ANÁLISE COMPARATIVA DA COBERTURA DECLARADA NO CAR UTILIZANDO
DADOS DO TCCERRADO, MAPIOMAS E UFLA-SICAR
Carlos H. Pires Luiz1, Janaína de A. Rocha 2, Bernardo Trovão 2, Leandro Biondo2, Rejane Mendes2,
Lilianna Mendes2
1
Serviço Florestal Brasileiro e Universidade de Brasília, cpiresluiz@gmail.com ; 2Serviço Florestal Brasileiro,
janaina.rocha@florestal.gov.br 2; bernardo.trovao@florestal.gov.br 2; leandro.biondo@florestal.gov.br 2;
rejane.mendes@florestal.gov.br 2; lilianna.gomes@florestal.gov.br 2
RESUMO
O CAR é uma ferramenta revolucionária para gestão das
informações ambientais no Brasil. No Bioma Cerrado,
projetos como o Cerrado Federal, contemplam ações de
fomento ao CAR de pequenas propriedades. A contratação
desse serviço é fiscalizada pela equipe técnica do Serviço
Florestal Brasileiro, gerando CAR com maior fidelidade às
características ambientais observadas no imóvel. Por esse
motivo, é esperado que os CAR pagos no âmbito dessas
iniciativas, apresentem melhor qualidade ambiental em
relação às demais declarações. Dentre os temas cadastrados,
a cobertura da terra é uma das que mais interferem no
diagnóstico de passivos ambientais. Por esse motivo, o
presente trabalho avaliou comparativamente a cobertura da
terra declarada em relação às bases de cobertura referência:
TerraClass Cerrado, MapBiomas e base UFLA-SICAR. O
resultado mostrou que a adequação da cobertura do solo nos
imóveis cadastrados através do Projeto Cerrado Federal é
maior que os cadastrados por demanda espontânea.
Palavras-chave — CAR, Projeto Cerrado Federal,
TerraClass
ABSTRACT
CAR is a revolutionary tool for managing
environmental information in Brazil. In the Cerrado Biome,
projects such as the Federal Cerrado, contemplate actions
to foster the CAR for small properties. The contracting of
this service is supervised by the Brazilian Forest Service
technical staff, generating CAR with more fidelity to the
environmental characteristics observed in the property. For
this reason, it is expected that CARs paid under these
initiatives will present better environmental quality than
other declarations. Among the registered themes, land cover
is one of the most interfering in the diagnosis of
environmental liabilities. For this reason, the present study
comparatively evaluated the declared land cover in relation
to the reference coverage bases such as TerraClass
Cerrado, MapBiomas and UFLA-SICAR base. The result
showed that the landcover adequacy in the properties
registered through the Federal Cerrado Project is higher
than those registered by spontaneous demand.
Key words — CAR, Project Cerrado Federal,
TerraClass
1. INTRODUÇÃO
No contexto ambiental de mudanças climáticas, é
crescente a preocupação dos orgãos gestores do meio
ambiente quanto ao cumprimento da legislação ambiental.
Iniciativas como o Projeto Cerrado Federal – PCF visam
minimizar os efeitos adversos das mudanças climáticas no
Cerrado através da gestão ambiental, regularização
ambiental rural e prevenção e combate a incêndios
florestais. O Projeto que é financiado pelo Department of
Environment, Food and Rural Affairs (Defra), do Governo
do Reino Unido e administrado pelo Banco Internacional
para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), do Grupo
Banco Mundial, é dividido em componentes que visam a
prevenção e controle de desmatamento, incêndios e o
fomento ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Nesse
contexto, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), é responsável
pela implementação do CAR em âmbito nacional, firmando
parcerias e criando as condições para o cumprimento do
Código Florestal Brasileiro.
O CAR enquanto ferramenta de gestão ambiental
apresenta-se como mecanismo inovador para o controle e
regularização dos passivos ambientais, uma vez que agrega
informações georeferenciadas dos imóveis, possuindo
mecanismos de verificação das informações ambientais
prestadas. Com isso, os orgãos gestores conseguem
mensurar os passivos das propriedades, e estabelecer formas
de recuperação ambiental [1]; [2]; [3].
Entre 2017 e 2018, o SFB, por meio do PCF, contratou
consultoria especializada de empresa para execução de CAR
em 19 municípios do Cerrado maranhense, conforme
localização apresentada na Figura 1. A qualidade desses
dados em termos de adequação do mapeamento da cobertura
da terra e Áreas de Preservação Permanente foi atestada pela
equipe técnica do SFB e por uma consultoria contratada
para fiscalização dos produtos entregues. O CAR enquanto
ato declaratório pode incorporar em um primeiro momento,
anterior a análise dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente,
716
algumas fragilidades como a declaração equivocada da
cobertura da terra, seja ela por falta de conhecimento
técnico, ou alguma intenção de mascarar algum passivo
frente à legislação ambiental.
Segundo [4], a cobertura da terra é o estado biofísico da
superfície da terra que pode ser observado diretamente ou
com dados de sensoriamento, como: água, solo exposto,
área construída, vegetação natural ou plantada, etc. O
avanço tecnológico tem proporcionado cada vez mais
ferramentas e possibilidades de obtenção de dados da
cobertura da terra, por meio do emprego de técnicas de
geoprocessamento agregadas ao uso de imagens de satélite,
técnicas de processamento de imagens, do sensoriamento
remoto (SR) e do uso de sistemas de informações
geográficas (SIG) [5]. Esse conjunto de ferramentas permite
o monitoramento das mudanças na cobertura da terra e
avaliação da adequação dos imóveis rurais quanto aos
requisitos da legislação ambiental.
Figura 1 - Localização dos municípios contemplados pelo
Projeto Cerrado Federal, componente CAR, no Maranhão.
No âmbito do CAR, a cobertura vegetal é declarada
sobre imagem de satélites recentes, na maior parte imagens
Rapideye, e, em alguns estados, as imagens disponíveis no
Google Earth, ficando a cargo do declarante a indicação das
classes de cobertura previstas: vegetação nativa, pousio e
área consolidada. Ocorre que por ser um ato declaratório, e
o cadastramento das informações demandarem
conhecimentos básicos de SR e interpretação de imagens,
alguns cadastros podem ter problema na declaração da
cobertura. Com intuito de mensurar a qualidade da cobertura
do solo declarada nos municípios do Projeto Cerrado
Federal no Maranhão, o presente trabalho tem como
objetivo avaliar comparativamente a qualidade da cobertura
vegetal declarada pela empresa contratada no Projeto e os
demais CAR cadastrados nos municípios que não fazem
parte dos CAR contratados pelo SFB.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A avaliação da qualidade da cobertura declarada nos
imóveis foi mensurada a partir da análise comparativa em
relação aos mapeamentos de cobertura referência
disponíveis: na base SICAR desenvolvido pela UFLA a
partir de imagens Rapideye dos anos 2012, 2013 e 2014,
imagens Landsat 8 de 2015 e imagens Sentinel-2 de 2016
[6], no Terraclass Cerrado de 2013 [7], que utilizou imagens
Landsat 8 e do MapBiomas [8] que utiliza imagens Landsat
disponíveis na plataforma Google Earth Engine.
A avaliação das classificações declaradas em relação às
classificações referência é representada esquematicamente
na Figura 2.
Figura 2 - Metodologia de avaliação comparativa entre
cobertura referência e cobertura declarada .
Em ambiente SIG, os dados foram sobrepostos
considerando a reclassificação de todas as informações para
as três classes de cobertura previstas no CAR: área
consolidada, vegetação nativa e pousio. A partir dessa
reclassificação, todos os imóveis foram analisados
considerando as ressalvas apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Reclassificação da cobertura para análise
comparativa da classificação declarada no CAR.
Prodes Agricultura, Área urbanizada, Área
717
 Mineração, Pastagem, Consolidada
Silvicultura e Solo Exposto
Natural / natural não Veg. nativa
florestado
Agropecuária, Área não Área
vegetada Consolidada
MapBiomas
Floresta, Formação natural Veg. nativa
não florestada

