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Peter H. May
Paula Bernasconi
Sven Wunder
Ruben Lubowski
PUBLICAÇÃO OCASIONAL 146
Peter H. May
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Paula Bernasconi
Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Sven Wunder
Centro International de Pesquisa Florestal (CIFOR)
Ruben Lubowski
Environmental Defense Fund (EDF)
O conteúdo desta publicação é licenciado sob Creative Commons Attribution 4.0 International (CC
BY 4.0), http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
ISBN 978-602-387-024-0
DOI: 10.17528/cifor/005893
May P.H, Bernasconi P, Wunder S e Lubowski R. 2015. Cotas de reserva ambiental no novo código florestal
brasileiro: Uma avaliação ex-ante. Publicação Ocasional 146. Bogor, Indonesia: CIFOR.
Tradução de: May PH, Bernasconi P, Wunder S and Lubowski R. 2015. Environmental reserve quotas in Brazil’s
new forest legislation: An ex ante appraisal. Occasional Paper 131. Bogor, Indonesia: CIFOR.
CIFOR
Jl. CIFOR, Situ Gede
Bogor Barat 16115
Indonesia
cifor.org
Gostaríamos de agradecer a todos os doadores que apoiaram esta pesquisa através de suas contribuições ao
Fundo do CGIAR. Para uma lista dos doadores do Fundo, veja: http://www.cgiar.org/who-we-are/cgiar-fund/
fund-donors-2/
Todos os argumentos expostos nesta publicação são atribuídos aos autores e não necessariamente representam
a posição do CIFOR, instituições representadas pelos autores ou financiadores desta publicação.
Sumário
Agradecimentos iv
Resumo Executivo v
5 Resumo e conclusões 32
5.1 Considerações para pesquisas posteriores 35
6 Referências 36
Liste figuras
Figuras
1 Funções hipotéticas de TDR no contexto da legislação florestal brasileira. 5
2 Comparação dos regimes de TDR de zonas simples e dual e suas respectivas vantagens. 9
3 Site da BVTrade, uma plataforma online para negociação de CRA e outros
ativos ambientais. 25
Agradecimentos
O Código Florestal Brasileiro (CFB), criado em agricultura em áreas de valor agrícola mais alto.
1965, estabeleceu que todas as propriedades rurais Permitir a compensação através da conservação
privadas deveriam manter uma proporção fixa em outros locais pode potencialmente possibilitar
de sua área com vegetação natural (manejada ou uma produção agrícola mais eficiente e menos
não) como “reserva legal”, sendo que a proporção fragmentada, bem como a conservação da floresta
seria diferenciada por bioma (variando de 20% a menores custos e com menos fragmentação, em
na Mata Atlântica a 80% nas áreas florestais do comparação com a exigência legal padrão em que
bioma Amazônia). Os proprietários de terras cada propriedade tem que manter a vegetação até
muitas vezes ignoraram a lei que tem sido os limites legais com base nas especificidades desta
também muito difícil de ser aplicada e cobrada. mesma propriedade.
Para o pleno cumprimento da lei ser alcançado
exigiria um esforço de restauração com altos Mesmo que a inclusão das CRA tenha um
custos potenciais em áreas já convertidas para a grande apelo intuitivo como um meio de
agricultura. As recentes alterações no CFB, através alcançar uma maior compatibilidade com a
da nova legislação florestal de 2012, trouxeram lei a um menor custo, existem controvérsias a
oportunidades para os proprietários de terras que, respeito dos potenciais resultados esperados da
até 22 de julho de 2008, não cumpriam com os sua implementação. Neste estudo, identificamos
requisitos legais de conservação. Eles teriam a questões-chave para a promoção de um mercado
possibilidade de “compensar” o déficit de suas para CRA com resultados ambientalmente
reservas legais através da compra de cotas de eficazes, economicamente eficientes e socialmente
propriedades com excedentes de vegetação natural. equitativos. Para isso, revisamos experiências
Essas últimas manteriam em troca a vegetação internacionais com instrumentos econômicos
nativa além dos requisitos mínimos exigidos para semelhantes, bem como estudos brasileiros
a reserva legal, ou fariam a restauração de áreas que simulam os potenciais resultados da CRA.
que lhe permitissem ultrapassar os requisitos legais Entrevistas com os principais atores a respeito
mínimos no futuro. do instrumento complementam a revisão da
literatura. Por fim, apresentamos uma síntese
Este artigo discute questões críticas para subsidiar a avaliando a contribuição de nossos resultados para
implementação deste instrumento de compensação a implementação dessa política.
chamado de “Cotas de Reserva Ambiental” (CRA).
