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uipe t cnica Apoios locais e pedi o cient ica e s o icinas de

avalia o do material de apoio did tico


Paulo Robson de Souza (coordena o geral)
Synara Olendzki Broch (coordena o t cnica) Professores, Prefeituras e Secretarias Municipais de
Elisabeth Arndt (supervis o t cnica) Educa o e de Meio Ambiente de: Ant nio Jo o, Bela ista,
Yara Medeiros (coordena o de comunica o) Bonito, Caracol, Jardim, Ponta Por e Porto Murtinho /
Elidiene Priscila Seleme (bolsista CNPq, Marinha do Brasil - Porto Murtinho / R dios e Ongs locais
coordena o das oficinas)
Allison Ishy (coordena o da cartilha) Parcerias
Ana Claudia Delgado Bastos Braga (bolsista CNPq, pesquisa)
Cidema / Semac - MS / SED - MS / Ibama - MS /
Diego Correia da Silva (bolsista CNPq, pesquisa)
Rede Aguap / Embrapa / F-Brasil /
Paulo Moska (ilustrador)
Ecoa /Rede de Sementes do Pantanal /
Marcelo dos Santos (programa o do Cd-rom)
Autores dos cap tulos do livro P na gua
Lidimila Tadei, Lucas Pestana, Natasha Penatti,
Simone Alves da Cunha (bolsistas de extens o UFMS/2007)
Contatos com o projeto
arina R bulla Laitart e
Fl via Accetturi Szukala Araujo (volunt rias) Laborat rio de Pr tica de Ensino de Biologia
Estagi rios de Pr tica de Ensino de Biologia UFMS/2007 Departamento de Biologia /CCBS
(autores de artigos e slide-shows para o Cd-rom) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
s/n. Caixa Postal: 549
uipe da e pedi o ao Apa CEP: 79070 900 - Campo Grande/MS
E-mail: synarab@uol.com.br, santayara@gmail.com e
Paulo Robson de Souza (bi logo, fotografia)
paulorobson.souza@gmail.com
ali Joana Pott (bi loga, levantamento flor stico)
Telefone: (67) 3345 7329 (UFMS)
Yara Medeiros (jornalista)
Site: www.redeaguape.org.br/penaagua
Diego Correia da Silva (cientista social)
Ana Claudia Delgado Bastos Braga (engenheira ambiental) Apoio
arina R bulla Laitart (bi loga) Pr reitoria de E tens o
Cultura e Assuntos Estudantis
Luis Eduardo Lescano (bi logo)
Gabriel Delgado (assistente) Pr reitoria de Pes uisa
e P s radua o
um rio
Apresenta o 5
Colaboradores deste livro 9
Notas 9

PARTE 1
ua onte de vida 11 de va

ociedade consumo e usos da ua


Synara Olendzki Broch 13

esmatamento e as mudan as lobais


Elisabeth Arndt e Mara Pereira da Silva 27

PARTE II
uas trans ronteiri as da Bacia do Apa 33

m rio dois pa ses


Mauri Cesar Barbosa Pereira, Synara Olendzki Broch e Yara Medeiros 35
7
Biodiversidade nos meandros da Bacia do Apa
ali Joana Pott, Yara Medeiros, Angela cia Bagnatori Sartori,
Rodiney de Arruda Mauro e Paulo Robson de Souza 41

aneamento b sico nos munic pios da Bacia do Apa


Ana Claudia Delgado Bastos Braga e Diego Correia da Silva 53

a Cuenca el R o Apa Problem tica avances en su mar en i uierda


Cristian Escobar e Jorge Abbate 61

m ol ar da produ o rural na por o brasileira do rio Apa


D cio ueiroz Silva 65

arcas da ist ria s mar ens do Apa


Yara Medeiros 69
aneamento b sico
nos munic pios da Bacia do Apa
Ana Claudia Delgado Bastos Braga
Diego Correia da Silva

S anear significa tornar sadio ou habit vel. O saneamento o


controle de todos os fatores ambientais que influenciam o bem-
estar f sico, mental ou social das popula es urbanas e rurais.
53

