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OS DONS ESPIRITUAIS:
DEBATE ENTRE O CONTINUACISMO E O CESSACIONISMO
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THALES DE PAULA RODRIGUES
OS DONS ESPIRITUAIS:
DEBATE ENTRE O CONTINUACISMO E O CESSACIONISMO
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RESUMO
ABSTRACT
The present work will deal with the controversy between those who believe in
the continuity of spiritual gifts (continuationist) and those who believe in the cessation
of gifts (cessationist). For that, it will be analyzed what are spiritual gifts and their
conceptualization, systematizing the theme. To study such a complex subject, it is
necessary to verify what the church reformers thought at their time, regarding the
gifts of the Holy Spirit. Once the conceptualizations are over, the debate will continue
between the continuationists and cessationists and their various arguments and
theses. Hence the methodology adopted based on bibliographic research, which is
theoretical and qualitative, but pragmatic. We highlight here the use of works by
renowned authors that deal with the subject in question, namely: Arminius, Calvin,
Schreiner, Carson, Storms, Verbrugge, Reid, Grudem, among others. It is concluded
that moderation in this matter can be the best solution, without going down a path,
automatically excluding the other side of the story. Indeed, spiritual gifts remain a
controversial topic and whose studies should always be encouraged.
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SUMÁRIO
Resumo ...................................................................................................................... 2
Abstract ...................................................................................................................... 2
1 Introdução ............................................................................................................... 4
2 Conceituação de dons espirituais ........................................................................... 5
3 A questão dos dons espirituais para os reformadores da igreja ............................. 5
4 O debate entre o continuacismo e o cessacionismo nos dons de profecia, línguas e
cura ............................................................................................................................ 8
5 Conclusão ............................................................................................................. 13
6 Referências ........................................................................................................... 14
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1 INTRODUÇÃO
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2 CONCEITUAÇÃO DE DONS ESPIRITUAIS
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mesmo entre os contrarreformadores católicos, dentre os quais Roberto Belarmino,
a concepção sobre a graça estava cristalizada. Belarmino apud Pelikan (2016,
p.450) afirma que graça é “aquilo que não é devido nem garantido como uma
compensação ou recompensa, mas é doada gratuita e livremente”. Outro expoente
católico, Cornélio Jansênio, corrobora a opinião de Belarmino, fundamentando-a
com o evangelho de João 15.5, no qual se lê, “sem mim vocês não podem fazer
coisa alguma” e que a graça era necessária para toda boa obra (PELIKAN, 2016,
p.450).
É inquestionável a contribuição de Martinho Lutero para que a igreja sofresse
uma reforma e voltasse à sua função precípua: glorificar a Deus. Inúmeros foram os
benefícios das traduções bíblicas nas línguas nacionais, permitindo aos leigos, que
pudessem acessar o rico conteúdo da Palavra de Deus. Também é verdade que em
termos de sistematização teológica, Armínio e Calvino, representam as duas
principais vertentes do protestantismo moderno, emprestando seus nomes às
construções teológicas firmes, que permanecem até os dias hodiernos.
Passemos, então, à forma como Armínio concebia o assunto dos dons
espirituais. Ao descrever a perfeição das Escrituras, diz ele (2015, p.23):
Uma vez que iniciemos a defesa dessa perfeição contra inspirações, visões,
sonhos e outras coisas novas e entusiásticas, afirmamos que, desde a
época em que Cristo e seus apóstolos peregrinaram pela terra, nenhuma
inspiração de qualquer coisa necessária para a salvação de qualquer
indivíduo ou da Igreja foi feita a nenhuma pessoa ou congregação de
pessoas, coisa essa que não esteja, de uma maneira plena e extremamente
perfeita, contida nas Sagradas Escrituras.
Acresce que o Senhor constituiu em sua igreja tal diversidade de graças que
há nela sempre qualidades particularmente excelentes em seus dons para a
sua edificação. Porque ele lhe deu apóstolos, profetas, mestres ou doutores
e pastores, os quais, todos eles, em diferentes ofícios, mas com a mesma
coragem, fossem empregados para a edificação da igreja, até que todos
estejamos ligados na unidade da fé, como também do conhecimento do
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Filho de Deus, com perfeição e na medida completa do seu cumprimento
em Cristo.
