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LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA

RUA JOÃO ALFREDO


PROJETO EXECUTIVO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA PARA A
RUA JOÃO ALFREDO

Prefeitura Municipal de Porto Alegre


Elaborado por:
ENCOP Engenharia LTDA

LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA RUA JOÃO ALFREDO


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Porto Alegre, dezembro de 2020


PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

PROJETO EXECUTIVO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA PARA A RUA JOÃO ALFREDO

SUMÁRIO

1  APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 6 
2  MAPA DE SITUAÇÃO E LOCALIZAÇÃO ........................................................................ 7 
3  LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA RUA JOÃO ALFREDO ............................................ 10 
3.1  O BAIRRO CIDADE BAIXA: UMA INTRODUÇÃO ................................................................ 10 
3.2  RUA DA MARGEM ATUAL RUA JOÃO ALFREDO: UM LEVANTAMENTO HISTÓRICO ............. 15 
3.2.1  A Cidade Baixa e a Boemia................................................................................... 25 
3.2.2  A Rua da Margem e sua arquitetura .................................................................... 27 
3.2.3  O Solar Lopo Gonçalves........................................................................................ 27 
3.2.4  O Casario .............................................................................................................. 30 
4  REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 31 

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AV. CORONEL APARÍCIO BORGES, 965 SALA 202 E 302.
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PROJETO EXECUTIVO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA PARA A RUA JOÃO ALFREDO

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Planta que compreende o canto leste do Gasômetro até o canto sul dos terrenos de
Lopo Gonçalves Bastos, 1875. Autor: Manoel Correia da Silveira Neto....................................... 12 
Figura 2 - Panorama aéreo do Bairro Cidade Baixa. Década de 40 do século XX. Autor
desconhecido ......................................................................................................................... 13 
Figura 3 - Imagem que ilustrava o artigo da Folha da Tarde de 1977, intitulado “Cai a Cidade Baixa
para nascer bairro bonito” ....................................................................................................... 14 
Figura 4 - Fotografia das obras na Ilhota, com a demolição do casario e o aterro do Arroio Dilúvio
............................................................................................................................................. 14 
Figura 5 - Fotografia das obras de construção do viaduto e o largo dos açorianos. ..................... 15 
Figura 6 - Mapa da localização da Rua João Alfredo .................................................................. 16 
Figura 7 - Planta da Cidade de Porto Alegre, 1906. ................................................................... 18 
Figura 8 - Detalhe da Planta de 1906 mostrando a Rua João Alfredo e o Riachinho. ................... 19 
Figura 9 - Rua da Margem, década de 1940. Jacob Prudêncio Herrmann (atribuído) ................... 20 
Figura 10 - Fotografia do fundo das casas localizadas na rua João Alfredo, com vista para o
Riacho, 1940 .......................................................................................................................... 20 
Figura 11 - Fotografia da ponte de madeira sobre o Arroio Dilúvio, 1940 ................................... 21 
Figura 12 - Fotografia do Arroio Dilúvio, 1940 .......................................................................... 21 
Figura 13 - Fotografia da Ponte de Pedra sobre o Arroio Dilúvio, 1940. ...................................... 22 
Figura 14 - A praia do Riacho, 1967 - João Faria Viana – (Nanquim) .......................................... 22 
Figura 15 - “Ponte do Riacho”, 1929 – Libindo Ferraz – (aquarela) ............................................ 23 
Figura 16 - Fotografia dos meninos no riacho, s/d .................................................................... 23 
Figura 17 - Fotografia da Rua João Alfredo Acervo Laudelino Teixeira de Medeiros ..................... 24 
Figura 18 - Fotografia do Acervo de José Abrahan com a inserção das denominações das ruas ... 24 
Figura 18 - Fotografia da Fachada do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração ..................... 29 
Figura 18 - Fotografia do pátio interno do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração............... 29 
Figura 21 - Fotografia da fachada lateral do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração ............ 30 
Figura 22 - Casario remanescente da antiga margem do riacho pós as intervenções segundo as
diretrizes da EPAHC. ............................................................................................................... 31 

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1 APRESENTAÇÃO
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1 APRESENTAÇÃO

O presente documento é parte integrante do Projeto Executivo de Requalificação


Urbana para a Rua João Alfredo, decorrente do contrato firmado com Prefeitura Municipal
de Porto Alegre. Este volume, titulado Levantamento Histórico da Rua João Alfredo,
contém a descrição dos principais elementos e procedimentos utilizados no
desenvolvimento deste documento.

