distorções MCKENNA;
exemplificados
de tempo rápidas TOWERS,
natiramina
área somática
alterações
Ayahuasca: ABBOTT,
(Callaway dos por
revisão
estados
et náuseas,
al. 1984). vômitos,
emocionais:
1999).
farmaco-toxicológica
o indivíduoabaixo vaido limiar de Asua atividade das
seletividade alucinogênica
β-carbolinasprópria,
para MAO-A sobre
anhas sensações corporais, alterações nas da depressãotremores, tonturas, debilidade,
Naà Figura
euforia1em contratura
sãopoucos muscular,
segundos.
apresentadas que químicas a àMAO-B
Pânico, apatia,
as estruturas são de 300 500 mg para(baixa HRL e THH àe de
afinidade MAO100 no
mg fígado
para comparada
ormas, cores, sons, sinestesias e hiperreflexia, alucinações alterações dores dageneralizadas,
DMT naememória taquicardia
as principais e noβ-carbolinas(Callaway
pensamento, & naHRM.
despersonalização
presentes Por outro
ayahuasca, comlado,a MAOestão acima do limiar
no cérebro) paraexplicar
pode atividadeporque não há
auditivas, olfativas e visuaisGrob, 1998). eNohipersugestabilidade,
(Shannon, plano
assim psíquico,
como a verificam-se medo,química
estrutura profundas
insônia doe e neurotransmissor
sensaçãocomode inibidora da MAO
relatos (Brito,hipertensivas
de crises 2004). associadas com a ingestão
rápidas alterações morte dos estadosilustrando
iminente
serotonina, emocionais:
também suasosimilaridades
podem indivíduo
ser observados. vaiquímicas.
No planoA seletividade
da ayahuascadas β-carbolinas
em combinação para MAO-A sobre
com alimentos contendo
T é exemplificados
estruturalmente na semelhante 2.1.8
áreadasomática Efeitos
depressão ao por neuroquímicos
àperceptivo-sensorial
euforia
náuseas, em poucos
vômitos, segundos. da
abaixo
observam-se Ayahuasca
Pânico, apatia,
dodistorções
limiar de de suaa tempo
MAO-B
atividade(baixa afinidade
alucinogênica
tiramina à MAO
própria,
(Callaway et al.no1999).
fígado comparada
or serotonina tremores, e age tonturas, aalterações
ligando-se debilidade, receptores na contratura
memória
e espaço,e no pensamento,
muscular,
estranhas sensaçõesdespersonalização
que são de 300
corporais, CHà3500 mgcom
alterações aHRL
paranas MAO no cérebro)
e THH e de
Na100 pode
mg
Figura paraexplicar
1 são porqueasnão
apresentadas há
estruturas químicas
5-HT2a ehiperreflexia,
5HT2c existentes doresno sistema e hipersugestabilidade,
generalizadas, nervosotaquicardia
percepções medo,
(Callaway
de formas, insônia
& cores,HRM. e sensação
sons, Por outrodelado,
sinestesias relatos
estão
e alucinações de crises
acima doda hipertensivas
limiar
DMT para associadas
atividade
e as principais com apresentes
β-carbolinas ingestãona ayahuasca,
Grob,A1998). No plano morte é umiminente
psíquico, também
verificam-se
com podem
profundas
alterações ser
e observados.
auditivas, como
olfativas Noe N
inibidora plano da MAO
visuais da(Brito,
ayahuasca
2004). em combinação com alimentos
química contendo
et al., 2002). serotonina (5-HT) dos
perceptivo-sensorial CH3 (Shannon, assim como a estrutura do neurotransmissor
otransmissoresrápidas do alterações
sistema dos estados
nervoso emocionais:
central. 2003). o observam-se
indivíduo vai distorções A deseletividade
tempo tiramina
das (Callaway
β-carbolinas paraetMAO-A
serotonina, al. ilustrando
1999).sobre suas similaridades químicas.
partir do daaminoácido
depressão à essencialeuforia em e triptofano,
espaço,
poucos Na Figura
estranhas
segundos. Pânico,
A 5, apatia,
sensações
DMT são é apresentadas
corporais, alterações
a MAO-B
estruturalmente (baixanas as daestruturas
afinidade
semelhante Na Figura
àaoMAO 1químicascomparadados
são apresentadas
no fígado principais
as estruturas químicasalcaloides
gulador Ayahuasca:
alterações
da função na darevisão
memória farmaco-toxicológica
musculatura epercepções
lisa nosdeneurotransmissor
no pensamento, formas, cores, sons,
despersonalização sinestesias
serotonina N com eaalucinações
e age MAO
ligando-se no cérebro) DMT
a receptores podee as principais
explicar β-carbolinas
porque não há presentes na ayahuasca,
CH3
vascularee gastrintestinal,
hipersugestabilidade, com medo,alterações
insônia
5-HT auditivas,
e , 5HT
sensação olfativas
, 5-HT e visuais
de2a e 5HT relatos (Shannon,
de crises assim
nervosocomo
hipertensivas a estrutura
associadas química do neurotransmissor
com a ingestão
na glândula
presentes pineal
na bebida
1a 1b
Ayahuasca: H 2c existentes a DMT
no sistema
retirada dasalimentos
folhas e as principais N β-carbolinas:
(Goodman morte iminente2007).
& Gilman, também 2003).
podem ser observados.central (Yritia Noetplano al., 2002).da ayahuasca
A serotonina é serotonina,
em combinação
(5-HT) um dos com ilustrando suascontendo
similaridades químicas. CH3
perceptivo-sensorial observam-se A DMTdistorções
principais é estruturalmente
de tempo
neurotransmissores Dimetiltriptamina
semelhante
tiramina
do (Callaway
sistema ao et
nervoso al. 1999).
central.
rônios serotoninérgicos cerebrais estão
ca e espaço,
por náuseas,
diversas vômitos, HRM,
estranhas
funções fisiológicas taisabaixo
como sono, HRL
neurotransmissor
sensações do limiar Éesintetizada
corporais, THH,
serotonina
alterações
de sua atividadeextraídas
e age
nas
a partir do ligando-se do
aminoácido
alucinogênica a cipó.
receptores
Na Figura Observa-se
essencial
própria, 1 triptofano, similaridade química
são apresentadas as estruturas químicas CH 3 estrutural entre o
5-HT , 5HT , 5-HT ee alucinações
5HT HO
existentes da no daesistema dae nervoso presentes na ayahuasca,N
e, dor,percepções
o decontratura da de
controlemuscular, formas, cores,
temperatura que sons,
são
1a de 300
e regulação sinestesias
1be à atua
500como mg
2a para regulador
2cHRL e THH
DMT
função
de 100 as
mg principais
H
musculatura
para β-carbolinas
lisa nos N
e emcom
, taquicardia
rial alterações
(Callaway
condições &auditivas,
patológicas, central
HRM. (Yritia
taisolfativas
Por
como outro eet visuais
al., 2002).
sistemas
lado, A
(Shannon,
cardiovascular
estão serotonina
acima doelimiar (5-HT)
assim paracomo
gastrintestinal, éatividade
umna dos
a glândula
estruturapinealquímica do neurotransmissor H CH3
e neurotransmissor 5-HT e a &serotonina,
DMT, o2007).
que justifica seu químicas.
efeito psicodisléptico sobre o SNC
principais neurotransmissores do2004).
sistema nervoso
Gilman,central. N
iedade e2003).
verificam-se profundas
depressão (Goodman como
& Gilman, inibidora e nas
da MAOplaquetas (Brito, (Goodman ilustrando
H
suas similaridades
Dimetiltriptamina
mocionais:
ma cardiovascular, A os
o indivíduo DMT vai é Éestruturalmente
principais sintetizada
efeitos Asão a partir
seletividade do neurônios
semelhante
Osdas aminoácido
β-carbolinas essencial
ao serotoninérgicos
para MAO-A triptofano, cerebrais estão
sobre
ea atua ecomo regulador adaem função da funções
musculatura lisa nos N
segundos.
músculo
mento,
neurotransmissor
lisoPânico,
e potente
5-HT1ana, 5HT
despersonalização
apatia, serotonina
(CARLINI,
vasoconstrição,
, 5-HT
MAO-B
esistemas
5HT
age ligando-se
2003;
que(baixa envolvidos
cardiovascular
existentes
ao humor, nonocérebro)
PIRES;
afinidade
sistema
receptores
OLIVEIRA;
diversas
à MAO
e gastrintestinal,
sensação nervoso
de dor,
no fígado
na
controleN glândula YONAMINE,
fisiológicas
comparada
pineal
da temperatura
tais como sono,
há e regulação
2010;CHSANTOS 3
H
et al., 2020). H
HO
eis aumentos pressão1b 2a com
arterial, 2ca MAO
devido pode explicar porque não N
central
insôniaperiférica
stência (Yritia
e sensação et al.,
(Costadeet al., 2005). e
2002). nas Aplaquetas
serotonina
relatos de crises (Goodman
(5-HT)
da pressão
hipertensivas é & um Gilman,
dos
arterialassociadas 2007).
e em condições com apatológicas,
ingestão tais como CH3Dimetiltriptamina
principais Os neurônios serotoninérgicos H cerebrais estão & Gilman, N
ser observados.
o agonista Noneurotransmissores
serotoninérgica plano da DMT da ayahuasca do sistema
produz em nervoso
enxaqueca, combinação central.
ansiedade come depressão
alimentos
Serotonina
(Goodman
contendo H
se
erações Écognitivas,
distorçõessintetizada
de tempo a partir edo
sensoriais envolvidos
aminoácido
tiramina
emocionais em diversas
essencial
2007).
(Callaway etNo funções
triptofano,
al.sistema fisiológicas
1999). cardiovascular, tais como sono,
os principais efeitos são
(5-hidroxitriptamina) N HO H
corporais, e atua
uando administrada como por
alterações regulador
nasviaFigura humor,
da função
parenteral. 5Nasensação
da
–AsFigura
Estruturasde1 dor,
musculatura
contração controle
lisa
doquímicas
são apresentadasmúsculo da temperatura
nos as dos
liso e regulação
principais
e potente
estruturas alcaloides
vasoconstrição,
químicas quepresentes na Ayahuasca e a similaridade da DMT
s,
a sinestesias
percepção sistemas cardiovascular
eparecem
alucinações ser bastante da
da pressão
DMT
intensas, e asarterial
e gastrintestinal, naeglândula
justifica
principais em condições
possíveis
β-carbolinaspineal patológicas,
aumentos
presentes na na tais como
pressão
ayahuasca,arterial,Hdevido ao N
com o neurotransmissor 5-HT N
vas e nas
e visuais
período plaquetas
de tempo (Shannon, (Goodman
bastante enxaqueca,
assim
curto &em sua ansiedade
Gilman,
como a2007).
aumento estrutura e depressão
na resistência
química (Goodman
periférica
do & Gilman,
(Costa
neurotransmissor et al., 2005). H H
Os neurônios 2007). No
serotoninérgicos sistema cardiovascular,
cerebrais H3CO
estão os principais efeitos são Dimetiltriptamina
sman et al., 1994; Pomilio etserotonina, Essa ação
al., 1999;ilustrando suas similaridades químicas. agonista serotoninérgica da DMT produz Serotonina
ansbach,envolvidos em diversas contração do uma
funções fisiológicas músculo taisliso
série como
de e sono,
potentecognitivas,
alterações vasoconstrição, sensoriais que
lmente semelhante
1999). ao HO eNemocionais H N (5-hidroxitriptamina)
geadministradahumor,
ligando-se sensação
apor
receptores
via oral, de dor, justifica
controletem
entretanto, possíveis
da temperatura aumentos
momentâneas na pressão
e regulação
quando arterial, N
administrada
CH devido
por viaaoparenteral. As
3
stentes
da da pressão
no sistema
a perda de atividade arterial e em aumento
condições na resistência
patológicas,
nervosoda DMT devido à modificações na percepção parecem periférica
tais como (Costa et al., 2005). ser bastante intensas, H
N de tempo H produz CH3 N
primeiraenxaqueca,
rotonina (5-HT)
passagem é um ansiedade
dos
realizada e depressão
pela Essa ação
enzima (Goodman
porém agonista
com&um serotoninérgica
Gilman,
período da DMT bastante curto em sua H Serotonina
CH 3
Harmina H3CO
oase-A
sistema 2007).
nervoso
(MAO-A) No central.
sistema
periférica uma série
cardiovascular,
(Ott, 1994). deosalterações
duração cognitivas,
principais(Strassmanefeitos sãosensoriais
et al., 1994; e emocionais
Pomilio et al., 1999; (5-hidroxitriptamina)
,cido contração
essencial
a ayahuasca triptofano,
contém músculo momentâneas
do β-carbolinas, liso como
e potente quando administrada
vasoconstrição,
a Freedland & Mansbach, que por via parenteral. As
1999). N
modificações N tem N
ejustifica
o da musculatura
malina possíveis
lisa nos aumentos
a tetraidro-harmina, presentes na na arterial,
na pressão percepção
N devido
Quando parecem ao ser bastante
administrada por viaintensas,
oral, entretanto,
estinal,
mina aumento
e na glândula
a harmalina na pineal
resistência
e em menor porém
periférica
extensão,com um
(Costasidoperíodo
etdemonstrada
al., 2005).de tempo H3aCO bastante
perda curto emdasua
de atividade DMT devido
H à H3CO
H H CH3
man, são
mina, 2007). potentes Essa ação agonista
inibidores daduração
MAO, (Strassman
serotoninérgica
fato degradaçãoda etDMT al., 1994;
deproduz
primeira Pomilio
passagem et al., 1999; pela Serotonina
realizada N enzima
Harmina
uma série de alterações Freedland
cognitivas, & Mansbach,
sensoriais Dimetiltriptamina
e 1999).
emocionais N
érgicos cerebrais
propriedades psicoativasestão da bebida. Desta monoaminoxidase-A (MAO-A) periférica N (Ott, 1994).
(5-hidroxitriptamina)
siológicas
bolinas momentâneas
tais como asono,
impediriam quando administrada
degradação da DMT Quando por administrada
via parenteral.
Conjuntamente, por As via oral, contém
a ayahuasca entretanto, tem
β-carbolinas, como a N
modificações naquepercepção sido parecem
demonstrada HO a perda
ser bastante de atividade
intensas, e aHda H
DMT devido à presentes CH
da temperatura
testinal, e regulação
possibilitando o fármaco fique harmina, a harmalina tetraidro-harmina, 3 na H CH3
porém (Riba com um período degradação
deDetempofato, de B. primeira
bastante
caapi.curto A passagem
em suaerealizada
harmina a harmalina pelae enzima
emH3menor H3CO
esserpatológicas,
absorvido tais comoet al., 2003).
N
Harmalina CO extensão, Harmina
duração (Strassman etmonoaminoxidase-A
al., oral
1994; de Pomilio (MAO-A)
et
a tetraidro-harmina, al., 1999;são periférica
potentes (Ott, 1994).da MAO, fato
ão (Goodman
a DMT é inativa & após
Gilman, administração
Conjuntamente,
H inibidores N
N
r,mg, Freedland
os principais
enquanto &emMansbach,
efeitos
que são
doses parenterais1999). de quea explica ayahuasca contém β-carbolinas,
as propriedades psicoativas como da abebida. Desta N
tente
rvam vasoconstrição, Quando queadministrada
alguns efeitos neurocomportamentais harmina, por a harmalina
via oral,
forma, e a
entretanto,
as tetraidro-harmina,
β-carbolinas tem impediriam presentes
a na
degradação da DMT N
sido Mckenna,
demonstrada B. caapi. A harmina aNharmalinaH3CO
egastrintestinal, à e possibilitando
em menor extensão, H3CO H CH3
pressão1994;
Qualls, arterial, devido 2004).ao a perda de atividade da DMT
no trato devido que o fármaco fique H CH3
(Costa etpor
bolinas, degradação mesmas,primeira
al.,si2005). de também a tetraidro-harmina,
passagem
poderiam realizada disponível sãopela potentes
paraenzima inibidores (Riba
ser absorvido da MAO, et al., fato
2003).
N DeHarmina fato, Harmalina
N
que explicaperiférica
asverificou-se
propriedades H psicoativas da bebida. Desta
mninérgica monoaminoxidase-A
os efeitos da DMT produz da(MAO-A)
psicoativos ayahuasca, (Ott, que1994).
a DMT é inativa apósN administração oral de N
forma,contém as β-carbolinas Serotonina
impediriam a a degradação dadoses
DMTparenterais de
noConjuntamente,
s, sensoriais
MAO e emocionais
cérebro e inibindo a ayahuasca
fracamente β-carbolinas,
a doses até 1000 como
mg,
(5-hidroxitriptamina) enquanto que em
H CH3
ada harmina,
por via
erotonina, a harmalina
parenteral.
fenômenos enoa trato
As aumentariam
que gastrintestinal,
tetraidro-harmina,
os 25mg já se possibilitando
presentes
observam naalguns queefeitos H
o fármaco CH
fique 3
neurocomportamentais
H 3CO
H3CO
cem ser B.
otransmissor caapi.
bastante A harmina
intensas,
na fenda sináptica e disponível
harmalinapara
a(Cazenave, sermenor
e(Strassman
em absorvido &extensão,(Riba1994;
Qualls, etTetraidro-harmina
al.,Mckenna,
2003). De2004). fato, Harmalina
po et bastantea tetraidro-harmina,
al., 1999). curto sãoverificou-se
em suaas quantidades
Entretanto, potentesde que a DMT
inibidores da éβ-carbolinas,
As inativafato
MAO, após administração
por si mesmas,oral de
também poderiam N N
que explica asayahuasca
propriedades doses até 1000 H3mg, CO Figura
daenquanto 1 – Estruturas
que em químicas dos principais
doses psicoativos
parenterais de alcalóides presentes
4; Pomilio
esentes numa etdoseal., de1999; estãopsicoativas
bem contribuir bebida.
na ayahuasca com Desta e os efeitos
Fonte:
do neurotransmissor da ayahuasca,N
Pires, Oliveira e Yonamine
serotonina. (2010). N
forma, as β-carbolinas 25mg impediriam já se observam
abloqueando
degradação alguns efeitos
adaMAO DMTno neurocomportamentais
cérebro
N e inibindo fracamente H a H 3CO
no entretanto,
trato gastrintestinal, (Strassman
possibilitando &recaptação
Qualls,
que o fármaco1994; Mckenna,
fique
N 2004). CH3 H CH3
via oral, tem de serotonina, fenômenos que aumentariam os
vidade da disponível
DMT devido para ser à absorvido As (Riba β-carbolinas,
et al., 2003).
níveis porDe si fato,
do neurotransmissor mesmas, também na fenda poderiam
sináptica (Cazenave, Harmalina N
Tetraidro-harmina
que a DMTcontribuir com osCallaway
efeitosoral H de CHda 3 N
m realizada verificou-se
pela enzima é inativa após administração
2000; etpsicoativos
al., 1999). Rev Ciênc ayahuasca,
Entretanto,
Farm Básica as quantidades de
Apl., 2010;31(1):15-23 Figura 1 – Estruturas químicas dos principais alcalóides presentes
periféricadoses(Ott, até 1000
25mg já secomo
1994). mg, enquanto
observam
bloqueando
recaptação
A
que
efeitosde
empartir
a MAO
doses
β-carbolinas no dasHarmina
cérebro
parenterais estruturas
presentes e
de
serotonina, fenômenos que aumentariam
inibindo
numa dose ilustradas
fracamente
de ayahuasca a estão
os
na bem Figura 5,
na ayahuasca fica e doHevidente CH3 que
neurotransmissor a Ayahuasca
serotonina.
tém β-carbolinas, a alguns neurocomportamentais H3CO
(Strassman
dro-harmina, presentes na & Qualls, níveis
1994; do
Mckenna, neurotransmissor
2004). na fenda sináptica (Cazenave, Tetraidro-harmina
na e em menorAs β-carbolinas,
extensão, funciona
2000;
por siCallaway como
mesmas, H3CO al.,um
ettambém 1999). agonista
poderiamEntretanto, as doquantidades
sistema de serotoninérgico,
Figura 1 – Estruturas N poisdosa principais
químicas DMT presente na bebida é
alcalóides presentes
inibidores contribuir
da MAO, com fatoos efeitos β-carbolinas psicoativospresentes
18 da numa dose de ayahuasca estão bem
ayahuasca, N e do neurotransmissor serotonina.
na ayahuasca Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2010;31(1):15-23
N
coativas bloqueando
da bebida. Desta a MAO no cérebro e inibindo fracamente
umafenômenos substância que apresenta N a semelhança com H a 5-HT.
CH3 Estudos demonstraram que a
recaptação
m a degradação dade DMT serotonina, que aumentariam os
ando que níveis do neurotransmissor
o fármaco fique na fenda sináptica (Cazenave, H CH3 Tetraidro-harmina
iba et al., 2000;
2003). Callaway
De fato, DMT
et al., 18 tem
1999). Entretanto, grande afinidade
as quantidades
Harmalina de por
Figurareceptores
1 – Estruturas químicas serotoninérgicos, Rev Ciêncespecialmente
dos principais alcalóides presentes os subtipos 5-
Farm Básica Apl., 2010;31(1):15-23
β-carbolinasoral
após administração presentes
de numa dose de ayahuasca estão bem na ayahuasca e do neurotransmissor serotonina.
e em doses parenterais de
os neurocomportamentais H3CO
enna, 2004).
18 Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2010;31(1):15-23
esmas, também poderiam N
icoativos da ayahuasca, N
56

HT1A, 5-HT2A, e 5-HT2C. Em relação às ß-carbolinas presentes na Ayahuasca, essas


substâncias atuam como agonistas serotoninérgicos indiretos, pois ao inibirem a MAO,
sobretudo a MAO-A, aumentam os níveis de 5-HT no cérebro (CARLINI, 2003; DOS
SANTOS; BOUSO; HALLAK, 2017; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE, 2010).
O efeito da Ayahuasca ocorre em virtude da potente ação serotoninérgica da DMT
sobre o SNC, posto que diversos estudos evidenciaram que os principais componentes da
Ayahuasca são substâncias químicas estruturalmente semelhantes ao neurotransmissor 5-
HT, neurotransmissor presente no SNC de boa parte dos organismos (CALLAWAY, 1988;
CALLAWAY; GROB, 1998; CARLINI, 2003; DOS SANTOS; BOUSO; HALLAK, 2017; MCKENNA
et al., 1990). Corroborando essas observações, estudos subsequentes demostraram
grande afinidade dessas substâncias por receptores serotoninérgicos, mais
especificamente, estimulação sobre os receptores 5-HT2A e possivelmente modulada pela
ação dos receptores 5-HT2C (CALLAWAY; GROB, 1998; DOS SANTOS et al., 2016; PIRES;
OLIVEIRA; YONAMINE, 2010; RIBA et al., 2001; SMITH et al., 1998; STAHL, 2013, p. 657).
Quando a Ayahuasca é administrada por via oral, a DMT demonstra-se inativa,
mesmo em doses superiores a 1000 mg, devido à sua desaminação oxidativa pela enzima
MAO no metabolismo de primeira passagem pelo fígado, enquanto doses iniciais iguais a
25 mg, ministradas por via parenteral, já evidenciam efeito psicodisléptico, conforme
demonstrado por Mckenna (2004), Strassman e Qualls (1994) e Szára (1956). A atividade
farmacológica da Ayahuasca depende da interação sinérgica entre os alcaloides ativos
presentes nas duas plantas (BRITO, 2002, p. 624). O efeito psicodisléptico da Ayahuasca é
possibilitado pela ação das β-carbolinas, especificamente HRM e HRL, inibindo a ação da
MAO-A, pois são potentes inibidoras reversíveis dessa enzima, com ação seletiva em
relação à MAO-B, sendo a HRM o alcaloide presente em maior concentração na bebida
(CALLAWAY et al., 1999; MCKENNA; CALLAWAY; GROB, 1998; RIBA et al., 2001). A THH, a
segunda β-carbolina em concentração na Ayahuasca, age como fraco inibidor da
recaptação de 5-HT e fraco inibidor da MAO, no entanto esse parece ser seu principal
mecanismo de ação na farmacologia da Ayahuasca (DOS SANTOS, 2007; FRECSKA; WHITE;
LUNA, 2004; MCKENNA; CALLAWAY; GROB, 1998; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE, 2010).
A inibição periférica da MAO permite que adequados níveis de DMT presentes na
bebida alcancem o SNC, causando efeitos somáticos, como sensações de peso corporal ou
leveza, tremores, tonturas, debilidade, contratura muscular, hiperreflexia, dores
57

generalizadas e taquicardia (ANDERSON et al., 2012; CALLAWAY; GROB, 1998). A


propósito, a Ayahuasca induz disfunções gastrointestinais, por exemplo, náusea, vômito e
diarreia. Uma explicação para esses efeitos é que a 5-HT é uma molécula-chave de
sinalização tanto no intestino quanto no cérebro. Aproximadamente 95% da 5-HT estão
localizadas no trato gastrointestinal e os 5% restantes, no cérebro (KIM; CAMILLERI, 2000;
KUYPERS, 2019; O’MAHONY et al., 2015; READ; GWEE, 1994). Além da 5-HT, seus
receptores também estão presentes no cérebro e no intestino, embora apresentem
funções diferentes nas respectivas localizações (FONSECA, 2021, p. 45). A 5-HT periférica
está localizada nas plaquetas, nos mastócitos e nas células enterocromafins, onde modula
a motilidade e as funções digestivas no sistema gastrintestinal (FOTIOU; GEARIN, 2019;
SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 39). O receptor cerebral 5-HT2A, por exemplo, o principal
alvo dos psicodislépticos, está envolvido, perifericamente, na contração dos músculos
lisos do intestino e, centralmente, nos processos cognitivos e no humor de ordem superior
(KUYPERS, 2019).
As substâncias alucinógenas serotoninérgicas podem produzir tolerância, às vezes,
em uma única dose. A dessensibilização dos receptores 5-HT2A foi proposta,
hipoteticamente, como estando subjacente a essa rápida tolerância clínica e
farmacológica (STAHL, 2013, p. 657). Outra dimensão única do abuso de alucinógenos é a
ocorrência de flashbacks, isto é, a recorrência espontânea de alguns dos sintomas da
intoxicação, com duração que vai de apenas alguns segundos a várias horas, porém na
ausência de administração recente da substância alucinógena. Isso pode ocorrer dias a
meses depois da última administração da substância, podendo ser precipitado,
aparentemente, por vários estímulos ambientais. Embora o mecanismo
psicofarmacológico subjacente aos flashbacks não seja conhecido, sua fenomenologia
sugere a possibilidade de adaptação neuroquímica do sistema serotoninérgico e seus
receptores, relacionada a uma tolerância reversa de duração demasiadamente longa
(STAHL, 2013, p. 657).
Strassman, Qualls e Berg (1996) conduziram um estudo com 13 usuários
experientes de alucinógenos, os quais receberam quatro doses de fumarato de DMT 0,3
mg/kg, por via intravenosa ou placebo salino, com intervalos de 30 minutos, em 2 dias
separados, em um estudo duplo-cego randomizado. A tolerância aos efeitos subjetivos
"psicodélicos" não ocorreu de acordo com a entrevista clínica ou com os escores da
58

Hallucinogen Rating Scale (HRS), ou seja, a tolerância aos efeitos comportamentais da


DMT não foi verificada em seres humanos. As respostas do hormônio adrenocorticotrófico
(ACTH – Adrenocorticotropic hormone), prolactina, cortisol e frequência cardíaca
diminuíram com a administração repetida de DMT, no entanto a pressão arterial não
diminuiu. Esses dados demonstram as propriedades únicas da DMT em relação a outros
alucinógenos e ressaltam a regulação diferencial dos múltiplos processos mediando os
efeitos da DMT no SNC.
Luna (2005, p. 336) afirma que a DMT proporciona mudanças importantes no nível
de percepção do indivíduo. A DMT é encontrada nos reinos vegetal e animal, faz parte da
composição normal de mamíferos humanos e não humanos, por exemplo, animais
marinhos, assim como em várias espécies de plantas (cascas, flores e raízes), é encontrada
também em numerosas espécies de gramíneas, ervilhas, cogumelos, fungos, batráquios,
em alguns peixes e algas. Em outras palavras, a DMT permeia a natureza (STRASSMAN,
2001, p. 42).
Callaway (1988) acredita que a DMT desempenhe um papel importante na
produção dos sonhos, graças a um mecanismo endógeno farmacologicamente similar ao
da Ayahuasca, ou seja, uma espécie de Ayahuasca endógena ou endohuasca, que a cada
noite permite ao ser humano sonhar. Strassman (2001, p. 334) conjectura que pode haver
não só uma relação entre DMT e psicose, mas também a DMT endógena poderia ter
algum papel em fenômenos, por exemplo, meditação profunda e experiências míticas, no
entanto sabe-se muito pouco sobre tais funções.

2.1.8.1 Avaliação do perfil químico da Ayahuasca via LC-HRMS

O uso potencial da Ayahuasca como medicamento natural ou fitoterápico está


diretamente ligado à ação de seus compostos ativos (DMT, HRM, HRL e THH), presentes
na bebida. A Ayahuasca apresenta potencial aplicação nos tratamentos de dependência
química, nomeadamente o álcool, tabaco e drogas ilícitas, como cocaína e heroína
(CANAL; MURNANE, 2017; CRUZ; NAPPO, 2018; DE SOUZA; MARTINS, 2020; MERCANTE,
2009, 2013; TALIN; SANABRIA, 2017; WINKELMAN, 2014), depressão (DOS SANTOS et al.,
2016a; DOS SANTOS et al., 2016b; JIMÉNEZ-GARRIDO et al., 2020; OSÓRIO et al., 2015;
PALHANO-FONTES et al., 2019; ROMEO et al., 2020; SANCHES et al., 2016), ansiedade
59

(BARBOSA; GIGLIO; DALGALARRONDO, 2005; DOS SANTOS et al., 2007; DOS SANTOS et al.,
2016a; DOS SANTOS et al., 2016b), Parkinson (KATCHBORIAN-NETO et al., 2020;
SAMOYLENKO et al., 2010), mindfulness (SOLER et al., 2016; MURPHY-BEINER; SOAR,
2020), assim como no bem-estar psicossocial, estilo de vida e estratégias de
enfrentamento (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; ONA et al., 2019; SCHENBERG et al., 2015).
Nesse sentido, é de suma importância compreender as técnicas utilizadas para a
determinação e a quantificação dos compostos ativos que compõem a Ayahuasca.
A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC – High-performance liquid
chromatography) confere a possibilidade de separação de compostos-alvo, mesmo que
estes façam parte de uma complexa mistura de substâncias (WILSON, 2010, p. 435). Por
sua vez, a espectrometria de massas (MS – Mass spectrometry) é essencialmente uma
técnica analítica instrumental que permite a identificação da composição química de
determinado composto, ou de diferentes compostos, por meio da determinação de suas
massas moleculares na forma iônica (isto é, com carga elétrica positiva ou negativa),
baseada na sua movimentação através de um campo elétrico ou magnético. Essa
movimentação é determinada pela razão entre a massa (m) de determinado composto
(analito) sobre sua carga (z), ou seja, m/z (relação massa-carga). Portanto, conhecendo o
valor de m/z de uma molécula, em especial utilizando-se de instrumentos de aquisição em
alta resolução e exatidão de massas (HRMS – High resolution mass spectrometry), como
analisadores do tipo TOF (Time-of-flight), Q-TOF (Quadrupole Time-of-flight) e Orbitrap™,
é possível deduzir sua composição química elementar e, assim, determinar sua estrutura a
partir de consultas em bancos de dados e na literatura (AITKEN, 2010, p. 352; VAN
BRAMER, 1998, p. 23). Por isso, na atualidade, o acoplamento LC-MS (Liquid
chromatography–mass spectrometry) se trata de uma das técnicas mais utilizadas para
análises de identificação de produtos naturais (NIELSEN et al., 2011).
De forma geral, os sistemas de cromatografia líquida acoplada à espectrometria de
massas (LC-MS – Liquid chromatography–mass spectrometry) compreendem um sistema
de inserção de amostras líquidas (HLPC – High-performance liquid chromatography),
podendo ou não conter o próprio detector (geralmente detector ultravioleta), hifenado
aos espectrômetros de massas (ver FIGURA 6). Estes, por sua vez, são constituídos por:
um sistema de alto vácuo (10-6 torr ou 1 µtorr), uma fonte de íons para converter
moléculas em íons de fase gasosa, permitindo a detecção dos compostos na forma
60

ionizada; um filtro/analisador de massas (podendo ser do tipo TOF; quadrupolo; Ion Trap;
Orbitrap™ ou, mesmo, analisadores hifenados, como Q-TOF); um detector (pode ser um
dínodo de conversão, multiplicador de elétrons ou placa de microcanais); e, finalmente,
um sistema de conversão e tratamento de dados (computador) (AITKEN, 2010, p. 354).

Figura 6 – Componentes básicos de um sistema LC-MS

Sistema de alto vácuo

Filtro/
Fonte de Sistema de
Entrada analisador Detector
íons dados
de massa

• Sólido
• Líquido
• Gasoso
1 2 3 4 5 Time [min]

Espectro de massa

Fonte: Aitken (2010, p. 354).

Além da identificação dos principais compostos ativos presentes na bebida


Ayahuasca, a quantificação destes tem sido alvo de estudos que buscam estabelecer um
método analítico seletivo, sensível e reprodutível para mensurar esses compostos. A
técnica mais utilizada é a cromatografia líquida de alta performance (UHPLC - Ultra High
Performance Liquid Chromatography), ou cromatografia gasosa (GC – Gas
chromatography), acoplada à espectrometria de massa em Tandem (MS/MS – Tandem
mass spectrometry) (QUEIROZ et al., 2015; SANTOS; NAVICKIENE; GAUJAC, 2017; SOUZA
et al., 2019).
Queiroz et al. (2015) determinaram o conteúdo dos principais alcaloides da
triptamina na casca do caule da videira Tetrapterys mucronata Cav. (Malpighiaceae) e
avaliaram suas possíveis propriedades tóxicas e alucinógenas, com base nas doses
encontradas em uma decocção de água que imita a preparação da Ayahuasca. Isso porque
a T. mucronata é uma planta utilizada, em algumas regiões do Brasil, na preparação da
61

Ayahuasca. Os alcaloides detectados foram: a (1) bufotenina, (2) 5-metoxi-N-


metiltriptamina, (3) 5-metoxi-bufotenina e (4) 2-metil-6-metoxi-1,2,3,4-tetra-hidro-β-
carbolina, com propriedades tóxicas e alucinogênicas, identificadas via HPLC (High-
performance liquid chromatography) de monitoramento de múltiplas reações,
combinadas com ionização por electropulverização e MS Tandem (HPLC–ESI/MS/MS –
High-performance liquid chromatography-electrospray ionization/tandem mass
spectrometry), na decocção de água e extratos etanólicos da casca de T. mucronata.
Concluíram que níveis significativos de alcaloides, em particular para bufotenina (1) e 5-
metoxi-bufotenina (3), são conhecidos por suas propriedades tóxicas e alucinogênicas. De
acordo com os dados obtidos, se a casca de T. mucronata analisada foi utilizada para
preparar a Ayahuasca com uma extração ideal, geralmente obtida pelo longo tempo
necessário na preparação da Ayahuasca, o nível de bufotenina (1) e 5-metoxi-bufotenina
(3) pode variar de 9 a 13 e de 6 a 12 mg, respectivamente. Tal estimativa foi
aproximadamente assumindo que 4 g de peso seco de cascas de caule são usados para
uma dose comum de Ayahuasca de aproximadamente 200 mL (MCKENNA, 2004). Essas
quantidades podem parecer baixas em comparação com as dezenas de miligramas de
compostos psicoativos consumidos por dose de Ayahuasca. No entanto, a dosagem pode
aumentar, pois uma pessoa pode tomar várias doses de Ayahuasca durante eventos
cerimoniais, aumentando sua exposição a esses alcaloides, o que pode representar risco
para os consumidores.
Santos, Navickiene e Gaujac (2017) identificaram triptaminas, DMT, HRM, HRL,
THH e harmalol, em amostras de Ayahuasca, usando um método simples e de baixo custo,
baseado em extração em fase sólida (SPE – solid phase extraction) e cromatografia líquida
(LC - Liquid Chromatography), com detecção de matriz de diodos ultravioleta (UV –
Ultraviolet). O método apresentou boa linearidade (r> 0,9902) e repetibilidade (RSD
<0,8%) para compostos alcaloides, com um limite de detecção (LOD – Limit of detection)
de 0,12 mg/L. Foram analisadas 20 amostras de um processo de cozimento de Ayahuasca
por um grupo religioso, localizado no município de Fortaleza, estado do Ceará. Os
resultados mostraram que as concentrações dos compostos-alvo variaram de 0,3 a 36,7
g/L para essas amostras, demonstrando que é possível identificar a presença desses
alcaloides em amostras de Ayahuasca.
62

Souza et al. (2019) realizaram um estudo para quantificar os principais compostos


ativos da Ayahuasca. Foram analisadas 38 amostras de Ayahuasca, provenientes de
diferentes centros da UDV de várias áreas do estado de São Paulo e foram realizadas
quantificações simultâneas de DMT, HRM, HRL e THH. As análises foram realizadas por
espectrometria de massa em cromatografia líquida em Tandem (LC-MS/MS – Liquid
chromatography-Tandem mass spectrometry), o que permitiu o rastreamento de
concentrações ativas de compostos de Ayahuasca.

2.1.9 Neurogênese e Ayahuasca

Lima da Cruz et al. (2019) realizaram um estudo no qual foi testado se a 5-metoxi-
N, N-dimetiltriptamina (5-MeO-DMT), composto psicodélico natural, é capaz de aumentar
a proliferação de células do giro denteado (GD) da formação hipocampal em
camundongos adultos. Os resultados mostraram que uma única injeção
intracerebroventricular de 5-MeO-DMT aumenta o número de células de
bromodesoxiuridina (BrdU+) no GD. Concluíram que uma dose única de 5-MeO-DMT
pode aumentar a proliferação, a capacidade de sobrevivência e acelerar a maturação dos
neurônios recém-nascidos no GD, provocando alterações morfológicas e funcionais. Esse
trabalho foi o primeiro a demonstrar um efeito direto de um composto psicoativo natural
na neurogênese adulta em seres vivos.
Ly et al. (2018) demonstraram que compostos psicodélicos, como o LSD, a DMT e
DOI (2,5-dimetoxi-4-iodoanfetamina), aumentam a complexidade do espinho dendrítico,
promovem o crescimento da coluna dendrítica e estimulam a formação de sinapses,
efeitos celulares semelhantes aos produzidos por antidepressivos de ação rápida. Assim,
os psicodélicos serotoninérgicos são capazes de aumentar robustamente a neuritogênese
e/ou espinogênese in vitro (culturas corticais de ratos maduros) e in vivo (larvas de
Drosophila). Essas mudanças na estrutura neuronal foram acompanhadas por várias
funções e números de sinapses aumentados, medidos por microscopia de fluorescência e
eletrofisiologia. As alterações estruturais induzidas pelos psicodélicos parecem resultar da
estimulação das vias de sinalização TrkB (Tropomyosin receptor kinase B), mTOR
(Mammalian target of rapamycin) e 5-HT2A e podem explicar a eficácia clínica desses
compostos relacionados à depressão.
63

Morales-García et al. (2017) investigaram a capacidade das três principais β-


carbolinas presentes em B. caapi (HRM, HRL e THH) e o metabolito da HRM, harmol, em
induzir neurogênese in vitro, usando células progenitoras neurais de camundongos
adultos. Para este fim, neuroesferas foram preparadas a partir de células-tronco do giro
denteado (GD) hipocampal (zona subventricular e zona subgranular), tratadas com HRM,
HRL, THH e harmol. Os resultados mostraram que as β-carbolinas presentes na Ayahuasca
estimulam diretamente a proliferação, migração e diferenciação de células-tronco neurais,
em neurônios adultos, sugerindo que os efeitos antidepressivos da Ayahuasca podem
contribuir com a modulação da plasticidade cerebral.
Dos Santos e Hallak (2017) realizaram uma revisão sistemática da literatura de
estudos pré-clínicos, analisando os efeitos da HRM nos neurônios do hipocampo e nas
tarefas comportamentais relacionadas à memória em modelos animais. Foram
encontrados dois estudos envolvendo culturas de células do hipocampo e nove estudos
utilizando modelos animais. A administração de HRM foi associada a efeitos
neuroprotetores, como excitotoxicidade reduzida, inflamação e estresse oxidativo, e
aumento dos níveis de fator neurotrófico derivado do cérebro. A HRM também melhorou
a memória/aprendizado em vários modelos animais. Esses efeitos parecem ser mediados
pela inibição da MAO ou acetilcolinesterase (AChE), regulação positiva dos
transportadores de glutamato, diminuição das espécies reativas de oxigênio, aumento dos
fatores neurotróficos e efeitos anti-inflamatórios. Estudos pré-clínicos sugerem que a
HRM pode ter efeitos neuroprotetores e de aprimoramento cognitivo, e investigações
retrospectivas/observacionais da saúde mental de usuários de Ayahuasca de longo prazo
sugerem que o uso prolongado da Ayahuasca rica em HRM está associado ao melhor
funcionamento neuropsicológico.
Dakic et al. (2016) investigaram os efeitos do HRM em culturas de células que
contêm células progenitoras neurais humanas (hNPCs – Human neural progenitor cells,
97% positivas para nestina), derivadas de células-tronco pluripotentes. Após 4 dias de
tratamento, o número de hNPCs em proliferação aumentou 71,5%. A HRM foi relatada
como um potente inibidor da quinase regulada por tirosina-fosforilação com dupla
especificidade (DYRK1A – Dual-specificity tyrosine phosphorylation-regulated kinase), que
regula a proliferação celular e o desenvolvimento do cérebro. Foi testado o efeito de
análogos da HRM, um inibidor da DYRK1A (INDY) e um inibidor seletivo irreversível da
64

MAO, mas não da DYRK1A (pargilina). Os resultados mostraram que o HRM aumenta a
proliferação de hNPCs e sugerem que a inibição de DYRK1A pode explicar seus efeitos
sobre a proliferação in vitro e os efeitos antidepressivos in vivo.

2.1.10 Farmacologia clínica da Ayahuasca

Os efeitos da Ayahuasca têm início por volta de 35 a 40 minutos após a sua


ingestão, e alcançam o máximo de intensidade entre 90 e 120 minutos, encerrando-se
após 4 horas (BRITO, 2002, p. 631; GROB et al., 1996; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE, 2010;
RIBA et al., 2001).
Grob et al. (1996) avaliaram 15 usuários masculinos de longo prazo da Ayahuasca,
membros da UDV, por pelo menos 10 anos de filiação (em completa abstinência de álcool,
tabaco, maconha, cocaína e anfetaminas), em comparação com 15 controles, pareados
por sexo, idade, etnicidade, estado civil, nível educacional e em relação à saúde
psicológica e psiquiátrica em longo prazo. Este foi considerado um estudo-piloto e foi
conduzido no templo da UDV, na cidade de Manaus – Núcleo Caupuri. Em ambos os
grupos foram aplicadas entrevistas estruturadas de diagnóstico psiquiátrico (CIDI –
Composite International Diagnostic Interview), nenhum dos sujeitos da UDV tinha um
diagnóstico psiquiátrico recente. No entanto, antes de ingressar na UDV, alguns dos
participantes tinham diagnóstico psiquiátrico no passado, de acordo com a Classificação
Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10) e Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, 3ª Edição, Revisada (DSM-III-R), histórico de abuso de drogas (n=5),
de depressão maior (n=2) e de ansiedade fóbica (n=3). Todos esses diagnósticos
psiquiátricos foram remitidos após o início da participação nos rituais da UDV. Além disso,
os membros da UDV obtiveram pontuações mais baixas nas dimensões de temperamento
em busca de novidades e prevenção de danos do Tridimensional Personality Questionnaire
(TPQ), sugerindo redução da impulsividade e da timidez, respectivamente. Os resultados
também sugeriram que os sujeitos da UDV eram mais reflexivos, confiantes, gregários e
otimistas, em comparação ao grupo controle. A aprendizagem verbal e a memória foram
verificadas por meio do World Health Organization – University of California – Los Angeles
Auditory Verbal Learning Test (WHO/UCLA). Não houve evidência de deterioração
cognitiva entre os membros da UDV. Os 15 membros da UDV também foram avaliados
65

sobre os efeitos subjetivos de uma dose oral de Ayahuasca de 2 mL/kg (0,24 mg de


DMT/mL), após uma hora do encerramento de um ritual de Ayahuasca. Os efeitos
subjetivos foram medidos com a Hallucinogen Rating Scale (HRS). Verificou-se que os
indivíduos que fizeram uso regular de Ayahuasca por tempo prolongado apresentavam-se
saudáveis e com perfil de morbidade semelhante ao de outras pessoas das comunidades
onde viviam. Os usuários que utilizaram Ayahuasca por dez anos ou mais, de forma
regular, não apresentaram nenhuma disfunção clínica quando comparados aos controles,
o que evidencia que nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos
avaliados de ambos os estudos.
Riba et al. (2006) investigaram os efeitos da administração da Ayahuasca no fluxo
sanguíneo cerebral em 15 voluntários do sexo masculino, com experiência prévia no uso
de psicodélicos, os quais receberam uma única dose oral de Ayahuasca liofilizada
encapsulada, equivalente a 1,0 mg de DMT/kg de peso corporal, e um placebo em um
ensaio clínico duplo-cego randomizado. O fluxo sanguíneo cerebral foi medido 100-110
minutos após a administração de fármaco, por meio de tomografia computadorizada, por
emissão de fóton único (SPECT – Single Photon Emission Computed Tomography). A
administração de Ayahuasca levou à ativação significativa de regiões cerebrais frontais e
para-límbicas. O aumento da perfusão sanguínea foi observado bilateralmente na ínsula
anterior, com maior intensidade no hemisfério direito e no córtex cingulado
anterior/frontomedial do hemisfério direito, áreas anteriormente implicadas na
consciência somática, nos sentimentos subjetivos e na excitação emocional. Aumentos
adicionais foram observados na amígdala esquerda/giro para-hipocampal, uma estrutura
também envolvida na excitação emocional. Os resultados sugerem que a Ayahuasca
interage com os sistemas neurais que são centrais à interocepção e ao processamento
emocional e apontam para um papel modulador da neurotransmissão serotoninérgica
nesses processos.
De Araujo et al. (2011) investigaram a base neural das imagens visuais produzidas
pela Ayahuasca em nove usuários de Ayahuasca, experientes e saudáveis (cinco homens;
média da idade, 29 anos). Foi realizado um estudo de imagem dependente do nível de
oxigênio no sangue (BOLD – Blood Oxygenation Level Dependent), por imagem de
ressonância magnética funcional (fMRI – functional Magnetic Resonance Imaging) para
tarefas de imagens. As avaliações ocorreram após a administração oral desta substância
66

(2,2 mL/kg, 0,8 mg de DMT/mL), cada sujeito bebeu 120–200 mL de Ayahuasca (2,2 mL/kg
de peso corporal). A Ayahuasca usada no experimento continha 0,8 mg/mL de DMT e 0,21
mg/mL de HRM, não foi detectada HRL, as amostras foram analisadas por cromatografia
em fase gasosa/espectrometria de massas (GC/MS). Cada sujeito realizou duas sessões de
fMRI. Na primeira sessão, os sujeitos foram escaneados antes da ingestão de Ayahuasca e,
imediatamente após a primeira varredura, os indivíduos tomaram o chá. Para estimar o
curso das mudanças psicológicas associadas à ingestão de Ayahuasca, foram aplicadas
duas escalas psiquiátricas, em intervalos de 0, 40, 80 e 200 minutos após a ingestão de
Ayahuasca: a Brief Psychiatric Ratings Scale (BPRS), para detectar sintomas psicóticos, e a
Young Mania Rating Scale (YMRS), para medir os sintomas da mania. Áreas
estatisticamente significantes de aumento do sinal BOLD [q (FDR) <0,05] compreenderam,
segundo as áreas de Brodmann (1909) (BA): precuneus bilateral (BA7, 18, 19, 31), cuneus
(BA17, 18, 19, 30), giro lingual (BA17, 18, 19, 30), giro fusiforme (BA19 e 37), giro occipital
médio (BA18, 19, 37), giro parahipocampal (BA30), giro cingulado posterior (BA23, 29, 30,
31), giro temporal superior (BA22 e 42), giro frontal superior e médio (BA8, 9, 10, 47) e
giro frontal inferior (BA47). Modulação estatisticamente significante também foi
detectada bilateralmente no giro parahipocampal (BA30), no córtex temporal médio
(BA37) e no córtex frontal (BA10). Os resultados mostram uma resposta consistente e
esperada em centros de idiomas expressivos, como a área de Broca (BA44). Os resultados
da análise de conectividade indicam que a ingestão de Ayahuasca altera fortemente as
relações fronto-occipitais, produzindo mudanças marcantes na ordenação temporal dos
eventos, em várias regiões do cérebro. Em particular, a ingestão de Ayahuasca é
acompanhada por uma capacidade aumentada de BA17 para liderar outras áreas corticais
durante as imagens. A prevalência funcional e a precedência temporal do BA17 durante as
imagens pós-Ayahuasca sugerem que as visões causadas pela ingestão da Ayahuasca são
robustas, mesmo com os olhos fechados, e podem de fato iniciar-se no córtex visual
primário.
Meneguetti e Meneguetti (2014) realizaram uma revisão bibliográfica,
descrevendo os benefícios à saúde humana ocasionada pela ingestão do chá Ayahuasca,
assinalando-o como um instrumento promissor para o tratamento de diversas
enfermidades e dependências químicas. Os autores também constataram que o chá traz
benefícios para seus usuários no contexto social e em sua ação neuropsicológica,
67

fisioimunológica, microbiológica e parasitária. No contexto social, foi verificado, em vários


estudos, que dependentes do álcool abandonaram o vício por livre e espontânea vontade
e não por obrigação, e não trocaram o álcool por outra droga. Outros resultados
promissores encontrados são o abandono do uso de nicotina, cocaína, anfetamina e
outros entorpecentes. Segundo os adeptos dessas religiões que utilizam a bebida, ela atua
na elevação da consciência, despertando a capacidade de perceber que existe a
necessidade do que chamam de “libertação para o alcance do estado de equilíbrio” e
busca de melhora por intermédio de caminhos saudáveis e totalmente lícitos.
Um estudo conduzido por Schenberg et al. (2015), com 20 voluntários saudáveis (8
mulheres e 12 homens), empregando uma combinação de registros de
eletroencefalograma (EEG) e quantificação dos compostos da Ayahuasca e seus
metabólitos na circulação sistêmica, verificou que a Ayahuasca induz um efeito bifásico no
cérebro. Esse efeito foi composto de potência reduzida na banda alfa (8–13 Hz), após 50
minutos da ingestão da infusão, e aumento da potência gama lenta e rápida (30–50 e 50–
100 Hz, respectivamente), entre 75 e 125 minutos. As reduções de potência alfa
localizaram-se principalmente no córtex parieto-occipital esquerdo, por sua vez, o
aumento de potência gama lenta foi observado nos córtices esquerdo centro-parieto-
occipital, fronto-temporal esquerdo e frontal direito, enquanto os aumentos de gama
rápida foram significativos à esquerda centro-parieto-occipital, córtex fronto-temporal
esquerdo, frontal direito e parieto-occipital direito. Esses efeitos foram significativamente
associados aos níveis circulantes de compostos químicos da Ayahuasca, principalmente
DMT, HRM, HRL e THH e alguns dos seus metabolitos. Esses dados possibilitaram
demonstrar a abrangente farmacologia da Ayahuasca e seus efeitos cognitivos, afetivos e
emocionais, relevantes para estudos sobre seus potenciais terapêuticos, incluindo o
tratamento da depressão, da ansiedade, do transtorno de estresse pós-traumático e da
dependência de drogas.
Palhano-Fontes et al. (2019) realizaram um estudo para testar os efeitos
antidepressivos da Ayahuasca, em um ensaio clínico randomizado duplo-cego, controlado
com placebo, em pacientes com depressão maior resistente ao tratamento. Vinte e nove
pacientes com depressão maior resistente ao tratamento receberam uma dose única de
Ayahuasca ou placebo. Foram avaliadas as alterações na gravidade da depressão com a
escala de classificação de depressão de Montgomery-Asberg Depression Rating Scale
68

(MADRS) e a escala de avaliação de depressão de Hamilton Depression Rating Scale (HAM-


D), e as taxas de respostas de dia um (D1), dia dois (D2) e dia sete (D7) após a dosagem, e
as taxas de remissão em D7. Foram observados efeitos antidepressivos significativos da
Ayahuasca quando comparados com o placebo em todos os momentos. Os escores do
MADRS foram significativamente menores no grupo da Ayahuasca, em comparação ao
placebo nos D1 e D2 (p = 0,04) e no D7 (p <0,0001). Os tamanhos de efeito entre grupos
aumentaram de D1 para D7 (D1: d de Cohen = 0,84; D2: d de Cohen = 0,84; D7: d de
Cohen = 1,49). As taxas de resposta foram altas nos dois grupos, no D1 e D2, e
significativamente mais altas no grupo da Ayahuasca no D7 (64% vs. 27%; p = 0,04). A taxa
de remissão mostrou uma tendência de significância em D7 (36% vs. 7%, p = 0,054). Esse é
o primeiro estudo controlado a testar uma substância psicodélica na depressão resistente
ao tratamento. No geral, esse estudo traz novas evidências que apoiam o valor
terapêutico e de segurança da Ayahuasca para ajudar a tratar a depressão, quando
administrado em um ambiente apropriado.
Em uma revisão bibliográfica realizada por De Assis, Faria e Lins (2014), entre 2000
e 2010, sobre o bem-estar subjetivo dos adeptos do uso do chá Ayahuasca, foram
selecionados estudos que tratam da beberagem do chá nos rituais que envolvem a
Ayahuasca e a percepção desses sujeitos em relação a esses elementos psicossociais. Na
literatura, foram encontrados elementos que levaram à formulação das seguintes
categorias: Autoconhecimento; Tratamento da Dependência; Domínio de si e do ambiente
e Relações Sociais. Nos relatos verbais coletados em campo foram identificadas as
seguintes categorias: Tratamento/Prevenção da Dependência Química; Sentido de vida;
Crescimento pessoal; Relações Sociais Positivas e suas subcategorias, Relações de
Amizades e Trabalho e Relações familiares; Aprimoramento da Cognição;
Autoconhecimento; Autonomia e Religiosidade. Essas categorias foram defendidas como
mudanças em decorrência do consumo do chá e percebidas pelos sujeitos como melhorias
na sua qualidade de vida.

2.1.11 Efeitos adversos da Ayahuasca

A bebida Ayahuasca é um composto complexo com propriedades psicodislépticas,


cujas bases farmacológicas e neuroquímicas são intricadas e, de modo geral, ainda pouco
69

conhecidas (CALLAWAY et al., 1999; DOS SANTOS, 2007; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE,
2010; RUFFELL et al., 2020).
Nos EUA, em Centros de Controle de Venenos, foram registradas 538 ligações
telefônicas, em um período de 10 anos (2005 a 2015), para denúncias de exposições à
bebida Ayahuasca. A maioria das chamadas foram de unidades de saúde (83%), 11%
envolveram pacientes internados em enfermarias e 17% pacientes internados em unidade
de terapia intensiva. Cinco por cento dos pacientes necessitaram de intubação
endotraqueal, 2% tiveram convulsões e 2% tiveram parada cardiorrespiratória. Nenhuma
informação adicional foi disponibilizada sobre a dosagem da bebida Ayahuasca, uso
concomitantes de medicamentos ou uso de drogas ilícitas, consequentemente, não foi
possível atribuir causalidade a bebida Ayahuasca (FU; MORALES; CABADA, 2021).
A DMT presente na bebida Ayahuasca aumenta rapidamente os batimentos
cardíacos, bem como a pressão arterial, tanto a sistólica quanto a diastólica. Assim como
as β-carbolinas (HRM, HRL e THH) contribuem para o aumento da quantidade de 5-HT na
fenda sináptica, o acúmulo excessivo destas pode produzir uma série de reações adversas,
como efeitos eméticos, diarreicos, tremores, sudoreses, instabilidade autonômica,
hipertermia, espasmos musculares, alterações na pressão sanguínea, perda do controle
motor, desorientação espaço-temporal e, possivelmente, morte (CALLAWAY et al., 1999;
GABLE, 2007) provocada pela síndrome serotoninérgica, que é caracterizada pelo excesso
de estimulação dos receptores de 5-HT, principalmente os receptores 5-HT1A e 5-HT2A no
sistema nervoso periférico e central (MACHADO et al., 2020).
As reações fisiológicas provocadas pela bebida Ayahuasca são tratadas como
“naturais” dentro do contexto ritual, a simbologia do vômito e da diarreia está associada à
limpeza corporal e espiritual (purificação), e muitas vezes é denominada, entre os
daimistas, “peia do Daime” (ANDERSON et al., 2012; LABATE; PACHECO, 2011, p. 78;
MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 161, WOLFF, 2020, p. 59). As reações adversas do uso da
bebida Ayahuasca podem causar efeitos fisiológicos ainda mais graves no organismo,
como desidratação e descompensação eletrolítica, agravamento este ainda mais sério em
crianças que também usam a bebida Ayahuasca (COSTA; FIGUEIREDO; CAZENAVE, 2005).
Efeitos colaterais, como desconforto físico ou dor crônica, podem ser exacerbados pela
Ayahuasca (CALLAWAY et al., 1999; GABLE, 2007).
70

Frecska (2011, p. 155) afirma que, embora existam complicações fisiológicas


causadas pela ingestão da bebida Ayahuasca, mesmo que mínimas e solucionadas por
meio de dieta e preparação adequadas, há preocupações de que ela possa representar
riscos psicológicos. A adversidade mais provável associada à ingestão dessa bebida é
comumentemente conhecida como "má viagem". Os efeitos angustiantes de um
alucinógeno podem ser experimentados em uma variedade de modalidades: visões
assustadoras, hiperconsciência desagradável dos processos corporais, sensação de
paralisia, pensamentos ou emoções perturbadoras sobre a vida de alguém e
preocupações sobre as forças do mal (CEMIN, 2002, p. 349; STRASSMAN, 1984). Em
indivíduos despreparados ou em situações não controladas, por exemplo, fora do
contexto ritual religioso, os sintomas descritos acima podem assumir a forma de
intoxicação aguda por drogas alucinógenas, que se manifesta em paranoia, confusão,
medo da morte e autocontrole desordenado (FRECSKA, 2011, p. 155).

2.1.11.1 Interações entre medicamentos antidepressivos e o uso da Ayahuasca

O uso da bebida Ayahuasca associado a algumas classes de medicamentos pode


causar a síndrome serotoninérgica e, quando combinada ao consumo de alguns alimentos,
pode provocar a elevação da pressão arterial. Os sintomas que caracterizam a síndrome
serotoninérgica são, geralmente, euforia inicial, seguidos por tremores, convulsões e
perda de consciência, os quais podem resultar em morte (CALLAWAY, 1994; FRECSKA,
2011, p. 161; MACHADO et al., 2020).
A síndrome serotoninérgica é o efeito mais grave provocado pelo uso da bebida
Ayahuasca, quando em associação ao uso de medicamentos antidepressivos da classe dos
Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), pois a dupla inibição da
recaptação da 5-HT, tanto pelo ISRS quanto pela ß-carbolina THH, causa o aumento dos
níveis de 5-HT na fenda sináptica e nos órgãos corporais (FRECSKA, 2011, p. 161;
MCKENNA; CALLAWAY; GROB, 1998; MACHADO et al., 2020; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE,
2010). As ß-carbolinas presentes na bebida Ayahuasca também mantêm um potencial de
interação adversa com substâncias estimulantes do SNC, como, anfetaminas, 3,4-
metilenodioximetanfetamina (MDMA) e metilfenidato (CALLAWAY; GROB, 1998).
71

As ß-carbolinas presentes na bebida Ayahuasca são potentes inibidoras da MAO, e,


associadas a uma dieta rica em tiramina, podem causar crises de hipertensão (CALLAWAY,
1994; CALLAWAY; GROB, 1998; MACRAE, 1992, p. 90; RUFFELL et al., 2020). Para melhor
compreensão desse fenômeno é importante verificar as possíveis reações adversas do uso
de medicamentos antidepressivos inibidores irreversíveis da MAO (IMAO), associados ao
consumo de alimentos ricos em tiramina (carne, frango e peixes secos, envelhecidos,
defumados, fermentados, feijões em fava, queijos envelhecidos, chope, cervejas não
pasteurizadas e produtos de soja/tofu), resultando em crises de hipertensão (STAHL,
2013, p. 387). Stahl (2013, p. 387) explica que a ação da tiramina eleva a pressão arterial
por ser uma potente liberadora de noradrenalina (NA). Normalmente, a NA não se
acumula em níveis perigosos no organismo, devido, em parte, à destruição eficiente da NA
pela MAO-A, após sua liberação durante a neurotransmissão. Não há, assim,
vasoconstrição nem elevação da pressão arterial por não haver estimulação excessiva dos
receptores alpha 1 pós-sinápticos ou de outros receptores adrenérgicos. Ao serem
ingeridos alimentos ricos em tiramina, a MAO-A que está presente na parede intestinal
entra em ação, destruindo, com segurança, a tiramina, antes de esta ser absorvida, ou
seja, a MAO-A intestinal destrói a tiramina absorvida e, ainda que alguma tiramina alcance
os neurônios simpáticos noradrenérgicos, a MAO-A existente nesse sistema destrói
qualquer NA sináptica que essa tiramina venha a liberar. O corpo tem, portanto, enorme
capacidade de processar a tiramina, e o indivíduo é capaz de lidar com cerca de 400 mg de
tiramina ingerida antes que a pressão arterial possa aumentar. Uma refeição rica em
tiramina, ao contrário, inclui apenas cerca de 40 mg. Entretanto, quando a MAO-A é
inibida (IMAO), a capacidade do organismo de lidar com a tiramina da dieta fica muita
reduzida, e uma refeição rica em tiramina é suficiente para elevar a pressão arterial
quando quantidade substancial da MAO-A é inibida de maneira irreversível. Algumas
elevações de pressão arterial podem ser muito grandes, súbitas e dramáticas, acarretando
a crise hipertensiva, que, em raras ocasiões, pode produzir hemorragias intracerebrais ou
mesmo óbito (STAHL, 2013, p. 387).
É importante ressaltar que as ß-carbolinas presentes na bebida Ayahuasca são
potentes e eficazes inibidoras da MAO, no entanto, são inibidoras reversíveis dessa
enzima, o que significa que são prontamente deslocadas por monoaminas presentes na
dieta ou pela 5-HT endógena, algumas horas após sua ingestão (KIM; SABLIN; RAMSAY,
72

1997). Assim, a combinação da bebida Ayahuasca com medicação antidepressiva IMAO e


dieta rica em tiramina pode ser bastante perigosa ao indivíduo, similar à combinação de
duas classes de medicações antidepressivas ISRS e IMAO associada à bebida Ayahuasca
(CALLAWAY; GROB, 1998; FRECSKA, 2011, p. 161; MACHADO et al., 2020; RUFFELL et al.,
2020).

2.1.11.2 Relatos de reações psiquiátricas adversas associadas ao uso da Ayahuasca

Na literatura, existem poucos relatos sobre casos de reações psiquiátricas adversas


associadas ao uso da Ayahuasca. O desencadeamento de uma reação ou distúrbio
psicótico prolongado, associado à ingestão da Ayahuasca e de outros alucinógenos, deve
ser motivo de preocupação. Estudos recentes mostraram que os psicodislépticos podem
precipitar distúrbios psicóticos, mesmo em ambientes de uso controlado, como é o caso
do uso ritual da Ayahuasca (DOS SANTOS et al., 2016; DOS SANTOS; STRASSMAN, 2011, p.
97; GABLE, 2007; LIMA; TÓFOLI, 2011, p. 185; SZMULEWICZ, VALERIO; SMITH, 2015).
Não há evidências de que a administração aguda de Ayahuasca em ambientes
controlados esteja associada a reações psicóticas prolongadas (DOS SANTOS et al., 2016;
DOS SANTOS; BOUSO; HALLAK, 2017; ORSOLINI et al., 2020; OSÓRIO et al., 2015; RIBA et
al., 2001; RIBA et al., 2003; SANCHES et al., 2016).
Gable (2007) descreveu entre 13 e 24 casos em que o uso da bebida Ayahuasca foi
associado a incidente psicótico indefinido, durante o período de cinco anos, a partir de
uma estimativa cumulativa de 25.000 sessões na UDV, correspondendo uma taxa inferior
a 0,1% (0,052% – 0,096%).
Dos Santos e Strassman (2011, p. 97) relataram um caso de um indivíduo do sexo
masculino, de 21 anos, que sofreu dois episódios psicóticos paranoicos, separados por um
ano, durante e após a participação em rituais que utilizaram a bebida Ayahuasca. O
indivíduo não apresentava sintomas psicóticos prévios, ou histórico familiar de psicose,
porém fez uso de outros alucinógenos (LSD e psilocibina) em diversas ocasiões, relatou ser
usuário de Cannabis quase diariamente nos seis anos anteriores aos episódios psicóticos.
Ele participou de rituais de Ayahuasca por cerca de dois anos, às vezes, usando Cannabis
simultaneamente. Durante um ritual de Ayahuasca, ele combinou seu uso com Cannabis e
experimentou pensamentos paranoicos e suicidas, que o levaram a se cortar
73

superficialmente com um objeto afiado. Os sintomas psicóticos persistiram durante


algumas semanas, sendo resolvidos após o tratamento com uso de medicamento
antipsicótico (6 mg/dia). Após o tratamento, ele retomou a participação nos rituais de
Ayahuasca, mas novamente ocorreram pensamentos paranoicos e ideação suicida, que
persistiram por algumas semanas, então, foi realizado novo tratamento com
antipsicóticos. Embora esse caso esteja associado à ingestão de Ayahuasca, é difícil
estabelecer uma relação causal direta entre Ayahuasca e o surgimento de sintomas
psicóticos devido ao uso simultâneo de Cannabis. Por outro lado, o indivíduo usava
Cannabis e outros alucinógenos, incluindo a bebida Ayahuasca, há anos, sem apresentar
reações adversas importantes, sugerindo que ele estava adaptado a essas substâncias.
Portanto não está claro por qual razão o jovem sofreu uma reação psicótica naquele ritual
em particular.
Lima e Tófoli (2011, p. 185) relataram, a partir do Sistema de Monitoramento
Psiquiátrico organizado pelo Departamento Médico Científico (DEMEC) da UDV, a
ocorrência de 29 casos com características psicóticas, possivelmente associadas ao uso da
bebida Ayahuasca, entre 1994 a 2007. No entanto, uma avaliação mais minuciosa dos
casos mostrou que em apenas 19 deles parecia ser a bebida Ayahuasca o principal fator
disparador da psicose. Porém mesmo nesses casos uma análise de fatores de
personalidade pré-mórbidos revelou aspectos ou características que também poderiam
estar associados à ocorrência de um comportamento psicótico.
Szmulewicz, Valerio e Smith (2015) relataram um caso de um homem adulto, de
nacionalidade argentina, com 30 anos de idade, que desenvolveu um episódio maníaco
após se envolver em um ritual de consumo da bebida Ayahuasca durante quatro dias. Dois
dias após o último consumo, ele começou a ter ideias delirantes místicas e paranoicas,
alucinações auditivas, pensamentos acelerados, comportamento desorganizado, energia
elevada e euforia. Os sintomas psicóticos eram consistentes com seu humor eufórico. Ele
foi levado para um hospital psiquiátrico, onde recebeu medicamentos antipsicóticos (2
mg/dia) e do tipo benzodiazepínico (2 mg/dia). É importante ressaltar que o indivíduo
tinha um histórico clínico, incluindo um episódio anterior de hipomania, e seu progenitor
tinha diagnóstico de transtorno afetivo bipolar do tipo I. Assim, o uso da bebida
Ayahuasca pode ser contraindicado para pessoas com distúrbios bipolares.
74

Um caso grave envolvendo o uso da bebida Ayahuasca, no Brasil, foi o assassinato


de Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, mortos a tiros, em sua casa em Osasco, no
subúrbio de São Paulo, em 12 de março de 2010. Glauco, 53 anos, era um dos cartunistas
mais conhecidos do Brasil, além de dirigente da igreja Céu de Maria, filiada à doutrina do
Santo Daime. Um jovem de 24 anos de idade, de família de classe alta, que havia se
juntado aos rituais religiosos em busca de alívio e cura por seus problemas de abuso de
drogas, foi o responsável pelo assassinato, conhecido como Cadu. Depois que o assassino
foi capturado pela polícia, enquanto tentava fugir para o Paraguai, disse aos repórteres de
televisão que ele queria sequestrar o cartunista para provar à sua família que seu irmão
mais novo era, de fato, Jesus Cristo. O que motivou o sequestro era evitar sua internação
compulsória em uma clínica psiquiátrica pela sua família. O pai e o advogado de Cadu
alegaram que a mãe dele era esquizofrênica, e que ele havia ficado "psicótico" depois de
se juntar aos rituais daimistas de Glauco. No entanto a viúva de Glauco relata que antes
do assassinato, Cadu, com exceção de uma visita, não participava de um ritual de
consumo da bebida Ayahuasca há dois anos, “isso é fundamental”, disse ela. Algum tempo
depois, Cadu foi acusado de atirar em outra pessoa, um estudante de 21 anos, enquanto
tentava roubar seu carro. Desta vez, contudo, a cobertura da imprensa se concentrou nas
falhas do sistema judiciário e de saúde do Brasil, e não no exotismo de uma seita religiosa.
Afinal, três assassinatos em cinco anos foram mais que uma coincidência, "eu avisei a
todos que Cadu era louco e isso poderia acontecer novamente", disse a viúva de Glauco
(LABATE et al., 2010; RATHBONE, 2015).
Dos Santos et al. (2016) relatam que a incidência de reações psiquiátricas adversas
entre usuários de Ayahuasca é rara e, às vezes, difícil de estabelecer relação causal com a
bebida Ayahuasca. Além disso, plantas de misturas complexas podem induzir reações
psicóticas, por exemplo, a Brugmansia (solanaceae), que contém atropina e
escopolamina, também conhecida popularmente como trombeteira, zabumba, saia
branca, lírio, véu de noiva, as quais possuem propriedades farmacológicas anticolinérgicas
(CARLINI, 2003). Ademais, algumas igrejas do Santo Daime podem usar Cannabis (Santa
Maria) como sacramento em seus rituais, especialmente na Europa, onde as leis sobre o
uso de Cannabis são mais permissivas. No Brasil, é proibido oficialmente o uso de
Cannabis nos rituais do Santo Daime desde 1980, por se tratar de uma substância ilegal
(DOS SANTOS, 2011, p. 88).
75

A posição atual do ICEFLU (2020) é adotar medidas ainda mais exigentes para
aprimorar os mecanismos de triagem e garantir que eles possam ser cumpridos por todas
as igrejas filiadas, o que pressupõe a preparação e a capacitação de pessoal especializado
para manejar entrevistas, anamneses e identificar casos suspeitos e problemáticos,
melhorando os mecanismos de recepção de indivíduos que busquem as igrejas daimistas.
Mesmo no caso das pessoas consideradas aptas para participar das cerimônias religiosas
regularmente, depois de passar pelas entrevistas e trabalho de apresentação, tem-se um
rígido controle sobre as doses do sacramento (bebida Ayahuasca) que são indicadas para
cada tipo de trabalho, dependendo do grau e concentração do mesmo.