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devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na
Escritura.
Percebe-se uma preocupação nos tempos da Reforma com uma supervalorização
dos dons espirituais, de modo semelhante ao que se observava na igreja de Corinto,
o que Paulo realça em sua primeira epístola àquela congregação. Pode-se então
concluir que, ao afirmarem de forma tão veemente e enfática a suficiência das
Escrituras, o que se quis, sobretudo, foi precaver-se de uma profusão de novas
revelações, as quais pudessem equivaler-se autoritativamente aos escritos bíblicos.
Com isso, Schreiner nota haver “outra visão que tem sido popular na história
da igreja é que profecia é pregação [...] vários estudiosos têm uma visão similar hoje
em dia” (2019, p.90). Concordando com essa assertiva, Fee (2019, p.752-753) aduz
que:
O profeta era uma pessoa que falava ao povo de Deus sob a inspiração do
Espírito. A ‘fala inspirada’ vinha por revelação e anunciava juízo
(geralmente) ou salvação. Embora com frequência os profetas realizassem
atos simbólicos, que então interpretavam, a corrente predominante de
atividade profética, pelo menos a que veio a ser canonizada, não tinha
quase relação alguma com ‘êxtase’, em especial ‘frenesi’ ou ‘mania’. Em
geral, os profetas eram compreendidos muitíssimo bem! [...] Com o
derramamento do Espírito no ‘final dos tempos’, os primeiros cristãos
entenderam que a palavra profética de Joel (2.28-30) havia se cumprido, de
maneira que a ‘profecia’ não apenas se tornou um fenômeno renovado, mas
também estava potencialmente disponível a todos, pois agora todos tinham
plenamente o Espírito (cf. At 2.17,18) [...] Indicam que consistia em
mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito e inteligíveis, entregues
de forma oral na assembleia reunida, destinadas à edificação ou ao
encorajamento das pessoas.
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Grudem reitera que não se deve definir profecia como “previsão do futuro”
mas como “dizer algo que Deus traz de modo espontâneo à mente”; conclui ainda
que “as profecias na igreja hoje devem ser consideradas palavras meramente
humanas, não palavras de Deus [...] a profecia é imperfeita e impura, contendo
elementos a que não se deve obedecer ou em que não se deve crer” (1999,
p.892,897). Storms (2016, p.104) vai além, quando diz que “qualquer crente poderia
profetizar, mas isso não significa que todo crente deve esperar atuar como um
profeta na igreja constantemente”. Contrapondo-se ao entendimento majoritário de
que profecia e pregação são similares, Carson (2013, p.94) argumenta:
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Passemos ao segundo tópico, o dom de línguas. Grudem (1999, p.910) define
“falar em línguas é oração ou louvor expresso em sílabas não compreendidas pelo
locutor”. Sobre o falar em línguas, “deve-se dizer para começar que a palavra
glossã, traduzida por ‘língua’, é empregada não só para designar a língua física que
fica dentro da boca, mas também para designar a ‘linguagem’” (GRUDEM, 1999,
p.909). Esta distinção é importante, uma vez que o texto de Atos de Apóstolos 2.6
atesta que “cada um os ouvia falar na sua própria língua” (grifo meu), o que entende-
se como um idioma. Sendo assim, para Grudem (1999, p.911) “parece, portanto,
que às vezes o falar em línguas pode implicar discurso em línguas humanas reais,
às vezes até mesmo em línguas compreensíveis para alguns que ouvem”. O autor
ainda admite que haja línguas que ninguém compreende ou para as quais não haja
interpretação, valendo-se do texto de 1 Coríntios 14.2 (GRUDEM, 1999, p.911).