Os dados administrativos do contrato estão a seguir:

PROCESSO ADMINISTRATIVO:

Contrato N° ECP 287

Contrato Nº N. º 73390 - L.1160-D - PGMCD Nº 3177 - C / 3202

Processo Administrativo 20.0.000042960-1

Data de Assinatura 16/10/2020

Data de Ordem de Início 26/10/2020

COORDENAÇÃO GERAL:

 Eng.° Civil Luciano Bezerra da Silva – CREA/RS 55.454;


 Eng.º Civil Fancler Thiago Araldi – CREA/RS 167.474;

RESPONSÁVEIS TÉCNICOS:

 Eng.° Civil Luciano Bezerra da Silva – CREA/RS 55.454;


 Eng.º Civil Fancler Thiago Araldi – CREA/RS 167.474;

EQUIPE TÉCNICA:

 Eng.° Civil Luciano Bezerra da Silva – CREA/RS 55.454;


 Eng.º Civil Fancler Thiago Araldi – CREA/RS 167.474;
 Eng.º Civil Eduardo da Silva Goulart – CREA/RS 220.015;
 Me. Hist. Ângela Beatriz Pomatti;
 Me. Arq. Lucas Bernardes Volpatto.

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2 MAPA DE SITUAÇÃO E LOCALIZAÇÃO
3 LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA RUA JOÃO
ALFREDO
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PROJETO EXECUTIVO DE REQUALIFICAÇÃO URBANA PARA A RUA JOÃO ALFREDO

3 LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA RUA JOÃO ALFREDO

Neste item é apresentado o Levantamento Histórico da Rua João Alfredo iniciando


pelo Bairro Cidade Baixa e chegando a Rua João Alfredo.

3.1 O BAIRRO CIDADE BAIXA: UMA INTRODUÇÃO

O Bairro Cidade Baixa localiza-se na cidade de Porto Alegre. Sua denominação


deve-se ao fato do seu território situar-se abaixo da Rua Duque de Caxias, considerada a
parte mais alta da cidade. Este bairro limita-se atualmente, conforme a lei nº 12.112, de 22
de agosto de 2016, que cria, extingue e delimita os bairros do município de Porto Alegre:

XXI - Cidade Baixa, "ponto inicial e final: encontro da Avenida Praia de Belas
com Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto; desse ponto segue pela Avenida
Aureliano de Figueiredo Pinto até a Praça Garibaldi, por essa até a Avenida
Venâncio Aires, por essa até a Avenida João Pessoa, por essa até a Avenida
Loureiro da Silva, por essa até a Avenida Borges de Medeiros, por essa até a
Avenida Praia de Belas, por essa até a Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, ponto
inicial", conforme Anexo II, 21 (Porto Alegre (RS), 2016).

Mesmo tendo seu limite atual definido e modificado em 2016, a sua história é muito
mais antiga. As fontes históricas indicam que o povoamento da região teve início no fim do
século XVIII, com a abertura da Rua do Arvoredo (denominada atualmente de Rua
Fernando Machado). Já na planta da cidade de 1772 a Rua da Varzinha (Atual Demétrio
Ribeiro) aparece tracejada, indicando que seu projeto de abertura logo seria concretizado.
(MENEGOTTO, 2020).

Inicialmente essa área era escassamente povoada, existindo ali propriedades rurais
e matas. A região era marcada por muito verde, visto da parte alta da cidade, onde
dificilmente localizava-se uma construção (POSSAMAI, 2001).

A partir do século XIX a região denominada como “Cidade Baixa” já abrangia o


perímetro localizado ao Sul da Rua Duque de Caxias, contemplando a área entre o
Gasômetro, Rua do Arvoredo, Areal da Baronesa, indo até a Olaria e a lomba da
Independência, que foi ampliando-se gradativamente com o passar dos anos. (FRANCO,
2006).

No ano de 1845 começam a ser abertas a Rua do Imperador, atual Rua da


República e a Rua da Margem, atualmente denominada Rua João Alfredo, que margeava
o riachinho. Já em 1856 iniciou-se um novo arruamento, pois a documentação da época
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descrevia a procura da população para construir suas moradias na Azenha e na Rua da


Margem. Desta forma, organizou-se este projeto nos terrenos compreendidos entre as ruas
Olaria, Margem, e da Rua da Figueira a Imperatriz. Porém, uma parte desta área,
denominada de “Emboscadas” acabou não sendo arruado neste momento (FRANCO,
2006). Segundo cronistas da época, em 1887 não havia ainda delimitação de ruas entre a
Rua do Arvoredo e a Praia do Riacho, sento apenas fundos das casas ou mata com plantas
nativas (MENEGOTTO, 2020).

Este espaço urbano era utilizado ainda neste período para, entre outros serviços, o
abate de animais. O gado que chegava à cidade de Porto Alegre era conduzido para a Praia
do Riacho até o matadouro. O percurso todo era conhecido como Caminho do Gado e ia
margeando o arroio, desde seu início na ponta do território da cidade, percorrendo a Rua
da Margem e chegando à região do matadouro, localizado próximo ao Arroio Dilúvio. Esta
área foi escolhida justamente para dar vazão ao sangue e restos de animais (REIS, 2018).