2.1.11.3 Comércio ilegal da Ayahuasca e turismo xamânico

Outro ponto importante sobre os riscos de uso da bebida Ayahuasca fora do


contexto religioso ou recreativo é a comercialização ilegal dessa substância. Vale ressaltar
que o CONAD proíbe a comercialização da bebida Ayahuasca ou dos seus componentes,
assim como o turismo com fins lucrativos e a propaganda sensacionalista ou com falsidade
ideológica. No Relatório final do Grupo Multidisciplinar de Trabalho – Ayahuasca (SILVEIRA
et al., 2006), tópico IV.VI – Uso terapêutico (item nº 38), ficou determinado que:

38. Qualquer prática que implique utilização de Ayahuasca com fins


estritamente terapêuticos, quer seja da substância exclusivamente, quer seja de
sua associação com outras substâncias ou práticas terapêuticas, deve ser
vedada, até que se comprove sua eficiência por meio de pesquisas científicas
realizadas por centros de pesquisa vinculados a instituições acadêmicas,
obedecendo às metodologias científicas. Desse modo, o reconhecimento da
legitimidade do uso terapêutico da Ayahuasca somente se dará após a conclusão
de pesquisas que a comprovem.

Labate (2005, p. 442) discute as consequências do consumo da Ayahuasca fora do


contexto ritual, tanto no Brasil quanto no exterior. Atualmente, no Brasil, é fácil o acesso
para se adquirir a bebida pela internet, por exemplo, no Mercado Livre existem diversas
ofertas cujo valor varia entre 500,00 a 1.200,00 reais o litro de “chá Santo Daime
Amazônia”, no entanto não se sabe a procedência dessa bebida nem do material utilizado
em sua confecção. No exterior também é possível adquirir pela internet: cipó, rapas de
cipó, folhas de rainha desidratadas, pó das folhas, e até um “pack” de ervas com a
76

seguinte descrição “Este pacote de ervas contém os ingredientes mais importantes para
criar sua própria bebida xamânica de Ayahuasca”. O valor desses ingredientes varia de 16
a 180 dólares, em um site hospedado em Amsterdam, Holanda. Sites como este estão
disseminados pela internet (FU; MORALES; CABADA, 2021).
O turismo xamânico é outro modo de se experimentar a bebida Ayahuasca, no
Peru, na Colômbia e no Brasil (FU; MORALES; CABADA, 2021; WOLFF, 2020). Wolff (2020,
p. 11) relata que, desde a década de 1980, o turismo-Ayahuasca tem se desenvolvido no
Peru, tornando-se um negócio profissional nos últimos 20 anos, devido à demanda
ocidental por ideias e orientações pessoais, catarse emocional, revelação e epifania
espiritual, cura psicossomática e "experiência aventureira". Outro ponto importante do
turismo ocidental da Ayahuasca fica na cidade de Iquitos, localizada na selva do norte do
Peru. Atualmente, aparecem cada vez mais “centros de cura” e lojas que atendem
principalmente viajantes urbanos e ocidentais e oferecem seus rituais de Ayahuasca na
internet. Muitas vezes, é oferecida uma combinação de Ayahuasca-xamanismo e outras
atividades, como visitas a comunidades locais, palestras e seminários mais detalhados
sobre Ayahuasca. Pousadas profissionais geralmente oferecem acomodações com tudo
incluso, e os xamãs que administram esses centros são oriundos de grupos nativos de
diferentes tradições (WOLFF, 2020, p. 11).
Entre as clínicas e “spas” que oferecem sessões de consumo da bebida Ayahuasca,
variam desde luxuosos hotéis, localizados na Amazônia, até cabanas isoladas, onde o
participante pode se submeter a duras e realísticas dietas de iniciação, todas as
modalidades são acompanhadas por curandeiros especializados para esse fim (LABATE,
2005, p. 442). Essas práticas podem promover o uso indiscriminado ou recreativo da
bebida Ayahuasca e facilitar a sua utilização por grupos mais amplos da população, que
ficam expostos a riscos (FU; MORALES; CABADA, 2021; LABATE, 2005, p. 442; TUPPER,
2008). Santos e Carlini (1983), baseados em um estudo com animais, verificaram que
indivíduos carentes de sono podem ter uma sensibilidade ligeiramente aumentada em
relação à síndrome serotoninérgica, chamando a atenção para um fator de risco entre os
“turistas da Ayahuasca”, os quais, devido a voos longos em vários fusos horários, ficam
mais suscetíveis a essa síndrome.
Problemas relacionados ao uso da Ayahuasca fora do contexto religioso ainda são
desconhecidos, dados os poucos casos notificados frente ao grande número de doses
77

consumidas desde a “globalização” dessa decocção amazônica (FRECSKA, 2011, p. 164;


RUFFELL et al., 2020).

2.2 Cognição e seus componentes

A etimologia da palavra cognição vem do latim: cognitio.onis, que significa ação de


conhecer. Cognição, de acordo com Houaiss (2009, p. 489), dicionário da língua
portuguesa, é o ato ou efeito de conhecer; o conjunto de unidades de saber da
consciência, que se baseiam em experiências sensoriais, representações, pensamentos e
lembranças; uma série de características funcionais e estruturais da representação ligadas
a um saber referente a um dado objeto; um dos três tipos de função mental [as funções
mentais se dividem em afeto, cognição e volição].
As neurociências estudam o SNC e as redes interconectadas de neurônios, circuitos
complexos que originam a atividade mental. O campo das neurociências de sistemas tem
o objetivo de entender como essas redes dão origem às funções cognitivas do encéfalo. A
moderna ciência da mente é o resultado pragmático da tentativa de fusão da ciência
neural com a psicologia cognitiva. Nesse sentido, é possível observar as propriedades de
sistemas do encéfalo, não só em modelos animais, mas também em experimentos
comportamentais controlados em pessoas conscientes. Assim, a ciência neural é capaz de
investigar hipóteses que podem ser testadas acerca de como as funções cerebrais levam
aos processos mentais, como percepção, pensamento, tomada de decisões, ações e
comportamento (KANDEL et al., 2014, p. 3).
Diversos autores compreendem cognição como toda e qualquer atividade mental,
como perceber um objeto, resolver um problema, descrever um fato, executada por um
sistema funcional complexo, que compreende várias operações básicas organizadas em
um conjunto dinâmico de regiões cerebrais interconexas, cada região contribuindo
especificamente para o funcionamento do sistema como um todo. Cada atividade mental
requer um conjunto diferente de operações apropriadas para atingir seu objetivo, além de
componentes motivacionais, volitivos e afetivos (DAMASCENO, 2015, p. 128).
Lezak et al. (2012, p. 21) afirmam que a atividade mental, igualmente denominada
cognição, refere-se à recepção, à seleção, à classificação e à interpretação interna ou à
transformação de informações armazenadas pelo indivíduo. Essas informações são
78

adquiridas por meio dos sentidos e são armazenadas na memória, envolvendo,


consequentemente, processos de percepção, atenção, linguagem, memória, bem como
comportamentos físicos e emocionais. Nesse sentido, a autora e seus colaboradores
propuseram quatro funções cognitivas principais que compõem uma classe diferente de
comportamento, embora trabalhem em conjunto, são elas: (1) funções receptivas que
envolvem habilidades de selecionar, adquirir, classificar e integrar informações por meio
da sensopercepção e da memória, ou seja, impressões sensoriais são integradas em
informações significativas; (2) armazenamento e evocação da informação se referem aos
processos de aprendizagem e memória; (3) organização mental e reorganização da
informação ficam a cargo do raciocínio, e, por último, (4) as funções expressivas, por
exemplo, a fala, o desenho e a escrita, a manipulação, o gestual, as expressões faciais ou
movimentos, referem-se à maneira como a informação é comunicada ou executada, ou
seja, resultando em atividade mental.
Para entendimento do funcionamento cognitivo é importante compreender a
divisão das várias fases de desenvolvimento do ser humano que ocorrem ao longo da vida.
De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 40), os principais desenvolvimentos típicos são
divididos em oito períodos do desenvolvimento humano, são eles: período pré-natal (da
concepção ao nascimento); primeira infância (0 aos 3 anos); segunda infância (3 aos 6
anos); terceira infância (6 aos 11 anos); adolescência (11 aos aproximadamente 20 anos);
vida adulta (20 aos 40 anos); vida adulta intermediária (40 aos 65) e vida adulta tardia (65
anos em diante). Cada ciclo do desenvolvimento humano representa um período ímpar,
tanto neurobiologicamente quanto em respostas comportamentais e emocionais
adequadas ao contexto, que dependem diretamente dos processos cognitivos (FUENTES
et al., 2018, p. 229).
A seguir, serão apresentados os componentes da inteligência, da memória, das
habilidades visuoespaciais, da rede de modo padrão e das funções executivas.

2.2.1 Inteligência

A etimologia da palavra inteligência, do latim intelligentia,ae, significa


entendimento, conhecimento. Conforme Houaiss (2009, p. 1094), dicionário da língua
portuguesa, inteligência é a faculdade de conhecer, compreender e aprender; é a
79

capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de se adaptar a


novas situações; conjunto de funções psíquicas e psicofisiológicas que contribuem para o
conhecimento, para a compreensão da natureza das coisas e do significado dos fatos;
modo de interpretar, de julgar; interpretação, juízo.
A inteligência é um dos construtos mais pesquisados na Psicologia e se tornou um
dos empreendimentos mais exitosos da psicologia contemporânea (LAROS et al., 2014, p.
17).
Lezak et al. (2012, p. 22) relatam que, ao longo da história, a inteligência,
frequentemente, era atribuída a uma única função cognitiva. Os primeiros pesquisadores
trataram o conceito de inteligência como se fosse uma variável única, semelhante à força
física que, regularmente, aumentava sua quantidade durante o desenvolvimento normal
da infância.
Não há consenso em Psicologia sobre a natureza, a definição e o nível de análise
nas investigações relacionadas ao conceito de inteligência (PRIMI, 2002). Alguns teóricos
da inteligência ressaltam, no entanto, que caracterizá-la como independente dos aspectos
culturais e sociais é uma concepção errônea de sua função e significado, e que ela deve
ser concebida de acordo com a visão de mundo dos diferentes grupos culturais (ALMEIDA
et al., 2008, p. 72; ALMEIDA; ROAZZI; SPINILLO, 2012), que traz consigo necessidades e
aspirações que se relacionam a valores e finalidades históricas e sociais (ALMEIDA, 1995;
ALMEIDA et al., 2008, p. 51; DA SILVA, 2003, p. 31).
A inteligência como construto hipotético foi definida por Wechsler, em 1944, como
a “capacidade conjunta ou global do indivíduo para agir com finalidade, pensar
racionalmente e lidar efetivamente com seu meio ambiente” (NASCIMENTO; FIGUEIREDO;
VIDAL, 2014, p. 80), caracterizando-a como um todo, e não apenas em habilidades
específicas. Essa capacidade seria o produto tanto da constituição genética como do
esforço, da motivação, das tendências da personalidade e de experiências
socioeducacionais do indivíduo. A inteligência foi concebida como uma entidade global
evidenciada pela maneira como o indivíduo associa as habilidades específicas e as aplica
na situação prática (FIGUEIREDO; PINHEIRO; NASCIMENTO, 1998).
Os indivíduos se diferenciam nas habilidades de entender ideias complexas, de se
adaptar com eficácia ao ambiente, aprender com a experiência, engajar-se nas várias
formas de raciocínio, superar obstáculos. Embora as diferenças individuais possam ser
80

substanciais, nunca são completamente consistentes, uma vez que o desempenho


intelectual de determinada pessoa pode variar em ocasiões distintas, em domínios
distintos, a se julgar por critérios distintos (MARTELETO, 2009, p. 6).
Acredita-se que cada uma das tarefas cognitivas realizadas pelo indivíduo requeira
algum grau de inteligência. Nesse sentido, a inteligência faz parte da cognição humana e
inclui a capacidade de raciocinar de maneira abstrata, de aprender a partir da experiência,
usando processos metacognitivos para melhorar a aprendizagem e a capacidade de se
adaptar ao ambiente. Ela pode requerer diferentes adaptações em distintos contextos
sociais e culturais (DA SILVA, 2003, p. 51; STERNBERG; STERNBERG, 2016, p. 459).
Laros et al. (2014, p. 17) afirmam que o conceito de inteligência é variável entre os
pesquisadores do tema, assim como os métodos para o estudo das habilidades cognitivas.
Nesse sentido, identificam-se três aspectos ou visões diferentes para se estudar a
inteligência, são eles: (1) enfoque experimental, que se ocupa em compreender como
funciona a inteligência, apoiando-se nas operações do sistema cognitivo, como, atenção,
percepção e abstração; (2) enfoque diferencial, que se interessa por identificar as aptidões
e habilidades cognitivas que constituem a causa das diferenças individuais no que se
refere ao rendimento cognitivo. As teorias psicométricas surgem a partir desse enfoque
de estudo empírico da inteligência; e, por último, (3) enfoque evolutivo, que enfatiza
como se constitui a inteligência em função do processo de crescimento e de
desenvolvimento ontogenético.
A hipótese fundamental dos modelos psicométricos da inteligência é baseada na
premissa do desempenho dos indivíduos nos testes de inteligência atribuído às
habilidades mentais, variáveis latentes. Em tese, os indivíduos são capazes de emitir
comportamentos e resolver as tarefas envolvidas em determinado teste, porque possuem
um arsenal de habilidades mentais que causam e sustentam esses comportamentos.
Nesse sentido, no modelo psicométrico, ao produzir testes específicos, a proposta é medir
particularmente cada uma das habilidades cognitivas e identificar empiricamente a
pertinência e a evidência de cada uma delas (LAROS et al., 2014, p. 18).
Os fenômenos relacionados ao conceito de inteligência têm sido estudados pela
Psicologia há muito tempo, desde o início do século XX. Supõe-se que, sendo a inteligência
uma capacidade cognitiva, deve ser medida por meio do desempenho do sujeito em
tarefas nas quais demonstre possuir tal capacidade, ou seja, mensurando o desempenho
81

do indivíduo. Sendo assim, os estudos sistemáticos e o entendimento da inteligência


centram-se na análise baseada em diferentes instrumentos de medida de inteligência
(LAROS et al., 2014, p. 18; PRIMI; ALMEIDA, 1998; PRIMI, 2003).
A construção de inteligência formulada pela abordagem psicométrica está apoiada
na análise fatorial, um método estatístico que permite separar ou decompor um
construto, no caso, a inteligência, em muitos fatores ou habilidades hipotéticas que,
supostamente, explicariam as diferenças individuais no desempenho nos testes. A análise
fatorial tem por base estudos de correlação entre os diferentes testes ou subtestes, ou,
ainda, entre as subescalas de um mesmo teste. Essa teoria pode ser ordenada em três
grandes grupos, são eles: (a) os que defendem que toda e qualquer atividade cognitiva é,
sobretudo, manifestação de um fator único ou geral; (b) os que sustentam a existência de
fatores independentes entre si ou fatores de grupo para as várias atividades intelectuais e;
(c) por fim, as posições intermediárias ou conciliatórias que supõem a existência de uma
hierarquia das aptidões humanas, que pode ou não incluir o fator “g”, a inteligência geral
(ALMEIDA et al., 2008, p. 50; DA SILVA, 2003, p. 84; LAROS et al., 2014, p. 20; PRIMI;
ALMEIDA, 1998).
No presente estudo, será utilizado o modelo teórico de inteligência psicométrica.

2.2.2 Memória

A memória é uma das mais complexas funções cognitivas, permitindo ao indivíduo


lembrar-se de experiências passadas, compará-las com experiências atuais e se projetar
em prospecções futuras. São diversas as definições sobre memória na literatura. Para
entender essa função tão complexa, é necessário abordar aspectos biológicos, históricos e
teóricos acerca do tema.

2.2.2.1 Estruturas cerebrais relacionadas à memória

São três as estruturas cerebrais fundamentais para a formação das memórias, a


saber: o lobo temporal, certos núcleos diencefálicos e o prosencéfalo basal. O lobo
temporal medial abriga o hipocampo, uma rede alongada, altamente repetitiva. A
amígdala fica adjacente à extremidade anterior do hipocampo (ver FIGURA 7). Foi
82

sugerido que ela avalie a importância emocional de uma experiência e, portanto, ative o
nível de atividade do hipocampo (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 12).

Figura 7 – Estruturas cerebrais: lobo temporal, amígdala e hipocampo

Fonte: Brain Connection (2020).

2.2.2.2 Tipos de memória

Durante a década de 1960, em um período relativamente curto de tempo, o


estudo sobre memórias em seres humanos ganhou destaque. Nesse sentido, à medida em
que crescia a influência da abordagem cognitiva da psicologia, um equilíbrio de opiniões
convergia da hipótese de um sistema de memória único, baseado nas associações de
estímulo-resposta, para a ideia de que dois, três ou talvez mais sistemas de memória
estivessem envolvidos. Está demonstrado, na Figura 8, o modelo da memória baseada no
processamento da informação, que foi amplamente aceito durante a década de 1960,
sobre os sistemas de memória. Essa visão presumia que a informação entraria a partir do
ambiente e seria processada, em primeiro lugar, pela memória sensorial, depois,
transferida temporariamente para um sistema de memória de curta duração antes de ser
registrada em uma memória de longa duração (BADDELEY, 2011a, p. 18).

Figura 8 – Uma abordagem da memória baseada no processamento da informação

Memória Memória de Memória de


Ambiente
sensorial curta duração longa duração

Fonte: Baddeley (2011a).


83

Uma versão particularmente influente do modelo baseado no processamento da


informação foi proposta por Atkinson e Shiffrin, em 1968 (ver FIGURA 9), denominado
modelo modal da memória, já que representava muitos modelos similares de operação da
memória humana que foram propostos naquele período (GAZZANIGA; HEATHERTON,
2005, p. 217).

Figura 9 – Modelo modal de memória proposto por Atkinson e Shiffrin (1968)

Repetição de manutenção

Memória Memória
Input Memória
de curta de longa
sensorial sensorial Atenção Codificação
duração duração

Recuperação

Fonte: Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 219).

A memória sensorial é breve, as informações sensoriais, como luzes e cheiros,


deixam um traço no sistema nervoso por um breve período de tempo, depois,
desaparecem. A memória sensorial visual também é chamada de memória icônica, assim
como a memória sensorial auditiva é nomeada memória ecoica (BADDELEY, 2011a, p. 19;
GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 217).
Memória de curta duração é um sistema de memória de capacidade limitada, que
mantém as informações na consciência por um breve período de tempo. Ela depende da
atenção para ser transmitida de depósitos sensórios para esse sistema de memória de
curta duração. Também é conhecida como memória imediata, pois não consegue
sustentar informações por mais de 20 segundos, depois desse intervalo, elas
desaparecem, a menos que a informação seja repetida ativamente. É importante salientar
que a memória de curto prazo não está restrita ao material verbal, ela engloba as
informações visuais e espaciais, assim como o olfato e o tato (BADDELEY, 2011b, p. 31;
GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 218).
O conceito inicial de memória de curta duração era o de que se tratava
simplesmente de um tampão em que as informações verbais eram repetidas até serem
armazenadas ou esquecidas. Mas ficou evidente que a memória de curta duração não é
84

um simples sistema de armazenamento, e sim, uma unidade processadora ativa. Essa


unidade tem a capacidade de lidar com múltiplos tipos de informação, como sons,
imagens e ideias. O psicólogo britânico Alan Baddeley e seus colaboradores
desenvolveram um influente modelo de sistema de memória ativo com três componentes
(esboço visuoespacial, alça fonológica e executivo central), que foi denominado memória
de trabalho, a partir do modelo de memória de curta duração proposto por Atkinson e
Shiffrin em 1968 (ver FIGURA 10) (BADDELEY, 2011c, p. 57; GAZZANIGA; HEATHERTON,
2005, p. 221).

Figura 10 – O modelo inicial de memória de trabalho proposto por Baddeley e colaboradores. As setas
duplas servem para representar a transferência paralela de informações para e a partir do esboço, enquanto
as setas simples, o processo de repetição consciente no interior da alça fonológica

Executivo
Esboço central Alça
visuoespacial fonológica

Fonte: Baddeley (2011c, p.57).

A memória de trabalho se fundamenta na suposição de que existe um sistema para


a manutenção e manipulação temporárias de informação, e de que isso é útil na
realização de diversas tarefas. Ou seja, é um sistema de processamento ativo que mantém
as informações “na linha”, para que estas possam ser utilizadas em atividades, como
solução de problemas, raciocínio e compreensão (BADDELEY, 2011c, p. 70; GAZZANIGA;
HEATHERTON, 2005, p. 221).
De acordo com a Figura 11, o modelo modal propõe que a informação entra a
partir do ambiente e é, inicialmente, processada por uma série paralela de sistemas de
memória sensorial temporária de curta duração, incluindo os processos de memória
icônica e ecoica. A partir desse ponto, a informação flui para o armazenamento, por um
curto período que forma uma parte essencial do sistema, não somente alimentando
informações para dentro e para fora do armazenamento por um período, mas também
85

atuando como uma memória de trabalho, responsável por estratégias de seleção e


funcionamento, por repetição consciente e, geralmente, servindo como um espaço
operacional global (BADDELEY, 2011c, p. 54; GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 217).

Figura 11 – O fluxo de informações através dos sistemas de memória, de acordo com a concepção do
modelo modal de Atkinson e Shiffrin

Armazenamento de
Registros sensoriais curta duração
Armazenamento de
Visão Memória de
longa duração
trabalho temporária
Input do Audição Processamento de controle: Armazenamento
ambiente • Repetição permanente da
• Codificação memória
• Decisões
Tato
• Estratégias de evocação

Output (resposta)

Fonte: Baddeley (2011c, p. 54).

Um dos maiores problemas do modelo de três componentes da memória de


trabalho foi explicar como ele se relaciona com a memória de longa duração. Assim, o
episodic buffer foi apresentado como um sistema de armazenamento que consegue reter
em torno de quatro segmentos de informação em um código multidimensional. Devido a
essa capacidade de reter uma gama de dimensões, ele é capaz de agir como uma conexão
entre vários subsistemas da memória de trabalho, bem como de ligar esses subsistemas a
inputs de memória de longa duração e da percepção (BADDELEY, 2011c, p. 69; BADDELEY;
ALLEN; HITCH, 2011).
Baddeley (2011c, p. 70) também propôs que as informações eram recuperadas a
partir do episodic buffer, por meio da consciência consciente. Em sua forma inicial
(BADDELEY, 2000), o episodic buffer foi considerado um sistema ativo, inteiramente
controlado pelo executivo central. Dessa maneira, ele é supostamente capaz de reunir
conceitos previamente não relacionados para criar novas combinações, por exemplo,
combinando conceitos de nado sincronizado na piscina e hipopótamos, para imaginar um
hipopótamo fazendo nado sincronizado. Essa nova representação pode ser manipulada na
memória de trabalho, permitindo que se responda a perguntas, como, que tipo de maiô o
86

hipopótamo iria usar.


Embora Baddeley (2011c, p. 71) afirme que o conceito de episodic buffer ainda
está em desenvolvimento, já existem comprovações da sua utilidade de diversas
maneiras. Em nível teórico, ele cria uma ponte sobre a lacuna entre o modelo de
componentes múltiplos, que enfatiza o armazenamento e os modelos com foco na
atenção, por exemplo. Assim, o conceito de episodic buffer salienta a importante questão
sobre como interagem a memória de trabalho e a memória de longa duração.
A Figura 12 apresenta o atual modelo de memória de trabalho, incluindo o episodic
buffer, no qual existe uma suposta ligação com a memória de longa duração, a partir dos
subsistemas fonológico e visuoespacial, pois uma permite a aquisição da linguagem e a
outra executa uma função similar para as informações visuais e espaciais. A memória de
longa duração é um sistema ou sistemas que servem de base à capacidade de armazenar
informação por longos períodos de tempo e se distingue da memória de curta duração em
dois aspectos fundamentais: duração e capacidade (BADDELEY, 2011c, p. 71; BEAR;
CONNORS; PARADISO, 2008, p. 727; GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 222).

Figura 12 – A versão de Baddeley (2000) da memória de trabalho de componentes múltiplos. As ligações


com a memória de longa duração foram especificadas e um novo componente, o episodic buffer,
acrescentado

Executivo Sistemas fluidos


central
Sistemas cristalizados

Esboço Epsidodic Alça


visuoespacial buffer fonológica

Semântica Memória episódica


Linguagem
visual de longa duração

Fonte: Baddeley (2011c, p. 71).

Na Figura 13, apresenta-se a classificação entre memória explicita, ou declarativa,


e memória implícita, ou não declarativa. A memória explícita se refere a situações que, em
geral, remetem à memória, para recordar, tanto eventos específicos como ter encontrado,
inesperadamente, alguém conhecido durante as férias do último ano, como fatos ou
87

informações sobre o mundo, por exemplo, o significado da palavra casa ou a cor de uma
maçã madura. A memória implícita se refere a situações em que, de alguma forma, o
aprendizado ocorreu, no entanto, refletem-se no desempenho em lugar da lembrança
evidente, por exemplo, andar de bicicleta ou tocar um instrumento (BADDELEY, 2011a, p.
22; CAMMAROTA; BEVILAQUA; IZQUIERDO, 2013, p. 246; GAZZANIGA; HEATHERTON,
2005, p. 224).

Figura 13 – Componentes da memória de longa duração

Memória de longa
duração

Explícita Implícita
(memória (memória não
declaraAva) declarativa)

Memória Memória Condicionamento,


episódica semântica habilidades, etc.

Fonte: Baddeley (2011a, p. 22).

A memória explícita pode ser classificada em duas categorias, memória semântica


e episódica. A semântica é um sistema que se supõe armazenar conhecimentos sobre o
mundo, conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Ela vai além do simples
conhecimento do significado das palavras e se estende a atributos sensoriais, como a cor
do abacate e o sabor de uma jaca. Também inclui o conhecimento geral sobre o
funcionamento da sociedade, o que fazer quando se entra em um cinema ou como
reservar um assento no teatro (BADDELEY, 2011a, p. 23; CAMMAROTA; BEVILAQUA;
IZQUIERDO, 2013, p. 245; GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 224).
A memória episódica é um sistema que se supõe servir de base à capacidade de
relembrar eventos específicos ou experiências passadas. Essa memória é limitada a
situações em que efetivamente se revive algum aspecto do episódio original, por exemplo,
lembrar-se de como ficou feliz por ter sido aprovado no exame final da faculdade
88

(BADDELEY, 2011a, p. 23; CAMMAROTA; BEVILAQUA; IZQUIERDO, 2013, p. 246;


GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 225).
A memória implícita, por sua vez, é o processo pelo qual as pessoas mostram uma
intensificação de memória, em geral, pelo comportamento, sem esforço aparente e sem
qualquer consciência de estar se lembrando de algo. A memória implícita está
disseminada em todas as experiências cotidianas, como pentear os cabelos, amarrar os
sapatos e lembrar como ir ao supermercado. Essa memória, também conhecida como
memória de procedimento, ou memória motora, envolve habilidades motoras, hábitos e
outros comportamentos que se empregam para atingir objetivos, tais como coordenar
movimentos musculares para andar de bicicleta ou seguir as regras de trânsito ao dirigir.
As pessoas são influenciadas pela memória implícita de maneira sutil, muitas das atitudes
em relação aos objetos que as rodeiam são formados por meio de aprendizagem implícita
(BADDELEY, 2011a, p. 24; CAMMAROTA; BEVILAQUA; IZQUIERDO, 2013, p. 246;
GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 225).

2.2.2.3 O papel do receptor 5-HT2A na memória e cognição

Os receptores 5-HT2A da serotonina estão amplamente distribuídos no SNC,


especialmente na região do encéfalo medial anterior, e desempenham um papel
fundamental na memória e na cognição (CAPELA; CARVALHO, 2017, p. 181; ZHANG;
STACKMAN JR, 2015).
A 5-HT é produzida no cérebro dos mamíferos a partir do aminoácido triptofano,
presente nos neurônios dos núcleos da rafe, que se projetam para diversas áreas do SNC
(FONSECA, 2021, p. 42). Os neurônios serotoninérgicos recebem numerosas fibras
aferentes, tanto dos próprios produtores de 5-HT como de outros neurônios não
serotoninérgicos. Foram identificadas fibras aferentes contendo 5-HT, noradrenalina,
dopamina, acetilcolina, ácido gama-aminobutírico (GABA), substância P ou neurotensina.
Essas fibras aferentes provêm de numerosos locais do SNC e formam uma complexa rede
de terminais aferentes e eferentes, oferecendo uma ideia acerca da complexidade e da
importância do sistema produtor de 5-HT nas mais diversas funções do SNC (CAPELA;
CARVALHO, 2017, p. 169). A 5-HT atua como precursora da melatonina (N-acetil-5-
89

metoxitriptamina) ao nível periférico na glândula pineal, mas também em outros locais,


por exemplo, na pele; e uma de suas funções básicas é a indução do sono (CAPELA;
CARVALHO, 2017, p. 177; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 992).
As projeções serotoninérgicas acontecem em todas as áreas do encéfalo,
ocorrendo densa inervação no hipocampo, no córtex cerebral, no estriado, no hipotálamo,
no tálamo, no septo, no bulbo olfativo, bem como no sistema límbico e nos gânglios da
base, especificamente no nucleus accumbens e caudado (JACOBS; AZMITIA, 1992). As vias
serotoninérgicas podem ser verificadas na Figura 14.

Figura 14 – Vias serotoninégicas no SNC e suas projeções

Fonte: Capela e Carvalho (2017, p. 170).

O sistema de memória do lobo temporal medial inclui o hipocampo, o giro


denteado (GD) e as regiões corticais extrahipocampais circunvizinhas, os quais influenciam
na tomada de decisão (córtex pré-frontal) e nos processos guiados pelo córtex parietal
posterior (JACOBS; AZMITIA, 1992).
A formação hipocampal é a estrutura do SNC mais importante relacionada à
memória. A anatomia do hipocampo, descrita por Catlow, Jalloh e Sanchez-Ramos (2016),
é formada por uma via trisináptica com entradas do córtex entorrinal (CE), que se
projetam para o GD e os neurônios piramidais CA3 pela via perfurante; e células
granulares na projeção GD através da via de fibras musgosas (CA3). Os neurônios
piramidais no CA3 se projetam tanto para a região contralateral (via comissural
90

associativa) como para a região ipsilateral (CA1), via colateral de Schaffer. Os neurônios
piramidais CA1 enviam seus axônios para o subiculum (Sb), de onde, por sua vez,
projetam-se para fora do hipocampo, de volta ao CE (ver FIGURA 15).
822 PART | IV Hallucinogens

Figura 15 – Anatomia do hipocampo

The first report of any factor increasi


mammalian brain was an enriched environm
setting a rodent enriched environment typic
cage, a large number of animals, toys, and a
tain the enrichment aspect novel toys are i
CE nel system is rearranged on a regular basi
GD enriched environment exhibited a strong up
eration and neurogenesis in the DG of the H
1997). The proneurogenic effects of env
CE can be increased further depending on the
exposure occurs. When late adolescent/you
FIGURE 1 Anatomy of the hippocampus (HPC). The HPC forms a an enriched environment it enhances the a
trisynaptic pathway with inputs from the entorhinal cortex (EC) that proj- enrichment to upregulate cellular proliferat
CE: Córtex entorrinal; GD: Giro denteado; CA: Via comissural associativa; Sb: Subiculum
ect to the dentate gyrus (DG) and CA3 pyramidal neurons via the per- the DG. In fact, when the morphology of t
forant pathway. Granule cells in the DG project to CA3 via the mossy later in life, a greater number of absolute gra
fiber pathway.
Fonte: Pyramidal
Catlow,neurons
Jallohine CA3 project to both (2016).
Sanchez-Ramos the contralateral (Kempermann et al., 1997). In aged animals
(associational commissural pathway) and the ipsilateral CA1 region via the older in rodents) lower levels of neurogene
Schaffer collateral pathway. CA1 pyramidal neurons send their axons to however, living in an enriched environmen
the subiculum (Sb), which in turn projects out of the HPC back to the EC.
of aging (Kempermann et al., 1998). Kem
O receptor 5-HT2A pertence à família de receptores de 5-HT tipodemonstrated A e é acoplado à
that environment enrichment
cell proliferation and neurogenesis in the D
proteína G (GPCR –axons G toprotein-coupled
the subiculum and from receptors).
the subiculum O back
gene 5-HT
to the 2AR está localizado no
EC (for
mals live in an enriched environment during
detailed descriptions of hippocampal circuitry see Witter, 1993).
cromossomo humano 13q14-q21,Under normal enquanto
physiologicalo conditions,
gene HTR2A codificathat
neurogenesis uma ofsequência
neurogenesis increase as much as fivefold
de 471
occurs in the HPC is found only in the DG and results in the gener- When experimentation with environme
aminoácidos em ratos, ationcamundongos
of new granule cells.e humanos
Within the DG,(SPARKES
progenitoretcells 1991).novel
al.,reside foods were included
Anormalidade na as a part of the
in a narrow band between the DG and the hilus (also called CA4 ment experience. When similar food was
estrutura e função do 5-HT2ARlayer)
or plexiform estácalled
associada a vários
the subgranular zonedistúrbios,
(SGZ), which eitheresquizofrenia,
incluindo
is an enriched or a control environmen
approximately two or three cells thick (20–25 µm) (see Figure 2). mental enrichment was still present. One ty
depressão/ansiedade e dependência
Neural progenitor cellsde (1)drogas (ZHANG;
divide and STACKMAN
(2) form clusters of prolif-JR, 2015).
been found Além disso,
to have positive effects on ne
erating cells. (3) Proliferating cells exit from the cell cycle and caloric restriction (Lee, Duan, Long, Ingr
muitas drogas psicodislépticas exercem
begin to differentiate into seus
immatureefeitos,
neurons.agindo
(4) Thecomoimmatureagonistas
As an para 5-HT2Amanipulation
experimental R caloric r
granule cell forms sodium currents and extends dendrites and sists of limiting the amount of food an ani
(CAPELA; CARVALHO, an2017,
axon top. 189;
make ZHANG;with
connections STACKMAN
other cells andJR,form
2015).synapses Caloric restriction is the only factor that h
to become a mature neuron. The SGZ contains many cell types, mentally to increase the life span of anima
Os mecanismos intracelulares de transdução dos receptores
including astrocytes, several types of glial and neuronal progeni- serotoninérgicos da acts as a mild str
caloric restriction actually
tor cells, and neurons in all stages of differentiation and matura- note that while environmental enrichment i
família 5-HT2A se encontram acoplados
tion (Alvarez-Buylla, à proteína&GTramontin,
Garcia-Verdugo, da classe2001). Gaq e Ga12/13 lator. Os receptores
of adult hippocampal neurogenesis,
neurogenesis in the olfactory system (Brow
acoplados à proteína Ga são conhecidos por conduzirem a estimulação daExposure fosfolipase C,
to an enriched environment
REGULATION OF NEUROGENESIS IN THE in the DG of adult rodents; however, env
com a consequenteDG hidrólise de fosfoinositóis. Como resultado dessa hidrólise,
typically includeshá a
a running wheel and in
ity. Physical activity is known to upregulat
formação de diacilglicerol (DAG and
The proliferation – Diglyceride
survival of neuralorprogenitors
diacylglycerol)
in the adulteHPCinositol trifosfato
neurogenesis (IP3)
in the DG. Rodents will tak
can be influenced in positive and negative manners by a variety of fac- opportunity to exercise on a running wheel
como mediadores intracelulares, que medeiam
tors (see Table 1). Stimuli as diverse asastress;
ativação
odors; da proteína quinase
neurotrophins; C (PKC)
of their day. Mice have e abeen reported to run
psychoactive drugs such as antidepressants, psychedelics, opioids, night on a running wheel (van Praag et al., 19
elevação de cálcio and intracelular, respectivamente
alcohol; electroconvulsive (CAPELA;enrichment;
therapy; environmental CARVALHO, 2017,
activity p. 179).
has been shown to increase the num
learning; seizures; ischemia; cranial irradiation; physical activity; and new neurons in the DG of the HPC (van
Portanto, existe uma diversidade
hormones; and age, de cascatas
among de sinalizações
many others, have been linkedque to thepodem
effectser acionadas
of running on neurogenesis is acute, so
regulation of neurogenesis (Kempermann et al., 1998; Malberg & tinue, to affect neurogenesis, and once the an
pela ativação dos 5-HT Duman,2A, 2003;
influenciando
Malberg, Eisch, respostas neuronais
Nestler, & Duman, 2000; vane funções
Praag, do SNC
running wheel(CAPELA;
the effect on neurogenesis w
Christie, Sejnowski, & Gage, 1999; Tanapat, Hastings, Rydel, Galea, lation of adult neurogenesis by physical acti
CARVALHO, 2017, p.&181; Gould,FONGANG
2001). Some et al., factors
of these 2019;haveZHANG; STACKMAN
been studied extensively JR, term
2015).potentiation (LTP) in the DG and enhan
and their role in the regulation of neurogenesis is well defined. For Morris water maze (MWM), a behavioral tas
example, environmental enrichment and physical activity are strong and learning (van Praag et al., 1999).
positive regulators of neurogenesis (Kempermann, Kuhn, & Gage, The mechanisms underlying the incre
1997; van Praag et al., 1999), whereas stress and aging appear to be physical activity are not completely known. H
negative regulators of neurogenesis (Cameron, Woolley, & Gould, such as insulin growth factor-1 (IGF-1), vasc
91

São muitas as funções exercidas pelo 5-HT2AR, por exemplo, aprendizado,


memória, alucinação, cognição espacial, transtornos mentais e abuso de substâncias
(FONGANG et al., 2019; ZHANG; STACKMAN JR, 2015). De acordo com Zhang e Stackman
Jr. (2015), parece que em roedores o 5-HT2AR pós-treinamento ocorre ativação,
aprimoramento e consolidação não espacial da memória, enquanto a ativação do 5-HT2AR
pré-treinamento facilita a extinção do medo. Além disso, em seres humanos, as
alucinações visuais induzidas por 5-HT2AR podem exercer uma influência potencial sobre a
cognição espacial guiada.

2.2.3 Habilidades visuoespaciais

As habilidades visuoespaciais são usadas em praticamente todas as atividades


cotidianas, desde a percepção visual de objetos em uma cena à capacidade de imaginar
como essa cena pode ser alterada pela manipulação ou pela adição de novos objetos. Da
percepção espacial à orientação no espaço e ao planejamento de rotas, toda a interação
com o mundo depende das habilidades visuoespaciais. De maneira geral, essas
habilidades compreendem a ativação, a retenção e/ou a manipulação e a transformação
de imagens visuais em imagens mentais (GARCIA; GALERA, 2015). As habilidades
visuoespaciais estão estreitamente relacionadas com a memória de trabalho (BADDELEY,
2011c, p. 57).
Para se compreender a complexidade do processamento visuoespacial é
importante considerar dois modelos neuropsicológicos distintos: um, para o
processamento visuoespacial como um todo e outro, mais específico, para os processos
de desenho (MOREIRA; DE PAULA, 2018, p. 109).
Kravitz et al. (2011) apresentam o processamento visuoespacial como um todo,
revisado e atualizado do modelo clássico da via dorsal (onde) e da via ventral (o que).
Atualmente, o processamento visuoespacial segue estas duas rotas, uma que inicia nos
lobos occipitais, em direção ao lobo parietal posterior (onde), e outra, que vai em direção
ao lobo temporal (o que) (ver FIGURA 16).
92

Figura 16 – Vias e estruturas de processamento visuoespacial (rotas dorsal e ventral em cérebro de


macaco10)

(c)

V1 – Córtex visual primário


TEO – Córtex temporal inferior posterior
“onde” TE – Córtex temporal inferior rostral
(b)
PCC – Córtex cingulado posterior
(a)
RSC – Córtex retrosplenial

“o que”

orks of visuospatial processing. a | The original formulation1,2,3 of the dorsal and ventral streams in
ey. The ventral stream is a multisynaptic pathway projecting from the striate cortex (area OC) to area
mporal cortex, with a further projection from area TE to ventral prefrontal regionFonte: FDv. TheKravitz
dorsal et al. (2011).
aptic pathway projecting from striate cortex to area PG in the inferior parietal lobule, with a further
a PG to dorsolateral prefrontal region FD∆. On the basis of the effects of lesions in monkeys, the ventral
a ‘What’ pathway supporting object vision, whereas the dorsal stream was labelled a ‘Where’ pathway
A primeira
vision. b | The top panel depicts the location of the lesionsrota (onde)
in patient é subdividida
D.F. (shown em três vias: (a) o primeiro circuito parte do
in blue and indicated
at led to impairment in object perception but not in the accuracy of orienting her hand when reaching
. This pattern of results led to the proposal , depicted in the bottom panel, that the dorsal stream is
8,90

aracterized as a motoric ‘How’ córtex


pathwayparietal
supporting posterior
visually guidede temthancomo
action alvo o‘Where’
as a perceptual córtex pré-frontal (seta verde tracejada), que
w neural framework for dorsal stream function that is proposed in this Review. At least three distinct
suporta
from the posterior parietal cortex. a memória
One pathway targets thede trabalho
prefrontal espacial
cortex (shown (via parieto-pré-frontal); (b) o segundo circuito
by a dashed
so part a) and supports spatial working memory (the parieto–prefrontal pathway); a second pathway
or cortex (shown by a dashedparte doand
red arrow) córtex
supportsparietal posterior
visually-guided eparieto–premotor
actions (the vai até o córtex pré-motor (seta vermelha tracejada), e
hird targets the medial temporal lobe, both directly and through the posterior cingulate and
shown by a dashed blue arrow), and supports navigation (the parieto–medial temporal pathway). PCC,
apoia
cortex; RSC, retrosplenial cortex; ações
TE, rostral guiadas
inferior temporalvisualmente (via
cortex; TEO, posterior parieto-pré-motora);
inferior temporal (c) e o terceiro circuito tem
ea 1 (also known as primary visual cortex). Part b, top panel is modified, with permission, from REF. 5 
nals. como alvo o lobo temporal mesial, tanto diretamente quanto pelas áreas cinguladas e
retroespleniais posteriores (seta azul pontilhada), e suporta a navegação (via temporal
al Where or a motoric How pathway and we briefly describe the first two pathways — the
o adequately capture the diversity of parieto–prefrontal and parieto–premotor pathways.
nctions.
parieto-medial). A segunda rota (o que) parte em direção ao lobo temporal, até às regiões
We next focus on the parieto–medial temporal pathway
w anatomical evidence, primarily from and show that in both humans and monkeys, the two
r to update the circuitryinferiores do córtexareas
within the intermediate temporal posterior
along this pathway (PCC andparaRSC)as regiões inferiores do córtex temporal
ual stream, after which we show that have the requisite properties to relay spatial information
ion of this stream beyond rostral (KRAVITZ
the parietal et al.,
to the MTL. 2011).we show that damage to the
In addition,
view the functional evidence that the parieto–medial temporal pathway in humans results in
s properties consistent with it servingO Quadro 1 sintetiza
various forms o modelo
of topographic de 15processamento
disorientation that dif- visuoespacial como um todo.
each of the three proposed pathways, fer predictably depending on where along the pathway

www.nature.com/reviews/neuro

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10
Com base nos efeitos das lesões em macacos, a rota ventral foi denominada uma via “o que”, por suportar
a visão do objeto, enquanto a rota dorsal foi rotulada via “onde”, por suportar a visão espacial.
93

Quadro 1 – Vias e estruturas de processamento visuoespacial

Vias Regiões Funções associadas

Área pré-motora Planejamento motor


Via dorsal Regiões do lobo
Área pré-frontal Memória operacional
Córtex visual (onde) parietal posterior
Lobo temporal medial Memória de longo prazo
primário
Regiões inferiores do
(occipital) Via ventral Regiões inferiores do
córtex temporal Sistema semântico
(o que) córtex temporal rostral
posterior
Fonte: Moreira e De Paula (2018, p. 109).

As habilidades de desenho foram abordadas por Guérin, Ska e Belleville (1999),


que propuseram um modelo composto por três sistemas que se combinam para sustentar
o processamento das habilidades de desenho, são eles: (a) percepção visual; (b)
formação/busca de imagens visuais mentais (que engloba a memória associativa e visual,
as funções da via dorsal e a memória operacional visuoespacial); e (c) produção gráfica,
que compreende o planejamento e a programação de ações. Esses três processos do
sistema de imagens visuais embasam a capacidade de produção de desenhos complexos,
pois os desenhos simples, como círculos e quadrados, são produzidos de forma
procedural, não sendo necessária a formação/busca de imagens mentais.

2.2.3.1 Funções visuoespaciais

As funções visuoespaciais são realizadas por dois subsistemas distintos, o visual


cache e o innerscribe. O visual cache é um sistema de armazenamento passivo,
responsável por armazenar o conteúdo visual de uma cena, por exemplo, o aspecto visual
de objetos e sua distribuição no ambiente. O innerscribe é encarregado do
armazenamento de sequências de movimentos dirigidas a posições específicas no espaço
e da recitação da informação contida no visual cache (GARCIA; GALERA, 2015).
Estes dois subsistemas estão submetidos ao executivo central (componente da
memória de trabalho), que é encarregado de controlar recursos da atenção, necessários à
manipulação das informações visuoespaciais e à geração das imagens mentais (BADDELEY,
2011c, p. 65). Desse modo, o que é denominado genericamente habilidades visuoespaciais
envolve o armazenamento e/ou o processamento de informação visual e espacial do
94

ambiente, além da criação, da manutenção e da manipulação de imagens mentais


(GARCIA; GALERA, 2015).

2.2.4 Rede de modo padrão

A rede de modo padrão (RMP), também conhecida como rede padrão, ou rede
cerebral padrão, é uma rede cerebral de larga escala de regiões do cérebro em interação,
conhecidas por terem atividades altamente correlacionadas entre si e distintas de outras
redes cerebrais. Em particular, a RMP é a mais ativa do sistema cerebral quando os
indivíduos são deixados a pensar por si mesmos sem ser perturbados, ou seja, quando o
cérebro está em estado de repouso ou em divagação mental, sem fixar sua atenção em
nenhuma tarefa específica. A RMP também aumenta quando os indivíduos se envolvem
em tarefas focadas internamente, como pensar sobre si mesmo, incluindo lembranças,
considerando interações sociais e pensar no próprio futuro. Essas propriedades sugerem
que a RMP funciona para permitir explorações mentais flexíveis (simulações) que
fornecem um meio de se preparar para eventos futuros relevantes, antes que eles
aconteçam (BUCKNER; ANDREWS-HANNA; SCHACTER, 2008; RAICHLE, 2015).
Os principais componentes anatômicos que constituem a RMP são um conjunto de
regiões cerebrais que inclui o córtex de associação, componentes sensoriais e córtex
motor, presentes no cérebro humano, primata não humano, gatos e roedores (RAICHLE,
2015). Em particular, o córtex pré-frontal medial está intimamente envolvido, assim como
o córtex cingulado anterior e posterior, o lobo parietal inferior, a formação hipocampal e o
córtex temporal lateral (BUCKNER; ANDREWS-HANNA; SCHACTER, 2008; LEZAK et al.,
2012, p. 92; RAICHLE, 2015).
Algumas abordagens são convergentes na definição da RMP, várias observações
específicas são evidentes nessa análise de sobreposição. Primeiramente, a formação
hipocampal de alta disponibilidade está envolvida na RMP, independentemente da
abordagem usada (desativação induzida por tarefas ou conectividade funcional), mas, em
relação à linha média posterior cerebral e às regiões pré-frontais, a formação hipocampal
é menos proeminente em relação à abordagem de desativações induzidas por tarefas.
Segundo, várias regiões da RMP são funcionalmente correlacionadas com a formação
hipocampal, reforçando a noção de que o lobo temporal medial está incluso na rede. A
95

sobreposição não é perfeita, no entanto com algumas indicações de recrutamento mais


extenso durante estados cognitivos passivos, o córtex parietal posterior e o córtex pré-
frontal, ambos estão inclusos. Terceiro, o córtex temporal lateral que se estende para o
polo temporal é consistentemente observado nas abordagens, mas a formação
hipocampal é menos robusta. Juntas, todas essas observações definem provisoriamente
os principais componentes anatômicos da RMP (BUCKNER; ANDREWS-HANNA; SCHACTER,
2008).
Na Figura 17, estão ilustradas as áreas arquitetônicas do córtex pré-frontal medial
do ser humano em comparação ao macaco.

Figura 17Buckner
– Correlações
et al.: Thedas áreas
Brain’s arquitetônicas
Default Network do córtex pré-frontal medial do homem e do macaco11

Macaco Humano

FIGURE 6. Architectonic areas within medial prefrontal cortex (MPFC) are illustrated for the monkey
and human. The Fonte: Buckner,
human MPFC Andrews-Hanna
is greatly expanded relativee to
Schacter (2008).
the macaque monkey. This expansion is
depicted by the triangle and asterisk that plot putative homologous areas between species based on
Öngür et al. (2003). Area 32 in the macaque is homologous with area 32pl in the human. Area 24c is
expanded and homologous to the caudal part of area 32ac in human. The MPFC region activated within
O córtex pré-frontal medial humano é bastante expandido em relação ao macaco.
the human default network likely corresponds to frontalpolar cortex and its rostral expansion (areas 10m,
10r, and 10p), anterior cingulate (areas 24 and 32ac), and the rostral portion of prefrontal area 9.
Because of differences in functional properties, we sometimes differentiate in this review between dorsal
Essa expansão é representada pelo triângulo e asterisco que traçam áreas homólogas
and ventral portions of MPFC (dMPFC and vMPFC). Adapted with permission from Öngür et al. (2003).

entre as espécies. A área 32, no macaco, é homóloga à área 32pl, no ser humano. A área
parallel areas implicated as components of the default ysis of the functional correlations between regions.
24c é expandida
network. e homóloga à parte caudal da área
FIGURE32ac
7 plotsem humanos.
maps A região
of the intrinsic do córtex
correlations as-
At the broadest level, an important principle sociated with three separate seed regions within the
pré-frontal medial
emerges da RMPthese
from considering humana
anatomicprovavelmente
details: the defaultcorresponde ao the
network in humans: córtex frontal
hippocampal polar e
forma-
default network is not made up of a single monosynap- tion including a portion of parahippocampal cortex
sua expansão rostral
tically connected (áreas
brain system.10m,
Rather,10r e 10p),
the architec- cingulado
(HF+), dMPFC,anterior
and vMPFC. (áreas 24 e 32ac) e a
The hubs—PCC/Rsp,
ture reveals a series of interconnected subsystems that vMPFC, and IPL—are revealed as the regions showing
porção converge
rostralon dakeyárea
“hubs,” in particular9the
pré-frontal doPCC, that
macaco complete
(BUCKNER; overlapANDREWS-HANNA;
across the maps. HF+ forms a sub-
SCHACTER,
are connected with the medial temporal lobe memory system that is distinct from other major components
2008). system. In the next section, we explore evidence for
these subsystems from functional connectivity analysis
of default network including the dMPFC: both are
strongly linked to the core hubs of the default network
in humans. but not to each other. We suspect further analyses will
reveal more subtle organizational properties. Of note,
The Default Network Comprises Interacting the map of the default network’s hubs and subsystems
Subsystems shown in FIGURE 7 bears a striking resemblance to the
The default network comprises a set of brain regions original map of Shulman et al. (1997, FIG. 2) and up-
that are coactivated during passive task states, show in- dates the description of the network to show that it
trinsic functional correlation with one another, and are comprises at least two interacting subsystems.
connected via direct and indirect anatomic projections Normative estimates of the correlation strengths
as estimated from comparison to monkey anatomy. between regions within the default network are pro-
However, there is also clear evidence that the brain vided in FIGURE 8. The bottom panel of FIGURE 8
96

2.2.5 Funções executivas

As funções executivas estão entre os aspectos mais complexos da cognição e


possibilitam aos seres humanos a capacidade de lidar com novas situações e de se adaptar
às mudanças de maneira rápida e flexível (DIAMOND, 2013; LEZAK et al., 2012, p. 37;
MENEZES et al., 2012, p. 34). As habilidades cognitivas que propiciam ao indivíduo regular
e controlar seus pensamentos recebem diversas denominações na literatura,
compreendidas como funções executivas, para além dessa, também designadas
funcionamento executivo, habilidade executiva, entre outras (UEHARA; CHARCHAT-
FICHMAN; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2013). Embora não exista consenso sobre o conceito
das funções executivas, geralmente são definidas como um conjunto de habilidades e
capacidades que permitem ao ser humano executar ações necessárias para atingir um
objetivo (DIAMOND, 2013; STIRLING, 2005, p. 206; LEZAK et al., 2012, p. 38; MALLOY-
DINIZ et al., 2014, p. 115; SEABRA et al., 2014, p. 40).
A Figura 18 mostra um esquema geral dos componentes que integram as funções
executivas: memória operacional, flexibilidade cognitiva e controle inibitório.

Figura 18 – Esquema geral dos componentes que integram as funções executivas: memória operacional,
flexibilidade cognitiva e controle inibitório

Responsável pela manutenção


e manipulação da informação
Permite resistir às tentações
enquanto são realizadas as
e não agir impulsivamente.
operações mentais.
Controle Memória
Inibitório Operacional

Flexibilidade
Cognitiva
Possibilita pensar criativamente
em diferentes perspectivas,
adaptar-se de forma rápida e
flexível às novas circunstâncias.

Fonte: Rezende (2018).

As funções executivas possibilitam manipular mentalmente as ideias, pensar antes


de agir, enfrentar novos desafios imprevistos, resistir às tentações e ter foco. Nesse
sentido, as funções executivas compreendem, de modo geral: (a) memória operacional,
97

responsável pela manutenção e manipulação da informação enquanto são realizadas as


operações mentais; (b) flexibilidade cognitiva, que possibilita pensar criativamente em
diferentes perspectivas, adaptar-se de forma rápida e flexível às novas circunstâncias; e (c)
controle inibitório ou autocontrole, que permite resistir às tentações e não agir
impulsivamente (DIAMOND, 2013; MIYAKE et al., 2000).
Diamond (2013) realizou uma revisão dos conceitos envolvidos na concepção das
funções executivas e propôs um modelo integrado que contempla três conceitos
nucleares: (1) controle inibitório, (2) memória operacional e (3) flexibilidade cognitiva, os
quais se correlacionam de forma a habilitar as funções cognitivas em nível superior, que
consistem em algumas habilidades, são elas: planejamento, resolução de problemas,
tomada de decisão e raciocínio lógico. O controle inibitório envolve a capacidade de inibir
uma resposta predominante, controlar um comportamento inadequado ao contexto e
inibir pensamentos ou emoções, e engloba a atenção seletiva, a inibição cognitiva e o
autocontrole. Essa habilidade é importante e age na regulação da impulsividade,
possibilitando alterar escolhas e adaptá-las às exigências do dia a dia. Esse componente
também permite dirigir seletivamente a atenção em um ambiente barulhento para ouvir
alguém específico, inibindo outros sons e direcionando a atenção ao som específico. A
memória operacional, também conhecida como memória de trabalho, é uma função que
permite a manutenção e a manipulação de informação de forma temporária, enquanto
são realizadas operações mentais. Responsável pelo armazenamento e pela manipulação
de algum conhecimento, ela permite que se façam relações entre novas e antigas
informações. A flexibilidade cognitiva é uma função que permite alternância entre uma
resposta e outra, ou seja, a mudança entre duas ou mais exigências ou demandas ou, até
mesmo, entre diferentes atividades. A flexibilidade cognitiva se integra à memória de
trabalho e ao controle inibitório, permitindo a flexibilização, em outras palavras, a inibição
de algumas respostas e a ativação de outras, de acordo com a demanda do ambiente.
Lezak et al. (2012, p. 666) descreveram as funções executivas divididas em quatro
componentes: (1) volição, (2) planejamento, (3) comportamento com propósito e (4)
desempenho efetivo. Volição diz respeito à capacidade de o indivíduo se envolver em um
comportamento intencional e requer a capacidade de formular um objetivo ou intenção.
A motivação e a consciência de si, do meio e dos outros são consideradas condições
necessárias ao comportamento volitivo. O planejamento, componente fundamental do
98

comportamento adaptativo, envolve a identificação e a organização dos diversos


elementos e passos necessários para realizar um objetivo. Tal processo envolve uma gama
de capacidades, entre elas, funções de memória, controle de impulsos e atenção
sustentada. No que lhe concerne, o comportamento com propósito se refere a atividades
programadas, principalmente direcionadas a um objetivo desejado. É essencial a intenção
ou o plano de uma atividade produtiva, como a capacidade de iniciar a atividade e mantê-
la, alternar o seu curso (flexibilidade) ou mesmo interromper sequências de
comportamento (inibição de respostas). Enfim, para garantir o desempenho efetivo, todas
essas operações são constante e incessantemente submetidas a um sistema de
automonitoramento.

2.2.5.1 Córtex pré-frontal e as funções executivas

O córtex pré-frontal é o córtex da associação do lobo frontal e contém três regiões


distintas: a orbitofrontal, a dorsolateral e o medial, ou pré-motor (OSLO; COLBY, 2014, p.
356). No cérebro dos mamíferos, esse córtex é convencionalmente definido por dois
critérios básicos, a citoarquitetura e a conectividade, ambos os critérios servem para
delimitar aproximadamente o mesmo território cortical, que é caracterizado em todas as
espécies de mamíferos por uma camada celular proeminente IV, ou camada granular, e
uma estreita conectividade recíproca com o núcleo mediodorsal do tálamo (FUSTER,
2002). No primata, humano ou não humano, o córtex pré-frontal tem três aspectos
anatômicos principais: lateral, medial e ventral, ou orbital, conforme pode ser verificado
na Figura 19.

Figura 19 – Áreas do córtex cerebral, de acordo com Brodmann, dispostos em três aspectos anatômicos
principais: lateral, medial e orbital

Lateral Medial Orbital

Fonte: Lateral e medial (CABEZA; NYBERG, 2000); Orbital (FUSTER, 2002).


99

Cada região do córtex pré-frontal foi subdividida em áreas de citoarquitetura


variada e mostrada por um número específico, atribuído por Brodmann (1909). Com
poucas exceções, como a da área BA8, que é amplamente dedicada ao controle do olhar e
dos movimentos oculares, não é possível atribuir uma função fisiológica específica a
qualquer área pré-frontal. No entanto, parece óbvio que o córtex pré-frontal é
operacionalmente heterogêneo. Considerando que não pode ser funcionalmente dividido
em relação à sua citoarquitetura, há evidências substanciais de que, como um todo, o
córtex pré-frontal desempenha um papel crítico na organização de ações
comportamentais, linguísticas e cognitivas. Todas as três regiões pré-frontais estão
envolvidas com algum aspecto da atenção. Além disso, a região do cíngulo medial e
anterior está envolvida no impulso e na motivação; a região lateral, na memória de
trabalho; e a região orbital (em certa medida também na região medial), no controle
inibitório de impulsos e interferência (FUSTER, 2002).
Existem evidências de estudos comparativos de espécies existentes e extintas de
que, no decorrer da evolução, o córtex pré-frontal cresce desproporcionalmente mais do
que outras regiões corticais (ver FIGURA 20). Segundo Brodmann (1909), o córtex pré-
frontal constitui 3,5% da totalidade do córtex no gato, 12,5% no cão, 11,5% no macaco,
17% no chimpanzé e 29% no humano.

Figura 20 – Córtex pré-frontal (sombreado) em seis espécies animais

M
MACACO
ESQUILO GATO

MACACO
RHESUS CÃO

CHIPANZÉ

HOMEM

Fonte: Fuster (2002).


100

Fuster (2002) afirma que, provavelmente, o crescimento evolutivo desproporcional


do córtex pré-frontal é paralelo ao tecido associativo das regiões temporal e parietal. É
uma existência legítima, em qualquer caso, que a expansão evolutiva do córtex de
associação, tanto posterior quanto pré-frontal, esteja intimamente relacionada à evolução
das funções cognitivas.
A julgar pelo desenvolvimento evolucionário da morfologia da superfície (ou seja,
sulcos e giros), bem como dos componentes do seu núcleo talâmico (mediodorsal) e de
suas projeções corticais, as várias porções do córtex pré-frontal não parecem evoluir
igualmente ao mesmo tempo. Pelo contrário, por esses critérios, a região pré-frontal
lateral claramente evolui mais tarde do que as outras regiões pré-frontais, o que está em
concordância direta com o desenvolvimento tardio e extraordinário de funções cognitivas
integrativas superiores, por exemplo, a linguagem. Nas espécies superiores, como os
humanos, as funções cognitivas são amplamente dependentes do córtex pré-frontal
lateral (FUSTER, 2002).

2.2.5.2 Neurobiologia das funções executivas

As funções executivas estão entre os aspectos mais intricados da cognição humana


e são plenamente desenvolvidas apenas no ser humano, e têm como principal base
neurológica o córtex pré-frontal (GOLDBERG, 2002, p. 22).
Sabe-se que os lobos pré-frontais e suas interconexões com o restante do cérebro
têm um papel importante nas funções executivas, que são essenciais no planejamento e
na organização, na automonitoração e no controle de respostas complexas de solução de
problemas. O dano nos lobos frontais também foi associado às alterações de
personalidade significativas (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 239).
O caso Phineas Gage é um exemplo clássico da associação entre regiões frontais do
cérebro e funções cognitivas complexas. Em 1868, Dr. John Martyn Harlow, médico
americano, foi um dos primeiros a descrever na literatura científica moderna sobre essa
associação. O relato do caso Phineas Gage evidenciou como pode ser desastroso para uma
pessoa, tanto em termos cognitivos quanto comportamentais, uma lesão no córtex pré-
frontal. Pela primeira vez, verificou-se a mudança de personalidade devido a um
ferimento nessa região. O caso Gage foi revisado pelo Dr. David Ferrier, médico inglês, um
Phineas Gage e o novo rumo da neurologia

anifestava pouco respeito por seus amigos a haste de ferro ao Dr. John Harlow. Este, por sua 101
mpaciência quando alguns conselhos limi- vez, algum tempo depois, doou-os ao Departamento
conflitavam com seus desejos. Sua mente Médico da Universidade de Harvard. A máscara fa-
dado radicalmente!dos primeiros proponentes dacial em gessodadefunção
localização Phineas Gage, Gage,
cerebral. seu crânio rachado
mediante um etrágico
corrência dessa mudança de personalida- o bastão de metal que deu um novo rumo à Neuro-
experimento natural, forneceulogiaumapermanecem
prova para Ferrier evidenciar
expostos que onocórtex
ao público museupré-frontal
da
mitido da estrada de ferro. O novo Phineas
rejeitado por seusnão
antigos empregadores
era uma e
área do cérebro Harvard
"não funcional". Uma (Figura
Medical School 2 A, B e C). o córtex pré-
haste atravessando
viajar pelos Estados Unidos
frontal e América
de Phineas Gage
Em meados
do(ver FIGURA do século XIX, a literatura médica
21) sinalizou o entendimento entre a relação da
ndo-se em teatros juntamente com a haste discutia fortemente a possibilidade de o intelecto e as
região frontal do cérebro
perfurado seu cérebro. Gage morreu em e as funções poderem
emoções cognitivasser
complexas
afetadoshumanas,
nas lesõescolocando
dos lobosFerrier
São Francisco, Califórnia, 12 anos
como um ícone frontais. Logo
após o da neurociência
na história após o episódio
moderna (FERRIER,Phineas
1878, p.Gage,
28). muitos
Ele não foi submetido à autopsia, mas sua estudos clínicos contribuíram para confirmar tal pos-
a exumação do corpo, doou seu crânio e sibilidade.
Figura 21 – Crânio de Phineas Gage com orifício nas regiões frontais

Fonte: Maranhão-Filho (2014).

É importante ressaltar que, a despeito das associações entre córtex pré-frontal e


suas funções cognitivas complexas, é mais correto classificar tais funções como
resultantes da atividade distribuída de diferentes regiões e circuitos neurais cerebrais
(SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p. 15; LEZAK et al., 2012, p. 666).
Os complexos circuitos relacionados às funções executivas envolvem diferentes
sistemas de neurotransmissão, de modo que alterações nesses sistemas também estão
Máscara (em vida) de Phineas Gage. (B) Crânio
relacionadas de Mr. Gage com odas
ao desempenho orifício na regiõespor
funções, frontais. (C) Haste de
exemplo, asferro
viasquedopaminérgicas
perfurou o crânio de estão
, e onde consta a seguinte gravação: “This is the bar that was shot through the head of Mr. Phinelius P. Gage at Cavendish, Vermont, Sept.
relacionadas
ully recovered from the injure and depositedathismemórias de oftrabalho,
bar in the Museum atenção,
the Medical College, Harvardplanejamento, controle inibitório,
University”. Nota: surpreendentemente,
ada na haste está equivocada, pois o acidente ocorreu um dia antes, 13 de setembro de 1848 (Fotos: Maranhão-Filho P).
flexibilidade cognitiva e tomada de decisão (ROBBINS; ROBERTS, 2007). Alterações nessas
vias podem afetar as funções acima relacionadas, conforme se pode constatar em
r afirma não ter recebido subsídio financei- 2. Maranhão-Filho P, Costa AL. Neurologia: dúvidas e acertos. Rio
transtornos, como esquizofrenia, de Janeiro: Revinter;transtorno
depressão, 2006. p. 615. de déficit de atenção ou
aver conflito de interesses. 3. Marshall LH, Magoun HW. Discoveries in the human brain. New
hiperatividade (STAHL, 2013, p. 168, 343,
Jersey: 583).Press
Humana No Inc.;
entanto,
1998. p.as
64.vias serotoninérgicas estão
CIAS 4. Finger S. Origins of neuroscience. NewYork: Oxford University Press; 1994.
re C. Mechanics of the mind. Cambridge: Cambridge 5. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Phineas_Gage#References>.
ty Press; 1977. Acesso em: 25/11/2013.

eira de Neurologia » Volume 50 » Nº 2 » abr - maio - jun, 2014 35


102

envolvidas nos processos de controle inibitório e da tomada de decisão (CAPELA;


CARVALHO, 2017, p. 187; FONSECA, 2021, p. 44; STAHL, 2013, p. 145).
É relevante destacar que o córtex pré-frontal apresenta um nível de especialização
funcional em que cada sistema neural está envolvido com aspectos cognitivos e
comportamentais específicos (OSLO; COLBY, 2014, p. 356). Nesse sentido, Bradshaw
(2001, p. 19) descreveu cinco circuitos frontais subcorticais paralelos e inter-relacionados
(motor, oculomotor, dorsolateral, orbitofrontal e cíngulo anterior), referentes a funções
distintas. Desses circuitos, três estão particularmente relacionados ao desempenho das
funções executivas, são eles: circuito dorsolateral, circuito orbitofrontal e circuito do
cíngulo anterior, apresentados a seguir.
O circuito dorsolateral (ver FIGURA 22) se origina no córtex pré-frontal
dorsolateral, projeta-se para a parte dorsolateral do núcleo caudado, que também recebe
sinais do córtex parietal e da área pré-motora e tem conexões com as porções
dorsolaterais do globo pálido e substância negra reticulada rostral. O circuito continua
para a região parvocelular dos núcleos talâmicos dorsolateral e ventral anterior. Do
tálamo, por sua vez, são emitidas projeções de volta para o córtex pré-frontal dorsolateral
(BRADSHAW, 2001, p. 20).