Ainda na perspectiva continuacionista, Storms (2019, p.146) observa os
contrastes usados pelo apóstolo Paulo na primeira epístola aos coríntios:
Por sua vez, Carson (2013, p.81) propõe que a questão central do fenômeno
de falar em línguas em 1 Coríntios deve ser debatida: trata-se de “xenoglossia (ou
seja, falar em um idioma humano sem aprendizado prévio) ou glossolalia (ou seja,
falar em padrões vocálicos que não podem ser identificados em nenhum idioma
humano)?”. Para o autor “o que Lucas descreve em Pentecostes são idiomas
existentes, conhecidos e humanos” (CARSON, 2013, p.82). Ainda para Carson
(2013, p.85), “certamente as línguas em Atos exerceram algumas funções diferentes
das que eram exercidas em 1 Coríntios; mas não há evidência substancial que
sugira que Paulo pensasse as duas como essencialmente diferentes”. Para o
cessacionista moderado Schreiner (2019, p.115) “o dom de línguas é o dom de falar
em línguas humanas”. Schreiner (2019, p.121) bem aduz:
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de línguas, já que as pessoas não estão falando em idiomas discerníveis. O
‘dom’ contemporâneo não corresponde ao que está na Bíblia. Com isso não
concluímos que o falar em línguas seja ruim ou demoníaco.
Schreiner (2019, p. 147) conclui que, “talvez o dom de línguas ainda exista
hoje, mas tenho minhas dúvidas, já que o mais praticado hoje são as expressões
extáticas, e o dom, como eu o entendo, é o falar em línguas humanas”. Para o autor,
parece que os cristãos não estão recebendo este dom hoje em dia e se estiverem,
parece ser extremamente raro (SCHREINER, 2019, p.147).
Por fim, apresenta-se o(s) dom(ns) de curar. Grudem (1999, p.905) discorre
que o propósito do dom de cura é servir de sinal para autenticação da mensagem do
evangelho. Ainda segundo Grudem (1999, p.908), “os que possuem ‘dons de cura’
(tradução literal dos plurais em 1Co 12.9,28) são os que percebem que suas
orações por cura são atendidas de maneira mais frequente e completa que as dos
outros”. O autor ainda complementa que a igreja deve incentivar os que possuem
evidências deste dom, “dando-lhes mais oportunidade de orar pelos doentes”
(GRUDEM, 1999, p.908).
Storms (2019, p.59) acrescenta que “existe uma ligação estreita entre dons de
curar – assim como o dom de milagres – e o dom da fé, que os precede
imediatamente na lista de carismas de Paulo”. Para Storms (2019, p.59) “o papel da
fé na cura é crucial e se manifesta de várias maneiras”. Carson (2013, p.41-42)
expõe sobre o uso do plural dons de curar:
Isso sugere fortemente que havia diferentes dons de curar: nem todos
estavam sendo curados por uma pessoa, e talvez algumas pessoas com um
desses dons de curar poderiam, pela graça do Senhor, curar algumas
doenças específicas ou uma variedade de doenças, mas somente em
determinados momentos. Talvez, portanto, uma das coisas que nossa
geração precisa evitar é a institucionalização dos dons. Se algum cristão
recebeu o χαρισμα (charisma) para curar pessoa em particular de uma
doença específica em dado momento, esse cristão não deve presumir que o
dom de curar lhe foi concedido, iniciando assim um ‘ministério de cura’.
O que devemos pensar dos dons de curas e milagres? Uma vez mais, o
problema não é tão significativo, já que não afirmam uma nova revelação. A
minha tendência é achar que esses dons não existem hoje. Se uma pessoa
tem o dom de curar, parece que haveria um padrão de cura. E as curas
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deveriam acontecer no mesmo nível do que vemos no Novo Testamento:
curar o cego, o paralítico, o surdo, o que está à beira da morte.
Reivindicações de cura são muitas vezes bem subjetivas: resfriados, gripe,
dores de estômago e nas costas, lesões esportivas etc. Não estou negando
que Deus não possa curar nessas ocasiões, e somos gratos a ele por isso!
A questão é que, na maioria das vezes, é difícil verificar se o que aconteceu
foi realmente um milagre. Para mim não está claro se algumas pessoas têm
um dom de curas ou milagre.
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5 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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