Neste momento, esta região possuía características e aspectos predominantemente


rurais (POSSAMAI, 2002). Fazia parte desse território ainda as áreas conhecidas como
Arraial da Baronesa ou Areal da Baronesa (areal devido às suas terras avermelhadas), que
abrangiam a propriedade da Baronesa de Gravataí - dona Maria Emília da Silva Pereira
(FRANCO, 2006). Em 1879 essas terras foram loteadas, que passaram a ser habitadas
principalmente por negros libertos e famílias italianas. Além da chácara referida, a região
contava ainda com outras propriedades rurais que se utilizava, na maioria dos casos, de
mão de obra escravizada. Os negros que conseguiam fugir do trabalho escravo escondiam-
se na região das “Emboscadas, localizada próxima da região e com mata cerrada.
(PROCEMPA, p. 27).

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Figura 1 - Planta que compreende o canto leste do Gasômetro até o canto sul dos
terrenos de Lopo Gonçalves Bastos, 1875. Autor: Manoel Correia da Silveira Neto.

Fonte: REIS, 2018 apud Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
Outra região que fazia parte dessa área denominada de Cidade Baixa era a “Ilhota”.
Esse território recebeu essa denominação após uma intervenção realizada, em 1905, no
fluxo do Riachinho e que acabou criando uma pequena ilha. Essa região sofreu
sistematicamente com a insalubridade, ocasionada principalmente em decorrência das
inundações. Posteriormente, o Riachinho foi canalizado, e teve seu curso modificado
através de um projeto municipal, durante a administração de José Loureiro da Silva em
1941, passando a ser conhecido como Arroio Dilúvio. (PROCEMPA, p. 27).

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Figura 2 - Panorama aéreo do Bairro Cidade Baixa. Década de 40 do século XX. Autor
desconhecido

Fonte: Acervo Fototeca Sioma Breitman – Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Após 1950 a densidade demográfica do local aumenta e as propriedades rurais vão
desaparecendo, dando lugar a casas mais urbanas e estabelecimentos comerciais e
culturais. Ainda Cidade Baixa passou por modificações urbanísticas drásticas neste período
com a construção da Primeira Perimetral e a ampliação da Rua Aureliano de Figueiredo
Pinto, que acarretou a demolição de diversas edificações do lado ímpar da Rua João
Alfredo. (FRANCO, 2006).

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Figura 3 - Imagem que ilustrava o artigo da Folha da Tarde de 1977, intitulado “Cai a
Cidade Baixa para nascer bairro bonito”

Fonte: FOLHA DA TARDE, 1977 apud REIS, 2018.


Figura 4 - Fotografia das obras na Ilhota, com a demolição do casario e o aterro do Arroio
Dilúvio

Fonte: PESAVENTO, 1991 apud REIS, 2018.

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Figura 5 - Fotografia das obras de construção do viaduto e o largo dos açorianos.

Fonte: ZERO HORA, 2020.


A história do Bairro Cidade Baixa é extremamente rica, mas nosso interesse aqui é
especificamente abordar as transformações de uma de suas ruas, a atual Rua João Alfredo.
Esse panorama histórico nos auxilia na compreensão do contexto em que surge essa via,
objeto central neste estudo. Desta forma, a partir de agora apresentaremos as informações
referentes a antiga Rua da Margem até a atualidade.

3.2 RUA DA MARGEM ATUAL RUA JOÃO ALFREDO: UM LEVANTAMENTO


HISTÓRICO

A Rua João Alfredo localiza-se no Bairro Cidade Baixa, próxima de avenidas


importantes como a Avenida Borges de Medeiros e a Avenida Praia de Belas. Atualmente,
ela tem início na Avenida Loureiro da Silva e vai até a confluência entre a Rua Lopo
Gonçalves e Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto (FRANCO, 2006). Abaixo podemos
visualizar a sua extensão atual.

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Figura 6 - Mapa da localização da Rua João Alfredo

Fonte: CAMPANA, 2018.


Nos primórdios da urbanização da região, no século XIX, havia uma rua da
Praia do Riacho (atualmente denominada Rua Washington Luís), e próximo a ela, após a
Ponte de Pedra, foram sendo construídas algumas edificações, principalmente na região
da margem do Riacho, que ficou conhecida nesse momento como a Rua da Margem do
Riacho. Esse nome deve-se ao fato de o referido caminho contornar paralelamente o trecho
final do córrego conhecido como Riachinho, atual Arroio Dilúvio (FRANCO, 2006). O
Riacho tinha origem em Viamão, atravessava a Azenha e seguia margeando a atual João
Alfredo, até desembocar no Guaíba. Era utilizado para o deslocamento de embarcações e
de produtos produzidos na região de suas margens, como as telhas e tijolos das olarias
(MENEGOTTO, 2020).

