REVISTA PARANAENSE

DE ENGENHARIA
AMBIENTAL
Ano 3 | Nº 3 | Junho de 2021

NESTA EDIÇÃO
ENTENDENDO
ESSA PUBLICAÇÃO
A ESCASSEZ HÍDRICA
É UMA PARCERIA
ENTRE: PELA ENGENHARIA
AMBIENTAL

10 ANOS DE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

NESTA EDIÇÃO:

A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E O GERENCIAMENTO

DE ÁREAS CONTAMINADAS COM A ATUAÇÃO DE ENGENHEIROS
E ENGENHEIRAS AMBIENTAIS

PERÍCIAS AMBIENTAIS: A IMPORTÂNCIA DE PROFISSIONAIS

ESPECIALISTAS EM AÇÕES JUDICIAIS DE RELEVÂNCIA AMBIENTAL

O CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE

E A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Juntos somos
mais fortes.

As Entidades de Classe são associações de profissionais das Engenharias, Agronomia e Geociências, sem fins
lucrativos, que os representam dentro do Sistema Confea/Crea. Elas têm, em sua essência, o fortalecimento
dos profissionais, das profissões e a missão de levar conhecimento técnico e apoio aos colegas da mesma
área.

O Crea-PR mantém um relacionamento de parceria com as ECs, buscando seu fortalecimento com foco na
melhoria contínua dos processos de gestão. Entidades fortalecidas e referência em gestão se tornam
agentes de valorização profissional, participando nas questões de interesse da sociedade com visão humana
e social, por meio da mobilização de seus associados.

E por que as Entidades de Classe são tão importantes?"

São elas que representam os profissionais perante o Conselho nas comissões, comitês, câmaras
especializadas e reuniões plenárias. As ECs são responsáveis por levar as demandas de sua categoria
profissional ao Conselho.

Para chegar nessa representação, a EC, comprovando seu funcionamento por pelo menos três anos, além de
possuir registro, estatuto e regimento interno, solicita aprovação do Conselho Regional e depois do Confea -
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. E assim, ela passa a ter direito à vaga de conselheiro.

Além dos benefícios da representação, valorização profissional e oportunidades de aperfeiçoamento, as ECs

têm outras vantagens para oferecer aos profissionais como convênios com planos de saúde, instituições de
ensino e serviços. O associativismo também promove interação entre os profissionais, troca de
conhecimentos e gera oportunidades no mercado de trabalho.

O associativismo pode iniciar durante a graduação ou pelos jovens profissionais, que têm nessa
oportunidade uma escola de desenvolvimento participativo e de aprendizagem profissional.

Procure a Entidade de Classe mais próxima de você, conheça os benefícios e seja um associado!
Índice
REVISTA PARANAENSE

DE ENGENHARIA
AMBIENTAL

EDITORIAL - Palavra do Presidente 05

Entendendo a escassez hídrica pela Engenharia Ambiental 06

10 anos de Política Nacional de Resíduos Sólidos 10

A recuperação de áreas degradadas e o gerenciamento de áreas contaminadas com a

atuação de Engenheiros e Engenheiras Ambientais 13

Perícias ambientais: a importância de profissionais especialistas em ações judiciais de

relevância ambiental 16

O Conselho Estadual do Meio Ambiente e a importância da participação social 18

Poluição atmosférica e COVID-19: Efeitos e consequências 21

Planejamento ambiental de obras de infraestrutura e a importância da engenharia

ambiental no setor 23

O profissional de engenharia ambiental e sua atuação no maior polo de mineração

de calcário em Caçapava do Sul-RS 25

A sustentabilidade na drenagem urbana 27

Saneamento rural: a necessidade de arranjos alternativos de planejamento e prestação

de serviços para a universalização do acesso 29

O reúso de água 31

As Diretrizes Empresariais de Desempenho Ambiental, Social e Governança Corporati-

va (ESG) 33

A expansão da cadeia produtiva do biogás 35

A Economia Circular e a engenharia ambiental: novas oportunidades para o profissional 37

Mobilidade Urbana e o pós (em) pandemia 39

A fiscalização dos Sistema Confea/Crea: como funciona? 41

A atuação das inspetorias do Sistema Confea/Crea 43

Resolução Cofea n.º 1.025/09: Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e Certidão

de Acervo Técnico (CAT) 45
Expediente

Associação Paranaense dos Engenheiros Ambientais - APEAM Gerência de Projetos

tel: (41) 99525-0017 • Altamir Hacke
apeampr@gmail.com • Luiz felipe Pankievicz
• Gabriella Valentim
• Paula Fernanda Gonçalves
Diretoria Executiva • Marcos Vinícius Costa Rodrigues
• Luiz Guilherme Grein Vieira – Presidente
• Jessica de Miranda Paulo – Vice-presidente Gerência de Relações Institucionais
• Vanessa Tres – Secretária • Helder Rafael Nocko
• Thais Carlini Baptista – Vice-secretária • João Gomes
• Ian de Lima Ribeiro – Tesoureiro • Charles dos Santos
• Mariana Druszcz – Vice-tesoureira • Juliano Epifanio de Melo
• Wislaine Valesca Bonfim

Estagiária Conselho Fiscal

• Mirelly Lacerda Pinheiro • Guilherme Augusto Garcia Geronasso / João Gomes
Tiago Martins Bacovis - Conselheiros Titulares
Gerência Acadêmica • Thiago Bana Schuba / Marcelo Lentini Ribas
• Marcelo Zawadzki Bueno Lais Ribas - Conselheiros Suplentes
• Lisandra Kaminski
• Altair Rosa
• Vitória de Oliveira
• Luciana Muller Colaboradores
• Arthur K. Neto
• Daniele Cássia de Souza
Gerência Técnica • Ian de Lima Ribeiro
• Bruno Tonel Otsuka • Jessica de Miranda Paulo
• Luiza Scarpim • Juliane Quintnilha
• Rafael Luiz Diogo da Rosa • Luiz Guilherme Grein Vieira
• Luiz Felipe Pankievicz • Mariana Druszcz
• Thiago Bana Schuba • Mirelly Lacerda Pinheiro
• Cássio Fernando Foquessatto • Vanessa Tres
• Paula Fernanda Gonçalves
• Thais Carlini Baptista
Gerência de Comunicação
• Guilherme Miola de Castro
• Wislaine Valesca Bonfim
• Mirelly Lacerda Pinheiro
• Bruna Vigo Pinto Expediente Coordenação:
BE4 Marketing – 41-99911-3933
Gerência de Eventos Jornalista responsável: Danielle Milarski.
• Paula Fernanda Gonçalves Mtb 3468/13/54
• Vitória de Oliveira
Reportagem:
• Luciana Muller
Danielle Milarski
• Arlan Scortegagna
• Charles dos Santos Pesquisa:
Luiz Guilherme Grein Vieira - Presidente APEAM
Gerência Jurídica Diagramação:
• Amélia Bortoli BE4 Marketing
• Igor Rayzel
Impressão:
Optagraf
Gerência de Planejamento
• Daniele Cássia de Souza Tiragem:
• Juliano Epifanio de Melo 600 unidades
• Anádia Cattarin
*Entrevistas e matérias realizadas entre os meses de
dezembro de 2020 e janeiro de 2021

Ricardo Rocha
CREA-PR
Antes de mais nada, um feliz 2021
para todos! Que este novo ano nos
traga sabedoria para lidarmos com as
dificuldades que ainda teremos pela
frente e clareza para enxergamos as
oportunidades que essas mesmas
dificuldades nos trazem.
O ano de 2020 deixou bem clara a importância das Engenharias,
Agronomia e Geociências para a humanidade, por meio das
contribuições que nossos profissionais deram no combate à
pandemia da Covid-19 e do apoio na superação das dificuldades
resultantes dela.
Muitos bons exemplos disso estão descritos no Especial
Covid-19, lançado pelo Crea-PR em abril do ano passado,
que relatou, em 50 matérias, projetos, soluções e opiniões de
profissionais do nosso sistema no que diz respeito à Covid-19.
Esse material está disponível no site do Crea-PR e vale muito
a pena conferir.
Luiz Guilherme Grein Vieira
APEAM
O ano de 2020 foi extremamente
desafiador para todos nós.
Convivemos com uma pandemia
mundial e no Paraná enfrentamos
uma estiagem extrema, atingindo
os menores níveis de reservatórios de abastecimento de
água das últimas décadas.
Apesar dessas dificuldades, tivemos grandes aprendizados,
e para a área ambiental não foi diferente. Como Engenheiros
(as) Ambientais e Sanitaristas, aprendemos desde a
graduação a importância de um bom planejamento e
principalmente da implantação de medidas de prevenção,
cruciais para enfrentarmos situações adversas como as
relatadas anteriormente.
Neste contexto, trouxemos para a 3º Edição da Revista
Paranaense de Engenharia Ambiental a matéria de capa
com o tema escassez hídrica. Profissionais da Engenharia
Ambiental que atuam diretamente no monitoramento,
fiscalização, outorga e planejamento de bacias hidrográficas
Editorial
PALAVRA DO PRESIDENTE
O mesmo ritmo de urgência em encontrar soluções inovadoras,
imposto a todos nós no ano passado, continuará neste ano e no
futuro próximo.
O mundo mudou e nós precisamos mudar com ele. Sempre
fomos profissionais à frente do nosso tempo no desenvolvimento
de soluções tecnológicas e processuais. Mas, agora, precisamos
acompanhar, com inteligência, o timming dessas mudanças.
Revistas como esta, produzidas via Termos de Fomentos
destinados pelo Crea-PR, colaboram demasiadamente para a
disseminação de informações que contribuem para a reciclagem
profissional e, portanto, para a mais rápida adequação de nossos
profissionais a uma sociedade em constante mudança.
Vamos seguir nos informando e atualizando para estarmos
sempre prontos para as oportunidades que certamente surgirão
em nossos caminhos.
Boa leitura!
Ricardo Rocha
Presidente CREA-PR
abordam a situação calamitosa que enfrentamos, e os
programas que estão sendo desenvolvidos no Estado para
prevenir e minimizar efeitos de novas ondas de seca.
A pandemia foi abordada em artigo que analisa os impactos
do coronavírus na qualidade do ar, demonstrando a
importância do tema e a abrangência de atuação profissional
da Engenharia Ambiental.
Destaca-se também um balanço dos 10 anos da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, principal normativa sobre
o tema no país, que ainda enfrenta dificuldades para sua
implantação.
Com essa abordagem, damos continuidade à nossa missão
de informar a sociedade sobre as questões relativas à
Engenharia Ambiental, trazendo profissionais capacitados a
abordar temas atuais com conteúdo técnico.
Esperamos que a nova edição da Revista traga reflexões
para profissionais da área e demais atores da sociedade
sobre a importância da realização de estudos técnicos de
qualidade para a previsão e enfrentamento de novos desafios
que teremos no futuro.
Luiz Guilherme
Presidente APEAM
5
 TÍTULO
DA MATÉRIA
ENTENDENDO A ESCASSEZ HÍDRICA
PELA ENGENHARIA AMBIENTAL
A estiagem severa que acomete o estado do
Paraná desde 2019, agravada, ainda, pelo
aumento do consumo de água, resultou em um
drama para a população paranaense nos últimos
meses. O relatório do observatório Monitor das
Secas mostra que o pior cenário do ano foi em
novembro passado, quando praticamente todo
o território paranaense estava na classificação
de seca grave. A exceção era a Região Oeste
do estado, em situação ainda pior, na categoria
seca extrema. Já no primeiro semestre de 2020, a
Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar)
precisou acionar o protocolo de gestão de crise,
que previa ações como aproveitamento de
reservas estratégicas, obras de infraestrutura e
rodízios.
“A região de Curitiba nunca sofreu uma escassez
como a que estamos vivendo”, afirma o
6
Arlan Scortegagna
Tiago Bacovis
engenheiro ambiental Bruno Tonel Otsuka, que,
até recentemente, ocupava o cargo de gerente
de Gestão de Bacias Hidrográficas do Instituto
Água e Terra (IAT). Ele conta que há um medidor
que avalia o nível do Rio Iguaçu desde 1930, na
região de União da Vitória. Ao longo desses 90
anos de medição, foi agora, em 2020, que o nível
mais baixo do rio foi registrado. Como a Região
Metropolitana de Curitiba está em uma área
de cabeceira, ou seja, onde ficam as primeiras
nascentes do Rio Iguaçu, há ali uma menor vazão
de água disponível em comparação à foz.
Otsuka, também coordenador da Comissão
“Um bom exemplo é o Ceará, onde há baixa
pluviometria e baixas vazões de rios, e,
portanto, precisou aprender a lidar com a falta
de água, tendo hoje a sua gestão muito bem
desenvolvida”

