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História na ficção: a crônica.

O início da consolidação do Estado no Brasil, a partir da segunda metade do


século XIX, aliado à fundação dos cursos jurídicos e o incremento da imprensa, determinou
um amplo desenvolvimento das nossas letras. Esse desenvolvimento propiciou uma maior
divulgação da cultura pelo único meio de comunicação da época – o jornal.
A literatura brasileira ainda não apresentava uma feição definida, conseqüência de
uma organização social em que somente uma camada restrita possuía educação formal, quase
toda extraída de livros. E, dentro dessa camada, os seus mais ilustres representantes não se
distinguiam dos parlamentares e dos jornalistas. A transformação do jornal em empresa, na
transição para o século XX, contribuiu decisivamente para uma mudança nesse quadro, na
medida que houve uma melhor definição do papel do escritor. A imprensa propiciou um
campo específico para a sua atuação, abrindo as portas das colunas dos jornais para as
primeiras produções literárias.
A busca do reconhecimento público e de prestígio social foi determinante para o
grande êxodo dos intelectuais brasileiros para a imprensa. No entanto, o fator econômico
contribuiu, de modo decisivo, para esse êxodo. Aqueles que alcançavam sucesso entre o
público leitor passavam a assinar colunas para os jornais, recebendo por elas uma boa
remuneração. O jornal veio a ser o maior veículo de divulgação da literatura a partir do
Romantismo. Portanto, é por meio dele que os primeiros esboços das nossas obras literárias
germinaram, além de servir como instrumento de divulgação de importantes obras da
literatura brasileira e da mundial. Desse ponto de vista, o que a literatura deve à imprensa é,
sem dúvida, incalculável*.
Os literatos que ingressavam nos jornais passavam a assinar o folhetim, a seção
mais importante para a empresa jornalística nos fins do século XIX, pois, naquela época, essa
era a parte do jornal que garantia a sua venda, devido ao grande sucesso alcançado entre o
público leitor.
Vindo da França, mais ou menos no início do mesmo século, o folhetim se
destacava como uma seção no rodapé do jornal, onde aparecia todo tipo de textos: desde
receitas de bolo, piadinhas, histórias de crimes, brigas de vizinhos até críticas sobre livros,

*
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil, v. 6, p. 97.
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teatro e arte. Com o tempo e pela recorrência dos conteúdos, esse espaço foi se dividindo e
criando assim folhetins diversos para cada área: arte, acontecimentos sociais, variedades,
política, enfim, tudo o que pudesse alcançar o gosto da maioria dos leitores.
No entanto, o que mais colaborou para o sucesso do folhetim no Brasil, assim
como na França, foi o lançamento do romance em partes, o que serviu, no caso do jornal,
como um meio de atrair mais compradores. E, para a literatura, esse fato também
proporcionou o surgimento gradual do romance brasileiro. Desse modo, a idéia aproveitada
dos jornais da Europa alcançou o mesmo sucesso no Brasil.
A crônica foi outro gênero que se desenvolveu a partir do folhetim. E, mesmo sem
apresentar uma caracterização e estrutura definida como o romance, ela obteve grande
repercussão no período. Isso porque discorria sobre os acontecimentos triviais ou importantes
da sociedade, especificamente os da corte, que, de certo modo, povoavam os enredos dos
romances.
Uma das marcas principais da crônica é a utilização de uma linguagem amena e
fluente, apresentando um refinamento estilístico, com impressões pessoais do autor sobre os
acontecimentos da semana, dirimindo assim o teor objetivo da linguagem jornalística. Por ser
contemporânea ao nascimento do romance no Brasil, a crônica foi por muito tempo
depreciada, vista como gênero menor. Todavia, nota-se na história da literatura brasileira que
a maioria dos melhores escritores esboçaram seus primeiros romances por meio de crônicas.
Escrever crônica para os jornais desde o período romântico até o Modernismo
funcionaria somente como meio de ascensão ao meio cultural, político e, principalmente,
social, desde que a sua composição não fugisse dos padrões ideológicos da opinião culta
vigente†.
O projeto de “construção de identidade literária”, iniciado no período romântico e
que vigorou até o fim do século dezenove, elegeu o romance como o melhor instrumento de
canalização da nossa “brasilidade”, unindo a isso o desejo dos intelectuais brasileiros de dotar
o País de uma literatura equivalente à européia ‡. Por ser um gênero híbrido do jornalismo e da
literatura, possuidora de um caráter ao mesmo tempo factual e artístico, a crônica não
alcançou o mesmo status que o romance, que exprimia mais adequadamente as necessidades
dos intelectuais da época.
O romance romântico, por sua vez, atendia à necessidade de fantasia que
objetivava construir miticamente a nossa origem, mesmo que fugisse à realidade da nação.


CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira, v. 2, p. 107.