Não foi necessário reclassificar a cobertura do solo

desenvolvida pela UFLA, uma vez que essas já são as
classes do CAR.

3. RESULTADOS

Em agosto/2018 havia 16.177 CAR ativos nos 19

municípios atendidos por essa etapa do Projeto Cerrado
Federal. Desse total, 5.600 foram cadastrados no âmbito do
Projeto, correspondendo a pouco mais de 34% dos
cadastros.

A análise comparativa em relação à classificação declarada

mostrou que os cadastros que não estão contemplados pelo
PCF, possuem maior adesão às classificações do TCCerrado
e do MapBiomas (Figura 3).
Figura 4 - Análise comparativa cobertura declarada x
cobertura TCCerrado, Mapbiomas e UFLA-SICAR para
imóveis cadastros pelo PCF.

A sobreposição espacial entre as camadas conforme

proposta metodológica mostrou que o nível de ajuste da
cobertura declarada nos imóveis não contemplados pelo
PCF, varia em torno de 70% comparativamente às bases de
cobertura existentes, conforme dados apresentados na
Tabela 2.

Tabela 2 - % de ajuste da cobertura declarada x cobertura

referência.
Ajuste RVN x AUC AUC x RVN
Análise comparativa
(%) (%) (%)
Declarada x
TCCerrado 71,76 24,93 3,31
Declarada x
MapBiomas 69,69 24,34 5,97
Declarada x UFLA-
SICAR 68,51 25,65 5,84
Média 69,98 24,97 5,04
A análise da confusão entre RVN e AUC, mostra que em
média, 24% dos imóveis declararam existir AUC, mas os
Figura 3 - Análise comparativa cobertura declarada x mapeamentos de cobertura referência indicaram ser RVN. A
cobertura TCCerrado, Mapbiomas e UFLA-SICAR para confusão em direção oposta ficou em torno de 5%.
imóveis cadastros por demanda espontânea.
Levando em consideração apenas os imóveis cadastrados A qualidade da cobertura dos imóveis cadastrados no PCF
pela iniciativa do PCF, o ajuste foi maior com a cobertura (Tabela 3) se mostrou superior aos de demanda espontânea,
elaborada pela UFLA-SICAR (Figura 4). chegando a coincidir em 83% com a cobertura referência da
UFLA, e ficando acima de 70% em relação às bases