de Meio Ambiente no Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR),
afirma, no entanto, que o problema desta crise
de abastecimento não é a escassez. “O que
mais interfere na segurança hídrica é a relação
demanda – que vem aumentando tanto no uso
doméstico quanto por empresas e indústrias –,
e distribuição”. Ele explica que nem sempre a
melhor distribuição acontece na região de maior
necessidade, podendo chover significativamente
em determinada bacia que não atende à região de
maior demanda, por exemplo.
O Paraná é uma das referências nacionais na área
de gestão de recursos hídricos, mas tem muito a
melhorar. Outros estados que se destacam nessa
área são os que também passaram por crises ou
que vivem uma situação rotineira de escassez.
“Um bom exemplo é o Ceará, onde há baixa
pluviometria e baixas vazões de rios, e, portanto,
precisou aprender a lidar com a falta de água,
tendo hoje a sua gestão muito bem desenvolvida”,
conta Otsuka.
O engenheiro cita o estado cearense como o
que provavelmente melhor trabalhe a questão de
transposição de bacias – a transferência de uma
parte segura de vazão de uma bacia para outra,
Capa
onde há maior demanda. Isso aconteceu aqui no
Paraná. A Sanepar chegou a realizar cerca de 20
ações complementares para abastecer Curitiba e
região, incorporando mais de 4 bilhões de litros de
água em 2020. “Existem monitoramentos ambientais
eficazes, mas cabe aos órgãos e, principalmente,
aos gestores utilizarem essas ferramentas. Quando
se trata de recursos hídricos é preciso pensar em
longo prazo e não ficar resolvendo apenas as
questões emergenciais”, alerta.
É na crise que aparece a oportunidade de se pensar
em alternativas, em programas constantes que não
sejam apenas campanhas de conscientização
e racionamento. O Paraná está trabalhando na
regulamentação do reuso de água, algo que deve
sair ainda neste ano. O assunto ainda é incipiente
no Brasil, mas em estados, como São Paulo, Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e Ceará, isso já é uma
realidade.
Indústrias metalúrgicas, petroquímicas ou
empresas que precisam lavar caminhões, por
exemplo, utilizam água que não precisa ser potável,
mas que, antes de voltar a ser utilizada, necessita
de um tratamento melhor do que o realizado pelas
estações de tratamento tradicionais.
7
Capa
“É o fundamento da economia circular, conceito
que reduz muito a demanda da água”, explica
Otsuka.
Um bom exemplo vem da Usina Elétrica a Gás de
Araucária (Uega), que utiliza água de um trecho
contaminado do Rio Iguaçu, inadequado para
fornecer água potável. O recurso captado é tratado
em uma Estação de Tratamento de Água (ETA)
industrial da Sanepar e utilizado no processo de
geração de energia termelétrica. Depois, é lançado
no Rio Barigui com uma qualidade superior à do
próprio rio. “É claro que a questão econômica pesa.
A água é muito barata no Brasil, se compararmos a
outros países, então é preciso incentivar a técnica
para que a conta feche”.
É bom lembrar que a água é um recurso natural
limitado e a ideia de que é abundante é antiga
e irreal. “Dependemos de bacias hidrográficas
conservadas para termos água em quantidade
8
“Dependemos
de bacias
hidrográficas
conservadas
para termos
água em
quantidade e de
qualidade”
e de qualidade”, reforça o engenheiro ambiental
Tiago Bacovis, chefe de divisão de análise de
demanda e disponibilidade hídrica do IAT. Para
superar a crise e evitar a escassez hídrica, ele
reforça a necessidade de implementação de ações
de gestão compartilhada e descentralizada, ou
seja, é preciso contar com a participação do poder
público e da comunidade.
Se, por parte dos usuários, é preciso evitar
o desperdício e reutilizar água para fins não
potáveis, por exemplo, por parte do poder público,
o leque de ações é maior. O engenheiro destaca
como fundamental, no entanto, a reestruturação
feita nos órgãos ambientais – o Instituto Ambiental
do Paraná (IAP), o Instituto de Águas do Paraná
(Águas Paraná) e o Instituto de Terras, Cartografia
e Geologia do Paraná (ITCG) foram incorporados
para a criação de um único órgão, o IAT.

“A região de Curitiba
nunca sofreu uma
escassez como a que
estamos vivendo”
Isso unificou os setores de licenciamento, outorga,
monitoramento e fiscalização em uma diretoria,
facilitando a integração das informações e
processos internos do órgão.
Em meio à severa crise hídrica, pela qual o estado
passa neste momento, os deputados Goura
(PDT) e Evandro Araújo (PSC) aprovaram, na
Assembleia Legislativa do Paraná, o Projeto de Lei
n.º 615/2020, que dispõe sobre o uso responsável
da água no Paraná. “Esse tipo de ação é muito
importante”, pontua Bacovis. “O Projeto de Lei visa
incentivar ações para evitar o uso inadequado da
água e o desperdício, além de incentivar pesquisas
e o uso de tecnologias que visem à redução do
consumo com mecanismos que aumentem a
eficiência dos usos.” A nova lei aguarda sanção do
governador, Carlos Massa Ratinho Junior.
Arlan Scortegagna, engenheiro ambiental do
Sistema de Tecnologia e Monitoramento do Paraná
(Simepar), tem como responsabilidade operar
uma rede de monitoramento hidrometeorológico.
Com a ajuda de equipamentos que fazem o
quantitativo de chuva e de vazão, ele processa
essas informações, de modo estatístico, para ter a
real ideia do panorama da crise hídrica.
Muito se espera que os meteorologistas hidrólogos
deem uma resposta fácil aos problemas da
sociedade, mas não é bem assim. Scortegagna
diz que é muito claro que esta crise hídrica não é
a primeira registrada no Paraná nem será a última.
Capa
“A humanidade tem uma dependência muito
grande dos recursos hídricos, mas esses recursos
não têm a capacidade de suportar facilmente, por
exemplo, os mais de 3,5 milhões de habitantes que
existem em Curitiba e região metropolitana”, diz.
Segundo ele, isso não significa que a população
não possa viver sem medidas de rodízio e fases
de grande escassez. “Mas, para isso, precisamos
de medidas de engenharia, de alocação de
recursos hídricos, que são estudadas no campo da
hidrologia, e medidas de tratamentos alternativos,
novas opções de abastecimento de água, que são
do campo do saneamento”, alerta o engenheiro
ambiental.
Fica o alerta sobre a importância do planejamento
e da gestão de recursos hídricos, e a fundamental
participação ativa da sociedade nesse processo,
para que no futuro estejamos mais preparados
para situações extremas de períodos secos
e chuvosos, que tendem a ocorrer com maior
frequência por causa das mudanças no clima.
“A humanidade tem uma
dependência muito grande
dos recursos hídricos, mas
esses recursos não têm
a capacidade de suportar
facilmente, por exemplo,
os mais de 3,5 milhões de
habitantes que existem
em Curitiba e região
metropolitana”
9
Matéria
Roberta Gregório
10 ANOS DE POLÍTICA
NACIONAL
DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
completou dez anos com poucos avanços no
combate ao descarte inadequado de resíduos. A lei,
que inicialmente previa o fim dos aterros irregulares
até 2014, foi alterada pelo novo marco legal do
saneamento, aprovado em 2020, empurrando o
prazo para a extinção desses lixões e demonstrando
a dificuldade dos municípios na adaptação e na
execução do próprio planejamento público.
O novo prazo termina em agosto deste ano para
capitais e regiões metropolitanas; em 2022, para
cidades com mais de 100 mil habitantes; em 2023,
para municípios com população entre 50 mil e
100 mil habitantes; e, em 2024, para municípios
menores. “Dez anos depois ainda temos grandes
dificuldades em melhorar os indicadores de
destinação final adequada, reciclagem de materiais
secos e compostagem de resíduos orgânicos”,
explica Luiz Guilherme Grein Vieira, sócio da Ideal
Ambiental, fundador da plataforma Resitrack e
atual presidente da Associação Paranaense de
Engenheiros Ambientais (Apeam).
A gestão de resíduos sólidos é um dos quatro
pilares do saneamento básico, portanto está
diretamente relacionada à qualidade de vida e
ambiental da população. “É de extrema importância
a participação de técnicos capacitados para o
10
Edson Massi Luiz Guilherme
Grein Vieira
planejamento das ações necessárias, busca
de novas soluções tecnológicas, operação das
unidades de gerenciamento de resíduos, além
da coordenação de programas de educação
ambiental”, avalia Grein Vieira.
Segundo dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS), hoje há
pelo menos três mil lixões no país. Do total de
unidades de disposição final de resíduos sólidos
urbanos, 26,8% são aterros sanitários, considerados
a forma adequada de destinação, enquanto 73,2%
são aterros controlados ou lixões, localizados,
principalmente, em cidades pequenas.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe),
79 milhões de toneladas de resíduos foram gerados
no Brasil em 2019. Desse total, 75,1% foram
destinados a aterros sanitários, enquanto 24,9%
acabaram em áreas inadequadas, pelo fato de que
os grandes centros urbanos, que concentram maior
parte da população, possuem aterros sanitários.
“Com relação à coleta seletiva, o Brasil recicla cerca
de 3% do total de resíduos coletados, o que indica a
necessidade urgente de repensarmos o modelo de
consumo e a gestão de resíduos atuais”, alerta Luiz
Guilherme.

A PNRS prevê a criação de planos estaduais. A
engenheira ambiental Roberta Gregório, analista
de projetos na EnvEx Engenharia e Consultoria,
participou da equipe de coordenação para a
elaboração do Plano Estadual de Resíduos Sólidos
do Paraná (PERS/PR), desenvolvido nos anos de
2017 e 2018. A equipe multidisciplinar contava com
cerca de 40 profissionais, além de um comitê diretor,
formado por membros do governo do estado, e
um grupo de sustentação, com representantes de
entidades, como universidades e conselhos de
classe, e sociedade civil organizada.
No processo de elaboração do plano, a equipe
percorreu quase 14 mil quilômetros e visitou 66
municípios paranaenses, identificando as principais
potencialidades e os desafios para, enfim, elaborar
programas e projetos alinhados com as diretrizes
propostas. Hoje, o plano está sob a responsabilidade
da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do
Turismo.
“O maior desafio para os gestores públicos que
trabalham com a gestão e o manejo de resíduos
sólidos é a eliminação definitiva de lixões e a
sustentabilidade econômico-financeira do sistema”,
avalia Roberta. Geralmente, a cobrança pelos
serviços de manejo e gestão de resíduos sólidos não
cobre os custos. “No Paraná, 12% dos municípios
não cobram taxa de gestão de resíduos e 95%
dos municípios que realizam a cobrança possuem
déficit de arrecadação”, revela.
Embora os lixões sejam considerados os grandes
vilões no que diz respeito à gestão dos resíduos
sólidos, eles são os últimos na ordem de prioridade
das diretrizes estabelecidas na PNRS. A não
geração, a redução, a reutilização e a reciclagem
vêm à frente. “É preciso promover a conscientização
ambiental a fim de motivar mudanças de atitudes e
de hábitos na sociedade, principalmente, quanto à
importância da não geração e a responsabilidade
na produção de resíduos”. O maior avanço nesses
dez anos, segundo Roberta, é o crescimento da
Matéria
logística reversa, que prevê que a responsabilidade
pelo ciclo do produto deva ser compartilhada
entre fabricantes, distribuidores, comerciantes e
importadores. Significa que todos devem atuar para
diminuir o impacto dos resíduos à saúde e ao meio
ambiente.
“O maior desafio para os
gestores públicos que
trabalham com a gestão e o
manejo de resíduos sólidos
é a eliminação definitiva de
lixões e a sustentabilidade
econômico-financeira do
sistema”,
Edson Henrique Gaspar Massi, um dos
articuladores sociais da Rede Expandida de Apoio
às Cooperativas e Associações de Catadores de
Materiais Recicláveis de Londrina e Região, conta
que a criação da própria rede, em 2019, foi reflexo
da PNRS e um importante exemplo de avanço.
“A política nacional trouxe a possibilidade para que
essa articulação acontecesse. A gente consegue se
organizar, mobilizar, exigir, fazer a inclusão social
das cooperativas, mudar essa roupagem do que era
lixo para virar resíduos sólidos”, avalia. Segundo ele,
essa organização traz cidadania e independência
para as cooperativas, que abraçam mulheres,
pessoas com deficiência, transexuais, entre outros.
“Muitas pessoas marginalizadas e em situação de
vulnerabilidade social tornam-se donas do negócio,
com emancipação e dignidade”, completa.
11
Matéria

“É preciso promover
a conscientização
Edson diz que, pelo fato de o país ser muito ambiental a fim de
grande, é preciso pensar localmente, fazer acordos
descentralizados respeitando a realidade de cada
motivar mudanças
lugar. “Não adianta existir toda uma coleta seletiva de atitudes e de
e a separação do resíduo em um município, se hábitos na sociedade,
naquela região a reciclagem é economicamente principalmente,
inviável. Ainda precisamos avançar muito”, afirma. quanto à importância
Ele sugere que cada cidadão se envolva com as
da não geração e a
cooperativas do seu município para se informar
sobre os materiais que são reciclados e os que, por responsabilidade na
inviabilidade econômica, acabam indo para o aterro.

A informação colhida direto na fonte alerta para o

que não deve ser consumido, fazendo com que a
sociedade repense suas escolhas e assuma sua
responsabilidade no processo.