Idem, p. 11.
3

Desse modo, o tipo de crônica que vigorou no mesmo período foi a social, seguindo o mesmo
caminho do romance: agradar o público leitor, especialmente o da Corte. Ainda que
privilegiada em relação à população brasileira da época, a maioria dos leitores não possuía
uma cultura muito refinada, sendo um público pouco exigente em relação aos temas
explorados pelos cronistas, como afirma Nelson Werneck Sodré:

A parte mais numerosa do público era constituída pelas moças casadoiras e


estudantes, e o tema literário por excelência devia ser, por isso mesmo, o do
casamento, misturado um pouco com o velho motivo do amor. A imprensa e a
literatura, casadas estreitamente então, seriam levadas a atender a essa solicitação
premente§.

No período do Romantismo, a literatura e a imprensa vão se aliar, por um bom


tempo, para atender a esse tipo de público. Essa fusão se explica, em parte, pela precária
situação cultural mantida pelo regime político atrasado em que vivia a sociedade brasileira.
Somente com raras exceções encontravam-se intelectuais que podiam contemplar o gênero em
sua essência, tanto no espírito crítico, quanto no artístico **.
As crônicas revelavam a relação dependente da maioria dos intelectuais
brasileiros com o poder estabelecido, deixando de realçar a verdadeira realidade social: as
transformações da cidade, as mudanças na feição urbana e a conseqüente redefinição de
valores e comportamentos dos membros dessa nova sociedade, notadamente contemplada
apenas sob a perspectiva da classe privilegiada.
Levado por Francisco Otaviano para o Correio Mercantil, em 1854, José de
Alencar escreveu aquelas que melhor representam o tipo de crônica que fazia sucesso no
período romântico, a de entretenimento. Várias delas apareciam em sua coluna jornalística
chamada “Páginas Menores”, título que denuncia o receio do autor em relação à possível não
sobrevivência de suas crônicas, e iriam ser determinantes para o aparecimento do romance no
Brasil, sendo o próprio Alencar considerado um de seus iniciadores: “O folhetim era crônica,
mas também a novela ou o romance, quando publicado no jornal. O fator espiritual de
comunhão entre os dois gêneros era a poesia, que dominava a literatura romântica”††.
José de Alencar pode ser considerado um folhetinista por excelência,
especialmente por ter acertado no modo como combinava a linguagem, os assuntos e a crítica.
Sabia que a forma mais acessível para conquistar o público arisco e diverso da época era fazer

§
SODRÉ, Nelson Werneck. Historia da imprensa no Brasil, p. 198.
**
?
COUTINHO, Afrânio. Op. cit., p. 198.
††
Idem, p. 124.
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dessa combinação um texto leve, capaz de proporcionar ao leitor um momento de pura


distração, razão pela qual Alencar pensava que as crônicas deveriam fazer

do escritor um colibri a esvoaçar em ziguezague, e a sugar como o mel das flores, a


graça, o sal e o espírito que deve necessariamente descobrir no fato o mais
comezinho. Ainda não é tudo. Depois que o misero folhetinista por força de vontade
conseguiu atingir a este ultimo esforço de volubilidade, quando a custa de magia e
de encanto, fez que a pena se lembrasse dos tempos em que voava, deixa finalmente
o pensamento lançar-se sobre o papel livre como o espaço. Cuida que é uma
borboleta que quebrou a crisálida para ostentar o brilho fascinado de suas cores; mas
engana-se: é apenas uma formiga que criou asas para que se perdessem‡‡.

A reflexão ante sua contemporaneidade é um aspecto que chama a atenção nas


crônicas de Alencar. Pode-se constatar uma visão mais sutil - mesmo que presa à ideologia da
elite, à qual pertencia – de sua realidade e a forma como ela repercutiu na sua escritura pelo
uso de uma linguagem mais próxima à brasileira, deixando para trás um pouco da feição
lusitana. Essa atitude renovada da linguagem abriria caminhos para uma melhor interpretação
crítica da nossa realidade social. Contudo, o autor pouco aproveitou esse recurso, como a
maioria dos escritores românticos, optando por criar um mito de civilidade através do
Indianismo, na busca de um “caráter literário especificamente brasileiro”§§.
As crônicas alencarianas refletem, da parte do autor, uma intenção velada de
impor suas próprias idéias, uma tentativa de intervir no processo de desenvolvimento social
pelo qual o país passava, no interesse de “conscientizar ou manipular seus leitores" ***. A
aparente superficialidade mascarada sob o mesmo pretexto da escrita feita ao “correr da pena”
para ser lida “ao correr dos olhos” evidencia o caráter ideológico de seu modo peculiar crítico
e analítico dos fatos sociais, políticos, econômicos e culturais da época.
A saída de José de Alencar do Correio Mercantil, por escrever uma crônica contra
a especulação financeira, comprova que o autor não estava totalmente alheio à realidade
brasileira. Assim, ele percebia como a transformação da imprensa em empresa, sustentada
pelo poder político, já havia causado uma mudança na redação das crônicas na época, as
quais, em sua maioria, deveriam preservar os interesses do poder político para exercer uma
função de manipulação da opinião pública.
Esse comportamento da imprensa durante o Império demonstra o quanto o
desenvolvimento político brasileiro já se mostrava precário em função do sistema econômico
baseado em um pré-capitalismo latifundiário. Contraditoriamente, Alencar condena a
‡‡
SOUZA, Silvia Cristina Martins. "Ao correr da pena: Uma leitura dos folhetins de José de Alencar". In: A
história contada, p. 129.
§§
Idem, p. 127.
***
Ibidem.
5

