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“Sem a oração, segundo a Providência ordinária de Deus,
serão inúteis todas as meditações, todos os propósitos e todas
as promessas. Se não rezarmos, seremos infiéis a todas as
luzes recebidas e a todas as nossas promessas.”
Santo Afonso Maria de Ligório
Sumário
Introdução............................................................................... 7
Parte I - A oração a partir de São Tomás de Aquino............ 11
Afinal, o que é a oração?.......................................................... 13
Alinhar-se com a vontade de Deus...........................................19
O que eu ganho por rezar?...................................................... 25
Preciso mesmo rezar?............................................................... 31
As partes que compõem a oração............................................ 37
A intercessão dos santos.......................................................... 45
O que se deve pedir na oração?................................................ 51
Pedindo bens materiais na oração........................................... 57
Devemos rezar uns pelos outros.............................................. 63
Amai os vossos inimigos......................................................... 67
Quando devo usar palavras na oração?.................................... 73
Deus escuta quem reza distraído?........................................... 77
Como é possível rezar sem cessar?........................................... 83
Deus escuta a oração do pecador?........................................... 87
N
ão existe vida espiritual sem a oração. O ato
de rezar é a maneira como nos colocamos, cons-
cientemente, sob os cuidados de Deus, procurando
conhecê-lo e nos tornar conhecidos dele, procurando entender
e fazer a sua vontade.
Sim, entender! Porque entendendo, mesmo imperfeita-
mente, percebemos que a sua vontade é sempre a melhor para
nós, infinitamente superior a qualquer coisa que já possamos
ter sonhado. Por isso a oração é, em última instância, um modo
de intimidade e entrega mútua.
É dar-se e não só receber a Deus de volta, mas também
receber-se. A nossa verdadeira vida, alterada pelo pecado original,
pode ser readquirida se nos unirmos verdadeiramente ao autor
de toda a vida. Ele já a recuperou para nós mediante sua Encar-
nação, morte e Ressurreição. Cumpre a nós, agora, buscá-la em
suas mãos misericordiosas percorrendo o caminho da oração.
A prática cotidiana, no entanto, demonstra que muitos
ficam perdidos sobre o que é a oração, sendo necessário apro-
fundar seu verdadeiro sentido. Também é essencial aprender
7
como rezar para que possamos crescer em intimidade com Deus
(o grande sentido da oração) e nos entregar de forma cada vez
melhor a essa atividade, que é a maior e a melhor que podemos
realizar para, com e em Deus.
Este livro busca esclarecer estes dois pontos principais:
o que é a oração e como praticá-la de modo a gerar muitos
frutos já nesta vida. Desse modo, em sua primeira parte, traz
toda a riqueza da teologia sistemática sobre a oração, com São
Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Santo Afonso de Ligório e
tantos outros, para que possamos compreender no que consiste
a oração e por onde devemos trilhá-la, bem como o que não é
aconselhável fazer e por quê.
Afinal, para começar a crescer em fé, vivendo ativamente
a oração, nada melhor do que ter bem firme, primeiro, a que
ela se refere. Ela está embasada nas questões sobre a oração que
São Tomás de Aquino deixou em sua Suma Teológica.
A segunda parte deste livro traz a prática carmelitana com
Santa Teresa D’Ávila e suas explicações de como crescer em
santidade a partir da oração, evoluindo em seus diversos graus,
unindo o esforço humano e a vontade divina.
Com suas orientações foram acrescentados ensinamentos
de São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa
Elisabete da Trindade para que a abundância de exemplos possa
levar a uma melhor absorção deste conteúdo tão profundo.
À semelhança de Santidade para todos: descobrindo as mo-
radas interiores, que é um caminho didático sobre as práticas
para crescer e reconhecer o percurso da vida espiritual desde
a conversão até a união plena, a segunda parte do livro é um
Introdução | 9
PARTE I
A ORAÇÃO A PARTIR DE
SÃO TOMÁS DE AQUINO
“Sabe viver bem quem sabe rezar bem.”
São Tomás de Aquino
Afinal, o que é
a oração?
E
ntre as várias passagens nos evangelhos que reco-
mendam a oração, podemos citar duas: Lucas 18,1,
que diz que “é preciso rezar sempre e nunca deixar de
fazê-lo”; e Mateus 26,41, que recomenda: “Vigiai e orai para não
cairdes em tentação”. Esta última, no contexto da advertência
de Jesus aos seus apóstolos que dormiam enquanto ele suava
sangue na dura batalha interior de sua Paixão que se iniciava.
Se, por um lado, a recomendação é forte e constante, por
outro, parece trazer embutida a certeza de que todos sabem o
que é rezar, orar ou colocar-se em contato com Deus. A prática,
no entanto, demonstra que muitos ficam perdidos sobre o que
é a oração. Podemos dizer que, como os discípulos, muitos
estão adormecidos. Por isso devemos começar do princípio e
perguntar: o que é a oração?
A primeira e mais simples resposta que encontramos, in-
clusive na Bíblia, é que a oração seria um pedido para Deus.
Isso encontra respaldo até mesmo nas palavras de Jesus, que diz:
“pedirei a meu Pai” (Jo 14,16), e na ação do Espírito Santo, que
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vem em nosso auxílio, porque “não sabemos o que devemos
pedir” (Rm 8,26).
A oração seria, aparentemente, um pedido a Deus motivado
por nossos desejos. Seguindo esse princípio, poderíamos dizer
que o desejo de algo nos motiva a rezar e, inversamente, na
ausência de um desejo ou vontade, não é possível rezar. Nesse
modo de pensar, a oração seria, portanto, um pedido motivado
pela nossa vontade, mas será mesmo?
Argumenta-se ainda, para justificar essa definição, que a
experiência cotidiana impele muitos a dizer: “não tenho vontade
de rezar”, “perdi a vontade de rezar” ou que não acreditam no
poder da oração, pois seus pedidos-vontades não foram aten-
didos por Deus. Segundo essa visão, a oração não passa de um
pedir a Deus algo que se deseja quando se precisa ou se tem
vontade de fazê-lo.
Tão perto, no entanto, também tão longe. São Tomás
de Aquino nos lembra de duas verdades importantes sobre
“pedidos”:
1. Se pedimos algo a alguém, só pedimos se considerarmos
essa pessoa de alguma maneira superior ou mais capaz
de realizar o que se pede do que nós mesmos.
2. Para pedir precisamos nos aproximar de alguma manei-
ra de quem pedimos, caso contrário, não somos nem
ouvidos, muito menos atendidos.
Baseado nisso, entende-se que a oração é, em primeiro
lugar, aproximar-se de Deus sabendo que Ele nos é superior