12

Andressa Gotti
A RECUPERAÇÃO
DE ÁREAS DEGRADADAS
E O GERENCIAMENTO DE ÁREAS
CONTAMINADAS COM A ATUAÇÃO DE
ENGENHEIROS E ENGENHEIRAS AMBIENTAIS
A demanda por trabalhos ambientais relacionados
ao gerenciamento de áreas contaminadas e
recuperação de áreas degradadas vem ganhando
força, notoriedade e preocupação nos últimos anos,
tanto no setor público quanto na esfera privada.
Isso não significa que as empresas estejam
contaminando mais o meio ambiente, mas que os
órgãos fiscalizadores passaram a exigir estudos de
passivos mais completos, que abrangem, inclusive,
uma investigação do histórico da área.
Vale lembrar que as leis ambientais não eram nada
rígidas até a década de 1970, sendo comum, e até
recomendado, que resíduos fossem enterrados. A
maior parte das áreas contaminadas de que se tem
conhecimento refere-se a postos de combustíveis,
mas há outras fontes com origem em depósitos
irregulares de resíduos, lançamentos de efluentes,
Matéria
Fabio Mathias Mariana B. Druszcz
emissões atmosféricas, acidentes, infiltrações e
vazamentos de produtos químicos.
Fabio Mathias Fabbris, engenheiro ambiental da
PPA Geologia e Projetos Ambientais, acumula 20
anos de experiência em Gerenciamento de Áreas
Contaminadas (GAC) nos campos de consultoria,
coordenação, direção de obra e execução. Ele
reforça que o Paraná, apesar de ter boas iniciativas
e bons servidores, padece de organização e de
integração entre os órgãos para divulgação das
informações. “Enquanto o poder público e o privado
entenderem o GAC como um custo e não como uma
questão de saúde pública, estaremos fadados ao
insucesso”. O Paraná ainda não possui um cadastro
aberto de áreas em investigação, contaminadas ou
recuperadas.
13
Matéria
Vale lembrar que as leis
ambientais não eram nada
rígidas até a década de
1970, sendo comum, e até
recomendado, que resíduos
fossem enterrados.
Um dos principais órgãos ambientais que norteia
as normativas de GAC do país é a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo, Cetesb. A
companhia divulga anualmente a listagem dessas
áreas de São Paulo à sociedade. Segundo Mathias,
é preciso ter acesso também a essas informações
no estado do Paraná para que se cobre um
gerenciamento adequado do problema, evitando
efeitos danosos ao ambiente e, principalmente, à
população que, sem saber, pode estar exposta a
possíveis compostos carcinogênicos ou que estes
causem efeitos adversos à saúde.
Mariana Barbosa Druszcz, engenheira ambiental
e mestre em Meio Ambiente Urbano e Industrial,
atua principalmente junto ao setor industrial no
desenvolvimento de avaliações preliminares e de
risco à saúde humana. Para a engenheira, o principal
diferencial para a atuação em GAC é a realização de
estudos alinhados com as características do cenário
em análise, e o entendimento que cada caso é
um caso. Segundo ela, “são muitas as variáveis
envolvidas como diferentes contaminantes, tempo
do evento de contaminação, mecanismos de
transporte, condições climáticas, ocupação e uso
do terreno, receptores expostos, entre outras”.
Os resultados da investigação subsidiam ações
corretivas que serão aplicadas no local e no entorno
visando eliminar ou minimizar os efeitos adversos.
14
Uma das maiores preocupações de Mariana envolve
a etapa de avaliação de risco. “Vejo que muitos
profissionais ainda não perceberam que as planilhas
da Cetesb são apenas uma das ferramentas criadas
para facilitar a quantificação e caracterização dos
riscos à saúde da população, mas não são o método
em si de AR. Em casos complexos, principalmente
quando há múltiplas substâncias ou um grande
derramamento envolvendo excepcionalidades,
precisamos de cautela ao empregar ferramentas
com cenários limitados”.
Mariana conta que o estado Paraná dispõe da
Resolução Sedest n.º 003 de 2020, publicada
pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável
e do Turismo que norteia os estudos de passivos
ambientais mas, somente para compostos derivados
de petróleo, conhecidos como hidrocarbonetos.
Segundo ela, ainda não existe uma referência
estadual para guiar estudos relacionados a outras
atividades potencialmente poluidoras.
Uma boa notícia é que o Ministério do Meio Ambiente
instituiu, em dezembro de 2020, o Programa
Nacional de Recuperação de Áreas Contaminadas,
o que pode contribuir para mais transparência das
informações e uma aceleração na criação de leis
estaduais.
Em relação a recuperação de áreas degradadas, a
engenheira ambiental Andressa Gotti Geronasso,
sócia da Interbio Tecnologia Ambiental e do
Grupo Projesc Engenharia e Serviços, conta que
assuntos que não tinham muito respaldo legal
estadual mudaram esse status no ano passado. A
Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e do
Turismo (Sedest), por meio do Instituto Água e Terra
(IAT), criou a Instrução Normativa n.º 01, de 28 de
maio de 2020, que dispõe sobre procedimentos
e critérios a serem adotados para compensação
de reserva legal nas modalidades de servidão
ambiental, cadastramento de área equivalente e
excedente, doação de área no interior de unidade
de conservação estadual, relocação, readequação
e retificação de reserva legal averbada.

Outro exemplo é a Portaria IAT n.º 170, de 1.º de
junho de 2020, que estabelece procedimentos para
elaboração, análise, aprovação e acompanhamento
de execução do Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas (Prad). “Até recentemente usávamos
como base uma Resolução da Cetesb”, lembra
Andressa, complementando, ainda, que as
orientações sobre supressão de vegetação do
bioma da Mata Atlântica para a elaboração de
procedimentos de compensação ambiental são de
2019.
“Repare que as normas são todas recentes, o
que dá a entender que essa área vem crescendo
e as regulamentações estaduais estão sendo
desenvolvidas para acompanhar esse crescimento”,
diz. De acordo com Andressa, existem outras
normas nacionais bem genéricas, sem muito
aprofundamento. “Poderiam existir resoluções
semelhantes, no entanto, específicas para o
Paraná”, sugere. “De qualquer forma, acredito que
esse cenário está mudando e que o leque de normas
locais aumentará rapidamente nos próximos anos”.
O gerenciamento de áreas contaminadas e a
recuperação de áreas degradadas demandam
estudos técnicos bem estruturados e com
Matéria
abordagens sistêmicas. Para Fábio Mathias a
multidisciplinaridade de serviços é salutar e a
pluralidade é interessante para todo e qualquer
tipo de trabalho, mas ressalta: “Não há atribuição
exclusiva de nenhuma modalidade no sistema
Confea/Crea, portanto, o que não deve é ser
compulsório para uma modalidade e facultativo
para outra”.
“O que vejo são muitos profissionais
e técnicos de órgãos públicos sem
o conhecimento da metodologia,
minimizando a importância do estudo e
simplificando demais esse processo, o
que pode não garantir a total segurança
da população”
Os profissionais que atuam na engenharia ambiental
são capacitados para analisarem os impactos
das atividades humanas de maneira holística,
conectando diferentes disciplinas e coordenando
estudos multidisciplinares. Buscando desenvolver
esses campos de atuação e disseminar a
importância de estudos e equipes multidisciplinares,
os profissionais da Associação Paranaense de
Engenheiros Ambientais iniciaram um grupo técnico
para discussão e orientação dentro do Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná.
15
Matéria
Juliano Epifanio
PERÍCIAS AMBIENTAIS: de Melo
A IMPORTÂNCIA DE PROFISSIONAIS
ESPECIALISTAS EM AÇÕES JUDICIAIS
DE RELEVÂNCIA AMBIENTAL
O ano era 2014 quando o escritório da perita
ambiental Luiza Scarpim foi nomeado pela promotoria
de Toledo-PR para realizar um levantamento das
lâmpadas fluorescentes sem utilidade armazenadas
pelo município. O trabalho consistia em mensurar
os eventuais danos causados pelas más condições
de armazenamento.
Dois anos depois, processos judiciais, que tratavam
da mesma problemática, foram abertos nas
cidades de Piên, Campo do Tenente, Quitandinha
e Rio Negro. Como consequência disso, no ano de
2020, mais de um milhão de lâmpadas inservíveis,
guardadas por essas prefeituras paranaenses,
foram recolhidas, demonstrando a importância da
atuação de um engenheiro ambiental em perícias
de crimes contra o meio ambiente.
16
Luiza Scarpim
Segundo Luiza, o recolhimento das lâmpadas ocorreu
em cumprimento a um termo de compromisso firmado
entre a Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Sustentável e do Turismo (Sedest), a Promotoria de
Justiça de Proteção ao Meio Ambiente do Foro Central
da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, o
Centro de Apoio Operacional às Promotorias de
Proteção ao Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo
e a Associação Brasileira para Gestão de Logística
Reversa de Produtos de Iluminação (Reciclus).
A diretriz foi sustentada pela Política Nacional
de Resíduos, que trata sobre a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
“A existência de profissionais que atuam no
planejamento, na execução, no monitoramento
e no controle dos processos que envolvem a
concepção, o projeto, a instalação e a operação de

empreendimentos com potencial impacto poluidor
é certamente indispensável para implantação de
qualquer modelo de desenvolvimento econômico,
tanto para a prevenção quanto para a minimização
dos impactos que a atividade humana provoca ao
meio ambiente”, reforça Luiza, que atualmente
acompanha 23 processos ativos de crimes
ambientais.
Para ser um perito, função que não é passível de
concurso, o profissional precisa ter uma formação
na área que quiser periciar. Segundo Juliano
Epifanio de Melo, Diretor de Meio Ambiente do
Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de
Engenharia do Paraná (IBAPE-PR), um cadastro
deve ser feito pelo candidato nos sites das varas
criminais e é por esse sistema que o profissional é
nomeado pela justiça, quando necessário e estando
apto, para elaborar um laudo para o juiz. A parte
que está sendo acusada também pode contratar um
perito, chamado de assistente técnico, para ajudar
na defesa, e a promotoria, ou parte acusatória,
pode contratar outro assistente técnico, totalizando
três potenciais profissionais envolvidos no processo
judicial.
“Pelo modelo de formação
multidisciplinar da profissão, o
engenheiro ambiental pode ser
o responsável pelo processo,
administrar a perícia, subcontratar
outros peritos e compor uma equipe
com antropólogo, engenheiro
florestal e agrônomo, por exemplo,
para gerar um resultado mais
completo e eficiente”
Matéria
Melo explica que a luta de classes está muito atrelada
às competências e que existem diversas atividades
que determinam a função de um perito. “A área de
engenharia ambiental tem uma característica bem
particular porque está dentro da Câmara Técnica da
Engenharia Civil. Então temos o que chamamos de
um sombreamento de atribuições.
Parte das atividades ambientais pode ser feita por
um engenheiro agrônomo, ou um engenheiro civil,
ou até por arquitetos, biólogos e farmacêuticos”,
explica. Ele reforça, no entanto, que é preciso
reconhecer que o engenheiro ambiental é o
profissional mais capacitado para periciar crimes
ambientais, levando em conta as suas competências
para trabalhar na área da consultoria, perícia e
avaliações nesse campo.
“Pelo modelo de formação multidisciplinar da
profissão, o engenheiro ambiental pode ser o
responsável pelo processo, administrar a perícia,
subcontratar outros peritos e compor uma equipe
com antropólogo, engenheiro florestal e agrônomo,
por exemplo, para gerar um resultado mais completo
e eficiente”, explica Melo. O diretor alerta, ainda,
que quanto mais capacitação tiver o engenheiro
ambiental e ampla for a sua formação, mais ele
conseguirá aumentar as suas atribuições perante
o Conselho de Classe, podendo, assim, assinar o
maior número de documentos, projetos e laudos em
diversas áreas ambientais.
17
Matéria
O CONSELHO ESTADUAL
DO MEIO AMBIENTE E
A IMPORTÂNCIA DA
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Tomar decisões, planejar, formular políticas e
legislações, deliberar normas e padrões, estudar
propostas e emitir resoluções que garantam
a proteção, conservação e melhoria do meio
ambiente. Essas são algumas das funções do
Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEMA),
órgão normativo e consultivo, fundamental para a
garantia do equilíbrio ecológico e desenvolvimento
sustentável do nosso estado.
O conselho reúne representantes de vários setores
da sociedade para que opinem e discutam sobre
esse tema. E chegar a um denominador comum é
o grande desafio do órgão que, agora em 2021, se
prepara para eleger novos conselheiros, como é
feito a cada dois anos.
18
Altamir Hacke Helder Nocko
O engenheiro ambiental Helder Rafael Nocko
representa o Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia do Paraná (CREA-PR) junto ao
CEMA, como conselheiro titular, e explica que o
órgão é um colegiado composto por secretários
estaduais; procurador-geral do Estado; diretores-
presidentes de órgãos ambientais; representantes
de ONGs ambientalistas e de povos indígenas,
de instituições de ensino superior, públicas
e privadas, de categorias patronais e de
trabalhadores e de entidades de classe, como a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); além de
representantes de secretários municipais de Meio
Ambiente.
Nocko conta ainda que, por ser um conselho
democrático com a participação de vários setores
da sociedade e do poder executivo, congregar
todos os interesses pode ser bem desafiador.
 Matéria

“Opiniões são divergentes em alguns casos,

então há a necessidade de um debate bastante
acalorado e democrático dentro das Câmaras
Técnicas”, revela.

Essas Câmaras Técnicas são grupos temáticos

instituídos para debater temas específicos, como
biodiversidade, economia e meio ambiente,
qualidade ambiental, educação ambiental e
assuntos jurídicos, e equipes de trabalho podem
ser criadas para que propostas de resolução
sejam discutidas, atualizadas ou elaboradas. Essa
é a principal função das Câmaras Temáticas. “A
necessidade pode surgir de uma entidade externa
ao Conselho ou não. O debate mais específico
vai para as Câmaras e podem ser convocados Altamir Hacke, engenheiro ambiental da Divisão
especialistas de algumas outras áreas que sejam de Licenciamento de Atividades Poluidoras do
importantes para o maior entendimento sobre Instituto Água e Terra (IAT), afirma que atualmente
a melhor condução de uma resolução”, explica o CEMA está realizando as reuniões com mais
Nocko, que coordena a Câmara Temática de frequência e resultados importantes têm aparecido.
Qualidade Ambiental. De acordo com ele, as Resoluções 105/19 e
107/20, que dispõem sobre o licenciamento
Ainda, de acordo com ele, o Ministério Público (MP) ambiental e estabelecem critérios e procedimentos
também tem sido bastante ativo, participando, a serem adotados para as atividades poluidoras,
muitas vezes, das reuniões das Câmaras degradadoras e modificadoras do meio ambiente,
Técnicas para colaborar no debate e no diálogo. foram o marco desta gestão. Elas trazem consigo
“Caso não haja concordância ou seja detectada uma garantia técnica e jurídica frente aos
alguma ilegalidade, o MP já opina e evita futuros procedimentos administrativos de licenciamento.
problemas jurídicos”, reforça.
“Ações estão sendo adotadas pelo poder público
para facilitar a vida do empreendedor paranaense
quanto ao licenciamento ambiental, garantindo
a segurança jurídica e técnica e a agilidade no
processo”, afirma Hacke. “Trouxemos a modalidade
“Ações estão sendo adotadas
licenciamento por adesão e compromisso.
pelo poder público para facilitar Melhoramos muito, dando mais procedimentos
a vida do empreendedor àquilo que ficava no limbo”, complementa.
paranaense quanto ao
licenciamento ambiental,
garantido a segurança jurídica
e técnica e a agilidade no
processo”

19
 ODOR
A EnvEx Engenharia contribui nesta
temática desde 2013, por meio de
estudos variados, feitos sob medida para
atender à necessidade de cada cliente.