Segundo Menegotto, a Rua da Praia do Riacho e sua continuação, após a ponte de


Pedra, conhecida como Rua da Margem do Riacho seria o que consideraríamos a sexta
radial, entre o Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria) e a estrada do Rio (Avenida Praia
de Belas), trajetos paralelos à Margem do Guaíba (MENEGOTTO, 2020).

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Após o término da Revolução Farroupilha em 1845, o Presidente da Província Conde


de Caxias aprovou o projeto que visava dar continuidade a Rua da Margem, que até então
não ia além das fortificações, próximo ao cruzamento das atuais Rua João Alfredo com a
Rua da República (MENEGOTTO, 2020). Durante 1846 foram cercados os terrenos de
proprietários de renunciaram a parte de suas terras para a abertura da rua, bem como,
foram realizadas as instalações de rede de escoamento de água (FRANCO, 2006).

Em 1850 houve um novo momento de desenvolvimento urbano da região, com a


construção de uma ponte de acesso ao Menino Deus, inaugurada em 1854. Em 1852
inaugura-se ainda uma fonte pública, construída a pedido do Vice-Presidente Oliveira Belo,
em frente a Travessa do Carmo (FRANCO, 2006). A Rua da Margem era ainda cortada
por becos, alguns de nomes curiosos como Beco Ajuda-me a Viver, Beco do Curral das
Éguas, Beco do Céu, Beco do Vintém, entre outros (ZERO HORA, 2018).

Como descrito anteriormente, a Cidade Baixa era utilizada como espaço de, entre
outros serviços, comercialização e abate de animais. A Importância da Rua da Margem do
Riacho era sentida no final do Século XIX pois era um dos caminhos utilizados na
condução do gado até o local de abate, localizado onde hoje encontra-se a praça Garibaldi
(MENEGOTTO, 2020).

Entre os anos de 1870 e 1880 ocorre gradativamente o aumento da povoação da


região, principalmente através de imigrantes italianos que chegavam à cidade e negros
libertos após a abolição da escravatura. Estes se instalam nesta zona da cidade relacionada
geralmente a atividades menos nobres (MENEGOTTO, 2020).

Em 1888, em função da Abolição da Escravatura, a Câmara Municipal aprovou a


mudança do nome da via e a Rua da Margem passa a se chamar Rua do Senador João
Alfredo, que com o passar do tempo foi simplificado, tornando-se Rua João Alfredo
(FRANCO, 2006).

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Figura 7 - Planta da Cidade de Porto Alegre, 1906.

Fonte: Planta da Cidade de Porto Alegre, 1906 – Reimpressão moderna.

__________________________
1
Nascido em Itamaracá (Pernambuco), filho do Tenente Coronel Manuel Correia de Oliveira e de Joana
Bezerra de Andrade viveu sua infância em Goiana e mais tarde Olinda, onde estudou Humanidades e Direito
(FRAZÃO, 2020). Bacharel Pelo Faculdade de Recife (1858), foi delegado de polícia, promotor público e juiz
municipal no Recife, foi ainda Deputado Provincial e Deputado Geral, Presidente do Pará e de São Paulo,
Senador, Ministro do Império, Presidente do Conselho, e, em 1888 organizou o Gabinete que foi responsável
pela Abolição da Escravatura. João Alfredo apresentou pessoalmente a Princesa Isabel o decreto da Abolição.
Morreu no Rio de janeiro, no dia 6 de março de 1919 (DI RUSSO, 2000).

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Figura 8 - Detalhe da Planta de 1906 mostrando a Rua João Alfredo e o Riachinho.

Fonte: Planta da Cidade de Porto Alegre, 1906 – Reimpressão moderna.


No século XX as grandes modificações estruturais que a região foi submetida foi o
aterro do Riachinho e posteriormente a demolição de grande parte das construções de seu
lado ímpar, para possibilitar a abertura da Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto. Sobre a
obra da Primeira Perimetral vale ressaltar que que ela é fruto do Plano Diretor de 1959, que
alterou a região da Cidade Baixa, marcada pela arquitetura modesta. (FRANCO, 2006).

Atualmente, o conjunto de diretrizes para intervenção da Rua João Alfredo sinaliza


o interesse na preservação do espaço. Esse documento visa preservar características que
identificam o conjunto, buscando estabelecer normas de padronização de elementos
presentes em vários imóveis, possibilitando assim a sua adequação a novos usos. Os
objetivos deste documento versam sobre a possibilidade de enfatizar a homogeneidade do
conjunto, manter e recuperar elementos originais, evitar manifestações individuais que
descaracterizem os elementos originais ainda existente, entre outros (EPACH, 2012).

