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Fundamental. Na primeira fase, 38 unidades voltaram a Deneiuza, a mãe de Danilo, acreditava que a pandemia
funcionar. A escola de Isaac, porém, ainda não tem fosse durar, no máximo, dois meses. Assim que
previsão de abertura. Assim como ele ―que segue as medidas restritivas foram implantadas para conter a
com aulas remotas e precisa intercalar o uso da única disseminação do coronavírus, ela se preocupou com a
televisão com o irmão para acessar os conteúdos― rotina de estudos dos seus três filhos, com idades entre
outras crianças precisam driblar a falta de acesso à 7 e 15 anos. Não queria que eles ficassem “à toa” e, por
internet. Mesmo sem experiência pedagógica, as mães conta disso, estabeleceu que cada um estudaria três
se dividem entre o trabalho doméstico e o apoio aos horas por dia, sob sua orientação. A técnica de logística
filhos enquanto temem impactos tanto na não atua na área há quase duas décadas, então se
aprendizagem quanto no desenvolvimento cognitivo dedica a cuidar de afazeres domésticos e dos filhos.
das crianças. Para Cristiane Moris, professora do curso de Pedagogia
do Instituto Singularidades, a rotina para o processo de
Em Jardim Gramacho, bairro do município de Duque de aprendizagem é fundamental, independentemente da
Caxias, na Baixada Fluminense, Rafael, de 8 anos, modalidade do ensino. “Na medida em que eu não
perguntava à mãe Tamiris Moura, de 28 anos, quando tenho a rotina do horário da aula, em que eu vou à
as aulas iam retornar, afinal já estava na segunda escola e depois de um período eu volto para casa, isso
semana de fevereiro, data de início estipulada pela delimita um espaço no meu dia. Sem isso o dia vira uma
Secretaria da Educação fluminense como início do coisa só”, explica. “Tudo vira um limbo, as dimensões de
semestre letivo deste ano. Tamiris não recebeu qualquer dias da semana, finais de semana ficam muito mais
informação sobre a retomada das aulas. Ela afirma ter fluidos quando os adultos não estabelecem rotinas para
ido à escola tentar saber algum detalhe, mas encontrou as crianças.”
apenas funcionários da limpeza, que a aconselharam a Estudante do primeiro ano do Ensino Fundamental,
voltar outro dia. Até o final de fevereiro, Tamiris não Danilo tinha a expectativa de se desenvolver na escrita
tinha recebido informações sobre a volta às aulas de e leitura, mas termina a série sabendo escrever apenas
Rafael, que nutre uma expectativa grande para o seu nome e dos membros da família. Também não
restabelecer sua rotina de estudos, depois de um 2020 sabe os números, o que o deixa irritado ao ser
sem vínculo escolar algum por problemas de conexão à perguntado a que horas acorda. “Não sei”, responde
internet e comunicação com a unidade escolar. rispidamente.
Já em Itaguaí, município também da Baixada De acordo com a Base Nacional Comum Curricular
Fluminense, Danilo Moura acordava para reiniciar as (BNCC), a alfabetização deve ocorrer entre o primeiro e
duas semanas finais do semestre letivo de 2020. O o segundo ano do Ensino Fundamental. Mas pode
menino de 7 anos mora na favela do Carvão, a 15 acontecer antes, caso haja incentivos. Moris explica que
minutos do centro da cidade. Com um semblante de não é uma meta da Educação Infantil alfabetizar, mas
sono, fez o que tem sido sua rotina desde o começo da que pode ser uma consequência desse processo se
pandemia: acordar, alimentar-se, assistir um pouco de houver estímulos à escrita e leitura, como atividades
desenho animado e, impreterivelmente, estudar com diárias de leitura em conjunto, produção de cartazes e
auxílio da sua mãe de 9h às 12h. Senta-se em uma mesa listas. De todo modo, a professora ressalta que os
espaçosa localizada na cozinha da casa, onde há lápis responsáveis devem introduzir práticas como essas no
de cor e cadernos de séries anteriores. Semanalmente, cotidiano das crianças, independentemente da
sua mãe Deneiuza Moura, de 41 anos, busca as lições na modalidade de ensino que elas dispõem, além do
escola, já que o acesso à internet é praticamente nulo acesso constante aos bens da cultura, como teatro,
na residência, o que dificulta a entrada na plataforma museus, bibliotecas.
disponibilizada pela prefeitura. É o que aconteceu com Isaac que, mesmo não tendo
Três pontos em comum ligam essas crianças: são conseguido acompanhar as aulas remotas no ano
estudantes da rede pública de ensino de diferentes passado por causa da falta de conectividade à internet,
municípios do Rio de Janeiro, estão em fase de é bem desenvolvido na leitura e na escrita. Na pré-
alfabetização e moram em áreas periféricas da cidade. escola, teve contato com saberes diversos e rememora
As aulas presenciais das redes municipais foram com entusiasmo um passeio à Fundação Planetário da
suspensas ainda no começo da pandemia do Cidade do Rio de Janeiro, instituição que tem como
coronavírus, em março de 2020, em todas as propósito disseminar a astronomia e as ciências. “Nunca
localidades. Desde então, as famílias lidam com o tinha visto tantos planetas assim, de pertinho. É muito
desafio do ensino remoto, estabelecendo rotinas de legal ver as estrelas, tocar no telescópio”, conta.
