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Capítulo 5

Incrustação por Geada


(frosting)
5.1 Introdução
Incrustações Externas

gelo e geada

efeitos
semelhantes

sujeira, poeira
5.1 Introdução
Aumento da Resistência Térmica

δf

δf espessura da geada
R ′f′ ~
kf condutividade térmica

A camada de geada oferece uma resistência adicional à transferência de


calor, Rf″, o que prejudica o desempenho do trocador de calor
(evaporador).
5.1 Introdução
Redução da Vazão de Ar
∆p VGb
VGa
St.

fan

V&a V&b V&st V&


Q&
VGa
Q& b VGb
Q& st St.
Q& a
1− n n −1 3
D h µ ∞
R∞′′ ~ , n>0
(m& A )face
n 2 3 13
k c
∞ p ,∞

V&a V&b V&st V&

A camada de geada oferece uma resistência adicional ao escoamento de


ar, aumentando a perda de carga e reduzindo a vazão de ar, o que
prejudica o desempenho do trocador de calor (evaporador).
5.1 Introdução

Escopo do Capítulo

Apresentar os fundamentos teóricos sobre a formação


(nucleação, crescimento e adensamento) de gelo e
geada.

Discutir os aspectos práticos da presença de gelo e


geada sobre o desempenho do trocador de calor.
5.2 Definições
Diferença entre Gelo e Geada

Gelo (ice) Geada (frost)

Solidificação da água líquida Solidificação do vapor d’água


(condensação + congelamento) (dessublimação)
Resultado: sólido maciço Resultado: meio poroso

ρagua = 999,8 kg/m3


Densidade a 0°C ρgelo = 916,7 kg/m3
ρgeada = 270,6 kg/m3
5.2 Definições
Temperatura de orvalho (dew-point)

O ponto de orvalho é
definido como sendo a
temperatura na qual a
condensação do vapor
d’água tem início quando o
ar é resfriado através de um
processo isobárico.
5.2 Definições
Condições para mudança de fase do vapor d’água

1) Ts > Torv ⇒ troca de calor sensível apenas

2) Torv > Ts > 0°C ⇒ há condensação

3) Torv > 0°C > Ts ⇒ pode haver congelamento do condensado

4) 0°C > Torv > Ts ⇒ pode haver dessublimação do vapor d’água


5.2 Definições
Nucleação, Crescimento e Adensamento

Nucleação de cristais de gelo

Crescimento e
adensamento de uma
camada de geada

θ = ângulo de contato
5.2 Definições

(foto tirada no POLO durante um estudo de crescimento e adensamento da camada de geada)


5.3 Nucleação de Embriões
Condição necessária para que a nucleação ocorra

ρVRT  ω∞ 
∆G = ln   + γ se Ase − (γ sw − γ ew )Aew
M  ω sat (Ts ) 
barreira energia latente energia de superfície (sensível)
de
energia

grau de supersaturação grau de super-resfriamento

∆ω sup = ω∞ − ω sat (Ts ) ∆Tsup = Ts − Tsat (ω∞ )


5.3 Nucleação de Embriões
Representação Psicrométrica

í v el
s
s en

t ente
la
5.3 Nucleação de Embriões
Algumas conclusões...

O grau de super-resfriamento está relacionado à energia


superficial (sensível) do embrião.

O grau de supersaturação está associado à energia latente


(mudança de fase) do embrião.

Para cada grau de super-resfriamento existe um grau de


supersaturação correspondente.