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Figura 9 - Rua da Margem, década de 1940. Jacob Prudêncio Herrmann (atribuído)

Fonte: Fototeca Sioma Breitman -, Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Figura 10 - Fotografia do fundo das casas localizadas na rua João Alfredo, com vista para
o Riacho, 1940

Fonte: MORAES, 2014

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Figura 11 - Fotografia da ponte de madeira sobre o Arroio Dilúvio, 1940

Fototeca Sioma Breitman Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo


Figura 12 - Fotografia do Arroio Dilúvio, 1940

Fototeca Sioma Breitman - Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

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Figura 13 - Fotografia da Ponte de Pedra sobre o Arroio Dilúvio, 1940.

Fototeca Sioma Breitman Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo


Figura 14 - A praia do Riacho, 1967 - João Faria Viana – (Nanquim)

Fonte: KRAWCZYK., 2010. Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli

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Figura 15 - “Ponte do Riacho”, 1929 – Libindo Ferraz – (aquarela)

Fonte: KRAWCZYK., 2010. Acervo Pinacoteca Aldo Locatelli


Figura 16 - Fotografia dos meninos no riacho, s/d

Fonte: TELLES,1980 apud REIS, 2018.

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Figura 17 - Fotografia da Rua João Alfredo Acervo Laudelino Teixeira de Medeiros

Fonte: SIMON, 2012


Figura 18 - Fotografia do Acervo de José Abrahan com a inserção das denominações das
ruas

Fonte: VIEIRA, 2017


O espaço da Cidade Baixa e consequentemente a Rua João Alfredo crescem e se
desenvolve urbanisticamente no final do século XIX e início do século XX. Diversas obras
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são realizadas, o número de edificações aumenta e com o estabelecimento de mais


pessoas na região a vida social e cultural também ganha força e novo formato. Veremos
abaixo a organização desse espaço e sua relação com a boemia, que tem início neste
período.

3.2.1 A Cidade Baixa e a Boemia

Através das fontes pesquisadas pode compreender o espaço da cidade Baixa e da


própria João Alfredo, em seu princípio, como uma zona de moradia de classe social
marcada pelo baixo poder aquisitivo. Ali instalaram-se os negros libertos e imigrantes que
chegavam a Porto Alegre. As casas, em sua grande maioria eram simples, compostas de
apenas um pavimento. O saneamento da região inexistia e uma grande parte da população
sofria com as inundações recorrentes.

Mas, apesar deste contexto histórico marcado pelas dificuldades esse princípio foi
também de uma efusividade cultural e boêmia, marcadas principalmente pelos carnavais
de rua.

No início, a região ficou reconhecida como uma zona de Baixa Boemia, chegando a
ser chamada de Banda Oriental, em decorrência das frequentes desordens que ali se
instalavam corriqueiramente. Dos espaços mencionados como as ruas “mais perigosas”
podemos elencar a Rua Pesqueiro, a Rua Luiz Guaranha (a primeira paralela à Rua João
Alfredo e a segunda paralela à Rua Baronesa do Gravataí) e a Avenida Félix (REIS, 2018).

Outros locais também mal afamados desde a sua criação eram as ruas da República
(antiga Rua do Imperador) e a Rua João Alfredo (antiga Rua da Margem), bem como a
zona que compreendia o Areal da Baronesa e a Colônia Africana. Essa má fama se
relacionava principalmente ao estigma direcionado aos moradores da região, vistos como
perigosos por serem, em sua quase totalidade, negros e pobres. A zona seria marcada
principalmente por estabelecimentos localizados a beira da calçada, sem estruturas e que
eram ofereciam aos passantes entretenimento, e, no princípio muitos destes
estabelecimentos eram bordéis (REIS, 2018).

Já nas primeiras décadas do século XX mudanças começam a ocorrer na forma


como a região é vista. Muitos músicos reconhecidos começam a frequentar essa área da
cidade, cantando e prestigiando os estabelecimentos. Um dos grandes nomes era Lupicínio
Rodrigues, nascido na região especificamente na Ilhota, era um destes que visitavam os

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espaços buscando novos principalmente por novos talentos e inspiração para suas
canções. Lupicínio também foi dono do Galpão do Lupi, um espaço efusivo da arte deste
período, localizado na Rua João Alfredo quase esquina com a Rua da República (REIS,
2018).

