Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PARA
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
FÁBULAS
FEDRO . ESPOPO . LA FONTAINE . LEONARDO DA VINCI . MONTEIRO LOBATO
A RAPOSA E AS UVAS
Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita
uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a rapo-
sa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conse-
guia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, di-
zendo:
— Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me
servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.
Fedro – Fábulas
de Luiz Feracine—Editora Escala
ESOPO
O LEÃO E O MOSQUITO
Um inseto se aproximou de um Leão, e sussurrando em seu ouvido, disse: "Não te-
nho nenhum medo do Senhor, nem acho que o Senhor seja mais forte que eu. Se o Senhor
duvida disso, eu o desafio para uma luta, e assim, veremos quem será o vencedor..."
E voando rapidamente sobre o Leão, deu-lhe uma ferroada no nariz. E sucedeu que,
enquanto o Leão tentava pegá-lo com as garras, apenas atingia a si mesmo, ficando as-
sim bastante ferido, e por fim, deu-se por vencido.
Quase sempre, Não é o maior dos nossos inimigos que é o mais perigoso.
Aesop’s Fables
Rev. Georg Fyler Towwnsend
ESOPO
A LEBRE E A TARTARUGA
A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em
que encontrou a tartaruga.
— Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a vencedora – desafi-
ou a tartaruga.
A lebre caiu na gargalhada.
— Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!
— Por acaso você está com medo de perder? — perguntou a tartaruga.
— É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma
corrida para você – respondeu a lebre.
No dia seguinte a raposa foi escolhida para ser a
juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada para a le-
bre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga
não se abalou e continuou na disputa. A lebre estava
tão certa da vitória que resolveu tirar uma soneca.
"Se aquela molenga passar na minha frente, é só
correr um pouco que eu a ultrapasso" – pensou.
A lebre dormiu tanto que não percebeu quando
a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante, pas-
sou. Quando acordou, continuou a correr com ares de
vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que
não descansara um só minuto, cruzou a linha de chega-
da em primeiro lugar.
Desse dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das
chacotas da floresta.
Quando dizia que era o animal mais veloz, todos
lembravam-na de uma certa tartaruga...
Fábulas de Esopo
Editora Scipione
Canção da Lebre I
Eu corro pra lá,
Eu corro pra cá,
Eu corro pra lá,
Eu corro pra cá,
Ninguém na floresta me pode deter
Pois igual a mim ninguém pode correr
Canção da Lebre II
Lá vem Dona Tartaruga,
Vem andando sossegada
Vou sair da frente dela
Pra não ser atropelada!
Canção da Tartaruga
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá,
Lá vou eu devagarinho
Vou levando minha casa
Pelas curvas do caminho
Canção da bicharada
Salve dona Tartaruga
Tartaruga destemida
Deixou a lebre para trás
E venceu a corrida
Dona Lebre só vivia
A correr o dia inteiro
Porém dona Tartaruga
Andando chegou primeiro
ESOPO
A RAPOSA E A CEGONHA
Um dia a raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na
outra, serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o me-
nor problema, mas a pobre cegonha, com seu bico comprido, mal pôde tomar uma gota. O
resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome.
A raposa fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto
da cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a gen-
tileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia seguinte.
Assim que chegou, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para
ver as delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de gargalo
estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa, amoladíssima, só
teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado de fora da jarra.
Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para casa, faminta, pensava:
“Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal, mas fui grosseira com ela primeiro.”
Fábulas de Esopo.
Tradução de Heloísa Jahn, São Paulo, Companhia das Letrinhas
LA FONTAINE
O VELHO E A MORTE
Um miserável velho se afligia
Com um feixe de lenha que trazia.
Jogou com ele ao chão, já de cansado,
E chamou pela Morte, agoniado.
"Fábulas de La Fontaine".
Tradução: Couto Guerreiro
Rio de Janeiro: Editora Brasil-América - EBAL - SA, 1985)
LA FONTAINE
"Fábulas de La Fontaine".
Tradução: Couto Guerreiro
Rio de Janeiro: Editora Brasil-América - EBAL - SA, 1985)
MONTEIRO LOBATO
A CIGARRA E A FORMIGA
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só
parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna
faina de abastecer as tulhas. Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os ani-
mais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas. A pobre cigarra, sem abrigo
em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu —
tique, tique, tique…
Aparece uma formiga, friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
— Que quer? — perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
— Venho em busca de um agasalho. O mau tempo não cessa e eu…
A formiga olhou-a de alto a baixo.
— E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um acesso de tosse:
— Eu cantava, bem sabe…
— Ah! … exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa ár-
vore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
— Isso mesmo, era eu…
— Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria
nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que feli-
cidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante
todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
Fábulas
Monteiro Lobato - São Paulo, Editora Brasiliense, 1966
LEONARDO DA VINCI
Fábulas e Lendas
Leonardo da Vinci
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.)
LEONARDO DA VINCI
A LÍNGUA E OS DENTES
Era uma vez um menino que tinha o mau hábito de falar mais que o necessário.
— Que língua! — suspiraram os dentes certo dia - nunca fica parada, nunca sossega!
— Por que é que vocês estão resmungando? — perguntou a língua em tom arrogante
— vocês, os dentes, são meros escravos, e seu trabalho resume-se em mastigar o que eu de-
cidir. Não temos nada em comum, e não permitirei que vocês se metam em meus negócios.
E então o menino continuou falando, algumas vezes de maneira imprópria, e sua lín-
gua sentia-se muito feliz, aprendendo novas palavras a cada dia.
Porém um dia o menino comportou-se mal e permitiu à sua língua contar uma grande
mentira. Os dentes obedeceram ao coração, fecharam-se e morderam a língua.
A partir desse dia a língua tornou-se tímida e prudente, e passou a pensar duas vezes
antes de falar.
) A NEVE
No cume de uma montanha muito alta havia uma pedra. E na borda da pedra havia
um floco de neve.
A neve olhou para o Universo em torno e pôs-se a pensar consigo mesma:
— As pessoas devem achar que sou convencida e presunçosa,
e é verdade! Como pode um pedacinho de neve, um mero floco de ne-
ve, como eu, permanecer aqui no alto sem sentir vergonha? Qualquer
pessoa que olhe para esta montanha pode ver que todo o resto da
neve está mais embaixo. Um pequenino floco de neve, como eu, não
tem direito a alturas tão vertiginosas, e chego a merecer que o Sol fa-
ça comigo o mesmo que fez ontem com meus companheiros, derre-
tendo-me com um simples olhar. Mas vou escapar á justa ira do Sol
descendo para um nível mais apropriado para alguém tão pequeno
como eu.
Ao dizer isto, o pequenino floco de neve, rígido de frio, atirou-se do alto da pedra e ro-
lou para baixo do cume da montanha. Porém quanto mais rolava maior se tornava. Em breve
transformou-se numa grande bola de neve e depois em avalanche. Finalmente parou numa
colina, e a avalanche era tão grande quanto a colina que ficava por baixo dela.
E por isso, quando chegou o verão, essa foi a última neve a ser derretida pelo Sol.
Fábulas e Lendas
Leonardo da Vinci
transcritas por Bruno Nardini. São Paulo: Círculo do Livro S.A.