Ana Claudia Delgado


Saneamento b sico um conjunto de medidas de preven o Bastos Braga engenheira
prolifera o de in meras doen as e degrada o do meio sanitarista e ambiental pela
Universidade Cat lica
ambiente, al m de reduzir os gastos com o tratamento de v timas Dom Bosco (UCDB) e
de doen as causadas pela ingest o de gua e alimentos conta- pesquisadora (bolsista
CNPq) do projeto
minados1. Para garantir a qualidade de vida2 da popula o, devem- P na gua.
se assegurar a exist ncia e a efici ncia de sistemas considerados
Diego Correia da Silva
b sicos para o saneamento. S o eles: cientista social pela
- o tratamento e o abastecimento de gua; Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul
- a coleta e o tratamento de esgoto; (UFMS), pesquisador
(bolsista CNPq) do projeto
- o sistema de drenagem de gua da chuva; P na gua e membro da
Rede Aguap de
- a coleta e disposi o final do lixo. Educa o Ambiental.
solo por meio da impermeabiliza o, escoamento do chorume e de
12
Ravinas s o eros es lineares provocadas pelas
enxurradas, muitas vezes associadas s estradas e ao gases.
trilho do gado. [N.O.]
Apesar de todas as cidades brasileiras da Bacia do Apa possu rem
Unidade de Processamento de Lixo (UPL), pequena usina de sele o dos
res duos aproveit veis para a reciclagem, somente os munic pios de Porto
Murtinho (ver foto p. 5 ) e Bonito as mant m em funcionamento. Na
cidade de Porto Murtinho, o material recicl vel segregado, e o restante
inaproveit vel do lixo disposto em vazadouro a c u aberto.
A horta que abastece as escolas da rede p blica no munic pio de
Ant nio Jo o situa-se pr xima ao destino final (vazadouro) dos res duos
do munic pio. importante lembrar que n o recomend vel a produ o
de alimentos em localidades pr ximas s reas de lix o pela vulnerabilidade
ao contato com vetores de in meras doen as, como tamb m pelo risco
de contamina o do solo e do len ol fre tico da regi o.
Nenhum dos munic pios brasileiros da Bacia do Apa atende s
especifica es estabelecidas em normas para aterros sanit rios. A disposi o
final do lixo no munic pio de Ant nio Jo o tamb m n o obedece dist ncia
m nima de cinco quil metros de conglomerados populacionais. No que
diz respeito declividade, o lix o do munic pio de Caracol localiza-se
60 junto a rea de encosta, favorecendo a contamina o do c rrego a jusante
com seu lixiviado.

Re er ncias

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AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL EM ESCOLAS DE ENSINO
FUNDAMENTAL DE CAMPO GRANDE, MS.
Diego Correia da Silva1
Angela Maria Zanon2

RESUMO:
A partir de 1960, a crise ambiental tem colocado para o mundo contemporâneo o enfrentamento dos riscos
produzidos tanto pelo acelerado desenvolvimento das forças produtivas como pela degradação do planeta.
Neste contexto, o Movimento Ambientalista surge para pressionar e provocar os Estados para o estabeleci-
mento de políticas voltadas para questão ambiental a fim de conter o avanço da degradação provocado pelo
modelo de sociedade vigente, e isso só aconteceria com o despertar ecológico promovido por uma educação
inovadora, capaz de refletir e criar um ser político, capaz de refletir e atuar de forma emancipada e sustentável.
Surge nesse momento a educação ambiental (EA). As escolas são espaços de referência dentro dos bairros
e comunidades existentes no Brasil. O Poder Público Federal e local percebendo isso inicia a implantação de
programas de educação ambiental nas Escolas, como os Parâmetros em Ação: Meio Ambiente na Escola, a
fim de fornecer aos professores subsídios para a inserção da EA. O presente trabalho discute a presença das
políticas públicas em Educação Ambiental nas escolas de Campo Grande –MS a partir dos resultados da pes-
quisa O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental aliado à observação de campo nas
escolas selecionadas. As políticas públicas são construídas e estabelecidas por meio do exercício do poder, no
qual os segmentos organizados reivindicam a garantia de acesso aos direitos básicos da cidadania, ou seja, as
políticas públicas são o retrato das reivindicações das sociedades e suas demandas revestidas de um caráter
imperativo do Estado, por meio de suas instituições, através de programas de governo.
Esse estudo constatou contradições provocadas pela descontinuidade de programas e políticas públicas para
formação de professores e fomento da Educação Ambiental e a dificuldade da inserção de EA pela resistência
de uma educação tradicional permeada pela segmentação do conhecimento.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Políticas Públicas, Ensino Fundamental.