Um dos principais motivos para queixas sobre a
qualidade do ar é o odor. Porém, no Brasil não existe
uma regulamentação federal que estabeleça critérios
de análise de impacto relacionados ao odor, ainda que
o tema seja indiretamente mencionado na Lei Federal
6938/1981 - esta lei define como poluente atmosférico
qualquer material que afete o bem-estar da população.
Encontra-se, de um lado, o Estado de São Paulo, onde
odores não podem ser percebidos fora da área
industrial. De outro lado, há estados onde não há
menção sobre odor na legislação.
Quando se deseja quantificar o odor e estabelecer
critérios de impacto a EnvEx atua principalmente com a
metodologia da olfatometria. Para estudos ainda mais
detalhados, a EnvEx elabora modelos de dispersão
atmosférica para calcular o potencial impacto no
entorno de fontes de emissão. Estas são duas das
técnicas mais usuais, sendo que outras podem ser
utilizadas para atender a necessidade de cada cliente.
Tais metodologias estão consolidadas em países cuja
legislação e gestão de odores já estão bem definidas.

CONHEÇA 5 SERVIÇOS PRESTADOS PELA ENVEX ENGENHARIA

RELACIONADOS AO MONITORAMENTO E MODELAGEM DE ODOR:

1 MODELAGEM DE DISPERSÃO ATMOSFÉRICA DE ODORES

Determina a magnitude e o alcance dos odores em função das
condições de emissão, meteorologia e topografia local.

2 MONITORAMENTO ANALÍTICO AMBIENTAL

Avalia a concentração de compostos químicos individuais
em fontes pontuais ou no entorno.

3 OLFATOMETRIA DE CAMPO
Avalia o odor resultante da mistura de múltiplas substâncias
instantaneamente e diretamente no receptor.

4 OLFATOMETRIA DINÂMICA
Monitora as emissões de substâncias odoríferas de diferentes
tipos de fontes.

5 ANÁLISE INTEGRADA
Escopo feito sob medida para atender à necessidade de cada cliente.

SAIBA MAIS EM:

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EnvEx Engenharia envex@envexengenharia.com.br

20 10
10

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E COVID-19:
EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS
Considerado, popularmente, como “o ano que
não começou”, 2020 entrou para a história devido
à pandemia causada pela síndrome respiratória
aguda grave do coronavírus 2 (SARS-CoV-2),
a Covid-19. Mas, quais são as relações e as
associações com a qualidade do ar nas cidades?
Contextualização sobre
a poluição do ar
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima
que a poluição do ar é responsável por cerca
de 7 milhões de mortes prematuras anualmente
e afirma que 9 em cada 10 pessoas respiram
um ar que contém concentrações de poluentes
atmosféricos acima dos limites preconizados pela
própria organização, o que torna imprescindível a
mensuração e o monitoramento desses poluentes
em termos de elaboração de políticas públicas
nos estados e nas cidades.
Como fontes, os poluentes atmosféricos podem
ter origem em atividades industriais, queima de
biomassa e emissões provenientes dos veículos
de transporte movidos a combustíveis fósseis.
São exemplos de alguns deles os gases, como
dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono
(CO), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de
enxofre (SOx) e ozônio, e materiais particulados
(MP), como a fuligem e os de ressuspensão,
tais como partículas do desgaste dos freios dos
carros e areia ou solo que estão no asfalto.
Artigo
Marcos Rodrigues
A Covid-19 até dezembro de 2020
Globalmente, até dezembro de 2020, foram
registrados 70 milhões de casos confirmados
da doença, dos quais, o número de mortos
ultrapassou 1,5 milhões, segundo a OMS. Já
no Brasil, desde o dia 25 de fevereiro de 2020,
quando o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, anunciou oficialmente o primeiro
infectado, até dezembro desse ano, o número de
casos confirmados chegou a 7 milhões e número
de mortes ultrapassou 180 mil.
Por outro lado, dezembro também foi marcado
pelas primeiras aplicações oficiais das vacinas
em alguns países, que estão sendo produzidas e
analisadas pelas agências de saúde mundiais.
7 milhões de mortes prematuras
anualmente e afirma que 9 em cada
10 pessoas respiram um ar que
contém concentrações de poluentes
atmosféricos acima dos limites
preconizados pela própria organização
21
Artigo

Poluição do ar e associações com o Qualidade do ar das cidades em

vírus tempos de pandemia

Sabe-se que a exposição à poluição do ar pode
causar problemas de saúde como derrames,
problemas no coração, infartos, problemas
pulmonares crônicos, pressão alta, diabetes,
cânceres e infecções respiratórias agudas (como
é o caso da Covid-19). Ou seja, são doenças
que podem favorecer o aumento das chances de
morte em pessoas infectadas.
Nesse sentido, sabe-se que locais com elevadas
concentrações de poluentes atmosféricos podem
aumentar o risco de contágio pelo coronavírus,
deixar os sintomas mais severos e, até mesmo,
aumentar a taxa de mortalidade do vírus quando
as pessoas ficam expostas a essas concentrações
por longos períodos de tempo.
Por outro lado, políticas públicas, como o
distanciamento social e o lockdown, diminuíram
as concentrações de diversos poluentes
atmosféricos, tanto no mundo como no Brasil.
Isso ocorreu, principalmente, pela redução da
frequência de uso dos veículos automotores
e também pela drástica diminuição da
produção industrial. Contudo, o relaxamento
no distanciamento social, de agosto até
dezembro de 2020, fez com que, novamente,
as concentrações dos poluentes atmosféricos
voltassem a aumentar. Basta ver o caso da
cidade de Curitiba, por exemplo.

Reflexões sobre o futuro

O mundo, pós-pandemia, trará mudanças que poderão refletir nos hábitos pessoais, coletivos e, também,
corporativos. Alguns trabalhos não mais precisarão ser presenciais e os meios de locomoção poderão
ser direcionados para os não motorizados, como andar a pé ou utilizar a bicicleta. No meio acadêmico,
modelos matemáticos poderão ser ajustados, de acordo com a emissão dos poluentes atmosféricos, e,
com relação ao governo, políticas públicas, cada vez mais voltadas para diminuição da emissão de carbono
e outros poluentes atmosféricos, poderão ser elaboradas e direcionadas para melhorar a qualidade do ar
e a vida da população.

22

PLANEJAMENTO AMBIENTAL DE OBRAS
DE INFRAESTRUTURA E A IMPORTÂNCIA
DA ENGENHARIA AMBIENTAL NO SETOR
Obras de infraestrutura
É certo que obras de infraestrutura representam
importantes investimentos para o país, com
diversos benefícios para a população, governo e o
setor privado. Entretanto, esses empreendimentos
resultam em degradação ambiental e impactos
negativos para o meio físico, biótico e
socioeconômico, podendo prejudicar a qualidade
ambiental e de vida.
Diante disso, um adequado planejamento
ambiental para essas obras é fundamental para a
prevenção e minimização dos danos ambientais e
a promoção do desenvolvimento sustentável.
Mas, o que é planejamento ambiental?
Segundo SANTOS (2004) de uma forma
bem simples, “entende-se que o processo de
planejamento é um meio sistemático de determinar
o estágio em que você está, onde deseja chegar e
qual o melhor caminho para chegar lá.”
Complementa ainda que, com uma abordagem
interdisciplinar e integrada, o planejamento
ambiental é estabelecido por etapas com
objetivos, inventário, diagnóstico, prognóstico,
tomada de decisão e formulação de diretrizes. O
objetivo dessas fases é identificar os impactos
Artigo
Livia Knopki Nery
ambientais e sociais possíveis com a implantação
de um determinado empreendimento ou projeto e
quais seriam as formas de preveni-los, minimizá-los
ou compensá-los.
Instrumentos de planejamento
ambiental
Dentro do universo das obras de infraestrutura,
o planejamento ambiental ganha corpo quando
falamos do desenvolvimento de instrumentos de
avaliação de impacto ambiental (AIA) elaborados
com o objetivo de adequar-se aos critérios e
às exigências estabelecidos pelas políticas e
normativas ambientais, incluindo a adequação
aos processos de licenciamento nas fases de
planejamento, projeto, construção e operação de
um empreendimento.
Esses instrumentos de AIA são apresentados como
subsídios para o licenciamento ambiental das
obras, bem como para aprovação de programas de
infraestrutura financiados por instituições financeiras
multilaterais, envolvendo, principalmente, no último
caso, conceitos de Avaliação Ambiental Estratégia
(AAE) e Avaliação Ambiental Integrada (AAI) .
Tratando-se de obras de infraestrutura rodoviária,
por exemplo, são vários os tipos de estudos
23
Artigo

ambientais requisitados pelos órgãos ambientais florestais, geólogos, sociólogos, engenheiro civis.
para obtenção do licenciamento ambiental. Nesse contexto, o engenheiro ambiental, por
possuir uma formação sistêmica, é um profissional
A determinação do tipo de estudo que se capacitado e habilitado para gerenciar e coordenar
aplicará a cada empreendimento dependerá do a elaboração desses estudos, e vem ganhando
órgão ambiental e de leis específicas, variando cada vez mais espaço nesse campo de atuação
principalmente conforme o tipo de empreendimento, no mercado.
o porte, a localização, a extensão, e o potencial
grau de impacto causado por sua implantação e Execução dos programas, planos e
operação. Citam-se alguns exemplos de estudos projetos ambientais
ambientais utilizados para obras de infraestrutura
viária: EIA/RIMA; Plano Básico Ambiental – PBA; Passada a etapa de aprovação do projeto,
Relatório Ambiental Simplificado – RAS; Relatório com o início da implantação das obras, vem a
Ambiental Prévio – RAP; Plano de Controle etapa de monitoramento do cumprimento das
Ambiental – PCA, dentre outros. condicionantes estabelecidas nas licenças
ambientais e dos programas e medidas de
De uma forma simplificada, o conteúdo básico controle, mitigação ou compensação dos impactos
desses estudos ambientais compreende em: ambientais, indicados nos estudos ambientais.
I) caracterização do empreendimento;
II) diagnóstico do meio físico, biótico e Nesta etapa, o engenheiro ambiental exerce um
socioeconômico; papel muito importante podendo atuar como o
III) análise de alternativas locacionais ou gestor ambiental da empresa executora, como
tecnológicas; o supervisor ambiental do empreendedor ou do
IV) prognóstico ambiental - análise e avaliação de agente financiador do empreendimento, ou ainda,
impactos ambientais; como o agente ambiental de fiscalização do órgão
V)elaboração de programas e medidas ambiental.
mitigadoras e de controle.
Em todas essas funções o engenheiro ambiental
Ao comparar esses itens às etapas do planejamento deve dialogar com os outros profissionais
ambiental (objetivos, inventário, diagnóstico, envolvidos na execução do empreendimento, a
prognóstico, tomada de decisão e formulação fim de garantir que as ações e decisões tomadas
de diretrizes), ambos são muito semelhantes e durante a implantação da obra considerem as
buscam em sua essência o objetivo de determinar diretrizes e prerrogativas contidas nos estudos e
o estágio em que você está, onde deseja chegar licenças ambientais. Por isso, a visão holística que
e qual o melhor caminho para chegar lá, de uma o engenheiro ambiental adquire em sua formação
forma sistemática. e consolida durante a sua carreira é de extrema
importância para que o diálogo com todos os
A elaboração de grande parte desses estudos envolvidos na obra seja produtivo e com um único
ambientais envolve uma equipe multidisciplinar, objetivo, buscar o desenvolvimento sustentável, a
composta muitas vezes por biólogos, engenheiros qualidade ambiental e social.
AAE se caracteriza por uma sistematização contínua que possibilita avaliar a qualidade do meio ambiente e das eventuais consequências ambientais
decorrentes da interferência promovida por um determinado empreendimento. Esta avaliação subsidia dados para tomadas de decisão que assegurem
a integração efetiva dos aspectos físicos, bióticos, econômicos, sociais e políticos, junto aos processos públicos de planejamento.
3 AAI se caracteriza por uma sistematização contínua que possibilita avaliar a qualidade do meio ambiente e das eventuais consequências ambientais
decorrentes da interferência promovida por um determinado empreendimento. Esta avaliação subsidia dados para tomadas de decisão que assegurem
a integração efetiva dos aspectos físicos, bióticos, econômicos, sociais e políticos, junto aos processos públicos de planejamento.
Fonte: Gestão ambiental para o Licenciamento Ambiental de Obras Rodoviárias: conceitos e procedimentos. Disponível em: (https://itti.org.br/wp-
content/uploads/2017/06/gestao-para-o-licenciamento-ambiental-de-obras-rodoviarias.pdf
24