Outro marco cultural da região foram os cortejos carnavalescos realizados na rua, a


partir da metade do século XX. Os blocos e cordões de carnaval se deslocavam pelas ruas
de terra batida da região da Cidade Baixa, e um dos trajetos realizados passava pela Rua
João Alfredo. Para demonstrar a importância desse movimento, no ano de 1948 um grupo
da região organizou o desfile de carnaval com um rei momo local, negro, mesmo que a
cidade possuísse outro nome oficialmente neste posto. Organizou-se então um grande
cortejo marcado pela teatralização, onde Seu Lelé, o Rei Momo Negro saiu do Areal de
caíque até a Ponte de Pedra. Após a majestosa chegada neste ponto, os foliões e os
diversos cordões que o aguardavam seguiram em comitiva pela Rua João Alfredo (antiga
Rua da Margem) até o seu coreto, localizado na esquina da Rua Baronesa do Gravataí com
a Rua Barão do Gravataí, com as honras dignas da realeza (VIERA, 2017).

Na década de 1970 o movimento boêmio cresce na região e mais bares são abertos
na João Alfredo, como o Bar Estância de São Pedro. (REIS, 2018). A rua hoje é conhecida
pelos diversos bares e casas noturnas, acarretando diversos problemas com os moradores
que possuem casas na região

Após a apresentação dos aspectos gerais sobre a história da Antiga Rua da Margem
- atual Rua João Alfredo - abordaremos os aspectos arquitetônicos do espaço público,
descrevendo as características das suas edificações, e descrição do único prédio tombado
pela municipalidade localizado nesta via.

____________________
2
Lupicínio Rodrigues, cantor e compositor gaúcho, nasceu na Ilhota, filho de Francisco Rodrigues e Abigail.
Desde jovem compunha música para os blocos carnavalescos de seu bairro. Trabalhou na Carris e em 1931
entrou para o quartel, onde participou de um conjunto musical de soldados. Em 1935 dá baixa no exército e
começa a trabalhar como bedel na Faculdade de Direito, onde aposentou-se em 1947. Após a aposentadoria,
por motivo de doença, abriu uma churrascaria, a Jardim da Saudade ou Galpão do Lupi. Foi fundador e
representante da Sbacem no Rio Grande do Sul, por 28 anos. Dono de grandes sucessos de músicas como
“Se acaso você Chegasse”, “Felicidade” e “Esses Moços”, entre outras. Faleceu em Porto Alegre, a 27 de
agosto de 1974, cercado pela admiração geral (ALBIN. 2003).

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3.2.2 A Rua da Margem e sua arquitetura

Na virada do século XIX, a rua já possuía 250 prédios, em sua grande maioria
térreos, possuindo apenas três construções classificadas como sobrados e um
assobradado. (FRANCO, 2006). Essas casas e propriedades tinham seus fundos voltados
para o Riachinho (ALVES, 2001).

Entre estas construções encontrava-se o Solar do comerciante Lopo Gonçalves,


construído entre os anos de 1845 e 1855 e que era utilizado, neste período como casa de
campo da família (POSSAMAI, 2002). Esse prédio atualmente é sede do Museu de Porto
Alegre Joaquim Felizardo.

3.2.3 O Solar Lopo Gonçalves

O Solar Lopo Gonçalves acompanha a história do desenvolvimento do espaço da


Cidade Baixa e da Rua João Alfredo. Pela sua relevância histórica, Solar passou por um
processo de reconhecimento enquanto patrimônio, iniciado durante a década de 1970,
quando a Prefeitura de Porto Alegre começou a pensar as políticas de preservação de suas
edificações de maneira mais sistemática. Ele é o único bem tombado pela municipalidade
na Rua João Alfredo (PROCEMPA). Para compreender o processo do seu tombamento e
quais os motivos que levaram a essa proteção abordaremos a seguir o histórico da referida
construção.

Como descrito anteriormente, o prédio foi construído entre os anos de 1845 e 1955,
sendo utilizado inicialmente como a casa de campo da família de Lopo Gonçalves. Uma
construção típica, caracterizada pelo seu porão alto, considerada edificação de transição
entre as casas térreas e sobrados. O Solar foi mobiliado de forma simples (POSSAMAI,
2001).

Com a morte do seu primeiro proprietário, o solar passar como herança para sua
filha Maria Luiza Gonçalves Bastos e seu esposo. Após algumas ampliações e
modificações arquitetônicas a casa transforma-se na residência da família, ficando como
sua propriedade até 1916. Entre as modificações sofridas estão o fechamento da varanda,

________________________
3
Lopo Gonçalves Bastos era um comerciante de origem portuguesa. Foi Vereador e Provedor da Santa Casa
de Misericórdia de Porto Alegre. Possuía armazém de secos e molhados na Praça da Alfândega e loja de
fazendas da Rua da Praia, dependo muito bens, além de diversos escravizados, que trabalhavam
principalmente nos serviços domésticos, no comércio e em sua chácara. Foi um dos fundadores da Praça do
Comércio de Porto Alegre e do Banco da Província (POSSAMAI, 2002).
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inclusão de um novo cômodo e pátio interno (POSSAMAI, 2001). No ano de 1946 a


residência é vendida para Albano José Volkemer e passa a ser utilizada como fábrica de
velas, tornando o lugar insalubre, porém, muitas pessoas de baixa renda vivem ali. Nesse
período o prédio fica conhecido como Casa da Magnólia, em função da arvore centenária
do seu jardim (GELMINI, TOCCHETTO, ZUBARAM, 2011).