especulação financeira promovida pela classe que detinha o poder político e à qual ele mesmo
pertencia. Por isso, é demitido do jornal em 1855 devido às palavras incisivas e diretas,
afirmando que

dantes os homens tinham as suas ações na alma e nos corações; agora tem-nas no
bolso ou na carteira. Por isso naquele tempo se premiavam, ao passo que agora se
compram. Outrora eram escritas em feitos de um país; hoje são escritas num papel
dado por uma comissão de cinco membros. Aquelas ações do tempo antigo iam
avaliadas pela consciência, espécie do cadinho que já caiu em desuso; as de hoje são
cotadas na praça e apreciadas conforme o juro e o interesse que prometem†††.

Embora aqui se possa entrever um prenúncio de lucidez ante a verdadeira


realidade político-social do Brasil, o escritor retorna ao jornalismo. Já no Diário do Rio de
Janeiro, escreve somente mais sete crônicas (dessa vez não tão comprometedoras), mais tarde
incluídas em Ao correr da pena. No mesmo jornal, encerra sua carreira de cronista e se dedica
totalmente ao romance-folhetim, escrevendo Cinco minutos, O guarani e A viuvinha, em
1856, 1857 e 1860, respectivamente, com os quais alcança enorme sucesso entre o público.
Sua opção pelo romance comprova que a crítica, mesmo que consciente, não era pertinente
porque poderia constituir um obstáculo ao seu sucesso como escritor e político.
O abandono das crônicas não diminuiu sua importância como um dos seus
iniciadores no Brasil, pois foi principalmente a partir de José de Alencar que o gênero
começou a se formar mais nitidamente em colunas especializadas dos jornais. A decisão do
escritor de utilizar uma língua menos lusitanizante e mais próxima à brasileira,
especificamente aquela circunscrita à pequena elite leitora da metade do século XIX,
transformou-se em um recurso imprescindível para a fluidez tanto do seu pensamento quanto
do fazer literário. Com isso, prenunciou que o novo gênero possuía uma estrutura aberta à
constante renovação estética e estilística.
Entretanto, o abandono da crônica por José de Alencar sinalizava um fato
recorrente na história da literatura brasileira: a partir do momento em que o escritor
conquistasse com algum romance o prestígio almejado, tentaria alçar vôos mais altos fora de
seu ofício, como a candidatura a algum cargo político de influência. A opção dos intelectuais
pelo romance no início da literatura no Brasil, apesar de escamotear a realidade nos seus
aspectos essenciais, podia proporcionar uma comodidade financeira, lançá-los no cânone
literário brasileiro e, quem sabe, a um reconhecimento mundial. Essa situação se explica pelo
contexto político-social, que forçava a arte, em particular a literatura e quem queria viver dela,
a caminhar junto com os interesses do poder.
†††
ALENCAR, José de. Ao correr da pena. p. 20.
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No fim do período romântico, o jornal já havia consagrado o escritor como um