O PROFISSIONAL DE ENGENHARIA
AMBIENTAL E SUA ATUAÇÃO NO
MAIOR POLO DE MINERAÇÃO DE
CALCÁRIO EM CAÇAPAVA DO SUL-RS
O Brasil tem em sua história uma grande
contribuição dos seus recursos minerais que
permitiram o desenvolvimento de importantes
insumos para a economia nacional. A mineração é
um setor essencial, tanto para a economia do país
quanto para o desenvolvimento social e a melhoria
da qualidade de vida. Um exemplo da importância
da mineração é o setor de calcário, responsável por
desenvolver produtos básicos da construção civil,
como cal, argamassa e subprodutos, e fertilizantes
para as áreas agrícolas.
Em sua maioria, a extração de minerais no Brasil
é feita a céu aberto, havendo poucas minas
subterrâneas. Devido às operações realizadas
no processo de extração do produto mineral, são
gerados diversos impactos ao meio ambiente em
que o minério está inserido.
Os principais impactos ambientais oriundos da
mineração podem ser englobados em quatro
categorias básicas: poluição da água, poluição
do ar, poluição do solo e poluição sonora (ruídos
e vibrações). Para que esses impactos possam
ser mitigados perante todo o processo, faz-se
necessária a atuação de um profissional qualificado
para promover as ações corretas, portanto, o
engenheiro ambiental é um profissional essencial
na manutenção sustentável nos processos de
exploração mineral.
Artigo
Daniel Nilsen Juliane Quintanilha
Esse profissional atua colaborando em projetos de
mineração por meio de estudos ambientais para
licenciamentos, mitigação de impactos ambientais
por planos de controle e monitoramento ambiental,
além de elaborar Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRAD), formas mais eficientes para
aterros de tratamento de cavas, planos de fechamento
de mina, gestão de resíduos, entre outros.
Em Caçapava do Sul, há um grande contingente de
rochas calcárias, o que caracteriza o Escudo Sul-
riograndense, na Região Sudoeste do estado do Rio
Grande do Sul. Esse município destaca-se como
grande polo de exploração mineral de calcário, onde
o profissional da engenharia ambiental pode atuar
em diversas etapas do processo de mineração.
A primeira etapa, antes de iniciar a exploração de
uma pedreira de calcário, é a análise do recurso, que
Os principais impactos ambientais
oriundos da mineração podem ser
englobados em quatro categorias
básicas: poluição da água, poluição do
ar, poluição do solo e poluição sonora
(ruídos e vibrações).
25
Artigo
averigua a existência de pedra de valor econômico,
a sua quantidade e a viabilidade financeira do
processo.
Havendo as condições desejadas para exploração,
é necessário realizar o licenciamento da pedreira,
procedimento que compreende vários requisitos
ambientais. Com o licenciamento em ordem, inicia-
se o processo de lavra na pedreira de calcário, que
pode ocorrer com o auxílio de maquinários e/ou
explosivos para as aberturas de corte do insumo.
Os locais de afloramentos rochosos de calcário
necessitam da remoção da cobertura vegetal e
do solo para expor as rochas. Com a extração de
minérios, ocorre uma modificação significativa na
estrutura do local de exploração e seus arredores e
são realizadas cavas para que seja feito o manejo
do minério a céu aberto.
Retirado o produto, ocorre o transporte para a
fábrica, iniciando o processo de corte e a separação
do material, ainda bruto, de acordo com suas
finalidades. A pedra de calcário pode ser moída
diretamente em seu estado natural, quando seu
provento é utilizá-la para neutralizar e corrigir a
acidez do solo.
A calcinação é uma das etapas na transformação do
material bruto, que consiste na reação química de
decomposição térmica, em altos-fornos específicos
de até 1.100ºC para transformar o calcário (CaCO3)
em cal virgem (CaO), liberando, pelo calor, o gás
carbônico (CO2), sendo a fórmula química final CaO
para a cal virgem e Ca(OH)2 para a cal hidratada. A
cal hidratada, por sua vez, ocorre de um processo
de reatividade com a água, a hidratação da cal é
um requisito de qualidade das cais destinadas à
construção civil. Após a transformação dos produtos
de acordo com seu uso, esses são destinados às
vendas para empresas de construção civil.
Quando a jazida principal se esgota, a área de
mineração é expandida ou são abertas novas
cavas, fazendo com que a frente de lavra aumente,
dando então continuidade à exploração, porém, é
26
Na mineração, ocorre a geração de
resíduos sem valor econômico, o
estéril e o rejeito, matérias que são
separadas no processo de lavra e de
beneficiamento.
necessário o tratamento das cavas já exploradas.
Em sua maioria, os impactos ambientais gerados
pela mineração acontecem devido à falta de
planejamento e emprego de técnicas inadequadas
em sua fase inicial de pesquisa e de abertura das
cavas.
Na mineração, ocorre a geração de resíduos sem
valor econômico, o estéril e o rejeito, matérias
que são separadas no processo de lavra e de
beneficiamento. O estéril é a primeira camada
encontrada acima do minério a ser captado e
deve ser armazenado em pilhas para ser utilizado
em aterros na etapa de fechamento da mina para
recuperação da antiga topografia. Em caso de um
armazenamento inadequado, podem causar danos
como assoreamento dos corpos hídricos.
Em uma segunda fase, o profissional deve
buscar formas de extração correta para o máximo
aproveitando da matéria-prima, controle de
vibrações e ruídos, redução de poeira por meio da
umidificação das estradas na mina, implantação
de cortinas verdes e filtros na indústria de
beneficiamento, estabilização geotécnica das áreas
impactadas pela mineração, realizar o plantio de
vegetação nativa nas áreas exploradas, reutilizar as
cavas de exploração, como aterros controlados de
estéril e rejeito, monitorar a qualidade das bacias de
sedimentação, das drenagens e acompanhamento
da saúde dos funcionários, realizar a gestão
dos fornos em relação à expedição de fuligem e
qualidade do ar.
Dessa forma, existe uma vasta oportunidade
de contribuição no setor de mineração para o
profissional de engenharia ambiental, uma vez que
a exploração mineral incide na qualidade do meio
ambiente como um todo e necessita da gestão
ambiental.

A SUSTENTABILIDADE NA
DRENAGEM URBANA
Historicamente, inundações e alagamentos
têm sido tratados como um reflexo do aumento
da intensidade das chuvas, que atualmente é
explicado por muitos cientistas como um resultado
das mudanças climáticas.
A discussão sobre os problemas relacionados à
drenagem pluvial urbana, considerando também
a impermeabilização das superfícies das cidades,
não é novidade: uma situação que basicamente
é composta pela alteração do ciclo hidrológico
em áreas antropizadas. Ao se impermeabilizar o
terreno, a infiltração natural da água é minimizada
e, consequentemente, o volume precipitado se
acumula sobre o solo. Esses problemas já são
rotina para a população, que vê as consequências
sendo noticiadas nas mais diversas mídias
e acompanhadas, geralmente, das mesmas
explicações.
No Brasil, a maioria dos projetos convencionais
adotados visavam somente ao controle do
escoamento das águas pluviais urbanas por meio
do aumento da capacidade dos rios e canais, que,
com adequações, conseguiam receber mais vazão.
Essa técnica é resultado do conceito do sistema
de drenagem urbana presente na maioria dos
manuais mais antigos. A drenagem convencional é
um conjunto de elementos cuja função é recolher as
águas pluviais precipitadas sobre uma determinada
região e que escorrem sobre sua superfície,
Artigo
Alessandro Bertolino Bruno G. Moro
conduzindo-as a um destino final e, em sua maioria,
são dimensionados de forma a recolher as águas da
chuva e conduzi-las rapidamente para a jusante.
Os alagamentos e as inundações, que são
problemas recorrentes em centros urbanos, têm
definido novas abordagens, com o objetivo principal
de recuperar as condições hidrológicas anteriores à
ocupação da bacia. Essas medidas, chamadas de
não convencionais, compensatórias ou alternativas,
buscam garantir a diminuição do volume escoado,
a manutenção do tempo de concentração da
bacia, o controle da velocidade de escoamento e a
manutenção da qualidade das águas.
Essas estruturas, em geral, objetivam a detenção,
a redução, a infiltração e a melhoria da qualidade
das águas escoadas superficialmente nas bacias
hidrográficas. Entretanto, essas medidas sozinhas
não resolvem os problemas de inundações e
alagamentos, portanto é importante a combinação
Porém, deve-se atentar às
características físicas dos locais
antes de optar por tais estruturas de
drenagem.
27
Artigo
com estruturas de drenagem convencional,
otimizando o sistema como um todo.
Estruturas, como pavimentos e calçadas permeáveis,
valas vegetadas, sistemas de biorretenção, bacias
de detenção, bacias de retenção, wetlands e
várias outras, já são utilizadas em diversos países,
inclusive no Brasil, há algumas décadas, mas não
eram vistas como parte integrante de um sistema
alternativo de drenagem urbana.
No Brasil, tais sistemas são estudados há algum
tempo. São exemplos de estudos e projetos
implantados na década de 1970, o Projeto Noroeste,
na cidade de Rondon, e a Bacia de Amortecimento
de Cheias (Bamort), em Planaltina do Paraná,
ambos no estado do Paraná. As conclusões desse
projetos mostram a necessidade de incentivo
aos sistemas alternativos de drenagem urbana,
principalmente àqueles que dizem respeito à
microdrenagem, realizada para retenção das águas
das primeiras chuvas, ou seja, o controle na fonte
do escoamento superficial.
Essa drenagem, diferente da convencional, marcada
por meio-fios, sarjetas, bocas-de-lobo e galerias,
também é chamada de drenagem sustentável, pois
acaba tendo reflexo no tripé da sustentabilidade:
proporciona melhorias ao ambiente, pelo reúso
28
de água da chuva e renaturalização do ciclo
hidrológico; traz benefícios sociais, pois integra a
população aos sistemas, visto que muitas estruturas
oferecem funções além da drenagem, e minimizam
as consequências das inundações e alagamentos
em regiões que comumente são ocupadas por
populações mais vulneráveis; e traz ganhos
econômicos, por exemplo, para a própria prevenção
e minimização de eventos de desastre.
Porém, deve-se atentar às características físicas
dos locais antes de optar por tais estruturas de
drenagem. Existem algumas condições que
maximizam o potencial de infiltração ou retenção da
medida e consequentemente seu impacto benéfico
à drenagem urbana, como condutividade hidráulica
do solo e do subsolo, profundidade do lençol
freático, erodibilidade do solo, declividade e outras.
Cabe dizer também que a inserção de novos
instrumentos de drenagem urbana não significa
o abandono da infraestrutura já existente. Deve-
se haver investimentos no aspecto de ampliação
do sistema e, principalmente, em manutenção.
Para vários autores, muitos municípios não têm
informações de como se encontra o estado do
sistema de drenagem, muito menos realizam a
manutenção da mesma.
Atualmente, o principal desafio no manejo de águas
pluviais urbanas é justamente o de conhecer o
sistema de drenagem existente e já construído,
além das modificações que podem ser realizadas.
Dessa forma, o poder público e os gestores podem
se tornar potenciais atores no planejamento das
cidades no combate às inundações e alagamentos.
A inserção de novos instrumentos
de drenagem urbana não significa
o abandono da infraestrutura já
existente. Deve-se haver investimentos
no aspecto de ampliação do sistema e,
principalmente, em manutenção.
 Artigo

SANEAMENTO RURAL:
A NECESSIDADE
Vanessa Tres
DE ARRANJOS
ALTERNATIVOS DE
PLANEJAMENTO
E PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS PARA A
UNIVERSALIZAÇÃO DO
ACESSO

O acesso às infraestruturas de saneamento básico

(abastecimento de água, esgotamento sanitário e
manejo de resíduos sólidos e das águas pluviais) é
direito garantido pela Constituição Federal do Brasil
– assim, é competência do Estado a promoção
de programas de melhorias em saneamento
e da Administração Pública, a organização e
planejamento da prestação de tais serviços.
Sendo a universalização do acesso um princípio
de planejamento e prestação de serviços, é
fundamental que esta seja garantida com equidade
(tais serviços devem ser prestados superando as
diferenças evitáveis, desnecessárias e injustas) e
igualdade (todos têm direito de acesso aos serviços)
(MCIDADES, 2013).
Contudo, a busca pela universalização desse
acesso é um dos grandes desafios da Administração
Pública, principalmente em relação ao saneamento
rural (acesso ao saneamento por diferentes
formas de organização social em terras rurais,
sendo proprietários ou não de terra, comunidades
tradicionais e povos originários) (FUNASA, 2019).
Com base na análise situacional publicada no
Programa Nacional do Saneamento Rural (PNRS),
o déficit em serviços de saneamento básico é de,
em média, 63,73% nas áreas conceituadas como
rurais, sendo 30,98% referentes ao atendimento
precário dos serviços e 32,75% a nenhum tipo
de atendimento. Em relação às infraestruturas
de saneamento básico, os maiores déficits estão
relacionados ao esgotamento sanitário (54,10%
das áreas rurais possuem atendimento precário) e
ao manejo de resíduos sólidos (55,50% das áreas
rurais não possuem nenhum tipo de atendimento)
(FUNASA, 2019).
Com quase 30 milhões de moradores em áreas
rurais do Brasil e índices insatisfatórios de
acesso aos serviços de saneamento básico, a
organização e prestação desses serviços nesses
territórios demandam projetos e arranjos não
convencionais (não comuns às áreas urbanas),
devido, principalmente, às influências de densidade
populacional e à distribuição territorial dos domicílios.
A viabilidade financeira também é algo que deve
ser considerado, assim como a definição de
obrigações e responsabilidades a respeito da gestão
e operacionalização dos serviços.
Aliadas às estratégias, as tecnologias
existentes de serviços de saneamento
básico devem ser adequadas à
realidade rural, tanto do ponto de vista
técnico quanto do ponto de vista social
(FUNASA, 2019).