estudo quando é possível, em meio às incertezas sobre Rafael vivenciou o oposto. O menino
o futuro e receios quanto ao recrudescimento do enfrentou dificuldades de aprendizagem no primeiro
avanço do vírus no país. O EL PAÍS acompanhou o ano do Ensino Fundamental, não conseguiu
primeiro mês da conturbada volta às aulas delas, acompanhar as aulas remotas em 2020 e passou o ano
observando seus cotidianos, principais desafios e inteiro sem qualquer material didático ou lições
preocupações. escolares. “Ficou parado o tempo todo”, afirma a mãe,
A falta da escola Tamiris Moura, que demonstra preocupação com as
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possíveis consequências da lacuna que se abriu, já Ela teme que o filho regrida nas expressões de modo
antevendo prejuízos na formação escolar por conta do geral, ainda que Rafael seja extrovertido. Ele tem
“ano que parece não ter existido”. “Para que eles predileção por brincadeiras que eram realizadas na
tenham um bom futuro precisam de um bom estudo. E quadra do colégio em que estuda, onde podia
como vai ser depois de um ano desse?”, questiona. relacionar-se com crianças de várias idades e séries.
Na avaliação de Gabriel Corrêa, líder de políticas Cristiane Moris diz que o que está em jogo é o processo
educacionais da ONG Todos pela Educação, é de socialização e de construção da identidade, que
imprescindível que, feito o acolhimento inicial na decorre do contato com o diferente, com aquilo que
reabertura das escolas, sejam realizados diagnósticos identifica-se ou rejeita-se. Segundo ela, esses embates
sobre as condições individuais de cada aluno em relação e acordos são fundamentais para o desenvolvimento
ao nível de alfabetização, medindo habilidades de das crianças enquanto sujeito. “A construção da
escrita, leitura e conteúdos básicos de matemática em identidade também passa pela convivência com o
que se encontram. Logo após essa investigação, a diferente, contato com a diversidade, o que amplia as
recomendação é atenção continuada. “Se o poder referências, o vocabulário. Em uma criança que não teve
público e as escolas públicas conseguirem oferecer contato nem com o remoto, o efeito é ainda mais
programas de reforço e recuperação da aprendizagem nefasto”, observa.
que foi perdida, é possível recuperar esse tempo Desafios para além do aprendizado
perdido, mas que não vai ser feito em poucos meses, e Os impactos, no entanto, não se restringem à
isso talvez não seja feito em 2021.” aprendizagem. Corrêa destaca que a escola também
Pandemia amplia desigualdades atua no desenvolvimento cognitivo, emocional, social e
Outro ponto ressaltado por Corrêa refere-se ao número físico das crianças, além de ser um instrumento de
alarmante de crianças que concluem o terceiro ano do proteção contra riscos como a desnutrição, a violência,
Ensino Fundamental sem estarem plenamente o trabalho infantil, dentre outras violências às quais
alfabetizadas: mais da metade dos brasileiros. Segundo crianças e adolescentes ficam mais suscetíveis quando
ele, essa é uma realidade crítica do país, que traz não estão na escola.
consequências preocupantes. “Crianças não Em comum, as três mães ressaltam que, mesmo fazendo
alfabetizadas na idade certa têm muita dificuldade de os esforços possíveis para que as crianças não deixem
aprender o que devem na trajetória escolar. Também lá de estudar, auxiliando-as na execução das atividades,
na frente, quando forem mais velhas, têm uma maior ainda não é uma orientação como a que um professor
tendência à evasão, a não concluírem a educação faria. “Na escola, eles têm a infraestrutura necessária, o
básica, porque a escola para de fazer sentido.” convívio com os colegas e o professor, que é
Para Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef Brasil, a especializado. Sala de aula é sala de aula”, afirma Tamiris
recomendação é que a escola deve estar aberta e tem Moura. O incômodo também é expressado pelos
que ser a última a fechar e a primeira a reabrir em meninos, que sentem dificuldade de compreender as
contextos de retomadas econômicas e em meio à nova mães nessa dupla função. “Mamãe é legal, mas sinto
onda do coronavírus. O educador pontua que a escola falta da minha professora”, confessa Danilo.
precisa ser vista como prioridade e alerta que é Na observação de Cristiane Moris, a função dos pais
necessário trabalhar para reduzir as desigualdades: é acompanhar os estudos, mas que o estado de
“Vamos ter um fosso entre grupos, que se ampliou emergência global flexibiliza essa relação. “Em termos
durante a pandemia, podendo ter consequências de absolutos, a minha posição é de que a família não está
médio e longo prazo. Precisamos trabalhar para fazer ali para ensinar nem fazer a lição de casa. Se os pais não
escolhas adequadas, entendendo o que é fundamental forem pedagogos, eles não sabem alfabetizar”, diz,
para o aprendizado de crianças e adolescentes.” explicando que, ainda assim, é louvável que as famílias
Dutra adiciona que a perda de vínculo que muitos tentem fazer alguma coisa diante da situação gerada
alunos tiveram com a escola é também alarmante. De pela pandemia, e adiciona: “Eu diria que bom que há o
acordo com uma pesquisa do Unicef com dados da estranhamento por parte da criança, significa que ela
Pnad Covid de outubro de 2020, realizada pelo IBGE, tem clareza dos papéis.”