Portanto, pode-se estabelecer um único critério para prever se


haverá ou não a nucleação do embrião, que é função da condição
da superfície (ângulo de contato).
5.3 Nucleação de Embriões
Critérios de nucleação por condensação e dessublimação

Atenção: válido somente


para superfícies lisas

superfície superfície
hidrofílica hidrofóbica
θ<90° θ>90°
5.3 Nucleação de Embriões
Exemplo: Nucleação de gelo em alumínio cru

Alumínio cru, θ≈90°


θ≈ °

∆Tsup > 15°°C ⇒ dessublimação

∆Tsup > 2,5°°C ⇒ condensação


5.3 Nucleação de Embriões
Mais conclusões...

Mesmo para superfícies altamente hidrofóbicas (ângulos de


contato elevados), haverá condensação e congelamento se o grau
de super-resfriamento for superior a 5°C. Essa condição é
tipicamente observada em refrigeradores comerciais (vending
machines, expositores).

Da mesma forma, para que uma camada de geada se forme sobre


uma superfície super-hidrofóbica (ângulos de contato elevados,
θ>130°), graus de super-resfriamento superiores a 20°C serão
necessários. Essa condição é tipicamente observada em
refrigeradores domésticos.

Ou seja, tratamentos superficiais são pouco efetivos para prevenir


a formação de gelo e geada.
5.3 Nucleação de Embriões
Exemplo: Evaporador de refrigerador frost-free
Material: Alumínio (θ=90°)
Temperatura de evaporação: -35°C
Temperatura do média do ar: -12°C
Umidade média do ar: 65%

Temperatura de orvalho: -16,7°C


Grau de super-resfriamento: -16,7°C – (– 35°C) = 18,3°C

Resultado esperado:

GEADA
5.3 Nucleação de Embriões
Exemplo 5.3: Evaporador de vending machines
Material: Alumínio (θ=90°)
Temperatura de evaporação: -10°C
Temperatura do média do ar: 0°C
Umidade média do ar: 65%

Temperatura de orvalho: -5,1°C


Grau de super-resfriamento: -5,1°C – (– 10°C) = 4,9°C

Resultado esperado:

GELO
5.3 Nucleação de Embriões
Efeito da rugosidade

Imperfeições superficiais reduzem a área superficial do embrião,


de modo que a barreira de energia diminui. Em outras palavras,
superfícies rugosas geram sítios propícios à nucleação.

De um modo geral, processos para elevar o ângulo de contato têm


como resultado colateral o aumento da rugosidade ⇒ o efeito
“hidrofóbico” do tratamento superficial fica atenuado.
5.3 Nucleação de Embriões
Aspectos morfológicos dos cristais

(www.snowcrystals.com)
5.3 Nucleação de Embriões
Para mais informações...

1) N.H. Fletcher, The chemical physics of ice, Cambridge University Press,


Cambridge, UK, 1970

2) R.O. Piucco, C.J.L. Hermes, C. Melo, J.R. Barbosa Jr., A study of frost
nucleation on flat surfaces, Experimental Thermal and Fluid Science, 32
(2008) 1710-1715, doi:10.1016/j.expthermflusci.2008.06.004

3) www.its.caltech.edu/~atomic/snowcrystals/
5.4 Crescimento / Adensamento

Espessura
Massa

R.O. Piucco, Análise Teórico-Experimental da Formação de Geada em Refrigeradores


Domésticos, Dissertação de Mestrado, POSMEC/UFSC, Outubro de 2008
5.4 Crescimento / Adensamento
V∞
ω∞
T∞

δf

(mapa termográfico de
uma camada de geada
formada em uma placa
com 10 cm x 10 cm)

d dδ f dρ f
m= (ρ f δ f ) ⇒ ρ f +δ f = h m (ω ∞ − ω s )
dt dt dt
crescimento adensamento total
5.4 Crescimento / Adensamento
Cálculo da taxa de crescimento da camada de geada

dδ f m − md
=
dt ρf

Note que, se a densidada da geada é nula, o problema é singular.


Portanto, é necessário conhecer a densidade da geada no tempo t=0!