1
Cientista Social pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Membro da Rede Aguapé de Educação Ambiental e do Coletivo Jovem pelo Meio
Ambiente / MS. E-mail: didactusveritas@yahoo.com.br

2
Professora Doutora do Departamento de Educação / CCHS da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul
Email: amzanon@terra.com.br

ESTADO, POLÍTICAS
PÚBLICAS E
EDUCAÇÃO BÁSICA
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NOTAS

1
Retirado do site do Ministério da Educação: www.mec.gov.br em 01 de dezembro de 2006.
2
05 (cinco) pertencentes à Rede Municipal (sendo duas escolas rurais), três da Rede Estadual e duas escolas privadas (uma delas, confessional).

ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO BÁSICA


20
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34° Encontro Anual da ANPOCS
ST 25 Pesquisas em contextos de conflito e de precária
institucionalização

Questões institucionais do acesso à terra na América Latina e


as implicações na discórdia com o Outro

Diego Correia da Silva


Mestrando do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar);
bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Caxambu
Outubro de 2010
Questões institucionais do acesso à terra na América Latina e as implicações na
discórdia com o Outro1

Resumo

Tendo como pano de fundo as disputas identitárias que, historicamente, marcam a


ocupação amazônica - na dupla dimensão dessa expansão, qual seja, o fluxo de trabalho
dos deserdados da terra e o fluxo de capital - este trabalho visa analisar sociologicamente,
numa abordagem qualitativa, os resultados de pesquisa que exprimem o drama dos
sucessivos processos de desterritorialização de camponeses extrativistas que hoje vivem
na fronteira boliviana e os desdobramentos em termos identitários dos processos de
socialização na região. Os resultados da pesquisa revelam um histórico de perdas
materiais e simbólicas, facilitada pela vulnerabilidade social dos envolvidos, bem como
pelas fragilidades institucionais de refreá-las, o que acabou por gerar custos econômicos
e psicossociais que potencializa a geração de novos conflitos.

Introdução

A principal característica do capitalismo mercantilista na América Latina foi o


privilégio dado a um produto de exportação conforme conjuntura no mercado
internacional. Se durante o período colonial, os ciclos econômicos refletiram uma
estratégia de crescimento econômico desequilibrado, aplicado conscientemente pelos
colonizadores e pela elite colonial, a continuidade desse processo no século XIX é
ajustada para a consagração do capitalismo no campo e a consolidação da propriedade
privada, desencadeando múltiplos e complexos desdobramentos.
No contexto brasileiro, o confronto entre os termos da posse e da propriedade está
ligado à implantação da legislação agrária durante as transformações no sistema
produtivo ainda no Segundo Reinado, mais precisamente com o fim da escravidão e a
substituição e o desencargo dessa mão-de-obra. A Lei de Terras de 1850 (Lei 650) é
notória no intuito da exclusão, pois, como interpreta Martins (1980, p. 71-12), instituiu

inversa das zonas pioneiras americanas, a Lei 650 só permitiu a obtenção da propriedade
fundiária por meio da compra, ou seja, impossibilitou-a àqueles que usufruíam apenas de

identitária de populações trad


doutora Norma Valencio, com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior CAPES.

1
RONDONIA AO VIVO. os pedem
assentamento no Brasil. Rondônia ao Vivo. 27.out.2009. Disponível em <
http://www.rondoniaovivo.com.br/news.php?news=56385>.

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29
Entre idas e perdas: processos de desterritorialização de comunidades tradicionais na
inserção da Amazônia na Economia Mundo.
Diego Correia da Silva1

Resumo
A partir da revisão bibliográfica sobre a questão agrária no Brasil do século XX e do processo
de ocupação da Amazônia no que tange o fluxo de trabalho dos deserdados da terra e o fluxo
de capital, a pesquisa apresentada visa analisar sociologicamente os processos de
desterritorialização de comunidades extrativistas a partir da veiculação da Amazônia com a
Economia-Mundo. Os resultados da pesquisa revelam um contexto permeado por transtornos
funcionais e simbólicos a partir da precarização territorial por ora facilitado pela
vulnerabilidade social dos envolvidos, pela insuficiência das ações dos Estados, bem como
pelas fragilidades institucionais de refreá-la, o que acabou por gerar custos simbólicos e
suscitou distúrbios psicossociais.