29
Artigo
Quais são os instrumentos administrativos,
legais e econômicos para a gestão do
saneamento rural? Quem será o responsável
pelo investimento?
Quem será responsável pela operação e
manutenção: moradores dos domicílios rurais
ou Poder Público?
Tais questionamentos são reais e difíceis de serem
trabalhados, mas possíveis de serem desvendados
a partir da gestão multiescalar dos serviços
(cada qual com suas responsabilidades, desde
os moradores e atores sociais locais até o Poder
Público). É evidente que, para o avanço do acesso
ao saneamento básico adequado em áreas rurais,
é fundamental a participação social na escolha das
tecnologias e arranjos de prestação de serviços a
serem implementados, assim como as formas de
operacionalização dos sistemas – considerando, na
participação social, a necessidade de formação e
qualificação dos envolvidos por meio de princípios
pedagógicos de emancipação dos usuários.
Aliadas às estratégias, as tecnologias existentes
de serviços de saneamento básico devem ser
30
adequadas à realidade rural, tanto do ponto de vista
técnico quanto do ponto de vista social (FUNASA,
2019). Deve-se também ter em mente que, quando
se trata de saneamento rural, não há soluções
padronizadas. Os arranjos de planejamento e
prestação de serviços levam em consideração a
possibilidade de soluções individuais (um domicílio)
ou coletivas (mais que dois domicílios), classificadas
como alternativas das soluções convencionais
pela necessidade de considerar as características
socioambientais e culturais de cada ambiente.
Grande é o caminho a ser percorrido para o alcance
da universalização dos serviços de saneamento
básico, principalmente para aqueles mais
distantes e omitidos dos arranjos convencionais de
planejamento e prestação dos serviços. Contudo,
como o próprio conceito caracteriza, o saneamento
é um direito básico. E é o básico para garantir a
conservação do meio ambiente e a qualidade de
vida da população.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
MCIDADES. Plano Nacional de Saneamento Básico, 2013.
FUNASA. Programa Nacional de Saneamento Rural, 2019.
 Artigo

REÚSO DA ÁGUA Karen Juliana

do Amaral

O Brasil e o mundo já sofrem com a falta de água,

seja ela causada por falta de chuvas, que é o que
estamos vivenciando hoje em alguns estados do
Brasil, com destaque para o estado do Paraná,
seja pela falta de qualidade (muitas vezes há água,
mas ela não possui qualidade adequada para uso,
exigindo tratamento de alto custo, o que é inviável);
também ocorre a falta de fontes próximas (com o
aumento da concentração populacional em regiões
metropolitanas toda água próxima já está sendo
consumida ou parte da água já foi retirada em outros
centros localizados a montante, ou seja, antes, no
curso do rio); e, por fim, há os casos de conflitos
ou pressões dos diversos usuários (abastecimento
público, indústrias, agricultura e outros) sobre a
água disponível.
A falta de regulamentação é um grande entrave para
O reúso traz segurança hídrica, pois a água avanços dessa prática, pois com uma regulamentação
reutilizada substitui a nova em muitos casos, ou clara vem a necessidade informar a população sobre
seja, essa é uma maneira de criar uma nova fonte o tema, incentivar os diversos setores para que
de água, aumentando a sua disponibilidade. adotem essas medidas, não esquecendo de garantir
a segurança da população e do meio ambiente, pois
Como isso acontece? cada prática deve ser monitorada e controlada para
No reúso ocorre um aproveitamento de água já que seja executada adequadamente.
utilizada, normalmente para usos menos nobres do
que o consumo humano. Com isso, novas fontes de Outro ponto importante é a necessidade de mapear
água são geradas, que podem substituir o uso de fornecedores e consumidores da água de reúso, para
água potável. que uma rede seja criada. Mas, existem limitações
a serem consideradas, como quantidade de água
Um exemplo bem simples, e que pode ser feito em de reúso disponível, onde estaria disponível e como
casa, é a reutilização da água da máquina de lavar, chegaria ao consumidor.
que não é completamente suja para ser jogada fora.
Se ela for coletada, pode ser utilizada, por exemplo, No Brasil, a legislação ainda é insipiente em relação ao
para a lavagem de calçadas ou para a descarga do reuso, bastante generalizada e não apresenta muito
vaso sanitário. detalhamento quanto à possibilidade e limites seguros.
Sendo um país tão diverso, acredita-se que regulações
Outro exemplo é o uso da água que escoa durante por estado devem ser mais eficazes e representar a
o aquecimento da água do banho. A coleta dessa realidade de cada região.
água, que é em média de 10 litros por banho e trata-
se de uma água limpíssima que escoaria pelo ralo, Já existem diversos países que implementaram
serveria para diversos usos, como limpeza, rega de diferentes modalidades de reúso que estão muito
jardim e descarga. avançados, principalmente aqueles que sofrem com a
escassez de água.

31
Artigo
Um exemplo de legislação estadual é a de São Paulo,
onde, em 2003, entrou em vigor um decreto com
medidas de redução de consumo e racionalização
do uso da água no estado. Foi nesse mesmo ano
que a sua região metropolitana foi atingida por uma
grande estiagem, o que levou o governo paulista a
tomar algumas medidas, como proibir uso de água
potável (que tem qualidade para consumo humano)
na limpeza de ruas, praças, calçadas, pisos e áreas
de lazer, sendo substituída pela água da chuva ou
água de reúso. Os estados de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro também já possuem suas legislações
específicas. Aqui no Paraná, já existe um Comitê que
vem discutindo a formulação de uma legislação de
reúso há alguns meses.
Para se ter uma ideia da amplitude
do tema, alguns exemplos de reúso
possíveis são:
- Reúso agrícola: utilizado principalmente na
irrigação, com reaproveitamento de nutrientes,
matéria orgânica, além da própria água proveniente
de estações de tratamento de efluentes.
- Reúso industrial: incentivo às indústrias
para recircularem a água nos seus processos,
recuperando assim também matéria-prima e
novamente favorecendo a economia circular.
- Reúso urbano: limpeza de espaços públicos (ruas
e calçadas), desentupimento de galerias, irrigação
paisagística, construção civil, lavagem de veículos
especiais (caminhões de resíduos sólidos, coleta
seletiva, construção civil, trens e aviões).
- Reúso predial: utilização de água em sistemas mais
exigentes para menos exigentes como descarga de
vaso sanitário.
Esse é um tema bastante abrangente e que necessita
de regras claras para que as práticas de reúso sejam
estimuladas, não deixando de garantir a segurança e a
saúde da população. Por isso, é importante o cuidado
na elaboração de tais legislações para que não sejam
muito complexas e de difícil implementação.
32
A ideia é incentivar e não o contrário.
Além disso, existem diversos exemplos práticos no
Brasil, principalmente em regiões que não possuem
uma grande disponibilidade de água. O projeto
Aquapolo em São Paulo é um bom exemplo, um dos
maiores projetos de reúso do mundo, no qual água
industrial é produzida a partir do esgoto tratado do
sistema ABC para 10 clientes do Polo Petroquímico
de Capuava. A água industrial é aplicada em torres
de resfriamento e reposição de água de caldeira para
geração de energia. O projeto produz 650 litros por
segundo de água de reúso industrial, equivalente
para abastecer uma cidade com 300 mil habitantes,
com capacidade de expansão para 1.000 litros por
segundo.
O III Simpósio Internacional de Reúso de Água,
realizado de 16 a 23 de novembro de 2020, foi
promovido pela Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental (ABES) − Seção Paraná, em
parceria com a ABES − Diretoria Nacional, pela
Associação Paranaense dos Engenheiros Ambientais
(APEAM) e pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia do Paraná (Crea-PR), com patrocínio da
Hidrogeron − Tratamento de Água e Esgoto e apoio do
Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações de
Tratamento de Esgoto Sustentáveis (INCT ETEs
Sustentáveis) e das Câmaras Temáticas da ABES de
Tratamento de Esgotos e de Dessalinização e Reúso.
O evento trouxe para a discussão a relação das
cidades inteligentes com a água, sendo o reúso uma
questão primordial, uma vez a água é reintroduzida
para que possa ser reciclada ou reutilizada ao invés
de ser descartada, dando origem a novos ciclos e,
portanto, gerando uma fonte de água que não existia
e uma prática de economia circular que proporciona
segurança hídrica.
Todos os webinares estão disponíveis para
visualização sem custo no canal do YouTube da
ABES Saneamento.

AS DIRETRIZES EMPRESARIAIS DE
DESEMPENHO AMBIENTAL, SOCIAL E
GOVERNANÇA CORPORATIVA (ESG)
O índice ESG com foco em aspectos ambientais
(E, do inglês environmental), sociais (S) e de
governança (G), associados às atividades
norteadoras das corporações, popularizou-se entre
os mercados emergentes. Apesar de ter alcançado
visibilidade em 2020, o termo foi cunhado em
2005, no relatório Who Cares Wins, por uma
iniciativa liderada pela Organização das Nações
Unidas (ONU) e por outros nove países, incluindo
o Brasil, para o desenvolvimento de diretrizes e
recomendações acerca da inclusão da agenda ESG
na gestão de ativos.
Historicamente, os investimentos em
sustentabilidade sempre foram considerados pela
lente estreita de retorno financeiro do investimento.
No entanto, esse pensamento evoluiu ao longo dos
anos, à medida que investidores globais, fundos
de pensão e instituições financeiras exigiram
que suas empresas investidas incorporassem,
acompanhassem e relatassem o desempenho ESG
ajustado aos riscos dos investimentos.
No ano de 2020, diversas reflexões derivaram
dos impactos devastadores causados pelo
desequilíbrio ambiental, exacerbado pelas ações
antrópicas. No critério social, a pandemia destacou
a importância de oferecer condições dignas e
seguras aos trabalhadores e acessibilidade à
assistência médica. Ainda, as perdas econômicas
Artigo
Káren Bes
causadas por desastres ambientais relacionados às
mudanças climáticas e à pandemia são intangíveis e
a reconstrução do mercado depois da Covid-19 será
desafiadora.
Os investimentos estratégicos em ESG representam
um princípio fundamental dessa reestruturação. A
oportunidade é única para a ampliação de discussões
e ações em investimentos sustentáveis por todas
as partes interessadas: investidores, empresas,
governos e órgãos reguladores, instituições
financeiras e consumidores. E, unindo esforços
conjuntos, as partes devem estar alinhadas para
criarem um ecossistema pelo qual se investirá em
um futuro mais limpo e verde.
Cada vez mais o perfil de consumidores e stakeholders
conscientes e adeptos do desenvolvimento
sustentável, com compromisso social, têm exigido
ações concretas de grandes corporações. Atento a
Cada vez mais o perfil de consumidores
e stakeholders conscientes e adeptos
do desenvolvimento sustentável, com
compromisso social, têm exigido ações
concretas de grandes corporações.
33
Artigo
esses movimentos, o mercado de investimentos
tem inserido fortemente a agenda ESG, integrada
ao contexto do negócio, sendo esta indispensável
à sobrevivência, ao fortalecimento, à resiliência e à
gestão de riscos de novos investimentos.
A construção de uma marca corporativa mais forte,
referência para a indústria e para a sociedade,
a retenção e a satisfação de colaboradores e
a atratividade aos investidores são alguns dos
benefícios propiciados pela incorporação dos
princípios ESG nas rotinas organizacionais.
Contudo, qual seria o primeiro passo para a adesão
dessas diretrizes em empresas de diferentes portes?
Inicialmente, para a construção de um relatório
ESG, pode-se utilizar uma matriz de materialidade
a fim de delinear os temas mais importantes para
o negócio, definindo a interseccionalidade entre os
aspectos ambientais, sociais e de governança.
Embora a implementação de novos conceitos e
tecnologias exijam investimentos iniciais, estes são
mais do que compensados pela geração de receitas
e redução de custos operacionais a longo prazo,
como na implantação de sistemas energéticos de
matriz renovável e eficientes. Ademais, os fatores
ambientais relativos ao uso consciente de recursos
naturais, à preservação da biodiversidade, ao
controle de emissão e captura de gases de efeito
estufa, à gestão de resíduos, ao tratamento de
efluentes e reúso de água e ao controle de poluição
são métricas que permitem a avaliação da pegada
ecológica na trajetória do negócio. Dessa forma,
estratégias de mitigação e de combate à redução
da deterioração do meio ambiente e esgotamento
de recursos naturais devem ser consideradas.
Com relação aos fatores de aspecto social,
evidenciam-se políticas coorporativas que
fomentam a equidade de gênero, a inclusão e
diversidade, os direitos humanos, as relações com
comunidades do entorno, a privacidade e proteção
de dados, a saúde e segurança e o engajamento
e treinamento contínuo dos colaboradores. Tais
34
ações, executadas com responsabilidade social,
são indispensáveis para promover a amortização
das sólidas barreiras impostas às minorias ao
longo da formação histórica/política da sociedade e
garantem, de forma mais assertiva, a inserção das
minorias no mercado de trabalho e sua ascensão a
cargos de liderança.
Por fim, os fatores relacionados à governança
pressupõem a independência e a diversidade na
composição do conselho de administração; na
estruturação de comitês de auditoria fiscal, ética
e transparência; na elaboração de políticas de
remuneração executiva; na definição de processos
de sucessão, controle de riscos, gestão de crises
e de cadeia de fornecimentos, integridade e
compliance; e na garantia de direitos e interesses
de acionistas e demais stakeholders.
A inserção da sustentabilidade promove destaque
e vantagem competitiva no mercado. Entretanto,
é importante destacar que a comunicação, a
transferência de conhecimento e o envolvimento
da sociedade local na agenda ESG são
imprescindíveis para construção de uma imagem
empresarial consistente e alinhada a demandas
atuais. Consequentemente, evita-se que tais ações
sejam consideradas greenwashing e/ou marketing
verde, acarretando riscos de exposição pública e
resultados contrários aos desejados inicialmente.
Diante da demanda por investimentos mais éticos,
sustentáveis e com melhores resultados para a
sociedade, a aplicação dos conceitos ESG passará
de diferencial para uma aplicabilidade obrigatória
nas corporações. A procura por produtos e serviços
livres de degradação ambiental, trabalho escravo ou
corrupção propiciará que empresas com valores e
estruturas de governanças, alinhadas aos conceitos
ESG, conquistem resultados superiores em longo
prazo e em meio a crises.
 Artigo

A EXPANSÃO DA
CADEIA PRODUTIVA Luiz Thiago
DO BIOGÁS

O uso do biogás no Brasil não é recente, na década

de 1970, foram instalados diversos biodigestores
em propriedades rurais, impulsionados pela
crise do petróleo. A princípio, a maioria desses
biodigestores tinha como finalidade a obtenção de
energia térmica para uso doméstico na cocção. No
entanto, devido à falta de informação, incentivos e
problemas operacionais, a maioria desses projetos
foi abandonado.