Solução: correlação empírica para a densidade da geada

a = 650
ρ f = a exp (bT s + cT w ) 
Hayashi et al. (1977) ⇒ b = 0.277
c = 0

5.4 Crescimento / Adensamento
Cálculo da taxa de adensamento

dρ f d dT s
= (a exp (bT s + cT w )) = bρ f
dt dt dt

O fluxo de massa de adensamento é calculado por:

dρ f  dδ f  dT dT
md = δ f = b δ f  ρ f  = bm g
dt  dt  dx x =δ f dx x =δ f

Balanço de energia na dT q + mg L
=
superfície da camada de geada dx kf
x =δ f
5.4 Crescimento / Adensamento
Cálculo dos fluxos de massa de crescimento e adensamento

bm g q + m g2 L
md =
kf

Contudo, md = m − m g

Portanto, bδ f L  bδ f q 
m + 1 +
2 m g − m = 0
kf
g  k f 

1) A solução desta equação fornece duas raízes, uma positiva e outra negativa.
2) A raíz positiva fornece o fluxo de massa de crescimento.
3) O fluxo de massa de adensamento é então calculado pelo balanço global de massa.
5.4 Crescimento / Adensamento
Cálculo dos fluxos de calor e massa

q = (h c + h r )(T∞ − T s )
m = h m (ω ∞ − ω s )
23
h m = h c c p ,∞ Le Analogia de Lewis

h c = f (Re, Pr ) Placa Plana

(
h r = 0 ,9σ (T∞ + T s ) T∞2 + T s2 )
Quais são os valores de Ts e ωs ?
⇒ Solução das equações de difusão de calor e massa na camada de geada
5.4 Crescimento / Adensamento
Difusão de Massa

d 2ω
ρ∞ D f 2
+ ω& = 0
dx

difusão de vapor d’água geração/destruição de


para dentro da camada massa de vapor d’água
ω (x = δ f ) = ω s = ω sat (Ts ) devida à mudança de fase

δf
ω& = − ρ ∞ λω

=0
x dx x =0 ω (x = 0) = ω w = ω sat (Tw ) analogia com reação química
homogênea de 1ª ordem (Baerh
geada & Stephan, 2006)

d ω 2 λδ f2 ωs
Df = λω ω s = ω w cosh(Ha ) Ha ≡ = arccos h
dx 2 Df ωw
5.4 Crescimento / Adensamento
Difusividade Efetiva
ρ f − ρ ice
ε porosidade ε =
Df = D ρ v − ρ ice
τ
ε
tortuosidade τ =
1− 1− ε

difusividade do vapor no ar
[ ]
D cm 2 s = 0 ,136 ⋅ T − 14 ,042
(− 45 < T < 15 C )
o

(Nowitna River, Alaska)



Le ≡
ατ
(Número de Lewis)
5.4 Crescimento / Adensamento
Difusão de Calor

d 2T d 2ω
kf 2
+ LD f ρ ∞ 2
=0
dx dx
difusão mudança
de calor de fase
d 2T  λ 
kf = − L λρ ∞ ω w cosh  x 
dT dx 2  D 
kf
dx x =δ f
= q + mg L
 f 

δf k f [W mK ] = 0 ,132 + 3 ,13 ⋅ 10 −4 ρ f + 1,6 ⋅ 10 −7 ρ 2f


geada
x T ( x = 0) = Tw (50 < ρ < 400 kg m 3 )
f

q + Lm Df
Ts = Tw + δ f + Lρ ∞ ω w (1 − cosh Ha )
kf kf
5.4 Crescimento / Adensamento
Densidade da Geada
350

ρ f = a exp (bT s + cT w ) 300 +15%

Calculated frost density [kg/m³]


250
a = 270,3 -15%

POLO ⇒ b = 0,266 200
c = 0,0615

150

100

50
Hayashi et al. [12]
Proposed correlation
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Measured frost density [kg/m³]
5.4 Crescimento / Adensamento
Espessura da Camada de Geada

mg
δ f (t + ∆t ) = δ f (t ) + ∆t ⋅
ρf t

Integração de Euler com ∆t~10-3 segundos

Condições iniciais: δf = 1 µm e ρf = f (Ts=Tw)