Abstract
This paper focuses the deterritorialization processes of extractive communities according to
the insertion of the Amazon into the World-Economy. The research was based on a review of
the Brazilian agrarian issue of the 20th century and the Amazon occupation regarding the land
forsaken and the capital flows. The study reveals a context permeated by functional and
symbolic disorders because of the territorial precariousness facilitated by the social
vulnerability of those involved, the inadequacy of the State actions, as well as by institutional
weakness of rein it in, which generated symbolic costs and caused psychosocial disturbances.

Palavras-chave: Comunidades tradicionais; Questão Agrária; Amazônia

1
Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos.
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Universidade de São Paulo
Escola de Engenharia de São Carlos
Diretor: Professor Titular Paulo Sergio Varoto
Vice-Diretor: Professor Titular Sergio Persival Baroncini Proença

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental


Coordenador: Professor Associado Frederico Fabio Mauad
Vice-Coordenador: Professor Associado Francisco Arthur da Silva Vecchia

Centro de Recursos Hídricos e Estudos Ambientais


Diretor: Professor Associado Francisco Arthur da Silva Vecchia
Vice-Diretor: Professor Associado Frederico Fabio Mauad

Ficha catalográfica preparada pela


Seção de Atendimento ao Usuário do Serviço de Biblioteca - EESC/USP

Simpósio do Curso de Pós-Graduação em Ciências da


S612a.2 Engenharia Ambiental (14. : 2015 : São Carlos)
2015 Anais [do] 14o simpósio do curso de pós-graduação em
ciências da engenharia ambiental / editores: Gustavo Zen
de Figueiredo Neves ... [et al.]. -- São Carlos :
EESC/USP, 2015.
500 p.
ISBN 978–85–8023–031-4

1. Ciências da engenharia ambiental. 2. Gestão de


crises ambientais. 3. Recursos hídricos. 4. Estudos
ambientais. 5. Engenharias I. I. Neves, Gustavo Zen de
Figueiredo. II. Título.
AS DISTINTAS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UTILIZADAS
EM CONTEXTO DE DESASTRE: A LITERATURA EXEMPLIFICADA
PELO FILME “O IMPOSSÍVEL” (2012)

Layla Stassun ANTÔNIOa1 ; Diego CORREIAa2; Norma Valencioa3


a
PPGSEA/USP

Sociologia Ambiental e Sociologia dos Desastres

Resumo: Neste trabalho pretendemos explorar as distintas formas de vivenciamento do


desastre e as diferentes estratégias de enfrentamento adotadas por pessoas que se encontram
envolvidas em um cenário de devastação. Para exemplificar e ilustrar, utilizaremos o filme “O
Impossível” (2012) que narra a história de uma família que viaja para a Tailândia, na região de
Khao Lak, para passar as férias. Entretanto, o conforto e o lazer são interrompidos quando um
tsunami atinge o resort em que estão hospedados. O filme é uma adaptação da história real de
uma família que sobreviveu ao tsunami que devastou parte do sudeste asiático no ano de 2004.
Palavras-chave: Sociologia do Desastre; Enfrentamentos; Desastres; Tsunami; O Impossível.

Abstract: In this paper we intend to explore the different forms of overcoming in a disaster.
What kind of coping strategies are adopted by who is involved in a scene of devastation. To
exemplify and to illustrate, we'll use the film "The Impossible" (2012), which tells the story of
a family traveling to Thailand, in the region of Khao Lak, to spend the holidays. However, the
comfort and leisure are interrupted when a tsunami hits the resort where they are staying. The
film is an adaptation of a true story of a family who survived the tsunami that devastated parts
of Southeast Asia in 2004.
Keywords: Sociology of Disaster; Struggles; Disasters; Coping; The Impossible.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, pretendemos explorar as distintas formas de vivenciamento do desastre e as


diferentes estratégias de enfrentamento adotadas por pessoas que se encontram envolvidas em
um cenário de devastação. Para isso, utilizaremos o filme “O Impossível” para exemplificar e
ilustrar situações que de outra maneira dependeriam de maior esforço para serem entendidas.