Figura 22 – Circuito pré-frontal dorsolateral

Córtex pré-frontal dorsolateral Outras estruturas corticais

Núcleo caudado dorsolateral

Substância negra Globo pálido


reticulada rostral dorsolateral

Núcleo subtalâmico Pálido medial

Núcleos talâmicos dorsolateral e ventral anterior

Fonte: Bradshaw (2001, p. 20).

A região pré-frontal dorsolateral contribui para o controle cognitivo do


comportamento, é uma área de convergência multimodal, está interconectada com outras
áreas de associação cortical e relacionada a processos cognitivos. Esses processos são:
103

estabelecimento de metas, planejamento, solução de problemas, fluência, memória


operacional, categorização, monitoração da aprendizagem e da abstração, capacidade de
abstração, flexibilidade cognitiva, autorregulação, julgamento, foco, sustentação da
atenção, tomada de decisão, insight e espontaneidade (BRADSHAW, 2001, p. 22).
O circuito orbitofrontal (ver FIGURA 23) se origina no córtex pré-frontal lateral
inferior e ventral anterior. Projeta-se para o núcleo caudado ventromedial, o qual também
recebe sinais de outras áreas de associação corticais, incluindo o giro temporal superior –
auditivo, e o giro temporal inferior – visual, e de regiões do tronco encefálico (formação
reticular). O circuito continua para o globo pálido dorsomedial e para a porção
rostromedial da substância negra reticulada. Projeta-se para a região magnocelular dos
núcleos ventral anterior e dorsamedial do tálamo e, então, retorna ao córtex orbitofrontal
(BRADSHAW, 2001, p. 20).

Figura 23 – Circuito orbitofrontal

Córtex orbitofrontal Outras estruturas corticais

Núcleo caudado ventromedial

Substância negra Globo pálido


reticulada rostral dorsomedial

Núcleo subtalâmico Pálido medial

Núcleos talâmicos dorsolateral e ventral anterior

Fonte: Bradshaw (2001, p. 20).

O córtex orbitofrontal é fortemente interconectado com áreas de processamento


cognitivo e emocional, em outras palavras, contribui para o controle emocional do
comportamento. Sua parte mais posterior e medial é considerada uma das principais
regiões corticais para mediação autonômica, e forma uma rede com outras áreas límbicas,
como a ínsula, a amígdala, o córtex polar temporal, o hipotálamo e o tronco cerebral
(BRADSHAW, 2001, p. 23). Esse circuito tem sido associado a aspectos do comportamento
social, como empatia, cumprimento de regras sociais, controle inibitório e
automonitoração. Seu comprometimento está geralmente associado a comportamentos
104

de risco e alterações de personalidade, caracterizadas por redução da sensibilidade às


normas sociais, infantilização e baixa tolerância à frustração. Há também prejuízo no
julgamento social, no aprendizado baseado em emoções. O indivíduo passa a apresentar
dificuldades nos processos de tomada de decisão por não antecipar as futuras
consequências de suas atitudes (BRADSHAW, 2001, p. 25).
O circuito do cíngulo anterior (ver FIGURA 24) se origina no cíngulo anterior e se
projeta para o estriado ventral (nucleus accumbens e tubérculo olfatório), o qual recebe
sinais adicionais do córtex de associação paralímbico, incluindo o polo temporal anterior,
a amígdala, o hipocampo inferior e o córtex entorrinal. O circuito continua para o pálido
ventral e para a substância negra rostrodorsal, e daí, para o núcleo talâmico dorsomedial,
de onde retorna ao cíngulo anterior. Esse circuito é importante para a motivação, a
monitoração de comportamentos, o controle executivo da atenção, a seleção e o controle
de respostas (BRADSHAW, 2001, p. 22).

Figura 24 – Circuito pré-frontal medial e cíngulo anterior

Cíngulo anterior Outras estruturas corticais

Estriado ventral

Substância negra Globo pálido


rostrodorsal ventral

Núcleo subtalâmico Pálido medial

Núcleo talâmico dorsomedial

Fonte: Bradshaw (2001, p. 20).

Comprometimentos nesse circuito podem levar o indivíduo a enfrentar


dificuldades na realização de tarefas que requerem manutenção de respostas e controle
da atenção e motivação. Como consequência do comprometimento dessa circuitaria, o
indivíduo pode apresentar apatia; dificuldades em controlar a atenção, identificar e
corrigir erros produzidos a partir de tendências automatizadas; desinibição de respostas
instintivas; e mutismo acinético (BRADSHAW, 2001, p. 26).
105

2.2.6 Cognição e estudos clínicos com Ayahuasca

Estudos demonstraram que a Ayahuasca, ingerida de forma aguda, aumenta o


fluxo sanguíneo nas regiões pré-frontal e temporal do cérebro, provocando modificações
intensas nos processos de pensamento, percepção e emoção (DE ARAUJO et al., 2011;
BOUSO et al., 2013, 2015; PALHANO-FONTES et al., 2015; RIBA et al., 2006; SANCHES et
al., 2016; SCHENBERG et al., 2015). No entanto o uso regular de Ayahuasca não parece
induzir o padrão de problemas relacionados à dependência que caracterizam as drogas de
abuso (BOUSO et al., 2012; CALVEY; HOWELLS, 2018; DOS SANTOS, 2007; LOIZAGA-
VELDER; VERRES, 2014; STRASSMAN; QUALLS; BERG, 1996).
Shanon (2002, p. 692; 2003) afirma em suas pesquisas que as experiências
subjetivas causadas pelo uso da Ayahuasca são claramente psicológicas, e as agrupa em
questões fenomenológicas, relacionadas com a dinâmica e contexto, como ambiente
físico, meio social, relações interpessoais e o ritual em si. Os conteúdos mais frequentes
que ocorrem nas visões do indivíduo sob o efeito da bebida possui linguagem, memória,
raciocínio, entre outros aspectos cognitivos iguais a toda espécie humana. No entanto as
pessoas são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes umas das outras, e ambas as
perspectivas são importantes. Nesse sentido, é pontuado pelo pesquisador que a maioria
das pesquisas realizadas sobre Ayahuasca se enquadram em duas categorias: a primeira é
a das ciências naturais (botânica e etnobotânica, farmacologia, bioquímica e fisiologia do
cérebro) e a segunda, das ciências sociais, em especial, a antropologia. Desse modo, é de
suma importância acrescentar a perspectiva cognitivo-psicológica nesses estudos.
Os resultados sobre as experiências visuais (visões), totalizando 248 itens, foram
categorizados a partir de um sistema progressivo, desenvolvido por Shanon (2002, p. 694;
2003), e 245 outras categorias para experiências não visuais. Para a análise dos dados, os
itens dos conteúdos foram subsequentemente agrupados nas seguintes categorias
semânticas principais: conteúdos pertencentes à história de vida de alguém, seres
humanos, animais naturais, animais não naturais, seres que não são seres humanos nem
animais (ninfas, gnomos, criaturas meio-humana, meio-animal), plantas e seres botânicos,
lugares geográficos, cidades não geográficas (essa categoria inclui cidades antigas,
futurísticas e encantadas), paisagens naturais, construções arquitetônicas, objetos e
artefatos, veículos de transporte, símbolos e scripts, cenas divinas e celestiais, seres
106

divinos e semidivinos (como, anjos, Jesus Cristo, Buda), itens e cenas pertencentes a
civilizações antigas, figuras históricas e cenas, figuras mitológicas e cenas, episódios
pertencentes à morte e visões nas quais a luz era central. Ocorreram itens específicos que
não se enquadraram em qualquer categoria de agrupamento.
Doering-Silveira et al. (2005) realizaram avaliação neuropsicológica em 80
adolescentes, oriundos de três cidades brasileiras (São Paulo, Campinas e Brasília), sendo
40 consumidores de Ayahuasca em contexto religioso de três igrejas distintas da UDV, e
40 adolescentes que formaram o grupo controle, que não usavam Ayahuasca. Os
controles foram combinados com relação a sexo, idade e educação. A bateria
neuropsicológica incluiu testes de atenção acelerada, busca visual, sequenciamento,
velocidade psicomotora, habilidades verbais e visuais, memória e flexibilidade mental. Os
resultados estatísticos para os sujeitos do grupo controle combinados em medidas
neuropsicológicas foram calculados usando testes-t independentes. De modo geral, os
resultados estatísticos sugeriram que não houve diferença significativa entre os dois
grupos em medidas neuropsicológicas. No entanto, parece que o uso ritual da Ayahuasca
pode servir como fator de proteção para o uso de drogas psicotrópicas entre essa
população.
Bouso et al. (2012) avaliaram o impacto do uso repetido da Ayahuasca no bem-
estar psicológico geral, saúde mental e cognição (funcionamento executivo), e foram
avaliadas as seguintes variáveis: personalidade, psicopatologia, atitudes de vida e
desempenho neuropsicológico em 127 usuários regulares de Ayahuasca (duas vezes por
mês) e 115 controles, todos foram reavaliados um ano depois. Os controles estavam
participando ativamente em religiões não ayahuasqueiras. Os usuários de Ayahuasca
obtiveram pontuações significativamente mais baixas em todas as medidas de
psicopatologia, mostraram melhor desempenho no teste Stroop (atenção seletiva), na
tarefa de Sequência de Números e Letras do WAIS-III (escalas Wechsler, que avalia a
atenção e a memória de trabalho) e melhores escores na Escala de Comportamento de
Sistemas Frontais. A análise das atitudes de vida mostrou maior pontuação no Inventário
de Orientação Espiritual, no Teste de Propósito na Vida e no Teste de Bem-Estar
Psicossocial. Em conclusão, não foram encontradas evidências de inadaptação psicológica,
deterioração da saúde mental ou comprometimento cognitivo no grupo que usa
Ayahuasca regularmente.
107

Bouso et al. (2013) investigaram os efeitos agudos da Ayahuasca no desempenho


neuropsicológico, especificamente na memória de trabalho e na função executiva, por
meio de uma bateria de testes, aplicada antes e durante os efeitos agudos da Ayahuasca.
Participaram do estudo 24 indivíduos (12 mulheres), com média da idade de 46 anos.
Usuário ocasional foi definido como a pessoa que tomou Ayahuasca entre 8 e 60 ocasiões,
já usuários experientes, em média por 179 ocasiões. Os testes utilizados foram: (a) para a
tarefa de memória de trabalho verbal foi usada uma versão computadorizada, baseada
em Sternberg; (b) para o teste de cores e palavras Stroop foi utilizada uma versão
computadorizada modificada por Golden; (c) a Torre de Londres mede diferentes
componentes da função executiva, como planejamento, inibição, impulsividade e
memória de trabalho, para essa tarefa foi utilizada a versão desenvolvida por Shallice; (d)
o teste de QI verbal usado foi uma versão em espanhol do NART (National Adult Reading
Test), conhecida como TAP – “Test de Acentuación de Palabras” (Teste de Acentuação de
Palavras); (e) o teste de QI fluido utilizado foi uma versão computadorizada do raciocínio
matricial do WAIS-III (escalas Wechsler). Todos os indivíduos apresentaram escores de
inteligência na faixa normal. Não foram encontradas diferenças entre os dois subgrupos
no desempenho no teste das matrizes do WAIS ou na avaliação de inteligência verbal
(TAP). Em relação à distribuição de gênero entre os grupos, não houve diferença. A análise
estatística dos dados da tarefa Sternberg mostrou um efeito principal da Ayahuasca (pré
versus pós-administração) para erros totais. Mais erros ocorreram sob os efeitos da
Ayahuasca em toda a amostra. A análise de modelo linear geral dos dados da tarefa
Stroop mostrou os principais efeitos da Ayahuasca (pré versus pós-administração) nos
tempos de reação nos ensaios corretos compatíveis e incompatíveis corretos. Assim, os
tempos de reação foram mais curtos sob os efeitos da Ayahuasca. A análise de modelo
linear geral dos dados para a Torre de Londres não mostrou nenhum efeito principal da
Ayahuasca (pré versus pós-administração). Em conclusão, a administração aguda da
bebida Ayahuasca levou a efeitos mistos no desempenho neuropsicológico dos
participantes desse estudo, afetando negativamente a memória de trabalho, mas não
interferiu no estímulo-resposta. Efeitos prejudiciais sobre a cognição superior, medidos
pela Torre de Londres, foram observados em usuários ocasionais, mas não nos usuários
experientes. Correlações negativas entre desempenho nesta tarefa e uso da Ayahuasca ao
longo da vida não apoiam, a priori, uma associação entre uso crônico e habilidades
108

cognitivas prejudicadas, o que levanta a questão de efeitos neuromodulatórios induzidos


pelo uso da Ayahuasca ou pelos mecanismos compensatórios presentes nessa população.
Investigações futuras devem empregar técnicas de neuroimagem para avaliar a função
cerebral durante a execução de tarefas cognitivas em usuários de Ayahuasca de longo
prazo.
Outro estudo conduzido por Bouso et al. (2015) sugere que os psicodélicos podem
induzir potencialmente mudanças estruturais no tecido cerebral (TC), a partir do uso
regular da Ayahuasca em contexto religioso. Participou desse estudo um grupo de 22
usuários espanhóis de Ayahuasca e 22 controles. Os usuários da Ayahuasca eram
membros da igreja do Santo Daime que participavam regularmente dos rituais. Os dois
grupos participantes foram pareados por sexo, idade, anos de estudo e quociente de
inteligência (QI) verbal e QI fluido. Cada grupo foi composto por seis participantes do sexo
masculino e 16 do sexo feminino. O teste de QI verbal utilizado foi uma versão em
espanhol do NART, conhecido como Teste de Acentuação de Palavras (TAP). O teste de QI
fluido utilizado foi uma versão computadorizada do Matrix Reasoning da Wechsler Adult
Intelligence Scale (WAIS – III). O objetivo foi procurar por diferenças na espessura do
tecido cortical em usuários regulares de psicodélicos, por intermédio de imagens por
ressonância magnética (MRI – Magnetic resonance imaging) do cérebro desses usuários.
Os resultados, por um lado, mostraram que o uso regular da Ayahuasca foi associado ao
afinamento cortical do giro frontal médio, do giro frontal inferior, do precuneus (região do
lobo parietal), do giro frontal superior, do córtex cingulado posterior e do giro occipital
superior. Por outro, observou-se o aumento do espessamento cortical no giro pré-central
e no córtex cingulado anterior. Do ponto de vista mecanicista, as diferenças estruturais
observadas no estudo podem refletir uma ação ondulatória induzida por substâncias
psicodislépticas, ou uma resposta adaptativa do indivíduo. Apoiando a hipótese de ação
direta, o fato é que a ativação de receptores 5-HT2A estimula a expressão de genes
imediatos (por exemplo, c-fos) nos córtices medial pré-frontal e cingulado anterior. Os
agonistas psicodislépticos de 5-HT2A induzem a expressão dos fatores de transcrição Egr-1
(Early growth response protein 1) e Egr-2 (Early growth response protein 2). Esses fatores
de transcrição desempenham um papel importante na plasticidade sináptica, e sua
regulação positiva e negativa modula a memória de curto e longo prazo, além da atenção.
Os valores de TC no córtex cingulado posterior foram inversamente correlacionados com a
109

intensidade e a duração do uso anterior da Ayahuasca e com os escores de


autotranscendência, um traço de personalidade que mede religiosidade, sentimentos
transpessoais e espiritualidade. É importante ressaltar que essas características
estruturais não foram associadas ao aumento da psicopatologia entre os usuários
regulares da Ayahuasca. Apesar de não se poder estabelecer uma causa direta, os dados
desse estudo indicam que o uso regular de drogas psicodélicas pode, potencialmente,
levar a mudanças estruturais nas áreas do cérebro, suportando processos atencionais,
pensamento autorreferencial e processos mentais internos. Essas mudanças podem estar
subjacentes às mudanças de personalidade, relatadas anteriormente em usuários de
longo prazo, além de destacar o envolvimento do córtex cingulado posterior nos efeitos
dos psicodislépticos.
Palhano-Fontes et al. (2015) realizaram um estudo utilizando imagem por
ressonância magnética funcional (fMRI – functional Magnetic Resonance Imaging) para
inspecionar a Rede Modo Padrão (RMP) durante o estado psicodélico induzido pela
Ayahuasca. Foram avaliados 10 voluntários saudáveis, com pelo menos 5 anos de uso
regular de Ayahuasca (duas vezes ao mês), em uma igreja Santo Daime. Eles não tinham
história comórbida de doenças neurológicas ou transtorno psiquiátrico e não estavam sob
uso de medicação há pelo menos três meses antes do estudo. Os indivíduos estavam
abstinentes de cafeína, nicotina e álcool antes da sessão de varredura por fMRI. Um grupo
adicional de 26 indivíduos controles foi incluso no estudo para definir as regiões de
interesse da RMP. Em particular, foi examinado se a Ayahuasca altera a atividade e a
conectividade da RMP e a conexão entre a RMP e a rede de tarefas positivas (funções
executivas). Os indivíduos foram submetidos a duas sessões de fMRI, antes da ingestão de
Ayahuasca e 40 minutos após. Em cada sessão, os sujeitos realizaram dois protocolos. O
primeiro foi utilizado para avaliar a atividade da RMP, que consistiu em uma tarefa de
fluência verbal. Durante os períodos de descanso, os sujeitos foram convidados a pensar
em uma parede branca. O segundo protocolo foi uma aquisição convencional de fMRI,
projetada para avaliar a conectividade funcional da RMP. Para avaliar os efeitos subjetivos
causados pela Ayahuasca, duas escalas psiquiátricas foram aplicadas no tempo 0 (linha de
base), 40 minutos, 80 minutos e 200 minutos após a ingestão de Ayahuasca: a Brief
Psychiatric Rating Scale (BPRS) e a Young Mania Rating Scale (YMRS). Os resultados
mostraram que a Ayahuasca causou uma diminuição significativa da atividade na maioria
110

das partes da RMP, incluindo seus eixos mais consistentes: o córtex cingulado
posterior/precuneus e o córtex medial pré-frontal. A conectividade funcional no córtex
cingulado posterior/precuneus também diminuiu após a ingestão de Ayahuasca.
Nenhuma mudança significativa foi observada na ortogonalidade da RMP nem na rede de
tarefas positivas. No geral, os resultados sustentam a noção de que o estado alterado de
consciência induzido pela Ayahuasca, assim como pela psilocibina, a meditação e o sono
estão ligados à modulação da atividade e à conectividade da RMP.
Barbosa et al. (2016) avaliaram o uso de substâncias e o funcionamento
neuropsicológico e psicológico de usuários regulares de Ayahuasca em um ambiente
religioso. Foram avaliados 30 voluntários da religião brasileira União do Vegetal (UDV), de
uma filial dos Estados Unidos da América que usa Ayahuasca ritualmente. Também foram
avaliados 27 indivíduos controles não-Ayahuasca, pareados por perfil sociodemográfico e
frequência à igreja. Os testes de Mann-Whitney U, Qui-quadrado e Fisher foram usados
para analisar as diferenças entre os grupos. A associação de Spearman e os testes de
regressão logística simples foram usados para analisar o impacto da frequência do uso da
Ayahuasca nas variáveis dependentes. Em relação ao grupo controle, o grupo UDV
demonstrou: escores mais baixos para depressão (p = 0,043, r = 0,27) e confusão (p =
0,032, r = 0,29), conforme avaliado pelo Profile of Mood States (POMS); maiores escores
no instrumento Big Five Inventory (BFI) para as características de afabilidade (p = 0,028, r
= 0,29) e abertura (p = 0,037, r = 0,28); (p = 0,035, r = 0,28); maiores pontuações no papel
do domínio da qualidade de vida, de acordo com o instrumento Medical Outcomes Study
Short Form-36 (SF-36); menor uso recente de álcool (p <0,001, φc = 0,57); maior uso de
álcool para intoxicação (p = 0,007, φc = 0,36) e uso de cannabis (p = 0,001, φc = 0,45) pelo
Addiction Severity Index (ASI), 5ª edição; (p = 0,040, r = 0,27). O tempo de uso da
Ayahuasca no decorrer da vida foi positivamente correlacionado com as limitações de
função devido à saúde física (p = 0,032, rs = 0,39) e negativamente associado ao uso
pesado de álcool na vida (p = 0,034, OR = 0,979). Os resultados indicam que o uso religioso
da Ayahuasca não afeta negativamente o funcionamento neuropsicológico e pode ter
efeitos positivos sobre o abuso de substâncias e o humor.
111

2.3 Temperamento

O temperamento pode ser considerado como a base do humor, do


comportamento e da personalidade; comumentemente, refere-se ao jeito de ser de cada
pessoa e se relaciona às sensações e motivações básicas e automáticas do indivíduo (LARA
et al., 2006; LARA, 2009, p. 15). Ele está relacionado à natureza emocional, perceptual e
cognitiva, é transmitido geneticamente; embora seja relativamente estável no decorrer do
tempo, sofre influências do meio ambiente (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993;
ROTHBART; AHADI; EVANS, 2000; ZWIR et al., 2018).
A ideia geral sobre temperamento é que este se baseia no jeito de ser de cada um
ou da sua natureza emocional, que é difícil de ser alterada. O temperamento é entendido,
cada vez mais, como uma disposição geral que envolve a base emocional, assim como os
traços cognitivos e as características comportamentais. Embora existam diferentes
conceitos entre vários estudiosos da área, há consenso com relação a alguns princípios: (a)
o temperamento tem uma base biológica forte e pode ser observado no início da infância;
(b) a predisposição do temperamento é relativamente estável ao longo da vida, no
entanto, sofre influências do meio ambiente; (c) o temperamento pode ser considerado
um atributo bidirecional, já que a natureza emocional influencia o comportamento, que
causa determinados tipos de reação do meio em relação ao indivíduo, em um ciclo
contínuo; (d) o temperamento é algo flexível pelo entendimento das próprias
características emocionais, isto é, as pessoas não são escravizadas totalmente pelo seu
temperamento; (e) o temperamento oferece uma base para o desenvolvimento da
personalidade, no entanto, não é sinônimo; alguns acreditam que são as características
iniciais da personalidade, que posteriormente se desenvolvem de maneira geral,
compreendendo todas as relações, valores e crenças (LARA, 2012, p. 11).
O temperamento sofre influência de fatores externos e internos (biológicos) e é
modulado por emoções específicas, como tristeza, raiva, medo e alegria, que transcorrem
em intervalos de tempo que podem variar de poucos segundos a horas, geralmente em
resposta a algum evento ou contexto. Conforme o temperamento de cada indivíduo,
pode-se experimentar emoções e variações de humor de maneira mais ou menos intensa.
O oposto também é verdadeiro, o padrão de reação emocional influencia as variações de
humor e, no decorrer do tempo, vai-se constituindo o temperamento. Assim,
112

temperamento, humor e emoções são aspectos diferentes, no entanto interconectados, já


que são eles que fazem com que as pessoas sintam como são e estão (LARA, 2012, p. 12).
Kraepelin (1921, p. 117) descreveu os estados fundamentais ou predisposições
pessoais que correspondem ao que, atualmente, denominam-se temperamentos afetivos,
que estão associados com a nuança predominante do humor ao longo do tempo. Ele
propôs quatro estados fundamentais, são eles: (a) Temperamento Maníaco (excitação
constitucional) caracteriza as pessoas que não gostam de se esforçar, fazem apenas o que
gostam, valorizam exageradamente suas capacidades, são vaidosas ao extremo e possuem
sentimentos idealizados. São superficiais, despreocupadas, exaltadas, distraídas,
comunicativas, autoconfiantes, excêntricas, arrogantes, teimosas e, quando contrariadas,
podem ser violentas ou grosseiras. Sexualmente são ativas, com início prematuro,
costumam gastar com bebidas e drogas em geral, gastam além das suas possibilidades.
Não cumprem suas obrigações e, mesmo assim, fazem reivindicações. (b) Temperamento
Depressivo (mau humor constitucional) é o oposto do maníaco, caracterizado por um
permanente estresse emocional sombrio, geralmente, em todas as experiências da vida.
São pessoas inseguras, fatigáveis, desanimadas, deixam-se abater com facilidade, sentem-
se pressionadas pelas dificuldades e pelas dúvidas, tendem à elucubração de ideias e ao
isolamento, antecipam problemas, autocensuram-se, são lentas na tomada de decisão e
restringem seus desejos. Apresentam prejuízos nas relações interpessoais e podem se
tornar desajeitadas em contextos sociais, geralmente devido à falta de confiança e à
timidez. Evitam o que não é usual ou que pode ser perigoso, e algumas fazem tudo com
extremo critério e perfeição. Geralmente, apresentam queixas físicas de todo o tipo,
desde problemas de sono, palpitações, mal-estar e dores. (c) Temperamento Irritável
(mistura entre o mau humor e a excitação), é um misto dos estados depressivo e maníaco,
com tendência ao sentimentalismo e à exuberância, no entanto, são magoáveis e
abaláveis, reagindo com irritação e se ofendem facilmente. Lançam-se com paixão em
pequenas contendas, são ciumentas e ameaçadoras. Geralmente, variam entre a
desinibição e o mau humor, o que pode levar a interpretações delirantes dos fatos,
acreditando que as outras se aproveitam delas ou as irritam propositadamente.
Eventualmente, apresentam necessidade de adquirir mais cultura e, uma vez no ambiente
de trabalho, mostram capacidade intelectual e competência. O quarto e último (d)
Temperamento Ciclotímico (alternância entre mau humor e excitação) denota a oscilação
113

entre os estados maníaco e depressivo. Podem ser pessoas espirituosas, animadas,


exultantes, apresentando prazer e entusiasmo, contudo algum tempo depois se
encontram enfraquecidas, deprimidas, cansadas e mal-humoradas, até que ressurja um
período de energia elevada e exultante. Kraepelin assinalou também que essa disposição
está mais relacionada a artistas, que alternam fases de grande produtividade e
criatividade a outras não tão produtivas, apesar do esforço empreendido.
Cloninger propôs o Modelo Psicobiológico de Temperamento e Caráter vinculado
aos elementos emocionais que impulsionam o início, o término e a manutenção de
comportamentos, relacionados ao caráter dos valores aprendidos e interiorizados pelas
experiências (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993). O que torna esse modelo
consistente é que cada dimensão de temperamento foi identificada e caracterizada por
um traço herdado relacionado às emoções básicas, como o medo (esquiva ao dano ou
evitação do dano), a raiva (busca de novidades), o apego ou dependência emocional
(dependência de recompensa) e a ambição ou determinação (persistência) (CLONINGER,
1987; CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993; LARA, 2008, p. 21; LARA, 2012, p. 30).
O modelo de Akiskal recuperou e reformulou o conceito de disposições
fundamentais de Kraepelin, que passou a chamar de temperamentos afetivos, e
acrescentou um quinto elemento, o ansioso (com tendências fóbicas e evitativas). Embora
seja um esquema prático, demonstrou claras relações dos temperamentos afetivos com
os transtornos de humor associados, tanto no indivíduo quanto na família, por exemplo,
entre o temperamento ciclotímico e o transtorno bipolar tipo II (AKISKAL et al., 2005).
Ademais, em parceira com o psiquiatra brasileiro Olavo Pinto, introduziu a avaliação do
temperamento afetivo na prática clínica e caracterizou padrões de humor entre depressão
e transtornos bipolares clássicos (tipo I e II) no conceito de espectro bipolar (AKISKAL;
PINTO, 1999), que é um dos artigos mais importantes da prática psiquiátrica moderna.

2.3.1 Modelo AFECT (Affective and Emotional Composite Temperament)

Segundo Lara et al. (2012) o modelo AFECT (Affective and Emotional Composite
Temperament) está fundamentado na premissa de que o temperamento é um elemento-
chave para o entendimento da saúde e doença no âmbito da mente, em concordância
com os autores Akiskal et al. (2005) e Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993). A configuração
114

de temperamento influencia a apreciação de eventos, gerando determinados vieses na


qualidade e na quantidade da percepção inicial e da avaliação imediata dos estímulos,
depois, na forma de lidar com eles. Assim, o temperamento está em uma posição central
para influenciar e ser influenciado por outros domínios, como comportamento, cognição,
percepção, atenção, relações, intenções, humor e afeto, trabalhando como uma força que
liga esses módulos e funções (ver FIGURA 25).

Figura 25 – O temperamento como função central e integradora de diversos elementos de humor,


comportamento, cognição e valores

humor movimento

afeto ações

Temperamento

cognição caráter

relações
percepção
intenções

Fonte: Lara (2012, p. 43).

2.3.1.1 Princípios universais do modelo AFECT

O desenvolvimento teórico do modelo AFECT teve como âncora a aplicação de


princípios universais (LARA, 2012, p. 44; LARA et al., 2012a), são eles:
a) O cérebro e a mente seguem princípios e leis universais. As leis e normas que
regem mente-cérebro devem ser analisadas em outros processos de sistemas do
universo; é pouco provável que existam princípios e leis exclusivas para atender
necessidades especiais da mente e do cérebro, por mais complexo que eles sejam.
Esse princípio foi utilizado por Hipócrates, ao traduzir os quatro elementos do
mundo (água, terra, fogo e ar), propostos pelo filósofo Empédocles para os quatro
humores (colérico, melancólico, fleumático e sanguíneo).
115

b) A mente funciona como um sistema. Um sistema é um todo que envolve relações


entre seus elementos. A mente é um sistema aberto (interage e proporciona troca
com o ambiente), autorregulado, complexo (existência de muitos elementos
interconectados) e adaptativo (tem a capacidade de modificar, aprender e evoluir
com a experiência/aprendizado).
c) O sistema mental tende a funcionar de forma coerente entre os seus diferentes
módulos e planos. Entender o funcionamento da mente e as relações entre as
suas partes é fundamental para a compreensão do fenótipo resultante, com
importantes implicações para saúde e os transtornos mentais.
d) Visões categóricas e dimensionais são complementares em seus pontos fortes e
fracos e nenhuma das duas abordagens é suficiente para descrever todo o
fenômeno mental. Traços e estados, assim como categorias e dimensões,
oferecem diferentes visões dos fenômenos e podem ser integrados, por exemplo,
muitos comportamentos específicos têm maior probabilidade de surgir quanto
mais extremo é o indivíduo em dada dimensão ou grupo de dimensões de
temperamento (por exemplo, ataques de pânico são mais comuns em pacientes
com traços de medo e vulnerabilidade; o uso de cocaína é mais propenso em
indivíduos que possuem traços de desinibição, descontrole e busca de novas
sensações).
e) O perfil de temperamento influencia quais transtornos podem se desenvolver de
forma determinista e probabilística. Os traços de temperamento formam um
cenário sobre o qual os fenômenos mentais acontecem, independentemente de
serem adaptativos ou desadaptativos, deliberados ou reativos. Tais traços podem,
portanto, ser avaliados como fatores de risco ou de proteção para o
desenvolvimento de transtornos mentais, inclusive uso de drogas.
f) Níveis ótimos de traços de temperamento protegem de transtornos
psiquiátricos. A capacidade de autorregulação, contida no princípio de Ativação-
Inibição-Sensibilidade-Coping-Controle (AIS2C), que será explicado a seguir, é
fundamental para adaptação e a proteção contra transtornos psiquiátricos.
116

2.3.2 Sistema de temperamento emocional e afetivo

2.3.2.1 Temperamento emocional

Os componentes do temperamento emocional foram delineados em fases,


concomitantemente à evolução do próprio conceito geral de sistema. Na primeira versão,
a inibição foi atribuída ao medo e à ativação, à raiva e à vontade. Por isso, o primeiro
nome do modelo foi “modelo de medo e raiva”. Os primeiros estudos psicométricos
demonstraram que a raiva e a vontade/desejo correspondiam a fatores independentes,
apesar de ambos serem manifestações de ativação emocional. Simultaneamente, ficou
esclarecido que somente os eixos de ativação e inibição não seriam suficientes para
explicar adequadamente o temperamento relacionado aos principais transtornos mentais
e temperamentos afetivos. As ideais para a incorporação de novas dimensões foram
pautadas em princípios universais, dados preliminares e na interpretação global de
achados das áreas de psicologia, psiquiatria e neurociência (LARA, 2012, p. 55; LARA et al.,
2012a).
O temperamento emocional tem como base dois eixos ortogonais dos opostos
complementares de ativação (vontade, desejo e raiva) e inibição (medo e cautela), que
são modulados pelo controle. O sistema tem algum grau de sensibilidade a eventos
ambientais e habilidades de coping (encarar e resolver problemas, aprendendo com isso)
(LARA et al., 2012a).

2.3.2.2 Temperamento afetivo

O temperamento afetivo é um conceito sucinto e está estreitamente relacionado


ao humor ou padrão energético. Desse modo, o desenvolvimento dos temperamentos
afetivos segue a lógica de caracterizar as principais combinações entre as dimensões
emocionais. A princípio, foi concebida como chave a interação entre ativação e inibição,
dividindo cada uma dessas chaves em expressão alta, média e baixa. Essa combinação 3x3
deveria gerar 9 temperamentos afetivos. Cinco deles já haviam sido propostos por
Kraepelin e Akiskal: depressivo, ansioso (também denominado evitativo), ciclotímico,
irritável e hipertímico. Dessa forma, foram propostos mais quatro tipos: apático, volátil,
117

desinibido e eutímico. Este último foi incluso para representar a predisposição à saúde
mental e humor de indivíduos equilibrados, conforme se pode visualizar no Quadro 2
(LARA, 2012, p. 61; LARA et al., 2008).

Quadro 2 – Nove tipos iniciais de temperamentos afetivos


Temperamento afetivo Ativação Inibição

Depressivo Baixa Alta


Ansioso/Evitativo Média Alta
Apático Baixa Média
Ciclotímico Alta Alta
Volátil Baixa Baixa
Eutímico Média Média
Irritável Alta Média
Desinibido Média Baixa
Hipertímico Alta Baixa
Fonte: Lara (2012, p. 61).

Um objetivo importante do construto de temperamento afetivo é refletir os


principais padrões de saúde e disfunção mental de forma sucinta e global. De acordo com
Lara (2012, p. 63), as definições dos temperamentos afetivos são as seguintes:
DEPRESSIVO: Tenho tendência à tristeza e à melancolia; vejo pouca graça nas
coisas; tendo a me desvalorizar; não gosto muito de mudanças; prefiro ouvir a falar.
EVITATIVO (ANSIOSO): Sou muito preocupado e cuidadoso; frequentemente, me
sinto inseguro e apreensivo; tenho medo de que coisas ruins aconteçam; tento evitar
situações de risco; estou sempre alerta e vigilante.
APÁTICO: Tenho pouca iniciativa; com frequência, me desligo do que os outros
estão dizendo ou fazendo; muitas vezes, não concluo o que comecei; tendo à passividade
e sou um pouco lento.
CICLOTÍMICO: Meu humor é imprevisível e instável (altos e baixos), muda
rapidamente ou de maneira desproporcional aos fatos; tenho fases de grande energia,
entusiasmo e agilidade, que se alternam com outras fases de lentidão, perda de interesse
e desânimo.
DISFÓRICO: Tenho uma forte tendência a me sentir agitado, tenso, ansioso e
irritado ao mesmo tempo.
118

VOLÁTIL: Sou dispersivo, inquieto, desligado e desorganizado; às vezes, sou


precipitado ou inconveniente, e só me dou conta mais tarde; mudo de interesse
rapidamente; tenho dificuldade em concluir tarefas e fazer o que deveria.
OBSESSIVO: Sou exigente, dedicado, perfeccionista, detalhista e rígido; preciso ter
o controle das coisas; não lido bem com incertezas e erros.
EUTÍMICO: Meu humor é equilibrado e previsível, costuma mudar só quando há
um motivo claro; tenho boa disposição e, em geral, me sinto bem comigo mesmo.
HIPERTÍMICO: Estou sempre de bom humor, sou muito confiante e me divirto
facilmente; adoro novidades; faço várias coisas sem me cansar; vou atrás do que quero
até conquistar; tenho forte tendência à liderança.
IRRITÁVEL: Sou muito sincero, direto e determinado, mas também irritado,
explosivo e desconfiado.
DESINIBIDO: Sou inquieto, ativo, espontâneo e distraído; muitas vezes, ajo de
maneira precipitada e inconsequente; é muito comum que eu deixe para fazer as coisas na
última hora; quando me irrito, logo fico bem de novo.
EUFÓRICO: Sou expansivo, rápido, falante e intenso; tenho muitas ideias e me
distraio facilmente; sou imediatista, explosivo e impaciente; me exponho a riscos por
excesso de confiança ou empolgação; exagero no que me dá prazer; não gosto de rotina e
de regras.
O estudo desse modelo foi operacionalizado com o desenvolvimento da escala
AFECTS (LARA et al., 2008; LARA et al., 2012, 2012a; LARA, 2012, p. 64). De acordo com os
resultados dessa escala, 99% dos indivíduos se identificam com, no mínimo, um dos
temperamentos afetivos propostos. Tais dados sugerem que esses 12 tipos afetivos
abrangem o estilo afetivo e de padrão de humor da maioria das pessoas, de forma prática
e simples. Para avaliar melhor essas tendências, foram desenvolvidos índices de
externalização-internalização e de instabilidade-estabilidade, tornando evidente que os 12
temperamentos afetivos podem ser divididos em 4 grupos com 3 integrantes, com as
seguintes definições gerais:
⇒ internalizantes (depressivos, evitativos e apáticos): têm problemas por inibição e
déficit de ativação, prejudicam-se por deixar de fazer, por faltar atitudes e
atributos adaptativos; tendem a evitar estímulos e são vulneráveis;
⇒ instáveis (ciclotímicos, disfóricos e voláteis): erram por excesso e por déficit, umas
119

vezes, demais; outras, de menos; inconstância de relações e dificuldades no longo


prazo devido à falta de regularidade; alternam busca e evitação de estímulos e são
reativos;
⇒ estáveis (obsessivos, eutímicos e hipertímicos): a regularidade e a moderação
ajudam muito na adaptação; erram mais por acharem que estão sempre certos,
porque, comparados aos outros tipos, frequentemente estão bem e têm êxito,
mas podem ter excesso de confiança e pecar por excesso de controle; busca
moderada de estímulos ou alta busca de estímulos de média intensidade;
⇒ externalizantes (eufóricos, desinibidos e irritáveis): erram mais por excesso, fazem
primeiramente para depois pensar nas consequências e, muitas vezes, pagam um
preço caro por isso; alta busca de estímulos e alta reatividade.

2.3.2.3 Relações entre os temperamentos emocionais e afetivos

O modelo AFECT procura integrar as dimensões emocionais/cognitivas (as


“partes”) com as categorias afetivas e padrões de humor (a “síntese”). As categorias
favorecem a comunicação sintética à custa de precisão, enquanto dimensões são mais
úteis no entendimento e na quantificação dos fenômenos, mas são relativamente
complexos para comunicar (LARA, 2012, p. 66).
Conforme resultados da escala AFECTS (Escala Composta de Temperamento
Emocional e Afetivo), cada um dos temperamentos afetivos tem uma configuração
emocional específica, mas os tipos do mesmo grupo compartilham mais semelhanças. As
configurações emocionais dos doze temperamentos afetivos estão representadas no
Quadro 3, com cinco graus de variações. O tipo eutímico, em negrito, representa a
referência de saúde e adaptação (LARA, 2012, p. 66).
Os componentes emocionais mais diretamente relacionados ao humor, de acordo
com os resultados apresentados no Quadro 3, são a ativação (vontade, raiva e desejo) e a
inibição. Pode-se verificar que a vontade alta é característica dos eutímicos e hipertímicos,
o que favorece conquistas em longo prazo, e é bastante deficiente em depressivos, que
apresentam dificuldade de se projetar no mundo. No entanto a raiva e o desejo são
realmente baixos em eutímicos, que procuram resolver seus problemas de maneira mais
pacífica e não são tão vulneráveis aos impulsos prazerosos. A raiva pode favorecer
120

algumas situações de territorialidade em ciclotímico, disfóricos, irritáveis e eufóricos


(instáveis e externalizantes), porém, costuma causar prejuízos nas relações por excesso. O
desejo também está muito presente nesses tipos, mas, principalmente, em eufóricos,
ciclotímico e desinibidos. Depressivos e evitativos são os mais inibidos e, o que não é de
surpreender, os desinibidos e eufóricos são menos inibidos. Os temperamentos estáveis e
instáveis apresentam níveis intermediários de inibição, no entanto as facetas revelam
nuances diferentes, como os estáveis tendem a um padrão favorável de mais cautela do
que medo e, dessa maneira tendem a assumir riscos com mais cuidado, enquanto a
inclinação dos instáveis é de serem mais impulsivos (são menos cautelosos) do que os
ousados (baixo medo) (LARA, 2012, p. 66).

Quadro 3 – Configurações emocionas dos 12 temperamentos afetivos


Temperamentos
Vontade Raiva Desejo Inibição Sensibilidade Coping Controle
afetivos
Depressivo ¯¯ « ¯ ­­ ­­ ¯¯ ¯
Evitativo « « ¯ ­­ ­ ¯ ­
Apático ¯ ¯ ¯ ­ ­ ¯¯ ¯¯
Ciclotímico « ­­ ­­ « ­­ ¯ «
Disfórico « ­­ ­ « ­ ¯ «
Volátil ¯ ­ ­ ¯ ­ ¯¯ ¯¯
Obsessivo ­ ­ « ­ « ­ ­­
Eutímico ­­ ¯¯ ¯¯ « ¯¯ ­­ ­­
Hipertímico ­­ ¯ « ¯ ¯¯ ­­ ­­
Irritável ­ ­­ ­ « « ­ ­
Desinibido ­ « ­­ ¯¯ « « ¯
Eufórico ­ ­­ ­­ ¯¯ « ­ «
Notas: ↓ = baixo; ↓↓ = muito baixo; « = médio; ↑ = alto, e ↑↑ = muito alto.
Fonte: Lara (2012, p. 66).

A sensibilidade, o coping e o controle são componentes relevantes para a


adaptação ao ambiente e a autorregulação. Verifica-se que a sensibilidade é bastante
alta, ao passo que o coping é baixo nos temperamentos afetivos instáveis e internalizantes
em geral. Um padrão oposto é visto entre os eutímicos e os hipertímicos, que se
perturbam menos frente ao estresse e conseguem lidar melhor com problemas. Os
temperamentos afetivos associados com alto controle são eutímico, hipertímico e
121

obsessivo, contudo, os obsessivos possuem maior demanda de controle, por terem mais
inibição e raiva do que os outros dois temperamentos estáveis. Em oposição, o controle é
particularmente baixo nos temperamentos volátil, desinibido e apático. Nos
temperamentos ciclotímico, disfórico e eufórico, o controle é moderado e, por
consequência, muitas vezes deficiente para conter seus níveis altos de raiva (LARA, 2012,
p. 67).

2.3.3 Estudos com usuários de substâncias psicoativas avaliados com a AFECTS

Fuscaldo (2012) realizou um levantamento, via web, entre a população brasileira,


com 28.587 usuários de cocaína (26,6% homens, com média da idade de 30,8 ± 9,8 anos).
Para avaliar o temperamento emocional e afetivo foi utilizada a Escala Composta de
Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS). Para os traços emocionais, a Inibição
(particularmente a cautela), o Coping e o Controle foram significativamente menores nos
grupos que usaram cocaína, em comparação com os controles, principalmente no grupo
com dependência à cocaína. A Raiva e o Desejo estavam aumentados de acordo com o
grau de envolvimento com a droga. Para o temperamento afetivo, o uso de cocaína foi
relacionado a uma menor proporção de tipos estáveis, como obsessivos (exigentes,
dedicados, perfeccionistas, detalhistas e rígidos), eutímicos (equilibrados e previsíveis) e
hipertímicos (sempre de bom humor e muito confiantes) e do tipo ansioso; e uma maior
proporção dos temperamentos ciclotímicos (imprevisíveis e instáveis) e eufóricos
(expansivos, rápidos, falantes e intensos) em ambos os sexos. Concluiu-se que os traços
específicos externalizados e instáveis foram associados com o comportamento
relacionado ao uso de cocaína. O conhecimento destas características pode ser
importante para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle do uso da
cocaína.
Leite (2014) realizou um estudo sobre temperamento emocional e afetivo em
usuários de álcool. Foi utilizada a escala AFECTS para avaliar como traços emocionais e
temperamentos afetivos se relacionam ao uso, abuso e dependência de álcool na
população geral. Dados de 10.603 participantes (média da idade 28.0 ± 7.8 anos, 70,3%
mulheres) foram coletados anonimamente pela Internet, no Brasil. Os sujeitos foram
estratificados de acordo com o consumo da substância, sendo os grupos respectivamente
122

nomeados: controle (baixíssimo uso), baixo uso, abuso e dependência. As análises para
traços emocionais mostraram que, nos grupos de abuso e dependência, os níveis de
Vontade e Maturidade (Coping) foram mais baixos, enquanto os escores de Sensibilidade
estavam mais altos, sem diferença entre os grupos controle e baixo uso. O consumo de
álcool foi também associado com baixo Controle, Estabilidade e Cautela, alta Raiva,
Ansiedade e Desejo, apresentando diferenças significativas entre todos os grupos. Com
relação aos tipos de temperamento afetivo, abuso e dependência de álcool foram
associados aos temperamentos eufórico e ciclotímico, em ambos os sexos, acompanhados
de uma menor frequência dos tipos eutímico e hipertímico. A existência de uma disfunção
global de traços emocionais e a predominância de temperamentos ciclotímico e eufórico
foram associados a comportamentos relacionados ao consumo de álcool.
Schneider Jr et al. (2015) realizaram um levantamento sobre temperamento e
traços de caráter associados ao uso de substâncias, em uma grande amostra brasileira, via
questionários on-line. O intuito foi avaliar como os traços de personalidade estão
associados ao uso ocasional, ao abuso e à dependência de álcool, maconha, cocaína,
benzodiazepínicos e alucinógenos, entre a população de adultos. A amostra consistiu em
8.646 indivíduos (24,7% homens e 75,3% mulheres) que completaram uma pesquisa
anônima na web. O envolvimento com drogas e características de temperamento/caráter
foi avaliado por meio do Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test
(ASSIST) e Temperament and Character Inventory – Revised (TCI-R), respectivamente. As
interações entre as variáveis foram analisadas mediante o uso da MANOVA, com ajuste de
Bonferroni. Os resultados apontaram a busca por novidade como o traço mais associado
ao aumento do envolvimento com álcool, maconha e cocaína. Houve uma associação
significativa entre a prevenção de danos e o uso de benzodiazepínicos. A persistência foi
menor em dependentes de maconha, benzodiazepínicos e dependentes de cocaína, assim
como em usuários de alucinógenos. Não foram encontradas relações fortes entre outras
dimensões de temperamento ou caráter e a gravidade do uso de drogas. A busca por
novidade foi associada ao aumento do envolvimento com todas as substâncias estudadas
nesta amostra, embora, em menor grau, com benzodiazepínicos e alucinógenos. O perfil
de temperamento e caráter para o uso de benzodiazepínicos foi diferente de outras
substâncias, devido à relação com maior evitação ao dano e autotranscendência e menor
autodirecionamento.
123

2.4 Religiosidade

Embora ainda não exista consenso científico sobre as definições de “religiosidade”


e “espiritualidade”, esses termos se conectam com a busca do sagrado, inerente à
condição do homem, pois abarcam aspectos, como sentido e propósito de vida,
sentimentos de paz, harmonia, conexão com a natureza e com os outros.
Xavier (2006) traz definições para os referidos vocábulos: “‘Religiosidade’ tende a
denotar um sentido mais estrito, vinculado à religião institucional; e ‘Espiritualidade’ tende
a ser diferenciada de religião em função de um sentido (ou conotação) mais individual ou
subjetivo de experiência do sagrado”. Chiu et al. (2004) se aproximam desta definição de
espiritualidade, pois entendem que “[...] a espiritualidade pode ser compreendida em
termos de conexão/relação consigo próprio, ou seja, a procura por maior
autoconhecimento, satisfação com a vida e equilíbrio interior [...]”.
Religiosidade pode ser vista como uma disposição individual e privada para o
relacionamento com o mundo transcendente, vinculada a uma religião organizada e
institucionalizada; relacionada a um sistema de orientações que envolvem doutrinas
compartilhadas por um grupo, implicando em uma referência transcendental, envolve
práticas rituais e simbólicas (MACHADO; HOLANDA, 2016, p. 65). A espiritualidade está
vinculada aos valores e significados, uma construção apoiada na fé, não necessariamente
religiosa, que presume referência no sentido de buscar uma conexão com algo maior que
si próprio, com o sagrado, no entanto essa fé não envolve, necessariamente, um ser
transcendental (MACHADO; HOLANDA, 2016, p. 64).
A concepção de espiritualidade é multidimensional e pode ser definida, como: (a)
uma espiritualidade orientada para Deus, sua prática tem como base teologias mais
restritas ou amplas; (b) uma espiritualidade orientada para o mundo, sobretudo em
consonância com a natureza e a ecologia; e (c) uma espiritualidade humanística, em que a
ênfase é voltada ao potencial ou conquistas humanas. No entanto, a religião também
apresenta características multidimensionais, como crenças, comportamentos, rituais e
cerimônias que pertencem às tradições enraizadas nas sociedades que visam promover
identidade pessoal e social. A busca pelo sagrado é central em ambas as concepções,
contudo a religião é mais abrangente, pois inclui a procura de objetivos não sagrados, que
visem facilitar a busca pelo sagrado, compreendendo meios e métodos que são apoiados
124

e validados em determinado grupo de pessoas (HILL et al., 2000).


Chiu et al. (2004) realizaram uma revisão na literatura e identificaram que a
espiritualidade pode ser definida de múltiplas maneiras. Assim, a partir de análise
temática das definições atuais de espiritualidade, surgiram quatro temas: (a) Realidade
Existencial: compreende a existência espiritual e a experiência, é constituída pelo
significado e o propósito da vida, o que traz esperança para a existência do indivíduo.
Muitos autores discutem a espiritualidade dentro de um domínio experiencial/existencial.
Nesse sentido, a espiritualidade pode ser descrita como uma experiência individual,
subjetiva, intrínseca, consciente e, além disso, um modo de ser. A espiritualidade é uma
jornada pessoal para descobrir o significado e o propósito na vida. Nessa jornada, o
indivíduo aprende a enfrentar os medos para lidar com o desconhecido, para enfrentar a
mortalidade e, ao mesmo tempo, amar, perdoar e confortar os outros. (b)
Conexão/Relação: diz respeito às relações consigo próprio, com os outros, com a natureza
e com um ser superior. A expressão consigo próprio representa a procura por maior
autoconhecimento, satisfação com a vida e equilíbrio interior. Em relação aos outros, ela
remete a um senso de comunidade, compaixão e altruísmo, que se manifesta por
intermédio da partilha e da ajuda ao próximo. Também diz respeito à natureza e à
interação entre o ambiente e o ser humano. E, por fim, a relação com um ser superior,
que pode ser compreendida com a relação a Deus, que envolve a crença, a fé, a expressão
e a prática religiosa. (c) Transcendência: é considerado componente essencial e indicador
de espiritualidade. Ela transcende o contexto da realidade presente, existe além do tempo
e do espaço. Nesse sentido, transcendência é o nível de consciência pelo qual uma pessoa
atinge novas perspectivas e experiências que vão além do limite físico. E, por último, (d)
Poder/força/energia: espiritualidade referida como poder, força ou energia, contempla a
energia criativa, a motivação, um guia por procura ativa e inspiração, sendo, por isso, uma
base unificadora e uma força de crescimento. Assim, é dinâmica e integra o processo de
crescimento que conduz ao propósito e ao significado na vida.
Neste texto, religiosidade e espiritualidade serão tratados como sinônimos, uma
vez que assim são considerados pelo instrumento utilizado no presente estudo,
denominado Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-
P). Essa decisão também se apoia no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5) (APA, 2014, p. 725), que trata como sinônimos: problemas religiosos ou
125

espirituais.
Ambos os conceitos são complexos e polêmicos, portanto não existe uma definição
simples que exprima todas as suas dimensões, podendo, ainda, envolver uma terceira
dimensão, a religião.
Religião e espiritualidade são dois conceitos complexos. A etimologia da palavra
religião, do latim: religio,onis, significa culto religioso ou práticas religiosas. De acordo com
Houaiss (2009, p. 1639), religião significa crença na existência de um poder ou princípio
superior, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e
obediência. A palavra espiritualidade provém do latim spiritus,us, que significa sopro,
exalação, espírito, alma. O significado de espiritualidade é qualidade do que é espiritual,
característica ou qualidade do que tem ou revela intensa atividade religiosa ou mística;
tudo o que tem por objeto a vida espiritual (HOUAISS, 2009, p. 820).
Hill et al. (2000) realizaram uma revisão teórica sobre religião e espiritualidade,
reuniram algumas características desses dois constructos que justificam a importância de
seu estudo. Tanto religião como espiritualidade se desenvolvem ao longo da vida das
pessoas, são fenômenos sociopsicológicos, que se expressam intragrupo e/ou são
influenciados por grupos de referência, têm relação com processos cognitivos, afetivos e
emocionais dos indivíduos. Ainda de acordo com os mesmos autores, estes afirmam que a
religião apresenta características multidimensionais, como crenças, comportamentos,
rituais e cerimônias que pertencem às tradições enraizadas nas sociedades, tradições
estas que visam promover identidade pessoal e social.
Koenig (2000) refere utilizar os termos espiritualidade e religião de forma
intercambiável, como sinônimos; além disso, a maioria das pesquisas que ligam
espiritualidade à saúde mediu crenças ou práticas religiosas. Assim, a utilização desses
vocábulos como sinônimos contempla processos subjetivos do indivíduo como um todo,
ou seja, alguém cujo ser tem dimensões físicas, emocionais e espirituais.
Não existe uma definição simples de religião que exprima todas as suas dimensões.
Englobando elementos espirituais pessoais e sociais, é um fenômeno que se manifesta em
todas as culturas, desde a pré-história até à contemporaneidade, conforme pode ser
constatado em pinturas rupestres, funerais de antepassados e na procura por um objetivo
espiritual na vida. Ao longo da história da humanidade, a religião serviu como forma de
compreender os fenômenos naturais e exercer influência sobre eles. Temas, como tempo,
126

estações, vida, morte, criação, vida após a morte e a estrutura do universo estavam
subjugadas às explicações religiosas que evocavam deuses controladores ou um plano da
realidade fora do âmbito visível, habitado por divindades e criaturas místicas. A religião
era um modo de comunicação com os deuses por meio de rituais e rezas, e essas práticas,
quando compartilhadas por membros da comunidade, auxiliaram a consolidar grupos
sociais, reforçar hierarquias e gerar sentido de identidade coletiva ou pertencimento
(JONES; PALFFY, 2014, p. 12).
Vários autores estabelecem correlações positivas entre religiosidade e/ou
espiritualidade e qualidade de vida, em diferentes aspectos e contextos, atuando
principalmente como enfrentamento em situações adversas (PANZINI et al., 2017; DE
FREITA MELO et al., 2015).
De Freitas Melo et al. (2015) realizaram uma revisão bibliográfica de metanálise,
em todos os periódicos indexados no portal Capes, verificando os estudos existentes que
exploram a correlação entre a qualidade de vida e a religiosidade, em diferentes aspectos
e contextos. Os resultados mostraram que a religiosidade e a espiritualidade têm
correlação com a qualidade de vida, atuando principalmente como enfrentamento em
situações adversas. Em relação à qualidade de vida, evidenciaram-se algumas premissas,
como: (a) subjetividade, que é a percepção do indivíduo, ou seja, a perspectiva do
indivíduo que realmente conta, sendo um conceito intrínseco em que o próprio sujeito
participa da sua definição; (b) multidimensionalidade, o indivíduo passa a ser visto como
um ser multidimensional, uma vez que vários aspectos estão envolvidos na sua relação
consigo mesmo e com o mundo, influenciando na sua qualidade de vida; (c) bipolaridade,
que consiste no reconhecimento de características que devem estar presentes e ausentes
para que a qualidade de vida seja considerada satisfatória; (d) mutabilidade, que leva em
consideração que a avaliação da qualidade de vida pode variar de acordo com o tempo, o
local e o contexto cultural no qual se está inserido.
Na maior parte dos artigos, observou-se que a religiosidade/espiritualidade
aparece como uma das estratégias utilizadas para o enfrentamento de situações adversas,
como doenças físicas, transtornos mentais ou o luto. Ela exerce, assim, um auxílio como
mecanismo de defesa, coping, conforto e bem-estar ou, até mesmo, de resignação.
Outrossim, aponta como uma ótima ferramenta de apoio social para esses indivíduos. A
espiritualidade, entendida como um fenômeno mais abrangente, também aparece com
127

resultados bastante significativos nos estudos, como uma forma de o indivíduo dar novos
significados às adversidades e reorganizar suas experiências. Até mesmo em sujeitos que
não são adeptos de nenhuma religião a espiritualidade aparece como uma dimensão
importante, atrelada a questões existenciais significativas (DE FREITAS MELO et al., 2015).
Panzini et al. (2017) revisaram os conceitos e as possíveis relações entre
espiritualidade/religiosidade e qualidade de vida, bem como sua aplicação na área da
saúde, por meio da revisão de estudos científicos obtidos das bases de dados PsycINFO e
PubMed/Medline, datados entre 1979 e 2016. Recentemente, vem ocorrendo
preocupação com o estabelecimento de parâmetros mais abrangentes de avaliação de
saúde que não apenas a morbimortalidade. A partir desse cenário, o desenvolvimento de
medidas de solução, como, “qualidade de vida” e “bem-estar”, tornou-se objeto de
estudo. E indícios de associação com religiosidade/espiritualidade têm sido encontrados.
Diversas pesquisas sobre espiritualidade e suas relações com a qualidade de vida foram
verificadas em 29 países diferentes, em diversas regiões ao redor do mundo. Os países
com mais publicações foram os Estados Unidos da América, com 32 artigos, seguidos do
Irã, com sete artigos, e o Brasil, com seis artigos. Os estudos mais recentes indicam uma
associação positiva entre espiritualidade e qualidade de vida. A população mais estudada
é composta por pacientes oncológicos (26%), com doenças crônicas (por exemplo,
insuficiência renal, HIV/AIDS) (17%) e doenças mentais (8%). Na população, os grupos
mais estudados são cuidadores, idosos e estudantes. Os estudos intervencionistas em
espiritualidade ainda são minoria (5%), usando principalmente conselhos espirituais ou
meditação contemplativa. Há literatura consistente que apoia a existência de uma relação
positiva entre espiritualidade e qualidade de vida.
Curcio, Lucchetti e Moreira-Almeida (2016, p. 464) identificaram mais de 3.300
estudos originais em revisões sistemáticas recentes sobre as relações entre espiritualidade
e saúde. No entanto ainda não existe consenso científico sobre as definições de
religiosidade e espiritualidade. Aconteceu, nas últimas décadas, um crescimento no
número de estudos que abordam questões relacionadas às implicações da
religiosidade/espiritualidade no bem-estar, na saúde física e na saúde mental dos
indivíduos.
Considerando que o Brasil é um país heterogêneo e sincrético religiosamente,
alguns autores propõem definições ampliadas de espiritualidade, que abarcam aspectos,
128

como sentido e propósito na vida, sentimentos de paz, harmonia, conexão com a natureza
e com os outros. Religiosidade/espiritualidade pode apresentar uma diversidade em suas
dimensões, e por muitas vezes, ocorre relação, de formas distintas, com desfechos de
saúde (CURCIO; LUCCHETTI; MOREIRA-ALMEIDA, 2016, p. 465).

2.4.1 Religiosidade e o uso da Ayahuasca

Um estudo conduzido por Trichter, Klimo e Krippner (2009) investigou se a


participação em uma cerimônia de Ayahuasca mudaria e/ou afetaria as experiências
subjetivas de espiritualidade dos participantes. A hipótese inicial era a de que participar
de uma cerimônia de Ayahuasca afetaria a experiência espiritual subjetiva geral dos
participantes em uma direção positiva, marcada por um aumento no foco de uma pessoa
e/ou reverência, abertura e conexão com algo significativo que se acredita ser além da
plena compreensão e/ou existência individual. O total de 54 pessoas participou da
pesquisa e cinco serviram como grupo controle. Todos os 49 componentes participaram
de uma cerimônia de Ayahuasca durante uma noite. Os critérios de inclusão foram que os
participantes nunca deveriam ter tomado previamente a Ayahuasca, nem análogos da
Ayahuasca (qualquer combinação de DMT e um inibidor da monoamino oxidase), em
qualquer situação anterior ao estudo, e os participantes foram obrigados a passar pelo
Mini Exame do Estado Mental (MMSE – Mini-Mental State Examination), no início do
estudo. Esse estudo foi realizado em dois locais diferentes, um, na região da baía de São
Francisco, na Califórnia, e outro, na região da British Columbia, no Canadá. Duas
cerimônias foram realizadas em cada local, para facilitar a participação de todos os 49
participantes, totalizando quatro cerimônias. Foram utilizados três instrumentos
quantitativos: o Perfil de Experiência de Pico (PEP – Peak Experience Profile), a Escala do
Bem-Estar Espiritual (SWB – Spiritual Weil-Being) e a Escala de Misticismo (M Scale –
Mysticism Scale). Foram realizadas análises estatísticas, ANOVA, p<0,05 ou menos. Outras
análises precisas foram realizadas, como a combinação das pontuações no tempo 2 e no
tempo 3 (seis horas e uma semana após a cerimônia). O estudo mostrou que aqueles que
bebem Ayahuasca em uma ocasião apenas tendem a ter experiências espirituais positivas
durante as cerimônias, assim como tendem a agregar e integrar essas experiências
positivas em sua vida diária. Esses participantes da cerimônia da Ayahuasca tendem a,
129

após sua experiência, ser mais empáticos e se sentirem mais conectados aos outros, à
natureza e ao entendimento de Deus ou o divino. Mostraram consistentemente que em
curto prazo se sentem curados, gratos e pacíficos, com um crescente senso de
responsabilidade e reconciliação consigo mesmos, com os outros e com o mundo. Os
dados da pesquisa indicam que essas medidas positivas estão claramente ligadas à
experiência de uma cerimônia de Ayahuasca e revelam o incentivo para mais
investigações sobre a promessa do uso ritual da Ayahuasca.
Harris e Gurel (2012) realizaram uma pesquisa, na qual foram entrevistadas 81
pessoas que usaram a Ayahuasca pelo menos uma vez na vida e compararam com um
grupo de 46 pessoas que participaram de um retiro espiritual católico. Ambos os grupos
responderam ao After the Spiritual Experience Questionnaire e uma série de perguntas
abertas. Foi realizada uma análise fatorial do After the Spiritual Experience Questionnaire,
dividida em três fatores: (a) Alegria na Vida (os itens desse fator refletem uma relação
mais positiva com a vida, com maior alegria e autoconfiança, e um senso mais profundo
de significado, autenticidade e inspiração); (b) Relação com os Sentimentos Sagrados (os
itens agrupados nesse fator refletem experiências espirituais: interconexão de toda a vida;
santidade profunda da vida diária e um profundo sentimento de gratidão); (c) Relação
com os Sentimentos Tóxicos (afetos negativos, como sentimentos de ansiedade ou
nervosismo, sentimentos de tristeza ou depressão e expressão de sentimentos de ódio). A
análise estatística dos três fatores do questionário mostrou que os usuários de Ayahuasca
obtiveram pontuações significativamente maiores em dois fatores: Alegria na Vida e
Relação com os Sentimentos Sagrados. Os dados qualitativos revelaram que os usuários
de Ayahuasca reduziram a ingestão de álcool, fizeram dietas mais saudáveis, desfrutaram
de melhor estado de bom humor e maior autoaceitação e se sentiram mais amorosos e
compassivos em seus relacionamentos.
Albuquerque (2012) realizou um estudo sobre os saberes da Ayahuasca, utilizada
em diferentes contextos culturais, como é o caso da religião brasileira conhecida como
Santo Daime. Partiu-se do pressuposto, declarado nos hinos da doutrina, de que o Daime
(Ayahuasca) é um professor e que na religião se vivencia um processo educativo, no qual
um conjunto de saberes é transitado e apreendido. Esse estudo resulta de uma pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. As fontes consultadas foram bibliografias sobre as
religiões ayahuasqueiras, os cadernos de hinos do Santo Daime e a realização de
130

entrevistas com daimistas oriundos do Brasil e de outros países. Dentre os principais


saberes do Daime, merecem destaque: saberes ecológicos-ambientais, cognitivos,
estéticos, medicinais e para a paz. Concluiu-se que a religião do Santo Daime funciona
como um espaço educativo, no qual circulam uma gama de saberes com ênfase aos
saberes cognitivos, estéticos, ecológicos e medicinais. No contexto religioso de uso da
Ayahuasca, podem-se destacar, também, os saberes existenciais e os relacionados à
promoção da paz. Todos os daimistas entrevistados, independentemente da idade, sexo
ou localização geográfica, afirmaram um conjunto de saberes que o Daime (Ayahuasca)
lhes teria possibilitado. São aprendizagens relativas ao amor, à caridade, à harmonia e à
entrega. Nesse sentido, a peculiaridade dos processos de aprendizagem mediados pelo
Daime (Ayahuasca) consiste no fato de que os saberes não são transmitidos pelos
humanos, como acontece tradicionalmente na maneira de pensar as formas ocidentais de
educação, mas pelas plantas ou pelas substâncias de que são portadoras. Esses saberes
são compartilhados pelos humanos, já que o Daime (Ayahuasca) não ensina a si mesmo,
caracterizando, assim, uma ecologia entre plantas e humanos.
De Assis, Faria e Lins (2014), em uma revisão bibliográfica, verificaram a percepção
dos adeptos do uso do chá Ayahuasca em relação à religiosidade. O chá Ayahuasca tem a
função de ensinar o sujeito a realizar uma ligação com Deus, pois assim ele acredita que
alcançará o conhecimento da origem dos problemas. Essa busca por soluções remete o
adepto à necessidade de transformações das práticas de paz e de harmonia com a
sociedade e com a natureza. Os adeptos do chá acreditam que é por meio da natureza
que se chega a Deus, e é a Ayahuasca o sagrado da natureza. O discurso do sujeito
permite entender que foi somente após o consumo da Ayahuasca que houve um encontro
com Deus. Anteriormente, dizia-se ateu, mas aprendeu, com os ensinamentos da
Ayahuasca, a realizar uma ligação com o divino.
131

3 MATERIAIS E MÉTODOS
132

3.1 Ética

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Federal de São Paulo – UNIFESP, parecer número 2.877.224 (ANEXO A). Foi devidamente
apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO B) aos
voluntários do presente estudo, que tomaram ciência dos seus objetivos, bem como dos
seus direitos de anonimato e de interromper sua participação a qualquer momento. Esses
termos foram assinados por todos os voluntários, antes do início do estudo, uma cópia
ficou com o voluntário e outra, com o pesquisador responsável.
Foi realizado o cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e
do Conhecimento Tradicional Associado (SISGEN), nº A4A9C67; e obtida autorização do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), sob nº 73895, ambos do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), para a coleta e o estudo do material biológico das plantas que
compõem a bebida Ayahuasca, bem como para acessar o conhecimento tradicional.

