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Projeto Editorial: Rhayssa Siqueira
Preparação e revisão: Rochelle Lassarot
Projeto gráfico e diagramação: Diego Rodrigues
Capa: Ana Carolina Nascimento
Imagem de capa: Istock/junak
 
 
 
Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
 
 
 
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ISBN: 978-85-9463-041-4
 
© EDITORA CANÇÃO NOVA
Cachoeira Paulista, SP, Brasil, 2022
FLAVIO CREPALDI

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sem a oração, segundo a Providência ordinária de Deus,
serão inúteis todas as meditações, todos os propósitos e todas
as promessas. Se não rezarmos, seremos infiéis a todas as
luzes recebidas e a todas as nossas promessas.”
Santo Afonso Maria de Ligório
 
 
 
Sumário
Introdução............................................................................... 7
Parte I - A oração a partir de São Tomás de Aquino............ 11
Afinal, o que é a oração?.......................................................... 13
Alinhar-se com a vontade de Deus...........................................19
O que eu ganho por rezar?...................................................... 25
Preciso mesmo rezar?............................................................... 31
As partes que compõem a oração............................................ 37
A intercessão dos santos.......................................................... 45
O que se deve pedir na oração?................................................ 51
Pedindo bens materiais na oração........................................... 57
Devemos rezar uns pelos outros.............................................. 63
Amai os vossos inimigos......................................................... 67
Quando devo usar palavras na oração?.................................... 73
Deus escuta quem reza distraído?........................................... 77
Como é possível rezar sem cessar?........................................... 83
Deus escuta a oração do pecador?........................................... 87

Parte II - A oração a partir de Santa Teresa D'Ávila........... 93


Um jardim fechado chamado alma......................................... 95
Produzir frutos agradáveis a Deus.......................................... 101
Regar a alma com a oração.................................................... 105
Santa Teresa e a oração do “pai-nosso”...................................113
O segundo modo de regar o jardim da alma.......................... 121
A oração de meditação........................................................... 125
Novos modos de oração.........................................................131
Amar a Deus é uma forma de oração?.................................... 137
Terceiro modo de regar o jardim........................................... 143
O que é a contemplação?....................................................... 149
Oração mística e seus primeiros graus.................................... 157
Santa Teresinha e o abandonar-se em Deus........................... 165
Oração mística e seus últimos graus....................................... 171
A oração de Santa Elisabete da Trindade............................... 177
Introdução

N
ão existe vida espiritual sem a oração. O ato
de rezar é a maneira como nos colocamos, cons-
cientemente, sob os cuidados de Deus, procurando
conhecê-lo e nos tornar conhecidos dele, procurando entender
e fazer a sua vontade.
Sim, entender! Porque entendendo, mesmo imperfeita-
mente, percebemos que a sua vontade é sempre a melhor para
nós, infinitamente superior a qualquer coisa que já possamos
ter sonhado. Por isso a oração é, em última instância, um modo
de intimidade e entrega mútua.
É dar-se e não só receber a Deus de volta, mas também
receber-se. A nossa verdadeira vida, alterada pelo pecado original,
pode ser readquirida se nos unirmos verdadeiramente ao autor
de toda a vida. Ele já a recuperou para nós mediante sua Encar-
nação, morte e Ressurreição. Cumpre a nós, agora, buscá-la em
suas mãos misericordiosas percorrendo o caminho da oração.
A prática cotidiana, no entanto, demonstra que muitos
ficam perdidos sobre o que é a oração, sendo necessário apro-
fundar seu verdadeiro sentido. Também é essencial aprender

7
como rezar para que possamos crescer em intimidade com Deus
(o grande sentido da oração) e nos entregar de forma cada vez
melhor a essa atividade, que é a maior e a melhor que podemos
realizar para, com e em Deus.
Este livro busca esclarecer estes dois pontos principais:
o que é a oração e como praticá-la de modo a gerar muitos
frutos já nesta vida. Desse modo, em sua primeira parte, traz
toda a riqueza da teologia sistemática sobre a oração, com São
Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Santo Afonso de Ligório e
tantos outros, para que possamos compreender no que consiste
a oração e por onde devemos trilhá-la, bem como o que não é
aconselhável fazer e por quê.
Afinal, para começar a crescer em fé, vivendo ativamente
a oração, nada melhor do que ter bem firme, primeiro, a que
ela se refere. Ela está embasada nas questões sobre a oração que
São Tomás de Aquino deixou em sua Suma Teológica.
A segunda parte deste livro traz a prática carmelitana com
Santa Teresa D’Ávila e suas explicações de como crescer em
santidade a partir da oração, evoluindo em seus diversos graus,
unindo o esforço humano e a vontade divina.
Com suas orientações foram acrescentados ensinamentos
de São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa
Elisabete da Trindade para que a abundância de exemplos possa
levar a uma melhor absorção deste conteúdo tão profundo.
À semelhança de Santidade para todos: descobrindo as mo-
radas interiores, que é um caminho didático sobre as práticas
para crescer e reconhecer o percurso da vida espiritual desde
a conversão até a união plena, a segunda parte do livro é um