No final da década de 1990, com a aprovação

do Protocolo de Kyoto, o biogás retornou à pauta
de discussões, sendo que, na década seguinte,
milhares de biodigestores foram instalados em
plantas foi evidenciado entre os anos de 2018 e 2019,
território nacional, tendo como objetivo a obtenção
com um crescimento de cerca de 31%. Atualmente,
de créditos de carbono e o início de projetos
84% das plantas realizam a utilização de biogás para
voltados ao aproveitamento energético do biogás
produção de energia elétrica, e destas, 87% estão
na forma de energia elétrica.
alocadas no setor agropecuário. No Brasil, gera-
se cerca de 1,78 bilhão de Nm³ de biogás por ano,
Gradativamente o biogás vem ganhando força,
destinados à produção de energia térmica, elétrica e
como na agropecuária, nas agroindústrias e no
biometano.
saneamento. No campo, muitos produtores de
proteína animal foram motivados pela necessidade
Nesse sentido, a evolução do biogás no cenário
de tratar os rejeitos da atividade e de gerar maior
nacional, nos últimos dez anos, foi marcada por
segurança energética, pois diversas regiões sofrem
grande avanço tecnológico na cadeia produtiva de
com a instabilidade da rede elétrica. Nas cidades,
biogás, desenvolvimento de tecnologia nacional
muitas estações de tratamento de esgoto passaram
e de mão de obra qualificada, partindo de projetos
a utilizar o biogás produzido nos reatores anaeróbios
simples, focados na geração de energia térmica e
para gerar energia elétrica. Ainda no contexto dos
elétrica, para projetos com alto nível tecnológico
resíduos urbanos, ocorreram muitos avanços no
e de otimização, garantindo a exploração efetiva
aproveitamento energético de biogás proveniente
do potencial de plantas e elevando a qualidade do
dos aterros sanitários, onde surgiram plantas de
biogás a biometano, destinado ao uso veicular ou
geração de energia com potência instalada de mais
injeção em redes de gás natural.
de 20 MW.

Segundo dados do Biogasmap (CIBiogás, 2019),

em um intervalo de dez anos (de 2010 a 2019),
o número de plantas produtoras de biogás que
realizam o aproveitamento energético passou de 39
unidades para um total de 548. O maior aumento de
De 2010 a 2019, o número de plantas
produtoras de biogás que realizam o
aproveitamento energético passou de
39 unidades para um total de 548.

35
Artigo
Além do mais, o desenvolvimento de novos arranjos
tecnológicos tem permitido que unidades de pequeno
porte possam explorar, de forma mais efetiva, seus
recursos em condomínios de energia ou centrais
de bioenergia, buscando constantemente meios de
promover o desenvolvimento econômico com baixo
impacto ambiental e, ao mesmo tempo, a redução
de custos por meio da eficiência no aproveitamento
dos recursos disponíveis.
É importante destacar que, enquanto a evolução
tecnológica do biogás acontecia no país, empresas
engajadas no setor, autoridades políticas, empresas
públicas e entidades sem fins lucrativos trabalharam
intensamente para a criação de leis, normas e
diretrizes que viabilizaram muitos modelos de
negócios, tornando projetos de biogás muito mais
atrativos financeiramente.
Nesse cenário, o biogás destaca-se por ser
uma fonte energética proveniente de resíduos
potencialmente poluidores e, ao mesmo tempo, por
gerar ganhos financeiros a partir da substituição,
compensação ou venda de energia.
36
A evolução dos projetos de biogás é notória pelo
número de plantas e pela tecnologia utilizada
nos projetos, porém, diferentemente de outros
segmentos e fontes de energia em que existem
produtos de prateleira para aplicação e reposição,
a atuação no segmento do biogás é muito mais
complexa, visto que requer profundo conhecimento,
uma vez que a maioria das empresas do setor
precisa desenvolver seus próprios métodos e
produtos, com bases nos conceitos já consolidados
e com auxílio de materiais e equipamentos
desenvolvidos para outros segmentos.
O potencial de produção de biogás do Brasil é
imenso, pois há matéria-prima em abundância, uma
cadeia de fornecedores nacionais com produtos de
excelente qualidade, empresários e investidores que
acreditam no setor, dentre outros fatores. Contudo,
ainda há necessidade de maior segurança jurídica e
incentivos fiscais para fortalecer o setor.

A ECONOMIA CIRCULAR E A ENGENHARIA
AMBIENTAL: NOVAS OPORTUNIDADES
PARA O PROFISSIONAL
Em 2018 passei por um desapontamento que
acredito que todo profissional de engenharia
ambiental já tenha passado: propostas de melhorias
ambientais não aprovadas. Isso aconteceu após
apresentar um projeto de redesign de processos
de tratamento de água e efluentes para uma
multinacional, a qual eu fui gestora ambiental. Com
o projeto haveria redução de consumo de água
bruta, redução de insumos químicos e manutenção
de filtros e, consequentemente redução de custos.
O payback do projeto era de 2,8 anos para um
processo industrial de alto consumo de água, numa
região com baixa disponibilidade hídrica, e mesmo
assim não foi aprovado.
Sabia que a parte técnica e financeira ali não era o
cerne da questão, então procurei respostas para as
minhas indagações:
“Como sair da visão de mitigar, fazer menos mal,
para a visão de regenerar e gerar impacto positivo?”
“Como trabalhar projetos de Sustentabilidade com
valor a longo prazo em uma cultura imediatista que
busca resultados econômicos a curto prazo?”
Foi então que conheci a Economia Circular e
encontrei algumas respostas. A gestão ambiental
e a sustentabilidade aplicadas hoje foram
desenvolvidas a partir da visão linear: extração,
produção e descarte, onde tudo termina em algum
lugar distante que não vemos: o rio que leva
para longe, o aterro sanitário que enterra ou no
incinerador que destrói o material parcialmente.
Artigo
Sabrina Correa
O que eles têm em comum?
Desperdícios de recursos e energia,
além da continuidade de uma poluição
lenta e invisível aos olhos.
Enxerguei a Economia Circular como uma
ressignificação para o profissional da engenharia
ambiental, de onde passamos do profissional que
trata passivos ambientais e gera custo, para um
profissional que transforma os riscos em ativos
ambientais gerando valor econômico, social e
ambiental.
A pandemia do Covid-19 acelerou tendências que
já estavam em curso mundo afora e o mesmo
aconteceu com a Economia Circular. No entanto,
temo que a economia circular seja interpretada com a
mesma visão de final de ciclo, sendo focada apenas
nas soluções de reciclagem. De fato, a reciclagem
é uma etapa importante do processo circular,
principalmente a reciclagem do ciclo biológico, mas
não podemos esquecer que, a cadeia da reciclagem
de hoje ainda é ineficiente e consome muita energia.
Reciclar é como se fosse uma aspirina, é aliviar
uma ressaca coletiva bastante grande de consumo
excessivo de produtos e energia, ou seja, é continuar
insistindo na visão de fazer menos mal.
A economia circular é fruto de várias escolas de
pensamentos que trazem referência de como os
processos e relacionamentos ecológicos acontecem
nos ecossistemas.
37
Artigo
O primeiro passo para o design circular é reconhecer
os processos em dois metabolismos: a biosfera e a
tecnosfera.
Os ciclos da biosfera, ou biológicos, são os
processos de regeneração constante e que
constituem vida como água, solo e ar.
E os ciclos da tecnosfera, ou técnicos, abrange as
estruturas constituídas pelo trabalho humano no
espaço da biosfera utilizando recursos de renovação
muito mais lenta, como os minerais e combustíveis
fósseis que são transformados em metais e plástico.
O segundo passo é considerar que todo resíduo
é nutriente para a continuidade dos ciclos, logo,
os ciclos técnicos e os biológicos não podem se
misturar no próprio design de produtos e processos.
O terceiro passo é considerar o potencial da energia
renovável, ilimitada do sol, não apenas a energia
solar direta, mas também aquelas influenciadas
pelo sistema solar: vento, ondas, geotérmica e a
biomassa.
O quarto passo essencial é considerar a diversidade,
tanto de materiais e recursos biológicos, quanto
de soluções e potenciais humanos. É através da
diversidade que será possível seguir as preferências
38
pessoais, porque de nada serviria selecionar
coisas pouco atraentes só porque tem maior
respeitabilidade ambiental. A economia circular
pede para ser utilizada da inteligência ecológica, da
elegância da natureza, da criatividade e da diversão
durante a transição.
A economia circular poderia se chamar economia
infinita, devido às incontáveis possibilidades
de inovação. Só dentro do entendimento dos
metabolismos da biosfera e o da tecnosfera
existem dois modelos de negócios: os resíduos
como recursos e o da energia renovável. Imagine
a quantidade e tipos de produtos descartados,
as combinações de materiais e os processos
envolvidos em toda cadeia industrial. Pense no
potencial de energia proveniente do sol, além dos já
mencionados acima, o biogás e os biocombustíveis
gerados no setor agropecuário também são
renováveis.
E os modelos de negócios não param
por aí. Ainda existem os serviços de
compartilhamento, durabilidade e
modularidade, e fornecer o produto
como um serviço.
São muitas oportunidades para o profissional de
engenharia ambiental em todos os modelos, até
porque, a atuação vai além dos aspectos e impactos
ambientais. Os conceitos de economia circular
também estão sendo introduzidos na mobilidade e
no planejamento urbano.
Portanto, a era da economia circular é também
a era da engenharia ambiental, da ascensão e
valorização da nossa função. Somos um dos
poucos profissionais que possuem uma formação
sistêmica em diferentes disciplinas. A transição
para a economia circular precisa da engenheira
ambiental.

MOBILIDADE URBANA E O PÓS
(EM) PANDEMIA
Após um ano, em que vivenciamos algo único para
boa parte da população, uma pandemia que não
acontecia há mais de 50 anos e que ainda estamos
vivendo, apesar da flexibilização inconsequente
por parte de alguns e da falta de uma política
pública singular para todos, considerando as
particularidades de cada região e os protocolos
aplicáveis, começamos 2021 com um horizonte de
boas perspectivas em torno da vacina e com muitos
outros aprendizados desse período que passou.
A pandemia antecipou mudanças que estavam
previstas para o futuro da nossa civilização. Duas
delas foram bem expressivas: o trabalho remoto e a
educação a distância. A busca pela sustentabilidade,
uma vida mais saudável e o consumo consciente
também foram fatores observados, em uma escala
menor, mas também expressiva.
O aumento do uso da bicicleta foi perceptível e
crescente cada dia após os primeiros períodos de
flexibilização, com as bandeiras permitindo uma
redução do isolamento social e a necessidade de se
deslocar com objetivos de trabalho e outros, muitas
pessoas optaram pelo uso da bicicleta como modal
de transporte, mas, ainda assim, a maior parcela
manteve o uso do transporte coletivo.
Protocolos foram implantados, no entanto, mediante
observações de campo nas canaletas de BRT. Em
Curitiba, por exemplo, constatou-se que os níveis
de lotação dos ônibus encontram-se em cenários
de normalidade, principalmente nas horas pico,
Artigo
Ivo Reck
ainda que os usuários busquem, ao máximo, manter
a recomendação do uso de máscara, como única
garantia na tentativa de evitar um contágio.
Muitas cidades adotaram planos de contingência
como política pública para manter e possibilitar as
dinâmicas dos deslocamentos urbanos nas grandes
e pequenas cidades. Recomendaram à população
evitar o uso do transporte coletivo (apesar de esse
ser um dos serviços essenciais nas grandes cidades,
em muitos casos, o único meio de transporte
possível) como uma das principais sugestões para
driblar o contágio, mantendo, na medida do possível,
o distanciamento social. Ciclovias temporárias,
higienização permanente no transporte coletivo,
ampliação de espaços de calçadas e circulação de
pedestres, entre outras iniciativas e boas práticas,
foram algumas das políticas públicas adotadas nos
planos de contingência.
Alguns meses após o início da pandemia, em
maio de 2020, a Associação Nacional de Oficiais
de Transporte da Cidade (NACTO, na sigla em
inglês), presidida pela ex-prefeita de Nova Iorque,
Janette Sadik-Khan, lançou o Streets for Pandemic
Response & Recovery, guia que compilou boas
práticas aplicadas em cidades em todo o mundo,
incluindo informações sobre ações relacionadas ao
desenho de ruas e outros espaços públicos para
recuperação e resposta rápida à Covid-19. As ações
e intervenções foram organizadas em 15 áreas
temáticas, que vão desde serviços essenciais, faixas
de transporte público, ciclofaixas, feiras/mercados,
39
Artigo
reuniões e eventos.
As medidas adotadas no Brasil foram,
principalmente, ações fiscais com o objetivo de
resgatar as empresas do ramo do transporte coletivo,
para manter a operação do sistema. Em Curitiba,
por exemplo, o valor de subsídio repassado pelo
Executivo Municipal terminou o ano de 2020 com
um valor total estimado em R$ 180 milhões. Outra
medida também adotada pela capital paranaense
foi implantar ciclofaixas temporárias e ampliar
calçadas no entorno do Mercado Municipal, mas
apenas nos finais de semana. Em Belo Horizonte,
a infraestrutura temporária chegou a 30 quilômetros
de ciclofaixas, beneficiando quem trabalha em
serviços essenciais, precisa sair de casa e usa a
bicicleta durante a pandemia.
Outra medida, mais recentemente implantada,
foi o “toque de recolher” decretado pelo Governo
do Estado do Paraná, proibindo, após as 23h,
a circulação nas vias públicas, com o objetivo
de reduzir o índice de acidentes de trânsito,
principalmente os relacionados ao excesso de
velocidade que, consequentemente, geram a
necessidade de UTIs e demais serviços de saúde
correlatos. Tal medida, nesse período da pandemia,
destaca a importância efetiva de políticas públicas
de mobilidade.
Há que se ter um olhar positivo, destacar os
aprendizados, valorizar a vida dos que superaram
esse momento e reverenciar todos que se foram,
que nos deixaram aqui para vencer essa batalha
que a vida nos apresentou.
Melhorar e ampliar os meios de transporte coletivo
e não motorizados existentes, como também buscar
meios de reduzir, gradativamente, as necessidades
de deslocamentos por meios de transporte
individuais motorizados está cada dia mais em
prática, as cidades se beneficiam e o meio ambiente
também.
Desincentivar o uso do carro, ampliar infraestruturas
40
para bicicletas, fidelizar os usuários dos ônibus, de
sistemas de bicicletas compartilhadas, melhorar
as calçadas, ampliá-las, renovar e despoluir as
frotas de ônibus são algumas iniciativas. Conforme
a plataforma e-Bus Radar, que visa mostrar quais
cidades da América Latina possuem ônibus elétricos
e a quantidade de emissões de CO2 evitadas
mediante a utilização desses veículos, há, no
Brasil, apenas 349 ônibus elétricos em circulação.
No Paraná, apenas a cidade de Maringá consta no
levantamento, com três veículos.
A inclusão de veículos menos poluentes na
renovação de frotas do transporte coletivo devem
ser metas de curto prazo. As iniciativas como os
sistemas de transporte por aplicativo, tal como os
serviços de entrega, têm como principal política
atender, com qualidade, o usuário, otimizando seus
sistemas e operação, valorizando e fidelizando
o usuário, sendo esse um exemplo que deve ser
seguido pelos sistemas públicos.
Não existe apenas uma resposta ou solução
como política pública para os desafios urbanos,
principalmente no tema da mobilidade urbana. Um
“novo normal” se apresentará, gradativamente,
com as expectativas de melhorias decorrentes da
aplicação da vacina, a vida será retomada e os
múltiplos interesses e desejos da população serão
ressignificados, das mais diversas formas que a
nova realidade proporcionar, cada região com sua
particularidade e desafio.
Os governos municipais, estaduais e os federais
devem desenvolver ações que proporcionem
uma qualidade de vida a todos, pluralmente e
com consciência ambiental. E, quem sabe assim,
garantindo às próximas gerações uma parcela da
vida que o planeta nos proporciona hoje.
 Artigo