3.2 Etnografia

Para a coleta das informações sobre a história de formação do Centro Luz Divina
foram utilizados métodos de campo sugeridos pela etnografia, como entrevistas não
estruturadas, observação participante e diários de campo (BERNARD, 1988; FOOTE-
WHYTE, 1990). Durante as entrevistas não estruturadas, o pesquisador fixou para si as
perguntas e procurou não interferir nas respostas dos entrevistados. As entrevistas foram
realizadas com os dirigentes do Centro, lideranças que participaram de sua formação,
desde a década de 1980 até os dias de hoje.
Na observação participante, procurou-se entender as interações existentes entre a
comunidade do ritual religioso e as plantas que compõem a bebida Ayahuasca, a partir de
vivências do cotidiano com a comunidade (BERNARD, 1988). Foram registrados, em
diários de campo, relatos detalhados dos participantes do ritual do Santo Daime, da
bebida Ayahuasca, assim como observações expressivas para investigações fitoquímicas e
farmacológicas do material botânico estudado (FOOTE-WHYTE, 1990).
Para as respostas qualitativas, os entrevistados foram identificados por um código
133

alfanumérico, sendo que a primeira letra corresponde à inicial do nome do entrevistado,


seguida da indicação do gênero (F= feminino; M= masculino), um número que informa a
idade do entrevistado, e, por último, uma letra indicando o grupo no qual o indivíduo foi
inserido (E= experiente; I= iniciante). Assim, por exemplo, o código MF38E poderia ser
relativo à Maria, do sexo Feminino, com 38 anos de idade, referente ao grupo Experiente.
Relatos desses entrevistados foram transcritos na seção “4 Resultados e Discussão”,
destacados em itálico e identificados com seu código alfanumérico, permitindo melhor
compreensão dos dados.
A localização do Centro Luz Divina, que fica no município de Piedade, estado de
São Paulo, 23o 39’ 51.8’’ Sul, 47o 27’ 16.8’’ Oeste, altitude 881 metros, pode ser verificada
na Figura 26.

Figura 26 – Localização do Centro Luz Divina, Piedade – SP

Comunidade Céu de Midam

Piedade - SP
Centro Luz Divina

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

3.3 Coleta e depósito em herbário do material botânico que compõe a bebida


Ayahuasca

3.3.1 Taxonomia do material botânico

A coleta do material botânico para classificação taxonômica foi realizada sob a


orientação/supervisão presencial da Profa. Dra. Eliana Rodrigues.
134

No dia 18 de julho de 2018, na Comunidade Céu de Midam, em Piedade, São


Paulo, foram coletadas amostras de B. caapi e amostras da P. viridis, no quintal da casa da
Sra. Eunice (dirigente do Centro) e nas cercanias do Centro Luz Divina. No dia 24 de julho
de 2018, foi coletada amostra de B. caapi, no quintal da casa do Sr. Tino, em Cotia, São
Paulo; é importante ressaltar que essa planta é originária da Comunidade Céu de Midam,
Piedade, São Paulo. De cada planta foram coletadas cinco amostras pelo método seco
(MORI et al., 1985). Assim, cada amostra foi disposta entre folhas de jornais dobradas e
empilhadas, amarradas com barbante e mantidas em prensas de madeira até chegar ao
herbário (no mesmo dia), onde sofreram o processo de desidratação, durante 3 dias, em
estufa a 60°C. O material foi desidratado na estufa analógica do Herbário do Instituto de
Botânica de São Paulo. A identificação taxonômica do B. caapi foi realizada pela Profa.
Dra. Maria Cândida Henrique Mamede, do Instituto de Botânica de São Paulo, enquanto a
da P. viridis foi efetuada pelo Profa. Dra. Carla Poleselli Bruniera, da Universidade Federal
de São Paulo. Ambas foram depositadas no Herbário da Universidade Federal de São
Paulo (HUFSP), Campus Diadema, São Paulo, sob o número de Voucher: HUFSP 423, 425,
426, 429, 430 e 431 (P. viridis); e HUFSP 424, 427, 428 e 433 (B. caapi).

3.4 Análise química das bebidas Ayahuasca obtidas no Centro Luz Divina

Para análise química das bebidas Ayahuasca, foram coletadas duas amostras do
arsenal de bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina, cedidas gentilmente pelo dirigente do
Centro. As amostras nº 1 e nº 2 das bebidas Ayahuasca podem ser verificadas na
Fotografia 5.

Fotografia 5 – Amostras nº 1 e nº 2 das bebidas Ayahuasca, do Centro Luz Divina

Nº 2
Nº 1

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).


135

3.4.1 Extração em SPE de amostras das bebidas Ayahuasca

A extração em fase sólida (SPE – solid phase extraction) de cada amostra da bebida
Ayahuasca obedeceu ao seguinte procedimento: (a) foi utilizado um cartucho de C18
ativado com 8,0 mL de metanol 100% (grau HPLC – JTBaker®); (b) após, foi realizado o
condicionamento com 8,0 mL de água deionizada (Milli-Q®); (c) na sequência, foi inserida
a amostra da bebida Ayahuasca (3,0 mL); (d) depois, foi realizada a lavagem com água
ultrapura (tipo 1) (Milli-Q®); (e) por último, foi efetuada a eluição da amostra com 8,0 mL
de metanol 100% (grau HPLC – JTBaker®).
As etapas do processo de extração em SPE das amostras das bebidas Ayahuasca
pode ser verificado na Figura 27.

Figura 27 – Etapas do processo de extração em SPE das amostras das bebidas Ayahuasca

Ativação Condicionamento Inserção da Amostra Lavagem Eluição

Eluição de componentes Analitos

Metanol = Amostra = Água = Açucares = Analitos

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

Cada amostra da bebida Ayahuasca foi analisada em triplicata, com a finalidade de


melhorar a precisão do resultado, ou seja, para a bebida nº 1 foram analisadas as
amostras A, B e C, respectivamente. O mesmo procedimento foi adotado para a bebida nº
2. As duas amostras foram acondicionadas (1,0 mL) em vial de 1,5 mL.
136

3.4.2 Análise por LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca

A análise química dos alcaloides presentes nas bebidas Ayahuasca foi realizada via
cromatografia líquida, acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC –
Ultra High Performance Liquid Chromatography), em sistema com detector DAD (Diod
Array Detector), acoplado ao espectrômetro de massas quadrupolo de tempo de voo
(QTOF) (Bruker, Bremen, Alemanha). O espectrômetro está equipado com fonte de
ionização por eletropulverização (ESI – Electrospray ionization), operada sob a resolução
de 18.000 (FWHM). O intervalo de massas selecionado foi de m/z 50-1200, modo AutoMS,
com energia de colisão variando de 20-65 eV (Electron-volt) de acordo com m/z 50-700,
mantendo-se a energia constante em 65 eV para valores de massa acima de m/z 700. Foi
adquirido o máximo de cinco íons precursores por ciclo. A separação das amostras de 1 μL
foi realizada a 40°C em coluna RP Kinetex C18 (100 × 2,1 mm, 2,6 μm, Phenomenex,
Torrance, CA, EUA), empregando gradiente linear padrão composto por H2O/CH3CN [90:10
→ 0: 100, v/v, ambos tamponados com 20 mM (Unit millimolar) de ácido fórmico],
durante 10 min, sob a vazão de 0,35 mL/min. Os espectros UV/Vis (Ultraviolet-visible)
foram registrados de 200 a 600nm (Nanometer). Todos os extratos foram manualmente
processados com a ajuda do software DataAnaysis 4.3 (Bruker).
Foi realizado o screening de alcaloides-alvo, comumentemente presentes em
bebidas Ayahuasca, reportados na literatura. Os compostos investigados seguem
resumidos no Quadro 4. Para identificação positiva (detecção) de cada composto foram
avaliadas as massas acuradas (erro: ± 5ppm) de cada íon detectado, após a seleção
específica de íons extraídos relativos para cada alvo. Adicionalmente, foram avaliados os
espectros de íons produtos dos compostos detectados para comparação do perfil de
fragmentação existente na literatura (OLIVEIRA et al., 2012).
As quantidades relativas dos analitos-alvo, quando detectados (DMT e ß-
carbolinas: HRM, HRL e THH) nas bebidas Ayahuasca, foram analisadas por meio da
integração da área do pico obtido a partir do cromatograma de íons extraídos de cada
composto de interesse.
O Quadro 4 apresenta a estrutura molecular, a fórmula, a massa molar (g/mol-1), o
alcaloide-alvo e o íon precursor (m/z) (CHEMICALIZE, 2020).
137

Quadro 4 – Estrutura molecular, fórmula, massa molar (g mol-1), alcaloide-alvo e íon precursor (m/z)

Estrutura da molécula Fórmula Massa molar Alcaloide alvo Íon precursor


(g mol-1) (m/z)

C12H16N2 188.274 Dimetiltriptamina (DMT) 188.1313

C13H12N2O 212.252 Harmina (HRM) 212.0949

C13H14N2O 214.268 Harmalina (HRL) 214.1106

C13H16N2O 216.284 Tetrahidroharmina (THH) 216.1262

Fonte: Chemicalize (2020).

3.5 Coleta e preparo do extrato de plantas que compõem a bebida Ayahuasca para
análise química

No dia 28 de julho de 2019, foi coletado um quilo de cipó B. caapi, no quintal da


casa do Sr. Tino, em Cotia, São Paulo, e um quilo e cem gramas de folhas de P. viridis, no
quintal da casa da Sra. Eunice e nas cercanias do Centro Luz Divina, na Comunidade Céu
de Midam, em Piedade, São Paulo. As plantas foram coletadas pelo método seco (MORI et
al., 1985).
As folhas de P. viridis foram limpas, uma a uma, com tecido de algodão seco. O
cipó B. caapi foi limpo e esfiapado. Dessa maneira, o material foi disposto entre folhas de
jornais dobradas e empilhadas, amarradas com barbante e mantidas em prensas de
138

madeira até chegar ao laboratório da Universidade Federal de São Paulo, Campus


Diadema, São Paulo.
O material botânico foi desidratado em estufa analógica, mantida a 50°C, por um
período de 48 horas consecutivas, até atingir aspecto “quebradiço”, indicando que a
quantidade predominante de água evaporou.
Após a desidratação, o material foi triturado, utilizando-se um moinho de facas,
várias moagens foram realizadas até observar-se a consistência de um pó. As folhas
trituradas da P. viridis e os caules triturados do cipó B. caapi podem ser verificados nas
Fotografia 6 e 7, respectivamente.

Fotografia 6 – Folhas trituradas da P. viridis Fotografia 7 – Caules triturados do B. caapi

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

3.5.1 Extrato aquoso quente das amostras das plantas Ayahuasca

Foram feitos três extratos aquosos quentes: (1) um, para as folhas (P.viridis), (2)
um, para o cipó (B. caapi) e (3) outro, com a combinação das folhas e cipó na proporção
de 1:1, na tentativa de simular a preparação da bebida Ayahuasca em laboratório.
Por meio de um extrator Soxhlet (ver FOTOGRAFIA 8), realizou-se a extração
aquosa a quente. Para cada extrato foram utilizados 250 mL de água destilada e,
aproximadamente, 200 g de material (folha, cipó e folha + cipó). A temperatura variou
entre 70°C e 90°C e o tempo de cada processo durou, em média, 10 horas. Após esse
período, os extratos foram liofilizados, obtendo-se a massa seca do material extraído (pó).
139

Fotografia 8 – Extrator Soxhlet

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

3.5.2 Análise por LC-MS/MS das plantas Ayahuasca

A preparação das amostras para inserção no massas foi realizada da seguinte


maneira: 1 mg do extrato liofilizado foi redissolvido em 1 mL de MeOH grau HPLC, e
exposto a banho de ultrassom por 2 min. O conteúdo foi, então, centrifugado por 10
minutos, a 25°C, em 15.000 RPM (rotações por minuto). O sobrenadante foi inserido em
vial de 1,5 mL, injetando-se 10 µL de amostra para análise via LC-MS/MS.
O método de análise dos extratos das plantas via LC-MS/MS foi o mesmo descrito
na subseção 3.4.2 (Análise por LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca).

3.6 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade

3.6.1 Delineamento da pesquisa

Trata-se de um estudo observacional, descritivo e transversal.


140

3.6.2 Seleção da amostra

Todos os adeptos do Santo Daime do Centro Luz Divina, Comunidade Céu de


Midam, situada na Rodovia SP-79 – Km 110,5 – Cidade de Piedade, SP, foram convidados a
participar do presente estudo. O convite foi realizado pelos dois dirigentes, padrinho e
madrinha, do referido Centro. Concordaram em participar do presente estudo 32 adeptos,
que compuseram o grupo estudo, subdivididos em dois grupos: experiente e iniciante,
constituindo uma amostra por conveniência (FLETCHER; FLETCHER, 2006, p. 25).

3.6.3 Sujeitos

Participaram desta pesquisa 48 pessoas, que foram divididas em dois grupos:


grupo estudo composto pelos 32 adeptos mencionados na subseção anterior (16
experientes e 16 iniciantes) e grupo controle (16 pessoas).
Grupo estudo:
1) Grupo experiente: 16 indivíduos (8 homens e 8 mulheres), com tempo superior
a 20 anos de uso ritual da Ayahuasca;
2) Grupo iniciante: 16 indivíduos (8 homens e 8 mulheres), com tempo inferior a 3
anos de uso ritual da Ayahuasca;
Como critério de inclusão para o grupo estudo foram considerados somente os
indivíduos maiores de 18 anos de idade, de ambos os sexos, que utilizam Ayahuasca em
rituais religiosos e que não apresentavam transtornos mentais.
Grupo controle: 16 pessoas (8 homens e 8 mulheres) pareados por sexo, faixa
etária e escolaridade com o grupo estudo, as quais nunca utilizaram a bebida Ayahuasca
nem apresentavam transtornos mentais.

3.6.4 Coleta de dados

Estabeleceram-se diversos contatos entre o pesquisador e os dirigentes do Centro


Luz Divina, bem como foram realizadas visitas ao Centro, visitas à comunidade Céu de
Midam e hospedagem no referido Centro durante a coleta de dados.
141

A primeira hospedagem ocorreu entre os dias 11 e 15 de julho de 2018; e a


segunda, entre os dias 15 e 25 de janeiro de 2019. Nesses períodos, foram realizadas as
entrevistas e a avaliação neuropsicológica individual dos voluntários.
Foi disponibilizada uma sala nas dependências do Centro Luz Divina, em local
reservado, com garantia de anonimato, para a realização individual da entrevista e da
avaliação neuropsicológica dos participantes voluntários do grupo estudo. Para o grupo
controle, a entrevista individual e a avaliação neuropsicológica ocorreram no consultório
particular do pesquisador.
Os adeptos do referido Centro não estavam sob o efeito da bebida Ayahuasca
durante a coleta de dados, que foi realizada, em média, oito dias após o último consumo
da bebida.

3.6.5 Instrumentos

3.6.5.1 Questionário de dados sociodemográficos

Instrumento para avaliação de dados gerais, como sexo, idade, nível educacional,
condição socioeconômica e estado civil (ANEXO C).

3.6.5.2 Entrevista de anamnese

A anamnese representa uma entrevista dirigida, com questões preestabelecidas


para uma coleta ordenada de dados, organizando sistematicamente a memória do
entrevistado (pacientes, participantes/sujeitos de pesquisa), visando oferecer diagnóstico
em clínica ou em pesquisa (FONTANELLA; CAMPOS; TURATO, 2006).
A entrevista clínica de anamnese tem por objetivo o levantamento detalhado da
história de desenvolvimento do indivíduo, durante a qual a pessoa entrevistada tem o
papel principal de prestar informações, o que pressupõe que ela esteja em condições de
ser um participante colaborativo (TAVARES, 2000, p. 45).
Em Psicologia, a entrevista clínica constitui um apanhado de técnicas de
investigação, conduzida por um profissional treinado que utiliza conhecimentos
142

psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos


pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), que incluem
domínios da Psicologia do desenvolvimento, da psicopatologia e da psicodinâmica do
indivíduo (TAVARES, 2000, p. 45).
Segundo Paula e Costa (2016, p. 51), a entrevista clínica é o componente mais
importante de um exame neuropsicológico, pois é considerada o cerne desse
procedimento clínico. Nesse sentido, o modelo mais utilizado nas entrevistas clínicas é o
semiestruturado, segundo o qual o profissional de Psicologia parte de um conjunto
predeterminado de perguntas e conduz a entrevista para abordar tópicos ou questões que
possam surgir durante o processo (PAULA; COSTA, 2016, p. 51).
No presente estudo, foi utilizada entrevista de anamnese semiestruturada (ANEXO
D), pois, além de estabelecer um procedimento que garante a obtenção das informações
necessárias de modo padronizado, esse tipo de entrevista aumenta a confiabilidade ou
fidedignidade das informações obtidas (TAVARES, 2000, p. 46).

3.6.5.3 Escala Wechsler Abreviada de Inteligência – WASI

A Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI) foi desenvolvida nos Estados


Unidos da América e compõe as escalas Wechsler. No Brasil, a WASI foi adaptada e
padronizada para a população brasileira por Trentini, Yates e Heck (2014).
A escolha da WASI foi devido às recomendações internacionais de seu uso como
medida de inteligência, tanto na pesquisa quanto na clínica, à amplitude de faixa etária
por ela investigada e à abreviação de subtestes que a compõem, possibilitando uma
investigação das habilidades cognitivas que permeiam a inteligência.
A WASI mede a habilidade cognitiva geral e as habilidades cognitivas específicas
utilizadas em uma ampla faixa etária (6 a 89 anos) e em diversos contextos. Fornece
escores de Quociente de Inteligência Total (QIT-4), Quociente de Inteligência Verbal (QIV)
e Quociente de Inteligência de Execução (QIE); é composta por quatro subtestes, sendo:
dois verbais: Vocabulário (VC) e Semelhanças (SM), e dois não verbais: Cubos (CB) e
Raciocínio Matricial (RM). Tem como objetivo a estimativa cognitiva na avaliação de
problemas de aprendizagem, no contexto psicoeducacional; no diagnóstico diferencial de
transtornos neurológicos e psiquiátricos e no planejamento de programas de reabilitação
143

(neuro) cognitiva; em pesquisas, por exemplo, no pareamento de amostras. Assim, nesses


tipos de utilização a WASI é especialmente útil para triagem, quando o tempo disponível
para aplicação é limitado.
O subteste VC é uma tarefa composta por 42 itens, semelhante aos subtestes de
VC da WISC-IV e da WAIS-III, exceto que a escala WASI inclui itens iniciais de figuras com
nível baixo de dificuldade. Os itens 1-4 do subteste VC requerem que o examinando
nomeie figuras que são apresentadas uma por vez. Os itens 5-42 são palavras
apresentadas oral e visualmente, as quais o examinando define oralmente. VC é uma
medida de expressão (extensão) do vocabulário do indivíduo sobre seu conhecimento
verbal e de informações armazenadas, além de ser uma boa medida de inteligência geral
(g). Também abrange outras habilidades cognitivas, como memória, habilidade de
aprendizado e desenvolvimento de conceitos e de linguagem.
O Subteste SM, como no VC, inclui itens iniciais de figuras com nível baixo de
dificuldade para ampliar a discriminação da escala. O subteste contém 4 itens figuras
(itens 1-4) e 22 itens verbais. Para cada um dos itens 1 a 4 é apresentada, ao examinando,
uma figura de três objetos comuns na linha de cima e quatro opções de resposta na linha
de baixo. O examinando responde, apontando a opção de resposta semelhante aos três
objetos-alvo. Para cada item verbal, um par de palavras é apresentado oralmente, e o
examinando explica a semelhança entre os objetos comuns ou conceitos que as duas
palavras representam. SM é uma medida de formação de conceito verbal, de habilidade
de raciocínio verbal abstrato e de habilidade intelectual geral.
O subteste CB consiste em um conjunto de 13 desenhos geométricos construídos e
impressos em duas dimensões, nesse subteste o examinando deve reproduzi-los em um
limite de tempo específico, usando cubos de duas cores. CB avalia as habilidades
relacionadas com a visualização espacial, a coordenação visuomotora e a conceituação
abstrata. É uma medida de organização perceptual e inteligência geral.
RM é um subteste semelhante ao RM da WAIS-III. É uma série de 35 padrões
incompletos, dispostos em uma matriz, que o examinando completa ao apontar ou dizer o
número da resposta correta entre cinco alternativas. RM é uma medida de raciocínio
fluido não verbal e de habilidade intelectual geral.
A aplicação do instrumento dura em média de 30 a 45 minutos, inicia-se a
aplicação com o subteste VC, utilizando a idade cronológica do testando. Caso ele erre um
144

dos itens, a aplicação deverá voltar aos itens dos níveis anteriores, até o acerto de dois
itens consecutivos. A aplicação continua até o indivíduo errar o número de itens
determinados pelo manual de aplicação.
A pontuação bruta obtida em cada subteste é convertida em escores ponderados
por idades, em tabelas correspondentes. A distribuição dos escores de QI para cada escala
WASI tem média 100 e Desvio Padrão (DP) 15. Um Escore Total (T) de 50 ou um escore
ponderado de 10 em qualquer subteste e um escore de QI 100 em qualquer escala de QI
define o desempenho médio de determinado grupo etário. Escore T de 30 a 70, escores
ponderados de 4 a 16 e escores de QI de 70 a 130 desviam-se 2 DP da média.
A WASI fornece quatro escalas de QI, são elas: (a) QI Total (QIT-4) é composto
pelos quatro subtestes: VC, SM, CB e RM; (b) QI Verbal (QIV) é composto pelos dois
subtestes: VC e SM; (c) QI Execução (QIE) é composto pelos dois subtestes: CB e RM; e (d)
QI Total (QIT-2) é composto por dois subtestes: VC (verbal) e RM (não verbal).
As classificações descritivas correspondentes aos escores de QI para a WASI são
consistentes entre todas as escalas Wechsler e foram definidas estatisticamente. A
classificação dos escores QIT-4 da WASI são:
• 130 e acima: Muito Superior;
• 120-129: Superior;
• 110-119: Médio Superior;
• 90-109: Médio;
• 80-89: Médio Inferior;
• 70-79: Limítrofe;
• 69 e abaixo: Extremamente Baixo.

3.6.5.4 Tarefa de Alcance de Dígitos

Foi utilizada a Tarefa de Alcance de Dígitos da escala de Inteligência Wechsler para


Adultos (WAIS-III), adaptada para a população brasileira por Nascimento (2004).
A tarefa de Alcance de Dígitos (Digit Span) é uma medida de memória de trabalho
verbal e mede a capacidade de armazenamento da memória de trabalho verbal, utilizada
em baterias de testes neuropsicológicos. Trata-se de um teste de alcance (span), no qual
145

sequências progressivamente maiores de algarismos são apresentadas oralmente e o


testando dever repeti-las imediatamente após a apresentação. O que se mede é a
extensão da atenção; a capacidade de armazenamento da memória de trabalho verbal
correspondente ao alcance máximo de sequências que o examinando pode reproduzir
corretamente (KESSELS et al., 2000); a capacidade de reversibilidade (dígitos na ordem
inversa), e a concentração e tolerância ao estresse (CUNHA, 2000, p. 566; LEZAK et al.,
2012, p. 403).
A realização da tarefa ocorre em duas ordens. Na primeira, o examinador aplica a
ordem direta da tarefa, e o indivíduo repete a sequência de dígitos falada pelo
examinador. Na segunda parte, que corresponde à ordem inversa, o examinando deve
dizer a sequência no sentido contrário, o que torna a tarefa mais difícil (KESSELS et al.,
2000).
A tarefa de Alcance de Dígitos é de domínio público, entretanto suas versões são
encontradas em baterias de testagem, como o subteste Dígitos das Escalas de Inteligência
Wechsler Infantil (WISC-III e WISC-IV) e Adultos (WAIS-III) (FIGUEIREDO, 2002;
FIGUEIREDO; PINHEIRO; NASCIMENTO, 1998; RUEDA et al., 2013). É importante ressaltar
que, apesar de essa tarefa pertencer a uma bateria de inteligência e a avaliação dessa
função ser restrita ao profissional de Psicologia, a tarefa Alcance de Dígitos pode ser
aplicada por neuropsicólogos não graduados em Psicologia, desde que não seja aplicada a
tarefa no contexto de avaliação de inteligência (ANTUNES, JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017, p.
123).
Na tarefa de Alcance de Dígitos, o testando deve reproduzi-las na ordem indicada.
Cada item da tarefa é composto por duas tentativas com sequências diferentes de dígitos,
as quais são apresentadas uma seguida da outra. A quantidade de dígitos em cada item
aumenta progressivamente. Os estímulos, tanto para a ordem direta quanto para a ordem
inversa, podem ser obtidos nos subtestes de dígitos das escalas de Inteligência Wechsler,
conforme mencionado anteriormente (ANTUNES, JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017, p. 125).
Na aplicação, tanto na ordem direta quanto na ordem inversa, o testando realiza
duas tentativas em cada item. Caso pelo menos uma das tentativas seja realizada
corretamente, o próximo item deve ser administrado. Será interrompida a aplicação da
tarefa quando o testando errar as duas tentativas com a mesma quantidade de dígitos, ou
seja, do mesmo item. Os algarismos são ditos em uma velocidade constante, tendo um
146

intervalo de aproximadamente um segundo entre eles. Somente após o examinador


terminar de ler os números o testando poderá dizer a sequência mencionada. No caso de
pessoas com confusão mental, dificuldades de compreensão ou pensamento concreto,
deve-se fornecer exemplos por escrito (LEZAK et al., 2012, p. 403).
Para a correção, considera-se o item como correto quando uma sequência é
reproduzida na ordem apropriada. Um ponto é atribuído a cada tentativa respondida
corretamente. Tradicionalmente, o escore do testando corresponde ao alcance de itens,
isto é, à quantidade de dígitos da maior sequência corretamente repetida (FIGUEIREDO;
PINHEIRO; NASCIMENTO, 1998; NASCIMENTO, 2004). Apesar de existir uma correlação
entre as duas ordens da tarefa, cada uma delas recruta diferentes mecanismos cognitivos
(BADDELEY, 2011c, p. 76; LEZAK et al., 2012, p. 403). Outra possibilidade seria de calcular
o escore total, que é o produto entre o alcance e o total de tentativas corretas, segundo
Kessels et al. (2000).
Lezak et al. (2012, p. 409) apresentam um critério não psicométrico para
interpretação dos escores. Na maior parte dos casos, em adultos, um alcance menor ou
igual a 3 na ordem direta é considerado abaixo do esperado. Para a ordem inversa, existe
uma diferenciação entre indivíduos com alta e baixa escolaridade; são considerados
valores anormais um escore de alcance igual a 3 e 2, respectivamente. Conforme relatado
anteriormente, a ordem inversa é mais difícil que a ordem direta, logo é esperado que o
alcance na ordem direta seja maior que o da ordem inversa. A diferença no alcance entre
as duas ordens (ordem direta menos ordem indireta), igual ou superior a três, sugere que
o indivíduo tem um desempenho acima da média em tarefas que exigem processamento
auditivo verbal (BARON, 2004).
A pontuação bruta obtida nessa tarefa foi convertida em escores ponderados por
idades, em tabelas correspondentes, de acordo com escala de Inteligência Wechsler para
Adultos (WAIS-III) (NASCIMENTO, 2004).

3.6.5.5 Tarefa de Cubos de Corsi

Foi utilizada a Tarefa de Cubos de Corsi, adaptada por Kessels et al. (2000).
A tarefa de Cubos de Corsi é uma medida da memória de trabalho visuoespacial,
utilizada na caracterização do perfil cognitivo, especificamente nas funções visuoespaciais
147

e memória de trabalho dos indivíduos (ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017a, p. 137). É


um teste não verbal, o que pode ser um bom preditor da saúde mental, pois avalia
funções cognitivas não verbais (KESSELS et al., 2008; TOEPPER et al., 2010).
Trata-se de um teste de alcance (span), sendo considerada uma versão análoga à
tarefa de Alcance de Dígitos na modalidade visuoespacial. A versão mais famosa dessa
tarefa foi desenvolvida por Corsi (1973), em seus estudos de doutorado, com o intuito de
demonstrar déficits específicos de pacientes com lesões na região temporal medial
esquerda.
Kessels et al. (2000) propuseram uma versão padronizada que usa um tabuleiro
com nove cubos pretos fixos, organizados de maneira aleatória, em que o testando
aponta com o dedo indicador para uma sequência de cubos que aumenta
progressivamente a dificuldade entre os itens do teste. A capacidade de armazenamento
da memória de trabalho visuoespacial corresponde ao alcance máximo de sequências que
o testando pode reproduzir corretamente.
A tarefa é realizada em duas etapas, durante as quais os estímulos devem ser
repetidos em ordens diferentes. Na primeira, em que se aplica a ordem direta da tarefa, o
indivíduo toca os cubos na mesma ordem em que é apresentada pelo examinador. Na
segunda parte, que corresponde à ordem inversa, o testando deve realizar a sequência no
sentido inverso do ensaio, por exemplo, para os toques nos cubos 7-1-5, o examinando
deve tocar nos cubos 5-1-7 (KESSELS et al., 2000).
O teste de Cubos de Corsi consiste em nove cubos pretos (30 x 30 x 30 mm),
fixados sobre uma placa também preta (225 x 205 mm). Os cubos são numerados, em um
dos lados, com algarismos de 1 a 9, de modo que sejam visíveis apenas para o examinador
(KESSELS et al., 2000).
A aplicação é realizada com o examinador tocando nos blocos com o dedo
indicador a 90o, formando uma sequência, ao passo que o testando deve reproduzir a
sequência indicada. A quantidade de itens (cubos tocados) em cada sequência aumenta
gradativamente. Cada sequência é apresentada duas vezes consecutivas, porém com itens
diferentes.
Durante a aplicação, é importante que o testando esteja sentado de frente para o
examinador. É fundamental que o examinador não tenha nenhum distrator, por exemplo:
anéis, relógio, pulseiras, entre outros, no braço e mão utilizada para tocar os cubos,
148

durante a aplicação do teste. Se ao menos uma das sequências for repetida corretamente,
os dois ensaios do item seguinte devem ser administrados. O teste é interrompido quando
o testando erra os dois ensaios de um mesmo item com a mesma quantidade de blocos,
melhor dizendo, com o mesmo alcance. Os cubos devem ser tocados, um por vez, em
velocidade constante. Sugere-se que o cubo seja tocado a cada segundo. Somente após o
examinador finalizar a sequência de toques é que o testando poderá realizar a sequência.
Caso o testando comece a tarefa enquanto o examinador ainda estiver tocando os
blocos, o examinando será instruído a esperar sua vez.
Para a correção, considera-se o item como correto quando uma sequência é
reproduzida na ordem apropriada. Um ponto é atribuído para cada ensaio respondido
corretamente. O escore do testando corresponde ao alcance de itens, isto é, à quantidade
de itens da maior sequência corretamente reproduzida.
Kessels et al. (2000) calculam dois escores: o alcance (quantidade de itens da
maior sequência corretamente repetida) e o escore total (produto entre o alcance e o
total de tentativas corretas), que permite mostrar uma maior discriminação quanto ao
nível de desempenho.
A pontuação bruta obtida nessa tarefa foi convertida em escores padronizados por
idades, em tabelas correspondentes, de acordo com Kessels et al. (2000).

3.6.5.6 Figuras Complexas de Rey

As Figuras Complexas de Rey (REY, 1941) foram idealizadas por André Rey, no
Centre de Psychologie Appliquée de Paris, e foi adaptada e validada para a população
brasileira por Oliveira et al. (2004).
O teste de Figuras Complexas de Rey é usado na prática clínica e tem por objetivo
investigar as funções neuropsicológicas de percepção visual, memória imediata e algumas
funções de planejamento e execução de ações (OLIVEIRA; RIGONI, 2017). O objetivo é
verificar o modo como o testando apreende os dados perceptivos que lhe são
apresentados e o que foi conservado espontaneamente pela memória.
O teste Figuras Complexas de Rey é composto por duas figuras: Figura A, que pode
ser aplicada em indivíduos a partir de 5 anos, e a Figura B, que pode ser aplicada em
indivíduos de 4 a 7 anos. O contexto da aplicação é individual, não é permitido o uso de
149

borracha, o tempo de aplicação varia entre 5 a 25 minutos e o tempo de correção é de


aproximadamente dois minutos.
O examinador deve estar de frente para o examinando, a prancha A é apresentada
horizontalmente (o pequeno losango terminal orientado para a direita, com a ponta
virada para baixo). É oferecida ao testando uma folha de papel em branco, sem pautas, e
tem-se à disposição cinco ou seis lápis de cores diferentes. Inicia-se a tarefa, entregando o
primeiro lápis, o azul, por exemplo, e deixa-se o testando trabalhar durante alguns
instantes. O uso de um cronômetro é necessário para medir o tempo de execução da
tarefa, inicia-se o cronômetro no momento em que o trabalho começa, no entanto não há
limite de tempo para a execução da tarefa. Pouco depois, entrega-se outro lápis de outra
cor e pede-se ao testando que prossiga com a cópia; dessa maneira, é solicitado que ele
utilize cinco ou seis cores diferentes durante a execução do trabalho. A troca do lápis
ocorre sempre que o testando passar de uma estrutura para outra do desenho, tanto
interna quanto externa do modelo apresentado. O motivo da troca do lápis é observar,
posteriormente, a sequência das cores utilizadas no desenho, ou seja, a sequência da
cópia.
Quando terminada a cópia, retiram-se a folha e a prancha A do examinando.
O segundo tempo da prova consiste em reproduzir, de memória, a figura copiada.
Em outra folha branca, sem pautas, o testando será convidado a desenhar de memória a
configuração geométrica que acabou de copiar. O tempo da execução da tarefa será
cronometrado, no entanto não há limite de tempo para a reprodução; quando o testando
terminar a tarefa, ele próprio indica que acabou. Pode ser oferecido apenas um lápis, caso
haja pouco tempo para a execução da tarefa, mas a técnica dos vários lápis coloridos pode
ser retomada. Essa segunda etapa, reprodução de memória, deve ser executada no
máximo 3 minutos após o final da cópia.
Após 20 a 30 minutos do segundo tempo de prova, entrega-se uma nova folha em
branco para que o examinando repita o procedimento de reprodução de memória.
Em relação à correção, Osterrieth (1944) realizou uma classificação que aponta
diferentes tipos de cópia, do mais ou menos racional, fundamentando-se,
simultaneamente, em hábitos intelectuais, na rapidez de cópia e na precisão do resultado,
são elas:
I. Construção a partir da armação;
150

II. Detalhes incluídos na armação;


III. Contorno geral;
IV. Justaposição de detalhes;
V. Detalhes sobre fundo confuso;
VI. Redução a um esquema familiar; e
VII. Garatuja.

A primeira etapa da correção consiste em identificar o tipo de cópia realizada pelo


testando, conforme classificação estabelecida por Osterrieth. A segunda etapa da
correção corresponde à atribuição de pontos, quando existe uma figura (gabarito) que
mostra a divisão da Figura A em 18 unidades numeradas (cada estrutura da figura
apresenta uma numeração). Osterrieth atribui o mesmo valor a todas as unidades simples
ou complexas, mas como elas podem ser corretamente reproduzidas ou ligeiramente
deformadas, bem ou mal situadas na figura, propôs a seguinte pontuação por unidade: (a)
correta: bem situada (2 pontos), mal situada (1 ponto); (b) deformada ou incompleta, mas
reconhecível: bem situada (1 ponto), mal situada (0,5 ponto); e (c) irreconhecível ou
ausente (0 ponto).
Para avaliar a riqueza e a exatidão de uma cópia, realiza-se a identificação das
diversas unidades reproduzidas; elas recebem pontuação conforme os critérios
anteriormente apresentados, e os pontos são somados. O total de pontos é convertido em
percentil, de acordo com as tabelas do manual, segundo a idade do testando, assim como
o tempo gasto para realizar a cópia. O mesmo procedimento de correção deve ser seguido
para a reprodução de memória da Figura A, bem como a consulta das tabelas.
A interpretação dos resultados foi distribuída em termos de percentis, facilitando a
compreensão (OLIVEIRA; RIGONI, 2017), assim para a cópia:

• Percentil de 10-20 = classificação Inferior à Média;


• Percentil de 25-40 = classificação Médio Inferior;
• Percentil de 50 = classificação Média;
• Percentil de 60-70 = classificação Médio Superior;
• Percentil de 75-100 = classificação Superior.
151

Para a reprodução de memória:


• Percentil de 10-20 = classificação Inferior à Média;
• Percentil de 25-40 = classificação Médio Inferior;
• Percentil de 50 = classificação Média;
• Percentil de 60-70 = classificação Médio Superior;
• Percentil de 75-100 = classificação Superior.

Para os tempos de Cópia e de Reprodução de Memória é avaliado o tempo que a


pessoa utiliza para copiar a figura ou para reproduzi-la de memória, levando-se em
consideração que o percentil é distribuído de forma crescente e necessita ser interpretado
de forma mais abrangente, sendo que um percentil de 25 até 75 é considerado normal e
esperado para a maioria da população. Por outro lado, os percentis inferiores e superiores
denotam dificuldades quanto à administração do tempo gasto na execução da tarefa.
Assim, pessoas que realizam a cópia ou a reprodução de memória muito rapidamente têm
chances de cometer omissões ou distorcer a forma dos elementos e suas respectivas
localizações. O mesmo poderá ocorrer com pessoas que levam muito tempo realizando a
atividade, visto que estas poderão se fixar em um ou outro elemento e omitir ou distorcer
os demais e suas localizações.

3.6.5.7 Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST-64)

O Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) foi elaborado em 1948, e foi


ampliado e revisado posteriormente; é um instrumento internacionalmente reconhecido
para avaliação das funções executivas e, frequentemente, adotado em avaliações
neuropsicológicas; é um teste padrão ouro na avaliação das funções executivas (REPPOLD;
PEDROM; TRENTINI, 2010; RIGONI et al., 2018, p. 351). Embora o WCST venha sendo
bastante utilizado no Brasil, só estão disponíveis normas para crianças de 6 anos e meio a
17 anos e 11 meses, e para idosos de 60 anos ou mais (RIGONI et al., 2018, p. 351). O
WCST avalia o raciocínio abstrato, a capacidade de gerar estratégias de solução de
problemas, com base no feedback do examinador ou do computador, em resposta a
condições de estimulação mutáveis (RIGONI et al., 2018, p. 351). Rigoni et al. (2018, p.
352) afirmam que estudos com a população adulta brasileira estão em andamento para
152

futura disponibilização de normas. A validade convergente do WCST e do WSCT-64 (versão


computadorizada) foi realizada por Reppold, Pedrom e Trentini (2010).
O contexto de aplicação do WCST é individual e o tempo de aplicação varia entre
20 a 30 minutos.
O WCST-64 é composto por 4 cartas-chave e 64 cartas-resposta, que estão
representadas com figuras de diferentes formas (cruzes, círculos, triângulos ou estrelas),
cores (vermelho, verde, amarelo ou azul) e números (um, dois, três ou quatro). Na tarefa,
o examinando é convidado a combinar as cartas-estímulo com as cartas-chave. Para cada
combinação realizada, o sujeito recebe o feedback de certo ou errado do computador. O
princípio de combinação é previamente estabelecido e jamais é revelado ao examinando.
A ideia é que o sujeito possa utilizar o feedback do computador para manter-se ou
desenvolver novas estratégias (HEATON et al., 2005; REPPOLD; PEDROM; TRENTINI, 2010).
Para conseguir um bom desempenho no teste, o indivíduo deve determinar qual é
o princípio de classificação correto (exemplo: cor), com base no feedback fornecido pelo
computador (certo ou errado). Além disso, precisa manter esse princípio, mesmo
influenciado por outros distratores (exemplo: forma e número). As respostas correta-
incorreta: respostas que se associam com o princípio de classificação vigente (exemplo:
cor) têm escore como corretas, enquanto respostas incorretas têm escore como erros.
Respostas perseverativas e não-perseverativas ocorrem quando o indivíduo persiste em
responder a uma característica do estímulo incorreto. O percentual de erros
perseverativos corresponde à concentração de erros em relação ao desempenho total no
teste. Números de categorias completadas representam o número de categorias (cada dez
respostas corretas) que o indivíduo conseguiu concluir durante o teste. Ensaios para
completar a primeira categoria é representado pelo número de cartas (ensaio) que o
indivíduo utilizou para completar a primeira categoria. Fracasso em manter o contexto é
quando o indivíduo comete um erro após ter feito pelos menos cinco acertos
consecutivos. Contabiliza-se o número de vezes em que o individuo fracassou. Nível
conceitual é a soma das respostas corretas consecutivas, ocorridas em curso de três ou
mais, em todo o teste. Contabilizam-se, assim, todas as respostas, e não o número de
vezes em que isso ocorreu, tal como acontece no fracasso em manter o contexto
(REPPOLD; PEDROM; TRENTINI, 2010).
A aplicação computadorizada do teste WCST-64 tem como benefícios a precisão na
153

apresentação dos estímulos, feedback, medidas temporais (reação e duração das


respostas) e registro preciso das respostas, eliminando, assim, possíveis erros na obtenção
dos dados e pontuação. A aplicação pelo examinador permite atividades, como
encorajamento do sujeito, esclarecimento das regras, auxiliá-lo a focar na tarefa, além de
obter, durante o teste, dados qualitativos que não são possíveis de observar apenas por
intermédio da pontuação obtida. Foram verificadas similaridades significativas entre as
versões manual (WCST) e a computadorizada (WCST-64), considerando os índices: número
de acertos, categorias completadas e número e percentual de erros (REPPOLD; PEDROM;
TRENTINI, 2010).
No presente estudo, foi utilizada a versão computadorizada do teste Wisconsin
(WCST-64), em cuja versão a correção é automática.

3.6.5.8 FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos

O teste dos Cinco Dígitos, cuja sigla FDT (Five Digit Test) é originária da língua
inglesa porque o instrumento nasceu nos Estados Unidos da América (EUA), foi idealizado
por Sedó (2004, 2004a). Foi adaptado e validado para a população brasileira por Sedó,
Paula e Malloy-Diniz (2015).
O FDT é um teste multilíngue, utilizado para medir a velocidade de processamento
cognitivo, a capacidade de focar e de reorientar a atenção e as funções executivas
(subcomponentes controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Ele se baseia em
conhecimentos linguísticos mínimos, como a leituras dos dígitos de 1 a 5, a contagem de
quantidades de 1 a 5, além da produção de séries de 50 palavras formuladas pelas
quantidades recorrentes “um”, “dois”, “três”, “quatro” e “cinco”, recombinadas de
maneiras diferentes. O FDT utiliza essas cinco quantidades como simples unidades
cognitivas dentro de tarefas de dificuldade crescente, o que permite medir, em qualquer
idioma, a velocidade e a eficiência mental do indivíduo, bem como identificar
imediatamente a diminuição da velocidade e da eficiência que caracteriza o indivíduo com
dificuldades neurológicas. Além disso, o FDT permite descrever a velocidade e a eficiência
do processamento cognitivo, a constância da atenção focada, a automatização progressiva
da tarefa e a capacidade de mobilizar um esforço mental adicional, quando as séries
apresentam dificuldade crescente e exigem concentração muito maior.
154

O FDT pode ser aplicado em crianças a partir de 6 anos, adolescentes, adultos e


idosos. O contexto da aplicação é individual, o tempo de aplicação varia entre 5 a 10
minutos, e o tempo de correção é de aproximadamente cinco minutos.
O FDT apresenta quatro situações, são elas: Leitura, Contagem, Escolha e
Alternância. O FDT é apresentado visualmente na forma de uma página de 50 itens dentro
de pequenos quadros (cinco por linha), que formam uma matriz de dez linhas sucessivas.
Cada item representa grupos ou conjuntos de um a cinco símbolos (dígitos ou asteriscos),
e o indivíduo tem de ler ou contar esses grupos de signos e fornecer, portanto, uma série
de 50 respostas. O aplicador cronometra e anota o tempo (T) utilizado pelo testando e o
número de erros cometidos (E), na metade e ao final de cada tarefa, ou seja, depois de 25
e de 50 itens. As séries são as mesmas nas quatro situações do teste e permitem analisar a
velocidade e a eficiência do testando, dentro da facilidade ou da dificuldade crescente nas
quatro tarefas de dificuldade progressiva. As pontuações permitem discriminar facilmente
os indivíduos normais dos casos com problemas neuropsicológicos, caracterizados pela
menor velocidade e eficiência, assim como pela dificuldade em iniciar um esforço mental
crescente, sempre que a dificuldade da tarefa demandar.
Em cada uma das quatro situações do teste, os signos de cada quadro são
apresentados em formato espacial similar ao dos cartões. As quatro partes do teste
diferem claramente em seu nível de dificuldade, ou seja, as partes de Leitura e Contagem
medem processos simples e automáticos (a leitura de dígitos e a contagem de asteriscos),
enquanto as partes de Escolha e Alternância medem processos complexos que requerem
um controle mental ativo, isto é, a contagem dos dígitos quando apresentados em
quantidades conflitantes ou a alternância entre a contagem e a leitura em alguns desses
itens conflitantes.
A parte da Leitura é a mais simples, pois apresenta dígitos em quantidades que
correspondem exatamente a seus valores, ou seja, um (1), dois (2), três (3), quatro (4) e
cinco (5), e o indivíduo precisa somente reconhecer e ler esses valores.
A parte da Contagem apresenta grupos de um a cinco asteriscos, nos quais o
indivíduo tem que reconhecer o “conjunto” e contar o número de asteriscos existentes.
Tanto na Leitura quanto na Contagem, as respostas representam ações automáticas e são
determinadas pelos estímulos apresentados ao testando. Nesse sentido, nenhuma dessas
duas operações básicas (ler e contar) requer um grande esforço intencional por parte do
155

testando.
Nas partes de Escolha e Alternância, ao contrário da Leitura e da Contagem, o
indivíduo tem de executar ações controladas e conscientes que o obrigam a mobilizar um
nível superior de recursos mentais. Os itens da segunda parte do teste apresentam
sempre grupos de dígitos em quantidades que são distintas de seus valores aritméticos,
por exemplo, três – 1, quatro – 2, cinco – 3, e isso obriga o testando a lê-las ou contá-las
como duas quantidades diferentes, por exemplo, lendo-as como “1, 2, 3”; ou contando-as
como “três, quatro, cinco”.
As situações controladas são duas: na Escolha, o indivíduo tem de contar os grupos
de dígitos de valores conflitantes, o que requer manter a atenção na contagem, apesar da
interferência da leitura; e inibir sua tendência involuntária de ler os números. Por último,
na Alternância, um de cada cinco grupos de dígitos é delimitado por uma borda mais
grossa; nessa parte, é ordenado ao testando que alterne entre duas operações, contando
80% dos itens, como na Escolha, mas quebrando essa rotina cognitiva cada vez que chegar
a uma borda ou quadro mais grossos, realizando, assim, o esforço adicional de ler
conscientemente os números do grupo, e, no elemento seguinte, retornar à sua regra
habitual, que é a de contar os grupos de dígitos. O resultado da ambiguidade dos itens,
Escolha e Alternância, obriga o testando a mobilizar um esforço voluntário que reduz a
velocidade das respostas, tanto nos indivíduos normais quanto nos casos clínicos. A
diminuição da velocidade é, contudo, muito superior nos casos clínicos, e isso permite
diagnosticar a presença de dificuldade neurocognitiva.
As quatro situações do FDT fornecem informações sobre alguns processos mentais.
Quatro podem ser particularmente relevantes para os diagnósticos neuropsicológicos, são
elas: (1) a velocidade geral do processamento cognitivo; (2) a fluidez verbal, melhor
dizendo, a facilidade para encontrar as palavras; (3) a atenção focada do indivíduo e sua
reação ante o esforço continuado; e, por último (4) a capacidade do indivíduo de mobilizar
o esforço cognitivo adicional, necessário para inibir as respostas voluntárias e,
deliberadamente, alternar entre as duas operações mentais diferentes.
Antes de iniciar a aplicação do FDT, deve-se estimular o testando a responder ao
teste da melhor forma possível. É importante informá-lo de que o teste é composto de
várias partes e que algumas parecerão mais complicadas que outras, enfatizando que isso
é normal e que acontece com todas as pessoas. É fundamental reiterar que os exercícios
156

devem ser realizados o mais rapidamente possível, evitando cometer erros. Antes de
iniciar a aplicação de qualquer das quatro situações, realiza-se um treinamento. É
importante se certificar de que o testando compreendeu bem a tarefa antes de continuar,
caso necessário, deve-se insistir quanto à natureza da tarefa e pedir novamente a ele para
dar exemplos, até ter certeza de que compreendeu bem o que deve fazer.
Para obter as pontuações do FDT, primeiramente, devem ser contados os erros
cometidos pelo testando, em cada uma das partes do teste. Na parte 1 do teste, Leitura,
contam-se os círculos ou marcas utilizadas para assinalar os erros do testando na primeira
fila e anota-se o total no quadro correspondente. Repete-se a operação na segunda fila.
Somam-se os erros de ambas as filas e transferem-se os totais para as caixas
correspondentes do quadro Resumo de Pontuações. É importante lembrar que as
pontuações parciais não devem ser transferidas, somente o total. O tempo é anotado em
segundos, também é levado em conta somente o tempo total. Repete-se o procedimento
em cada uma das três partes restantes do teste. Finalmente, é necessário obter duas
pontuações complementares, são elas: a de inibição das respostas e a de flexibilidade
mental. O cálculo dessas pontuações é bastante simples e dever ser realizado com as
pontuações diretas, não com as derivadas (Percentis); são calculadas as seguintes
diferenças: Inibição é o resultado da Escolha menos Leitura; Flexibilidade é o resultado da
Alternância menos Leitura.
Para a interpretação dos resultados do FDT é necessário consultar as Normas de
Interpretação do manual do FDT, no qual constam Escalas em Percentis e pontuações
típicas (Média e DP), tanto para as quatro situações como para os erros (CAMPOS et al.,
2016; SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015).

3.6.5.9 Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS)

A Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS) (ANEXO E) é


uma escala de autoavaliação breve, com boas propriedades psicométricas, que fornece
uma avaliação global e específica do temperamento; e tem potencial para ser utilizada na
clínica e em pesquisas para estudo da psicopatologia e saúde mental. Lara et al. (2012)
desenvolveram e validaram a AFECTS para a população brasileira.
157

A AFECTS é composta por seções emocionais e afetivas separadas e geralmente


leva cerca de 30 a 40 minutos para ser respondida. Não há limitação de idade especificada
para a aplicação desse instrumento.
A seção emocional é formada por uma escala likert de 1 a 7 pontos e 60 itens. As
dimensões emocionais são: Vontade (1-8), Impulso (9-12), Cautela (13-16), Raiva (17-24),
Medo (25-28), Sensibilidade Emocional (29-36), Maturidade (Coping) (37-44), Controle
(45-52), Ansiedade (53 a 56) e Estabilidade (57 e 60).
A seção afetiva é constituída por afirmações sobre situações em que o indivíduo
deve assinalar o quanto cada afirmação tem a ver com ele (“nada a ver comigo” – “tudo a
ver comigo”), entre essas duas afirmações existe uma escala do tipo likert, que possibilita
cinco graduações de resposta. Ao final dessa parte, o indivíduo deve escolher uma letra
das afirmações que mais se aproxima do seu perfil (são 12 letras, de A até L). Embora cada
letra corresponda a um dos doze temperamentos afetivos (depressivo, ansioso, apático,
ciclotímico, disfórico, volátil obsessivo, eutímico, hipertímico, irritável, desinibido e
eufórico), na escala não existe correspondência entre a letra e o tipo afetivo.
O cálculo do escore total de cada dimensão emocional é a soma dos pontos de 1 a
7, da escala do tipo likert de cada questão, variando de 8 a 56 pontos para cada dimensão
emocional, com exceção das dimensões emocionais, Impulso, Cautela, Medo, Ansiedade e
Estabilidade, que variam de 4 a 28 pontos (LARA, 2012, p. 133), conforme está
representado abaixo:
Vontade (1-8)
Muito baixa <26 Baixa 26-34 Média 35-41 Alta 42-47 Muito Alta >47

Impulso (9-12)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24

Cautela (13-16)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24

Raiva (17-24)
Muito baixa <31 Baixa 31-36 Média 37-41 Alta 42-45 Muito Alta >45
158

Medo (25-28)
Muito baixa <12 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24

Sensibilidade Emocional (29-36)


Muito baixa <29 Baixa 29-35 Média 36-41 Alta 42-47 Muito Alta >47

Maturidade (coping) (37-44)


Muito baixa <28 Baixa 28-36 Média 37-42 Alta 43-48 Muito Alta >48

Controle (45-52)
Muito baixa <28 Baixa 28-36 Média 37-42 Alta 43-48 Muito Alta >48

Ansiedade (53-56)
Muito baixa <11 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24

Estabilidade (57-60)
Muito baixa <11 Baixa 12-15 Média 16-19 Alta 20-23 Muito Alta >24

Para as dimensões emocionais Vontade, Cautela, Maturidade, Controle e


Estabilidade, quanto mais alto for o escore, melhor. Já para os demais traços, quanto mais
baixo o escore, melhor.
O cálculo do escore total de cada dimensão afetiva é a soma dos pontos de 1 a 5
para cada uma das 12 questões, representadas por uma letra de A até L. O testando
aponta uma letra que mais o representa, entre as 12 questões (de A até L), o que resultará
em um tipo afetivo (depressivo, ansioso, apático, ciclotímico, disfórico, volátil obsessivo,
eutímico, hipertímico, irritável, desinibido e eufórico). Os 12 tipos afetivos estão
subdivididos em quatro grupos, com três integrantes cada, são eles:

1) Introvertidos: A) melancólico, B) evitativo e C) apático;


2) Instáveis: D) ciclotímico, E) disfóricos e F) volátil;
3) Estáveis: G) eutímico, H) hipertímico e I) obsessivo; e
4) Extrovertidos: J) irritável, K) desinibido e L) eufórico.
159

Ainda se podem realizar combinações de diferentes pontuações, permitindo uma


visão mais sintética dos resultados, por exemplo: o funcionamento emocional global, o
índice de internalização, o índice de externalização e o índice de estabilidade. Esses
cálculos são feitos a partir dos resultados das dimensões da AFECTS, criados por Lara
(2012, p. 113).

3.6.5.10 Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P)

A Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P)


(ANEXO F) é uma escala que avalia dimensões da Religiosidade/Espiritualidade (R/E); foi
traduzida, adaptada e validada para a população brasileira por Curcio, Lucchetti e
Moreira-Almeida (2016). É uma ferramenta que apresenta boas propriedades
psicométricas, adequada para o uso clínico e em pesquisa em saúde.
A BMMRS-P é uma escala de autopreenchimento, sua aplicação pode ser individual
ou coletiva, o tempo de aplicação varia entre 30 a 40 minutos e a correção ocorre em
aproximadamente 10 minutos.
A versão da BMMRS-P reúne 38 itens, que medem 11 dimensões de R/E: A)
experiências espirituais diárias; B) valores/crenças; C) perdão; D) práticas religiosas
particulares; E) superação religiosa; F) apoio religioso; G) histórico religioso espiritual; H)
comprometimento; I) religiosidade organizacional; J) preferências religiosas; e K)
autoavaliação global de R/E.
As dimensões da BMMRS-P podem ser analisadas separadamente ou em interação
entre as dimensões, por exemplo, pode-se avaliar apenas a interface entre práticas
religiosas particulares e saúde, ou o suporte religioso e saúde, ou as experiências
espirituais diárias e saúde, e assim por diante. Da mesma forma, os pesquisadores que
desejarem obter uma abordagem mais abrangente podem avaliar a interação entre as
múltiplas dimensões de R/E e sua associação com saúde.
A correção da BMMRS-P é relativamente simples, realizada com a soma dos
pontos de cada item, que é indicado por uma letra (de A até K), totalizando 38 itens. O
item “A) Experiências espirituais diárias” é seguido da afirmação: “1. Sinto a presença de
Deus”; na sequência existem 6 possibilidades de resposta; o valor atribuído ao item é
inverso ao número da “afirmação”, ou seja, hipoteticamente, se a resposta fosse o item
160

número 1: “1. muitas vezes ao dia”, o valor atribuído será 6. Essa lógica é aplicada aos
demais itens da escala. As exceções são os itens 20, 21, 22 e 27, em que serão acatados os
valores do próprio item para compor a pontuação, ou seja, não serão invertidos os
valores.
As pontuações alcançadas em cada item da BMMRS-P, de acordo com Curcio,
Lucchetti e Moreira-Almeida (2016), são:
A) experiências espirituais diárias (9-36);
B) valores/crenças (2-8);
C) perdão (5-12);
D) práticas religiosas particulares (5-37);
E) superação religiosa (9-27);
F) apoio religioso (4-16);
G) histórico religioso espiritual (3-6);
H) comprometimento (1-7);
I) religiosidade organizacional (2-12);
J) preferência religiosa (zero);
K) autoavaliação global de R/E (2-8)

3.7 Análise dos dados

Os dados obtidos a partir da etnografia – anotações em diários de campo,


entrevistas e as vivências durante a observação participante – ofereceram uma rica fonte
de informações, possibilitando reflexões sobre os resultados e permitindo inferências e
interpretações qualitativas (HUBERMAN; MILES, 1994).
A análise da distribuição amostral foi realizada com os testes de Kolmogorov
Smirnov e Shapiro-Wilk, por meio do software estatístico SPSS 21.0. Como a amostra
apresentou distribuição normal, foi utilizado o teste estatístico análise multivariada da
variância (MANOVA), uma vez que se buscou medir os efeitos das variáveis independentes
sobre as variáveis dependentes, incluindo as interações entre as varáveis. Foram utilizados
como variáveis dependentes os escores obtidos em todas as medidas: da WASI, da tarefa
de Alcance de Dígitos, da tarefa de Cubos de Corsi, das Figuras Complexas de Rey, do
WCST-64, do FDT, da AFECTS e da BMMRS-P. Como variáveis independentes, foram
161

testados os efeitos do tipo de grupo controle e estudo (experiente e iniciante) e sexo,


assim como as interações entre esses fatores. Os pressupostos de homogeneidade das
variâncias foram avaliados pelo teste de Levene, e a homogeneidade das matrizes de
covariância pelo teste de Box. No post hoc foi utilizado o método de Bonferroni, ajustado
para múltiplas comparações, e Tukey b, quando preenchidos os requisitos necessários.
Para correlação, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Também foram
extraídas porcentagens e outras medidas descritivas para dados categóricos, e testada a
associação por meio do teste de Qui-quadrado. Foi adotada a significância estatística para
um a ≤ 0,05.
162

4 RESULTADOS e DISCUSSÃO
163

4.1 Biologia Química das Ayahuascas

4.1.1 Bebida Ayahuasca nº 1

Podem ser verificadas, na Fotografia 9, as características da bebida Ayahuasca nº 1,


tipo de bebida: Segundo grau; composto-alvo detectado: THH (m/z 217.1340); data de feitio:
15 de abril de 2017 (lua cheia); local: Centro Luz Divina, Piedade – SP.

Fotografia 9 – Bebida Ayahuasca nº 1

Nº 1

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).

Nas Fotografias 10 e 11, estão dispostas as plantas utilizadas na confecção da bebida


nº 1. Visualiza-se, na Fotografia 10, a P. viridis; data da coleta: 18 de julho de 2018; Voucher
HUFSP nº 423; 23º39’56.4” Sul e 47º27’12.6” Oeste; local: Piedade – SP; 883 m de elevação.
Na Fotografia 11, verifica-se o B. caapi; data da coleta: 24 de julho de 2018; Voucher HUFSP
nº 433; 23º38’22.0” Sul e 47º02’56.9” Oeste; local: Cotia – SP; 918 m de elevação.

Fotografia 10 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. Fotografia 11 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex
(família Rubiaceae) Griseb.) Morton (família Malpighiaceae)

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
164

4.1.2 Bebida Ayahuasca nº 2

Podem ser verificadas, na Fotografia 12, as características da bebida Ayahuasca nº 2,


tipo de bebida: Segundo grau; composto-alvo detectado: THH (m/z 217.1340); data de feitio:
não informado; local: Igreja Flor de Luz, Piedade – SP.

Fotografia 12 – Bebida Ayahuasca nº 2

Nº 2

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).

Nas Fotografias 13 e 14, estão dispostas as plantas utilizadas na confecção da bebida


nº 2. Visualiza-se, na Fotografia 13, a P. viridis; data da coleta: 18 de julho de 2018; Voucher
HUFSP nº 431; 23º39’51.5” Sul e 47º27’11.4” Oeste; local: Piedade – SP; 877 m de elevação.
Observa-se, na Fotografia 14, o B. caapi; data da coleta: 18 de julho de 2018; Voucher HUFSP
nº 428; 23º38’22.0” Sul e 47º02’56.9” Oeste; local: Piedade – SP; 881 m de elevação.

Fotografia 13 – Psychotria viridis Ruiz & Pav. Fotografia 14 – Banisteriopsis caapi (Spruce ex
(família Rubiaceae) Griseb.) Morton (família Malpighiaceae)

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018). Fonte: Arilton Martins Fonseca (2018).
165

4.1.3 Análise química via LC-MS/MS das bebidas Ayahuasca do Centro Luz Divina

A análise química para detecção dos principais alcaloides presentes nas bebidas
Ayahuasca (DMT, HRM, HRL e THH) foi realizada via dados de cromatografia líquida,
acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC-HRMS).
Os resultados apresentados a seguir são referentes às amostras eluídas em SPE com
100% de MeOH. Cabe destacar que não houve seletividade durante a extração com a fase
sólida utilizada (C18), ou seja, tanto nas frações de lavagem (100% H2O) como de eluição
(100% metanol) oriundas da separação por SPE, houve a detecção dos compostos de
interesse encontrados. Nesse sentido, o processo de SPE funcionou apenas como clean-up
de amostra, com eliminação de interferentes hidrofílicos na lavagem do processo, como
uma tentativa de eliminar possíveis efeitos cruzados.
A Figura 28 mostra o cromatograma do perfil químico das amostras 1 e 2 das bebidas
Ayahuasca estudadas.

Figura 28 – Cromatograma de UV 190-800nm das duas amostras de bebidas Ayahuasca

Bebida Ayahuasca - 2

Bebida Ayahuasca - 1
1 2 3 4 5 6 7 Time [min]

As duas amostras apresentaram o mesmo perfil químico (ver FIGURA 28). Não foram
encontrados os alcaloides DMT, HRM e HRL em nenhuma das duas amostras das bebidas
Ayahuasca. Apenas a β-carbolina THH foi detectada nas duas amostras estudadas,
surpreendentemente.
Na Figura 29, verifica-se a presença da β-carbolina THH e de três compostos
(isômeros entre si) de identidade desconhecida, nas duas amostras das bebidas Ayahuasca.
Devido à alta similaridade no perfil dos espectros de UV encontrados para os compostos não
166

identificados e de seus tempos de retenção próximos ao da THH, evidencia-se a


possibilidade de pertencerem à mesma classe biossintética desta última (alcaloides
carbolínicos).

Figura 29 – Cromatograma da Tetrahidroharmina (THH) e dos três compostos (isômeros) de identidade


desconhecida, presentes nas duas amostras das bebidas Ayahuasca

(B) (A)

Bebida Ayahuasca - 2

Bebida Ayahuasca - 1
1 2 3 4 5 Time [min]

(A) – Tetrahidroharmina (B) – Isômeros desconhecidos

A presença da Tetrahidroharmina foi confirmada por meio do íon pseudomolecular


protonado = m/z 217.1340, erro: – 0,4 ppm (C13H16N2O). Espectro de íons produto
compatível ao encontrado na literatura (OLIVEIRA et al., 2012).
167

A Figura 30 mostra a Tetrahidroharmina, o espectro pseudomolecular protonado


(m/z 217.1340) de full scan e de UV, respectivamente.

Figura 30 – (A) Cromatograma de UV obtido a partir das amostras das bebidas Ayahuasca, Tetrahidroharmina
(THH) detectada em destaque, (B) espectro de full scan e de (C) UV da THH detectada

(A) Tetrahidroharmina

1 2 3 4 5 Time [min]

(B) Espectro de full scan – tetrahidroharmina (C) Espectro de UV – tetrahidroharmina


Intens. +MS, 4.7min Intens.
x10 4 [M + H]+ [mAU] 225
UV, 4.7min
4 217.1340
20

3
15

2 10

265 293
5
1

0
0
200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 m/z

O espectro de íons produto Tetrahidroharmina (THH) (m/z 217.1340) está


evidenciado na Figura 31.

Figura 31 – Espectro de íons produto Tetrahidroharmina (THH) (m/z 217.1340) detectada

Intens. +MS2(217.1341), 31.6eV, 4.7min


173.0845
2500
188.1077
2000

1500

1000
157.0902

500

0
80 100 120 140 160 180 200 220 240 m/z
168

Os três isômeros de identidade desconhecida, encontrados nas duas amostras das


bebidas Ayahuasca, estão evidenciados na Figura 32 (m/z 367.1492), na Figura 33 (m/z
367.1504) e na Figura 34 (m/z 367.1500).
A Figura 32 mostra o primeiro isômero desconhecido (A), o espectro de full scan (B) e
de UV (C), respectivamente.

Figura 32 – (A) cromatograma do primeiro isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1492) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV

(A) Primeiro isômero desconhecido

1 2 3 4 5 Time [min]

(B) Espectro de full scan (C) Espectro de UV


Intens. +MS, 2.9min Intens.
x105 367.1492 [mAU]
221
UV, 2.8-2.9min

[M + H]+
1.00 300

0.75
200

0.50

353.1703 100
0.25 290
320.1116
233.1272
0.00 0
50 100 150 200 250 300 350 400 450 m/z 200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
169

A Figura 33 mostra o segundo isômero desconhecido (A), o espectro de full scan (B) e
de UV (C), respectivamente.

Figura 33 – (A) cromatograma do segundo isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1504) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV

(A) Segundo isômero desconhecido

1 2 3 4 5 Time [min]

(B) Espectro de full scan (C) Espectro de UV


Intens. +MS, 3.0min Intens. UV, 3.0min
x10 5 367.1504 [M + H]+ [mAU]
1.25 222
150

1.00

0.75 100

0.50
529.2038 50
0.25 320.1128 291
350.1246 733.2903
233.1271
0
100 200 300 400 500 600 700 800 m/z
200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
170

A Figura 34 mostra o terceiro isômero desconhecido (A), o espectro de full scan (B) e
de UV (C), respectivamente.

Figura 34 – (A) cromatograma do terceiro isômero de identidade desconhecida (m/z 367.1500) em destaque,
(B) espectro de full scan e (C) de UV

(A) Terceiro isômero desconhecido

1 2 3 4 5 Time [min]
(B) Espectro de full scan (C) Espectro de UV
Intens. Intens. UV, 3.1min
+MS, 3.2min

367.1500 [M + H]
x10 4 + [mAU] 220

80

6
60

4
40

2 20 291
529.2031
0
0 200 220 240 260 280 300 Wavelength [nm]
200 400 600 800 1000 m/z

Não houve resolução cromatográfica para os isômeros de m/z 367 no método


utilizado. Mesmo assim, considerou-se a área total da massa monitorada (mesma massa
acurada) que gerou os três picos detectados (ver FIGURA 35).
171

A integração das áreas dos picos foi calculada com base nos respectivos
cromatogramas de íons extraídos para m/z 217 e m/z 367, como se verifica na Figura 35.

Figura 35 – Cromatograma de íons extraídos para m/z 367 (1) e m/z 217 (2)

Intens.
x105 1 (m/z 367.1500)

2.0

1.5
1

1.0

2 (m/z 217.1340)
0.5
1

0.0
0 1 2 3 4 5 6 7 Time [min]

A Figura 36 mostra o cromatograma de UV 190-800nm, apresentando apenas a


Tetrahidroharmina (THH), não foi detectada a DMT nem as β-carbolinas HRM e HRL.