718
 MapBiomas e TCCerrado. A análise de confusão entre RVN
e AUC apresentou menos problemas na comparação com a
base UFLA, ficando as áreas declaradas como AUC e no
mapeamento referência RVN, em torno de 12%, com
aumento caso comparada com a cobertura do MapBiomas
(16%) e TCCerrado (quase 21%).
Tabela 3 - % de ajuste da cobertura declarada nos imóveis do
PCF x cobertura referência.
Ajuste RVN x AUC x
Análise comparativa
(%) AUC (%) RVN (%)
Proj. Cerrado Fed. X
TCCerrado 73,69 20,96 5,35
Proj. Cerrado Fed. X
MapBiomas 71,65 16,19 12,16
Proj. Cerrado Fed. X
UFLA-SICAR 83,08 12,25 4,67
Média 76,14 16,46 7,39
4. DISCUSSÃO
Os percentuais de ajuste da cobertura do solo nos imóveis
rurais analisados apresentaram adequação acima de 70% em
comparação a três diferentes bases de cobertura do solo, isso
mesmo desconsiderando a distinção nos imóveis cadastrados
por demanda espontânea e aqueles do PCF, que apresentam
maior ajuste (83 % em relação à base UFLA). Isso mostra
que os dados declarados no CAR, mesmo os de demanda
espontânea, no caso dos 19 municípios analisados,
mostraram um bom nível de ajuste. Esse fato reforça a
importância do CAR como uma ferramenta de gestão
ambiental, apresentando informações valiosas a cerca da
regualarização ambiental dos imóveis rurais.
O percentual de confusão entre RVN e AUC está associado
à dificuldade de separar algumas tipologias campestres de
Cerrado, demandando sistemas sensores com maior
resolução radiométrica. Em alguns casos pode existir ainda
a tentativa por parte de alguns produtores em mascarar
algum passivo, indicando mais áreas de RVN do que
realmente existe.
A metodologia adotada, embora simples, se mostrou
adequada para a identificação do percentual de ajuste entras
coberturas declaradas e referência.
Iniciativas de fomento ao CAR, como PCF, além de ampliar
o conhecimento sobre a legislação ambiental, contribuem
para a melhora da qualidade das informações do CAR,
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
minimizando as etapas de análise das secretarias estaduais
de meio ambiente e trazendo mais segurança ao pequeno
proprietário, que na maioria das vezes não domina os meios
e conhecimento para uma correta declaração das
informações ambientais do seu imóvel.
6. REFERÊNCIAS
[1] SOARES-FILHO, B., RAJÃO, R., MACEDO, M.,
CARNEIRO, A., COSTA, W., COE, M., RODRIGUES, H.,
ALENCAR, A. Cracking Brazil's Forest Code. Science. v. 344, p.
363–364, 2014.
[2] GIBBS, H.K.; RAUSCH, L.; MUNGER, J.; SCHELLY, I.;
MORTON, D.C.; NOOJIPADY, P.; Soares-Filho, B.; BARRETO,
P.; MICOL, L.; WALKER, N.F. Brazil’s soymoratorium. Science,
v. 347, p. 377–378, 2015.
[3] SPAROVEK, G., ANTONIAZZI, L. B., BARRETTO, A.,
BARROS, A. C., BENEVIDES, M., BERNDES, G., NOGUEIRA,
M. P. Sustainable bioproducts in Brazil: Disputes and agreements
on a common ground agenda for agriculture and nature protection.
Biofuels, Bioproducts and Biorefining, v. 10, p. 204–221, 2016.
[4] TURNER, B. L. II; MEYER, B. L. Global land use and land
cover change: an overview. In: ____. (Ed.). Changes in land use
and land cover: a global perspective. Cambridge: Cambridge
University Press, 1994. p. 3–10.
[5] FUJACO, M. A. G.; LEITE, M. G. P.; MESSIAS, M. C. T. B.
Análise multitemporal das mudanças no uso e ocupação do Parque
Estadual do Itacolomi (MG) através de técnicas de
geoprocessamento. Revista da Escola de Minas, v. 63, n. 4, p. 695–
701, out./dez. 2010.
[6]
[7] BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Mapeamento de uso e
cobertura do Cerrado: Projeto TerraClass Cerrado 2013. Brasília:
MMA, 2015.
[8] Projeto MapBiomas – Coleção 2.3 da Série Anual de Mapas de
Cobertura e Uso de Solo do Brasil, acessado em Ago/2018.
Disponível em:
<http://mapbiomas.org/pages/database/mapbiomas_collection>
719