5.4 Crescimento / Adensamento
Espessura da Camada de Geada
5
Tw = -4°C
Tw = -8°C T ∞ = 16°C
φ = 80%
4 Tw = -12°C
V = 0.7 m/s
Tw = -16°C
Predicted
Frost thickness [mm]

0
0 20 40 60 80 100 120

Time [min]
5.4 Crescimento / Adensamento
Perfil de Umidade
1.0
T ∞ = 16°C 15 min 30 min 60 min 120 min
φ = 80%
T w = -16°C
.

0.8
Dimensionless frost thickness

0.6

0.4

0.2

0.0
1.0 1.5 2.0 2.5
Humidity ratio [g/kg]
5.4 Crescimento / Adensamento
Perfil de Temperatura
1.0

T ∞ = 16°C
φ = 80%
.

0.8 T w = -16°C 120 min


60 min
Dimensionless frost thickness

30 min
0.6
15 min

0.4

0.2

0.0
-18 -16 -14 -12 -10 -8 -6
Temperature [°C]
5.4 Crescimento / Adensamento
Para mais informações...

1) K.S. Lee, W.S. Kim, T.H. Lee, A one-dimensional model for frost
formation on a cold flat surface, International Journal of Heat and Mass
Transfer, Vol. 40, 4359-4365, 1997

2) C.J.L. Hermes, R.O. Piucco, C. Melo, J.R. Barbosa Jr., A study of frost
growth and densification on flat surfaces, Experimental Thermal and
Fluid Science, 33 (2009) 371-379,
doi:10.1016/j.expthermflusci.2008.10.006
5.5 Geada em Trocadores de Calor
Balanços globais de massa e energia no trocador de calor
Hipóteses:

i) Espessura uniforme de geada


ii) Temperatura de evaporação constante

dy h cη o
= (ys − y)
dA m& c p P

y P
 h cη o Ao 
y out = y s − ( y s − y in ) exp − 
Massa ω Le2/3  m& c P 
 p 
Energia T 1
5.5 Geada em Trocadores de Calor
Cômputo das taxas de transferência de calor

  h cη o Ao 
y out − y in = ( y s − y in )1 − exp − 
  m& c P 
 p 

Calor sensível:
  h cη o Ao 
Q sen = m& c p (Ts − Tin )1 − exp  − 
  m& c p 
 
Calor latente:

  h cη o Ao 
Qlat = m& c p L(ω s − ω in )1 − exp  − 
  m& c Le 
2 3
 p 
5.5 Geada em Trocadores de Calor
Cômputo das taxas de crescimento e adensamento

Fluxo de crescimento:

bδ f L  bδ f Qsen  Qlat
2 
m + 1+  mg − =0
kf
g  k f Ao  LAo

Fluxo de adensamento:
Qlat
md = − mg
LAo

Temperatura na superfície:

Q sen + Q lat Df  ωs 
Ts = Tw + δ f + Lρ ∞ ω w  1 − 
k f Ao kf  ωw 
5.5 Geada em Trocadores de Calor
Perda de Carga no Trocador de Calor

m& 2 Ao
∆p = f 2
2 ρ in Amin Amin

Amin = H a Lt − Lt (Dt + 2 x s )N t − H a (δ a + 2 x s )N a

Qlat (t )
M (t + ∆t ) = M (t ) + ⋅ ∆t
L
(Integração de Euler)
5.5 Geada em Trocadores de Calor
Eficiência de Degelo
M (L + c p ∆T )
ηD =
W& dt∫ res

Exemplo: refrigerador frost-free

W& res ~ 200 W


t ~ 20 min
M ~ 100 g
fin tube ∆T ~ 30 K
c p = 2090 J/kg
structural L = 334000 J/kg
electrical fin
resistance η D ~ 16,5 %

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