Figura 36 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)

Intens.
189.1392±0.005 +All MS
x10 4

Dimetiltriptamina (DMT)
0
Intens.
213.1028±0.005 +All MS
x10 4

1
Harmina (HRM)
0
Intens.
215.1184±0.005 +All MS
x10 4

1.0

0.5

0.0
Harmalina (HRL)
Intens.
217.1340±0.005 +All MS
x10 4

1
Tetrahidroharmina (THH)
0
0 2 4 6 8 10 12 Time [min]
172

A espectrometria de massas é uma das técnicas de maior sensibilidade atualmente,


conseguindo detectar quantidades em nanogramas e, em alguns casos, picogramas. Como a
THH ionizou superbem, foi detectada facilmente (grupos funcionais nitrogenados). Os
demais (DMT, HRM e HRL), por terem estrutura química similar (sítio ionizável), certamente
teriam sido detectados caso estivessem presentes nas amostras das bebidas Ayahuasca.
Podem-se levantar algumas hipóteses sobre a não detecção desses alcaloides nas
bebidas Ayahuasca, por exemplo, (a) algumas bebidas estavam acondicionadas em garrafas
de vidro, outras, em garrafões plásticos de 20 litros (utilizados para comercialização de
água), todas em local protegido da luz solar, no entanto, estavam em temperatura
ambiente; (b) pode ter ocorrido processo fermentativo, pois as bebidas Ayahuasca são ricas
em açucares; (c) pode ter havido biotransformação por microrganismos, por exemplo, ao
invés de degradação, porque os três isômeros de identidade desconhecida encontrados nas
duas amostras das bebidas Ayahuasca apresentam a relação de m/z maior (m/z 367.1492,
m/z 367.1504 e m/z 367.1500) do que os dos analitos-alvo (DMT, HRM, HRM e THH),
indicando uma possível incorporação de massa aos alcaloides; (d) possíveis análogos
biossintéticos, pois o perfil dos espectros de UV é muito semelhante aos dos analitos-alvo.
Os cálculos apresentados a seguir mostram a concentração relativa dos alcaloides,
quando comparadas as duas amostras das bebidas Ayahuasca. Tais cálculos foram feitos a
partir da soma dos resultados de área dos picos obtidos (compostos detectados) nos
diferentes tratamentos (frações de lavagem e eluição da SPE). Conforme mencionado
anteriormente, não houve seletividade durante a extração com a fase sólida utilizada (C18).
Ou seja, tanto nas frações de lavagem (100% H2O) como de eluição (100% metanol) oriundas
da separação por SPE, houve a detecção dos compostos de interesse encontrados. Nesse
sentido, o processo de SPE funcionou apenas como clean-up de amostra.
As Figuras 37 e 38, apresentadas a seguir, mostram a área de pico, a média e o desvio
padrão (DP) encontrados na THH e nos isômeros desconhecidos (soma) das duas bebidas
Ayahuasca. Nas amostras da bebida nº 2 foi detectado um DP maior, assim, um 1 outlier foi
considerado, para melhorar o DP (ver TABELA à direita da FIGURA 37 e 38).
173

A Figura 37 mostra as áreas de pico, as médias e os desvios padrão (DP) encontrados


na THH das duas amostras das bebidas Ayahuasca estudadas.

Figura 37 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados na Tetrahidroharmina (THH)

Tetrahidroharmina
Tetrahidroharmina

2500000

2000000 1908115,0

1542957,3
1500000
Área Pico

1000000

Tetrahidroharmina
500000
Amostras Média DP
Bebida - 1 1542957,3 39157,1
0
Bebida
C1 - 1 Bebida
C2 - 2 Bebida - 2 1908115,0 343695,8

Observa-se, na Figura 37, que a β-carbolina THH, encontrada nas bebidas nº 1 e nº 2,


apresenta uma concentração próxima.
A Figura 38 mostra as áreas de pico, as médias e os desvios padrão (DP) encontrados
nos isômeros desconhecidos (soma) das duas amostras das bebidas Ayahuasca estudadas.

Figura 38 – Área de pico, médias e desvios padrão (DP) encontrados nos isômeros desconhecidos (soma)

Desconhecidos (Soma isômeros)


Isômeros desconhecidos m/z367
(soma) m/z 367

6000000

5000000 4740180,3

4000000 3778392,7
Área Pico

3000000

2000000

Isômeros desconhecidos (soma)


1000000
Amostras Média DP

0
Bebida - 1 4740180,3 372849,9
Bebida
C1 - 1 Bebida
C2 - 2 Bebida - 2 3778392,7 1187491,2
174

4.1.4 Análise química via LC-MS/MS dos extratos vegetais da P. viridis e do B. caapi

A análise química para detecção dos principais alcaloides presentes nas plantas que
compõem a bebida Ayahuasca (DMT, HRM, HRL e THH) foi realizada via dados de
cromatografia líquida, acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução (UHPLC-
HRMS), utilizando-se o extrato liofilizado das folhas de P. viridis e de caules do B. caapi,
conforme descrito na subseção 3.5.

4.1.4.1 Análise química do extrato de folhas de P. viridis, obtido por extração aquosa a
quente

Na Figura 39, é possível verificar a presença do alcaloide DMT, a partir de extrato


aquoso quente realizado das folhas de P. viridis coletadas da Comunidade Céu de Midam –
Piedade – SP.

Figura 39 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos das folhas de P. viridis

Intens.
Folha: BPC +All MS
x10 5

1.0

0.5

0.0

A presença da DMT foi confirmada por meio do íon pseudomolecular protonado =


m/z 189.1381, erro: – 5 ppm (C12H16N2). Adicionalmente, o espectro de íons produto foi
compatível ao espectro correspondente, reportado na literatura (OLIVEIRA et al., 2012).
A Figura 40 mostra a DMT encontrada nas folhas de P. viridis, a partir do espectro
pseudomolecular protonado (m/z 189.1381): (A) cromatograma de UV 190-800nm e (B)
espectro de full scan.
175

Figura 40 – (A) Cromatograma da Dimetiltriptamina (DMT) e (B) espectro de full scan das folhas de P. viridis

(A) – Dimetiltriptamina (DMT)


Intens.
Folha: EIC 189.1381 +All MS
x10 5
0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

2 4 6 8 10 Time [min]

(B) Espectro de full scan


Intens.
x10 5
Folha: +MS, 1.5min
0.8 [M+H]+ 189.1381

0.6

0.4

0.2
163.0411 206.1161
0.0

O espectro de íons produto Dimetiltriptamina (DMT) (m/z 189.1381) está


evidenciado na Figura 41.

Figura 41 – Espectro de íons produto Dimetiltriptamina (DMT) (m/z 189.1381)

0.0
Folha: +MS2(189.1381), 29.6eV, 1.6min

6000
144.0800

4000

2000
117.0701

0
60 80 100 120 140 160 180 200 220 m/z
176

A Figura 42 apresenta o cromatograma de UV 190-800nm do extrato aquoso das


folhas de P. viridis, confirmando apenas a Dimetiltriptamina (DMT). Os demais compostos
(HRM, HRL e THH) não foram detectados, conforme ilustram os respectivos cromatogramas
de íons extraídos.

Figura 42 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)

Intens. Folha: EIC 189.1381±0.005 +All MS


x10 5

0.75

0.50

0.25
Dimetiltriptamina (DMT)
0.00
Intens.
Folha: EIC 213.1028±0.005 +All MS
x10 4
1.5

1.0

0.5
Harmina (HRM)
0.0
Intens.
Folha: EIC 215.1184±0.005 +All MS
x10 4

Harmalina (HRL)
0
Intens.
Folha: EIC 217.1340±0.005 +All MS
x10 4
3

1
Tetrahidroharmina (THH)
0
2 4 6 8 10 Time [min]
177

4.1.4.2 Análise química do extrato de caules de B. caapi, obtido por extração aquosa a
quente

Na Figura 43, é possível verificar a presença da β-carbolina THH, a partir de extrato


aquoso quente realizado dos caules de B. caapi coletados em Cotia – SP.

Figura 43 – Cromatograma de pico base obtido dos extratos dos caules do B. caapi

Intens.
Cipo: BPC +All MS
x10 5

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

Houve apenas a detecção da β-carbolina THH no extrato aquoso quente de caules de


B. caapi, coletados em Cotia – SP, conforme pode ser verificado nos cromatogramas de íons
extraídos para HRM, HRL e THH (ver FIGURA 43). A presença da THH foi confirmada por meio
do íon pseudomolecular protonado = m/z 217.1340, erro: – 5 ppm (C13H16N2O). Espectro de
íons produto é compatível ao encontrado na literatura (OLIVEIRA et al., 2012).
178

A Figura 44 mostra a β-carbolina THH encontrada nos caules de B. caapi, a partir do


espectro pseudomolecular protonado (m/z 217.1340): (A) cromatograma de UV 190-800nm
e (B) espectro de full scan.

Figura 44 – (A) Cromatograma da Tetrahidroharmina (THH) e (B) espectro de full scan dos caules de B. caapi
(A) – Tetrahidroharmina (THH)
4
x10 Cipo: EIC 217.1340+All MS

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

2 4 6 8 10 Time [min]

(B) Espectro de full scan


179

O espectro de íons produtos Tetrahidroharmina (THH) (m/z 217.1340) está


evidenciado na Figura 45.

Figura 45 – Espectro de íons produtos Tetrahidroharmina (THH) (m/z 217.1340)


180

A Figura 46 apresenta o cromatograma de UV 190-800nm do extrato aquoso quente


dos caules de B. caapi, confirmando apenas presença da β-carbolina Tetrahidroharmina
(THH). Os demais compostos (DMT, HRM e HRL) não foram detectados, conforme ilustrado
nos respectivos cromatogramas de íons extraídos.

Figura 46 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH)

Intens. Cipo: EIC 189.1381+All MS


x104
0.8
0.6
0.4
0.2
Dimetiltriptamina (DMT)
0.0
Intens. Cipo: EIC 213.1028+All MS
x105
0.8
0.6
0.4
0.2
Harmina (HRM)
0.0
Intens. Cipo: EIC 215.1184 + All MS
x104

1
Harmalina (HRL)
0
Intens. Cipo: EIC 217.1340 +All MS
x104
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
Tetrahidroharmina (THH)
2 4 6 8 10 Time [min]
181

Outro extrato foi feito com a combinação dos extratos das folhas (P. viridis) e do cipó
(B. caapi), na proporção de 1:1. A ideia foi simular a bebida Ayahuasca em laboratório a
partir dos dois extratos, conforme se verifica os cromatogramas da Figura 47.

Figura 47 – Cromatograma de íons extraídos para os alcaloides-alvo (DMT, HRM, HRL e THH), a partir da
combinação feita dos extratos das folhas (P. viridis) e do cipó (B. caapi)

Intens.
Mistura: EIC 189.1381 +All MS
x104
2.0

1.5

1.0

0.5
Dimetiltriptamina (DMT)
0.0
Intens.
Mistura: EIC 213.1028 +All MS
x104
1.00

0.75

0.50

0.25
Harmina (HRM)
0.00
Intens.
x104 Mistura: EIC 215.1184 +All MS
0.8

0.6

0.4

0.2
Harmalina (HRL)
0.0
Intens.
x104 Mistura: EIC 217.1340 +All MS
1.0

0.8

0.6

0.4

0.2
Tetrahidroharmina (THH)
0.0
2 4 6 8 10 Time [min]

A simulação da bebida Ayahuasca feita em laboratório, a partir dos materiais


botânicos coletados, permitiu detectar os mesmos alcaloides presentes nas plantas, ou seja,
DMT na folha (ver FIGURA 41) e THH no cipó (ver FIGURA 45), confirmados pelos
cromatogramas apresentados na Figura 47.
182

4.2 Etnografia

No projeto inicial, a Etnografia acerca das atividades relacionadas à bebida


Ayahuasca e aos rituais que são praticados no Centro Luz Divina seria realizada a partir das
seguintes aproximações:
A) História de formação do Centro Luz Divina;
B) Quais os tipos de bebida Ayahuasca são oferecidos aos adeptos nesse Centro;
C) Cultivo das plantas que compõem a Ayahuasca na Comunidade Céu de Midam;
D) Como ocorre a confecção de cada bebida Ayahuasca (feitio) descrita acima;
E) Como ocorrem os rituais religiosos no Centro Luz Divina;
F) Cuidados especiais dos sacerdotes (padrinho e madrinha) ao oferecer as bebidas
Ayahuasca aos adeptos;
G) Qual critério de escolha de cada tipo de bebida Ayahuasca ao adepto e/ou ao
ritual.
No entanto, os itens D, E, F e G não puderam ocorrer na profundidade adequada
para uma Etnografia. Embora a madrinha do Centro Luz Divina tivesse procurado nossa
equipe para que realizássemos estudos em seu Centro, por interesse pessoal na
aproximação entre a doutrina do Santo Daime e a academia, os adeptos do referido Centro
não autorizaram nossa participação nos feitios (item D) no momento posterior ao início da
coleta de dados do presente estudo, fato que trouxe limitações à pesquisa. Entretanto, os
pesquisadores entendem que tanto a madrinha quanto os demais adeptos têm autonomia
para desistir da coleta de dados a qualquer momento da pesquisa, conforme TCLE (ANEXO
B), assinado entre a UNIFESP e os entrevistados deste estudo. Então, as informações sobre o
feitio foram obtidas por meio da literatura daimista.
Ainda assim, quanto aos itens E e F, algumas aproximações foram possíveis. Em
relação aos rituais religiosos do Centro Luz Divina (item E), que é filiado ao ICEFLU, quando
lhe foi perguntado sobre a condução dos rituais, a madrinha relatou que eles seguiam as
orientações do ICEFLU, que os rituais eram iguais em todas as igrejas daimistas. Logo, as
informações foram obtidas por intermédio do ICEFLU (2020) e da literatura daimista.
Quanto aos cuidados para oferecer a bebida Ayahuasca (item F), a madrinha do
Centro Luz Divina referiu que são seguidas as orientações do ICEFLU, assim, as informações
descritas no presente trabalho foram obtidas no ICEFLU (2020).
183

Em relação ao critério de escolha do tipo de bebida Ayahuasca que é oferecida ao


adepto e/ou ao ritual (item G), não foi possível obter informações, nem por intermédio dos
sacerdotes, nem do ICEFLU.
Diante do exposto, segue a Etnografia dos itens A, B, C, D, E e F, citados
anteriormente.

4.2.1 História de formação do Centro Luz Divina

A primeira reunião com a Sra. Eunice Durão ocorreu por volta de fevereiro de 2017,
para discutir as possibilidades da realização da pesquisa no Centro Luz Divina, sito no
município de Piedade – SP. A Sra. Eunice é casada com o Sr. Carlos Eduardo Durão, ambos
dirigentes do referido Centro. Desde então, outras reuniões ocorreram, durante as quais
informações foram coletadas para estruturar o projeto que resultou nesta pesquisa.
O convívio com a Sra. Eunice foi se tornando mais estreito com o passar do tempo.
No dia 15 de dezembro de 2017, participei do meu primeiro ritual do Santo Daime, um ritual
de Concentração, que ocorreu no mesmo dia em que é comemorado o aniversário do
Mestre Irineu. Coincidência ou não, meu primeiro contato com o ritual e com a bebida
Ayahuasca aconteceu em uma data muito especial para a irmandade daimista.
Durante o trabalho de campo, fiquei hospedado nas dependências do Centro Luz
Divina, Piedade – SP.
Para compreender o processo de formação e constituição do Centro Luz Divina é
necessário, primeiramente, compreender os fatos históricos da formação da Igreja Matriz
Flor de Luz da Comunidade Céu de Midam. E, nesse processo, a Sra. Eunice foi “peça-chave”.
Ela me apresentou aos irmãos da comunidade, que entrevistei posteriormente; também me
colocou em contato com dois filhos do padrinho Jonas Frederico, idealizador e fundador da
comunidade.
Ao longo do processo de coleta de dados, foram entrevistados a Sra. Eunice Durão, o
Sr. Carlos Durão e a Sra. Niva Aparecida de Oliveira, assim como outros irmãos da
comunidade Céu de Midam. No dia 25 de janeiro de 2019, no bairro da Vila Mariana, São
Paulo, Capital, entrevistei Marcos Antonio Santos Frederico e Regina Célia Santos Frederico,
ambos filhos de Jonas Frederico. Outras informações foram complementadas
184

posteriormente, via e-mail, WhatsApp e conversas telefônicas, assim como fotos e


documentos que fazem parte dos acervos das famílias Frederico e Durão.
Jonas Frederico nasceu em Amparo, cidade do estado de São Paulo, no dia 14 de
julho de 1935, casou-se com Gracinda Santos Frederico, em 12 de setembro de 1959. Desse
matrimônio, nasceram quatro filhos: Alexandre Santos Frederico, nascido em 04 de junho de
1960; Marcos Antonio Santos Frederico, nascido em 26 de setembro de 1961; Regina Célia
Santos Frederico, nascida em 27 de junho de 1963, e Dirceu Santos Frederico Sobrinho,
nascido em 26 de junho de 1965.
Jonas Frederico e um de seus irmãos, Dirceu Santos Frederico, eram sócios-
proprietários de um armazém de secos e molhados, localizado na cidade de Rio Branco,
estado do Acre (ver FOTOGRAFIA 15). Dirceu conheceu alguns irmãos da comunidade do
Santo Daime da linhagem do Mestre Irineu, alguns deles realizavam compras em seu
estabelecimento comercial. Dirceu foi uma das primeiras pessoas a conhecer e participar de
um ritual do Daime no Alto Santo. Em 1971, Dirceu levou Jonas para o Alto Santo, Colônia
5000, distante onze quilômetros de Rio Branco, e o apresentou ao Padrinho Sebastião Mota
de Melo (ver FOTOGRAFIA 16). Jonas teve o primeiro contato com o Daime seis meses após
a morte do Mestre Irineu. Nesse período, a família de Jonas Frederico morava no município
de Anápolis, Goiás.

Fotografia 15 – Jonas Frederico no armazém de secos e molhados, em Rio Branco, Acre

Fonte: Acervo da família Frederico (2019).

Existe um trecho do livro “Bença, Padrinho”, escrito pelo daimista Lucio Mortimer, no
qual ele narra o dia a dia do povo do Padrinho Sebastião e descreve a presença de Jonas.
185

Todo ano, no tempo seco das tardes ensolaradas, aparecia o Jonas Frederico.
Parece que ele era um representante comercial de São Paulo. O certo é que
periodicamente visitava a Colônia Cinco Mil e com muito gosto o Padrinho
Sebastião o recebia. Sentavam na varanda e durante horas fluía uma conversa
movida pelo bom humor. Em cada retorno ao sul, o Jonas levava alguns litros de
Daime para compartilhar com os amigos. Desta forma, foi o pioneiro, o que
primeiro recebeu o sacramento da floresta, para divulga-lo fora de seus limites
(MORTIMER, 2000; p. 174-175).

Fotografia 16 – Jonas Frederico (à esquerda) e o Padrinho Sebastião Mota de Melo (à direita)

Fonte: Acervo da família Frederico (2019).

Jonas Frederico é considerado um pioneiro do Santo Daime, pois foi o primeiro a


trazer a bebida das mãos do Padrinho Sebastião para as regiões do Centro Oeste e Sudeste
brasileiro, organizando reuniões, durante as quais o Daime era utilizado, primeiramente, em
Goiás, posteriormente, em São Paulo, Capital.
Em janeiro de 1980, Jonas se mudou de Goiás para São Paulo, Capital, em busca de
tratamento devido a problemas renais graves, pois apenas 20% dos seus rins funcionavam.
Em 1992, teve um Acidente Vascular Cerebral, que não deixou sequelas. Também
apresentou problemas no coração, por volta de 1995/96, quando realizou uma cirurgia para
colocar ponte de safena.
Seus filhos, Marcos Antonio e Regina Célia, relataram que Jonas teve uma “miração”
durante um trabalho: viu um beija-flor sugando algumas veias de seu corpo. O fato é que
186

Jonas viveu com esses problemas de saúde por muitos anos, apesar do mau prognóstico
realizado pelos médicos do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. A comunidade daimista acredita que o Daime ajudou na recuperação desses
problemas de saúde.
A associação religião-saúde é uma maneira de lidar com as dificuldades ou
sofrimento, conhecido como coping religioso (ONA, 2019; PARGAMENT; PARK, 1995).
Geralmente, é utilizado o enfrentamento, ou coping religioso, em situações de crise ou
estresse psicológico. Ele pode ser explicado desta forma: uso de crenças para facilitar a
resolução ou prevenir e aliviar as consequências do sofrimento, definindo a maneira pela
qual o indivíduo enfrenta as suas dificuldades (MACHADO; HOLANDA, 2016, p. 67). Parece
que Jonas Frederico viveu com qualidade de vida, apesar da sua condição de saúde.
De Assis e Conceição (2016, p. 130) relatam que a cura pode ser vista como um
merecimento e é atingida a partir da disciplina e do aprendizado. O processo de saúde e
adoecimento no Santo Daime está diretamente ligado à tradição espiritualista (carma).
Assim, toda doença é vista como um problema espiritual, a partir do empenho do indivíduo
em se conhecer e reconhecer as suas práticas negativas, provenientes dessa e de outras
vidas, e que possam estar afetando sua saúde. O perdão, o arrependimento, a mudança de
comportamento e a atitude em relação aos fatores negativos que afetam a saúde produzem
a cura do indivíduo. Mercante (2013) menciona que a Ayahuasca atua como um
“terapeuta”, “um professor”, ao possibilitar revelações de verdades do mundo espiritual,
necessárias ao reestabelecimento da saúde.
Sanchez e Nappo (2007) afirmam que pessoas que frequentam cultos religiosos ou
praticam algum tipo de religião professada apresentam melhoras significativas quando sua
recuperação é permeada por experiências religiosas ou espirituais (de qualquer ordem),
quando comparadas às pessoas que são tratadas exclusivamente por meio médico
tradicional. Estudos têm confirmado a relação entre espiritualidade e saúde também no
âmbito da qualidade de vida (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014; DE FREITAS MELO et al., 2015;
PARGAMENT; PARK, 1995).
Segue relato de um adepto da Comunidade Céu de Midam, que conviveu
estreitamente com Jonas:
187

“Então, eu vou falar mais da minha experiência com o padrinho Jonas, eu acredito que
pessoas que têm uma religião vivem mais resignadas, porque, no meu entendimento,
assim... a religião dá uma estrutura psicológica, emocional... que a vida é eterna. Porque
existe vida após a morte, né?! As pessoas que têm religião, além de acreditar na vida eterna,
elas passam por sofrimentos e são mais resignadas... elas sabem que a vida não termina
aqui. O padrinho [Jonas] tinha isso e muito mais... ele pode vivenciar isso [doutrina Santo
Daime], e como padrinho! Ele deixou esse legado, o que ele deixou pra gente foi muito mais
do que qualquer religião poderia aplicar na vida da gente. É difícil de explicar em palavras
essa ligação com o padrinho..., porque essa relação não acabou... continuamos todos juntos
[material e espiritual]” (NF58E).

Os trabalhos com o Daime se iniciaram, por volta de 1983, na casa de Jonas, em São
Paulo, a qual ficava na Avenida Lins de Vasconcelos, no bairro da Aclimação. Na época,
participavam poucas pessoas, entre amigos e familiares, cerca de oito em cada trabalho.
Houve um período em que as reuniões aconteciam em vários espaços, o que Jonas
Frederico intitulou “Daime itinerante”. Nessas ocasiões, levava uma espécie de bolsa
contendo o Daime e outros elementos mais fundamentais para o ritual (velas, incensos,
taças, cristais, etc.). Dessa forma, o trabalho era levado para a casa das pessoas, geralmente
amigas da família, e lá ocorriam os encontros. Essa prática aconteceu paralelamente aos
trabalhos em locais fixos, entre 1987 e 1988. Para isso, os amigos sediavam espaços, por
exemplo, o cômodo da casa de uma prima da família, um consultório de um psicólogo, a sala
de estar da casa de um desembargador, o salão de uma empresa de bijuterias ou um salão
de uma empresa de cosméticos. A frequência com que ocorriam as reuniões era de
aproximadamente 30 a 40 dias. Tomava-se o Daime e eram realizados os trabalhos de
concentração, com duração de, aproximadamente, três a quatro horas.
Em junho de 1991, foi alugado o primeiro espaço para a realização dos trabalhos,
esse local ficava na Rua Henry Dunant, 567, altos, esquina com a Rua Tucum, Bairro Chácara
Santo Antônio, São Paulo, Capital. Esse foi o primeiro local com contrato social da entidade,
constituindo-se um ponto fixo da Igreja Flor de Luz, por cerca de dois anos.
Em 15 de janeiro 1992, foi realizado o primeiro fardamento na Henry Dunant, sob o
comando dos dirigentes Jonas Frederico e Maria do Carmo Andrada Neto. Estavam
presentes, nesse trabalho, o Padrinho Alfredo Gregório de Melo (segundo filho do Padrinho
188

Sebastião) e a Madrinha Regina Pereira, acompanhados de uma comitiva do Céu do Mapiá, a


mais consagrada instituição do Santo Daime, localizada no coração da floresta amazônica.
Em meados de junho do mesmo ano, o grupo era composto por, aproximadamente, 40
integrantes. Alguns deles eram: Maria Aparecida Reis, Niva Aparecida de Oliveira, Luzia
Sanches De Pieri, Vô Dionor, Marco Antônio Rocha e Silva, Carlos Eduardo Durão, Eunice
Regina Maria da Silva Durão e muitos outros componentes. Vale ressaltar que, nesse
período, Eunice e Carlos Durão foram apresentados ao Santo Daime pelo tio de Eunice,
Marco Antônio Rocha e Silva.
No dia 02 de dezembro de 1992, Jonas Frederico (ver FOTOGRAFIA 17) e um grupo
de pessoas fundaram o Centro Eclético da Fluente Luz Universal Flor de Luz (CEFLUFLUZ),
conforme ata da Assembleia Geral nº 197634 (ANEXO G), futura Igreja Matriz da
Comunidade Céu de Midam, em Piedade, estado de São Paulo.

Fotografia 17 – Padrinho Jonas Frederico no altar do Daime

Fonte: Acervo de Niva de Oliveira (2019).

Em 15 de janeiro de 1993, fardaram-se, no Santo Daime, Carlos Eduardo Durão, na


época, com 31 anos, e Eunice Regina Maria da Silva Durão, com 22 anos. Eram casados há
quatro anos e pais de dois filhos, Luiza Tauãn Silva Durão (4 anos) e Eduardo Durão Filho (2
189

anos). Lucas Gabriel da Silva Durão e Rafael Benjamim da Silva Durão nasceram
posteriormente.
Um ponto importante a ser ressaltado é que essas famílias já tinham filhos, os quais
foram introduzidos na doutrina do Santo Daime, que já contava com trabalhos direcionados
às crianças, com duração de duas horas, com hinos pré-selecionados e era dada pouca
quantidade de Daime (bebida Ayahuasca) para elas. De acordo com relatos de alguns
adeptos da doutrina daimista da Comunidade Céu de Midam, resumidamente: “é normal
levar os filhos, assim como em outras religiões que levam seus filhos à igreja, ao centro
espírita, ao terreiro de umbanda, sinagoga”. Muitos filhos foram “gerados no Daime”, como
algumas mães costumam afirmar, pois elas não interromperam o uso do Daime (bebida
Ayahuasca) durante a gravidez. Os bebês, logo após o nascimento, recebiam “Daime” em
conta-gotas. Atualmente, existe a terceira geração dessas crianças, em razão de os filhos dos
filhos dessas famílias hoje serem pais, e continuam mantendo a tradição de oferecer
“Daime” aos seus filhos. Tive a oportunidade de entrevistar uma adepta que estava no
quinto mês de gravidez, durante o processo da coleta de dados, e conhecer o bebê após o
seu nascimento.
Do ponto de vista legal, não existe empecilho para a participação de menores de
idade nos rituais ayahuasqueiros. De acordo com Labate (2005, p. 414), no Santo Daime não
existe uma regra oficial quanto à frequência de menores nos trabalhos espirituais, o que é
decidido em função da natureza do trabalho, da relação que os pais mantêm com a doutrina
e de uma espécie de saber grupal, acumulado e transmitido oralmente. Ainda de acordo
com a autora, os menores recebem menos quantidade da bebida do que os adultos. Esse
tema é motivo de muita polêmica, no entanto o código civil prevê o pátrio poder –
instituição civil que constitui classicamente a instância decisória sobre todos os atos de
criação e educação dos filhos –, que inclui o direito dos pais de educar, inclusive do ponto de
vista religioso (BRASIL, 2018). Em outras palavras, assim como a liberdade de religião é
direito constitucional do indivíduo, de modo igual é, inclusive, a liberdade de ensino e o
direito à criação dos próprios filhos. Mas se o Estado entender que essa “criação” prejudica a
formação da criança, pode tirar o pátrio poder dos pais e transferi-lo para terceiros. Assim,
os pais perdem o pátrio poder em situações, como, vedar o acesso dos filhos à escola ou
proibir a transfusão de sangue (como no caso das Testemunhas de Jeová).
190

Em junho de 1993, a Igreja Flor de Luz teve de se mudar, pois começaram a surgir
problemas no salão da Rua Henry Dunant, da Chácara Santo Antônio, embora fosse um
endereço comercial. Um dos problemas foi em relação à música alta tocada durante o ritual,
que ia até tarde da noite. Outro foi o valor do aluguel, que estava ficando muito caro. Então,
a Igreja foi para um o sítio em Embu das Artes, de propriedade de Luiz Carlos, um psiquiatra,
que cedeu o espaço. Logo após ocorreu nova mudança, dessa vez, para a Avenida Maria
Amália Lopes de Azevedo, no bairro de Tremembé, Zona Norte da Capital.
Durante essa temporada de mudanças da sede da Igreja Flor de Luz, os seus
componentes promoveram buscas para adquirir uma sede própria. A irmandade organizou
uma comissão responsável pela procura e compra das terras em diversos lugares dos
estados de São Paulo e Minas Gerais, principalmente no interior, longe da agitação da
metrópole e do concreto. Durante esse período de buscas pelas terras, eles quase desistiram
da compra de sua sede, pensaram até em devolver o dinheiro que haviam arrecadado. No
entanto, foi realizada uma reunião com todos os integrantes para decidir o que fazer com o
dinheiro, quando Jonas Frederico e demais componentes decidiram que não haveria
devolução do dinheiro.
Em dezembro de 1993, um corretor apresentou 7,5 alqueires de terras, no município
de Piedade, São Paulo, e foi efetivada a compra das terras da sede da Igreja Flor de Luz e
futura Comunidade Céu de Midam. Na ocasião, foi realizado um Ritual de recebimento das
terras.
De acordo com Couto (2002, p. 394), o Ritual é uma ação composta pelo contexto
mítico-social, que tem na bebida Ayahuasca o seu principal agente e na música o seu modo
de expressão. Lembrando que os rituais do Santo Daime não são rituais de inversão, por
exemplo, ao contrário do carnaval, afirma-se que eles são ritos da ordem. A ordem interna é
reafirmada pelo empenho de cada indivíduo, de acordo com sua participação e empenho no
ritual, ao submeter-se às normas e regras do “Império Juramidam11”, o que, na prática,

11
A expressão “Juramidam” refere-se aos descendentes de Juramidam, nome que o Mestre Irineu recebeu das
entidades celestiais do Santo Daime. Juramidam é o chefe da missão, “jura” é o pai, e “midam”, o filho –
Juramidam representa a segunda volta de Cristo na terra, sendo assim, o povo Juramidam é o povo de Jesus
Cristo (FRÓES, 1986, p. 26). Na doutrina do Santo Daime, percebe-se a existência de um universo simbólico que
tem como base a ideia de “Império Juramidam”, que remete a uma filiação mítica, tendo como Mãe a Rainha
da Floresta e, como Pai, o Rei Juramidam, constituindo a “Família Juramidam” (COUTO, 2002, p. 387). Mestre
Irineu ocupa a patente espiritual “Juramidam”. Após sua passagem, ele é representado como o ser espiritual
“Juramidam”, pois estaria presente em todos os rituais do Daime em que se toma a bebida Ayahuasca da
maneira que ensinou (MOREIRA; MACRAE, 2011, p. 61).
191

equivale a manter a concentração, manter a corrente, manter o ritmo do bailado, prestar


atenção nos hinos durante o ritual. A ordem está expressa na vestimenta “farda”, que
representa os soldados do Santo Daime e da Rainha da Floresta, e a comunidade de culto
como um batalhão, cujo Mestre (Irineu) tem a patente de General do exército Juramidam.
Esse caráter de ordem também fica evidente no uso de outros termos militares, como
“decreto de serviço”, “marcha”, entre outros. Logo, afirma-se que os ritos do Santo Daime
são ritos da ordem, pois prevalecem dois elementos estruturantes: a coesão hierárquica
(Jura + midam) e a harmonia (ecológica) com a floresta, por meio da aliança com as
entidades protetoras que têm sua origem naquele meio.
A propriedade em Piedade era um sítio que pertencia a um japonês, bancário do
Banco Mitsubishi, sito no Km 110,5 da Rodovia SP-79 (Raimundo Antunes Soares, no trecho
entre Piedade e Votorantim) (ver FOTOGRAFIA 18).

Fotografia 18 – Placa sinalizadora na Rodovia SP-79, sentido Piedade – Votorantim, dias atuais

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

No sítio, havia produção de cebola e limão. As construções eram um barracão e três


casas. O valor da propriedade foi de 9.045.700,00 (nove milhões quarenta e cinco mil e
setecentos cruzeiros reais), convertidos em dólares, na época, equivalentes a U$50.000,00
(cinquenta mil dólares), que corresponderiam a 1.000,00 dólares, ou seja, o valor de cada
lote, de acordo com o Termo de Declarações, registrado em cartório (ANEXO H).
192

Em 19 de março de 1994, aconteceu o primeiro trabalho com fardados (um bailado),


na Igreja Flor de Luz. A Fotografia 19 mostra alguns participantes daquela época.

Fotografia 19 – Irmandade da igreja Flor de Luz

Legenda
1 - Marcos Antonio Frederico
3 6
1 2 - Regina Célia Frederico
2 4
3 - Alexandre Frederico
5
4 - Carlos Durão
5 - Eunice Durão
6 - Geraldo Neork Filho

Fonte: Acervo da família Frederico (2019).

Houve um período de transição, no qual os trabalhos de concentração, de cura e


recepção de pessoas aconteciam em São Paulo, no bairro do Tremembé, enquanto em
Piedade – SP, futura Comunidade Céu de Midam, aconteciam os trabalhos com hinários.
Durante o tempo em que o projeto da Comunidade Céu de Midam se estabelecia, a
Igreja Matriz Flor de Luz funcionava no antigo barracão de cebolas (ver FOGRAFIA 20). Uma
das casas foi destinada às mulheres e crianças, a outra, aos homens. E na terceira casa
funcionava o refeitório. Todos permaneciam juntos nos finais de semana, vivendo em
comunidade. A ideia inicial era dividir tudo que fosse necessário ao sustento e manutenção
das necessidades de todos, por exemplo, ter uma Kombi para realizar as tarefas coletivas (ir
ao supermercado, levar as crianças na escola, entre outras).
Guareschi (1996, p. 97) afirma que as relações comunitárias que constituem uma
verdadeira comunidade são relações igualitárias, que se dão entre pessoas que têm direitos
e deveres iguais. Ainda segundo o mesmo autor, essas relações implicam que todos possam
ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em sua singularidade e tenham suas diferenças
respeitadas; e as relações comunitárias implicam, também, na existência de dimensão
afetiva entre seus membros.
193

Fotografia 20 – Igreja Flor de Luz – antigo barracão de cebolas

Fonte: Acervo da família Frederico (2019).

Nesse período de implementação do projeto Comunidade Céu de Midam, nenhum


dos integrantes sabia qual era seu lote de terra, todos eram proprietários, no entanto, não
havia demarcação alguma. Então, foi decidido que o projeto Condomínio Céu de Midam
tinha de ser posto em prática. Assim, foi estabelecido um valor para arrecadar fundos e,
futuramente, dividir o terreno em lotes.
O casal, Ricardo da Silva Marques, arquiteto, e Laura Boari Marques, engenheira,
realizaram um projeto (mapa das áreas de convivência, áreas de preservação, lago, estradas,
ruas, medições, recursos necessários, documentação junto à prefeitura de Piedade – SP,
entre outros). Foi contratado um topógrafo para efetivar o projeto, dando início à divisão da
propriedade em lotes (ver FIGURA 48).

Figura 48 – Lotes da futura Comunidade Céu de Midam

Fonte: Acervo da família Frederico (2019).


194

Desde o início do projeto Comunidade Céu de Midam, houve a preocupação com o


meio ambiente, pois era uma área degrada de plantio. Foi preservada a área de mata, que
permanece até hoje, e a área degradada foi replantada com espécies nativas da Mata
Atlântica. Foi realizada uma ação ecológica importante, com o intuito de reequilibrar a flora
e, consequentemente, a fauna do local. As ações da Comunidade Céu de Midam foram além
dos cuidados com os lixos recicláveis e os orgânicos, pois estão em andamento projetos de
venda de lixo reciclável e de transformação de lixo orgânico em adubo. No momento atual, a
madrinha do Centro Luz Divina, fundadora do Instituto Samaúma, estabeleceu uma parceria
com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Administração Regional do Estado
de São Paulo, Programa Olericultura Orgânica, realização entre SENAR-AR/SP e Sindicato
Rural de Piedade – SP, para a produção e o fornecimento de produtos orgânicos. Foram
convidadas mais cinco igrejas daimistas da região para participar do projeto, incluindo a
capacitação de 20 alunos, o que garante mais uma conquista ecológica na comunidade.
Existe um esforço em transformar a Comunidade Céu de Midam em ecovila.
De acordo com Moser (1998), em Psicologia Ambiental, valoriza-se também a forma
como os indivíduos sentem, pensam e vivenciam o espaço em que estão envolvidos,
pautando-se não apenas na compreensão dos problemas ambientais, mas, sobretudo, nas
questões da sustentabilidade da vida e na preocupação com a humanidade, ambas de
responsabilidades dos seres humanos. Nesse sentido, o projeto Comunidade Céu de Midam
contempla conceitos fundamentais da Psicologia Ambiental, que é o sentimento de
comunidade e o apego ao lugar; o primeiro representa consonâncias entre os interesses
pessoais e coletivos em uma comunidade, e o segundo contempla os aspectos afetivos,
cognitivos e comportamentais no relacionamento entre pessoa e ambiente (MOSER, 1998).
Cada proprietário poderia adquirir no máximo quatro lotes. Foi marcada uma reunião
para efetuar o sorteio dos lotes entre os proprietários. O sorteio foi feito com um globo de
jogo de bingo. Cada um dos proprietários colocava o nome em uma lista que tinha um
número correspondente às bolinhas que foram colocadas dentro do globo. Dessa maneira,
cada sorteado escolhia o número de lotes que gostaria de adquirir. A família Durão ficou
com os lotes 6, 7 e 8 que, coincidentemente, eram os mesmos lotes que escolhera no início
do projeto. Foi um dia marcado pela diversão e descontração, conforme pode ser verificado
na Fotografia 21.
195

Fotografia 21 – Dia do sorteio dos lotes entre os proprietários

Fonte: Acervo da família Durão (2019).

Os primeiros a construir na Comunidade Céu de Midam e a se tornar moradores


foram as famílias de Geraldo Neork e Fernando Barbosa. No mesmo período, Alexandre
Santos Frederico e a família Durão também iniciaram suas construções.
No início, a casa da família Durão era um baú de caminhão. A Fotografia 22 mostra a
evolução da construção da casa a partir do baú de caminhão (esquerda), a casa sendo
construída em volta do baú (meio) e a casa nos tempos atuais (direita). Nesse período, foi
estabelecido o valor do condomínio e outro valor para compor um fundo de reserva. O
dinheiro era destinado a atender as prioridades, como construir estradas, encanar a água,
instalar eletricidade e plantar cerca viva. A administração do condomínio foi de
responsabilidade de Marcos Antonio Santos Frederico e Carlos Eduardo Durão, por
aproximadamente nove anos consecutivos.

Fotografia 22 – Casa da família Durão (baú de caminhão)

Baú de caminhão Casa em construção (baú no meio) Casa na atualidade

Fonte: Acervo da família Durão (esquerda e meio) (2019) e Arilton Martins Fonseca (direita) (2019).
196

De acordo com García, Giuliani e Wiesenfeld (1999), os moradores da Comunidade


Céu de Midam vivenciam o processo de construção de uma realidade a partir das suas
convicções doutrinárias daimistas, compartilham símbolos que são comuns a todos,
manifestando, assim, a identificação com o local, que é essencial no sentimento de
comunidade.
Ocorreram algumas divergências e desentendimentos por causa da água. Havia um
poço semi-artesiano que atendia à Igreja Matriz Flor de Luz e mais sete casas. Para que a
água alcançasse os lotes mais altos da Comunidade, foram instaladas três estações de
elevação. Sempre rompia um cano e algumas casas ficavam sem água, então, as discussões
iniciavam. Outro poço artesiano foi providenciado e, atualmente, atende 22 famílias,
inclusive a família Durão.
A comunidade é um lugar de moradia e convivência efetiva entre os moradores, os
quais estabelecem laços afetivos e um sentimento de pertencimento, pois vivenciam as
mesmas dificuldades, necessidades, problemas e representações sociais (GÓIS, 2005, p. 72).
O sentimento de pertencimento determina quem faz parte de uma coletividade maior, mas
não quer dizer que não ocorram conflitos entre os moradores e seus objetivos pessoais e
coletivos. Assim, a superação dos problemas propicia crescimento do sentimento
comunitário, e não sua destruição, por exemplo, a solução para o caso da água na
comunidade (GARCÍA; GIULIANI; WIESENFELD, 1999).
Jonas Frederico faleceu no dia 03 de dezembro de 2001. A partir desse evento,
aconteceram algumas dissidências na Comunidade Céu de Midam.
Em 15 de novembro de 2002, foi fundado o Centro Luz Divina, sob a direção de Carlos
Eduardo Durão e Eunice Durão. Inicialmente, o Centro funcionava nas instalações do antigo
estábulo da propriedade. Atualmente, o Centro Luz Divina (ver FOTOGRAFIA 23) funciona
em um terreno adquirido ao lado da Comunidade Céu de Midam.
197

Fotografia 23 – Centro Luz Divina (atualidade)

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

Na época atual, na Comunidade Céu de Midam, existem duas Igrejas daimistas: Flor
de Luz, dirigida por Kelmir Jones de Andrade, e o Centro Luz Divina, dirigido por Carlos
Durão; mas também um centro de chá Ayahuasca, dirigido por Stela Luz; e a Torre de Jojoha,
que funciona como centro de apoio à Igreja Céu de Cristal, que tem sua sede na Chapada
dos Veadeiros, Goiás, dirigida por Geraldo Neork Filho.
A Comunidade Céu de Midam é uma das maiores comunidades daimistas do Brasil,
com 32 casas construídas, nas quais 19 famílias são moradoras de fato.

4.2.2 Quais os tipos de bebida Ayahuasca são oferecidos aos adeptos no Centro Luz Divina

Não existe apenas um tipo de bebida Ayahuasca, mas várias, tendo diferentes
graduações.
De maneira geral, a confecção da bebida é realizada a partir do cipó do jagube, folha
da rainha, e água, os quais são dispostos em uma panela, colocada em uma fornalha
(espécie de fogão a lenha gigante), para o cozimento (decocção) das plantas, até obter uma
redução de, aproximadamente, 50% do total do conteúdo da panela. Esse primeiro
cozimento já é uma bebida Ayahuasca denominada Primeiro Grau. Em relação à graduação
da bebida, do ponto de vista farmacológico, quanto maior o grau, mais potente é a bebida.
198

O feitio dessas bebidas segue rituais, conforme os pressupostos do ICEFLU, e deve


ser realizado por um “feitor” experiente, iniciado nessa tarefa pelos mestres daimistas da
Amazônia. Um desses feitores, entrevistado no presente estudo, teve contato direto com o
Padrinho Sebastião, no Acre, a partir da década de 1970, e relata:

“O Daime era assim, tirava o Primeiro Grau, depois o Segundo Grau e nem se pensava em
Terceiro, isso na época do Mestre [Irineu] e do Padrinho Sebastião no Alto Santo.” (MM67E).

Outro entrevistado que possui casa na Vila Céu do Mapiá – AM, e costuma passar
três meses do ano por lá, afirma:

“[...] com o aumento do número de pessoas tomando Daime e para melhor aproveitar o
material [plantas], o Padrinho Alfredo [filho do Padrinho Sebastião] realizou estudos e
começou a tirar mais graus do material e depois reduzia, dependendo da quantidade e
qualidade do material, teoricamente pode se tirar até o Nono Grau.” (EF52E).

Foi observado que no Centro luz Divina as bebidas são produzidas com plantas
cultivadas tanto na Comunidade Céu de Midam quanto no próprio centro, no entanto é
importante observar que outras plantas (não identificadas) de diferentes regiões (Minas
Gerais, Nordeste e Amazônia) também podem ser utilizadas na produção destas bebidas.
Porém, essas plantas não foram coletadas e/ou identificadas, pois não estavam disponíveis
durante o trabalho de campo. Essas observações comprovam que não existe apenas um tipo
de bebida ayahuasca, mas várias bebidas que variam de acordo com o tempo de cozimento,
a concentração e a diversidade de plantas utilizadas. Essas variáveis afetam diretamente as
diferentes “potências” da bebida do ponto de vista químico e farmacológico (FONSECA;
RODRIGUES, 2021).
Entre os tipos de bebida Ayahuasca, existe uma denominada “mel”, resultado de
uma redução (apuração) que pode ser realizada com qualquer tipo de bebida (Primeiro
Grau, Terceiro Grau, etc.): basta apurar (reduzir) a bebida até engrossar e se transformar em
um “mel” (parecido com a consistência do mel de abelha). Esse tipo de bebida foi
desenvolvido com o intuito de facilitar o transporte, assim ficaria mais econômico
transportar quantidades maiores, inclusive para a exportação para as igrejas fora do Brasil.
199

Em relação às doses das bebidas Ayahuasca servidas aos adeptos, Labate (2004, p.
243) relata que as recomendações oficiais do CEFLURIS são de servir inicialmente uma dose
de 120 mL de Daime de Primeiro Grau, ou 70 mL de Daime de Segundo Grau, ou 40 mL da
bebida de Terceiro Grau. Essas são referências para doses máximas a serem tomadas no
primeiro “despacho12”. As próximas doses a serem consumidas durante o mesmo dia do
ritual devem ser menores. Durante a realização dos trabalhos de hinário, por exemplo, as
doses são menores, contudo, tomam-se mais doses, pois os trabalhos são mais longos. Nos
trabalhos de concentração e, especialmente, nos trabalhos de cura, há demanda por um
número superior de doses da bebida (ICEFLU, 2020). Sobre as repetições das doses da
bebida Ayahuasca durante os trabalhos, Labate (2004, p. 243) descreve que estas devem ser
decrescentes sucessivamente, por exemplo, redução de um terço para a segunda dose,
redução da metade para a terceira dose. Caso haja mais “despachos” da bebida, eles devem
ser sempre opcionais, de acordo com as recomendações oficiais do CEFLURIS (LABATE, 2004,
p. 243).

4.2.3 Como ocorre a confecção de cada bebida Ayahuasca (feitio)

O Daime é feito com a união de plantas nativas da floresta amazônica, o cipó (jagube)
é o elemento masculino e a folha (chacrona) é o elemento feminino. A bebida é, em parte,
natureza, em parte, cultura do “Império Juramidam” (COUTO, 2002, p. 392; MORTIMER,
2018, p. 47).
Polari (1992, p. 160) explica que o “feitio” é o grande trabalho da doutrina, porque
representa a oportunidade de produzir o Daime que se consome nos rituais. O feitio segue
regras rigorosas ritualísticas, com o máximo respeito, silêncio, devoção e esforço físico. O
feitio é uma cerimônia carregada de simbolismo espiritual, sendo o testemunho da
idoneidade cultural e da pureza ritual da doutrina do Santo Daime. É um rito que remete às
origens dos povos indígenas que ainda hoje habitam a floresta Amazônica Ocidental. É a
produção de um Sacramento e durante o feitio tudo é realizado tomando Daime e cantando
hinos.

12
De acordo com o CEFLURIS, “despacho” é um termo utilizado na Doutrina do Santo Daime para a distribuição
da bebida Ayahuasca. O responsável pelo “despacho” é um adepto com experiência e familiaridade dentro da
doutrina daimista. Geralmente, em um trabalho são “despachados”, em média, três doses da bebida
Ayahuasca, em horários diferentes (ICEFLU, 2020; LABATE, 2004, p. 243).
200

O processo do feitio envolve várias etapas, segundo Polari (1995, p. 71), começando
pela localização da matéria-prima na mata (jagube e rainha). As mulheres são responsáveis
pela coleta e pela limpeza das folhas da rainha, tarefa que é realizada no interior da igreja,
manualmente, folha a folha, posteriormente, são levadas para a Casa do Feitio (ver
FOTOGRAFIA 24). Os homens colhem, limpam e rapam o cipó na Casa do Feitio, depois de
limpo, tem início a bateção (macerar).

Fotografia 24 – Mulheres cuidando das folhas (rainha)

Fonte: ICEFLU (2020).

A bateção ocorre em um espaço dentro da Casa do Feitio, onde ficam 12 troncos de


madeira, com aproximadamente 60 cm de altura, dispostos em duas filas de seis cada uma,
com um banco atrás (ver FOTOGRAFIA 25). Os homens sentam-se, munidos de marretas de
madeira, batem e, ao mesmo tempo, entoam hinos, particularmente os que fazem
referência à Ayahuasca, como “Flor de Jagube” e “Eu vou cantar” (CEMIN, 2002, p. 361).
O cipó é batido até ficar macerado em fibras, geralmente, do outro lado da bateção
ficam a fornalha e a bancada, da qual o Daime escorre depois de cozido. As panelas são
montadas com camadas de cipó macerado e intercaladas com folhas, depois, coloca-se água.
É preparado um barro para ser colocado entre o espaço da panela e da chapa da fornalha
para não queimar dos lados (POLARI, 1995, p. 75).
201

Fotografia 25 – Homens na Casa do Feitio realizando a bateção do cipó (jagube)

Fonte: ICEFLU (2020).

As tarefas do feitio são bem definidas entre a irmandade: na panela, fica o


comandante da panela e um auxiliar, em um trabalho que se estende por mais de 10 horas;
na parte externa da Casa do Feitio, as mulheres acompanham o coro de cânticos entoados
pelos homens, visando auxiliá-los na tarefa de bateção. Embora diferenciados, a bateção e o
cozimento se apresentam como trabalhos árduos. Na panela, o calor intenso da fornalha
soma-se à concentração necessária para que não haja erros ou quaisquer problemas que
possam prejudicar a qualidade do Daime (CEMIN, 2002, p. 362). A Fotografia 26 mostra a
fornalha, onde são dispostas as panelas para a decocção do Daime, e o Daime escorrendo na
bancada, depois de pronto.

Fotografia 26 – Fornalha para a decocção do Daime (à esquerda) e bancada para escorrer o Daime (à direita)

Fornalha para a decocção do Daime Fonte: ICEFLU (2020). Escorrendo o Daime


202

Groisman (1999, p. 104) relata que o feitio é o rito de elaboração física e simbólica do
Daime, nele se encontram sintetizados todos os elementos que compõem simbolicamente a
luta pela elevação espiritual, pela superação das entidades negativas que envolvem as
relações entre os indivíduos. O feitio é o momento de fabricar o Daime, um rito de
comunhão e reforço dos laços coletivos, mas também de mostrar a força, a organização e a
eficiência do grupo. O feitio é um tempo especial, durante o qual a comunidade toda se
envolve no trabalho sagrado de fazer a bebida, de dar à luz o ser divino. Ao mesmo tempo,
ele é especial porque é cíclico, não sendo contado por dias, mas sim, pelo começo, pelo
desenrolar e pela conclusão do processo de produção da bebida (POLARI, 1992, p. 160).
Essa forma coletiva e ritualizada de produção do Daime provavelmente foi criada por
Irineu Serra. Mantém-se a fidelidade aos passos rituais e à manutenção das técnicas que ele
institucionalizou e que, embora tenham-se modificado no decorrer dos tempos, são tratados
como verdadeira ortodoxia, guardada e transmitida cuidadosamente pelos mais velhos e
mais experientes. São eles que instruem e orientam diretamente os novatos nas diversas
tarefas, desde as mais simples, de preparação, até as mais complexas, de cozimento
(GROISMAN, 1999, p. 104). De acordo com Groisman (2021), o sucesso do feitio está
relacionado a uma preparação adequada do feitor (conhecimentos) e seu contato com o
mundo espiritual.

4.2.4 Cultivo das plantas que compõem a Ayahuasca na Comunidade Céu de Midam

No ano de 1995, Carlos Durão e Alexandre Santos Frederico (um dos filhos do
Padrinho Jonas) foram até o município de Rondonópolis, Mato Grosso, distante 1.313 km de
Piedade – SP, buscar mudas de rainha (P. viridis) e de jagube (B. caapi) para plantar na
Comunidade Céu de Midam. Em uma viagem específica e rápida, de apenas 2 dias, a dupla
dividiu o volante de uma caminhonete para apanhar 200 mudas de rainha e 100 mudas de
jagube. Essas mudas, colhidas em Rondonópolis, eram originárias da Vila Céu do Mapiá,
quartel general do Santo Daime, no estado do Amazonas. O responsável por trazer as
primeiras mudas do Mapiá para Rondonópolis foi o Sr. Rodolfo, que era amigo do Mestre
Irineu e do Padrinho Sebastião, assim como era próximo do Padrinho Jonas. Dessa forma, a
igreja Flor de Luz passou a ter seu próprio reinado (plantio de rainhas) e plantio de jagube
em suas terras, Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.
203

As rainhas plantadas no quintal da família Durão e nas cercanias do Centro Luz Divina
são oriundas das mudas trazidas de Rondonópolis, em 1995, assim como os pés de jagubes
existentes nas cercanias do Centro Luz Divina.
A Figura 49 mostra a localidade da Vila Céu do Mapiá – AM, origem das plantas; a
localidade do município de Rondonópolis – MT, onde o Sr. Rodolfo plantou as mudas
trazidas do Amazonas; e a localidade da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP, onde
foram plantadas as mudas trazidas de Rondonópolis.

Figura 49 – Localidade das plantas: Mapiá – AM, Rondonópolis – MT e Céu de Midam, Piedade – SP

Vila Céu do Mapiá – AM.


Rondonópolis – MT.
Comunidade Céu de Midam – SP.

Distância da Vila Céu do Mapiá até Rondonópolis = 1.685 km


Distância de Rondonópolis até Comunidade Céu de MIdam = 1.313 km
Distância da Vila Céu do Mapiá até Comunidade Céu de Midam = 2.998 km

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2019).

É importante ressaltar o local de origem das plantas, por exemplo, a P. viridis (rainha)
é endêmica no Brasil, no Norte (Acre e Amazonas) e Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) (ver
FIGURA 3). No entanto as mudas trazidas para a Comunidade Céu de Midam são originárias
das mudas trazidas da Vila Céu do Mapiá – AM, que foram plantadas em Rondonópolis – MT,
que não é seu local de origem, ou seja, as mudas plantadas na Comunidade Céu de Midam
fizeram uma escala em um local onde não é natural encontrá-las.
O mesmo raciocínio pode ser realizado com o B. caapi (jagube), que é endêmico no
Brasil, no Norte (Acre, Amazonas, Pará e Rondônia) e Centro-Oeste (Mato Grosso) (ver
FIGURA 4). As mudas de jagube trazidas de Rondonópolis – MT, permaneceram em seu local
204

de origem, mesmo quando foram levadas da Vila Céu de Mapiá – AM para Rondonópolis –
MT. Porém quando esses jagubes são trazidos para o Sudeste, especificamente o estado de
São Paulo, eles ficam fora do seu local de origem, ou melhor, estão plantados na
Comunidade Céu de Midam, lugar que não é natural encontrá-los, pois não são endêmicos
no Sudeste do Brasil.

4.2.5 Como ocorrem os rituais religiosos no Centro Luz Divina

As Normas do Ritual do Santo Daime foram publicadas em única edição, em 1998


(livrinho verde). A versão apresentada neste estudo foi baseada no Site do Centro de
Documentação e Memória da Doutrina, Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal
(ICEFLU) – Patrono Sebastião Mota de Melo (ICEFLU, 2020), bem como autores egrégios ao
tema.
Os rituais do Santo Daime são denominados “trabalhos” e pressupõem uma
atividade psíquica, por vezes, intensa e exaustiva do participante, mesmo quando este se
encontra em postura de aparente relaxamento e repouso durante alguns trabalhos da
doutrina (MACRAE, 1992, p. 97).
A noção de trabalho nomeia o “trabalho espiritual” que tem como suporte o corpo
físico do adepto em sua totalidade. Alguns trabalhos são considerados leves e outros,
pesados, tanto do ponto de vista individual quanto do ponto de vista coletivo. Os trabalhos
de sexta-feira Santa e Finados, por exemplo, são considerados “pesados”. Em outro tipo de
classificação, pode se dizer que, geralmente, a primeira parte dos trabalhos é pesada, em
função da carga de energias desordenadas ou negativas que precisam ser transformadas
pelo ritual em energias harmoniosas e positivas, quando, então, o trabalho se torna leve
(CEMIN, 2002, p. 348).
Nesse sentido, é necessário “aprender a trabalhar com o Daime”. Essa expressão e
outras correlatas designam a multiplicidade de técnicas que têm o corpo por suporte, como
o fardamento (quando se torna adepto à doutrina), a concentração (tipo de trabalho), a
coordenação de movimentos entre os passos do bailado (tipo de trabalho), o cântico de
hinos e a cadência do maracá (instrumento musical), e ainda, os efeitos físicos provocados
pela bebida como dormência, taquicardia ou braquicardia, vômitos, diarreias, “viagens
205

astrais” (sensação de morte e renascimento, angústia, prazer, visões belas, elucidativas e/ou
terríficos) (CEMIN, 2002, p. 349).
De acordo com Groisman (1999, p. 45), os daimistas nomeiam o modelo de
espiritualismo que praticam de ecletismo evolutivo, com base na tradição oral herdada do
Mestre Irineu. Uma possível explicação, talvez, a associação de Irineu Serra com o Círculo
Esotérico da Comunhão do Pensamento, entidade espiritualista, com sede em São Paulo,
Capital, que tenha sido a motivação para que adotasse esse modelo. Ecletismo, nesse caso, é
muito mais um conjunto de valores do que uma escola de pensamento. Esse conjunto de
valores tem como base essencial a aceitação das tradições espirituais diversas na busca
espiritual com o Daime. Não existe um texto a que os daimistas do CEFLURIS se reportem,
mas sim, a interpretação dos conteúdos da tradição oral de Irineu Serra. A designação
ecletismo evolutivo remete ao espiritismo brasileiro na gênese do culto, o que parece
justificar a convivência entre diversos sistemas cosmológicos, como a umbanda, o
esoterismo, o espiritismo kardecista, entre outros (GROISMAN, 1999, p. 46).

4.2.5.1 Sobre hino e hinários

Labate e Pacheco (2009, p. 16) discorrem sobre a estreita relação entre a música e o
uso de Ayahuasca, que é característica marcante entre as religiões ayahuasqueiras
brasileiras, como o Santo Daime (em suas vertentes do Alto Santo e CEFLURIS), a Barquinha
e a UDV. Cada uma desenvolveu formas específicas de manejar a música em suas práticas
rituais, incluindo a criação de um vasto repertório musical próprio, composto por hinos
(Santo Daime), salmos (Barquinha) e chamadas (UDV). Em suma, a doutrina daimista é
cantada, os hinos são o principal instrumento doutrinário do Santo Daime, agindo como um
autêntico corpo “semântico” estruturado dessa prática religiosa (LABATE; PACHECO, 2009,
p. 33).
As cerimônias religiosas do Santo Daime são rituais em que se passa a maior parte do
tempo cantando. É um testemunho evidente a importância da música para essa doutrina,
pois o fardado do Santo Daime dispende grande parte de tempo cantando, escutando,
tocando e ensaiando os hinos, tanto nos rituais quanto em seu dia a dia (LABATE; PACHECO,
2009, p. 33; REHEN, 2016).
No Santo Daime, os hinários compõem o principal acervo de ensinamentos e são
206

considerados o núcleo do corpo doutrinário da tradição daimista, sendo “O Cruzeiro”, do


Mestre Irineu, o hinário tronco da doutrina daimista (GROISMAN, 1999, p. 62; REHEN, 2016).
É por meio dos hinos que todos recebem as orientações necessárias para navegar na “força
do Daime” durante os trabalhos. O primeiro hino recebido pelo Mestre Irineu, das mãos da
Rainha da Floresta, foi "Deus te Salve ó Lua Branca” (FRÓES, 1986, p. 35; ICEFLU, 2020).
Os adeptos do Daime consideram que o resumo da “Santa Doutrina” está nos
últimos 13 hinos de “O Cruzeiro”. Assim, esses hinos foram agrupados sob o nome de
“Cruzeirinho” e são cantados frequentemente durante os rituais da doutrina (MACRAE,
1992, p. 148).
O conjunto dos principais hinários já foi chamado pelos discípulos do Santo Daime de
Terceiro Testamento (LABATE; PACHECO, 2009, p. 97; REHEN, 2016), revelando os
ensinamentos da doutrina por meio dos hinos, correspondente à Bíblia Sagrada (MACRAE,
1992, p. 67).
Os hinos, ao serem executados, são cantados, em uníssono, por todos os presentes,
sem variações nem improvisos em sua melodia. A fidelidade à maneira de entoar os hinos é
estabelecida pela tradição oral e por gravações, o que é visto como um valor a ser
preservado. Os hinos são, em geral, iniciados pela equipe responsável pela direção do ritual,
ou, diretamente, pelas “puxadoras” ou “puxadores”; no CEFLURIS, quase sempre são
mulheres. É comum que as vozes, especialmente as femininas, assumam timbre anasalado
característico, muito parecido com o das “rezadeiras”, senhoras devotas que participam dos
rituais do catolicismo popular, em diversas regiões brasileiras (LABATE; PACHECO, 2009, p.
33).
Do ponto de vista rítmico, os hinos podem ter três tipos: a marcha (em compasso
quaternário), a valsa (compasso ternário) e mazurca (compasso binário composto). Cada
ritmo corresponde um tipo de bailado diferente (LABATE; PACHECO, 2009, p. 38; REHEN,
2016). O hino é considerado uma mensagem espiritual pelos daimistas e muitos consideram
que existem duas formas de perceber o hino, durante o ritual, tomando o Daime, e fora
dele. Fora do ritual, os hinos não têm a mesma “força”. O Daime confere força simbólica ao
hino, ampliando suas possibilidades de comunicação e sensibilização. O caráter sagrado do
hino reside no seu conteúdo e na sua origem espiritual, pois a pessoa não compõe o hino,
ela o recebe do plano espiritual (astral) (ICEFLU, 2020; MACRAE, 1992, p. 67; REHEN, 2016).
Existe uma crença de que no plano espiritual está a “casa dos hinos”, cuja guarda está
207

confiada a espíritos desencarnados, ligados à doutrina. Nesse sentido, o contato com o


mundo espiritual confere ao hino um “status” de mensagem divina e sugere que o
recebedor alcançou um nível espiritual compatível com a possiblidade de ter seu próprio
hinário, ou seja, ser portador desta mensagem (GROISMAN, 1999, p. 63; ICEFLU, 2020;
REHEN, 2016).

4.2.5.2 A miração

O termo “miração” é usado na tradição do Santo Daime para designar o estado


visionário que a bebida produz. Groisman (1999, p. 55) afirma que a miração é o estado de
consciência em que é possível ter contato com a espiritualidade ou percebê-la após o uso do
Daime. A miração se manifesta por meio de um conjunto de percepções que proporcionam
uma sensação de transcendência, paralelamente a essa sensação, a miração revela as
experiências mais profundas da espiritualidade, ou seja, o mergulho ou a ascensão aos
planos superiores, ao astral superior, aos locais onde residem os seres divinos da corte
celestial, ao palácio Juramidam (POLARI, 1992, p. 65)
A miração pode manifestar-se de várias formas: pode ser uma visualização de
imagens celestiais, sons ou cheiros que não fazem parte da situação em que se encontram;
pode ser uma introdução em outro universo, onde transitam seres da natureza; pode ser um
percurso dentro de uma planta ou animal da floresta; pode ser uma experiência cognitiva,
que passa mensagem em forma de ensinamento do mestre; pode ser ainda uma espécie de
relato de batalha, ou seja, a narração de passagens entre os planos espirituais, por meio dos
quais se tem contato com outros seres aliados ou hostis (GROISMAN, 1999, p. 55). Dentro do
universo simbólico daimista não há o que não possa ser expresso na miração, dado que essa
é uma maneira de manifestar a natureza da criatividade humana (GROISMAN, 1999, p. 55;
SHANON, 2003).

4.2.5.3 O fardamento e a farda

O fardamento é o momento em que o aspirante se torna adepto e membro efetivo


da doutrina do Santo Daime. Ele consiste, portanto, de significado simbólico e de iniciação,
de tal modo que, ao vestir a farda ritualística e receber a insígnia da Estrela, o adepto afirma
208

sua fé e compromisso com a doutrina. Aquele que assume a responsabilidade de se fardar


integra o quadro de filiados da Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal (ICEFLU),
declara compromisso às Normas do Ritual, Preceitos doutrinários e Regulamentos Internos
do ICEFLU e do Centro Filiado (ICEFLU, 2020).
A farda é uma roupa cerimonial usada somente por ocasião dos rituais, e segue o
modelo estabelecido tradicionalmente pelo Mestre Irineu. Ela se subdivide em dois tipos, a
farda branca e a farda azul (CEMIN, 2002, p. 356; GROISMAN, 1999, p. 71).
A farda branca é usada durante as festas oficiais. Para os homens, é composta de:
paletó branco; camisa branca social, de manga longa; calça branca; sapatos e meias brancas;
gravata azul marinho e a insígnia da Estrela, ou Estrela salomônica, (dois triângulos
sobrepostos invertidos com uma águia sobre a meia lua) pendurada do lado direito do peito.
Para as mulheres, tem as seguintes características: saia branca pregueada, com saiote verde
pregueado sobreposto, remetendo à simbologia da mata; blusa branca e de manga
comprida; duas faixas verdes atravessadas e entrelaçadas sobre o peito, formando um “Y”;
Estrela salomônica pendurada do lado direito do peito; no lado esquerdo, presa na faixa
verde, usa-se a “rosa” para mulheres e a “palminha” para as moças virgens; fitas coloridas
compridas costuradas na blusa, no ombro esquerdo, a partir da faixa, além da coroa,
confeccionada com arame e contendo lantejoulas brancas e prateadas, que remete à
simbologia da “Rainha”, e, por fim, sapatos e meias brancas (CEMIN, 2002, p. 356; FRÓES,
1986, p. 43; GROISMAN, 1999, p. 72). A Figura 50 mostra a farda branca feminina que é
usada durante os rituais do Santo Daime.
A farda azul é utilizada para outras atividades rituais. As mulheres usam saia
pregueada azul marinho, camisa branca de manga curta; no bolso esquerdo estão bordadas,
em azul marinho, as iniciais C.R.F. (no CICLU), que significam “Casa da Rainha da Floresta”
(CEMIN, 2002, p. 357), e, no Centro Eclético de Correntes da Luz Universal (CEFLU), apenas a
sigla do centro sobre a insígnia de Salomão, acrescida de “rosa” ou de “palma”. Consta ainda
de gravata borboleta azul marinho, sapatos azul marinho, ou pretos, e meias brancas. Para
os homens, calça azul marinho, camisa branca de manga comprida, sapato azul marinho, ou
preto, meias brancas, gravata azul marinho e a insígnia da Estrela (FRÓES, 1986, p. 43;
GROISMAN, 1999, p. 72).
209

Figura 50 – Farda branca feminina usada nos rituais do Santo Daime

Fonte: ICEFLU (2020).

O ritual daimista funcionou durante muitos anos com uma hierarquia explícita na
farda, de tal modo que, quanto maior o número de estrelas na farda, mais alta era a patente
do “irmão”. No entanto cerca de uns quinze anos antes de morrer, Mestre Irineu nivelou
todos, de modo que todos ficaram iguais. Couto (2002, p. 396) esclarece que os irmãos eram
conhecidos por divisão (patente), que ia de uma estrela até nove, mas, devido à
incompreensão dos próprios irmãos, ou seja, quem tinha mais estrelas se achava no direito
de “massacrar” quem tinha menos, o Mestre extinguiu essa divisão.

4.2.5.4 O salão da igreja

O salão da igreja deve ser preferencialmente na forma de uma estrela de seis pontas
(ver FOTOGRAFIA 27), assim como a mesa central. No centro da mesa deve estar o Santo
Cruzeiro (Cruz de Caravaca), principal símbolo da doutrina do Mestre Irineu, com um terço
no eixo vertical. Ele deve estar virado para a porta de entrada e sem nada na frente, com no
mínimo três velas acesas, que simbolizam o Sol, a Lua e as Estrelas. Uma quarta vela deve
ser acesa, em homenagem a todos os seres divinos e guias espirituais da doutrina. É
permitido que haja também uma garrafa ou jarra de água para uso. Os objetos rituais ficam
210

sobre a mesa; ao lado do Santo Cruzeiro, a imagem de Cristo, da Virgem Maria, do Mestre
Irineu e de Padrinho Sebastião (ICEFLU, 2020).

Fotografia 27 – Construção da “Catedral da floresta”, na Vila Céu do Mapiá – Amazonas

Fonte: Jornal do Céu (2019).