profissional de extrema valorização na sociedade. Assim, a classe média que emergia no
cenário nacional, fruto do declínio do Império, foi responsável por lançar vários literatos. Os
principais autores da fase pós-romântica provêm, em sua maioria, da classe média e até da
baixa. Numa época marcada pela ideologia do self-made-man, a valorização das qualidades
intelectuais, do estudo e do trabalho se sobreporá à tradição determinada pela origem social
para a conquista do sucesso literário. Nesse momento, muitos escritores procedentes das
camadas sociais baixas e emergentes conseguirão ascender, via jornal, ao meio literário.
Dentre muitos escritores que atingiram, dessa maneira, o sucesso literário dentro
do jornal, destaca-se Machado de Assis. A sua extensa cultura e inteligência foram
responsáveis praticamente por todo o sucesso que alcançou ainda em vida, sustentando-se
decentemente por meio de sua arte. Na transição de século, certamente foi um dos que, a
despeito da fragilidade que nossas letras atravessavam na época, conseguiu adentrar o século
XX escrevendo crônicas com a mesma maestria com que fazia seus romances, bem ao
contrário da produção da maioria dos escritores. Esses apresentavam o mesmo defeito, já que,
em suas obras, “as idéias e formas passaram então a ser manipuladas por si, sem a
preocupação de fazê-las ferramentas de uma visão crítica do real"‡‡‡.
O autor iniciou uma crítica realista voltada para os aspectos das transformações da
sociedade brasileira, numa visão bem mais ampla e reflexiva que seu predecessor, José de
Alencar. Em 1861, ele entra para o Diário do Rio, escrevendo crônicas sob o pseudônimo de
Gil e M.A, na coluna de primeira página “Comentários da Semana”. A princípio, suas
crônicas, como as de qualquer autor iniciante, eram amenas, direcionadas geralmente ao
público feminino. Mais tarde, ao ter se firmado como cronista respeitado, passa a escrever
sobre temas gerais da sociedade do Rio de Janeiro, acontecimentos políticos, lançamentos
literários, teatro.
Em 1863, no mesmo jornal, Machado de Assis passará a ter um contato concreto
com o jornalismo de caráter mais crítico da realidade. O início de sua carreira marcou-se por
uma sanção, motivada pela produção de uma crônica contra uma homenagem a D. Pedro I,
que foi considerada pelo jornal como um ataque direto ao Império. Retorna ao jornalismo em
1864, com uma nova série denominada "Ao acaso", episódio que já adiantaria sua
peculiaridade marcante como cronista: uma crítica mais sutil e irônica ao se referir a
acontecimentos e figuras importantes da política e da sociedade.

‡‡‡
?
MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira, p. 89.
7

Ao evitar os fatos triviais e captar os acontecimentos que realmente poderiam


figurar como pretexto para uma reflexão crítica da realidade brasileira, o autor soube utilizar o
que de melhor a crônica possui: a constante renovação proporcionada por um trânsito mais
livre da linguagem e dos assuntos atuais, permitindo ainda um toque individual e peculiar do
escritor. Desse modo, pela elaboração refinada de suas crônicas, Machado de Assis percebeu
que o livro não era o único veículo para a difusão da literatura. Isso porque o jornal, já na
época, propiciou um espaço privilegiado para a crônica, permitindo uma divulgação mais
ampla da literatura entre o público leitor, motivada por uma facilidade na aquisição devido a
um preço mais razoável do que o livro. Por essa razão,

Machado de Assis afirma que a passagem para a democracia ocorre principalmente


com a difusão do livro, que transporta leitura para uma boa parte da população, mas
a plena democracia só ocorre com o jornal, pois este é veículo que suscita discussão
e conseqüentemente aumenta o número de leitores, criando uma esfera maior que
vai além do universo livresco§§§.

Como cronista, Machado de Assis se destacou por transpor para seus textos os
mesmos procedimentos estilísticos que o consagraram como romancista, principalmente sua
peculiar ironia. Assim, tanto nas crônicas como no romance, o narrador é quem maneja a
situação e o leitor deve percorrer a idéia e captar as intenções desse narrador. Essa interação
inaugurou mais um modo novo de se fazer e de se ler a crônica, portanto

podemos dizer que o poder diferenciador da crônica de Machado de Assis estará


centrado nas mãos do narrador (...) Na maioria das vezes, ele alinhava, com maestria
e verdade, os acontecimentos da semana, as variedades do texto – desde a política
até os teatros. Dessa forma, reconta ao leitor, em seu balanço da semana, as
novidades e, nesse mesmo movimento, devolve ao público as opiniões de consenso a
respeito dos fatos recentes****.

Para conquistar na crônica os mesmos efeitos literários do romance, Machado


utilizou deliberadamente os mais variados recursos estilísticos da tradição literária: por meio
da citação literária, parodiando grandes textos literários e filosóficos ou fazendo alusão aos
mesmos, transformando as notícias do cotidiano em ficção, trocadilhos, anedotas, entre
outros. Enfim, utilizava tudo que fosse necessário para tornar a leitura atrativa, demonstrando,
desse modo, sua habilidade na criação literária e em impor sua opinião irônica ao leitor, ao
fazê-lo perceber que “quem dá as cartas” é sempre o narrador.