Obras audiovisuais são ótimas ferramentas para enxergarmos e sentirmos aquilo que muitas
vezes nos é distante ou diferente demais da nossa própria realidade. Em outras palavras, o
cinema tem o poder de criar empatia entre diferentes grupos sociais, econômicos, etários, de
gênero, em situações adversas, entre outros.

A linguagem imagética tem mais expressividade e força metafórica; ela condensa, tornando a
percepção dos fenômenos sociais mais sensível, já que é mais alusiva, mais elíptica e mais
simbólica (PEIXOTO, 2001, p.2).

1
stassun.layla@gmail.com;
SARTORI, J. Memória e prática social de idosos em torno do tema dos raios: o caso de São
Caetano do Sul/SP. In: VALENCIO, N (org). Sociologia dos Desastres: construção e
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Fonte financiadora
CAPES – Coordenação de Apoio ao Aperfeiçoamento ao Pessoal de Ensino Superior.
AS PRÁTICAS DE ETNOCÍDIO E A INVISIBILIZAÇÃO DOS
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
Diego Correiaa1 ; Norma Valencioa2

PPGSEA/USP

Sociologia Ambiental e Sociologia dos Desastres

INTRODUÇÃO

O presente resumo apresenta alguns resultados de práticas etnocidas identificadas em


relatórios e pesquisas acadêmicas que tratam sobre os conflitos ambientais no Brasil. Os
resultados mostram uma luta desigual pelo controle de territórios, em que uma gama de
práticas subjetivas gestada por agentes econômicos e estatais de grande influência, objetivam
invisibilizar os conflitos socioambientais no interior do país, facilitando a expropriação
material e simbólica de comunidades tradicionais e campesinas.

AS PRÁTICAS DE MENOSPREZO

Atos de discriminação e expropriação pela cor, gênero, origem e etnia: o racismo ambiental

Pacheco (2008, p. 11) define racismo ambiental como “injustiças sociais e ambientais que
recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis (...)”, que não se
configuram exclusivamente por ações de cunho racista, mas também, “através de ações que
tenham impacto racial, não obstante a intenção que lhes tenha dado origem”, tanto no campo,
como na cidade.

O Mapa de Conflitos causados pelo Racismo Ambiental3 produzido pela Rede de Justiça
Ambiental traz à realidade casos de injustiças ambientais que acontecem no campo, longe dos
centros urbanos, eclipsadas no debate na mídia e que, na maioria das vezes, envolve
comunidades ou grupos étnicos específicos. Nesse esforço, são apresentadas denúncias sobre
contaminação do solo e das águas por complexos mineradores e siderúrgicos que mantém
impactos negativos sobre indígenas, quilombolas e ribeirinhos, ocasionando mortes e
deformidades físicas.

Outra questão levantada pelo Mapa de conflitos é a destituição dos direitos de cidadania por
violentas práticas de deslocamentos compulsórios pelos grandes projetos de turismo, de
agroextrativismo, agropecuária e energia. Nesse sentido, Pacheco (2008), destaca que

[...] talvez sejam as grandes obras de infraestrutura, como a construção de


hidrelétricas e as mudanças de cursos dos rios, assim como os
megaempreendimentos da monocultura, que causam danos irreversíveis à vida de
povos indígenas, de remanescentes de quilombolas e de populações tradicionais. Na
ocupação desordenada e gananciosa do território, a invasão das monoculturas leva
não só à expulsão sumária de alguns desses povos como a diminuição das reservas já

1
diego.sociais@gmail.com
2
normaf@terra.com.br
3
http://www.justicaambiental.org.br/projetos/clientes/noar/noar/UserFiles/17/File/Microsoft%20Word%20-
%20MAPA_DO_RACISMO_AMBIENTAL_NO_BRASIL.pdf
setembro de 2004.Disponível em: http://w3.msh.univ-
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AGÊNCIA DE APOIO
CAPES – Coordenação de Apoio ao Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior.

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