O altar do Daime fica no extremo oposto à entrada principal da igreja. Nele também
são colocados um Santo Cruzeiro e dois recipientes de louça, onde fica o Daime. Antes do
início do trabalho, os homens encarregados de servir o Daime já estão a postos, após terem
transportado o Daime em recipientes apropriados. No altar também ficam objetos litúrgicos
auxiliares, como velas, defumadores e copos para o servir de Daime (GROISMAN, 1999, p.
72).
A Fotografia 28 mostra o Altar do Daime do Centro Luz Divina, Piedade – SP. Estão
dispostos, da esquerda para a direita: Sra. Eunice Durão, Mirtes Veiga, Sr. Carlos Durão e
Arilton Martins Fonseca.

Fotografia 28 – Altar do Daime do Centro Luz Divina, Piedade – SP

Fonte: Arilton Martins Fonseca (2017).


211

A mesa central é considerada a fonte receptora e transmissora das correntes do


astral. Junto com o dirigente, ela forma um dispositivo capaz de captar e redistribuir, entre a
irmandade e o cosmos, o poder do astral. O conjunto mesa-dirigente-irmandade representa
alguns dos dispositivos rituais geradores de poder (CEMIN, 2002, p. 355). A corrente é a
força espiritual do trabalho, é uma egrégora, representa o esforço empregado por cada
adepto para que a comunhão de todos com o Daime se consagre em um profundo resultado
espiritual (ICEFLU, 2020).
Os participantes se posicionam nos espaços previamente destinados; de um lado, fica
o batalhão das mulheres, subdividido em três agrupamentos, casadas, solteiras e moças
(entre as quais se incluem mulheres mais jovens e meninas virgens), de outro, fica o
batalhão dos homens, também subdividido em casados, solteiros e rapazes e meninos.
Todos são colocados simetricamente em relação à correspondência da subdivisão, ou seja,
casados em frente das casadas, solteiros em frete das solteiras e moças e meninas em frente
dos rapazes. Cada batalhão possui seus fiscais, que são pessoas responsáveis pelo auxílio e
orientação dos participantes (GROISMAN, 1999, p. 73). A Figura 51 representa as disposições
dos batalhões masculinos e femininos, de acordo com o tipo de salão da igreja, retangular
ou em forma de estrela de cinco pontas.

Figura 51 – Disposição dos batalhões dos homens e das mulheres na igreja

Homens
H o e me
me ni

Homens
ns nos
ns

sol
me

tei

Homens solteiros
Ho

Mulheres jovens
ros

e meninos
e meninas
s
ven
s jo as

Mu
lhe nin

lh
M u e me
e

ere

Mulheres
r

Mulheres

Batalhão dos homens Batalhão das mulheres

Fonte: ICEFLU (2020).

Durante o ritual, o trânsito no espaço de cada batalhão é vedado aos componentes


do outro, ou seja, mulheres de um lado e homens do outro. A ocupação das fileiras obedece
à hierarquia espiritual e social, membros mais proeminentes ocupam os primeiros lugares,
212

da direita para a esquerda. Da mesma maneira, por um critério de altura, os mais altos ficam
à direita, e os mais baixos, à esquerda (GROISMAN, 1999, p. 73).

4.2.5.5 Os trabalhos no Santo Daime

De acordo com as normas do ICEFLU (2020), os trabalhos realizados no Santo Daime


seguem o calendário oficial, que é o conjunto de serviços espirituais realizados durante o
ano. Todos os trabalhos espirituais têm o mesmo ritual de abertura e encerramento, com
poucas e pequenas variações entre eles. Os trabalhos são divididos em duas vertentes: os
trabalhos de Hinário Oficial e os Trabalhos de Mesa que são realizados sentados (ICEFLU,
2020).
Os trabalhos espirituais realizados no Santo Daime são hinários, missas,
concentrações e trabalhos de cura, apresentados a seguir.
O principal trabalho da doutrina do Santo Daime são os hinários do calendário oficial.
Durante a execução dos hinários, os adeptos são postados de forma convergente na direção
do centro da igreja, em torno dos símbolos de poder e em torno de si próprios. Todos
entoam os hinos a uma só voz. O som converge para o interior do hexágono formado pelas
filas de homens e de mulheres. O conteúdo dos hinos roteiriza, simultaneamente, seu
desenvolvimento cronológico, e a vida daquele que os recebeu, reunindo passagens de sua
trajetória espiritual. No decorrer do hinário, intermitentemente, são saudadas as entidades
do plano espiritual. Um membro do grupo invoca os vivas: “Viva o Divino Pai Eterno! Viva a
Rainha da Floresta! Viva a Jesus Cristo Redentor! Viva Todos os Seres Divinos! Viva Toda
Irmandade!”, um segundo membro continua “Viva o Santo Cruzeiro! Viva o Dono do
Hinário!”. Outras saudações são admitidas, por exemplo, “Viva São João Batista! Viva os
aniversariantes!” No decorrer do “primeiro tempo” do hinário, o Daime é tomado mais uma
vez, aproximadamente após duas ou três horas antes do intervalo, que ocorre, geralmente,
na metade numérica do total dos hinos (GROISMAN, 1999, p. 72).
Por volta da meia noite, o hinário é interrompido para o intervalo, quando o
dirigente do trabalho anuncia “fora de forma!” Esse intervalo dura aproximadamente uma
hora. Após o intervalo, começa o “segundo tempo”. O hinário pode, então, estender-se até o
amanhecer, podendo ser completado por hinos avulsos ou por homenagens aos
aniversariantes. Ao final dos trabalhos, as pessoas se abraçam, cumprimentando-se como se
213

tivessem encerrado uma verdadeira etapa de suas vidas. Geralmente, toma-se uma sopa
leve de legumes ao final dos trabalhos (GROISMAN, 1999, p. 75).
Durante o bailado, segundo as normas do ICEFLU (2020), a mesa central não é
ocupada fisicamente por ninguém. O bailado se inicia após a primeira estrofe do hino, a
partir do movimento do comandante, que dá o primeiro passo à esquerda. O bailado deve
acompanhar o compasso da música, sem arrastar nem acelerar. O bailado é também uma
vitrine do trabalho espiritual de cada um. Devem-se evitar trejeitos e movimentos
exagerados que quebrem o padrão apresentado pela corrente (CEMIN, 2002, p. 365).
O bailado consiste em uma dança repetitiva, durante a qual a pessoa deve
acompanhar sincronicamente o movimento coletivo, deslocando-se conforme o ritmo dos
hinos e o movimento do grupo. Há três gêneros de bailado: a valsa, em que o tronco se
desloca enquanto os pés ficam no mesmo lugar; a marcha, que lembra um passo marcial e
que consiste em dois meios passos para a esquerda e dois meios passos para a direita, com o
corpo sempre voltado para frente; a mazurca, quando a pessoa realiza um movimento de
180 graus, colocando-se, em um primeiro momento, de frente para sua esquerda e, em um
segundo momento, de frente para sua direita. O bailado é realizado individualmente, dentro
de pequenos retângulos traçados no chão da igreja, que medem aproximadamente 70 x 30
cm (ver FOTOGRAFIA 29) (CEMIN, 2002, p. 365; GROISMAN, 1999, p. 74).

Fotografia 29 – Chão do interior da Igreja Flor de Luz, Piedade – SP

Fonte: Acervo da família Durão (2019).

De uma maneira didática, o espaço demarcado estabelece os limites do


deslocamento pessoal, tanto do ponto de vista físico quanto simbólico, facilitando o
aprendizado da mecânica do bailado, assim como indicando que ali o indivíduo tem seu
próprio espaço. A atividade rítmica do bailado é acompanhada pelo soar dos maracás. Os
214

maracás são instrumentos de percussão e arma espiritual, confeccionados com uma lata
(tipo de conserva), um cabo e esferas metálicas, cujo impacto, no interior da lata,
acompanha o ritmo dos hinos e sugere o movimento de tropas militares em marcha. O
maracá marca o compasso e chama força para o trabalho. Tal como os hinos, o maracá, por
meio da vontade humana direcionada, intensifica e faz vibrar a força, potencializando o
poder espiritual (CEMIN, 2002, p. 357; GROISMAN, 1999, p. 74).
A sincronia e o alinhamento das filas do bailado são controlados pelos fiscais. Eles
orientam os participantes a manterem o alinhamento e o ritmo, assim como também
orientam as fileiras quanto à composição, à disposição e à harmonia. Deslocam os
participantes para ocupar eventuais espaços, acompanham os novatos que querem se
retirar da igreja, observam o grupo, procurando manter a “força da corrente”. Os fiscais
assistem também às pessoas que estão vomitando ou que se sentaram, e que necessitam de
acompanhamento espiritual mais intenso, como no caso das “atuações”, que é como os
daimistas chamam as incorporações de espíritos (GROISMAN, 1999, p. 74).
A Santa Missa é um ritual realizado nos dias indicados pelo calendário oficial, por
exemplo, a passagem do Mestre Irineu, no dia 6 de julho; a passagem do Padrinho
Sebastião, no dia 20 de janeiro (dia de São Sebastião), bem como em ocasiões especiais, de
acordo com a presidência do centro local. A missa deve ser realizada sempre às 16 h, os
adeptos devem vestir-se de farda azul, salvo quando realizada após algum dos hinários
oficiais, de farda branca. Não são tocados instrumentos musicais nem há bailado. As pessoas
ficam sentadas em torno da mesa, homens e mulheres em seus respectivos lados (ICEFLU,
2020).
Os trabalhos de concentração, observando as normas do ICEFLU (2020), são
realizados duas vezes no mês, todos os dias 15 e 30, independente do dia da semana, pois
fazem parte do calendário oficial. Após a abertura do trabalho, toma-se o Daime, segue-se
com a leitura do Decreto de Serviço, emitido por Irineu Serra. Esse tipo de trabalho é
marcado pela imobilidade. A distribuição dos irmãos segue as regras da igreja, homens de
um lado e mulheres do outro, uns de frente para os outros, mantêm-se imóveis, sentados e
de olhos fechados, durante mais ou menos uma hora e meia. Nesse período, é frequente
que o dirigente use da palavra para fazer “preleção”, ou seja, dar instruções para a
concentração, advertências e conselhos de ordem moral ou religiosa. Inclusive, as sessões de
concentração são utilizadas muitas vezes com a finalidade de “enquadrar a irmandade”.
215

Durante a concentração, em reforço à preleção, cantam-se hinos variados, escolhidos pelo


dirigente, “de acordo com a situação predominante na irmandade como, doença,
desarmonia, rebeldia”, quando, então, ele escolherá hinos de “conforto, firmeza, equilíbrio,
cura ou disciplina”. No encerramento, o dirigente pronuncia a fórmula de encerramento do
trabalho. Avisos são dados sobre a programação do mês, são proferidos pedidos de ajuda
para as obras da igreja, ou mesmo cobrança dirigida aos faltosos (CEMIN, 2002, p. 367).
Os trabalhos de cura, antigamente chamados trabalhos de Estrela, eram realizados
na Casa da Estrela. Com o tempo, passaram a ser realizados também na Igreja. Os trabalhos
de cura compreendem diversos tipos: Trabalho de Estrela, Círculo de Cura, São Miguel, Mesa
Branca e Cruzes. No tempo do Mestre Irineu, os trabalhos de cura eram basicamente de
Concentração, já o Padrinho Sebastião acrescentou uma seleção de hinos que compõem o
hinário de cura (ICEFLU, 2020).
Durante o trabalho de cura, é usada a farda azul, as pessoas permanecem sentadas
em torno do Cruzeiro. Os beneficiados não devem sentar-se diretamente na mesa, podendo
ser acomodados sempre próximos à mesa de trabalho. De acordo com o trabalho, quando
houver médiuns curadores em serviço, estes podem movimentar-se no atendimento aos
doentes, sempre de acordo com o presidente da mesa. Devem ser evitados os instrumentos
musicais, inclusive maracás. Os hinos devem ser bem cadenciados, intercalados com pausa,
a critério do chefe da sessão. É conveniente que os locais onde acontecem os trabalhos de
cura tenham acomodações apropriadas para receber os doentes (ICEFLU, 2020).
Os Círculos de Cura são trabalhos de cura que contam com uma pequena equipe,
trabalhos estes que podem ser realizados na casa dos doentes. Canta-se parte ou todo o
hinário de cura (ICEFLU, 2020).
O Trabalho de São Miguel é um Trabalho de Cura e limpeza espiritual que se realiza
em benefício de toda a corrente e, durante todo seu transcurso, intercalam-se preces
espíritas kardecistas. É facultado ao dirigente permitir a manifestação de espíritos e a
incorporação destes, caso haja médiuns capacitados (ICEFLU, 2020).
O Trabalho de Mesa Branca, cujo nome completo é "Mesa de estudos esotéricos e
mediúnicos", tem como patrono o professor Antônio Jorge, entidade espírita com a qual o
padrinho Sebastião realizava várias curas como médium, antes da sua chegada ao Daime.
Conforme o nome diz, foi um trabalho criado para desenvolver, tanto a parte mediúnica, o
216

desenvolvimento dos aparelhos mediúnicos e o conhecimento das diversas linhas e


entidades, como promover o estudo espiritualista e esotérico (ICEFLU, 2020).
O Trabalho de Cruzes deve ser realizado na Casa de Estrela e sua realização depende
de indicação da presidência do centro ou do grupo de cura. É um trabalho de exorcismo e
desobsessão, visando ao socorro espiritual de pessoas que se mostrem claramente alteradas
de seu modo habitual, obsediadas ou que apresentem um quadro de perturbação grave. O
Trabalho de Cruzes era realizado pelo Mestre Irineu, na maioria dos casos, para pessoas que
demonstravam estar obsediadas (ICEFLU, 2020).

4.2.6 Cuidados especiais dos sacerdotes (padrinho e madrinha) ao oferecer as bebidas


Ayahuasca aos adeptos

Para participar dos trabalhos, de acordo com o ICEFLU (2020), especialmente os


novatos, é obrigatório realizar a entrevista de anamnese, assim como colher a assinatura do
Termo de compromisso para o trabalho. Essas recomendações são seguidas pelo Centro Luz
Divina, de acordo com seus dirigentes (madrinha e padrinho).
217

4.3 Características sociodemográficas

A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes do


presente estudo, divididos em grupo controle e grupo estudo (experiente e iniciante).

Tabela 1 – Características sociodemográficas dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante)

Características sociodemográficas
Grupo controle Grupo estudo
Teste
Controle Experiente Iniciante p
estatístico
(n=16) (n=16) (n=16)
Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Idade (anos) 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) F(2,45)=1,29 0,285
n (%) n (%) n (%)
Sexo
Masculino 8 (50,0) 8 (50,0) 8 (50,0) Χ² = 0,00 1,000
Feminino 8 (50,0) 8 (50,0) 8 (50,0)
Estado Civil
Solteiro 7 (43,8) 4 (25,0) 6 (37,5)
Casado 7 (43,8) 9 (56,3) 9 (56,3)
Χ² = 3,54 0,738
Separado/divorciado 2 (12,5) 2 (12,5) 1 (6,3)
Outros 0 (0,0) 1 (6,3) 0 (0,0)
Escolaridade
Pós-graduação 3 (18,8) 2 (12,5) 1 (6,3)
Superior 1 (6,3) 6 (37,5) 0 (0,0)
Médio 10 (62,5) 5 (31,3) 13 (81,3) Χ² = 13,85 0,086
Fundamental completo 1 (6,3) 1 (6,3) 1 (6,3)
Fundamental incompleto 1 (6,3) 2 (12,5) 1 (6,3)
Tipo de Trabalho
Do lar 1 (6,3) 1 (6,3) 0 (0,0)
Aposentado 3 (18,8) 2 (12,5) 1 (6,3)
Χ² = 8,80 0,185
Empregado CLT 9 (56,3) 7 (43,8) 4 (25,0)
Autônomo/profissional Liberal 3 (18,8) 6 (37,5) 11 (68,8)
Condição Socioeconômica
1 a 4 salários mínimos 13 (81,3) 12 (75,0) 16 (100,0)
Χ² = 4,43 0,114
5 a 9 salários mínimos 3 (18,8) 4 (25,0) 0 (0,0)
Notas: DP: desvio padrão; F: teste ANOVA; X2: teste Qui-quadrado; *: significativo para p≤0,05.

Observa-se, na Tabela 1, que os dados sociodemográficos dos grupos controle e


estudo (experiente e iniciante) são homogêneos, assim como a distribuição por sexo. Os
participantes do grupo controle foram pareados por sexo, faixa etária e escolaridade, em
relação ao grupo estudo, o que proporcionou uniformidade. Não houve significância
estatística entre os grupos em relação à idade, ao estado civil, à escolaridade, ao tipo de
trabalho e à condição socioeconômica.
218

4.4 Cognição

Em relação às medidas da WASI, o teste MANOVA mostrou efeito significante do


grupo a que os participantes pertencem sobre todas as medidas: VC [F(2,47) = 7,86; p<0,01],
CB [F(2,47) = 5,05; p=0,01], SM [F(2,47) = 7,09; p<0,01], RM [F(2,47) = 4,11; p=0,02], QIV [F(2,47) =
8,55; p<0,01], QIE [F(2,47) = 4,76; p=0,01] e QIT-4 [F(2,47) = 8,31; p<0,01], como pode ser
verificado na Tabela 2. Entretanto, não foram encontradas diferenças do sexo e da interação
sexo grupo sobre nenhuma das outras medidas da WASI (ver TABELA 2).

Tabela 2 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo (experiente
e iniciante), dos escores da WASI em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo

MANOVA - WASI

Variável
Fator F Sig. ᶯ² Poder
dependente
VC 2,02 0,16 0,046 0,28
CB 0,08 0,77 0,002 0,05
SM 3,32 0,07 0,073 0,42
Sexo RM 0,04 0,94 0,000 0,05
QIV 2,50 0,12 0,056 0,34
QIE 0,01 0,90 0,000 0,05
QIT-4 0,87 0,35 0,020 0,15
VCa 7,86 <0,01* 0,273 0,93
CBc 5,05 0,01* 0,194 0,79
SMa 7,09 <0,01* 0,252 0,91
Grupo RMa,c 4,11 0,02* 0,164 0,69
QIVa 8,55 <0,01* 0,289 0,95
QIEa,c 4,76 0,01* 0,185 0,76
QIT-4a,c 8,31 <0,01* 0,284 0,95
VC 2,33 0,10 0,100 0,44
CB 0,06 0,93 0,003 0,05
SM 1,12 0,33 0,051 0,23
Sexo x Grupo RM 0,44 0,64 0,021 0,11
QIV 1,44 0,24 0,064 0,29
QIE 0,30 0,74 0,014 0,09
QIT-4 0,99 0,37 0,045 0,21
Notas: ᶯ²: eta parcial quadrado; *: significativo para p≤0,05; a: iniciante ≠
controle; b: experiente ≠ controle; c: iniciante ≠ experiente.

Como pode ser verificado na Tabela 2, ocorreu significância estatística em todos os


escores da WASI entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante). No entanto, não
houve diferença entre sexo e sexo comparado a grupo.
219

Na Tabela 3, é possível verificar os resultados da WASI dos grupos controle e estudo


(experiente e iniciante), dispostos por média, desvio padrão (DP), total das médias dos
grupos, diferenças entre grupos e valor do p.

Tabela 3 – Resultados da WASI dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), apresentando as médias,
diferença entre grupo e o valor do p

Resultados da WASI

Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Total (48) Diferença
WASI p
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) entre grupo
VC 50,93 (±12,77) 40,62 (±15,43) 34,31 (±7,96) 41,95 (±14,01) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,01*
CB 52,37 (±6,02) 54,00 (±7,49) 45,62 (±9,12) 50,66 (±8,33)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
SM 53,37 (±12,10) 46,25 (±12,75) 37,68 (±11,49) 45,77 (±13,52) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
RM 56,75 (±8,40) 56,68 (±9,06) 48,93 (±8,46) 54,12 (±9,23)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
QIV 104,18 (±19,30) 91,06 (±19,36) 79,12 (±13,47) 91,45 (±20,08) Cont. ≠ Inic. 0,01*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
QIE 107,31 (±10,22) 107,31 (±13,76) 95,43 (±12,42) 103,35 (±13,23)
Cont. ≠ Inic. 0,05*
Expe. ≠ Inic. 0,05*
QIT-4 106,25 (±15,48) 99,18 (±15,44) 85,68 (±12,24) 97,04 (±16,57)
Cont. ≠ Inic. 0,01*
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,85 (±14,43) – –
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 24:24 – –

Notas: DP: desvio padrão; *: significativo para p≤0,05.


Nota: Classificação do QIT-4: Muito superior: 130 e acima; Superior: 120-129; Médio superior: 110-119; Médio:
90-109; Médio inferior: 80-89; Limítrofe: 70-79; Extremamente baixo: 60 e abaixo (TRENTINI; YATES; HECK,
2014).

Os subtestes da WASI possuem as cargas mais altas em “g”, funcionamento


intelectual geral, que é o produto de numerosos fatores específicos resultantes da técnica
estatística análise fatorial (ALMEIDA et al., 2008, p. 50; DA SILVA, 2003, p. 84; HECK; YATES;
TRENTINI, 2018, p. 313).
Em relação ao QIT-4, o grupo experiente e o grupo controle tiveram desempenho
intelectual semelhante, ambos diferiram significativamente do grupo iniciante. Ou seja, não
houve diferença entre os grupos controle e experiente. Apresentaram desempenho médio o
grupo experiente e o grupo controle, o grupo iniciante apresentou desempenho médio
inferior, quando comparado às pessoas do mesmo sexo e faixa etária. No estudo de Bouso et
al. (2013), todos os indivíduos apresentaram escores de inteligência na faixa normal,
corroborando os dados do presente estudo.
220

Em relação ao QIE, o grupo experiente e o grupo controle alcançaram escores iguais,


ou seja, não houve diferença entre os grupos controle e experiente, ambos diferiram
significativamente do grupo iniciante. Embora tenha ocorrido significância estatística entre
os grupos, todos eles obtiveram classificação médio. Ao que parece, o desempenho
intelectual de execução está mantido nos participantes do presente estudo (TRENTINI;
YATES; HECK, 2014).
Em relação ao subteste CB, o grupo experiente e o grupo controle alcançaram
desempenho equivalente nessa tarefa, ambos apresentaram diferença significativa em
relação ao grupo iniciante (ver TABELA 3). Ou melhor, não houve diferença entre os grupos
controle e experiente. Ao que tudo indica, para esses dois grupos, a tarefa de organização de
modelos, que visa as habilidades relacionadas com a visualização espacial, coordenação
visuomotora e conceituação abstrata, parecem preservadas, que é uma medida de
organização perceptual e de inteligência geral (TRENTINI; YATES; HECK, 2014).
No subteste RM, o grupo experiente e o grupo controle apresentaram desempenho
idêntico nessa tarefa, isto é, não houve diferença entre os grupos controle e experiente;
ambos diferiram significativamente do grupo iniciante. Bouso et al. (2013) não encontraram
diferença significativa no RM (WAIS-III), entre o grupo de usuários experientes e o grupo de
usuários ocasionais de Ayahuasca. Pelo visto, a medida de raciocínio fluido não verbal
parece preservada em todos os participantes do presente estudo, assim como as habilidades
de manipular mentalmente símbolos abstratos e perceber a relação entre eles (TRENTINI;
YATES; HECK, 2014).
O grupo controle apresentou significância estatística em relação ao grupo iniciante
no QIV e nos subtestes VC e SM. O QIV se refere à capacidade cognitiva de expressar as
ideias por intermédio de símbolos verbais. A boa habilidade verbal avaliada pelos subtestes
está positivamente correlacionada com a aquisição de conhecimentos, assim, as pessoas
diferem na habilidade de compreender a linguagem, ou seja, quanto maior a habilidade
verbal de uma pessoa, maior o seu conhecimento a respeito do mundo. Essa habilidade é
adquirida e depende da relação do indivíduo com o ambiente e do nível de escolaridade
(anos de estudo) (TRENTINI; YATES; HECK, 2014).
A Tabela 4 apresenta os resultados do procedimento de Bonferroni dos grupos
controle e estudo (experiente e iniciante), sobre os escores da WASI em relação aos efeitos
221

dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo. Não foram encontradas diferenças do sexo e
da interação sexo grupo sobre nenhuma das outras medidas da WASI (TABELA 4).

Tabela 4 – Resultados das comparações entre as médias dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante),
dos escores da WASI em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação sexo grupo, por meio do
procedimento de Bonferroni para comparações múltiplas

Procedimento de Bonferroni – WASI

Diferenças
WASI Sexo Grupo Média (DP)
significativas
Experientea 33,00 (±4,23)
1
Masculino Inicianteb 33,50 (±4,23) NS
Controlec 52,00 (±4,23)
VC
Experientea 48,25 (±4,23)
Feminino2 Inicianteb 35,12 (±4,23) NS
Controlec 49,87 (±4,32)
Experientea 53,75 (±2,79)
1
Masculino Inicianteb 46,25 (±2,79) NS
Controlec 53,00 (±2,79)
CB
Experientea 54,25 (±2,79)
2
Feminino Inicianteb 45,00 (±2,79) NS
c
Controle 51,75 (±2,79)
Experientea 40,12 (±4,17)
Masculino1 Inicianteb 34,37 (±4,17) NS
Controlec 53,50 (±4,17)
SM
Experientea 52,37 (±4,17)
Feminino2 Inicianteb 41,00 (±4,17) NS
c
Controle 53,25 (±4,17)
Experientea 56,62 (±3,13)
Masculino1 Inicianteb 47,62 (±3,13) NS
Controlec 58,37 (±3,13)
RM
Experientea 56,75 (±3,13)
Feminino2 Inicianteb 50,25 (±3,13) NS
c
Controle 55,12 (±3,13)
Experientea 81,37 (±6,06)
Masculino1 Inicianteb 76,87 (±6,06) NS
Controlec 104,37 (±6,06)
QIV
Experientea 100,75 (±6,06)
2 b
Feminino Iniciante 81,37 (±6,06) NS
Controlec 104,00 (±6,06)
Experientea 106,25 (±4,44)
1
Masculino Inicianteb 95,00 (±4,44) NS
Controlec 109,50 (±4,44)
QIE
Experientea 108,37 (±4,44)
2 b
Feminino Iniciante 95,87 (±4,44) NS
Controlec 105,12 (±4,44)
Experientea 93,37 (±5,12)
1
Masculino Inicianteb 84,25 (±5,12) NS
Controlec 107,62 (±5,12)
QIT-4
Experientea 105,00 (±5,12)
2 b
Feminino Iniciante 87,12 (±5,12) NS
Controlec 104,87 (±5,12)
Notas: DP: desvio padrão; NS: não significativo; 1: Masculino; 2: Feminino; a: experiente; b: iniciante; c: controle.
222

O grupo iniciante apresentou desempenho abaixo da média em todos os subtestes e


escores de QI da WASI, quando comparados aos grupos controle e experiente.
Sobre as medidas de Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey, o teste
MANOVA mostrou efeito significante do grupo sobre as seguintes medidas: Dígitos, escore
ponderado [F(2,47) = 6,15; p<0,01]; Cubos de Corsi, escore ponderado [F(2,47) = 4,12; p=0,02]; e
Figuras Complexas de Rey, Cópia escore total [F(2,47) = 9,60; p<0,01]. Foi encontrado efeito
significante da interação sexo e grupo para Figuras Complexas de Rey [F(2,47) = 4,68; p=0,01]
(ver TABELA 11). Não foi encontrado efeito do sexo dos participantes do presente estudo
separadamente sobre nenhuma das referidas medidas. Todos esses resultados podem ser
verificados na Tabela 5.

Tabela 5 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo (experiente
e iniciante) para as medidas de Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey, em relação aos efeitos dos
fatores sexo, grupo e interação sexo grupo

MANOVA – Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey

Fator Variável dependente F Sig. ᶯ² Poder


Dígitos escore ponderado 0,18 0,67 0,004 0,07
Corsi escore ponderado 3,16 0,08 0,070 0,41
Rey cópia escore total 1,40 0,24 0,032 0,21
Sexo
Rey cópia tempo (min) 0,04 0,82 0,001 0,05
Rey memória escore total 0,08 0,76 0,002 0,06
Rey memória tempo (min) 0,02 0,86 0,001 0,05
Dígitos escore ponderadoc 6,15 <0,01* 0,227 0,86
Corsi escore ponderadoc 4,12 0,02* 0,164 0,69
Rey cópia escore totala,c 9,60 <0,01* 0,314 0,97
Grupo
Rey cópia tempo (min) 1,12 0,33 0,051 0,23
Rey memória escore total 2,58 0,08 0,110 0,48
Rey memória tempo (min) 0,60 0,55 0,028 0,14
Dígitos escore ponderado 0,28 0,75 0,013 0,09
Corsi escore ponderado 0,07 0,93 0,003 0,06
Rey cópia escore total1-c;2-a,c 4,68 0,01* 0,182 0,75
Sexo x Grupo
Rey cópia tempo (min) 2,09 0,13 0,091 0,40
Rey memória escore total 0,65 0,52 0,030 0,15
Rey memória tempo (min) 0,37 0,69 0,018 0,10
Notas: ᶯ²: eta parcial quadrado; *: significativo para p≤0,05; 1: Masculino; 2: Feminino;
a: controle ≠ iniciante; b: experiente ≠ controle; c: experiente ≠ iniciante.

A Tabela 6 apresenta o desempenho, na Tarefa de Alcance de Dígitos, dos grupos


controle e estudo (experiente e iniciante), em comparação ao estudo de Figueiredo e
Nascimento (2007), exibindo as médias dos escores ponderados; dos escores brutos da
223

Ordem Direta (OD), Ordem Inversa (OI), soma das OD e OI, diferença da OD e OI e as médias
das idades dos participantes de todos os estudos.

Tabela 6 – Resultados da Tarefa de Dígitos dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
comparação ao estudo de Figueiredo e Nascimento (2007), apresentando as médias dos escores ponderados e
brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), soma da OD e OI; diferença entre OD e OI e médias das idades
dos participantes de todos os estudos
Comparação dos resultados da tarefa Dígitos
Figueiredo e Nascimento
Controle Estudo
(2007)
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) WISC-III (801) WAIS-III (788)
Escores
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Ponderados 11,25 (±3,10) 13,00 (±2,58) 9,62 (±2,18)a* – –
Brutos
OD 8,50 (±2,30) 9,93 (±1,52) 7,75 (±2,11) 6,88 (±2,11) 6,93 (±2,22)
OI 5,12 (±2,30) 5,87 (±2,18) 3,62 (±1,58) 3,66 (±2,11) 4,81 (±2,35)
Soma (OD+OI) 6,81 (±2,17) 7,90 (±1,67) 5,68 (±1,50) – –
Diferença (OD-OI) 3,37 (±1,54) 4,06 (±1,73) 4,12 (±2,21) 3,22 (±1,84) 2,12 (±1,92)
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) Todas idades Todas idades
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 392:409 –
Notas: DP: desvio padrão; a: experiente ≠ iniciante; *: significativo para p<0,01.

Cunha (2000, p. 567) afirma que adultos com inteligência normal, ou seja, na média,
têm a capacidade de reter pelo menos 5 dígitos na OD e 3 na OI. Baron (2004, p. 225)
assegura que, entre crianças de 7 a 9 anos, é previsto um alcance de 5 dígitos na OD e 3
dígitos na OI; até os 9 anos, é esperado que tenham um alcance de 3 dígitos na OI e, após
essa idade, a média do alcance aumenta para 4 dígitos.
Constata-se, na Tabela 6, que a média do escore ponderado do grupo experiente foi
superior (13,00) ao dos outros grupos. O grupo experiente reteve 9,9 dígitos, em média, na
OD, o dobro do indicado na literatura (CUNHA, 2000, p. 567), superior ao grupo iniciante e
ao estudo de Figueiredo e Nascimento (2007). A retenção de dígitos na OI, pelo grupo
experiente, foi em média de 5,8 dígitos, enquanto a literatura indica 4 (BARON, 2004, p. 225;
ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017, p. 128). O grupo experiente obteve um ponto a mais
(5,87) que os participantes adultos (4,81) descritos por Figueiredo e Nascimento (2007), e
mais que dois pontos em relação ao grupo iniciante (3,62).
No que se refere à diferença entre OD e OI o grupo experiente (ver TABELA 6),
pontuou o dobro (4,0 na média), em relação a Figueiredo e Nascimento (2007), na
população adulta (2,12), a literatura afirma que uma diferença de 3 pontos é significante
224

(BARON, 2004, p. 225; ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017. p. 128). Portanto, o grupo
experiente está acima da média em relação a essa pontuação, em comparação aos estudos
apresentados.
A Tabela 7 mostra as diferenças entre OD e OI dos grupos controle e grupo estudo
(experiente e iniciante), menor que três e maior que três, na tarefa Dígitos.

Tabela 7 – Diferença entre Ordem Direta (OD) e Ordem Indireta (OI), na tarefa Dígitos, com acertos abaixo e
acima de 3 pontos, dos grupos controle e grupo estudo (experiente e iniciante)
Dígitos – diferença entre OD e OI
Controle Estudo
Dígitos Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
n (%) n (%) n (%)
Diferença (OD-OI)
< que 3 4 (25,0) 2 (12,5) 5 (31,2)
> que 3 12 (75,0) 14 (87,5) 11 (68,8)
Total 16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)

Nota-se, na Tabela 7, que 87,5% dos indivíduos do grupo experiente obtiveram


escore maior que três na diferença entre OD e OI na tarefa Dígitos.
Em suma, no presente estudo, o grupo experiente obteve desempenho superior na
tarefa Dígitos, em relação ao grupo iniciante, corroborando os achados de Bouso et al.
(2012), que avaliaram usuários regulares de Ayahuasca; estes mostraram melhor
desempenho na tarefa Sequência de Números e Letras (WAIS-III), em relação ao grupo
controle. Embora não seja o mesmo teste que Dígitos, essa tarefa também avalia a atenção
e a memória operacional. No entanto, difere do estudo de Doering-Silveira et al. (2005), que
não encontraram diferença significativa entre os grupos estudo e controle na tarefa do
Dígitos.
Em síntese, o grupo experiente se destacou, em relação ao grupo iniciante, na tarefa
Dígitos, tanto na OD quanto na OI, bem como no escore da diferença entre ambas (maior
que 3 dígitos). O respectivo dado evidencia um desempenho superior nesse tipo de tarefa,
sugerindo um achado inédito entre usuários experientes de Ayahuasca, em contexto ritual.
A Tabela 8 apresenta o desempenho na Tarefa de Cubos de Corsi dos grupos controle
e estudo (experiente e iniciante), em comparação aos estudos de Kessels et al. (2000, 2008),
exibindo as médias dos escores ponderados, dos escores brutos da OD, OI, da soma (OD+OI),
225

do escore total, médias das idades dos participantes e proporção entre homens e mulheres
de todos os estudos.

Tabela 8 – Resultados da tarefa Cubos de Corsi dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em
comparação aos estudos de Kessels et al. (2000, 2008), apresentando as médias dos escores ponderados, dos
escores brutos: Ordem Direta (OD), Ordem Indireta (OI), média e DP da soma (OD+OI), escore total e DP, e
média das idades dos participantes e proporção entre homens e mulheres de todos os estudos
Comparação dos resultados da tarefa Cubos de Corsi
Controle Estudo Kessels (2000) Kessels (2008)
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Amostra1 (70) Amostra2 (37)
Escores
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Ponderados 9,06 (±3,23) 9,68 (±2,72) 6,93 (±2,54)a* – –
Brutos
OD 8,00 (±1,70) 8,00 (±1,54) 6,62 (±1,54) – 7,6 (±1,3)
OI 6,50 (±2,82) 6,81 (±1,93) 5,62 (±2,36) – 7,8 (±1,7)
Média (OD+OI) 7,25 (±1,99) 7,40 (±2,73) 6,12 (±3,33) 6,2 (±1,3) 7,7 (±1,5)
Escore total 82,62 (±35,29) 83,06 (±25,94) 60,25 (±25,87) 55,7 (±20,3) 40,8 (±11,6)
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 31,2 (±14,1) 56,2 (±2,5)
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 43:27 11:26
1
Notas: DP: desvio padrão; a: experiente ≠ iniciante; *: significativo para p<0,05; : Voluntários saudáveis;
2
: Idosos saudáveis de 50 a 59 anos.

O grau de dificuldade apresentado na realização desta tarefa, tanto a OD quanto a


OI, é o mesmo (KESSELS et al., 2008; VANDIERENDONCK et al., 2004). Apesar de não
existirem diferenças quantitativas no desempenho entre as duas ordens, isso não significa
que elas possuem os mesmos mecanismos cognitivos subjacentes (ANTUNES; JÚLIO-COSTA;
HAASE, 2017a, p. 143). Vandierendonck et al. (2004) fizeram um estudo em que analisaram
a tarefa de Cubos de Corsi em relação à teoria da memória de trabalho, concebida por
Baddeley (2011c, p. 57). Os autores observaram relação da tarefa de Cubos de Corsi com os
subcomponentes da memória de trabalho (executivo central, alça fonológica e esboço
visuoespacial), por meio de um paradigma de interferência. Logo, encontraram resultados
que indicam que tanto a OD quanto a OI requerem um suporte do esboço visuoespacial. No
entanto, nos itens com sequências longas, os recursos do executivo central também foram
solicitados, indicando um aumento da demanda cognitiva.
Constata-se, na Tabela 8, que o grupo experiente reteve, em média, 7,4 cubos na
soma da OD e OI, média igual à de Kessels el al. (2008), que reteve, em média, 7,7; em
relação ao grupo iniciante (6,12) e a Kessels el al. (2000) (6,2), o grupo experiente
apresentou desempenho superior. Na média do escore total, o grupo experiente obteve
226

pontuação superior (83,06) ao grupo iniciante (60,25) e a Kessels et al. (2000) (55,7); e o
dobro em relação a Kessels et al. (2008) (40,8).
A Tabela 9 mostra os percentis dos escores totais alcançados na tarefa Cubos de
Corsi dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), agrupados por idade, segundo
Kessels et al. (2000).

Tabela 9 – Percentis dos escores totais da tarefa Cubos de Corsi do grupo controle e estudo (experiente e
iniciante), agrupados por idade, segundo Kessels et al. (2000)
Percentis da tarefa Cubos de Corsi segundo Kessels et al. (2000)*
Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
Idade Idade Idade
20-40 >40 20-40 >40 20-40 >40
Percentil
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
5 – – – – 2 (12,5) –
20 – 1 (6,25) – – – –
30 – 1 (6,25) – – 2 (12,5) 1 (6,25)
40 – – 1 (6,25) – – –
50 1 (6,25) 1 (6,25) – 2 (12,5) – 1 (6,25)
60 – – – – 1 (6,25) 1 (6,25)
70 1 (6,25) – – – – 1 (6,25)
80 – 1 (6,25) – 2 (12,5) 1 (6,25) –
90 – 1 (6,25) – 1 (6,25) 2 (12,5)
95 5 (31,25) 4 (25,0) 5 (31,25) 6 (37,5) 2 (12,5) 1 (6,25)
7 (43,75) 9 (56,25) 6 (37,5) 10 (62,5) 9 (56,25) 7 (43,75)
Total
16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)
Nota: *: os valores dos percentis foram extraídos do estudo de Kessels et al. (2000) e usados
como parâmetro no presente estudo, distribuídos de acordo com a faixa etária.

A idade é um fator importante sobre o desempenho nessa tarefa. Kessels et al.


(2008) verificaram uma pequena associação negativa entre a idade e o desempenho nessa
tarefa, em uma amostra de indivíduos com idade superior a 50 anos, e observaram um
declínio com o avanço da idade.
Identifica-se, na Tabela 9, que 15 pessoas do grupo experiente (93,75%) alcançaram
percentil acima de 50; dessas, 11 (68,75%) estão concentradas no percentil 95. O grupo
iniciante teve 11 pessoas (68,75%) com percentil acima de 50, mas somente três (18,75%)
alcançaram o percentil 95. Esse resultado mostra o desempenho superior do grupo
experiente em relação ao grupo iniciante, na tarefa Cubos de Corsi.
227

Em resumo, o grupo experiente se diferenciou, na tarefa Cubos de Corsi, na


concentração de pessoas no percentil 95 (68,75%), do grupo iniciante (18,75%) (ver TABELA
9). O grupo experiente se destacou também na média do escore bruto total (83,06), obtendo
pontuação superior em relação ao grupo iniciante (60,25) e a Kessels et al. (2000) (55,7); e o
dobro em relação a Kessels et al. (2008) (40,8) (ver TABELA 8). O dado evidencia um
desempenho superior nesse tipo de tarefa, sugerindo um achado original entre usuários
experientes de Ayahuasca, em contexto ritual.
Na Tabela 10, verificam-se os resultados do teste Figuras Complexas de Rey dos
grupos controle e estudo (experiente e iniciante), dispostos por média, da cópia escore total,
cópia tempo, memória escore total, memória tempo, diferenças entre grupo e valor do p.

Tabela 10 – Figuras Complexas de Rey, resultados dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), média,
da cópia escore total, cópia tempo, memória escore total, memória tempo, diferença entre grupo e o valor do
p

Resultados do Figuras Complexas de Rey

Controle Estudo
Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Total (48) Diferença
Rey p
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) entre grupo
Expe. ≠ Inic.
Cópia escore total 31,40 (±4,48) 30,59 (±3,41) 25,40 (±5,51) 29,13 (±5,19) <0,01*
Cont. ≠ Inic.
Cópia tempo† 3,68 (±1,07) 4,31 (±1,40) 3,75 (±1,43) 3,91 (±1,31) – NS
Memória escore total 18,87 (±7,91) 16,10 (±7,44) 13,06 (±5,70) 16,01 (±7,33) – NS
Memória tempo† 2,62 (±0,71) 2,31 (±1,01) 2,37 (±0,71) 2,43 (±0,82) – NS
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,83 (±14,4) – –
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 24:24 – –

Notas: DP: desvio padrão; †: tempo em minutos; *: significativo para p≤0,05; NS: não significativo.

As operações cognitivas requeridas no desempenho nas Figuras Complexas de Rey


incluem a percepção visual, a organização visuoespacial, as funções motoras e a condição da
reprodução de memória (OLIVEIRA et al., 2004).
Na cópia escore total, o grupo experiente e o grupo controle tiveram desempenho
semelhante nessa tarefa, ou seja, não houve diferença, ambos diferiram significativamente
do grupo iniciante, conforme se observa na Tabela 10.
Em relação aos percentis de Figuras Complexas de Rey encontrados no presente
estudo, 8 pessoas do grupo controle (50%) obtiveram classificação igual ou superior ao
228

percentil 50 (classificação média); no grupo experiente, 5 pessoas (31,2 %) obtiveram a


mesma classificação. Ambos os grupos mostraram adequada capacidade de percepção
visual, dentro da classificação estimada para a população brasileira. No grupo experiente, 5
pessoas (31,2%) foram classificadas no percentil 25-40 (classificação médio inferior). Embora
essas pessoas estejam na média, a vida atual exige maior capacidade de percepção visual.
Talvez a classificação “médio inferior” manifeste algumas desvantagens, por exemplo,
dependendo da situação, pode prejudicar a capacidade de interpretação do indivíduo,
levando-o a cometer algumas distorções de forma e localização de elementos, como ter
dificuldades de se localizar em ambientes novos (OLIVEIRA; RIGONI, 2017).
Já no grupo iniciante, 14 pessoas (87,5 %) obtiveram classificação entre o percentil
10-20 (classificação inferior à média), o que sugere a presença de algum prejuízo
considerável à capacidade de percepção visual (OLIVEIRA; RIGONI, 2017), que interfere na
percepção das informações visuais contidas na figura a ser copiada (a localização das partes,
as proporções e a categorização dos elementos), na formação e busca de imagens visuais
mentais (memória associativa e visual, que compreendem as funções da via dorsal do lobo
parietal e da memória operacional visuoespacial), bem como na prática da produção gráfica
que abrange o planejamento e a programação por meio de ações motoras (GUÉRIN; SKA;
BELLEVILLE, 1999).
Os dados encontrados no presente estudo são corroborados por Barbosa et al.
(2016) e Doering-Silveira et al. (2005), pois não foram encontradas diferenças significativas
entre os usuários de Ayahuasca e grupo controle nos escores da cópia do Figuras Complexas
de Rey.
Constata-se, na Tabela 11, os resultados da comparação, ajustada pelo procedimento
de Bonferroni, o efeito significante da interação grupo e sexo dos participantes sobre as
seguintes medidas: Dígitos, apenas para as mulheres, em escore ponderado na comparação
entre os grupos iniciante versus controle; Figuras Complexas de Rey, cópia escore total para
homens na comparação grupo iniciante versus experiente e, para mulheres, nas
comparações grupo iniciante versus experiente, e iniciante versus controle. Nas demais
medidas não foram encontradas diferenças.
229

Tabela 11 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos em Dígitos, Cubos de Corsi e
Figuras Complexas de Rey dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e
grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para comparações múltiplas

Procedimento de Bonferroni – Dígitos, Cubos de Corsi e Figuras Complexas de Rey

Variáveis Sexo Grupo Média (DP) Diferenças significativas

Experientea 12,62 (±0,96)


1
Masculino Inicianteb 9,87 (±0,96) NS
Controlec 10,87 (±0,96)
Dígitos escore ponderado
Experientea 13,37 (±0,96)
2
Feminino Inicianteb 9,37 (±0,96) 2-b≠a*
Controlec 11,62 (±0,96)
Experientea 10,25 (±1,00)
1 b
Masculino Iniciante 7,62 (±1,00) NS
Controlec 10,00 (±1,00)
Corsi escore ponderado
Experientea 9,12 (±1,00)
2
Feminino Inicianteb 6,25 (±1,00) NS
Controlec 8,12 (±1,00)
Experientea 32,62 (±1,48)
1 b
Masculino Iniciante 27,43 (±1,48) 1-a≠b*
Controlec 29,50 (±1,48)
Rey cópia escore total
Experientea 28,56 (±1,48)
2
Feminino Inicianteb 23,37 (±1,48) 2-a≠b*; 2-b≠c*
Controlec 33,31 (±1,48)
Experientea 4,62 (±0,45)
1
Masculino Inicianteb 3,25 (±0,45) NS
Controlec 4,00 (±0,45)
Rey cópia tempo (min)
Experientea 4,00 (±0,45)
2
Feminino Inicianteb 4,25 (±0,45) NS
Controlec 3,37 (±0,45)
Experientea 16,75 (±2,56)
1
Masculino Inicianteb 14,12 (±2,56) NS
Controlec 17,50 (±2,56)
Rey memória escore total
Experientea 14,25 (±2,56)
2
Feminino Inicianteb 12,00 (±2,56) NS
Controlec 20,25 (±2,56)
Experientea 2,37 (±0,30)
1 b
Masculino Iniciante 2,25 (±0,30) NS
Controlec 2,75 (±0,30)
Rey memória tempo (min)
Experientea 2,25 (±0,30)
2
Feminino Inicianteb 2,50 (±0,30) NS
c
Controle 2,50 (±0,30)
Notas: DP: desvio padrão; *: significativo para p≤0,05; NS: não significativo; 1: Masculino; 2: Feminino;
a: experiente; b: iniciante; c: controle.

Ao observar os resultados apresentados na Tabela 11, interação entre sexo e grupo,


pode-se verificar que, em Dígitos, escore ponderado, o grupo experiente feminino foi
melhor que o grupo iniciante feminino. No teste Figuras Complexas de Rey, escore total, o
grupo experiente feminino apresentou desempenho melhor que o grupo iniciante feminino,
e o grupo controle feminino também apresentou desempenho melhor que o grupo iniciante
230

feminino. Logo, não houve diferença entre o grupo feminino experiente e o grupo feminino
controle, ambos tiveram desempenho semelhante nessa tarefa. Ainda sobre Figuras
Complexas de Rey, o grupo experiente masculino apresentou melhor desempenho que o
grupo iniciante masculino, no entanto, de acordo com os dados (ver TABELA 11), não houve
diferença entre os grupos experiente e controle nessa mesma tarefa. O que pode ter
ocorrido é que, quando se busca por diferenças específicas (efeito sexo e sexo grupo),
podem ocorrer diferenças que não são detectadas no grupo. Nas demais medidas não foram
encontradas diferenças.
Baron (2004, p. 228) discute as influências demográficas que precisam ser levadas em
consideração no momento da interpretação do teste Dígitos, são elas: idade, nível
educacional e idioma; este autor afirma que diferenças entre gênero não são importantes.
Em relação ao teste Figuras Complexas de Rey, as tabelas normativas do estudo brasileiro
foram elaboradas levando em consideração somente a idade (OLIVEIRA; RIGONI, 2017).
Diante dessas informações, parece que, nesses testes, a diferença entre sexo não é
importante.
Em relação às medidas do WCST, o teste MANOVA mostrou efeito significante da
interação sexo e grupo dos participantes sobre as medidas de Tempo [F(2,47) = 3,43; p=0,04] e
Fracasso em manter o contexto [F(2,47) = 4,29; p=0,02]. Não foram encontrados efeitos do
grupo e do sexo dos participantes do presente estudo, separadamente, sobre nenhuma das
medidas do WCST, como pode ser observado na Tabela 12.
No presente estudo, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos
controle e estudo (experiente e iniciante) para nenhuma medida do WCST (ver TABELA 12).
Bouso et al. (2015) encontraram uma tendência no WCST para um número maior de
respostas corretas (p=0,055) e erros menores (p=0,081) entre os usuários da Ayahuasca,
nenhuma outra variável diferiu entre os grupos.
231

Tabela 12 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), para as medidas do WCST em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo
MANOVA - WCST

Fator Variável dependente F Sig. ᶯ² Poder

Número de ensaios 0,20 0,65 0,005 0,07


Tempo (seg) 0,01 0,92 0,000 0,05
Número acertos 0,60 0,44 0,014 0,11
Número erros 0,58 0,44 0,014 0,11
Sexo
Nível conceitual 0,25 0,61 0,006 0,07
Categoriais completadas 0,70 0,40 0,016 0,13
Ensaios para primeira categoria 2,69 0,10 0,060 0,36
Fracassos em manter o contexto 0,46 0,50 0,011 0,10
Número de ensaios 0,60 0,55 0,028 0,14
Tempo (seg) 1,92 0,15 0,084 0,37
Número acertos 1,17 0,31 0,053 0,24
Número erros 1,21 0,30 0,055 0,25
Grupo
Nível conceitual 1,20 0,31 0,054 0,24
Categoriais completadas 1,00 0,37 0,046 0,21
Ensaios para primeira categoria 0,80 0,45 0,037 0,17
Fracassos em manter o contexto 1,43 0,25 0,064 0,28
Número de ensaios 1,40 0,25 0,063 0,28
1-a
Tempo (seg) 3,43 0,04* 0,141 0,61
Número acertos 0,40 0,67 0,019 0,11
Número erros 0,40 0,67 0,019 0,11
Sexo x Grupo
Nível conceitual 0,31 0,72 0,015 0,09
Categoriais completadas 0,27 0,76 0,013 0,09
Ensaios para primeira categoria 0,16 0,84 0,008 0,07
Fracassos em manter o contexto1-b 4,29 0,02* 0,170 0,71
1 2
Notas: ᶯ²: eta parcial quadrado; *: significativo para p≤0,05; : Masculino; : Feminino;
a: iniciante ≠ controle; b: experiente ≠ controle; c: iniciante ≠ experiente.

A Tabela 13 apresenta os escores do teste WCST dos grupos controle e estudo


(experiente e iniciante), em comparação aos estudos de Such (2011) e Norman et al. (2011),
mostrando a média do total de acertos, total de erros, nível de resposta conceitual,
categorias completadas, média das idades dos participantes e proporção entre homens e
mulheres de todos os estudos. Embora a maioria dos escores apresentados na Tabela 13 não
apresente significância estatística, é interessante observar alguns resultados.
232

Tabela 13 – Escores do teste WCST dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em comparação aos
estudos de Such (2011) e Norman et al. (2011), mostrando as médias do total de acertos, total de erros, nível
de resposta conceitual, categorias completadas, média das idades dos participantes e proporção entre homens
e mulheres de todos os estudos

Comparação dos resultados do teste WCST

Controle Estudo Such (2011) Norman et al. (2011)


WCST Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Amostra (22) Brancos (146) Afro (103)
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Total de acertos 39,75 (±11,61) 39,00 (±10,10) 34,37 (±9,81) 38,5 (±11,1) – –
Total de erros 24,31 (±11,55) 25,00 (±10,10) 29,75 (±9,88) 25,4 (±11,1) 15,6 (±7,8) 22,1 (±10,2)
Nível de respostas
30,37 (±13,44) 30,06 (±12,65) 23,93 (±12,70) – 44,3 (±11,3) 35,5 (±14,3)
conceituais
Categorias
2,43 (±1,50) 2,06 (±1,28) 1,75 (±1,23) 1,95 (±1,1) – –
completadas
Fracasso em
manter o 0,43 (±0,81) 0,68 (±0,70) 0,31 (±0,47) – – –
contexto
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 9,15 (±0,3) 37,6 (±12,3) 40,6 (±12,3)
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 10:12 100:46 51:52
Nota: DP: desvio padrão.

Constata-se, na Tabela 13, que a média do total de acertos é semelhante entre os


grupos (39,00), com exceção do grupo iniciante (34,37), com aproximadamente 5 pontos
abaixo. Em relação ao total de erros, o grupo iniciante apresentou o maior escore (29,75),
como também nos resultados das comparações entre sexo, sexo comparado a grupo, tanto o
grupo masculino (31,62) quanto o feminino (27,87) apresentaram maior número de erros no
WCST (ver TABELA 14). Na comparação entre todos os estudos, o menor índice de erros foi
do grupo Brancos (15,6), do estudo de Norman et al. (2011). No nível de respostas
conceituais, os grupos controle, experiente e Afro tiveram escores aproximados (30,0), o
grupo iniciante ficou abaixo da média (23,93), ao passo que o grupo Brancos obteve escore
acima da média (44,3). Em categorias completadas, os grupos controle, experiente, iniciante
e de Such (2011) alcançaram escores aproximados (2,0), mas o grupo iniciante ficou abaixo
da média (1,75). No escore Fracasso em manter o contexto, o grupo iniciante teve
desempenho melhor que os outros grupos, embora não tenha ocorrido significância
estatística.
Observam-se, na Tabela 14, os resultados das comparações entre as médias dos
escores obtidos na medida Tempo do WCST, ajustadas pelo procedimento de Bonferroni,
dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), mostrando diferença apenas para o
grupo masculino, grupo iniciante versus grupo controle; e na medida Fracasso em manter o
contexto também somente para o grupo masculino, grupo experiente versus grupo controle.
233

Tabela 14 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no WCST dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para
comparações múltiplas

Procedimento de Bonferroni – WCST


Diferenças
Variáveis Sexo Grupo Média (DP)
significativas
Experientea 64,00 (±0,11)
Masculino1 Inicianteb 64,00 (±0,11) NS
Controlec 64,12 (±0,11)
Número de ensaios
Experientea 64,00 (±0,11)
Feminino2 Inicianteb 64,25 (±0,11) NS
Controle c 64,00 (±0,11)
Experientea 391,62 (±44,72)
Masculino1 Inicianteb 366,00 (±44,72) 1-b≠c*
Controlec 527,50 (±44,72)
Tempo (Seg)
Experientea 497,00 (±44,72)
Feminino2 Inicianteb 396,00 (±44,72) NS
Controlec 402,87 (±44,72)
Experientea 39,75 (±3,79)
Masculino1 Inicianteb 32,37 (±3,79) NS
Controlec 37,37 (±3,79)
Número acertos
Experientea 38,25 (±3,79)
Feminino2 Inicianteb 36,37 (±3,79) NS
Controlec 42,12 (±3,79)
Experientea 24,25 (±3,79)
Masculino 1 Inicianteb 31,62 (±3,79) NS
Controlec 26,75 (±3,79)
Número erros
Experientea 25,75 (±3,79)
Feminino2 Inicianteb 27,87 (±3,79) NS
Controlec 21,87 (±3,79)
Experientea 31,12 (±4,68)
Masculino 1 Inicianteb 22,62 (±4,68) NS
Controlec 27,75 (±4,68)
Nível Conceitual
Experientea 29,00 (±4,68)
Feminino2 Inicianteb 25,25 (±4,68) NS
Controlec 33,00 (±4,68)
Experientea 2,00 (±0,48)
Masculino1 Inicianteb 1,37 (±0,48) NS
Controlec 2,37 (±0,48)
Categoriais completadas
Experientea 2,12 (±0,48)
Feminino2 Inicianteb 2,12 (±0,48) NS
Controlec 2,50 (±0,48)
Experientea 17,25 (±4,13)
Masculino 1 Inicianteb 11,62 (±4,13) NS
Controlec 13,12 (±4,13)
Ensaios para primeira categoria
Experientea 21,00 (±4,13)
Feminino2 Inicianteb 16,25 (±4,13) NS
Controlec 21,37 (±4,13)
Experientea 1,00 (±0,22)
Masculino 1 Inicianteb 0,50 (±0,22) 1-a≠c*
Controlec 0,12 (±0,22)
Fracassos em manter o contexto
Experientea 0,37 (±0,22)
Feminino2 Inicianteb 0,12 (±0,22) NS
Controlec 0,75 (±0,22)
Notas: DP: desvio padrão; *: significativo para p≤0,05; NS: não significativo; 1: Masculino; 2: Feminino;
a: experiente; b: iniciante; c: controle.
234

Nota-se, na Tabela 14, que no teste WCST ocorreu efeito significante entre sexo e
grupo na medida Tempo, o grupo iniciante masculino se sobressaiu em relação ao grupo
controle, ou seja, fez a tarefa em tempo menor. Na medida Fracasso em manter o contexto,
o grupo controle masculino teve melhor desempenho em relação ao grupo experiente
masculino. Fracasso em manter o contexto ocorre quando o indivíduo comete um erro após
ter feito pelo menos cinco acertos consecutivos, assim, contabiliza-se o número de vezes em
que o individuo fracassou. Nesse sentido, o grupo experiente cometeu mais erros que o
grupo controle (MIGUEL, 2005).
É importante ressaltar que no processo de validação do WCST não houve indícios de
influência significativa do sexo, por esse motivo, as tabelas normativas brasileiras do WCST
foram agrupadas por idade, assim como nos Estados Unidos da América. Essa informação
mostra que a diferença entre sexo não é relevante para esse teste (MIGUEL, 2005).
Em relação às medidas do FDT, o teste MANOVA mostrou efeito significante entre os
grupos controle e estudo (experiente e iniciante) sobre a medida de Leitura tempo [F(2,47) =
3,97; p=0,02]. Não foram encontrados outros efeitos do grupo, do sexo e da interação grupo
e sexo dos participantes do presente estudo sobre nenhuma das outras medidas do FDT (ver
TABELA 15).

Tabela 15 – Resultados da análise de variância multivariada (MANOVA) dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), para as medidas do FDT, em relação aos efeitos dos fatores sexo, grupo e interação
sexo grupo
MANOVA - FDT

Fator Variável dependente F Sig. ᶯ² Poder


Leitura tempo 1,67 0,20 0,038 0,24
Contagem tempo 1,23 0,27 0,028 0,19
Alternância tempo 0,00 0,94 0,000 0,05
Sexo
Escolha tempo 0,01 0,91 0,000 0,05
Inibição PC 0,14 0,71 0,003 0,06
Flexibilidade PC 0,84 0,36 0,020 0,14
Leitura tempoa 3,97 0,02* 0,159 0,68
Contagem tempo 1,92 0,15 0,084 0,37
Alternância tempo 2,20 0,12 0,095 0,42
Grupo
Escolha tempo 2,99 0,06 0,125 0,55
Inibição PC 1,77 0,18 0,078 0,35
Flexibilidade PC 1,03 0,36 0,047 0,21
Leitura tempo 0,19 0,82 0,009 0,07
Contagem tempo 1,56 0,22 0,069 0,31
Alternância tempo 1,22 0,30 0,055 0,25
Sexo x Grupo
Escolha tempo 0,52 0,59 0,024 0,13
Inibição PC 0,43 0,64 0,020 0,11
Flexibilidade PC 1,04 0,36 0,047 0,22
Notas: ᶯ²:eta parcial quadrado; *: significativo para p≤0,05; a: iniciante ≠ controle.
235

No teste FDT, o grupo controle obteve significância estatística em relação ao grupo


iniciante em Leitura tempo, pois, nesse item, quanto menor a pontuação dos indivíduos,
melhor o seu resultado (SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015).
A Tabela 16 mostra o desempenho no teste FDT dos grupos controle e estudo
(experiente e iniciante), em relação às médias Tempo (leitura, contagem, escolha e
alternância), comparadas aos dados normativos para a população brasileira (SEDÓ; PAULA;
MALLOY-DINIZ, 2015).

Tabela 16 – Desempenho no teste FDT dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
médias Tempo (leitura, contagem, escolha e alternância), comparadas aos dados normativos para a população
brasileira como um todo
Comparação dos resultados do teste FDT

Controle Estudo Normas FDT1


FDT Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Amostra (1.033)
Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Leitura 19,81 (±3,74) 22,00 (±4,14) 23,81 (±4,02)a* 25,1 (±7,5)
Contagem 24,37 ± (4,44) 25,43 (±2,92) 27,06 (±4,34) 29,9 (±10,0)
Tempo
Escolha 36,81 (±6,40) 36,25 (±6,01) 42,31 (±9,74) 46,5 (±18,2)
Alternância 47,56 (±8,60) 51,56 (±9,75) 55,56 (±13,20) 58,8 (±22,6)
Idade 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) –
Homem:Mulher 8:8 8:8 8:8 464:669
Notas: DP: desvio padrão; 1: Sedó, Paula e Malloy-Diniz (2015); a: iniciante ≠ controle; *: significativo para
p<0,02.

Como apontado anteriormente, o grupo controle foi melhor do que o grupo iniciante
no escore Tempo leitura no teste FDT. O objetivo de apresentar os dados da Tabela 16 é
poder comparar as médias dos participantes do presente estudo com os dados normativos
da versão brasileira do FDT (SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015).
A Tabela 17 indica as médias dos percentis, do teste FDT, dos escores de Tempo
(leitura, contagem, escolha e alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante) e da amostra total do presente estudo (grupo controle +
grupo estudo).
236

Tabela 17 – Médias dos percentis, do teste FDT, dos escores de Tempo (leitura, contagem, escolha e
alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante), e da amostra total do
estudo (grupo controle + grupo estudo)
Percentis FDT

Controle Estudo Amostra total do estudo

FDT Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) Controle + Estudo (48)
Média PC (DP) Média PC (DP) Média PC (DP) Média PC (DP)

Leitura 63,13 (±29,43) 52,81 (±30,27) 34,06 (±25,37) 50,00 (±30,37)


Contagem 52,81 (±31,62) 47,18 (±21,44) 36,87 (±22,64) 45,62 (±25,96)
Tempo
Escolha 47,50 (±27,98) 54,37 (±26,00) 27,50 (±29,88) 43,12 (±29,72)
Alternância 47,18 (±25,03) 40,00 (±32,04) 22,50 (±24,83) 36,56 (±28,88)
Inibição 34,06 (±25,37) 47,18 (±28,51) 30,00 (±25,16) 37,08 (±26,87)
Flexibilidade 35,31 (±20,61) 35,00 (±31,57) 24,06 (±21,84) 31,45 (±25,17)
Notas: DP: desvio padrão; PC: percentil.

Podem-se verificar, na Tabela 17, as médias dos percentis alcançados nos escores de
Tempo (leitura, contagem, escolha e alternância), inibição e flexibilidade dos grupos controle
e estudo (experiente e iniciante) e da amostra total do presente estudo (grupo controle +
grupo estudo). Observa-se que as médias dos percentis do grupo iniciante são mais baixos
do que os alcançados pelos outros grupos, assim como a média da soma dos grupos controle
e estudo.
O resultado da comparação, ajustada pelo procedimento de Bonferroni, não mostrou
diferença nas medidas do FDT, quando comparadas as médias para a interação sexo e grupo
dos participantes do presente estudo (ver TABELA 18).
A literatura sobre o desempenho nos testes que avaliam as funções executivas de
usuários de Ayahuasca mostrou que os usuários experientes obtiveram melhor desempenho
que o grupo controle no teste Stroop, mas não para o WCST (BOUSO et al., 2012). Outro
estudo encontrou uma maior tendência para respostas corretas (p=0,055) e erros menores
(p=0,081) no teste WCST, entre os usuários experientes de Ayahuasca (BOUSO et al., 2015).
Dois estudos não encontraram diferenças significativas nos testes Stroop e WCST (BOUSO et
al., 2013; DOERING-SILVEIRA et al., 2005). Diante dos dados apresentados, a literatura não
se mostrou conclusiva em relação ao uso de Ayahuasca e um melhor desempenho nos testes
que avaliam as funções executivas.
237

Tabela 18 – Resultados das comparações entre as médias dos escores obtidos no FDT dos grupos controle e
estudo (experiente e iniciante), em relação ao sexo e grupos, por meio do procedimento de Bonferroni para
comparações múltiplas

Procedimento de Bonferroni – FDT

Variáveis Sexo Grupo Média (DP) Diferenças significativas

Experientea 21,75 (±1,42)


Masculino
1
Inicianteb 22,87 (±1,42) NS
c
Controle 18,75 (±1,42)
Leitura tempo
Experientea 22,25 (±1,42)
b
Feminino2
Iniciante 24,75 (±1,42) NS
Controlec 20,87 (±1,42)
Experientea 26,00 (±1,38)
Masculino 1
Inicianteb 26,50 (±1,38) NS
Controlec 22,50 (±1,38)
Contagem tempo
Experientea 24,87 (±1,38)
b
Feminino2
Iniciante 27,62 (±1,38) NS
Controlec 26,25 (±1,38)
Experientea 55,00 (±3,80)
Masculino1 Inicianteb 54,75 (±3,80) NS
c
Controle 45,25 (±3,80)
Alternância tempo
Experientea 48,12 (±3,80)
Feminino2 Inicianteb 56,37 (±3,80) NS
c
Controle 49,87 (±3,80)
Experientea 37,25 (±2,73)
Masculino1 Inicianteb 42,62 (±2,73) NS
Controlec 35,12 (±2,73)
Escolha tempo
Experientea 35,25 (±2,73)
Feminino2
Inicianteb 42,00 (±2,73) NS
Controlec 38,50 (±2,73)
Experientea 41,87 (±9,54)
b
Masculino 1
Iniciante 27,50 (±9,54) NS
Controlec 37,50 (±9,54)
Inibição PC
Experientea 52,50 (±9,54)
Feminino2 Inicianteb 32,50 (±9,54) NS
c
Controle 30,62 (±9,54)
Experientea 25,00 (±8,90)
Masculino1 Inicianteb 21,25 (±8,90) NS
Controlec 38,12 (±8,90)
Flexibilidade PC
Experientea 45,00 (±8,90)
Feminino2
Inicianteb 26,87 (±8,90) NS
Controlec 32,50 (±8,90)
Notas: DP: desvio padrão; NS: não significativo; 1: Masculino; 2: Feminino; a: experiente;
b: iniciante; c: controle.

O grupo iniciante apresentou desempenho inferior, em relação aos grupos controle e


experiente, em todos os testes do presente estudo. A única exceção foi a medida Tempo
238

(WCST), em que o grupo iniciante masculino se sobressaiu em relação ao grupo controle,


assim como no escore Fracasso em manter o contexto, em que o grupo iniciante teve
desempenho melhor que os outros grupos, embora não ocorra significância estatística.
Em relação à escolaridade (anos de estudo), o teste ANOVA não mostrou efeito
significante entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante) [F(2,45) = 0,28; p=0,75],
também não houve diferença entre sexo. A Tabela 19 apresenta a idade (anos), a
escolaridade (anos de estudo) dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante),
indicando a média, mediana, moda e amplitude (máximo e mínimo).

Tabela 19 – Idade (anos) e escolaridade (anos de estudo) dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante),
apresentando a média, mediana, moda, amplitude (máximo e mínimo)

Idade (anos) e escolaridade (anos de estudo)

Controle Estudo Total (48)


Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) (controle + estudo)

Idade (anos)
Média (DP) 43,06 (±15,06) 46,81 (±13,81) 38,69 (±14,11) 42,85 (±14,43)
Mediana 45,5 51,5 33,5 44,0
Moda 20 38 57 57
Amplitude (máx. – mín.) 45 (65 – 20) 44 (66 – 22) 37 (57 – 20) 46 (66 – 20)
Escolaridade (anos de estudo)
Média (DP) 13,25 (±3,41) 13,00 (±4,09) 12,50 (±2,80) 12,91 (±3,41)
Mediana 13,0 14,0 13,0 13,0
Moda 13 15 13 13
Amplitude (máx. – mín.) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4) 14 (18 – 4)
Nota: DP: desvio padrão.
Notas: Moda (idade): grupo controle 2 (20); experiente: 2 (38); iniciante: 3 (57); total: 4 (57).
Notas: Moda (escolaridade): grupo controle 10 (13); experiente: 8 (15); iniciante: 13 (13); total: 27 (13).
Notas: Indicadores de escolaridade em anos de estudo: ensino fundamental incompleto (1 a 8 anos);
fundamental completo (8 a 10 anos); ensino médio completo (11 a 14 anos); ensino superior completo (15
anos ou mais) (BRASIL, 2004a).