A FISCALIZAÇÃO DO Mariana Alice

SISTEMA CONFEA/CREA: de Oliveira
Maranhão
COMO FUNCIONA?

Em 1933, quando as entidades precursoras,

compostas por associações, clubes de engenharia,
sindicatos e institutos de engenharia atuaram em
conjunto para coibir o exercício profissional por
pessoas inabilitadas, a sociedade contou com a
primeira regulamentação das profissões afetas às
Engenharias, Agronomia e Geociências (Decretos
n.º 23.196 e n.º 23.569).

Desde antes da regulamentação e, em especial,

depois dela, passamos por diferentes períodos
e circunstâncias, mas em nenhum momento
a sociedade ficou sem contar com a presença
das profissões do Sistema Confea/Crea em sua
o exercício ilegal e não ético da profissão. E isso
evolução.
ocorre com fiscalização, buscando impedir a atuação
de leigos e aumentar a segurança nas obras e
É importante também ressaltar as promulgações
nos serviços por meio de profissionais e empresas
das leis n.º 5.194, em 1966, e n.º 6.496, em 1977,
habilitadas.
que permitiram as resoluções do Sistema, as
decisões plenárias e as deliberações das Câmaras
A fiscalização do Crea-PR segue as diretrizes
Especializadas, todas focadas em um único objetivo:
estabelecidas pelo Conselho Federal de Engenharia
que profissionais legalmente habilitados, por meio
e Agronomia (Confea), que é a de “ampliar a
de suas profissões, entregassem para a sociedade
fiscalização em empreendimentos que demandem
um trabalho completo, com responsabilidade, ética
serviços de engenharia, agronomia e geociências
e segurança.
com objetivo de proteger a vida”, e descreve os
E por que foi necessário regulamentar princípios da fiscalização pela Decisão Normativa n.º
essas atividades? 95/2012:
Porque as profissões de engenharia estão em I – Princípio da Universalidade;
todos os locais: nos alimentos, nas residências, nos II – Princípio da Articulação;
automóveis, nos jardins e nas florestas, nos produtos III – Princípio da Visibilidade;
consumidos e na infraestrutura. E se as atividades
IV – Princípio do Risco Social;
não forem realizadas por profissionais habilitados,
trabalhando com responsabilidade e conduta ética, V – Princípio da Profundidade Adequada;
o risco para a segurança da sociedade e do meio VI – Princípio da Abrangência Territorial;
ambiente cresce muito. VII – Princípio da Dinâmica;
VIII – Princípio da Assertividade.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
do Paraná (Crea-PR) tem a missão de valorizar
as profissões e o seu exercício ético, combatendo

41
Artigo
Baseado nesses princípios, o Crea-PR atende
anualmente os 399 municípios do Paraná. Com
grande foco na orientação aos fiscalizados, busca-
se a regularização espontânea, antes de proceder
qualquer autuação.
Em termos práticos, a fiscalização ocorre em
locais como obras, lavouras, órgãos públicos,
condomínios, hospitais, empresas etc. e nesses
locais são verificadas as atividades de engenharia,
agronomia e geociências que estão sendo
realizadas.
Para definir os pontos a serem fiscalizados pelo
Crea-PR, um planejamento prévio é realizado para
verificar indícios de irregularidades e para que
não haja desperdício de recursos. Isso se deve ao
cruzamento de informações de banco de dados,
contando também com parcerias realizadas com
outros órgãos, que fornecem informações para que
a fiscalização seja assertiva.
E não poderia haver o cruzamento de dados sem a
utilização de tecnologia adequada. Por isso, o Crea-
PR utiliza sistemas georreferenciados e de business
intelligence para trabalhar o banco de dados,
42
verificando, por exemplo, que existem indícios de
empresa de engenharia atuando em determinado
local, porém sem o indicativo de participação
profissional.
Por fim, o Conselho conta bastante com a
participação da sociedade por meio do registro de
denúncias. É premissa do Crea-PR atender 100%
das denúncias cadastradas. Por elas, é possível
ampliar os braços da fiscalização em locais de difícil
acesso, e o mais importante: receber informações
sobre profissionais que não estão tendo uma
conduta adequada. Assim, com a participação
de todos, é possível alcançar esse objetivo tão
importante de defesa da sociedade.
Por fim, o Conselho conta bastante com
a participação da sociedade por meio
do registro de denúncias.

A ATUAÇÃO DAS INSPETORIAS
DO SISTEMA CONFEA/CREA
O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
(Confea), instituído com os Conselhos Regionais de
Engenharia e Agronomia pelo Decreto n.º 23.569,
de 11 de dezembro de 1933, é a instância superior
da fiscalização do exercício das profissões inseridas
no Sistema Confea/Crea.
Trata-se de uma entidade autárquica, dotada
de personalidade jurídica de direito público, que
constitui serviço público federal, com sede e foro em
Brasília-DF e jurisdição em todo o território nacional.
O principal objetivo do Confea é zelar pela defesa
da sociedade e do desenvolvimento sustentável do
país, observados os princípios éticos e profissionais
no desempenho de seu papel institucional.
A Resolução n.º 195 do Confea, de 31 julho
1970, afirma em seus artigos: 1.º − Os Conselhos
Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
poderão instalar, nas respectivas jurisdições,
inspetorias incumbidas de fiscalizar o exercício
profissional; 2.º − Somente poderá ser escolhido,
para ocupar o cargo de inspetor, o profissional de
grau superior legalmente habilitado.
A inspetoria é um órgão descentralizado do
Crea, criado de acordo com a conveniência e
disponibilidade administrativa do Conselho para
contribuir na melhoria da fiscalização e, por
extensão, do exercício profissional. Trata-se de
um órgão auxiliar da administração do Conselho,
Artigo
Rodolfo Alves
de Souza
que possui inspetores de diferentes modalidades
profissionais, concernentes a cada uma das câmaras
especializadas, sendo um deles designado inspetor-
chefe.
As inspetorias são extensões técnico-administrativas
da sede, criadas com o objetivo de auxiliar os
profissionais e a comunidade daquele local em todos
os assuntos relacionados às profissões do Sistema
Confea/Crea.
Cada unidade instalada significa maior presença e
força do Crea no interior e na região de abrangência
desta.
As principais funções das inspetorias
são:
∙ fiscalizar obras e serviços técnicos;
∙ divulgar a legislação do Sistema Confea/
Crea e o Código de Ética Profissional;
∙ mobilizar a categoria por meio da promoção
de cursos, palestras e seminários, com a
finalidade de contribuir para o aprimoramento
do exercício profissional.
O inspetor é o profissional voluntário designado
pela presidência do Crea para, junto à sua
comunidade regional, melhorar a eficiência da ação
de fiscalização, em defesa do exercício profissional
43
Artigo
e da sociedade. É um título corporativo que está
relacionado a necessidades, anseios e práticas do
seu ambiente social de atuação nas diversas áreas
da engenharia.
Além disso, é um observador de seus
pares na conduta ética e na atuação
profissional, tendo como atribuições:
∙ representar, quando designado, o presidente
do Crea perante a regional;
∙ divulgar a legislação e o Código de Ética do
Conselho;
∙ colaborar com as câmaras especializadas
em suas atividades;
∙ colaborar para a elaboração e execução do
plano de fiscalização regional;
∙ informar à Presidência qualquer fato,
ocorrido em sua jurisdição, que julgar de
interesse do Crea e de seus profissionais.
44
Conclusão
As inspetorias e seus inspetores atualmente têm
fundamental importância, pois são observadores e
multiplicadores das atividades do Sistema Confea/
Crea para a sociedade.
Sendo assim, o aumento das inspetorias em cada
Crea ampliará essa representação da engenharia.
O principal objetivo do Confea é
zelar pela defesa da sociedade e do
desenvolvimento sustentável do país,
observados os princípios éticos e
profissionais no desempenho de seu
papel institucional.

RESOLUÇÃO CONFEA N.º 1.025/09:
ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA
(ART) E CERTIDÃO DE ACERVO TÉCNICO (CAT)
A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)
é um instrumento indispensável para identificar
a responsabilidade técnica em obras ou serviços
prestados por profissionais ou empresas,
assegurando à sociedade que essas atividades
sejam legalmente habilitadas.
Esse dispositivo é regulamentado pela Lei n.º 6.496,
de 7 de dezembro de 1977, e pela Resolução do
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
(Confea) n.º 1.025, de 30 de outubro de 2009,
possuindo três objetivos principais: a defesa
da sociedade, a valorização profissional e a
comprovação da capacidade técnica.
Todo contrato escrito ou verbal para execução
de obras, prestação de serviços e desempenho
de cargo e função técnica, relativos às profissões
abrangidas pelo Sistema Confea/Crea, conjunto
formado pelo Confea e Conselhos Regionais de
Engenharia e Agronomia (Creas), fica sujeito ao
registro da ART.
Uma vez emitida e após recolhida a taxa
correspondente, os dados da ART são anotados
automaticamente em um banco de dados,
denominado Sistema de Informações Confea/
Crea (SIC). Assim, a execução da atividade sem o
recolhimento do valor da taxa sofrerá as sanções
legais cabíveis.
Artigo
Felipe Marcel
Quanto à tipificação, a ART pode ter três
classificações, conforme observado a seguir.
ART de obra e serviço: execução de obras
e prestação de serviços, relacionados às profissões
abrangidas pelo Confea/Crea.
ART múltipla: vários contratos, referentes
à execução de obras ou prestação de serviços
rotineiros, realizados em determinado período.
ART de cargo e função: relativa ao vínculo
com pessoa jurídica (direito público ou privado) para
desempenho de cargo e função técnica.
Também pode ser individual, quando a atividade é
realizada por apenas um profissional; por coautoria,
quando a atividade de cunho intelectual é elaborada
por mais de um profissional de mesma competência;
por corresponsabilidade, quando a atividade
executiva é desenvolvida por mais de um profissional
de mesma competência; e em equipe, quando a
atividade é desenvolvida por mais de um profissional
de competências diferenciadas.
Para efeitos legais, somente será considerada
concluída a participação do profissional em
determinada atividade técnica, quando for dada a
baixa da ART correspondente. Vale a pena destacar
que a baixa da ART não exime o profissional ou a
45
Artigo

pessoa jurídica contratada de responsabilidades Dessa forma, pode-se concluir que os atestados
administrativa, civil ou penal, conforme o caso. de capacidade técnica compõem o currículo do
profissional e são documentos obrigatórios para
Ao conjunto das atividades desenvolvidas ao longo empresas que participam de processos licitatórios.
da vida do profissional, compatíveis com suas
atribuições e registradas no Crea, dá-se o nome de Em resumo, destaca-se que a ART é um instrumento
acervo técnico, que pode ser constituído por ARTs obrigatório, legal e de valorização profissional,
que tenham sido baixadas ou não (atestado parcial) sendo facultado, contudo basilar, a CAT. Assim, é
e que atendam a todos os requisitos mínimos de fundamental importância que os profissionais do
contidos no Anexo IV da Resolução Confea n.º Sistema Confea/Crea tenham conhecimento sobre
1.025/09. a Resolução Confea n.º 1.025/09, bem como, sobre
a correta utilização da ART.
Inclusive, a responsabilidade técnico-profissional de
uma pessoa jurídica é representada pelo conjunto
de acervos técnicos dos profissionais integrantes de
seu quadro técnico, que variam de acordo com as
alterações dos acervos de cada profissional, sendo
vedada a emissão de Certidão de Acervo Técnico
(CAT) em nome da pessoa jurídica.

46
ESSA PUBLICAÇÃO
É UMA PARCERIA
ENTRE: