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Escola de Engenharia

PPGEM – Análise Instrumental

Prof. Sandro Gasparetto Borges


2019
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OBJETIVOS DA AULA:

1. Apresentar o princípio de funcionamento da técnica de caracterização de


polímeros conhecida como cromatografia de permeação em gel (GPC);

2. Descrever e avaliar o processo de preparação das amostras e as


condições de operação do equipamento;

3. Entender e interpretar os resultados obtidos;

4. Correlacionar as respostas encontradas com as propriedades dos


materiais poliméricos;

5. Identificar as partes principais de um cromatógrafo de permeação em


gel;

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CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:

1. Qual o objetivo da técnica de cromatografia de permeação em gel?

2. Qual o princípio de funcionamento?

3. Que tipos de materiais podem ser analisados por esta técnica?

4. Que tipo de resposta é obtida e como ela é apresentada?

5. Como interpretar os resultados?

6. Quais as aplicações desta técnica?

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ORIGEM

•A palavra CROMATOGRAFIA tem origem na lingua grega e significa:


χρώμα:chroma, cor e γραφειν:"grafein", grafia;

• Desde os primórdios dos tempos, os alquimistas observaram que era possível


identificar e separar diferentes substâncias em função de sua cor;

• Com o passar dos anos, não só os alquimistas mas muitos químicos e bioquímicos
verificaram que os compostos oriundos de reações químicas também poderiam ser
identificados e separados em função de sua cor utilizando diferentes técnicas;

• Assim a CROMATOGRAFIA passou a ser conhecida como um conjunto de


processos de separação de misturas que visa a identificação de diferentes
substâncias ou compostos.

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HISTÓRICO

1903 - Mikhail S. Tswett (botânico): separou pigmentos de plantas e deu


origem a cromatografia atual;

1930 - Richard Kuhn e Edgar Lederer (bioquímicos): separação de


compostos naturais utilizando cromatografia em coluna;

1938 – Ismialov e Shraiber desenvolveram a cromatografia em papel;

1941-1952 – Archer Martin e Richard Synge ganham o prêmio nobel pela


invenção da cromatografia por partição e em fase gasosa;

1958 – Egon Stahl desenvolve a cromatografia em camada delgada;

1960 – Moore utiliza os conceitos de cromatografia a materiais


poliméricos;
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CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS

Figura 1. Tipos de técnicas cromatográficas.

Cromatografia em camada delgada (CCD); Cromatografia líquida clássica (CLC)


Cromatografia em papel (CP) Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
Cromatografia gasosa (CG) Cromatografia supercrítica (CSC)
Cromatografia gasosa de alta resolução (CGAR) 6
CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS
Se a classificação for realizada em função do mecanismo de separação:

Figura 2. Mecanismos de sepração das técnicas cromatográficas.

Cromatografia de Exclusão por Tamanho (SEC): presença de uma fase estacionária


(gel poroso) e uma fase móvel líquida (solvente). A separação ocorre em função da
diferença de tamanho entre os poros do gel e as macromoléculas;
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CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS

Figura 3. Tipos de cromatografia por exclusão de temanho.

DEFINIÇÃO (GPC, SEC): Método físico-químico de separação em colunas que permite


determinar a distribuição de massa molecular de macromoléculas em solução
através do seu fracionamento quando submetidas a um sistema de separação
próprio. 8
CROMATOGRAFIA DE PERMEAÇÃO EM GEL (GPC)

Vantagens:
• Tempo de análise relativamente curto (de 20 a 50 minutos);
• Eficiência nos resultados (poder de resolução);
• Possibilidade de manuseio de pequenas quantidades de amostra (até 2mL);
• Facilidade de obtenção e interpretação dos resultados;

Aplicações:
• Determinação de massa molecular relativa polímeros;
• Determinação da polidispersão (relação Mn/Mw);
• Controle de qualidade (ex. Tintas);
• Previsão de propriedades mecânicas, físicas e químicas;
MATERIAIS POLIMÉRICOS – Conceitos Gerais

Polímeros são macromoléculas (moléculas grandes) constituídas por um grande


número de pequenas moléculas (meros) que se repetem na sua estrutura formando
longas cadeias poliméricas de tamanhos variados;

POLI = vários, muitos

MEROS = unidade básica de repetição composta basicamente de C (carbono), H


(hidrogênio) e alguns heteroátomos;

Figura 4. Exemplo de uma unidade de repetição a base de carbono e hidrogênio.


MATERIAIS POLIMÉRICOS – Unidades de Repetição

Figura 5. Exemplos de unidades de repetição .

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MATERIAIS POLIMÉRICOS – Comportamento em solução

•Devido ao tipo de síntese empregada, os polímeros apresentam diferentes


tamanhos de cadeia e é por esta razão que podem ser fracionados e separados.

•Quando em solução, estes materiais se comportam de uma forma bem definida,


ou seja, existe uma tendência do polímero inchar devido a interação que ocorre
entre ele e o solvente. Três regimes de concentração são possíveis de acordo com
De Gennes: (1) concentrado, (2) semi-diluído e (3) diluído.