Em 1966 o Solar é novamente vendido para o Serviço de Assistência Social e Seguro


dos Economiários, que pretendia demolir o prédio. A ação não foi autorizada pela prefeitura,
e o Solar continua servindo de habitação para diversas pessoas, ficando conhecido como
“Cortiço”. Em 1977 o Instituto de Administração Financeira de Previdência e Assistência
Social assumiu o espaço, que foi permutado pela prefeitura municipal em 1979, em troca
de um terreno na Avenida Loureiro da Silva. (GELMINI, TOCCHETTO, ZUBARAM, 2011).

Concomitante a isso um grupo da cidade iniciou um movimento para preservação


dos prédios históricos da capital gaúcha, na década de 1970. A prefeitura Municipal então
criou o Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural. Esta instituição, logo após a sua criação
constrói uma lista, relacionando 47 imóveis, com valor histórico, cultural e de tradição para
a cidade, e, o Solar Lopo Gonçalves foi um dos imóveis escolhidos (GELMINI,
TOCCHETTO, ZUBARAM, 2011).

Na justificativa pela sua inserção neste levantamento foram descritos os fatos de ser
uma das casas mais antigas da cidade, por ser uma construção com características
portuguesas e ainda por ter pertencido a Lopo Gonçalves (POSSAMAI, 2002). Então, em
1974 o Solar é inventariado e inicia-se às discussões sobre qual seria a utilização dada ao
imóvel. Em 1980 iniciam as obras de restauro do prédio, coordenadas pelo arquiteto Nestor
Torelly Martins e as mesmas são concluídas em 1982 (GELMINI, TOCCHETTO,
ZUBARAM, 2011).

Neste período iniciam-se também em Porto Alegre as discussões sobre a criação de


um local para guardar as memórias da cidade. Em 1978 Moacyr Flores coordena uma
comissão com a finalidade da criação de um museu responsável pela preservação dessa
memória. Em 1979 o Museu de Porto Alegre é criado pela prefeitura, inicialmente com sede
na Rua Lobo da Costa, nº 291, salvaguardando o acervo do arquivo da municipalidade,
organizado por Walter Spalding. Com a finalização das obras de restauro em 1982 a sede
do Museu é transferida para o Solar Lopo Gonçalves e, em 1993 o Museu passa a se
chamar Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo.
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Figura 19 - Fotografia da Fachada do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração

Fonte: Fototeca Sioma Breitman -, Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Figura 20 - Fotografia do pátio interno do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração

Fonte: Fototeca Sioma Breitman -, Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

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Figura 21 - Fotografia da fachada lateral do Solar Lopo Gonçalves, antes da restauração

Fonte: Fototeca Sioma Breitman - Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

3.2.4 O Casario

O casario da rua João Alfredo, se destaca pela tipologia, porta janela, que embora
recorrente no bairro Cidade Baixa e em outras regiões da cidade, devido ao traçado peculiar
da rua que quebra a quadricula urbana do bairro, mesmo após o desvio do riacho, tornando
o conjunto muito interessante. O traçado que seguia o curso do riacho fez com que as
casas se alinhassem acompanhando a margem caudalosa.

Embora o conjunto, no geral, esteja bastante descaracterizado, ainda é possível se


ter uma leitura do conjunto que possui 64 imóveis inventariados pelo município por
estruturação e compatibilização, sendo objetos de preservação e de interesse cultural.
Destaca-se que a área é segundo o PDDUA é especial de interesse cultural.

No ano de 2012, a Equipe do Patrimônio Histórico Cultural (EPAHC) elabora


diretrizes para o conjunto urbano da rua, que com a inclusão dos imóveis no inventário
deveriam receber intervenções com recomendações compatíveis a bens culturais. Estas
diretrizes visavam a qualificação urbana, além de ditar recomendações para a intervenção
nas fachadas como, pintura e instalação de veículos de divulgação.

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A preservação deste casario é de suma importância, visto que estão fortemente


ligados a identidade do bairro Cidade Baixa, além de serem um testemunho das
transformações urbanas ocorridas no bairro ainda na primeira metade do século XX.

Figura 22 - Casario remanescente da antiga margem do riacho pós as intervenções


segundo as diretrizes da EPAHC.