§§§
ARAÚJO, Ricardo. "Machado de Assis e os novos meios: entre o livro e o jornal", p. 36.
****
?
GRANJA, Lúcia. “A língua engenhosa: O narrador de Machado de Assis entre a invenção de histórias e citação
da história”, p. 71.
8

Ao refletir sobre os acontecimentos do contexto histórico do Rio de Janeiro e


discorrer sobre temas que iam da política aos acontecimentos gerais da sociedade, tais como
os assuntos e boatos da Rua do Ouvidor, o teatro e as novidades literárias, as crônicas
machadianas conseguem abarcar, assim, grande parte dos assuntos da época. Um exemplo
disso está na crônica publicada no Jornal do Comércio no dia 20-21 de maio de 1888, que nos
dá uma visão do seu ponto de vista em relação ao momento histórico vivenciado ao revelar
com nitidez os contrastes políticos e ideológicos do acontecimento:

Al gum as pessoas pedi ram - m e a t radução do evangel ho que se l eu na


grande mi ssa cam pal do di a 17. Est es m eus escri t os não adm i t em
t raduções, m enos ai nda servi ços part i cul ares; são pal est ras com os
l ei t ores e especi al m ent e com os l ei t ores que não t em que fazer ”.
1. No pri ncí pi o era o C ot ej i pe, e o C ot ej i pe est ava com a R egent e, e o
C ot ej i pe era a R egent e.
2. Nel e est ava a vi da, com el e vi vi am a C âm ara e o S enado.
3. Houve ent ão um hom em de S ão P aul o, cham ado Ant ôni o P rado, o qual
vei o por t est em unha do que ti nha de ser envi ado no ano segui nt e.
(...)
7. Di sse-l hes: Eu sou a voz que cl am a no desert o. Endi rei t ai o cam i nho
do poder, porque aí vem o João Al fredo.
8. Est as coi sas passaram - se no S enado, da banda de al ém do C am po da
Acl am aç ão, esqui na da R ua do Areal .
9. No di a segui nt e, vi u Ant oni o P rado a João Al fredo, que vi nha para el e,
depoi s de m undo. Est e é o m esm o de quem eu di sse: Depoi s de mi m vi rá
um hom em que m e será preferi do, porque era ant es de m im .
10. P assado m ês acont eceu que o espí ri t o da R egent e vei o pai rar sobre a
cabeç a de João Al fredo, e C ot eji pe dei xou o poder execut i vo e o poder
execut i vo passou a João Al fredo.
(...)
17. E respondendo t odos que si m , di sse um del es por parábol as, que no
pont o em que est avam a coi sa era m el hor cort ar a perna que l avar a
úl cera, poi s a úl cer a i a corrom pendo o sangue.
(...)
21. Est a escri t a no l i vro de Ell e Haddeba ri m , t am bém cham ado
Deut eronôm i o, que quando o escravo ti ver servi do sei s anos, no sét i m o
ano o dono o dei xe i r l i vre,
Ent ão com as m ãos abanando, senão com o al forj e de com i da e bebi da.
Est e é de cert o o ungüent o l em brado, m enos t al vez o al forj e e os sei s
anos.
(...)
24. E, t endo a regent e abençoad a a João e seus discí pul os foram est es
para a câm ara, onde apresent a ram o proj et o de l ei , que depoi s de al gum as
pal avras duras e out ras cál i das de ent usi asm o, foi aprovado no m ei o de
fl ores e acl am a ções (...).
25. A regent e, que esperav a a l ei nova, assi nou com sua m ão del i cada e
supert erna.
26. E t oda t erá aonde chegava a pal avra da R egent e, de João Al fredo e
dos seus di scí pul os, l evant ou brados de cont ent am ent o, e os própri os
senhores de escravos a ouvi am com obedi ênci a.
27. Menos no B acabal , provi ndo da proví nci a do Maranhão, onde al guns
hom ens decl arar am que a l ei não val i a nada, e, pegando no azorragu e,
cast i garam os seus escravos cuj o cri m e nessa ocasi ão era uni cam ent e
haver si do vot ada um a l ei de que el es não sabi am nada; e a própri a
aut ori dade se li gou com esses hom ens rebel des.
9

28. (...) no Maranhão al guns escravos, que, depoi s de l i vres, com praram
t am bém escravos , quão m enor será a m el ancol i a desses que são agora
duas cousas ao m esm o t em po, ex- escravos e ex-senhores. B em di z o
Ecl esi ast es: Al gum as vezes t em o hom em domí ni o sobre out ro hom em
para desgraç a sua. O m el hor de tudo m e acrescent o, é possui r a gent e a si
m esm o. B oas noi t es † † † † .