• Cada regime de concentração apresenta uma viscosidade específica que será


determinante para fracionar as macromoléculas do polímero. Assim, o controle da
viscosidade durante a preparação da amostra que será fracionada é essencial para
evitar o entupimento das colunas cromatográficas e a extrapolação do sinal no
equipamento.

QUAL O REGIME DE CONCENTRAÇÃO IDEAL?


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MATERIAIS POLIMÉRICOS – Comportamento em solução

(a) (b) (c)

Figura 6. Representação dos regimes de concentração conforme descritos por de Gennes.1 (a)
Regime diluído abaixo da concentração crítica. (b) Regime semi-diluído. A interação molecular
fraca entre as cadeias poliméricas. (c) Regime concentrado. As macromoléculas atingem uma
conformação irregular devido a forte interação molecular.

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1. Preparação das amostras (concentração, solvente específico para HPLC);

2. Injeção da amostra na injetora (liberação do sistema de injeção, amostra e


solvente percorrem o sistema ao mesmo tempo);

3. Fracionamento do polímero em colunas cromatográficas (tempo, volume


eluído);

4. Detecção das frações poliméricas de saída (coleta e detecção das frações);

5. Análise estatística dos dados (software do equipamento);

6. Determinação da distribuição da massa molecular relativa e a polidispersão do


polímero (apresentação dos resultados);

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A. PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS

• A preparação das amostras está relacionada com o tipo de coluna, o tipo de


solvente e a faixa de peso molecular que se deseja observar. OBS: A solução deve ter
o mesmo solvente que a coluna cromatográfica;

Syragel com poros Tamanho de partícula Faixa de separação


de diâmetro (A) (μm) de peso molecular
60 37-75 0-5x102
100 37-75 102-7x102
200 37-75 2x102-4.3
500 37-75 5x102-2x104
10e3 37-75 103-2x104
3x103 37-75 3x103-6x104
104 37-75 104-2x105

• CUIDADOS: As soluções não devem ser muito viscosas e a amostra a ser analisada
(polímero ou combinação de polímeros) deve ser totalmente solúvel no solvente em
questão.
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B. PROCESSO DE SEPARAÇÃO

• A amostra contendo um ou mais polímeros dissolvidos em um solvente específico


depois de preparada é injetada na injetora do cromatógrafo por meio de uma seringa
de 5 ml;

• A amostra líquida (polímero e solvente) juntamente com o solvente (do sistema)


percorre uma série de cânulas de metal com a ajuda de uma bomba de pistão até
atingir as colunas cromatográficas (normalmente três);

• Cada coluna cromatográfica (selada) possui em seu interior um gel (fase


estacionária) com uma porosidade controlada, geralmente a base de poliestireno-
divinilbenzeno, combinada com um solvente específico (fase móvel);

• No interior destas colunas ocorre uma permeação seletiva das macromoléculas


poliméricas (cadeias poliméricas) separando-as em função do seu tamanho conforme
mostram as figuras a seguir:

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B. PROCESSO DE SEPARAÇÃO

Figura 7. Exemplos de colunas


cromatográficas (Waters – Styragel) Figura 8. Representação do fracionamento das
macromoléculas poliméricas em função do seu
tamanho no interior das colunas cromatográficas.

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B. PROCESSO DE SEPARAÇÃO

• O fracionamento das cadeias poliméricas ocorre por exclusão de tamanho, devido


ao volume hidrodinâmico que as macromoléculas ocupam quando em solução.

Volume hidrodinâmico ocupado


pelo polímero em solução.
Outro parâmetro que pode ser
levado em conta é o raio
hidrodinâmico.

•A detecção das diferentes cadeias poliméricas que saem das colunas é feita
utilizando-se um refratômetro diferencial que analisa a diferença do índice de refração
entre o solvente puro e a amostra (polímero + solvente). Outros detetores podem ser
utilizados.

• LIMITAÇÃO: A condição necessária para a aplicação deste tipo de detector é que a


diferença entre o índice de refração do solvente puro e da amostra (polímero +
solvente) não seja inferior a 10-7.
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B. PROCESSO DE SEPARAÇÃO

Figura 9. Representação do fracionamento de um polímero por exclusão de tamanho em uma


coluna cromatográfica qualquer.

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C. CURVA DE CALIBRAÇÃO UNIVERSAL

• A massa molecular relativa da amostra (polímero) é obtida mediante a construção


prévia de uma curva de calibração utilizando padrões poliméricos específicos.

PRINCÍPIOS TEÓRICOS ENVOLVIDOS

• A relação entre volume eluído e o volume hidrodinâmico de um polímero qualquer é


proporcional ao produto da sua viscosidade intrínseca [η] e da massa molecular. Por
esta razão, se dois polímeros diferentes eluirem com o mesmo volume ou ao mesmo
tempo a relação matemática abaixo é válida:

log (MMA . [η]A) = log (MMB . [η]B)

•OBS: polímero A é um padrão conhecido (massa molecular absoluta conhecida,


polidispersão ≈ 1,0.