8 | A oração segundo os doutores da Igreja


manual prático do crescimento na oração, desde os seus primei-
ros graus ascéticos até a grande contemplação mística, objetivo
último a que todo cristão é chamado.
Mais do que aumentar o seu conhecimento sobre teologia
espiritual e sobre esses doutores da Igreja católica, o grande
objetivo deste livro é ser um propulsor na sua vida de oração
e intimidade com Deus.
Considere-se, desde já, incluído em minhas orações, e peço,
encarecidamente, que me coloque também nas suas!
 
Flavio Crepaldi

Introdução | 9
PARTE I

A ORAÇÃO A PARTIR DE
SÃO TOMÁS DE AQUINO
 
“Sabe viver bem quem sabe rezar bem.”
São Tomás de Aquino
Afinal, o que é
a oração?

E
ntre as várias passagens nos evangelhos que reco-
mendam a oração, podemos citar duas: Lucas 18,1,
que diz que “é preciso rezar sempre e nunca deixar de
fazê-lo”; e Mateus 26,41, que recomenda: “Vigiai e orai para não
cairdes em tentação”. Esta última, no contexto da advertência
de Jesus aos seus apóstolos que dormiam enquanto ele suava
sangue na dura batalha interior de sua Paixão que se iniciava.
Se, por um lado, a recomendação é forte e constante, por
outro, parece trazer embutida a certeza de que todos sabem o
que é rezar, orar ou colocar-se em contato com Deus. A prática,
no entanto, demonstra que muitos ficam perdidos sobre o que
é a oração. Podemos dizer que, como os discípulos, muitos
estão adormecidos. Por isso devemos começar do princípio e
perguntar: o que é a oração?
A primeira e mais simples resposta que encontramos, in-
clusive na Bíblia, é que a oração seria um pedido para Deus.
Isso encontra respaldo até mesmo nas palavras de Jesus, que diz:
“pedirei a meu Pai” (Jo 14,16), e na ação do Espírito Santo, que
13
vem em nosso auxílio, porque “não sabemos o que devemos
pedir” (Rm 8,26).
A oração seria, aparentemente, um pedido a Deus motivado
por nossos desejos. Seguindo esse princípio, poderíamos dizer
que o desejo de algo nos motiva a rezar e, inversamente, na
ausência de um desejo ou vontade, não é possível rezar. Nesse
modo de pensar, a oração seria, portanto, um pedido motivado
pela nossa vontade, mas será mesmo?
Argumenta-se ainda, para justificar essa definição, que a
experiência cotidiana impele muitos a dizer: “não tenho vontade
de rezar”, “perdi a vontade de rezar” ou que não acreditam no
poder da oração, pois seus pedidos-vontades não foram aten-
didos por Deus. Segundo essa visão, a oração não passa de um
pedir a Deus algo que se deseja quando se precisa ou se tem
vontade de fazê-lo.
Tão perto, no entanto, também tão longe. São Tomás
de Aquino nos lembra de duas verdades importantes sobre
“pedidos”:
 
1. Se pedimos algo a alguém, só pedimos se considerarmos
essa pessoa de alguma maneira superior ou mais capaz
de realizar o que se pede do que nós mesmos.
2. Para pedir precisamos nos aproximar de alguma manei-
ra de quem pedimos, caso contrário, não somos nem
ouvidos, muito menos atendidos.
 