Essa paródia do texto bíblico revela a realidade da Corte do Rio de Janeiro e o


caráter da maioria dos defensores da causa negra, desmascarando a política de interesse que já
reinava no país e os contrastes da transição do Império para a República, que elegeram a
Abolição como fachada democrática. Não só nesse texto como na maioria das suas crônicas, o
tema preferido é a política e os fatos históricos que Machado vivenciou: a Independência, a
Abdicação de D. Pedro I, a Maioridade, a Lei do Ventre Livre, a Abolição e a República. Os
acontecimentos serviram como substância para suas construções ficcionais, aparecendo quase
sempre nas entrelinhas‡‡‡‡.
Machado situou a crônica ao nível de sua ficção e deu ao “gênero menor” a
mesma grandeza dos seus romances, revelada nitidamente na consciência que possuía da
realidade não só do Brasil, mas sobretudo do mundo. Trazendo à crônica a natureza universal
da arte, confirma a sua posição como gênero literário. Demonstra que a crônica possui as
mesmas possibilidades dos gêneros clássicos; revela, enfim, que não há gênero maior ou
menor quando a habilidade do cronista consegue romper a barreira do fato. Transcende o
trivial e retira do cotidiano o sentido humano, e é nesse ponto delgado que o talento do artista
vai ser decisivo.
Segundo Arrigucci, “a crônica é um fato moderno, pois digladia com a própria
história e sai vitoriosa, renovada à medida que o fazer literário sobrepõe o efêmero”§§§§.
Delimitar, pois, a sua linguagem, seu material, será no mínimo querer reduzir o alcance da
literatura e sua capacidade de transformar os fatos comuns da vida em momentos singulares,
de reflexão ou puro deleite. Esse talento tão necessário à crônica seria entrevisto nas crônicas
de Lima Barreto, que, ao lado de Machado de Assis, demarcaria na literatura brasileira um
caso atípico, na medida em que suas obras esquadrinhavam profundamente os temas que
enfocavam, contrastando com a realidade superficial mostrada por outros autores da época.
Apesar das nítidas diferenças entre os dois escritores, pode-se reconhecer, sem
dúvida, que ambos foram responsáveis pela maturação literária do período, principalmente

††††
GLEDSON, John. Bons dias, pp. 11-2.
‡‡‡‡
Idem, Machado de Assis: Ficção e História, p. 120.
§§§§
?
ARRIGUCCI Jr., Davi. Enigma e comentário: ensaios sobre literatura e experiência, p. 209.
10

pelo modo inovador que imprimiram à sua escritura ficcional e pelo modo crítico como leram
a realidade do país através da ficção. Mesmo com fortes divergências, Lima Barreto
compartilha com Machado de Assis a autêntica vocação de romancista, expressa na aguda
sensibilidade frente à vida e à sua realidade. A obra de Lima Barreto,

solitária como a sua vida, é, porém incontestavelmente um elo entre o romance


machadiano e as atuais tendências da ficção, entre o realismo psicológico de
Machado de Assis e as buscas mais ousadas – embora não mais profundas – dos
escritores que depois do movimento modernista, sobretudo depois de 1930, puseram
em equação os problemas do homem brasileiro*****.

A crônica aparece em quase toda a escritura de Lima Barreto, devido à


necessidade que ele possuía de refletir sobre os acontecimentos da época, numa perspectiva
de profundo sentido moral e político. Em sua consciência,

a missão da literatura é fazer comunicar umas almas com as outras, é dar-lhes um


mais perfeito entendimento entre elas, é ligá-las mais fortemente, reforçando desse
modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista
do planeta e se entenderem melhor, no único intuito da sua felicidade†††††.

O aspecto peculiar que distingue os dois escritores se resume no modo como cada
um apresentou a sociedade em suas obras. Essa diferença, contudo, não é tão marcante se
levarmos em consideração que ambos compartilharam o mesmo compromisso: retratar a
sociedade brasileira, não só de forma artística, mas também crítica. Lima Barreto percebeu
que a República havia produzido novas classes, a suburbana e a emergente. A despeito da
realidade apresentada na literatura da época, na qual figurava apenas a burguesia, o autor
retrata essas novas camadas, geradas pelo progresso e pelo surgimento do espaço urbano,
realçando os contrastes gritantes entre as classes sociais, principalmente aqueles produzidos
pela diferença do poder político-econômico.
A transposição da realidade da camada suburbana para a literatura torna-se a base
de suas principais propostas para compor uma arte militante, no objetivo de renovar os
recursos estilísticos e estéticos da época. A intenção de Lima Barreto era desestabilizar a
literatura vigente, estabelecer uma literatura mais acessível a um maior número de leitores -
especialmente o leitor médio, aquele que consumia o jornal. Segundo o historiador Nicolau
Sevcenko, o que determina a inovação de Lima Barreto no campo artístico é sua fusão de
estilos. Essa característica confere a sua obra um caráter uniforme e coerente, essencial para a

