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O BOI ZEBU E AS FORMIGAS Nós somos muitos miêro

(Patativa do Assaré) E este zebu é só um!

Um boi zebu certa vez Tanta formiga chegô


Moiadinho de suor, Que a terra ali ficou cheia
Querem saber o que ele fez? Formiga de toda cô
Temendo o calô do só Preta, amarela e vermêia
Entendeu de demorá No boi zebu se espaiando
E uns minuto cuchilá Cutucando e pinicando
Na sombra de um juazêro Aqui e ali tinha um móio
Que havia dentro da mata E ele com grande fadiga
E firmou as quatro pata Pruquê já tinha formiga
Em riba de um formiguêro. Até por dentro dos óio.

Já se sabe que a formiga Com o lombo todo ardendo


Cumpre a sua obrigação, Daquele grande aperreio
Uma com outra não briga O zebu saiu correndo
Veve em prefeita união Fungando e berrando feio
Suas fôia carregando E as formiga inocente
Paciente trabaiando Mostraro pra toda gente
Um grande inzempro revela Esta lição de morá
Naquele seu vai e vem Contra a farta de respeito
E não mexe com ninguém Cada qual tem seu direito
Se ninguém mexê com ela. Até nas leis naturá.

Por isso, com a chegada As formiga a defendê


Daquele grande animá Sua casa, o formiguêro,
Todas ficaro zangada, Botando o boi pra corrê
Começaro a se açanhá Da sombra do juazêro,
E fôro se reunindo Mostraro nessa lição
Nas pernas do boi subindo, Quanto pode a união;
Constantemente a subi, Neste meu poema novo
Mas tão devagá andava O boi zebu qué dizê
Que no começo não dava Que é os mandão do pudê,
Pra ele nada senti. E essas formiga é o povo.

Mas porém como a formiga Do livro Ispinho e Fulo. Disponível em:


Em todo canto se soca, http://culturanordestina.blogspot.com/2009/02/
Dos casco até a barriga o-boi-zebu-e-as-formigas.html. Acesso em 30 maio
Começou a frivioca 2019 (adaptado).
E no corpo se espaiando
O zebu foi se zangando DO BRASIL
E os cascos no chão batia (Vander Lee)
Ma porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava Falar do Brasil sem ouvir o sertão
Mais formiga aparecia. É como estar cego em pleno clarão
Olhar o Brasil e não ver o sertão
Com essa formigaria É como negar o queijo com a faca na mão
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia Esse gigante em movimento
Mais do que na luz do só Movido a tijolo e cimento
E ele, zangado, às patada Precisa de arroz com feijão
Mais força incorporava, Que tenha comida na mesa
O valentão não aguenta Que agradeça sempre a grandeza
O zebu não tava bem, De cada pedaço de pão
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta. Agradeça a Clemente
Que leva a semente
Com a feição de guerrêra Em seu embornal
Uma formiga animada Zezé e o penoso balé
Gritou para as companhêra: De pisar no cacau
-Vamo, minhas camarada Maria que amanhece o dia
Acabá com os capricho Lá no milharal
Deste ignorante bicho Joana que ama na cama do canavial
Com a nossa força comum João que carrega
Defendendo o formiguêro A esperança em seu caminhão
Pra capital

Lembrar do Brasil sem pensar no sertão


É como negar o alicerce de uma construção
Amar o Brasil sem louvar o sertão
É dar o tiro no escuro
Errar no futuro
Da nossa nação.

Esse gigante em movimento


Movido a tijolo e cimento
Precisa de arroz com feijão
Que tenha comida na mesa
Que agradeça sempre a grandeza
De cada pedaço de pão

Agradeça a Tião
Que conduz a boiada do pasto ao grotão
Quitéria que colhe miséria
Quando não chove no chão
Pereira que grita na feira
O valor do pregão

Zé coco, viola, rabeca, folia e canção


Zé coco, viola, rabeca, folia e canção

Amar o Brasil é fazer


Do Sertão a capital...

Disponível em:
https://www.letras.mus.br/vander-lee/546154/.
Acesso em 30 maio 2019.

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