Examinamos as perspectivas de um mercado de O estudo começa fornecendo uma visão geral dos
CRA em termos de sua eficácia relativa para a parâmetros estabelecidos pelo Código Florestal
conservação e desenvolvimento, eficiência no uso original, e as opções de flexibilização introduzidas
de recursos e justiça social, bem como potenciais pela nova legislação florestal (Lei nº 12.651 /
obstáculos para a sua implementação que devem 2012). Embora a permissão da compensação do
ser superados para que o instrumento opere déficit de reserva legal em outras propriedades
em escala. A lógica econômica por trás desse com reservas excedentes tenha sido introduzida
instrumento deriva de custos de oportunidade da em modificações anteriores na lei, a medida era
terra com diferentes rentabilidades em diferentes raramente aplicada. A aplicação deste mecanismo
usos do solo, tornando menos oneroso conservar de flexibilidade foi prejudicada principalmente
ou restaurar florestas em áreas com rendimentos pela falta de exigência e aplicação do Código
agrícolas mais baixos, enquanto mantêm a Florestal em geral, tornando desnecessário para os
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proprietários cumprirem a sua obrigação legal contribuirão no lado da demanda, uma vez que
tanto in loco como em outros locais. A aplicação o atual CFB as isenta da compensação de déficits
do mecanismo de compensação foi igualmente anteriores à linha de base de 2008 (considerada
limitada pela restrição no escopo das negociações, como “anistia”).
uma vez que a lei exigia que as elas fossem feitas
entre propriedades localizadas na mesma bacia Nossa revisão da literatura pertinente sugere que os
hidrográfica, reduzindo, assim, as oportunidades instrumentos de TDR dependem de um ambiente
de trocas mutuamente benéficas. O novo regulatório prévio dentro do qual os direitos de
Código Florestal prevê a criação de um registro propriedade estejam bem estabelecidos, e no qual
ambiental georreferenciado que vai facilitar as restrições de uso da terra sejam rigorosamente
o monitoramento da regularidade ambiental aplicadas. Por isso, as seguintes precondições
das propriedades (o Cadastro Ambiental Rural devem ser consideradas para a boa execução da
- CAR), para o qual se prevê uma aplicação CRA: i) direitos de propriedade seguros para
mais rigorosa da lei. É previsto que planos ambas as áreas de oferta e de demanda; ii) robusto
estatais e plataformas para negociação venham monitoramento e efetiva aplicação da lei sobre
a regular e controlar a compra e venda das as áreas de conservação; e iii) custos de transação
reservas excedentes entre proprietários de terras, razoavelmente baixos para o funcionamento do
enquanto as trocas comerciais estão surgindo para sistema de negociação.
fazer funcionar as engrenagens do mecanismo
de compensação. Dentre esses três fatores, os direitos de propriedade
da terra (i) seriam o maior obstáculo, especialmente
Experiências em outros países, principalmente em áreas com demandas históricas de regularização
nos Estados Unidos, com instrumentos fundiária e disputas sobre a propriedade da terra,
econômicos tais como “direitos de como em algumas regiões da Amazônia. A lentidão
desenvolvimento negociáveis” (Tradable no progresso do Cadastro Ambiental Rural (CAR),
Development Rights - TDR) e “bancos de bem como a insegurança da falta de regularização
conservação” (conservation banking) sugerem fundiária, colocarão em risco a participação nas
lições gerais que podem subsidiar o processo de CRA principalmente para assentamentos rurais não
implementação da CRA, já que o mecanismo emancipados, uma vez que tanto o CAR como o
de CRA pode ser considerado um caso especial título legal da terra são requisitos para a emissão
de TDR. A literatura sobre TDR geralmente de CRA.