O cálculo para a escolaridade, anos de estudo, foi de acordo com o Dicionário de


Indicadores Educacionais (BRASIL, 2004a). Embora a escolaridade não tenha apresentado
significância estatística, é importante ressaltar algumas características da amostra dos
grupos experiente e iniciante.
As médias de escolaridade, anos de estudo, entre os grupos controle e estudo
(experiente e iniciante) são semelhantes, assim como as medianas; contudo, quando se
observa o número de pessoas com formação em nível superior (moda 15), existem 8 pessoas
239

(50,0%) no grupo experiente com tal formação, 6 graduados e 2 com pós-graduação. No


grupo controle, existem indivíduos com formação em nível superior, porém por pareamento.
No grupo iniciante não existe nenhuma pessoa com formação em nível superior, a grande
maioria tem ensino médio completo, 13 pessoas (81,25%). Portanto, o grupo experiente tem
maior nível de escolaridade, anos de estudo, quando comparado ao grupo iniciante.
Papalia e Feldman (2013, p.333) afirmam que existe influência da escolaridade (anos
de estudo) sobre a avaliação do QI, pois os anos de estudo parecem aumentar a inteligência
testada por meio dos testes psicométricos. Lezak et al. (2012, p. 23) afirmam que as
pontuações de QI têm alta correlação com o desempenho escolar e o contexto cultural do
indivíduo. Da Silva (2003, p. 93) assegura que a inteligência influencia a decisão do indivíduo
de permanecer na escola, assim, a própria permanência no ambiente escolar pode aumentar
o seu QI ou impedi-lo de decair. Segundo o mesmo autor, cada mês adicional que o
estudante permanece na escola pode contribuir para aumentar o seu QI acima do que seria
esperado caso ele tivesse se evadido da sala de aula.
No presente estudo, em dois testes, Dígitos e Cubos de Corsi, o grupo experiente
apresentou desempenho superior em relação ao grupo iniciante. O primeiro é uma tarefa
verbal, e o segundo, uma tarefa não verbal; para a execução de ambos, são necessárias as
seguintes funções cognitivas: amplitude atencional, capacidade de manter concentração,
memória imediata, memória de trabalho (verbal e visuoespacial), capacidade de
reversibilidade mental e tolerância ao estresse (ANTUNES; JÚLIO-COSTA; HAASE, 2017, p.
123, 2017a, p. 137; BRADSHAW, 2001, p. 26; CUNHA, 2000, p. 566; FUENTES et al., 2018, p.
224).
São muitas as áreas cerebrais envolvidas na execução dos testes cognitivos, no
entanto a formação hipocampal exerce um papel fundamental sobre os processos
mnemônicos, por exemplo, a memória de trabalho e seus componentes (BADDELEY, 2011b,
p. 48; BRADSHAW, 2001, p. 20; FUENTES et al., 2018, p. 224; LEZAK et al., 2012, p. 26). A
importância da formação hipocampal foi documentada no famoso caso do paciente H.M.
(SCOVILLE; MILNER, 1957). Após ressecção bilateral do lobo temporal medial, H.M.
desenvolveu uma profunda inabilidade para aprender novas informações, mas não para
habilidades procedurais que envolvem a memória implícita não declarativa (GAZZANIGA;
HEATHERTON, 2005, p. 225; LEZAK et al., 2012, p. 31).
240

Atualmente, sabe-se que novos neurônios são produzidos em algumas regiões


cerebrais de adultos, em várias espécies de mamíferos, incluindo humanos, talvez
desempenhando um papel na reparação de lesões cerebrais, novos aprendizados,
manutenção do funcionamento neural saudável e no bem-estar (LEZAK et al., 2012, p. 41).
Existem evidências de neurogênese do hipocampo em humanos adultos, sabe-se que
grande subpopulação de neurônios do hipocampo, que constitui um terço dos neurônios,
está sujeita a trocas. Em humanos adultos, 700 novos neurônios são adicionados, por dia,
em cada hipocampo (nos dois hemisférios), correspondendo a uma rotatividade anual de
1,75% dos neurônios na fração renovadora, com um declínio modesto durante o
envelhecimento (SPALDING et al., 2013). O fato é que a detecção da neurogênese adulta em
humanos, em certas regiões do cérebro, sugere que o cérebro adulto exibe mais plasticidade
do que se pensava anteriormente, o que tem implicações para os conceitos de memória,
patogênese de doenças neurodegenerativas (BERGMANN; SPALDING; FRISÉN, 2015; GAGE,
2019; MATEUS-PINHEIRO; PINTO; SOUSA, 2017, p. 321; STEINER; TATA; FRISÉN, 2019; YANG;
LU; ZUO, 2018).
Estudos com psicodislépticos serotoninérgicos se mostraram capazes de aumentar a
neuritogênese e/ou espinogênese in vitro e em seres vivos, a partir dos principais alcaloides
presentes na Ayahuasca (DMT, HRM, HRL e THH), melhor dizendo, capacidade de aumentar
a proliferação de células do giro denteado da formação hipocampal em mamíferos não
humanos (CATLOW, JALLOH; SANCHEZ-RAMOS, 2016; LIMA DA CRUZ et al., 2019; LY et al.,
2018; MORALES-GARCÍA et al., 2017) e em células humanas (DAKIC et al., 2016). Estudos
pré-clínicos sugerem que a HRM pode ter efeitos neuroprotetores e de aprimoramento
cognitivo, logo, o uso prolongado da Ayahuasca, rica em HRM, pode estar associado a um
melhor funcionamento neuropsicológico (DOS SANTOS; HALLAK, 2017).
Frecska (2011, p. 158) enfatiza que existe uma variabilidade significativa na resposta
ao uso de psicodislépticos, tanto interindividual quanto intraindividualmente. Um dos
fatores mais importantes é o ambiente seguro, e é fundamental o sentimento de aceitação e
apoio durante a experiência com esse tipo de substância. A falta destes acarreta um risco
significativo de "viagens ruins", constituídas por: visões assustadoras, hiperconsciência
desagradável dos processos corporais, sensação de paralisia, pensamentos ou emoções
perturbadoras sobre a vida de alguém e preocupações sobre as forças do mal (CEMIN, 2002,
p. 349; STRASSMAN, 1984). Indivíduos despreparados ou em situações não controladas, por
241

exemplo, fora do contexto ritual religioso, podem apresentar incidência de efeitos adversos,
levando à forma mais grave de intoxicação aguda, que é síndrome serotoninérgica, assim
como a manifestação de ansiedade, euforia, perturbações cognitivas, paranoia, confusão,
medo da morte e autocontrole desordenado (FRECSKA, 2011, p. 161).
A bebida Ayahuasca empresta um status de realidade às experiências interiores, no
entanto as explicações dos efeitos psicodislépticos no SNC podem ser compreendidas a
partir de funções cognitivas. De Araujo et al. (2011) verificaram, por meio de IRMf, que a
Ayahuasca produz um aumento na ativação de várias áreas occipitais, temporais e frontais.
Na área visual primária, o efeito foi comparável, em magnitude, aos níveis de ativação da
imagem natural com os olhos abertos. A atividade das áreas corticais de Brodmann BA30 e
BA37 (ver FIGURA 19), conhecidas por estarem envolvidas na recuperação de memória
episódica e no processamento de associações contextuais, também foi potencializada pela
ingestão de Ayahuasca durante as imagens. Esses autores detectaram uma modulação
positiva da Ayahuasca da área BA10, uma área frontal envolvida com imaginação
prospectiva intencional, memória de trabalho e processamento de informações de fontes
internas.
O papel do receptor 5-HT2AR, segundo Zhang e Stackman Jr (2015), está
estreitamente relacionado às funções que envolvem memória operacional e cognição
espacial, indicando que o uso prolongado de Ayahuasca pode favorecer essas funções
cognitivas. Esses autores afirmam que as alucinações visuais, induzidas por 5-HT2AR, podem
exercer influência potencial sobre a cognição espacial guiada. Os psicodislépticos
serotoninérgicos estimulam a expressão c-fos nos córtices medial pré-frontal e cingulado
anterior e aumentam a expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro no córtex pré-
frontal (BOUSO et al., 2015).
O bom desempenho do grupo experiente na tarefa Cubos de Corsi, que tem relação
com a memória de trabalho visuoespacial, pode ser atribuído a inúmeras variáveis, como
nível intelectual, anos de estudo, idade de ingresso na doutrina, anos de permanência na
doutrina, maneiras individuais de se lidar com novas tarefas e configurações que facilitam o
aprendizado e a memória operacional visuoespacial, além do tempo prolongado de ingestão
da bebida Ayahuasca.
Em se tratando do melhor desempenho do grupo experiente na tarefa Alcance de
Dígitos, que tem relação com a memória de trabalho verbal, podem-se levantar algumas
242

considerações, além das citadas anteriormente, por exemplo, o contexto de aprendizado na


doutrina do Santo Daime são os hinos, ou seja, os ensinamentos da doutrina são cantados,
na maior parte do tempo, logo, os adeptos são incentivados a prestar atenção e memorizar
informações verbais (LABATE; PACHECO, 2009, p. 31). Os “trabalhos”, em geral, pressupõem
uma atividade psíquica intensa e exaustiva do adepto (MACRAE, 1992, p. 97). Nesse sentido,
é necessário “aprender a trabalhar com o Daime”, como afirma Cemin (2002, p. 348).
É possível que a repetição dos hinos daimistas, durante o ritual, tenha uma função
análoga aos exercícios de meditação budista, que, devido à repetição, permitem alcançar o
estado de desprendimento mental. Ou equivalente aos mantras do hinduísmo, atuando
como auxiliares ou meio para a meditação e a concentração, ou, ainda, como instrumento
de terapia, com o objetivo de trazer mudança sobre o estado mental (COUTO, 2002, p. 401).
Rodrigues (2017) verificou, em um estudo experimental, que praticantes de meditação de
Gurdjieff apresentaram melhor desempenho nas tarefas de atenção e memória de trabalho,
em comparação ao grupo controle.
É provável que os adeptos, especialmente os experientes, sob a influência da
Ayahuasca, lidem com a experiência de maneira muito individual, realizando efetivamente o
"trabalho" gerado internamente, como se fosse uma tarefa cognitiva. Pode-se pensar que os
usuários experientes tenham desenvolvido mecanismos compensatórios, a partir dos efeitos
neuromodulatórios induzidos pelo uso prolongado da bebida Ayahuasca (BOUSO et al.,
2013). Portanto, a prática ritualizada regular de aprendizado verbal e as habilidades de
memória ocorrem durante o estado mental altamente ativo, induzido pelos alcaloides
presentes na Ayahuasca, que pode, talvez, fortalecer também o aprendizado verbal em
outros contextos (BARBOSA, et al., 2016; PALHANO-FONTES et al., 2015).
Os participantes do presente estudo parecem não apresentar comprometimentos
cognitivos ou neuropsicológicos, pois os resultados dos testes denotaram preservação global
das funções cognitivas avaliadas. No entanto, são necessárias mais pesquisas para melhor
compreensão dos efeitos do uso prolongado da bebida Ayahuasca em contexto ritual e seus
potenciais terapêuticos.
243

4.5 Temperamento

Em relação às “Dimensões Emocionais” da AFECTS (vontade, impulso, cautela, raiva,


medo, sensibilidade emocional, maturidade, controle, ansiedade e estabilidade), foi
realizado o teste MANOVA; os pressupostos de homogeneidade das variâncias foram
avaliados pelo teste de Levene; a homogeneidade das matrizes de covariância pelo teste de
Box.
O teste MANOVA mostrou efeito significante entre os grupos controle e estudo
(experiente e iniciante) sobre a dimensão emocional Vontade [F(2,48) = 4,75; p=0,013] da
AFECTS, como pode ser verificado na Tabela 20.

Tabela 20 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
dimensões da AFECTS, avaliadas pelo teste MANOVA

MANOVA – dimensões emocionais da AFECTS

Soma dos Quadrado


Dimensões Média (DP) df F p
Quadrados Médio
Vontade 44,43 (±4,62) 164,63 2 82,313 4,752 0,013*
Impulso 18,19 (±2,93) 1,62 2 0,812 0,094 0,910
Cautela 21,83 (±3,33) 8,79 2 4,396 0,430 0,652
Raiva 32,96 (±8,63) 5,3 2 2,646 0,032 0,967
Medo 17,31 (±3,82) 21,37 2 10,687 0,685 0,509
Sensibilidade Emocional 34,58 (±7,03) 14,54 2 7,271 0,163 0,850
Maturidade 45,42 (±6,47) 73,29 2 36,646 0,858 0,431
Controle 44,33 (±6,03) 55,04 2 27,521 0,938 0,399
Ansiedade 17,75 (±4,99) 56,00 2 28,000 1,090 0,345
Estabilidade 20,40 (±3,40) 30,54 2 15,270 1,373 0,264
Nota: DP: desvio padrão; df: graus de liberdade; *: significativo para p≤0,05.

O Teste post hoc Tukey b evidenciou significância estatística entre o grupo


experiente e o grupo controle, na dimensão emocional Vontade (p=0,013), como
evidenciado na Tabela 21.
244

Tabela 21 – Comparação entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante) na dimensão emocional
Vontade da AFECTS, avaliada pelo procedimento post hoc Tukey b

Procedimento de Tukey b – dimensão emocional Vontade

Diferença
AFECTS (I) Grupo Média (DP) (J) Grupo Média (DP) Sig.b
média (I-J)
Iniciante 43,62 (±4,44) 3,375 0,081
Experiente 47,00 (±4,13)
Controle 42,68 (±4,39) 4,313 0,013*
Vontade
Experiente 47,00 (±4,13) -3,375 0,081
Iniciante 43,62 (±4,44)
Controle 42,68 (±4,39) 0,938 1,000
Notas: DP: desvio padrão; Sig.b: indica valor do p; *: significativo para p≤0,05.

Observam-se, na Tabela 21, os resultados sobre a dimensão emocional Vontade,


nota-se que todos os grupos tiveram a mesma classificação: alta (42-47).
A Tabela 22 apresenta a comparação dos escores obtidos na dimensão emocional
Vontade, entre o grupo controle e estudo (experiente e iniciante).

Tabela 22 – Comparação dos escores da dimensão emocional Vontade, entre o grupo controle e estudo
(experiente e iniciante)

Comparação dos escores da dimensão emocional Vontade

Controle Estudo
Escores Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16)
n (%) n (%) n (%)
Muito baixo < 26 – – –
Baixo 26 - 34 – – –
Médio 35 - 41 5 (31,3) 1 (6,2) 7 (43,8)
Alto 42 - 47 9 (56,3) 7 (43,8) 6 (37,5)
Muito alto > 47 2 (12,4) 8 (50,0) 3 (18,7)
Total 16 (100,0) 16 (100,0) 16 (100,0)
Nota: escores da dimensão emocional Vontade (LARA, 2012, p. 133).

Constata-se, na Tabela 22, que nenhum grupo pontuou menos que o escore médio
na dimensão emocional Vontade. Oito indivíduos (50,0%) do grupo experiente tiveram
escore muito alto na dimensão emocional Vontade, enquanto no grupo controle apenas dois
indivíduos (12,4%) perfizeram a mesma pontuação.
A vontade é o aspecto mais importante do temperamento, todas as outras
dimensões (raiva, impulso, medo, sensibilidade, coping e controle) se relacionam, direta ou
indiretamente, com essa dimensão emocional (LARA, 2012, p. 147). A vontade é o ponto de
partida, é o que põe a vida em movimento, em direção aos objetivos, ela também permite
245

que tarefas cotidianas sejam realizadas, como num piloto automático, no entanto, a vontade
aumenta sempre que a atividade tem um significado especial.
O grupo experiente denotou significância estatística em relação ao grupo controle na
dimensão emocional Vontade (ver Tabela 21). Lara (2012, p. 141) afirma que a vontade é
diretamente proporcional ao valor afetivo e aos ganhos relacionados ao objetivo do
indivíduo, no entanto é relevante que a vontade esteja relacionada ao processo em si e não
somente ao seu resultado. Pode-se pensar que a vontade é um componente essencial entre
os adeptos do grupo experiente, por exemplo, pelo tempo de permanência na doutrina (em
média 26,7 anos), pela frequência da participação nos rituais (duas vezes ao mês), pelo
comportamento durante o ritual, que tem duração de quatro a doze horas, dependendo do
tipo de trabalho, quando os adeptos têm a obrigação de compor a “corrente”, permanecer
no trabalho cantando, bailando e atentos, ou seja, participando ativamente do ritual
(COUTO, 2002, p. 397; ICEFLU, 2020). O ritual do Santo Daime, por meio de seus múltiplos
agentes (bebida, música, cânticos e dança), estabelece uma relação especial com os
participantes, é compreendido como um evento estruturante da vida social, um espaço-
momento de contato com o mundo espiritual (GROISMAN, 1999, p. 76). Groisman (1999, p.
100) afirma que o Daime (bebida Ayahuasca) é, ao mesmo tempo, substância física e
espiritual, um ser da floresta produzido pela união física e simbólica da luz da rainha (folha)
e da força do jagube (cipó), consolidados pela força do social, dos elementos da natureza e
do espiritual.
A grande maioria do grupo experiente (94%) mora na comunidade Céu de Midam.
Segundo os adeptos, morar na comunidade define a doutrina do Santo Daime, pois exige
transformações das histórias de vida, mudanças de comportamento, modificações nas
relações com a sociedade, alterações nas relações com a natureza e reinterpretações das
concepções de trabalho.
A dimensão emocional Vontade parece ser uma característica importante no
temperamento dos indivíduos do grupo experiente, conforme pode ser verificado no relato
a seguir.

“[...] conviver com a irmandade, procurar um espírito de paz e união entre todos, uma coisa
de igualdade, sabe? manter um equilíbrio... cumprir o calendário oficial do Santo Daime,
tudo isso precisa de muita força de vontade; afirma e reafirma a fé e o compromisso com a
246

doutrina. A doutrina requer essa análise interior, de comunhão, de crescimento... sabe?”


(NF58E).

O teste MANOVA mostrou efeito da interação entre grupo e sexo sobre a dimensão
emocional Controle [F(5,48) = 7,04; p=0,002] da AFECTS. Os resultados de interação entre
grupo e sexo sobre a dimensão emocional Controle, ajustada pelo Teste post hoc Tukey b,
mostrou efeito significante da interação sexo grupo para homens, na comparação grupo
experiente versus controle e, para mulheres, nas comparações grupo controle versus
experiente, como pode ser constado na Tabela 23.

Tabela 23 – Efeitos de interação entre grupo e sexo sobre a dimensão emocional Controle da AFECTS, avaliados
pelo Teste post hoc Tukey b

Teste post hoc Tukey b – dimensões emocionais da AFECTS

Dimensão Sexo Grupo Média (DP) Diferenças significativas


a
Experiente 40,12 (±5,89)
Masculino1 Inicianteb 46,37 (±6,27) 1-a≠c*
c
Controle 47,87 (±3,56)
Controle a
Experiente 46,50 (±4,75)
Feminino2 Inicianteb 45,25 (±4,39) 2-c≠a*
c
Controle 39,87 (±6,87)
Notas: DP: desvio padrão; *: significativo para p≤0,05; 1: masculino; 2: feminino;
a: experiente; b: iniciante; c: controle.

Constata-se, na Tabela 23, que os homens do grupo controle tiveram significância


estatística em relação ao grupo experiente na dimensão emocional Controle. O inverso
ocorreu no grupo feminino, o grupo experiente apresentou significância estatística em
relação ao grupo controle.
A dimensão emocional Controle compreende a capacidade de monitorar o ambiente,
realizar um julgamento sobre o que está ocorrendo e, desse modo, adaptar-se ao ambiente.
É uma particularidade fundamental para a autorregulação e para a adequação ao contexto
(LARA, 2012, p. 165). A monitorização é o primeiro aspecto exercido pela atenção. A
atenção é fundamental quando se deseja focar em algum tópico a ser desenvolvido mais
intensamente, que é a capacidade de concentração em uma fala ou tarefa. Em suma, a
capacidade de focar faz com que se consiga terminar tarefas, por manter a concentração e
conseguir executar todas as etapas do processo (LARA, 2012, p. 165).
247

A dimensão emocional Controle envolve responsabilidade e disciplina, o que significa


que o indivíduo é capaz de realizar, inclusive, aquilo que não gostaria de fazer, como pagar
contas, chegar no horário, realizar tarefas tediosas que requerem a capacidade de abrir mão
da zona de conforto ou do prazer e aceitar aquilo que é correto fazer. O controle pode
favorecer a execução de diversas tarefas e adaptação ao meio, além da função de estabilizar
as emoções e o humor (LARA, 2012, p. 166).
Sobre a dimensão emocional Controle, ser experiente e do sexo feminino ressalta
como o papel feminino é imprescindível na doutrina do Santo Daime, em funções
primordiais, por exemplo, a preparação do ambiente da igreja (que envolve a limpeza,
arrumação, decoração com flores), a condução dos cantos durante o ritual, o importante
papel da madrinha na direção, coordenação e funções desenvolvidas na igreja. No Centro
Luz Divina, são as mulheres que fazem o acolhimento e a recepção dos novatos, inclusive a
entrevista de anamnese.
Embora o papel feminino tenha destaque em funções primordiais dentro da doutrina
daimista, ela é conduzida, essencialmente, por membros masculinos (padrinho e outros
membros), que direcionam o ritual: a escolha e manuseio da bebida Ayahuasca que será
utilizada no trabalho do dia, a seleção dos membros (masculinos e femininos) que ocuparão
a mesa central, a condução da abertura do ritual, a invocação dos vivas (“Viva o Divino Pai
Eterno! Viva a Rainha da Floresta! entre outros), a distribuição da bebida Ayahuasca durante
o ritual, assim como a importante cerimônia do feitio da bebida (CEMIN, 2002, p. 360;
ICEFLU, 2020; POLARI, 1995, p. 247). Nesse sentido, ser experiente do sexo feminino
caracteriza uma complementaridade em relação à posição ocupada pelos homens dentro da
doutrina do Santo Daime.
Existe uma hierarquia, tanto no domínio divino, no qual a Rainha da Floresta (Nossa
Senhora da Conceição) é quem comanda, quanto no domínio terrestre, representado pelo
Chefe Império Juramidam (Mestre Irineu) que, juntamente com os membros mais graduados
(General, Coronel e Major), formam o Estado Maior da doutrina daimista (FRÓES, 1986, p.
43). Muitos elementos presentes no ritual do Santo Daime são bastante semelhantes à vida
na caserna, que até há pouco tempo era, no Brasil, exclusivamente masculina. A organização
do Santo Daime fundada pelo mestre Irineu assume a forma de “exército”, pois os seus
adeptos se cognominam “Soldados da Rainha da Floresta”, organizados em forma de
“batalhões” (masculino e feminino); o ritual de entrada na doutrina é o “fardamento”, o uso
248

da farda é obrigatório no ritual (roupa cerimonial); após a abertura do trabalho, toma-se o


Daime e se faz a leitura do “Decreto de Serviço”; o “comandante” é quem faz o primeiro
movimento para o início do bailado; a “marcha” é um dos passos praticados no bailado; o
maracá é a “arma espiritual” que dá o ritmo dos hinos e sugere o movimento das “tropas da
Rainha em marcha”; a “hierarquia” na ocupação dos lugares na mesa central; o comando
“fora de forma” que é anunciado pelo dirigente, por volta da meia noite, que é o “primeiro
tempo” (intervalo do hinário); o padrinho (dirigente) ocupa um lugar central na doutrina.
Assim, o conjunto mesa-dirigente-irmandade são alguns dos dispositivos rituais geradores de
poder, organizados em uma formação padronizada, como um exemplo de ordem e disciplina
(CEMIN, 2002, p. 355; GROISMAN, 1999, p. 71; ICEFLU, 2020; POLARI, 1995, p. 64).
No que diz respeito à atenção e à concentração, ambas são fundamentais durante o
ritual do Santo Daime, tanto para seguir as normas e regras como para absorver os
ensinamentos que são apresentados em forma de canto (hinos) (GROISMAN, 1999, p. 62). É
importante ressaltar que o adepto está sob o efeito psicodisléptico da bebida Ayahuasca, o
que faz com que ele tenha que empreender um esforço maior para prestar atenção e se
concentrar (BARBOSA, et al., 2016; PALHANO-FONTES et al., 2015).
Embora apenas duas dimensões emocionais da AFECTS tenham apresentado
significância estatística, é importante verificar os resultados das demais dimensões
emocionais alcançadas pelos participantes do presente estudo. A Tabela 24 exibe as
dimensões emocionais com os resultados para cada grupo, controle e estudo (experiente e
iniciante), indicando as médias DP, classificação (muito baixa, baixa, média, alta e muito
alta), de acordo com os escores das dimensões emocionais da AFECTS.
249

Tabela 24 – Dimensões emocionais da AFECTS apresentadas por grupo, média e classificação

Dimensões emocionais da AFECTS

Dimensões Grupo Média (DP) Classificação


Experiente 47,00 (±4,13) Alta
Iniciante 43,62 (±4,44) Alta
Vontade
Controle 42,68 (±4,39) Alta
Total 44,43 (±4,62) Alta
Experiente 18,37 (±2,09) Média
Iniciante 17,93 (±3,83) Média
Impulso
Controle 18,25 (±2,79) Média
Total 18,19 (±2,93) Média
Experiente 21,56 (±3,34) Alta
Iniciante 21,50 (±3,75) Alta
Cautela
Controle 22,43 (±2,98) Alta
Total 21,83 (±3,33) Alta
Experiente 33,37 (±8,40) Baixa
Iniciante 32,93 (±10,52) Baixa
Raiva
Controle 32,56 (±7,21) Baixa
Total 32,96 (±8,63) Baixa
Experiente 16,37 (±4,28) Média
Iniciante 17,87 (±3,70) Média
Medo
Controle 17,68 (±3,49) Média
Total 17,31 (±3,82) Média
Experiente 33,81 (±6,53) Baixa
Iniciante 35,06 (±8,16) Baixa
Sensibilidade Emocional
Controle 34,87 (±6,69) Baixa
Total 34,58 (±7,03) Baixa
Experiente 43,68 (±6,34) Alta
Iniciante 46,50 (±6,31) Alta
Maturidade
Controle 46,06 (±6,81) Alta
Total 45,42 (±6,47) Alta
Experiente 44,31 (±6,12) Alta
Iniciante 45,81 (±5,26) Alta
Controle
Controle 43,87 (±6,71) Alta
Total 44,33 (±6,03) Alta
Experiente 16,25 (±4,29) Média
Iniciante 18,75 (±5,62) Média
Ansiedade
Controle 18,25 (±4,91) Média
Total 17,75 (±4,99) Média
Experiente 19,50 (±3,42) Alta
Iniciante 20,25 (±3,82) Alta
Estabilidade
Controle 21,43 (±2,82) Alta
Total 20,40 (±3,40) Alta
Notas: DP: desvio padrão; classificação: escores das dimensões emocionais de acordo
com Lara (2012, p. 133).
250

Nota-se, na Tabela 24, que a classificação de cada uma das dimensões emocionais,
para todos os grupos (controle e estudo), foi idêntica, ou seja, cada uma das dimensões
emocionais apresentou escores semelhantes que resultaram na mesma classificação.
Todos os grupos do presente estudo (controle e estudo) alcançaram escores altos nas
dimensões emocionais Vontade, Cautela, Maturidade (coping), Controle e Estabilidade (ver
Tabela 24), caracterizando os temperamentos estáveis (obsessivo, eutímico e hipertímico);
já Impulso, Medo e Ansiedade apresentaram escores médios e em Raiva e Sensibilidade
Emocional foram escores baixos.
Observa-se que o perfil de temperamento do usuário da bebida Ayahuasca do
presente estudo foi o contrário do estudo de Leite (2014), quando comparadas as
dimensões emocionais. Leite (2014) verificou que abusadores e dependentes do álcool
pontuaram mais baixo nas dimensões emocional Vontade e Maturidade (coping). A mesma
autora afirma que o consumo de álcool também foi associado com baixo Controle,
Estabilidade e Cautela, mas com alta Raiva, Ansiedade e Impulso.
A Tabela 25 mostra o coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões
emocionais da AFECTS do grupo estudo (experiente e iniciante).

Tabela 25 – Coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões emocionais da AFECTS do grupo estudo
(experiente e iniciante)

Coeficiente de correlação de Pearson entre as dimensões emocionais da AFECTS do grupo estudo


Sens. Emocional

Estabilidade
Maturidade

Ansiedade
Controle
Vontade

Impulso

Cautela

Medo
Raiva

Vontade 1,00 -0,21 0,33 -0,25 -0,15 -0.29 0,47* 0,35 -0,27 0,38*
Impulso -0,21 1,00 -0,48* 0,58* 0,19 0,43* -0,16 -0,30 0,46* -0,17
Cautela 0,33 -0,48* 1,00 -0,30 0,10 -0,09 0,33 0,56* 0,05 0,50*
Raiva -0,25 0,58* -0,30 1,00 0,14 0,59* -0,40* -0,36* 0,58* -0,25
Medo -0,15 0,19 0,10 0,14 1,00 0,44* -0,22 -0,20 0,07 0,12
Sens. Emocional -0,29 0,43* -0,09 0,59* 0,44* 1,00 -0,14 -0,17 0,51* -0,23
Maturidade 0,47* -0,16 0,33 -0,40* -0,22 -0,14 1,00 0,72 0,03 0,44*
Controle 0,35* -0,30 0,56* -0,36* -0,20 -0,17 0,72* 1,00 0,09 0,49*
Ansiedade -0,27 0,46* 0,05 0,58* 0,07 0,51* 0,03 0,09 1,00 0,06
Estabilidade 0,38* -0,17 0,50* -0,25 0,12 -0,23 0,44* 0,49* 0,06 1,00
Nota: *: significativo para p≤0,05.
251

O Gráfico 1 apresenta o coeficiente de correlação de Pearson das dimensões


emocionais da AFECTS do grupo estudo (experiente e iniciante).

Gráfico 1 – Coeficiente de correlação de Pearson das dimensões emocionais da AFECTS do grupo estudo
(experiente e iniciante)

Vontade

Impulso
Vontade

Cautela
Impulso

Sensibilidade Emocional
Raiva
Cautela ❋

Medo
Raiva ❋

Maturidade
Medo

Sensibilidade Emocional ❋ ❋ ❋

Controle

Ansiedade
Maturidade ❋ ❋

Estabilidade
Controle ❋ ❋ ❋

Ansiedade ❋ ❋ ❋

Estabilidade ❋ ❋ ❋ ❋

-1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1


Nota: ❋ significativo para p<0,05;

Pode-se verificar, no Gráfico 1, o coeficiente de correlação de Pearson que


apresentou significância estatística (p≤0,05), representado por um asterisco no centro do
círculo, as correlações positivas estão pintadas na cor azul, e as correlações negativas, na cor
laranja: Vontade apresentou correlações positivas com maturidade (r=0,47) e estabilidade
(r=0,38); Impulso exibiu correlação positiva com raiva (r=0,58), ansiedade (r=0,46) e
sensibilidade emocional (r=0,43), porém, apresentou correlação negativa com relação à
cautela (r=-0,48); Cautela mostrou correlação positiva com controle (r=0,56) e estabilidade
(r=0,50), porém, exibiu correlação negativa com impulso (r=-0,48); Raiva apresentou
correlação positiva com sensibilidade emocional (r=0,59), ansiedade (r=0,58) e impulso
(r=0,58), no entanto, mostrou correlação negativa sobre maturidade (r=-0,40) e controle (r=-
0,36); Medo denotou correlação positiva com sensibilidade emocional (r=0,44);
Sensibilidade emocional apresentou correlação positiva com raiva (r=0,59), ansiedade
(r=0,51), medo (r=0,44) e impulso (r=0,43); Maturidade exibiu correlação positiva com
252

controle (r=0,72), vontade (r=0,47) e estabilidade (r=0,44), contudo, apresentou correlação


negativa com raiva (r=-0,40); Controle apontou correlação positiva com maturidade (r=0,72),
cautela (r=0,56) e estabilidade (r=0,49), porém, denotou correlação negativa com raiva (r=-
0,36); Ansiedade mostrou correlação positiva com raiva (r=0,58), sensibilidade emocional
(r=0,51) e impulso (r=0,46); Estabilidade denotou correlação positiva com cautela (r=0,50),
controle (r=0,49), maturidade (r=0,44) e vontade (r=0,38).
No Gráfico 1, constata-se que a dimensão emocional Vontade está correlacionada
positivamente com as dimensões emocionais Maturidade e Estabilidade, desse modo,
parece que essas características representam o grupo experiente, não só pelo tempo
prolongado de uso ritual da Ayahuasca, mas também pelo tempo de permanência na
doutrina. Já a dimensão emocional Controle está correlacionada, positivamente, com as
dimensões emocionais Maturidade, Estabilidade e Cautela e, negativamente, com Raiva, o
que pode caracterizar o grupo experiente feminino dentro da doutrina daimista.
Em relação aos “Tipos Afetivos” da AFECTS (melancólico, evitativo, apático,
ciclotímico, disfórico, volátil, eutímico, hipertímico, obsessivo, irritável, desinibido e
eufórico), foi realizada análise descritiva, pois não foi possível realizar análise estatística
devido ao número reduzido de casos na amostra para o número de categorias desta variável.
Logo, as análises estatísticas sugeridas por Lara (2012, p. 120) sobre os temperamentos
afetivos Introvertidos (melancólico, evitativos e apático), Instáveis (ciclotímico, disfóricos e
volátil), Estáveis (eutímico, hipertímico e obsessivo) e Extrovertidos (irritável, desinibido e
eufórico) não foram possíveis.
Os resultados referentes à escolha do perfil de temperamento “Tipos Afetivos” que
melhor descreve os participantes em função do tipo de grupo e sexo pode ser visualizado
nos Gráficos 2 e 3.
O Gráfico 2 apresenta as características dos Tipos Afetivos, divididos em grupo
controle e estudo (experiente e iniciante), de participantes do sexo masculino.
253

Gráfico 2 – Características dos Tipos Afetivos (AFECTS) por grupo controle e estudo (experiente e iniciante) e
participantes do sexo masculino (N=24)

Eufórico
Desinibido
Irritável
Obsessivo
Hipertímico
Eutímico
Volátil
Disfórico
Ciclotímico
Apático
Evitativo
Melancólico

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Controles Iniciantes Experientes


(n=8) (n=8) (n=8)

Nota: os indivíduos tiveram que escolher a descrição do temperamento afetivo que


melhor se ajustaram ao seu perfil. N = 24 (100% homens).
Nota: Extrovertidos (pontilhado cinza); Estáveis (pontilhado vermelho); Instáveis
(pontilhado verde); e Introvertidos (pontilhado roxo).

No Gráfico 2, observa-se que, no grupo de homens experientes, um (12,5%) se


descreveu como Eufórico, três (37,5%) como Hipertímicos, um (12,5%) como Disfórico e três
(37,5%) como Evitativos, enquanto no grupo de homens iniciantes dois (25,0%) se referiram
como Obsessivos, três (37,5%) como Hipertímicos, um (12,5%) como Eutímico, um (12,5%)
como Volátil e um (12,5%) como Melancólico. Por último, no grupo de homens controle,
sete (87,5%) se descreveram como Hipertímicos e um (12,5%) como Eutímico.
O Gráfico 3 apresenta as características dos Tipos Afetivos, divididos em grupo
controle e estudo (experiente e iniciante) de participantes do sexo feminino.
254

Gráfico 3 – Características dos Tipos Afetivos (AFECTS) por grupo controle e estudo (experiente e iniciante) e
participantes do sexo feminino (N=24)

Eufórico
Desinibido
Irritável
Obsessivo
Hipertímico
Eutímico
Volátil
Disfórico
Ciclotímico
Apático
Evitativo
Melancólico

0 10 20 30 40 50 60

Controles Iniciantes Experientes


(n=8) (n=8) (n=8)

Nota: os indivíduos tiveram que escolher a descrição do temperamento afetivo que


melhor se ajustaram ao seu perfil. N = 24 (100% mulheres).
Nota: Extrovertidos (pontilhado cinza); Estáveis (pontilhado vermelho); Instáveis
(pontilhado verde); e Introvertidos (pontilhado roxo).

Verifica-se, no Gráfico 3, que no grupo de mulheres experientes, duas (25,0%) se


descreveram como Obsessivas, três (37,5%) como Hipertímicas e três (37,5%) como
Eutímicas, enquanto no grupo de mulheres iniciantes, uma (12,5%) se referiu Irritável,
quatro (50,0%) como Hipertímicas, uma (12,5%) como Eutímica, uma (12,5%) como Disfórica
e uma (12,5%) como Evitativa. Por último, no grupo de mulheres controle, uma (12,5%) se
descreveu Eufórica, uma (12,5%) como Irritável, uma (12,5%) como Obsessiva, uma (12,5%)
como Hipertímica, uma (12,5%) como Ciclotímica e três (37,5%) como Evitativas.
Obtiveram classificação de Temperamento Estáveis:
o 100,0% do grupo controle masculino (87,5% Hipertímico e 12,5% Eutímico);
o 37,5% do grupo experiente masculino (37,5% Hipertímico); e
o 75,0% do grupo iniciante masculino (25,0% Obsessivo, 37,5% Hipertímico e
12,5% Eutímico);
o 25,0% do grupo controle feminino (12,5% Obsessiva e 12,5% Hipertímica);
o 100,0% do grupo experiente feminino (25,0% Obsessiva, 37,5% Hipertímica e
37,5% Eutímica); e
o 62,5% do grupo iniciante feminino (50,0% Hipertímica e 12,5% Eutímica).
255

De acordo com Lara (2012, p. 180), os indivíduos de temperamento Estáveis


(obsessivo, eutímico e hipertímico) apresentam altos escores de Vontade, Controle e
Maturidade (coping). No presente estudo, os participantes obtiveram classificação alta
nessas dimensões (ver Tabela 24). As diferenças principais dos Obsessivos estão na Inibição,
na Raiva e na Sensibilidade um pouco maiores que os outros dois (Eutímico e Hipertímico).
Os Hipertímicos tendem a ter mais desinibição, impulso e vontade, enquanto os Eutímicos
apresentam menor raiva. Os três tipos afetivos são previsíveis, responsáveis, dedicados,
ativos e têm boa capacidade de suportar reveses; quando abalados, apresentam maior
facilidade em se recuperar (LARA, 2012, p. 138).
Todos os participantes do grupo estudo (experiente e iniciante) obtiveram
classificação alta na dimensão emocional Controle (ver Tabela 24), que é uma propriedade
essencial para a regulação e a adequação ao contexto. Outro aspecto importante dessa
dimensão emocional é a capacidade de organizar as informações e o ambiente, o que
implica em habilidades cognitivas. Assim, para que a mente funcione em harmonia, é
necessário haver controle, e este funciona mais ou menos como uma boia em uma caixa
d’água, monitorando e mantendo o nível da água estável (LARA, 2012, p. 83; LARA et al.,
2012a). Em relação ao humor, o Controle alto favorece a sua estabilidade ao longo do
tempo, por exemplo, quando acontecem situações estressantes ou traumáticas, a baixa
sensibilidade ajuda a fazer com que o impacto seja menor, a Maturidade (coping) ativa ajuda
a encontrar soluções e a evoluir, e a Vontade oferece energia para superar as situações e
prosseguir com a vida (LARA, 2012, p. 85).
Em conclusão, todas as mulheres do grupo experiente obtiveram classificação do
temperamento “Estáveis” e atingiram escores significativos na dimensão emocional
Controle, enquanto o grupo experiente, de ambos os sexos, sobressaiu-se na dimensão
emocional Vontade. Considerando apenas o grupo estudo (experiente e
iniciante), observou-se que a dimensão emocional Vontade está correlacionada
positivamente com as dimensões emocionais Maturidade (coping) e Estabilidade; e a
dimensão emocional Controle está correlacionada positivamente com as dimensões
emocionais Maturidade (coping), Estabilidade e Cautela, e negativamente com Raiva.
256

4.6 Religiosidade

A Tabela 26 indica a religião de referência dos participantes do presente estudo,


distribuídos em grupo controle e grupo estudo (experiente e iniciante).

Tabela 26 – Religião de referência dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante)

Religião de referência

Grupo controle Grupo estudo


Religião Controle (n=16) Experiente (n=16) Iniciante (n=16)
n (%) n (%) n (%)
Santo Daime – 16 (100,00) 16 (100,00)
Católica 11 (68,75) – –
Espírita Kardecista 1 (6,25) – –
Umbanda 1 (6,25) – –
Evangélica
Assembleia de Deus 1 (6,25) – –
Batista 1 (6,25) – –
Luterana do Brasil 1 (6,25) – –
Total 16 (100,00) 16 (100,00) 16 (100,00)

Segundo os dados apresentados na Tabela 26, no grupo controle, 11 pessoas


referiram ser Católicas, uma Espírita Kardecista, uma Umbandista e três Evangélicas
(Assembleia de Deus, Batista e Luterana do Brasil); no grupo estudo (experiente e iniciante),
todas pertencem ao Santo Daime.
A Tabela 27 apresenta as características do grupo estudo (experiente e iniciante)
quanto ao tempo de uso da bebida Ayahuasca, frequência de uso atual, no passado e como
conheceu o Santo Daime.
257

Tabela 27 – Características do grupo estudo (experiente e iniciante) quanto ao tempo de uso da bebida
Ayahuasca, frequência de uso atual, no passado e como conheceu o Santo Daime

Características do tempo e frequência de uso da bebida Ayahuasca e como conheceu o Santo Daime

Grupo estudo
Experiente (n=16) Iniciante (n=16)
Teste estatístico p
Média (DP) Média (DP)
Tempo médio de uso (meses) 321,0 (73,64) 15,94 (12,45) t (30)=16,33 0,001*
Última vez que usou (dias) 8,56 (7,72) 10,36 (7,34) t (30)=-0,68 0,502
n (%) n (%)
Frequência de uso atual
Mensal 4 (25,00) 1 (6,25)
Quinzenal 11 (68,75) 13 (81,25) Χ² = 2,30 0,317
Semanal 1 (6,25) 2 (12,50)
Diariamente 0 (0,00) 0 (0,00)
Frequência de uso no passado
Mensal 2 (12,50) 4 (25,00)
Quinzenal 8 (50,00) 12 (75,00)
Χ² = 7,46 0,058
Semanal 5 (31,25) 0 (0,00)
Diariamente 1 (6,25) 0 (0,00)
Como conheceu o Santo Daime
Amigos 11 (68,75) 11 (68,75)
Familiares 5 (31,25) 3 (18,75)
Χ² = 2,50 0,475
Ouviu falar e procurou 0 (0,00) 1 (6,25)
Marido/Esposa 0 (0,00) 1 (6,25)
2
Nota: DP: desvio padrão; t: teste t de Student; X : teste Qui-quadrado; *: significativo para p≤0,05.

Em relação ao tempo de uso da Ayahuasca do grupo estudo (experiente e iniciante),


o menor tempo de uso no grupo iniciante foi de 2 meses (duas mulheres e dois homens),
enquanto no grupo experiente foi de 20 anos (uma mulher) e 23 anos (um homem). O maior
tempo de uso no grupo iniciante foi de 36 meses (duas mulheres e um homem) e no grupo
experiente foi de 44 anos (uma mulher).
Conforme retratado na Tabela 27, o tempo médio de uso da Ayahuasca entre o
grupo experiente foi de 321,0 meses (26,7 anos) e para o grupo iniciante foi de 15,9 meses.
Em relação ao último uso da Ayahuasca, o grupo iniciante fez uso, em média, nos últimos 10
dias, e o grupo experiente, nos últimos 8 dias. A grande maioria dos adeptos do Santo Daime
conheceu a doutrina por meio de amigos. Quanto à frequência de uso da bebida Ayahuasca
para os grupos iniciante e experiente, tanto uso atual quanto no passado, a maior parte faz
uso quinzenal.
A Tabela 28 apresenta as características da História religiosa/espiritual dos
participantes do presente estudo divididos em grupo controle e grupo estudo (experiente e
258

iniciante). O teste ANOVA mostrou efeito significante entre grupos sobre uma dimensão da
BMMRS-P, História religiosa/espiritual, especificamente entre as medidas Mudança de vida
[F(2,45) = 7,13; p=0,002] e Recompensa com a fé [F(2,45) = 8,26; p=0,001]; a medida Perda
significativa da fé não apresentou efeito significante entre nenhum dos grupos.

Tabela 28 – Características da História religiosa/espiritual dos grupos controle e estudo (experiente e iniciante)

História religiosa/espiritual

Grupo controle Grupo estudo


Teste
Controle (n=16) Experiente (n=16) Iniciante (n=16) p
estatístico
n (%) n (%) n (%)
Mudança de vida
Sim 8 (50,00) 16 (100,00) 13 (81,25) Χ² = 11,55 0,003*
Não 8 (50,00) 0 (0,00) 3 (18,75)
Recompensa fé
Sim 9 (56,25) 15 (93,75) 16 (100,00) Χ² = 12,09 0,002*
Não 7 (43,75) 1 (6,25) 0 (0,00)
Perda significativa fé
Sim 2 (12,50) 3 (18,75) 5 (31,25) Χ² = 1,76 0,413
Não 14 (87,50) 13 (81,25) 11 (68,75)
Notas: X2: teste Qui-quadrado; *: significativo para p≤0,05.

Pode-se constatar, na Tabela 28, que as medidas Mudança de vida e Recompensa


com a fé indicaram significância estatística entre o grupo controle e o grupo estudo
(experiente e iniciante). 100% do grupo experiente apresentou Mudança de vida em sua
história religiosa/espiritual. E 100% do grupo iniciante declarou modificação na medida
Recompensa com a fé em sua história religiosa/espiritual, conforme relatos abaixo.

“O Daime foi uma revelação, uma mudança de grade valia... radical! Posso te dizer que
mudou completamente minha vida. Mudou minha vida como se eu tivesse renascido, por
exemplo, as pessoas que eu tinha contato, socialmente, antes do Daime, hoje não nem me
reconhecem [...] por isso eu te falei da mudança, é radical mesmo! Foi apresentado o meu
verdadeiro eu [...]” (NF58E).

“Ocorreu mudança sim, na minha vida depois que eu conheci o Santo Daime [...] e fez muito
bem pra minha vida, mudou radicalmente, né?!” (SM53E).

“Então, mudou tudo na minha vida, hoje eu tenho uma concepção diferente do que é minha
fé, minha verdade interna, o que é meu princípio religioso, né?!” (RM24I).
259

Como verificado nos relatos dos participantes do presente estudo, o processo de


mudança de vida e recompensa com a fé parece determinante após o encontro com a
doutrina do Santo Daime, tanto entre os integrantes do grupo iniciante quanto entre os do
grupo experiente.
Pelaez (2002, p. 482) relata que as vivências rituais, de transcendência, têm um
grande poder, pois podem produzir mudanças profundas nos valores e nas estratégias de
vida. Assim, a principal transformação na vida do daimista é o sentimento de ter “acordado”,
reconhecer a existência de um mundo invisível, no entanto verdadeiro. De acordo com a
mesma autora, a partir dessa convicção, os adeptos expressam ter maior consciência nos
seus atos de vida, da capacidade de autocrítica e na disposição para modificar pensamentos
e condutas consideradas erradas.
Couto (2002, p. 391) menciona a possibilidade de transformação desencadeada pelo
uso da bebida Ayahuasca que está estreitamente relacionada ao aparato simbólico cultural
associado a essa transformação, que atribui à bebida um status relevante, sagrado, de
poder, como “planta professora”, pertinente às forças invisíveis e culturais de seu uso
milenar.
A Tabela 29 apresenta as diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e
iniciante), em relação às outras 10 dimensões da BMMRS-P. O teste MANOVA mostrou
efeito significante entre grupos nas dimensões: Experiência espiritual diária [F(2,45) = 7,186;
p=0,001], Superação religiosa e espiritual [F(2,45) = 4,496; p=0,017], Comprometimento
horas/semana [F(2,45) = 6,004; p=0,004], Religiosidade organizacional [F(2,45) = 8,477; p=0,001]
e Autoavaliação global [F(2,45) = 5,048; p=0,010].
260

Tabela 29 – Análise das diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante), em relação às
dimensões da BMMRS-P, avaliado pelo teste MANOVA

MANOVA – dimensões da BMMRS-P

Soma dos Quadrado


Dimensões Média (DP) df F p
Quadrados Médio
Experiências espirituais diárias 27,54 (±5,16) 303,042 2 151,521 7,186 0,001*
Valores/crenças 6,91 (±1,90) 2,167 2 1,083 0,291 0,749
Perdão 10,27 (±1,34) 3,292 2 1,646 0,901 0,413
Práticas religiosas particulares 24,95 (±6,05) 129,042 2 64,521 1,823 0,173
Superação religiosa e
24,47 (±2,50) 49,292 2 24,646 4,496 0,017*
espiritual
Suporte religioso 12,33 (±2,16) 10,667 2 5,333 1,143 0,328
Comprometimento 4,39 (±1,30) 8,167 2 4,083 2,577 0,087
Comprometimento
11,14 (±17,83) 3148,667 2 1574,333 6,004 0,005*
horas/semana
Religiosidade organizacional 7,87 (±2,73) 96,125 2 48,063 8,477 0,001*
Autoavaliação global 6,37 (±1,08) 10,125 2 5,063 5,048 0,010*
Nota: DP: desvio padrão; df: graus de liberdade; *: significativo para p≤0,05.

A Tabela 30 apresenta as diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e


iniciante), segundo teste post hoc Tukey b, para aquelas dimensões da BMMRS-P que
apresentaram significância estatística: Experiências espirituais diárias, Superação religiosa e
espiritual, Comprometimento hora/semana, Religiosidade organizacional e Autoavaliação
global.

Tabela 30 – Diferenças entre os grupos controle e estudo (experiente e iniciante) nas dimensões da BMMRS-P,
segundo teste post hoc Tukey b

Teste post hoc Tukey b† das dimensões da BMMRS-P

Grupo controle Grupo estudo


Dimensões Controle (16) Experiente (16) Iniciante (16) F p
Média (DP) Média (DP) Média (DP)
Experiências espirituais diárias(a) 24,00 (±5,96) 29,06 (±4,40) 29,56 (±2,87) 7,186 <0,05*
Superação religiosa e espiritual(b) 23,06 (±3,41) 25,38 (±1,14) 25,00 (±1,86) 4,496 <0,05*
Comprometimento hora/semana(b) 1,81 (±2,00) 21,56 (±25,8) 10,06 (±10,7) 6,004 <0,05*
Religiosidade organizacional(a) 5,88 (±3,13) 8,94 (±2,08) 8,81 (±1,68) 8,477 <0,05*
Autoavaliação global(b) 5,81(±1,27) 6,94 (±0,85) 6,38 (±0,80) 5,048 <0,05*
Nota: São exibidas as médias para os grupos em subconjuntos homogêneos.
Nota: †: usa o tamanho de amostra de média harmônica = 16,000.
Notas: DP: desvio padrão; F: ANOVA; *: significativo para p≤0,05; a: grupo estudo ≠ grupo controle;
b: grupo experiente ≠ grupo controle.
261

Ocorreu significância estatística entre o grupo estudo (experiente e iniciante) e o


grupo controle na dimensão Experiência espiritual diária (ver TABELA 30). Para a irmandade
do Santo Daime, a bebida Ayahuasca tem a função de ensinar a estabelecer uma ligação com
Deus, ela é considerada “um ser”, assim é possível compreender as origens dos problemas.
Os adeptos acreditam que por meio da natureza é que se chega a Deus, e é a bebida
Ayahuasca o sagrado da natureza (DE ASSIS; FARIA; LINS, 2014), conforme pode ser
averiguado no relato a seguir.

“O Daime, ele é um ser divino que nós colocamos pra dentro da gente, que nos desperta, o
inconsciente, né?! simbolicamente o cipó dá a força e a folha traz a luz.” (EF52E).

É importante ressaltar que os hinários são considerados os portadores por excelência


do corpo religioso e doutrinário do Santo Daime. Todo o conhecimento necessário é passado
por meio dos hinos e “O Cruzeiro”, do Mestre Irineu, o hinário é tronco da doutrina daimista
(GROISMAN, 1999, p. 72; POLARI, 1995, p. 233; REHEN, 2016). Os hinos são mensagens do
astral que ensinam, repreendem, elogiam e disciplinam; constituem um parâmetro seguro
para compreender o momento em que vive a comunidade, apontando soluções para muitos
problemas (FRÓES, 1986, p. 123). Fróes (1986, p. 123) afirma que as pessoas mais
desenvolvidas (aparelhos) dentro da doutrina têm a capacidade de transmitir com clareza as
ordens divinas. O conjunto dos principais hinários já foi chamado pelos discípulos do Santo
Daime de Terceiro Testamento (LABATE; PACHECO, 2009, p. 97; REHEN, 2016). Fróes (1986,
p. 129) relata que os hinos funcionam como um sistema de comunicação entre a realidade
(ordinária) e o mundo espiritual (não ordinária), atuando como ponte psicológica, sendo um
foco de atenção dos adeptos do ritual e guiando a suas percepções. Nesse sentido, a
combinação entre a bebida Ayahuasca e os hinos forma o cerne do aprendizado religioso e
espiritual para os daimistas, fortalecendo a experiência espiritual diária entre os adeptos.

“Morar na comunidade pra mim é se dedicar aos trabalhos com os hinários, o correto é
participar ativamente dos trabalhos, zelar dos cantos, porque a doutrina é cantada [...]”
(NF58E).
262

A maioria dos entrevistados do grupo estudo (72%) moram na Comunidade Céu de


Midam. O calendário dos trabalhos no Santo Daime é extenso, assim como as atribuições
dos adeptos nos rituais. A proximidade entre essas pessoas e suas rotinas pode ter
contribuído na medida Experiência espiritual diária.
Foi observada diferença significativa entre o grupo experiente e o grupo controle em
relação à dimensão Superação religiosa/espiritual, mas não entre iniciante e demais grupos
(ver TABELA 30). Para Groisman (1999, p. 76), o ritual do Santo Daime é, ao mesmo tempo,
um evento estruturante da vida social e um espaço-momento de contato com o mundo
espiritual, ou seja, a pessoa está social, cultural e simbolicamente destinada a enfrentar o
que o “Daime” (bebida Ayahuasca) faz emergir; no idioma daimista, a pessoa “se entrega”. O
mesmo autor ressalta que, para realizar esse enfrentamento, cada integrante faz parte do
exército da rainha, recebe proteção, pois pertence a uma irmandade que está em batalha;
nesse momento, cada um é guerreiro, e a guerra é a luta pela doutrinação e pela salvação.

“[...] O Daime vai mostrar pra mim, de alguma forma, o que eu posso melhorar, o que eu fiz
de errado [...] e o Daime vai e renova, a gente limpa, reconhece [...]” (EF52E).

“Bem, eu conheci o Daime com quinze anos. Então, eu tive uma mudança significativa, mais,
eu vejo em mim mais do que isso, que é uma construção, então o Daime construiu, né! me
construiu, como cidadão, como ser humano, acreditando nesses princípios, nesses valores
que estão dentro da doutrina mesmo, né!” (CM38E).

A grande maioria dos discípulos do Santo Daime que foram entrevistados no


presente estudo se sentem pertencendo a uma batalha, tanto pessoal como com a natureza,
reconhecem que o Daime lhes dá uma identidade espiritual e que, a partir da prática e do
engajamento doutrinário, é possível acreditar, ter confiança, e trabalhar no “Daime” (bebida
Ayahuasca) seus comportamentos para uma transformação pessoal.

“[...] depois que eu comecei a tomar o Daime eu me sinto mais, mais forte! mais
determinada, o que eu quero, eu.... no lado espiritual, eu também sinto essa garra [...] eu
sinto mais confiante depois do Daime [...]” (DF57I).
263

Segundo Pelaez (2002, p. 485), os daimistas apresentam mudanças nas relações com
o corpo, pois o corpo passa a ser percebido como um recinto sagrado e nele reflete o
espírito humano. Ao compreender que o corpo deve estar a serviço do espírito, e não o
contrário, os daimistas vão aprendendo a dominar os impulsos de prazer ou gratificações
para manter o “aparelho” limpo, evitando intoxicá-lo com comidas pesadas, drogas,
medicamentos, álcool, vida desregrada, entre outros. Devido a essas mudanças, segundo a
mesma autora, muitas vezes a pessoa emagrece, em geral, isto é interpretado
positivamente, pois a diminuição de peso corporal é vista como uma eliminação de
excedentes do organismo até chegar ao equilíbrio, isto é, uma “limpeza” viabilizada pelo
Santo Daime.

“Mudei todos os meus hábitos, assim, né?! desde, do alimentar, das noitadas, das
bebedeiras, das drogueiras, né?! daquele mundo, assim, maluco que a gente enfrentava [...]
e o Daime, ele me deu essa freada, ele me colocou assim... é.... num outro modo de vida,
uma coisa mais simples.” (MF61E).

A doutrina do Santo Daime não deixa clara a proibição total do uso de tabaco e de
bebidas alcóolicas. Labate (2005, p. 411) expõe que na UDV e na Barquinha não se permite
que os adeptos façam uso de bebidas alcóolicas, no entanto o CEFLURIS também não
recomenda o uso, nomeadamente três dias antes e depois dos rituais. Em relação ao uso de
tabaco, também é recriminado tanto na UDV como Barquinha, nesta última, a exceção é o
uso de charutos/cachimbos fumados durante os trabalhos pelas entidades espirituais; mas
não é alvo de preocupações entre os daimistas, embora seja proibido fumar próximo das
áreas onde se localiza a igreja.
Constata-se diferença significativa entre o grupo experiente e o grupo controle na
dimensão Comprometimento horas/semana, entretanto o grupo iniciante não apresentou
diferença significativa com nenhum grupo (ver TABELA 30). A dedicação do grupo experiente
em horas/semana, em média, por participante foi de 21,5 horas. É importante ressaltar que
essas horas correspondem às atividades voltadas para a doutrina ou razões religiosas, não
foram computadas, aqui, as horas dedicadas aos rituais (que têm duração média entre
quatro e doze horas, dependendo do tipo de trabalho). Assim, o grupo experiente se
264

dedicou o dobro (21,5 horas) que o grupo iniciante (10,0 horas) e 12 vezes mais que o
controle (1,8 horas).

“[...] morar num espaço desse aqui (comunidade), onde eu vivo com a minha família, é um
privilégio. No sentido de que eu posso estar mais próximo da natureza, mais próximo dos
ideais que eu acredito, pro bem-estar e desenvolvimento, tanto físico quanto moral, ético e
espiritual de toda a minha família. Meu filho gosta muito, também. A gente brinca muito
aqui na mata, né?! E.... é um exercício diário a gente fazer as mudas [...] do cipó e da rainha,
então a gente tenta conciliar isso com um aprendizado para a vida [...]” (CM38E).

O comprometimento ou compromisso religioso encontrado no grupo experiente


pode estar intimamente relacionado à religiosidade intrínseca, ou seja, quão comprometida
a pessoa é com suas crenças religiosas (CURCIO; LUCCHETTI; MOREIRA-ALMEIDA, 2016, p.
465). O adepto do Santo Daime tem na religião seu bem maior. Nesse sentido, o significado
religioso/espiritual, geralmente, foi internalizado ao longo do tempo, de tal forma que os
preceitos e as crenças dão sentido à sua existência (KOENIG; BÜSSING, 2010; STROPPA;
MOREIRA-ALMEIDA, 2008, p. 428).
Verifica-se diferença significativa do grupo estudo (experiente e iniciante), em
relação ao grupo controle, na dimensão Religiosidade organizacional (ver TABELA 30). De
acordo com as normas do ICEFLU (2020), os trabalhos realizados no Santo Daime seguem o
calendário oficial, que é o conjunto de serviços espirituais realizados durante o ano.
Constituem direito e obrigação dos adeptos participar de todos os trabalhos relacionados
pelo ICEFLU (hinários, missas, concentrações e trabalhos de cura), incluindo os dois
trabalhos de concentrações mensais, realizados todos os dias 15 e 30 de cada mês,
independente do dia da semana. É importante ressaltar que o principal trabalho da doutrina
do Santo Daime são os hinários do calendário oficial, que é bastante extenso.
No grupo estudo, tanto iniciante quanto experiente, ficou evidente o
comprometimento com os rituais do Santo Daime. Segundo Mortimer (2018, p. 144), para
ser um daimista autêntico é necessário ter boa conduta, ser honesto e cumprir os
compromissos, enfim, ter palavra forte e verdadeira. No entanto, um requisito básico para
ser considerado um irmão, segundo Mestre Irineu, é a lealdade.
265

“Foi uma experiência muito gratificante pra mim, porque eu pude viver intensamente
[comunidade] com a irmandade, né?! Então a gente tem os rituais, a gente tem os
compromissos com a irmandade [...] eu pude criar meus filhos, né?! dentro dessas ideologias
que tem, né!... na comunidade, de uma forma muito mais tranquila, né?!... a gente, falando
todo mundo a mesma língua, foi muito bom, foi muito prazeroso pra mim.” (EF52E).

A religião do Santo Daime funciona como um espaço educativo, no qual circulam


saberes, entre os quais se podem destacar os saberes cognitivos, estéticos, ecológicos e
medicinais. Nesse contexto de uso religioso da Ayahuasca, podem-se ressaltar, também, os
saberes existenciais e os relacionados à promoção da paz. São aprendizagens relativas ao
amor, à caridade, à harmonia e à devoção (ALBUQUERQUE, 2011, 2012, 2017).

“[...] em vê o mundo um pouco diferente, com mais clareza. Vendo o mundo de outra forma,
com mais amor, com mais carinho. Aprendendo a zelar do que é bom, e.... também tem me
trazido muita paz, amor, carinho e dedicação [...] me trazido muitas coisas boas [...] só tenho
a agradecer.” (FM28I).

Nos ritos do Santo Daime, os fiéis (fardados) devem realizar um preparo, abster-se
sexualmente, não ingerir álcool, manter dieta livre de carne e coibir pensamentos e atos
negativos, ou seja, ter consciência do ato a ser desempenhado; a ideia principal é afastar a
atenção das tarefas mais corriqueiras e ordinárias (CEMIN, 2002, p. 353; COUTO, 2002, p.
394). Quando no ritual, que tem duração de quatro a doze horas, os adeptos têm a
obrigação de compor a “corrente”, permanecer no trabalho cantando, bailando e atentos,
ou seja, participando ativamente do ritual. Para os não fardados (visitantes), essa
participação é facultativa, devendo apenas permanecer no espaço do templo relativo ao seu
sexo, respeitar os fiscais, não cruzar os braços ou pernas e permanecer no espaço ritual
(templo ou terreiro), até que os trabalhos se encerrem (COUTO, 2002, p. 397; GROISMAN,
1999, p. 74).
O ritual do Santo Daime, por meio de seus múltiplos agentes (bebida, música,
cânticos e dança), estabelece uma relação especial com os participantes, sensibilizando
todos os sentidos e conduzindo-os a outras dimensões de significado, espaço e tempo
(CEMIN, 2002, p. 352). Mortimer (2018, p. 74) afirma que na música está a magia da
266

comunicação que toca o coração e a mente do adepto, assim, os hinos despertam os


sentimentos nobres, que estabelecem um canal para fluir o amor, o perdão e a cura. Logo a
“eficácia” do Daime (bebida Ayahuasca) apenas funciona dentro do contexto ritual religioso
(mestres, padrinhos, liturgia e convenções), portanto, o Daime não é eficaz “sem
mediações” (LABATE, 2004).
Por fim, observa-se a diferença significativa entre o grupo experiente e o grupo
controle na dimensão Autoavaliação global, mas não entre iniciante e demais grupos (ver
TABELA 30). Viver em uma comunidade daimista, como o faz a maioria do grupo experiente
(94%), é uma vivência de disponibilidade à doutrina. As pessoas do grupo experiente
possuem um convívio de mais de duas décadas com a doutrina do Santo Daime, e
consequentemente, são as guardiãs da doutrina, são os modelos para os iniciantes.
Provavelmente essas variáveis influenciaram a medida Autoavaliação global, que remete à
autorreferência sobre o quão religioso/espiritualizado o indivíduo se considera
(PARGAMENT; PARK, 1995).

“O Daime é uma escola de conhecimento, sou muito aplicada, obediente.... tenho mais
facilidade de trabalhar essa parte espiritual. Vivo aqui [comunidade] mais isolada.” (NF58E).

“Então, acredito que é uma oportunidade enorme de poder vivenciar na prática aquilo que a
gente canta nos hinos, né?! é que na comunidade onde a gente consegue vivenciar os
aspectos que a gente trata lá dentro dos rituais, né?! [...] Então, é o espaço da prática, e é
um estilo de vida, é uma mudança do estilo de vida mesmo, de como a gente olhar o nosso
dia a dia, de como olhar pra gente, de como a gente olhar os sinais da vida. Então é muito
gostoso, eu gosto muito. Viver aqui pra mim é um presente.” (CM38E).

Os hinos, além do uso ritual, onde se chama a “força do astral”, fazem parte do dia a
dia dos adeptos, mantendo-os ligados ao “poder”. É comum, nos lares daimistas, que os
hinos estejam sendo reproduzidos por meio de gravações ou cantados ao vivo por um, ou
mais componentes da família. De acordo com Cemin (2002, p. 358), são mensagens muito
respeitadas no cotidiano, pois recordam um fato ou pessoa, o discípulo fica atento para
decifrar o sentido desse tipo de ocorrência. Labate e Pacheco (2009, p. 33) elucidam que a
música ocupa, no dia a dia dos daimistas, um papel preeminente, que remete à produção de
267

significados religiosos e à construção da subjetividade dos discípulos, por exemplo, tornar


mais intensas as mirações, no surgimento de diversos sentimentos, como melancolia, êxtase
e comunhão, possibilidade de investigação subjetiva interior, revelação religiosa, entre
outros. Foi bastante comum encontrar famílias da comunidade que preservam as práticas de
ouvir e/ou cantar os hinos no dia a dia.
Cada trabalho realizado na doutrina tem suas particularidades, por exemplo, o feitio
do Daime (bebida Ayahuasca), que é realizado, geralmente, na última lua nova do mês, é um
trabalho árduo que envolve toda a comunidade por dias a fio de trabalho. Tudo isso
contribui para a satisfação que a irmandade expressa por se encontrar inserida em um
mundo específico, instituído por um agrupamento humano peculiar, com linguagem, ideias,
cultura e pensamentos assemelhados, que representam aquilo que o grupo entende por
“harmonia divinal” (CEMIN, 2002, p. 364).
No Centro Luz Divina é comum, ao final dos trabalhos, tomar uma sopa com a
irmandade, momento em que os irmãos ficam reunidos em torno dos seus dirigentes.
Conversam sobre amenidades, como se constituíssem uma família, brincam uns com os
outros, contam casos, piadas e, também, relatos sobre as experiências espirituais
vivenciadas nos trabalhos. A simplicidade funciona como uma argamassa nas relações sociais
entre todos, o reconhecimento entre iguais reforça ainda mais o pertencimento à irmandade
daimista.
Conclui-se que os adeptos daimistas do grupo experiente apresentaram elevados
escores de religiosidade, quando comparados aos grupos iniciante e controle. Das 11
dimensões de Religiosidade/Espiritualidade da BMMRS-P, o grupo experiente apresentou
maiores índices em relação ao grupo controle em três dimensões, foram elas: Superação
religiosa e espiritual, Comprometimento horas/semana e Autoavaliação global. Já o grupo
estudo (experiente e iniciante) foi melhor que o grupo controle em três dimensões: História
religiosa/espiritual, Experiências espirituais diárias e Religiosidade organizacional. Nesse
sentido, o grupo experiente mostrou maior religiosidade em seis dimensões, o dobro que o
grupo iniciante. O grupo controle apresentou escores inferiores de religiosidade, quando
comparado ao grupo estudo (experiente e iniciante). Em suma, o grupo experiente obteve
maiores escores de religiosidade no presente estudo avaliado pela BMMRS-P.
A religiosidade desenvolvida dentro de um contexto religioso sugere modificações
importantes para o indivíduo, como: autoconhecimento, crescimento pessoal, melhora nas
268

relações sociais positivas e experiências espirituais. Nesse sentido, tais aspectos podem
promover relação positiva com a qualidade de vida e o bem-estar espiritual. No entanto,
ainda se sabe muito pouco sobre os efeitos neuroquímicos e psicológicos da bebida
Ayahuasca em relação ao tempo do consumo. Apesar disso, é valoroso reconhecer o uso da
bebida Ayahuasca em contexto religioso, assim como a riqueza de sua história cultural
brasileira.
269

5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
270

5.1 Biologia Química das Ayahuascas

Foi realizada a identificação dos alcaloides (DMT, HRM, HRL e THH) presentes, tanto
nas bebidas Ayahuasca quanto nas plantas que a compõem (P. viridis e B. Caapi), porém, não
foram quantificados.