*****
PEREIRA, Lúcia Miguel. Prosa de ficção (de 1890 a 1920):história da literatura brasileira, p. 275.
†††††
BARRETO, Lima. Impressões de leitura, p. 190.
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busca de uma comunicabilidade mais ampla com o público, e permite uma abertura da
literatura para uma maior parcela da sociedade‡‡‡‡‡. Essa afirmação pode ser comprovada
claramente nas crônicas que compõem Os Bruzundangas.
A agressividade de sua escritura e a impaciência diante da realidade colaborou
para que muitos jornais acabassem excluindo-o quase que por completo das redações, não por
considerá-lo um artista incapaz. O que realmente incomodava era a atitude dissidente em
relação aos princípios estéticos e temáticos vigentes. Ao contrário do que ocorria com a maior
parte dos escritores da época, suas crônicas não se perdiam em torneios lingüísticos e
imagéticos: na grande maioria eram extremamente claras, chegando quase a uma conversa
direta "olhos nos olhos com o leitor".
O trato diferenciado presente em suas crônicas se deve ao jornal, que foi uma das
bases para a modernidade da obra barretiana, na medida que consegue imprimir elementos da
linguagem jornalística na literária. Mesmo que a crítica menospreze a confluência entre
literatura e jornalismo, é impossível não perceber a intersecção desses campos na produção de
Lima Barreto. O produto dessa equação abriu caminhos, no início do século XX, para libertar
a literatura brasileira de uma estética dogmática, que provocava a esterilidade na criação
literária.
Lima Barreto uniu a essência do jornal, que é a discussão da realidade dos fatos, à
capacidade de atualização e renovação da literatura, o que resultou em uma proposta artística
original. Tal convergência de campos, aparentemente distintos no tocante a seus objetivos,
estabeleceu a modernidade de sua obra, cuja leitura evidencia que "se o livro é o vislumbre
para a entrada no mundo moderno; o jornal [foi] a efetivação plena da modernidade"§§§§§.
O contexto histórico-literário do início do século passado exigia um protesto.
Entretanto, as avaliações críticas, preocupadas exclusivamente em realçar supostas limitações
de elaboração estética, encobriram a verdadeira dimensão da obra barretiana no processo
renovador da literatura brasileira. Um dos motivos dessa recusa talvez seja o fato de Lima
Barreto ter sido contemporâneo de Machado de Assis, escritor já consagrado na época pela
crítica vigente, dominada pelos mesmos princípios estéticos dogmatizados.
O trato da palavra em Lima Barreto nunca aconteceu de maneira solidária entre
pensamento e escritura: a sua extrema agilidade de reflexão e temperamento pode ter sido a
‡‡‡‡‡

?
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão, p. 164.
§§§§§

?
ARAÚJO, Ricardo. Op. cit., p. 36.
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grande dificuldade para uma melhor elaboração artística. Suas crônicas escritas "com carne",
quase manifestos, e outras "com espírito", sem uma preocupação direta de denúncia social,
são exemplos evidentes desse obstáculo. Isso não impede que sua obra revele um escritor
consciente do seu papel político e, sobretudo, literário.
A República representava para Lima Barreto, assim como para a maioria dos
marginalizados da sociedade brasileira, a esperança de um país mais democrático e menos
estratificado. Todavia, a mudança de regime político em nada, ou quase nada, havia mudado a
situação da maioria desses brasileiros. Lima Barreto percebeu o modo arbitrário como foi
instituída a República:

Não será, pensei de mi m para m i m , que a R epúbl i ca é o regí m en da


fachad a, da ost ent ação, do fal so bri l ho e l uxo de “parvenu”, t endo com o
“repoussoi r” a m i séri a geral ? Não posso provar e não seri a capaz de
fazê -l o.
S aí pel as ruas do m eu subúrbi o l ongí nquo a l er as fol has di ári as. Li a - as,
conform e o gost o ant i go e rocei ro, num a “venda” de que m i nha fam í l i a é
fregues a.
Quase t odas el as est avam chei as de art i gos e t ópi cos, t rat ando das
candi dat uras presi denci ai s. Afora o capí t ul o descom post uras, o m ai s
i m port ant e era o de fal si dade.
Não se di scut i a um a quest ão econôm i ca ou pol í t i ca; m as um tí t ul o do
C ódi go P enal .
P oi s é possí vel que, para a escol ha do Chefe de um a Nação, o m ai s
i m port ant e obj et o de discussão sej a esse?
Vol t ei m el ancol i cam ent e para al m oçar, em casa, pensando, cá com os
m eus bot ões, com o devi a qual i fi car perfei t am ent e a R epúbl i ca.
Ent ret ant o - eu o sei bem - o 15 de Novem bro é um a dat a gl ori osa, nos
fast os da nossa hist óri a, m arcando um grande passo na evol ução pol ít i ca
do pai s * * * * * * .