3,8% das crianças e dos adolescentes de 6 a 17 anos Medo de covid-19
(1,38 milhão) não frequentavam mais a escola no Brasil, Marcela teme como será se algum aluno da classe de
seja na modalidade remota ou presencial. O dado Isaac se infectar pelo vírus. “As aulas serão
supera a média nacional de 2019, que ficou em 2%. interrompidas? Eles ficarão de quarentena?”, questiona.
Além dessa estatística, 11,2% dos estudantes que diziam Ela revela medo com o retorno das aulas presenciais,
estar frequentando a escola não haviam recebido visto que os professores e os alunos não
nenhuma atividade escolar, e não estavam em férias foram vacinados contra a covid-19. Na visão de Corrêa,
(4,12 milhões). A entidade estima que 5,5 milhões de da ONG Todos pela Educação, os professores precisam
crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação receber prioridade na vacinação, dado os impactos da
em 2020. educação básica para o país. “Isso não significa
Uma questão que se destaca para Tamiris é a pouca condicionar o retorno presencial à vacinação, mas fazer
interação social que há quando não se está na escola. esses esforços dos dois lados”, defende.
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As mães das três crianças relatam que, por vezes, é difícil Portanto, escreva uma CARTA ABERTA, a seus contatos
administrar tantas demandas, porque precisam auxiliar nas redes, a fim de desabar sobre a falta que faz o
todos os filhos nos trabalhos escolares, fazer tarefas convívio social que o ambiente escolar proporciona,
domésticas e lidar com sentimentos aflitivos, como as bem como comentar o porquê você não conseguiu se
incertezas do rumo da pandemia que já matou mais de adaptar 100% ao ensino remoto. Lembre-se de
290.000 brasileiros, ou até mesmo o que será preciso mencionar qual é a sua maior dificuldade nessa
retirar da já instável lista de mantimentos. Nos três modalidade de ensino. Assine como Estudante e
lugares onde as crianças moram houve entregas de escreva entre 15 e 22 linhas.
cestas básicas ou cartão alimentação pelos órgãos PROPOSTA – CARTA DO LEITOR
municipais, mas não foi de modo contínuo como Contexto e comando de produção: imagine que você
prometido. O auxílio emergencial também teve papel é leitor assíduo do El País Brasil e, nessa semana, em seu
fundamental em casos de perda total de renda, como momento de leitura, deparou-se com a reportagem
aconteceu com Tamiris. Assim como ela, o seu esposo sobre a alfabetização das crianças no contexto da
está desempregado. pandemia. Assim, como pai e cidadão consciente,
A assistência permitiu pagar as contas e fazer uma obra decidiu manifestar-se sobre o tema. Escreva, portanto,
no quintal, que foi nivelado de modo a deter a entrada uma CARTA DO LEITOR, ao editor do El País Brasil,
de água da chuva na casa, o que trazia desespero e senhor Carlos Daniel, contando o que mais lhe
prejuízos com frequência. “Menos um problema”, surpreendeu na matéria, expondo sua opinião sobre o
desabafa. Ela esperava que o Governo Jair tema e agradecendo pela publicação. Assine apenas
Bolsonaro estendesse o benefício neste ano e, se como Leitor e escreva entre 15 e 22 linhas.
possível, aos 600 reais mensais. “Duzentos e cinquenta
reais ajuda, mas não dá para comprar muita coisa no PROPOSTA – ARTIGO DE OPINIÃO
mercado”, explica a mãe de três filhos ao se referir ao Contexto e comando de produção: imagine-se no
valor aprovado no Congresso para o auxílio. papel de um (a) remado (a) pedagogo (a) que foi
Não raro, elas confessam que a falta de paciência as faz convidado (a) a escrever um artigo para a Folha de S.
subir o tom de voz, dar respostas ríspidas e, no lugar do Paulo sobre a os desafios para a alfabetização das
olhar terno, a aspereza das palavras que reposicionam crianças no contexto da pandemia da COVID-19.
as crianças de imediato. “Você fala A, mas a criança Escreva, portanto, um ARTIGO DE OPINIÃO,
entende B. Eu fico esgotada”, conta Marcela, mãe de comentando sobre os desafios da alfabetização durante
Isaac. “Ela fica um pouco brava de vez em quando”, o isolamento social. Como mensagem final, sugira uma
Danilo conta rindo, mas deixando expresso o prazer de atividade que possa aliviar o estresse de responsáveis e
estudar com a mãe, Deneiuza: “É bom ficar mais tempo alunos nesse período. Assine como Pedagogo (a) e
com minha mãe, ela explica direitinho”, diz. escreva entre 15 e 22 linhas.
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