5.2 Etnografia

Não foi possível participar de nenhum feitio (produção) de “Daime” (bebida


Ayahuasca), no Centro Luz Divina, pois os adeptos não autorizaram nossa participação em
determinado momento do projeto, embora tivessem nos convidado a participar do feitio
anteriormente. Assim, nesse tópico não foi possível realizar análise na profundidade
adequada para uma Etnografia, de tal modo que as informações sobre o feitio foram obtidas
por meio da literatura daimista e de autores egrégios ao tema.
Em relação ao critério de escolha do tipo de bebida Ayahuasca que é oferecida ao
adepto e/ou ao ritual (subseção 4.2), não foi possível obter informações nem por intermédio
do padrinho/madrinha nem pelo ICEFLU.

5.3 Avaliação da cognição, temperamento e religiosidade

Os dados foram coletados por meio de um estudo transversal, constituído por uma
amostra de conveniência.
Estudos transversais, investigações com recorte único no tempo possuem menor
capacidade para estabelecer relações de causa e efeito, no entanto, é importante lembrar
que uma relação de associação não sugere, necessariamente, uma relação de causalidade.
Estudos com esse tipo de delineamento apresentam vantagens que podem ser atribuídas a
diversos fatores, como a definição de uma população de interesse (geral ou específica), que
pode ser estudada por meio de amostragem, baixo custo, facilidade de realização, rapidez
com que é empregado e a objetividade na coleta de dados (BASTOS; DUQUIA, 2007).
No presente estudo, não foram pareados no QI pré-mórbido os grupos estudo
(experiente e iniciante) e controle, ou seja, não foram realizadas avaliações sobre o declínio
cognitivo que aponta uma discrepância entre o nível de funcionamento anterior (a uma
271

lesão ou situação de declínio pré-mórbido) e o estado atual dos indivíduos (ALVES; SIMÕES;
MARTINS, 2014). Portanto, não foi possível identificar se as diferenças encontradas nos
testes neuropsicológicos são devidas a diferenças preexistentes nas habilidades cognitivas
ou se a Ayahuasca usada em contexto ritual é responsável pelas diferenças observadas,
principalmente entre o grupo experiente. Tarefas neuropsicológicas e, principalmente,
testes de memória de trabalho, são influenciados pelo QI (OBERAUER et al., 2005), estudos
futuros devem controlar esta variável. No entanto, existe uma dificuldade em se ter acesso a
populações que usam Ayahuasca em contexto ritual, principalmente usuários de longo
prazo.
Nenhum instrumento para avaliar transtornos psiquiátricos foi utilizado neste
estudo, o que pode ter gerado um viés de autosseleção, mencionado anteriormente
(amostra de conveniência). Provavelmente, os indivíduos avaliados foram aqueles que não
tiveram consequências neuropsiquiátricas negativas derivadas do uso contínuo de
Ayahuasca. Uma hipótese é que os indivíduos com consequências adversas podem ter
abandonado completamente o uso da Ayahuasca e, consequentemente, não estavam entre
os usuários de longo prazo, acessíveis ao pesquisador deste estudo. Futuras investigações
sobre os efeitos neuropsiquiátricos do uso da Ayahuasca também devem incluir pessoas que
usaram Ayahuasca regularmente no passado, mas decidiram interromper seu uso. Nesse
sentido, não é possível extrapolar os resultados deste estudo para outras populações.
Não foi realizada a triagem do uso de drogas psicoativas por meio de nenhum
instrumento. Foi incluído um item: “histórico do uso de substâncias” na entrevista de
anamnese realizada com todos os voluntários, mas não foi identificado nenhum uso, abuso
ou dependência de drogas psicotrópicas no momento da entrevista.
Em relação aos instrumentos utilizados, verificou-se que a WASI, como todas as
escalas breves, apresenta limitações, pois algumas habilidades cognitivas avaliadas em
baterias completas não são consideradas neste instrumento, por exemplo, habilidades
numéricas, percepção visual de detalhes, sequência lógico-temporal, maturidade social e
análise e síntese de objetos (CUNHA, 2000, p. 529).
Uma limitação da Tarefa de Alcance de Dígitos, de acordo com Kessels et al. (2000), é
a existência de diferentes versões desta tarefa, o que dificulta a compreensão da validade
externa do instrumento.
272

Para o Cubos de Corsi, o maior problema diz respeito à ausência de uma versão
padronizada da tarefa (KESSELS et al., 2000). Há versões que diferem na disposição dos
cubos, nas cores dos cubos e algumas delas possuem número de ensaios diferentes para
cada sequência. Em alguns casos, são aplicadas as ordens direta e inversa, e em outros,
apenas a ordem direta. Há, ainda, versões computadorizadas e não computadorizadas, essa
variedade de apresentação do instrumento dificulta a compreensão de sua validade externa.
O teste Figuras Complexas de Rey apresenta limitação em relação ao tempo de
execução da tarefa cópia e reprodução de memória, pois os indivíduos que executarem a
tarefa corretamente, em menor tempo, acabam penalizados. Por exemplo, um indivíduo de
40 anos que executou a tarefa cópia em 3 minutos recebeu classificação percentil 50. Logo,
se ele demorasse mais tempo, por exemplo, 5 minutos, ficaria classificado no percentil 90,
ou seja, quanto mais tempo demorar, melhor classificado. O que não é verdadeiro, pois uma
pessoa pode executar a tarefa cópia corretamente em um tempo igual ou inferior a 3
minutos (OLIVEIRA et al., 2004).

5.4 Temperamento

Foi realizada a análise descritiva dos “Tipos Afetivos” da AFECTS (melancólico,


evitativo, apático, ciclotímico, disfórico, volátil, eutímico, hipertímico, obsessivo, irritável,
desinibido e eufórico), pois não foi possível realizar análise estatística devido ao número
reduzido de casos na amostra para o número de categorias desta variável. Logo, as análises
estatísticas sugeridas por Lara (2012, p. 120) sobre os temperamentos afetivos Introvertidos
(melancólico, evitativos e apático), Instáveis (ciclotímico, disfóricos e volátil), Estáveis
(eutímico, hipertímico e obsessivo) e Extrovertidos (irritável, desinibido e eufórico) não
foram possíveis.

5.5 Religiosidade

Os adeptos daimistas do grupo experiente apresentaram elevados escores de


religiosidade, quando comparados ao grupo iniciante e controle. Todavia, é importante que
se realizem estudos cujo objetivo seja comparar a religiosidade de pessoas que vivem em
comunidades de outras religiões, pois esta não foi a finalidade deste estudo.
273

6 CONCLUSÕES
274

Algumas conclusões foram levantadas a partir dos resultados encontrados no


presente estudo:

6.1 Biologia Química das Ayahuascas

¨ Foram confirmadas as identidades das plantas Psychotria viridis Ruiz & Pav. (família
Rubiaceae) e Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (família Malpighiaceae),
da Comunidade Céu de Midam, por meio da taxonomia botânica; foi realizado o
depósito, de ambas as plantas, no Herbário da Universidade Federal de São Paulo
(HUFSP), Campus Diadema, São Paulo.
¨ Nas bebidas Ayahuascas, não foram identificados os alcaloides DMT, HRM e HRL em
nenhuma das duas amostras cedidas pelo Centro Luz Divina, via UHPLC-HRMS;
apenas a THH foi detectada em ambas as amostras, confirmada por meio do íon
pseudomolecular protonado = m/z 217.1340, via UHPLC-HRMS.
¨ Foi identificada a presença do alcaloide DMT no extrato aquoso quente das folhas de
P. viridis, confirmada por meio do íon pseudomolecular protonado = m/z 189.1381,
via UHPLC-HRMS, coletadas da Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP.
¨ Houve apenas a detecção da THH no extrato aquoso quente de caules de B. caapi,
confirmada por meio do íon pseudomolecular protonado = m/z 217.1340, via UHPLC-
HRMS, coletados em Cotia – SP.

6.2 Etnografia

¨ Jonas Frederico foi o fundador do Centro Eclético da Fluente Luz Universal Flor de Luz
(CEFLUFLUZ), na Comunidade Céu de Midam, Piedade – SP, em 02 de dezembro de
1992.
¨ Carlos Eduardo Durão e Eunice Durão fundaram o Centro Luz Divina, em Piedade –
SP, em 15 de novembro de 2002.
¨ A Comunidade Céu de Midam é uma das maiores comunidades daimistas do Brasil,
com 32 casas construídas.
275

¨ Foi constatado que existem diferentes tipos de bebidas Ayahuasca, e não apenas
uma. Provavelmente, elas se diferenciem pela duração do tempo de preparo
(decocção), pela diversidade e proporção das plantas utilizadas, que pode resultar
em concentrações diferentes (compostos ativos).

6.3 Sociodemográfico

¨ Os dados sociodemográficos do grupo estudo (experiente e iniciante) e controle


foram homogêneos, assim como a distribuição por sexo. Não houve significância
estatística entre os grupos em relação à idade, ao estado civil, à escolaridade, ao tipo
de trabalho e à condição socioeconômica.

6.4 Cognição

¨ Em relação ao desempenho intelectual, apresentaram desempenho na média o


grupo experiente e o grupo controle; o grupo iniciante, média inferior, quando são
comparadas as pessoas do mesmo sexo e faixa etária.
¨ O grupo experiente obteve desempenho superior em relação ao grupo iniciante na
tarefa Cubos de Corsi e em Dígitos, tanto na Ordem Direta (OD) quanto na Ordem
Indireta (OI), assim como no escore da diferença entre OD e OI (>3 dígitos). Ambas as
tarefas envolvem memória de trabalho, verbal e visuoespacial, respectivamente.
Esses dados sugerem um achado inédito entre os usuários experientes de Ayahuasca,
em contexto ritual.
¨ Os participantes do presente estudo parecem não apresentar comprometimentos
cognitivos ou neuropsicológicos, pois os resultados dos testes denotaram
preservação global das funções cognitivas avaliadas.
276

6.5 Temperamento

¨ Evidências significativas da dimensão emocional Vontade foram identificadas apenas


no grupo experiente.
¨ Em relação à dimensão emocional Controle, houve interação entre grupo e sexo, ou
seja, as mulheres do grupo experiente se sobressaíram nesta dimensão emocional.
¨ Considerando apenas o grupo estudo (experiente e iniciante), observou-se que a
dimensão emocional Vontade está correlacionada positivamente com as dimensões
emocionais Maturidade (coping) e Estabilidade; e a dimensão emocional Controle
está correlacionada positivamente com as dimensões emocionais Maturidade
(coping), Estabilidade e Cautela, e negativamente com Raiva.
¨ Observou-se que, no temperamento, obtiveram classificação Estáveis:
o grupo masculino: 100,0% do controle, 37,5% do experiente e 75,0% do iniciante;
o grupo feminino: 25,0% do controle, 100% do experiente e 62,5% do iniciante.

6.6 Religiosidade

¨ O grupo controle apresentou escores inferiores de religiosidade, quando comparado


ao grupo estudo (experiente e iniciante).
¨ O grupo experiente apresentou elevados escores de religiosidade, quando
comparado ao grupo iniciante e controle.
¨ Das 11 dimensões de Religiosidade/Espiritualidade da BMMRS-P, o grupo experiente
apresentou maiores índices em relação ao grupo controle, em três dimensões, foram
elas: Superação religiosa e espiritual, Comprometimento horas/semana e
Autoavaliação global.
¨ O grupo estudo (experiente e iniciante) foi melhor que o grupo controle em três
dimensões: História religiosa/espiritual, Experiências espirituais diárias e
Religiosidade organizacional.
¨ Assim, o grupo experiente mostrou maior religiosidade em seis dimensões, o dobro
que o grupo iniciante. Em suma, o grupo experiente obteve maiores escores de
religiosidade avaliados pela BMMRS-P, no presente estudo.
277

7 REFERÊNCIAS
278

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313

8 ANEXOS
314

ANEXO A – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP.


UNIFESP - HOSPITAL SÃO
PAULO - HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DA

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DA EMENDA

Título da Pesquisa: A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAHUASCA EM CONTEXTO RITUAL NA


COGNIÇÃO, TEMPERAMENTO E RELIGIOSIDADE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE
USUÁRIOS EXPERIENTES E INICIANTES DO CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE, S.P.
Pesquisador: ARILTON MARTINS FONSECA
Área Temática:
Versão: 3
CAAE: 73943917.7.0000.5505
Instituição Proponente: Universidade Federal de São Paulo
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 2.877.224

Apresentação do Projeto:
Projeto CEP/UNIFESP n: 1005/2017

Introdução: a palavra Ayahuasca é originária da língua quéchua e significa:


"Aya" (pessoa morta, alma, espírito), e "Wasca" (corda, liana, cipó); assim, sua tradução para o português
"corda dos mortos". A Ayahuasca é utilizada tradicionalmente para fins rituais, composta por duas
plantas,Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae) que possui em suas folhas o alcalóide alucinógeno N,
Ndimetiltriptamina (DMT) e a Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae) que é um cipó
e possui alcalóides ß-carbolínicos que são
potentes inibidores reversíveis da monoaminoxidase (MAO-A).

Objetivo da Pesquisa:
Verificar a influência do consumo em contexto ritual da Ayahuasca em relação ao “temperamento emocional
e afetivo”, “cognição” e “religiosidade” entre usuários experientes e iniciantes; comparando e correlacionado
estas variáveis.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Não se aplica

Endereço: Rua Francisco de Castro, 55


Bairro: VILA CLEMENTINO CEP: 04.020-050
UF: SP Município: SAO PAULO
Telefone: (11)5571-1062 Fax: (11)5539-7162 E-mail: cep@unifesp.edu.br

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UNIFESP - HOSPITAL SÃO
PAULO - HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DA
Continuação do Parecer: 2.877.224

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:


Trata-se da apresentação de emenda ao protocolo a saber:

1) alterações no resumo:
De: Introdução: a palavra Ayahuasca é originária da língua quéchua e significa: “Aya” (pessoa morta, alma,
espírito), e “Wasca” (corda, liana, cipó); assim, sua tradução para o português “corda dos mortos”. A
Ayahuasca é utilizada tradicionalmente para fins rituais, composta por duas plantas, Psychotria viridis Ruiz &
Pav. (Rubiaceae) que possui em suas folhas o alcalóide alucinógeno N, N-dimetiltriptamina (DMT) e a
Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae) que é um cipó e possui alcalóides ß-
carbolínicos que são potentes inibidores reversíveis da monoaminoxidase (MAO-A).

Objetivos: verificar a influência do consumo ritual da Ayahuasca em relação ao “temperamento emocional e


afetivo”, “cognição” e “religiosidade” entre usuários experientes e iniciantes; comparando e correlacionado
estas variáveis. Materiais e Métodos: será um estudo transversal; os sujeitos deste estudo serão 40
(quarenta) frequentadores da Comunidade Midam, que utilizem Ayahuasca em rituais religiosos, maiores de
18 anos de idade, de ambos os sexos; os 40 (quarenta) indivíduos serão distribuídos em dois grupos em
relação ao tempo de uso ritual da Ayahuasca: grupo de usuários experientes (20 indivíduos com tempo
superior a 20 anos) e grupo de usuários iniciantes (20 indivíduos com tempo inferior a 2 anos). Serão
aplicados, de maneira individual, os seguintes instrumentos: Questionário de dados sociodemográficos;
Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI); Escala Composta de Temperamento Emocional e
Afetivo (AFECTS); Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P). Para
análise dos dados serão utilizadas provas estatísticas descritivas e inferenciais, tanto para avaliar os
indivíduos quanto para compará-los entre si (usuários experientes e usuários iniciantes) e ainda para
correlacionar as variáveis: “temperamento afetivo e emocional”, “cognição” e “religiosidade” entre estes dois
grupos de usuários. Será considerada diferença estatisticamente significativa se p<0,05.

Para: Introdução: a palavra Ayahuasca originária da língua quéchua significa: “Aya” (pessoa morta, alma,
espírito), e “Wasca” (corda, liana, cipó); sendo sua tradução para o português “corda dos mortos”. A
Ayahuasca é uma bebida consumida originalmente em rituais religiosos, composta por

Endereço: Rua Francisco de Castro, 55


Bairro: VILA CLEMENTINO CEP: 04.020-050
UF: SP Município: SAO PAULO
Telefone: (11)5571-1062 Fax: (11)5539-7162 E-mail: cep@unifesp.edu.br

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UNIFESP - HOSPITAL SÃO
PAULO - HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO DA
Continuação do Parecer: 2.877.224

duas plantas, Psychotria viridis que possui em suas folhas o alcalóide psicodisléptico N, N-dimetiltriptamina
(DMT) e a Banisteriopsis caapi, um cipó que possui alcaloides ß-carbolínicos, potentes inibidores reversíveis
da monoaminoxidase (MAO-A). Objetivo principal: Verificar a influência do consumo da bebida Ayahuasca,
em contexto religioso, em relação à “cognição”, “temperamento emocional e afetivo” e “religiosidade” entre
usuários experientes (que vem consumindo a bebida por mais de 20 anos) e iniciantes (que vem
consumindo a bebida há menos de 3 anos), no Centro Luz Divina, Piedade, SP. Materiais e Métodos: por
meio da Etnografia – entrevistas não-estruturadas, observação participante e diário de campo - serão
coletas informações sobre a história de formação do Centro Luz Divina e os aspectos que envolvem seus
rituais durante o qual é consumida a bebida Ayahuasca. Métodos da botânica serão utilizados para a coleta
das plantas utilizadas na confecção de cada bebida de Ayahuasca confeccionada e oferecida no referido
centro. Para cada bebida será realizado o registro da respectiva receita por meio da etnografia, bem como
suas análises químicas por LC-MS/MS, para que se possa quantificar seus alcaloides. Para a coleta dos
dados sobre o efeito das bebidas na “cognição”, “temperamento” e “religiosidade” dos frequentadores do
referido centro será conduzido um estudo transversal. Serão selecionados 60 (sessenta) sujeitos que
utilizem Ayahuasca em rituais religiosos, com idade superior a 18 anos, de ambos os sexos. Eles serão
distribuídos em dois grupos (G1 usuários experientes e G2 usuários iniciantes). Serão aplicados os
seguintes instrumentos: Questionário de dados sociodemográficos; Escala Wechsler Abreviada de
Inteligência (WASI); Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS); Medida
Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P). A análise estatística dos resultados
buscará dados comparativos por sexo (homens experientes versus homens iniciantes e mulheres
experientes versus mulheres iniciantes), idade e escolaridade. As provas estatísticas serão descritivas e
inferenciais (usuários experientes e usuários iniciantes); e correlacionará as variáveis: “temperamento
afetivo e emocional”, “cognição” e “religiosidade” com o tempo de uso da ayahuasca. Será considerada
diferença estatisticamente significativa aquela cujo valor de p seja menor que 0,05. Os dados etnográficos
serão analisados por meio de análise de conteúdo. Resultados esperados: As análises sobre a “cognição”,
“temperamento” e “religiosidade” fornecerão dados relevantes para se determinar até que ponto o uso
contínuo e a longo prazo destas bebidas são favorecidas ou desfavorecidas quando comparadas a usuários
de curto prazo. As correlações entre as diferentes bebidas oferecidas no referido centro - do ponto de vista
botânico, da sua forma de preparo e composição química serão relevantes, não apenas para embasar as
análises do efeito da bebida sobre os sujeitos, alvo deste estudo, mas também para que se conheça os

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princípios ativos do ponto de vista quantitativo e qualitativo presentes nestas bebidas. Esta análise não foi
encontrada na literatura até o momento, tendo, portanto, um apelo forte para que seja estabelecida, e para
que seja um ponto de partida para futuras investigações em outros centros dessa religião no Brasil.

2) alteração no título:

De: A INFLUENCIA DO CONSUMO RITUAL DA AYAYHUASCA NA COGNICAO, RELIGIOSIDADE,


TEMPERAMENTO EMOCIONAL E AFETIVO: UMA COMPARACAO ENTRE USUARIOS EXPERIENTES E
INICIANTES

Para: A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAHUASCA EM CONTEXTO RITUAL NA COGNIÇÃO,


TEMPERAMENTO E RELIGIOSIDADE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE USUÁRIOS EXPERIENTES E
INICIANTES DO CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE, S.P.

3) Alteração na hipótese:

De: O consumo ritual da Ayahuasca, por usuarios experientes, influencia positivamente no temperamento
emocional e afetivo, nos aspectos cognitivos e na religiosidade; em relacao aos iniciantes.
Para: 3. HIPÓTESES - Os usuários experientes de Ayahuasca apresentam melhor performance nas escalas
avaliadas: “temperamento emocional e afetivo”, “cognição” e religiosidade/espiritualidade”, em relação aos
usuários iniciantes.
As diferentes bebidas de Ayahuasca oferecidas durante o ritual religioso no Centro Luz Divina possuem
diferentes concentrações de alcalóides N, N, dimetiltriptamina e ß-carboninas (harmina, harmalina e
tetrahidroharmina).

4) Objetivo Geral
De: 2 OBJETIVOS - Verificar a influencia do consumo em contexto ritual da Ayahuasca em relacao ao
“temperamento emocional e afetivo”, “cognicao” e “religiosidade” entre usuarios experientes e iniciantes;
comparando e correlacionado estas variaveis.
Para: 2. OBJETIVO GERAL - Verificar a influência do consumo da bebida Ayahuasca, em

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contexto ritual religioso, em relação à “cognição”, “temperamento emocional e afetivo” e


“religiosidade/espiritualidade” entre usuários experientes (que vem consumindo a bebida por mais de 20
anos) e iniciantes (que vem consumindo a bebida há menos de 3 anos), no Centro Luz Divina, Piedade, SP.

5) CRITERIOS DE INCLUSAO DOS SUJEITOS


De: 3.3.1 CRITERIOS DE INCLUSAO DOS SUJEITOS - Os sujeitos maiores de 18 anos de idade, de
ambos os sexos, que utilizem Ayahuasca em rituais religiosos na Comunidade Midam e comunidades dos
arredores; que nao apresentem transtornos mentais.
3.3.2 CRITERIOS DE INCLUSAO DOS SUJEITOS POR TEMPO DE USO
40 (quarenta) individuos serao distribuidos em dois grupos em relacao ao tempo de uso da Ayahuasca:
1) Grupo de usuarios experientes - 20 (vinte) individuos com tempo superior a 20 anos de uso ritual da
Ayahuasca.
2) Grupo de usuarios iniciantes - 20 (vinte) individuos com tempo inferior a 2 anos de uso ritual da
Ayahuasca.

Para: 4.5.3. CRITÉIROS DE INCLUSÃO E ELEGIBILIDADE DOS SUJEITOS - Serão selecionados sujeitos
de ambos os sexos na faixa etária acima de 18 anos, capazes, saudáveis, que utilizem Ayahuasca em
rituais religiosos no Centro Luz Divina, que não apresentem transtornos mentais.

4.5.4. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E ELEGIBILIDADE DOS SUJEITOS POR TEMPO DE USO


Sessenta (60) indivíduos, de ambos os sexos, serão distribuídos em dois grupos em relação ao tempo de
uso da Ayahuasca:
1) Grupo de usuários experientes - 30 (trinta) indivíduos que venham consumindo a bebida em contexto
ritual continuamente por mais de 20 anos.
2) Grupo de usuários iniciantes - 30 (trinta) indivíduos que venham consumindo a bebida em contexto ritual
há menos de 3 anos.

INCLUSÕES

1) Foram inclusos como professores CO-ORIENTADORES no projeto: o Prof. Dr. THIAGO ANDRÉ

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MOURA VEIGA e Profa. Dra. LÍVIA SOMAN DE MEDEIROS.

2) Foi incluída justificativa


1.2 JUSTIFICATIVA
A Ayahuasca é uma bebida da Amazônia de uso centenário, talvez até milenar, difundida pelo território
brasileiro e pelo mundo nas últimas décadas. Estudos antropológicos, psiquiátricos e neuropsicológicos,
apontam correlações positivas entre o uso da Ayahuasca e atitudes psicológicas como autoconhecimento,
sentido de vida, crescimento pessoal, relações sociais positivas, domínio de si e do ambiente, autonomia,
melhora na cognição, nas reações afetivas, experiências espirituais e místicas profundas (ASSIS; FARIA;
LINS, 2014; PALHANO-FONTES et al., 2017; RIBA et al., 2006; SCHENGERG et al., 2015). A literatura
fornece elementos significativos sobre o potencial uso da Ayahuasca no tratamento/prevenção da
dependência química, da ansiedade e da depressão, pois ela possui em sua composição química de
alcaloides capazes de inibir a monoaminoxidase (por meio das ß-carboninas), inibir a recaptação seletiva de
serotonina (por meio das ß-carboninas) e de mimetizar a ação do neurotransmissor serotonina (por meio da
N, N, dimetiltriptamina) (CALLAWAY; GROB, 1998; PIRES; OLIVEIRA; YONAMINE, 2010; SANTOS;
BOUSO; HALLAK, 2007; PALHANO-FONTES et al., 2017; RIBA et al., 2006; SCHENGERG et al., 2015). Os
indivíduos que fazem uso da Ayahuasca em contexto ritual relatam mudanças percebidas em decorrência
do consumo da bebida como melhorias na sua qualidade de vida. No entanto, ainda se sabe muito pouco
sobre os efeitos químicos e psicológicos desta bebida em relação ao tempo do consumo.

3) foram inclusos Objetivos específicos

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:


a) Descrever a história da formação da Comunidade Midam no Centro Luz Divina, Piedade, SP;
b) Descrever as plantas envolvidas na confecção das bebidas Ayahuasca no referido Centro;
c) Quantificar os níveis de N, N, Dimetiltriptamina (DMT) e as ß-carbolinas (harmina, harmalina e
tetrahidroharmina) existentes nas bebidas Ayahuasca utilizadas nos rituais religiosos do referido Centro e
d) Descrever e comparar os parâmetros psicológicos “temperamento emocional e afetivo”, “cognição” e
“religiosidade/espiritualidade” entre os grupos de usuários (homens e mulheres) experientes e iniciantes.

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4) Foram inclusos no Método:

A) 3.4.1 ETNOGRAFIA sobre a história do Centro Luz Divina: - Para a coleta das informações sobre a
história de formação do Centro Luz Divina e do ritual religioso do Santo Daime praticado neste centro, serão
utilizados métodos de campo sugeridos pela etnografia, tais como entrevistas não-estruturadas, observação
participante e diários de campo (BERNARD, 1988; FOOTE-WHYTE, 1990). Assim, os seguintes aspectos
serão registrados:
história de formação do Centro Luz Divina;
quais os tipos de bebidas (Ayahuasca) são oferecidos durante os rituais;
como ocorrem os rituais religiosos;
cuidados especiais dos sacerdotes (madrinha e o padrinho) durante o oferecimento das bebidas aos
adeptos;
como ocorre a confecção de cada bebida;
quais as plantas estão envolvidas na confecção de cada bebida e
qual o critério de escolha de cada tipo de bebida ao adepto e/ou ao ritual.
Nas entrevistas não-estruturadas, o pesquisador deve ter fixas para si as perguntas, mas não deve controlar
as respostas do entrevistado. O ideal é que este tipo de entrevistas seja utilizado na medida em que o
pesquisador dispõe de muito tempo para o trabalho de campo (BERNARD, 1988). As entrevistas serão
realizadas com os sacerdotes do centro, lideranças que participaram da sua formação desde o seu início, na
década de 1980 e até os dias de hoje.

B) 3.4.2 COLETA E DEPÓSITO EM HERBÁRIO DO MATERIAL BOTÂNICO: A coleta das plantas utilizadas
na confecção de cada bebida de Ayahuasca será acompanhada pela madrinha/padrinho. Três amostras
coletadas de cada planta serão armazenadas em campo pelo método seco (MORI et al., 1985). Assim, cada
amostra deverá ser arrumada entre folhas de jornais dobradas e empilhadas, amarradas com barbante e
mantidas em prensas de madeira até chegar no herbário, onde sofrerão o processo de desidratação,
durante 3 dias em uma estufa a 60C. Sua identificação taxonômica e depósito serão realizados pela equipe
do Herbário Municipal do estado de São Paulo.

C) 4.4 ANÁLISE QUÍMICA DAS BEBIDAS DE AYAHUASCA: - Depois de terem sido coletadas as plantas e
feitas as observações e anotações sobre as receitas de cada bebida de Ayahuasca, estas serão fornecidas
pelos seus sacerdotes para que se possa quantificar seus alcaloides (N, N,

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Dimetiltriptamina e ß-Carbolinas). Estas bebidas serão acondicionadas em geladeira, tal como é feito no
centro Luz Divina. Para estas análises serão adquiridos do comércio os padrões de N, N, Dimetiltriptamina e
as ß-Carbolinas (harmina, harmalina e tetrahidroharmina) da Sigma.

D) 4.4.1 ANÁLISE POR LC-MS/MS: Os experimentos para análise química dos alcaloides presentes na
bebida serão realizados via cromatografia líquida acoplada ao espectrômetro de massas de alta resolução
(UHPLC-HRMS), em sistema com detector DAD acoplado ao espectrômetro de massas quadrupolo de
tempo de vôo (QTOF) (Bruker, Bremen, Alemanha). O espectrômetro está equipado com fonte de
electrospray (ESI), operada sob a resolução de 18.000 de largura total em meio máximo (FWHM), com
espectros de massa registrados na faixa de 100 a 1200 Da com 5 varreduras/segundo. A separação das
amostras de 1 L será realizada a 40°C em coluna RP Kinetex C18 (100 × 2,1 mm, 2,6 m, Phenomenex,
Torrance, CA, EUA), empregando gradiente linear padrão composto por H2O/CH3CN (90:10 0 : 100, v/v,
ambos tamponados com 20 mM de ácido fórmico) durante 10 min sob a vazão de 0,4 mL/min. Os espectros
UV/Vis serão registrados de 200 a 700 nm. Todos os extratos serão manualmente processados com a ajuda
do software DataAnaysis 4.3 (Bruker).

E) Os seguintes TESTES DE AVALIAÇÃO COGNITIVA foram inclusos:

1) Cubos de Corsi – Cubos de Corsi é um instrumento que avalia o alcance da memória de curto prazo
utilizando a alça visuoespacial. O teste consiste de uma base quadrada com nove blocos idênticos. Blocos
de Corsi ordem direta e inversa (LEZAK et al., 2012), essa prova de memória visuoespacial, na qual a
ordem direta o avaliador toca em alguns blocos e na sequência o sujeito deve realizar os mesmos
movimentos. Conforme a pessoa acerta a sequência, o número de itens a serem tocados aumenta, podendo
chegar até 10. Na ordem inversa o avaliador toca em alguns blocos e na sequência o sujeito deve realizar
os movimentos iniciando do último bloco que foi tocado até o primeiro e, deste modo, realizar a sequência
inversa. Conforme a pessoa acerta a sequência, o número de itens a serem tocados aumenta, podendo
chegar até 10 (CORSI, 1973).

Estudos realizados sobre Cubos de Corsi:

1. CORSI, P.M. Human memory and the medial temporal region of the brain. 1973. Tese de Doutorado.
McGill University, 1973.

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2. LEZAK, M. D. et al. Neuropsychological assessment. Oxford University Press, USA, 2012.

3. SANTOS, F. H., MELLO, C. B. BUENO, O. F. A., DELLATOLAS, G. Cross-cultural differences for three
visual memory tasks in brazilian children. Perceptual and Motor Skills, 101(2), 421-433, 2005.

2) Dígitos (WAIS-III) – O subteste Dígitos está incluído no WAIS-III, constituindo uma medida de atenção e
memória de trabalho. O subteste Dígitos é composto de oito séries para ordem direta e sete para inversa,
havendo um aumento gradual da quantidade de dígitos em cada série. A ordem direta é aplicada em
primeiro lugar, seguida pela inversa, que é administrada independentemente se o examinando fracassa
totalmente na ordem direta. Cada item é formado de dois conjuntos de dígitos constituindo em duas
tentativas, sendo ambas aplicadas. A pontuação máxima no subteste é de 30 pontos, sendo que o resultado
bruto máximo na ordem direta é de 16 pontos enquanto na ordem inversa é de 14 pontos (WECHSLER,
2004).

Teste psicológico validado para a população brasileira:


1. Wechsler, D. WAIS-III: Manual técnico. (Villena, M.C. de, Trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004
(Original publicado em 1997).

3) Figura de Rey – As Figuras de Rey têm por objetivo avaliar a percepção visual e a memória imediata nas
fases de cópia e reprodução de memória. Desse modo, é possível verificar como o sujeito apreende os
dados perceptivos que lhe são apresentados e o que foi conservado espontaneamente pela memória.
Oliveira et al., (2004), realizou estudo para adaptação brasileira do Teste de Figuras Complexas de Rey – A.
Compuseram a amostra 501 sujeitos de ambos os sexos, com idades entre 5 e 65 anos. Na análise de
consistência interna o coeficiente de alfa de Cronbach foi 0,86 para cópia e 0,81 para a memória. A
fidedignidade foi verificada pelo método teste-reteste obtendo-se um coeficiente linear de Pearson de 0,76.
Na avaliação inter-juizes houve concordância em todos os itens. Concluiu-se que o Rey avalia a percepção
visual e a memória imediata de forma precisa.

Estudo sobre validação do Teste Figuras Complexas de Rey


1. OLIVEIRA, Margareth et al. Validação do Teste Figuras Complexas de Rey na população

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brasileira. Aval. psicol., Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 33-38, jun. 2004. Disponível em


<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712004000100004&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 22 jun. 2018.

4) Wisconsin (WCST) – Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) é utilizado na avaliação das
funções executivas, consideradas essenciais para gerenciar o comportamento humano e, por isso,
pertencem a avaliação neuropsicológica de indivíduos normais ou com alterações cognitivas ou
neurocomportamentais de causas diversas. A aplicação computadorizada deste teste tem como benefícios a
precisão na apresentação dos estímulos, feedback, medidas temporais (reação e duração das respostas) e
registro preciso das respostas, eliminando assim possíveis erros na obtenção dos dados e pontuação. A
aplicação pelo examinador permite atividades como encorajamento do sujeito, esclarecimento das regras,
auxilia-lo a focar na tarefa, além de obter dados qualitativos durante o teste que não são possíveis observar
apenas com a pontuação obtida. Os dados obtidos demonstraram similaridades significativas entre as
versões manual e computadorizada do WCST-64 considerando os índices número de acertos, categorias
completadas e número e percentual de erros, indicando possível validade convergente entre as versões
deste teste, tal como foi mencionado em estudos similares, porém com diferenças na metodologia. A
presente pesquisa de validade convergente desses instrumentos foi um primeiro passo para a realização de
estudos futuros que objetivem normatizar as versões computadorizadas na população brasileira (REPPOLD
et al., 2010).

Estudo sobre Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – versão computadorizada:

1. REPPOLD, C. T.; PEDROM, A. C.; TRENTINI, C. M. Avaliação das funções executivas por meio do Teste
Wisconsin de Classificação de Cartas–versão computadorizada. Estudos de testes informatizados para
avaliação psicológica, p. 45-62, 2010.

5) FDT (Test Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos – O FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos
(SEDÓ; PAULA; MALLOY-DINIZ, 2015) é um teste neuropsicológico que avalia as funções cognitivas
(executivas), em especial a atenção sustentada. O objetivo do instrumento é medir a velocidade de
processamento cognitivo, a capacidade de focar e de reorientar a atenção e de lidar com interferências
(subcomponentes controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Uma de suas principais vantagens é que ele
pode ser utilizado em pessoas com baixa instrução, incluindo

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pessoas com baixo domínio da língua ou analfabetas (CAMPOS et al., 2016).

Estudo sobre Teste dos Cinco Dígitos:


1. CAMPOS, M. C. et al. Confiabilidade do Teste dos Cinco Dígitos em adultos brasileiros. J. bras. psiquiatr.,
Rio de Janeiro, v. 65, n. 2, p. 135-139, June 2016. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047- 20852016000200135&lng=en&nrm=iso>.
http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000114.
ACESSO em 25 Junho de 2018.

2. OLIVEIRA, T. D.O., MALLOY-DINIZ, L.F., MAGALHÃES, S., COSTA, D.S., LACERDA, S.R., QUERINO,
E.H.G., et al. Propriedades psicométricas do Teste dos Cinco Dígitos para o contexto brasileiro: estudo
preliminar com a população adulta. In: I Congresso da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia Jovem.
Disponivel em: <https://www.researchgate.net/publication/277873709_
Propriedades_psicometricas_do_Teste_dos_Cinco_Digitos_para_o_contexto_
brasileiro_estudo_preliminar_com_a_populacao_adulta>.

3. SEDÓ, M., PAULA, J. J., MALLOY-DINIZ, L. F. O teste dos cinco dígitos. São Paulo: Hogrefe CETEPP,
2015

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:


carta de alterações apresentada
Recomendações:
sem outras recomendações
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
emenda aprovada
Considerações Finais a critério do CEP:
EMENDA APROVADA

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:


Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação
Informações Básicas PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_119215 01/08/2018 Aceito
do Projeto 7_E1.pdf 17:31:38

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Brochura Pesquisa Projeto_Ayahuasca_Plataforma_Brasil.P 01/08/2018 ARILTON MARTINS Aceito


DF 17:21:47 FONSECA
Projeto Detalhado / Projeto_DR_Arilton_Ayahuasca_final_30 01/08/2018 ARILTON MARTINS Aceito
Brochura _03.docx 17:20:56 FONSECA
Investigador
Folha de Rosto Folha_de_rosto_Ayahuasca_2018.PDF 01/08/2018 ARILTON MARTINS Aceito
17:17:53 FONSECA
Recurso Anexado Carta_alteracoes_01_08_2018.docx 01/08/2018 ARILTON MARTINS Aceito
pelo Pesquisador 16:56:56 FONSECA
TCLE / Termos de TLCE_End_Atualizado_Arilton_06_07_2 01/08/2018 ARILTON MARTINS Aceito
Assentimento / 018.docx 16:52:35 FONSECA
Justificativa de
Ausência
Outros Carta_resposta_comite_Ayahuasca.doc 17/09/2017 ARILTON MARTINS Aceito
x 19:17:49 FONSECA
Outros Carta_Eunice_Ayahuasca_2017.pdf 17/09/2017 ARILTON MARTINS Aceito
19:14:06 FONSECA
TCLE / Termos de TLCE_End_Atualizado_Arilton.docx 17/09/2017 ARILTON MARTINS Aceito
Assentimento / 19:12:26 FONSECA
Justificativa de
Ausência
Outros CEP_Ayahuasca_2017.pdf 19/08/2017 ARILTON MARTINS Aceito
11:08:22 FONSECA

Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não

SAO PAULO, 05 de Setembro de 2018

Assinado por:
Miguel Roberto Jorge
(Coordenador)

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ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP - UNIFESP
SÃO PAULO – SP – BRASIL

UNIFESP – CENTRO DE ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS E ETNOFARMACOLÓGICOS


Pesquisador Responsável: Arilton Martins Fonseca
Endereço: Rua Prof. Artur Riedel, 275 - Jardim Eldorado - CEP: 09972-270 – Diadema – SP
Fones: (11) 33193554, celular: (11) 985857140 - e-mail: ariltonmf@gmail.com

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Sr. (a) está sendo convidado (a) como voluntário (a) para participar da seguinte pesquisa:

1. Nome do projeto: “A INFLUÊNCIA DO CONSUMO DA AYAYHUASCA EM CONTEXTO RITUAL NA


COGNIÇÃO, RELIGIOSIDADE E TEMPERAMENTO EMOCIONAL E AFETIVO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE
USUÁRIOS EXPERIENTES E INICIANTES DO CENTRO LUZ DIVINA, PIEDADE, S.P.”

2. Objetivos: Verificar a influência do consumo ritual da Ayahuasca em relação ao “temperamento


emocional e afetivo”, “cognição” e “religiosidade” entre usuários experientes e iniciantes;
comparando e correlacionado estas variáveis.

3. Procedimentos: Serão aplicados individualmente pelo pesquisador responsável os seguintes


instrumentos:
a) Instrumento para avaliação de dados gerais como sexo, idade, nível educacional e estado civil;
b) Instrumento de avaliação breve da inteligência (WASI);
c) Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS);
d) Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P);
e) Cubos de Corsi que avalia o alcance da memória de curto prazo;
f) Tarefa de Alcance de Dígitos para avaliar a atenção e memória de trabalho;
g) Figuras de Rey avaliam a percepção visual e a memória imediata;
h) Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) avalia as funções executivas;
i) O FDT (Five Digit Test) ou Teste dos cinco dígitos avalia as funções cognitivas (executivas);

4. Procedimentos físicos (no corpo do colaborador): Não há.

5. Riscos:Os possíveis riscos desta pesquisa podem decorrer do fato de estarmos trabalhando com
a aplicação de escalas e testes que pode remetê-lo às suas vivências pessoais. Além disto, você
poderá vir a lembrar de eventos ocorridos em seu trajeto. Caso isto ocorra, favor entrar em contato
comigo.

6. Benefícios: O benefício pretendido é que ao participar desta pesquisa você ajudará a


compreender melhor os aspectos do uso ritual da Ayahuasca, advindo daí um possível ganho
terapêutico e comunitário.

7. Procedimentos alternativos: Não há.

8. Garantia de acesso: Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis
pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. A pesquisador é Arilton Martins Fonseca.
Que pode ser encontrado no endereço Rua Prof. Artur Riedel, 275 - Jardim Eldorado - CEP: 09972-
270 – Diadema – SP - Fone: (11) 33193554. Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre a
1/2
ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua: Prof. Francisco
de Castro, nº 55, - CEP 04020-050, Fone: 011 5571-1062, FAX: 5539-7162 – E-mail:
cep@unifesp.edu.br.

9. Duas vias: Esse termo foi elaborado em duas vias originais, devidamente assinadas, sendo que
uma ficará com o Sr. (a) e a outra conosco. As folhas estão numeradas, e todas as páginas deverão
ser rubricadas pelo pesquisador e pelo participante da pesquisa.

10. Liberdade de retirada: É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer


momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo.

11. Direito de confidencialidade: As informações obtidas serão analisadas em conjunto com as de


outros voluntários, só sendo garantido o anonimato. Só será divulgada a identificação do
colaborador se autorizada ao final do procedimento.

12. Acompanhamento: Direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas,
quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores;
13. Despesas e compensações: Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do
estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer
despesa adicional, ela será absorvida pelo pesquisador.

14. Danos pessoais: Não há possibilidade de danos pessoais.

15. Utilização dos dados: Os dados e o material coletado serão utilizados somente para esta
pesquisa.

Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a


qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer
benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

Data: ____/____/_____

_______________________________________ _________________________________
Nome do participante da pesquisa Assinatura

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária, o Termo de Consentimentos Livre e Esclarecido
deste paciente (ou representante legal) para a participação neste estudo. Declaro ainda que me
comprometo a cumprir todos os termos aqui descritos.

Data:_____/_____/_____

Arilton Martins Fonseca __________________________________


(pesquisador principal) Assinatura

2/2
316

ANEXO C – Questionário de dados sociodemográficos


QUESTIONÁRIO DE DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

1. Nome:______________________________________________________________
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Data de nascimento: ___/___/_____ Idade em anos completos: _____________
4. Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado/divorciado ( ) viúvo ( ) outros
5. Escolaridade:
a. ( ) Fundamental - Incompleto
b. ( ) Fundamental - Completo
c. ( ) Médio - Incompleto
d. ( ) Médio - Completo
e. ( ) Superior - Incompleto
f. ( ) Superior - Completo
g. ( ) Pós-graduação (Lato senso) - Incompleto
h. ( ) Pós-graduação (Lato senso) - Completo
i. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível mestrado) - Incompleto
j. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível mestrado) - Completo
k. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível doutor) - Incompleto
l. ( ) Pós-graduação (Stricto sensu, nível doutor) – Completo

6. Profissão: ___________________________________________________________
7. Está trabalhando: ( ) sim ( ) não
a. ( ) do lar
b. ( ) aposentado
c. ( ) pensionista
d. ( ) empregado com carteira assinada
e. ( ) autônomo/profissional liberal.

8. Condição socioeconômica:
a. ( ) 1 a 4 salários mínimos
b. ( ) 5 a 9 salários mínimos
c. ( ) acima de 10 salários mínimos

1/2
Sobre o Santo Daime

1. Como você conheceu o Santo Daime?

2. Você toma Daime desde quando (há quanto tempo)?

3. Qual a frequência que você toma Daime?


Atualmente:

No passado:

4. Qual foi a última vez que você tomou Daime?

2/2
317

ANEXO D – Entrevista de anamnese semiestruturada


ANAMNESE
IDENTIFICAÇÃO
Nome do paciente: ________________________________________________________ Data de hoje: _______
Nome do depoente: __________________________________________________________________________
Relação com o paciente: ______________________________________________________________________
Telefones de contato: ________________________________________________________________________
Data de nascimento: _________________________ Idade: _____________________ Sexo: ________________
Local de nascimento: _________________________________________________________________________
Escolaridade: _______________________________________________________________________________
Diagnóstico médico (se houver): ________________________________________________________________
Queixa: ____________________________________________________________________________________

LEVANTAMENTO DE SINTOMAS
Preocupações físicas
o Dores de cabeça
o Tonturas
o Enjôos ou vômitos
o Fadiga excessiva
o Incontinência urinária/fecal
o Problemas intestinais
o Fraqueza de um lado do corpo ___________________(Indicar a parte do corpo)
o Problemas com a coordenação
o Tremores
o Tiques ou movimentos estranhos
o Problemas de equilíbrio
o Desmaios

Sensórias
o Perda de sensações / Dormências (Indique o local) _______________________________________________
o Formigamentos ou sensações estranhas na pele (Indique o local)____________________________________
o Dificuldade de diferenciar quente e frio
o Comprometimento visual
o Vê coisas que não estão lá
o Breves períodos de cegueira
o Perda auditiva
o Zumbidos nos ouvidos
o Escuta sons estranhos
o Dores (descreva) ___________________________________________________________________________

Preocupações Intelectuais
o Dificuldade de resolver problemas que a maioria consegue
o Dificuldade de pensar rapidamente quando necessário
o Dificuldade de completar atividades em tempo razoável
o Dificuldade de fazer coisas seqüencialmente

Linguagem_________________________________________________________________________________

Habilidades não verbais


o Problemas para encontrar caminhos em lugares familiares
o Dificuldade de reconhecer objetos ou pessoas
o Dificuldade de reconhecer partes do próprio corpo
o Dificuldade de orientação do tempo (dias, meses, ano)
o Outros problemas não verbais __________________________________________

Memória __________________________________________________________________________________
Humor/Comportamento/Personalidade __________________________________________________________
Tristeza ou depressão ____________________________

1/3
Ansiedade ou nervosismo ____________________________
Estresse ____________________________
Problemas no sono [cochilo ( ) / dormindo muito ( )] ___________
Tem pesadelos em uma base diária/semanal ___________
Fica irritado facilmente ___________
Sente euforia (se sentindo no topo do mundo) ___________
Se sente muito emotivo (chorando facilmente) ___________
Se sente como se nada mais importasse ___________
Fica facilmente frustrado ___________
Faz coisas automaticamente (sem consciência) ___________
Se sente menos inibido (fazendo coisas que não fazia antes) ___________
Tem dificuldade em ser espontâneo ___________
Houve mudança na energia [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no apetite [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no peso [perda ( ) / aumento ( )] ___________
Houve mudança no interesse sexual [aumento ( ) / queda ( )] ___________
Houve falta de interesse em atividades prazerosas ___________
Houve aumento de irritabilidade ___________
Houve aumento na agressividade ___________
Outras mudanças no humor, personalidade ou em como lida com as pessoas?___________________________

O paciente está passando por algum problema em sua vida nos aspectos a seguir
listados?
Matrimonial/Familiar:_________________________________________________________________________
Financeiro/Jurídico: __________________________________________________________________________
Serviços domésticos/Gerenciamento de dinheiro: __________________________________________________
Condução de veículos: ________________________________________________________________________
Início dos Sintomas:__________________________________________________________________________
Sintomas se desenvolveram ( ) vagarosamente ( ) rapidamente
Seus sintomas ocorrem ( ) de vez em quando ( ) freqüentemente
O que parece que faz o problema piorar? _________________________________________________________

Histórico Médico
Problemas médicos apresentados antes da condição atual do paciente:

Arteriosclerose ______________________________________________________________________________
Demência __________________________________________________________________________________
Outras infecções no cérebro ou desordens (meningite, encefalite, privação de oxigênio etc) ________________
Diabetes ___________________________________________________________________________________
Doenças cardíacas ___________________________________________________________________________
Câncer ____________________________________________________________________________________
Doenças graves/desordens (doenças imunológicas, paralisia cerebral, pólio, pneumonia, etc) _______________
Exposição à substância tóxica (ex: chumbo, solventes, químicos) ______________________________________
Grandes cirurgias ____________________________________________________________________________
Problemas psiquiátricos _______________________________________________________________________
Outros ____________________________________________________________________________________
O paciente normalmente toma medicamentos? ___________________________________________________
O paciente fez consulta ou está sob tratamento psiquiátrico? Sim ( ) Não ( )
Histórico do uso de substâncias
___________________________________________________________________________________________
História da família
Quantos irmãos o paciente tem?________________________________________________________________
Tem algum problema em comum (físico, acadêmico, psicológico) associado com algum dos seus
irmãos?____________________________________________________________________________________
Relação com a família: ________________________________________________________________________
Estado civil:_________________________________________________________________________________
Quantos anos de casado(a) tem: de __________ até__________

2/3
Nome do(a) esposo(a): _______________________________________________________________________
Profissão do(a) esposo (a): ____________________________________________________________________
Saúde do(a) esposo (a): Excelente Boa Ruim
Há crianças em casa: _________________________________________________________________________
Quem mais atualmente vive em casa? ___________________________________________________________
Algum membro da família tem problema de saúde ou necessidades especiais significantes? ________________

Histórico Profissional
O paciente trabalha atualmente? ( ) Sim ( ) Não
O paciente já se aposentou? ( ) Sim ( ) Não
Cargo ou função no trabalho: __________________________________________________________________

Lazer
Resuma os tipos de lazer que o paciente gosta: ____________________________________________________
Ainda é capaz de realizar estas atividades? _______________________________________________________
Tem alguma religião ou frequenta alguma igreja? Sim Não. Se sim, qual? _______________________________

3/3
318

ANEXO E – Escala Composta de Temperamento Emocional e Afetivo (AFECTS)


ESCALA DE TEMPERAMENTO EMOCIONAL E AFETIVO (AFECTS)

1..DIMENSÕES EMOCIONAIS - Marque a alternativa que mais corresponde ao seu jeito de ser
e agir em geral (somente uma alternativa de 0 a 6 por linha). Não há respostas certas ou
erradas, responda de acordo com o que você é, e não como desejaria ser. Veja o exemplo de
quem se sente relativamente seguro. O escore 0 é um extremo, o 6 é o outro extremo e o 3 é o
meio termo.

Exemplo: Inseguro 0 1 2 3 4 5 6 Seguro


1a8
Pessimista 0 1 2 3 4 5 6 Otimista
É difícil eu sentir prazer 0 1 2 3 4 5 6 É fácil eu sentir prazer
Triste e desanimado 0 1 2 3 4 5 6 Alegre e animado
Autoestima é baixa 0 1 2 3 4 5 6 Autoestima é alta
Indiferente a novas atividades 0 1 2 3 4 5 6 Entusiasmado a novas atividades
Desmotivado e desinteressado 0 1 2 3 4 5 6 Motivado e interessado
Falta de objetivos e força de vontade 0 1 2 3 4 5 6 Tenho objetivos e força de vontade
Parado e sem energia 0 1 2 3 4 5 6 Ativo e energético
9 a 12
Impulsos do desejo leves 0 1 2 3 4 5 6 Impulsos do desejo são fortes
Moderado no que eu gosto 0 1 2 3 4 5 6 Exagerado no que eu gosto
Contenho-me na busca de prazer 0 1 2 3 4 5 6 Rendo-me às tentações do prazer
Tenho juízo quando quero algo 0 1 2 3 4 5 6 Faço loucuras quando quero algo
13 a 16
Descuidado 0 1 2 3 4 5 6 Cauteloso
Impulsivo, ajo sem pensar 0 1 2 3 4 5 6 Penso antes de agir
Imprudente 0 1 2 3 4 5 6 Prudente
Gosto de correr riscos 0 1 2 3 4 5 6 Evito correr riscos
17 a 24
Tranquilo 0 1 2 3 4 5 6 Apressado e imediatista
Ponderado 0 1 2 3 4 5 6 Extremista, do tipo 8 ou 80
Flexível 0 1 2 3 4 5 6 Teimoso
Paciente 0 1 2 3 4 5 6 Impaciente
Calmo 0 1 2 3 4 5 6 Irritado
Pacífico 0 1 2 3 4 5 6 Agressivo
Controlado 0 1 2 3 4 5 6 Explosivo
Confio nas pessoas 0 1 2 3 4 5 6 Desconfiado
25 a 28
25 a 28 Ousado 0 1 2 3 4 5 6 Medroso
Desinibido e espontâneo 0 1 2 3 4 5 6 Inibido e contido
Despreocupado 0 1 2 3 4 5 6 Preocupado
Reajo frente ao perigo 0 1 2 3 4 5 6 Paraliso frente ao perigo
29 a 36
É raro me sentir culpado 0 1 2 3 4 5 6 Culpo-me facilmente
Lido bem com a rejeição 0 1 2 3 4 5 6 Lido mal com a rejeição
Suporto bem críticas 0 1 2 3 4 5 6 Sou sensível a críticas
Dificilmente fico magoado 0 1 2 3 4 5 6 Facilmente fico magoado
Facilmente supero traumas 0 1 2 3 4 5 6 Dificilmente supero traumas
Resisto bem ao estresse 0 1 2 3 4 5 6 Sou sensível ao estresse
Lido bem com situações de pressão 0 1 2 3 4 5 6 Lido mal com situações de pressão
Tolero muito a frustração 0 1 2 3 4 5 6 Tolero pouco a frustração
37 a 44
Jogo a culpa dos meus erros nos outros 0 1 2 3 4 5 6 Assumo a culpa pelos meus erros
Esquivo dos meus problemas 0 1 2 3 4 5 6 Enfrento meus problemas
Espero que meus problemas se resolvam 0 1 2 3 4 5 6 Procuro resolver meus problemas
sozinhos
Deixo meus problemas acumularem 0 1 2 3 4 5 6 Resolvo meus problemas assim que posso
Dificuldade em resolver conflitos pessoais 0 1 2 3 4 5 6 Facilidade em resolver conflitos pessoais
Dificuldade em encontrar soluções 0 1 2 3 4 5 6 Facilidade em encontrar soluções
Repito meus erros 0 1 2 3 4 5 6 Aprendo com meus erros
Sofrer me tornou mais frágil 0 1 2 3 4 5 6 Sofrer me tornou mais forte

45 a 52
Desatento 0 1 2 3 4 5 6 Atento
Dispersivo 0 1 2 3 4 5 6 Focado
Planejo mal minhas atividades 0 1 2 3 4 5 6 Planejo bem minhas atividades
Não concluo as tarefas que eu começo 0 1 2 3 4 5 6 Concluo as tarefas, mesmo longas e difíceis
Desorganizado 0 1 2 3 4 5 6 Organizado
Indisciplinado 0 1 2 3 4 5 6 Disciplinado
Irresponsável 0 1 2 3 4 5 6 Responsável
Displicente 0 1 2 3 4 5 6 Perfeccionista
53 a 56
Em paz 0 1 2 3 4 5 6 Ansioso
Relaxado 0 1 2 3 4 5 6 Tenso
Sereno 0 1 2 3 4 5 6 Apreensivo
Dificilmente me angustio 0 1 2 3 4 5 6 Facilmente me angustio
57 a 60
Oscilante 0 1 2 3 4 5 6 Regular
Instável 0 1 2 3 4 5 6 Estável
Imprevisível 0 1 2 3 4 5 6 Previsível
Turbulento 0 1 2 3 4 5 6 Equilibrado

Parte 2 - TIPOS AFETIVOS

Marque o quanto cada afirmação abaixo tem a ver com você:

A. Tenho tendência à tristeza e à melancolia; vejo pouca graça nas coisas; tendo a me
desvalorizar; não gosto muito de mudanças; prefiro ouvir a falar.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

B. Sou muito preocupado e cuidadoso; frequentemente me sinto inseguro e apreensivo; tenho


medo de que coisas ruins aconteçam; tento evitar situações de risco; estou sempre alerta e
vigilante.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo


C. Tenho pouca iniciativa; com frequência me desligo do que os outros estão dizendo ou
fazendo; muitas vezes não concluo o que comecei; tendo à passividade e sou um pouco lento.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

D. Meu humor é imprevisível e instável (altos e baixos), muda rapidamente ou de maneira


desproporcional aos fatos; tenho fases de grande energia, entusiasmo e agilidade que se
alternam com outras fases de lentidão, perda de interesse e desânimo.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

E. Tenho uma forte tendência a me sentir agitado, tenso, ansioso e irritado ao mesmo tempo.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

F. Sou dispersivo, inquieto, desligado e desorganizado; às vezes sou precipitado ou


inconveniente e só me dou conta mais tarde; mudo de interesse rapidamente; tenho dificuldade
em concluir tarefas e fazer o que deveria.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

G. Sou exigente, dedicado, perfeccionista, detalhista e rígido; preciso ter o controle das coisas;
não lido bem com incertezas e erros.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

H. Meu humor é equilibrado e previsível, costuma mudar só quando há um motivo claro; tenho
boa disposição e, em geral, me sinto bem comigo mesmo.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

I. Estou sempre de bom humor, sou muito confiante e me divirto facilmente; adoro novidades;
faço várias coisas sem me cansar; vou atrás do que quero até conquistar; tenho forte tendência
à liderança.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

J. Sou muito sincero, direto e determinado, mas também irritado, explosivo e desconfiado.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

K. Sou inquieto, ativo, espontâneo e distraído; muitas vezes ajo de maneira precipitada e
inconsequente; é muito comum eu deixar para fazer as coisas na última hora; quando me irrito,
logo fico bem de novo.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo


L. Sou expansivo, rápido, falante e intenso; tenho muitas ideias e me distraio facilmente; sou
imediatista, explosivo e impaciente; me exponho a riscos por excesso de confiança ou
empolgação; exagero no que me dá prazer; não gosto de rotina e de regras.

Nada a ver comigo □ □ □ □ □ Tudo a ver comigo

Das 12 descrições que você acabou de responder (questão 2 acima), escolha a que mais
se aproxima do seu perfil e marque a sua letra correspondente abaixo (somente uma
alternativa). Releia as descrições que mais têm a ver com você antes de optar pela
resposta.

(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L)

Em que medida você tem problemas ou prejuízos pessoais em função do seu jeito de ser, do
seu comportamento e do seu padrão de humor?

Nenhum problema □ □ □ □ □ Muito problemas


Em que medida você tem vantagens ou benefícios pessoais em função do seu jeito de ser, do
seu comportamento e do seu padrão de humor?

Nenhuma vantagem □ □ □ □ □ Muitas vantagens


319

ANEXO F – Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS-P)


Nome: ___________________________________________________ Idade: _______ Sexo: ( ) Masc ( ) Fem

MEDIDA MULTIDIMENSIONAL BREVE DE RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE (BMMRS-P)

A) Experiências espirituais diárias 6- Sou espiritualmente tocado pela beleza da


criação.
As seguintes questões lidam com as possíveis 1. Muitas vezes ao dia
experiências espirituais. Com que frequência você 2. Todos os dias
tem as seguintes experiências: 3. A maior parte dos dias
4. Alguns dias
1- Sinto a presença de Deus. 5. De vez em quando
1. Muitas vezes ao dia 6. Nunca ou quase nunca
2. Todos os dias
3. A maior parte dos dias B) Valores/crenças
4. Alguns dias
5. De vez em quando 7- Creio em um Deus que cuida de mim.
6. Nunca ou quase nunca 1. Concordo totalmente
2. Concordo
2- Encontro força e conforto na minha religião. 3. Discordo
1. Muitas vezes ao dia 4. Discordo totalmente
2. Todos os dias
8 - Sinto uma grande responsabilidade em reduzir
3. A maior parte dos dias
a dor e o sofrimento no mundo.
4. Alguns dias
5. De vez em quando 1. Concordo totalmente
6. Nunca ou quase nunca 2. Concordo
3. Discordo
4. Discordo totalmente
3- Sinto profunda paz interior ou harmonia. C) Perdão
1. Muitas vezes ao dia
2. Todos os dias Por causa de minhas crenças espirituais ou
3. A maior parte dos dias religiosas:
4. Alguns dias
5. De vez em quando 9- Tenho perdoado a mim mesmo pelas coisas que
tenho feito de errado.
6. Nunca ou quase nunca
1. Sempre ou quase sempre
2. Frequentemente
4- Desejo estar próximo ou em união com Deus. 3. Raramente
1. Muitas vezes ao dia 4. Nunca
2. Todos os dias
3. A maior parte dos dias 10- Tenho perdoado aqueles que me ofendem.
4. Alguns dias 1. Sempre ou quase sempre
5. De vez em quando 2. Frequentemente
6. Nunca ou quase nunca 3. Raramente
4. Nunca

5- Sinto o amor de Deus por mim, diretamente ou 11- Sei que Deus me perdoa.
por meio dos outros. 1. Sempre ou quase sempre
1. Muitas vezes ao dia 2. Frequentemente
2. Todos os dias 3. Raramente
3. A maior parte dos dias 4. Nunca
4. Alguns dias
5. De vez em quando
6. Nunca ou quase nunca

1
1. Em todas as refeições
D) Práticas religiosas particulares 2. Uma vez ao dia
3. No mínimo uma vez por semana
12- Com que frequência você reza (ora) 4. Apenas em ocasiões especiais
intimamente em lugares que não sejam igreja ou 5. Nunca.
templo religioso?
E) Superação Religiosa e Espiritual
1. Mais de uma vez ao dia
2. Uma vez ao dia Pense a respeito do que você entende e como lida
3. Algumas vezes por semana com os principais problemas em sua vida. Com que
4. Uma vez por semana intensidade você se vê envolvido nessas maneiras
5. Algumas vezes no mês de enfrentá-los?
6. Uma vez no mês
7. Menos de uma vez ao mês 17- Penso que minha vida faz parte de uma força
8. Nunca espiritual maior.
1. Muito
13- De acordo com sua tradição religiosa ou 2. Bastante
espiritual, com que frequência você medita 3. Um pouco
(intimidade com Deus)? 4. Nada
1. Mais de uma vez ao dia
2. Uma vez ao dia 18- Trabalho em união com Deus
3. Algumas vezes por semana 1. Muito
4. Uma vez por semana 2. Bastante
5. Algumas vezes no mês 3. Um pouco
6. Uma vez no mês 4. Nada
7. Menos de uma vez ao mês
8. Nunca 19- Vejo Deus como força, suporte e guia.
1. Muito
14- Com que frequência você assiste ou ouve 2. Bastante
programas religiosos na TV ou rádio? 3. Um pouco
1. Mais de uma vez ao dia 4. Nada
2. Uma vez ao dia
3. Algumas vezes por semana 20- Sinto que Deus me castiga por meus pecados
4. Uma vez por semana ou falta de espiritualidade.
5. Algumas vezes no mês 1. Muito
6. Uma vez no mês 2. Bastante
7. Menos de uma vez ao mês 3. Um pouco
8. Nunca 4. Nada

15- Com que frequência você lê a bíblia ou outra 21- Eu me pergunto se Deus me abandonou.
literatura religiosa (livros, jornais, revistas e 1. Muito
folhetos)? 2. Bastante
1. Mais de uma vez ao dia 3. Um pouco
2. Uma vez ao dia 4. Nada
3. Algumas vezes por semana
4. Uma vez por semana 22- Tento entender o problema e resolvê-lo sem
5. Algumas vezes no mês confiar em Deus.
6. Uma vez no mês 1. Muito
7. Menos de uma vez ao mês 2. Bastante
8. Nunca 3. Um pouco
4. Nada
16 - Com que frequência são feitas orações ou
agradecimentos antes ou após as refeições em sua
casa?

2
23- O quanto sua religião está envolvida Se SIM, qual era a sua idade quando essa
(interessada) na compreensão e na maneira de experiência aconteceu?
lidar com situações estressantes (difíceis)? ______________________________________
1. Muito envolvida
______________________________________
2. Pouco envolvida
3. Não muito envolvida
4. Nem um pouco envolvida 29- Você já teve alguma recompensa com a sua
fé?
F) Suporte Religioso ( ) Não ( ) Sim

Essas questões são destinadas a verificar o quanto Se SIM, qual era a sua idade quando essa
de ajuda as pessoas de sua comunidade religiosa experiência aconteceu?
iriam lhe proporcionar, caso você precisasse no ______________________________________
futuro. ______________________________________

24- Se você estivesse doente, quantas pessoas de


sua comunidade religiosa lhe ajudariam? 30- Você já teve alguma perda significativa da
1. Muitas sua fé?
2. Algumas ( ) Não ( ) Sim
3. Poucas
Se SIM, qual era a sua idade quando essa
4. Nenhuma
experiência aconteceu?
______________________________________
25- Quanto conforto as pessoas de sua
comunidade religiosa lhe dariam se você ______________________________________
estivesse em uma situação difícil?
1. Muito
2. Algum H ) Comprometimento
3. Pouco
4. Nenhum 31- Eu tento levar fortemente minhas crenças
religiosas ao longo de minha vida.
Às vezes o contato que temos com os outros nem 1. Concordo totalmente
sempre é agradável. 2. Concordo
3. Discordo
26- Com que frequência as pessoas de sua 4. Discordo totalmente
comunidade religiosa procuram por você?
1. Frequentemente 32- Durante o ano passado você contribuiu
financeiramente para a comunidade religiosa ou
2. Muitas vezes
para as causas religiosas?
3. De vez em quando
Contribuição semanal: ___________
4. Nunca Contribuição mensal: ____________
Contribuição anual: _____________
27 - Com que frequência as pessoas de sua
comunidade religiosa criticam você e as coisas 33- Em uma semana, quantas horas você dedica
que você faz? em atividades da sua igreja ou atividades que
1. Frequentemente você faz por razões religiosas ou espirituais?
2. Muitas vezes ______________________________________
3. De vez em quando
4. Nunca ______________________________________

G) História religiosa/espiritual

28- Você já teve alguma experiência


religiosa ou espiritual que mudou a
sua vida?
( ) Não ( ) Sim

3
I) Religiosidade Organizacional 39 - Autoavaliação de Saúde

34- Com que frequência você participa de De forma geral, como o Sr. (a) classificaria a sua
serviços religiosos (rituais, missas, cultos, saúde nos últimos 30 dias?
celebrações)? 0. Muito boa
1. Mais de uma vez por semana 1. Boa
2. Toda a semana (semanal) 2. Regular
3. Uma ou duas vezes por mês 3. Ruim
4. Todo mês (mensal) 4. Muito ruim
5. Uma ou duas vezes por ano
6. Nunca

35- Além dos serviços religiosos, com que


frequência você faz parte de outras atividades da
igreja e templos religiosos?
1. Mais de uma vez por semana
2. Toda a semana (semanal)
3. Uma ou duas vezes por mês
4. Todo mês (mensal)
5. Uma ou duas vezes por ano
6. Nunca

J) Preferência religiosa

36- Qual é sua religião no momento?


______________________________________
______________________________________

Se Evangélico, qual a denominação religiosa?


______________________________________
______________________________________

K) Autoavaliação Global

37- Até que ponto você se considera uma pessoa


religiosa?
1. Muito religiosa
2. Moderadamente religiosa
3. Pouco religiosa
4. Nem um pouco religiosa

38- Até que ponto você se considera uma pessoa


espiritualizada?
1- Muito espiritualizada
2- Moderadamente espiritualizada
3- Pouco espiritualizada
4- Nem um pouco espiritualizada

4
320

ANEXO G – Ata da Assembleia Geral de Fundação do Centro Eclético da Fluente Luz


Universal Flor de Luz – CEFLUFLUZ, nº 197634
321

ANEXO H – Termo de Declarações registrado em cartório do CEFLUFLUZ


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