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C. CURVA DE CALIBRAÇÃO UNIVERSAL

•Para calibrar o equipamento, injetam-se padrões monodispersos (mínimo 10) em que


a [η] e a massa molecular seja conhecida (absoluta). Constrói-se então uma curva de
calibração relacionando o log [η].M em função do volume eluído ou do tempo de
retenção da amostra.

Figura 10. Curva de calibração (linha vermelha) construída a partir da injeção de vários
homopolímeros com diferentes volumes de eluição. OBS: A altura atingida pelos picos refere-se
a sua intensidade (concentração) e não ao valor da massa molecular dos polímeros em
questão. 21
D. RESULTADOS
• A partir das informações da curva de calibração é possível então determinar a massa
molecular relativa de qualquer material polimérico solúvel em um solvente mediante a
análise de um cromatograma (resultado físico da operação);

• O cromatograma é um relatório que mostra um gráfico contendo um ou mais picos de


intensidade (mV) diferentes (depende da concentração da amostra) em função do tempo de
retenção (min) e/ou volume de eluição (ml) do(s) polímero(s) no interior das colunas
cromatográficas. Apresenta também a distribuição de massa molecular e os valores de
massa molecular através dos parâmetros: Mw, Mn, MZ e Polidispersão.

Figura 11. Exemplo de um cromatograma contendo um polímero misturado com vários aditivos.
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CROMATOGRAMA

Figura 12. Exemplo de um cromatograma hipotético. 23


MASSA MOLAR RELATIVA - TIPOS

MASSA MOLAR NUMÉRICA MÉDIA (Mn):


É a massa total w de todas as moléculas em uma amostra de polímero dividida pelo
número total de moles presentes:
Mn 
w

N M i i

 Ni N i

MASSA MOLAR PONDERAL MÉDIA (Mw):


• É a soma das frações em peso de cada espécie vezes sua massa molecular:
N M
2


i i
Mw
N M i i

MASSA MOLAR VISCOSIMÉTRICA MÉDIA (Mv):


• Está relacionado com a MM através da viscosidade intrínseca []:
1
  N i M i 1  
Mv  
  N i M i 

POLIDISPERSÃO (MWD ou PD):


• Razão entre a massa molar numérica média e a massa molar ponderal média:

PD= Mn/Mw
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EFEITO DO AUMENTO DA MASSA MOLAR NAS PROPRIEDADES DOS
POLÍMEROS:

• A massa molar de um polímero é um parâmetro que afeta uma série de


propriedades, tais como a cristalinidade, a resistência a tração, o alongamento até
ruptura, a resistência ao impacto, entre outras. É de extrema importância analisar a
influência da massa molar com estas propriedades.

Tabela 1. Efeito da massa molar nas propriedades dos materiais poliméricos.

PROPRIEDADES VARIAÇÃO

Cristalinidade 
Resistência à tração 
Alongamento na ruptura 
Resistência ao impacto 
Fluidez 
Viscosidade 
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ALGUNS CUIDADOS

• O equipamento deve ser preparado e estabilizado de tal forma que as medidas


sejam coerentes. Geralmente, deixa-se o equipamento ligado por 24 horas em fluxo
continuo de 0,1 mL/min. Quando for realizar as medidas, este fluxo deve ser
aumentado para 1,0 mL/min e a temperatura da sala deve estar constante (em torno
de 25C).

• A linha de base também deve ser estabilizada, ou seja, , a relação sinal/ruído deve
ser tal que não ultrapasse a faixa de 1,0 mV por 45 min ou mais dependendo do
equipamento.

•Quando estas condições estiverem satisfatórias, injetam-se as amostras, uma de


cada vez, utilizando uma seringa de 5,0 mL no sépto da injetora.

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Figura 13. Cromatograma de uma amostra de poliestireno de 20K com sua distribuição de
massa molar.. 27
Figura 14. Representação básica de um cromatógrafo de permeação em gel (GPC).

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Cromatógrafo de permeação em gel (GPC) disponível no laboratório de
materiais poliméricos (LAPOL) da UFRGS.

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• O fracionamento das macromoléculas ocorre em função do volume hidrodinâmico
do polímero em solução.

• Macromoléculas com massa molecular alta são excluídas primeiramente.

• Macromoléculas com massa molecular baixa ficam retidas nos poros por mais
tempo e são as últimas a saírem da coluna cromatográfica.

• A análise das frações obtidas é realizada por meio de um refratômetro diferencial


que determina a diferença de índice de refração entre o solvente puro e o solvente
mais a amostra.

•O resultado final é um cromatograma que relaciona mV em função do tempo de


retenção. Os parâmetros cromatográficos são dados utilizando o software do
equipamento.

• A massa molecular obtida é relativa devido a uma curva de calibração realizada


previamente com padrões conhecidos.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Escola de Engenharia
Laboratório de Materiais Poliméricos (LAPOL)

Telefone: 3308-9413

http://www.ppgem.ufrgs.br/lapol

Email: sgbpoa@hotmail.com

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