Fonte: http://construapoa.portoalegre.rs.gov.br/node/2

4 REFERÊNCIAS

Acervo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo - Fototeca Sioma Breitman

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB - A História de nossa música popular
de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

ALVES, Hélio Ricardo. Porto Alegre foi assim...; Porto Alegre: editora Sangra
Luzzatto, 2001

CAMPANA, Alice Sebem. PERCEPÇÕES E PRÁTICAS NOTURNAS: Um estudo


de caso na Rua João Alfredo em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Monografia apresentada
ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para
obtenção do título de bacharel em Geografia. Porto Alegre, 2018.

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DI RUSSO, Berlane. Nome de Rua: Personagens e lugares das ruas de Porto


Alegre. EST Edições, Porto Alegre, 2000.

EPACH. Conjunto Rua João Alfredo: diretrizes para intervenções. Porto Alegre,
Dirertizes de abril de 2005, revisadas em maio de 2012.

FRAZÃO, Dilva. Biografia de João Alfredo Correia de Oliveira. In: Ebiografia, Escrito
em 28 de fevereiro de 2020; Disponível em:
<https://www.ebiografia.com/joao_alfredo_correia_de_oliveira/> Acesso em 24 de
novembro de 2020.

GELMINI, Ana Carolina; TOCCHETTO, Fernanda; ZUBARAM, Maria Angélica. O


Solar que virou Museu. Porto Alegre: PMPA, 2011. Disponível em
<http://www.museudeportoalegre.com/wp-content/uploads/2018/08/Cat%C3%A1logo-O-
solar-que-virou-Museu_2018.pdf> Acesso em 25 de novembro de 2020.

MORAES, Nilo da Silva. Coisas antigas de Porto Alegre. In: ALMANAQUE


CULTURAL BRASILEIRO, Porto Alegre, 2014. Disponível em:
<https://almanaquenilomoraes.blogspot.com/2014/05/regiao-da-foz-do-diluvio.html?m=0>
Acesso em 24 de novembro de 2020.

PORTO ALEGRE (RS). Lei ordinária nº 12.112, de 22 de agosto de 2016.


Disponível em < https://leismunicipais.com.br/a/rs/p/porto-alegre/lei-
ordinaria/2016/1211/12112/lei-ordinaria-n-12112-2016-cria-extingue-denomina-e-delimita-
os-bairros-que-integram-o-territorio-do-municipio-de-porto-alegre-e-revoga-as-leis-nos-
1762-de-23-de-julho-de-1957-2-022-de-7-de-dezembro-de-1959-2-681-de-21-de-
dezembro-de-1963-2-688-de-26-de-dezembro-de-1963-3-159-de-9-de-julho-de-1968-3-
193-a-de-29-de-outubro-de-1968-3-671-de-19-de-julho-de-1972-4-166-de-21-de-
setembro-de-1976-4-249-de-27-de-dezembro-de-1976-4-685-de-21-de-dezembro-de-
1979-4-686-de-21-de-dezembro-de-1979-4-876-de-24-de-dezembro-de-1980-5-799-de-
19-de-novembro-de-1986-6-218-de-17-de-outubro-de-1988-6-571-de-8-de-janeiro-de-
1990-6-572-de-8-de-janeiro-de-1990-6-594-de-31-de-janeiro-de-1990-6-704-de-19-de-
novembro-de-1990-6-720-de-21-de-novembro-de-1990-6-893-de-12-de-setembro-de-
1991-6-911-de-17-de-outubro-de-1991-7-155-de-1-de-outubro-de-1992-7-954-de-8-de-
janeiro-de-1997-8-258-de-22-de-dezembro-de-1998-9-993-de-16-de-junho-de-2006-10-

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364-de-22-de-janeiro-de-2008-10-724-de-9-de-julho-de-2009-11-058-de-11-de-marco-de-
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https://portoimagem.wordpress.com/2012/07/17/fotos-antigas-de-porto-alegre-acervo-
laudelino-teixeira-de-medeiros/> Acesso em 25 de novembro de 2020.

VIEIRA, Daniele Machado. Territórios negros em Porto Alegre/RS (1800 – 1970):


Geografia histórica da presença negra no espaço urbano, Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 29017 Disponível em: <
https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/177570/001065835.pdf?sequence=1&isAllow
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ZERO HORA. Nossas Curiosas Ruas. Porto Alegre, 23 de janeiro de 2018.


Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-
lazer/almanaque/noticia/2018/01/nossas-curiosas-ruas-1-cjcrxbozf03ii01kekqwf820j.html >
Acesso em: 25 de novembro de 2020.

ZERO HORA. Almanaque: A Primeira Perimetral e o quintal da minha antiga casa.


Porto Alegre, 13 de maio de 2020. Disponível em < https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-
e-lazer/almanaque/noticia/2020/05/a-primeira-perimetral-e-o-quintal-da-minha-antiga-
casa-cka4g68gi00q9015nmuw77hzh.html> Acesso em 25 de novembro de 2020.

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