Em função do olhar crítico-objetivo sobre sua contemporaneidade, o escritor Lima


Barreto foi renegado por muito tempo pela literatura brasileira, imbuída de princípios
ideológicos arraigados. No entanto, mesmo sem os rodeios idealistas do romantismo
alencariano, sem o requinte da linguagem e da reflexão machadiana, ele trouxe para a crônica
um novo aspecto estilístico: a mordacidade satírica que muitas vezes chegava às raias do puro
sarcasmo.
Ironicamente, segundo os críticos, essa foi a maior falha na sua literatura, pois não
perceberam nela o vigor da descrição crítica das peculiaridades da realidade social, política e
literária de seu tempo. A força do poder instituído provocou críticas sem profundidade à sua
obra, balizadas geralmente por interesses de manutenção de um estatuto literário. Hoje essas

******
?
Marginália, http://www.bibvirt.futuro.usp.br/ p. 6
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críticas podem ser vistas como equivocadas e sem valor em função da atualidade que a obra
barretiana mantém na literatura brasileira.
A crítica literária dos jornais da época aproximava-se do colunismo, do noticiário,
ou mesmo da crônica literária, carregando nas amenidades e curiosidades sobre a obra e o
autor em foco. Via de regra, o gosto do público e suas condições de entendimento norteavam
a escolha do assunto e o enfoque a ser privilegiado por essa crítica ††††††. Por isso, não é de se
estranhar que o melhor da crônica barretiana seja encontrado nos pequenos e efêmeros
periódicos da época. As revistas A quinzena e O diabo, ambas de breve duração, demarcam o
início de sua produção intelectual.
N’O diabo, o cronista aparece sob o pseudônimo de Rui de Pina, o mesmo que
posteriormente usaria em O pau e no Tagarela. O jornalismo não funcionou para o autor
somente como campo de exercício de sua intelectualidade. Foi, essencialmente, um dos
principais meios de sobrevivência. Por meio de Carlos Viana, colega de colégio, Lima Barreto
chega A Revista, assumindo o cargo de secretário. Essa revista acaba não sendo publicada
com a mesma regularidade dos jornais devido à falta de recursos financeiros, fato que ocorria
com a maioria das revistas da época. No intuito de garantir sua manutenção, o diretor aceita
publicar louvores a políticos, prática recorrente nos periódicos da pequena imprensa. Por tal
razão, Lima Barreto sentiu-se muito constrangido, demitindo-se meses depois e ficando em
apuros ainda maiores para sanar as suas dificuldades financeiras, mas em paz com a
consciência.
Um ano mais tarde, ingressou no jornal Correio da manhã, que naquele período, a
despeito da maioria dos outros, denunciava as negociatas dos políticos do Rio de Janeiro e
todas as suas mazelas, inclusive as da periferia que surgia como conseqüência da urbanização
promovida pela prefeitura da cidade. O único jornal da época que se opunha ao governo de
Campos Sales era marcado pela estagnação econômica e pela indiferença às classes populares.
Portanto, esse jornal quebrava a corrente da imprensa sustentada pelo suborno político, além
de ser o primeiro a dar voz às classes populares, coisa rara na imprensa da época ‡‡‡‡‡‡. A
passagem de Lima Barreto por esse jornal foi transitória, mas decisiva para que o autor
denunciasse as transformações da imprensa na época. À medida que o jornal se tornava
empresa, o jornalismo individual começou a ser enterrado, realidade essa retratada em
Recordações do escrivão Isaías Caminha.

††††††
MARTHA, Alice Penteado.http://www.ucm.es/info/especulo/numero16/barreto.html/, p. 6.
‡‡‡‡‡‡
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil, p. 287.
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A partir daí, suas crônicas passaram a aparecer freqüentemente nas revistas


efêmeras de literatura que surgiriam posteriormente. Dentre elas, a primeira revista que
conseguiu chamar atenção por não sucumbir à nivelação crítica da imprensa é a Floreal,
fundada em 1907, pelo próprio Lima Barreto. Sua colaboração intensificou-se com a
aposentadoria em 1919, passando a se dedicar intensamente ao jornalismo e opinando sobre
todos os acontecimentos relevantes da sua época: a revolução russa, as eleições, as greves
operárias, o futebol, o feminismo. Apesar de doente e dominado pelo vício do álcool, seus
últimos anos foram bastante profícuos, produzindo o melhor de suas crônicas, organizadas em
Feiras e Mafuás, Marginália e Impressão de leituras.
A diferença básica da crônica barretiana em relação à de seus predecessores e
contemporâneos reside no reconhecimento do novo público leitor criado e formado pelo
jornalismo, desprovido de meios culturais para ter acesso a uma literatura tão complexa como
a que vigorava na Primeira República §§§§§§. As crônicas de Lima Barreto, assim como sua obra
em geral, visavam ao novo público de cultura média, particularmente leitores de jornal. Seu
intuito era estabelecer uma relação solidária entre a literatura e essa massa de leitores que
estava se formando. O objetivo dessa atitude era instigar a consciência do leitor a uma
reflexão que motivasse um posicionamento coletivo como resposta às imposições e
contradições que a República e o progresso haviam trazido para a realidade político-social
brasileira.

§§§§§§
SEVCENKO, Nicolau. Op. cit., p. 212.

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