NOME______________________________________________NOTA________ Orientações: a) Enviar este arquivo word com a resposta, através do Sigaa, até dia 26 DE JULHO DE 2022. b) Valor de zero até dez. c) A resposta deverá ser dissertativa, no máximo 3 laudas (folhas) e no mínimo 1 lauda. d) Utilizar breves citações (preferencialmente até 3 linhas), de acordo com as normas da ABNT, para exemplificação, quando necessário. Formato: letra tamanho 12, times new roman, espaço entre linhas 1,5. e) Havendo constatação de plágio, a atividade receberá nota zero. f) Os descontos na nota também incluem a correção ortográfica e de pontuação, portanto revise seu texto antes de enviá-lo. g) Fazer o referenciamento bibliográfico ao fim do texto, de acordo com as normas da ABNT, caso utilize outras fontes na construção do texto. Proposta: Considerando ao menos três dos textos literários das aulas deste bloco final da disciplina [A10 e A11 (prosa), A12 (poesia) e A13 (teatro)], discuta os desdobramentos de formas e de temas da literatura contemporânea em língua portuguesa, a partir de seus espaços de circulação e recepção. Aulas 10 e 11: Torto Arado, de I. Vieira ou Luanda Lisboa Paraíso, de D. Ribeiro ou O apocalipse dos trabalhadores, de walter hugo mãe. Aula 12: quaisquer poemas da antologia, constante nos slides de aula ou alguma outra produção que seja relativa às duas últimas décadas, desde que citada e referida adequadamente. Aula 13: Kangalutas, de Abdulai Sila.
O “apocalipse dos trabalhadores” (2008) de Valter Hugo Mãe é a ascensão de sua
escrita, pois o escritor trabalha com um método narrativo não convencional, que foge às regras impostas pelos manuais de gramática normativa, uma vez que não faz uso de pontuação, além do ponto final e vírgula, e tampouco usa também letras maiúsculas em seus romances, provavelmente influenciado pela escrita de José Saramago. A obra em questão narra a história de Maria da Graça e Quitéria, duas empregadas domésticas (ou 'mulheres-a-dia', como são nomeadas em Portugal) que, apesar do trabalho duro e da rotina opressiva, mantêm as esperanças em uma vida melhor. O livro narra suas desventuras amorosas - Maria da Graça envolve-se com seu patrão, que considera o homem ideal; Quitéria, por sua vez, vive um romance com um jovem imigrante ucraniano. Relações complexas e permeadas por questões sociais e de gênero. Para incrementar o orçamento mensal, as duas fazem bicos como carpideiras, e passam madrugadas velando defuntos desconhecidos. Essa experiência entre mortos e a proximidade da finitude fazem com que tenham uma relação particular com a fé e a religião. Segundo Wendrecoski (2019, p.7), dentro da narrativa “há uma simbologia significativa para o uso da “caixa baixa” na narrativa; tanto a objetificação do ser humano, cujos nomes não ganham reconhecimento em caixa alta por não significarem nada além de meros substantivos”. Esta simbologia demarca os sujeitos presentes no textos, assim como a relação de poder entre as personagens. O Apocalipse dos Trabalhadores é perpassado por histórias de personagens complexas, cujas vidas se entrelaçam na narrativa de modo inesperado e permeada pela relação de poder entre empregadas e patrão. Como vemos no momento em que o Sr. Ferreira se utiliza de artifícios retóricos a fim de tentar impressionar a empregada: fala sobre arte pouco antes de abusar sexualmente dela, o que fica ambíguo e confuso. O cenário do abuso são as reproduções dos quadros de Goya estampadas no livro que o patrão obriga a empregada a folhear durante o ato. Enquanto ele falava sobre a genialidade de Goya, concluía o patrão que, eles, os homens dessa imagem eram geniais, causavam regozijo ao criador; ele exclama então para a empregada, num suposto ar de consciência: “sabemos o nosso lugar e é dessa forma que a sociedade se estrutura, é essa consciência que faz com que não se desmorone” (MÃE, 2017, p. 20). Essa consciência dada à empregada pela fala do Sr. Ferreira é o que caracteriza uma consciência coletiva, segundo a qual há um lugar social, econômico, político, religioso e cultural para cada indivíduo dentro da sociedade; esses lugares são definidos, dentre outros fatores, pelo capital financeiro e pelo gênero. O texto de Valter demonstra de modo explícito, através de um estilo de escrita que acompanha os atos, as nuances das relações de gênero e de poder entre um patrão e uma empregada, além disso, demonstra, de modo poético e complexo, momentos de expressão de Liberdade de Maria da Graça e Quitéria. Maria da Graça e Quitéria são personagens, que mesmo sendo de ficção, representam e contam ao leitor a história das mulheres na sociedade ocidental, por meio da simplicidade da realidade dre duas mulheres pobres de Bragança, suas histórias são reflexos do que pode ser proposto para o futuro ser de fato feminino. A obra apresenta uma realidade pouco explorada de um cotidiano comum a muitas mulheres que trabalham como empregadas, demonstra a crueldade e ao mesmo tempo a vontade e desejos das personagens, não anulando sua própria humanização.
Referências
MÃE, Valter Hugo. O Apocalipse dos Trabalhadores. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.
WENDRECOSKI, Cristina Fátima. O APOCALIPSE DAS TRABALHADORAS: MARIA
DA GRAÇA E QUITÉRIA, ANÁLISE HISTÓRICA DO TRABALHO FEMININO REPRESENTADO PELAS PERSONAGENS DE VALTER HUGO MÃE. Monografia . Especialização em Literatura Brasileira e História Nacional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná(UTFPR), Curitiba, 2019.