Baseado nisso, entende-se que a oração é, em primeiro
lugar, aproximar-se de Deus sabendo que Ele nos é superior

14 | A oração segundo os doutores da Igreja


em tudo. Se ele fosse material, chegaríamos perto fisicamen-
te, mas como é puro Espírito, a oração é a maneira de nos
aproximarmos espiritualmente dele. São Dionísio sintetiza
isso dizendo que “quando invocamos a Deus na oração, a Ele
estamos presentes com o espírito descoberto”. Aproximo-me
e assim vejo e também me deixo ver.
Claro, não podemos realizar isso sozinhos, então o pe-
dido-invocação é sim uma característica da oração. Só que o
primeiro pedido-oração a Deus deveria ser sempre o pedido
de que possamos nos aproximar dele, de que Ele permita que
estejamos em comunhão de espírito com espírito ou, como tão
extraordinariamente revela o salmo 26,4: “uma só coisa peço ao
Senhor, e a peço insistentemente: é habitar na casa do Senhor
todos os dias da minha vida”, isto é, que eu possa me unir
contigo, Senhor, e permanecer nessa união indefinidamente.
Fato que precisa se realizar hoje e todos os dias da minha vida,
como um treinamento para aquilo que, se Deus quiser, será
realizado por toda a eternidade: uma vida eterna em união
íntima com Deus.
Também precisamos lembrar que ninguém pede nada se
antes não pensar naquilo que deseja. O pedido passa, necessa-
riamente, pela razão. A oração é, desse modo, e antes de mais
nada, um ato intelectual, não da vontade. Não se deseja, não
se pede aquilo que não se pensa.
São João Damasceno diz, por isso, que “a oração é a as-
censão do intelecto para Deus”. E, sendo um ato intelectual
ou motivado pela razão, fica claro por que pode não existir a
vontade de rezar: o afeto não é mesmo o motor da oração.

Afinal, o que é a oração? | 15


Vejamos um exemplo: é um fato intelectualmente conhe-
cido que existem milhares de acidentes de trânsito diariamente.
Geralmente um deles só passa a me afetar e a me interessar
particularmente quando alguém que conheço está envolvido,
seja no próprio acidente, seja por meio de um familiar. Além
do conhecimento intelectual da situação, passa a atuar também
o meu afeto ou vontade. Caso contrário, o fato em si me seria
quase indiferente, um mero conhecimento intelectual.
Do mesmo modo, se a oração não é própria da vontade,
ela, naturalmente e por si só, não deve gerar vontade ou falta
de vontade. A oração não rege e também não necessita da
vontade. Tem-se a vontade ou não de rezar quando se antevê
uma vantagem na oração ou se já recebeu um benefício ao rezar.
Parece ser uma discussão puramente teórica, mas entenda
a partir disso porque, na prática, às vezes (ou regularmente) não
se tem vontade de rezar: seria como ter vontade de que dois mais
dois dessem quatro ou que a soma dos quadrados dos catetos
do triângulo retângulo fossem iguais ao valor do quadrado de
sua hipotenusa! Ninguém sente vontade de que o teorema de
Pitágoras esteja certo. E, inversamente, não é a minha vontade
de que esteja certo ou errado que o faz ser menos verdade.
Pode-se dizer, pelo contrário, que o normal é não ter mesmo
nenhuma vontade sobre as questões regidas pela razão. Deve-se,
também, questionar se a oração “com vontade” não nos vem
motivada por algo mais do que o puro e necessário contato
com Deus, o reconhecimento que Ele é a fonte, a razão e a
meta de nossa existência.

16 | A oração segundo os doutores da Igreja


Claro, já que o ser humano não é somente uma somatória
de suas partes nem pode ser fragmentado, veremos na segunda
parte deste livro como a vontade também participa da oração,
mas veremos que não é como imaginamos normalmente, ela
fará parte quando for purificada pela própria ação de Deus. Por
ora, basta saber que, como a oração não tem origem priorita-
riamente na vontade, exige-se um esforço intelectual inicial
para fazê-la acontecer e mantê-la.
Por isso, na definição de São Tomás, a oração é a elevação
da mente a Deus, em primeiro lugar para nos aproximar
dele, depois para reconhecê-lo como Senhor e, imediata-
mente após, para louvá-lo. Mas, também, para pedir coisas
necessárias à nossa eterna salvação.
E, embora esteja respondida a pergunta que está no título
deste capítulo sobre o que seria a oração, certamente outras
perguntas surgiram: se não é necessário ter vontade de rezar,
por que rezar? O que são coisas necessárias para a salvação? E
as outras “coisas” de que necessito e peço? Não é oração, não
posso pedir a Deus?
Essas e outras perguntas buscaremos responder nos pró-
ximos capítulos. Agora pense nisto: se a oração é uma elevação
da mente a Deus, tenho ocupado parte da minha vida nisso?
Ou minha cabeça vive ocupada com as coisas da Terra, rasteira
no dia a dia, cheia das coisas que passam? Em palavras mais
diretas: você vive pensando em quê?

Afinal, o que é a oração? | 17

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