se refere a negociações entre propriedades com
áreas “não desenvolvidas” (por exemplo, com Em segundo lugar, apesar dos progressos recentes,
florestas excedentes) que constituem as áreas de a exigência de um monitoramento da aplicação
oferta (ou de “envio”) e propriedades com áreas das restrições ambientais exigidas em lei (ii)
que procuram comprar os direitos adicionais de é sem dúvida o gargalo mais importante para
desenvolvimento (por exemplo, para déficits de o funcionamento do sistema CRA em escala
área florestal) referidas como áreas de demanda nacional: se no passado houve falha na tentativa
(ou de “recebimento”). Os proprietários em de exigir a aplicação de forma consistente de
áreas de demanda compensam aqueles em áreas um simples sistema baseado em comando e
de oferta, de modo a criar um zoneamento que controle, como um sistema sofisticado incluindo
lhes permita intensificar o desenvolvimento o comércio de cotas (que é mais difícil de se
em algumas áreas, e cumprir com as exigências monitorar) teria melhor desempenho? Quais são
de conservação em outras. O que diferencia as mudanças administrativas e os investimentos
o mecanismo das CRA em comparação com em infraestrutura necessários para permitir
os programas genéricos de TDR é o fato de que o sistema funcione?; e esses investimentos
que CRA é apenas um instrumento auxiliar previstos atualmente são viáveis, em um horizonte
para o cumprimento de déficits históricos, e temporal realista? Avanços nas tecnologias de
não permite compensar futuros déficits (de sensoriamento remoto têm melhorado cada vez
futuros desmatamentos). Outro diferencial do mais a viabilidade do monitoramento, mas eles
mecanismo de CRA na legislação atual é que as terão de ser expandidos para os demais biomas
pequenas propriedades (até 4 módulos fiscais) além da Amazônia para permitir um sistema
podem contribuir para a oferta de CRA, mas não de monitoramento verdadeiramente de escala
| vii
Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
Os requisitos legais que regem o uso da terra no 50% para 80% por meio de medida provisória
Brasil são encontrados a partir de 1930, enquanto (MP No.1.605-18, de 11 de dezembro de 1997).
que o Código Florestal (CFB) foi promulgado A Reserva Legal foi posteriormente mantida nesse
pela primeira vez em 1965 (Lei nº 4.771 / 65). nível através da renovação sucessiva de medidas
Em sua primeira versão, o CFB tinha como provisórias do executivo. Essa foi uma medida
objetivo proteger as reservas florestais em áreas impopular entre os proprietários de terras, vista
de assentamento humano, de modo a garantir o como contradizendo os direitos adquiridos de uso
abastecimento de madeira e lenha para satisfazer as da terra, e assim, o CFB raramente foi observado,
necessidades locais. Em formulações posteriores, a não só na Amazônia, mas no país como um
lei adquiriu uma conotação mais voltada à proteção todo (Sparovek et al., 2012). Os proprietários de
ambiental, proporcionando meios para assegurar terras preferiram acumular passivos ou multas
as exigências da Constituição Federal sobre a ao invés de agir para restaurar as RL desmatadas
função social da terra (CFB, Art. No. 186). O ou degradadas, mesmo quando a lei ofereceu
CFB determinou que cada propriedade mantenha um horizonte de tempo aparentemente infinito
parte de sua área total com florestas, com a cota (30 anos) para o seu cumprimento. A falta de
necessária diferenciada de acordo com os principais tecnologia ou insumos para a restauração, os
biomas do país (Amazônia, Cerrado, Mata custos de oportunidade e a ausência de aplicação
Atlântica, Caatinga e Pampa)1. A área de florestas rigorosa do CFB contribuíram para o seu
a ser mantida é denominada de “Reserva Legal” descumprimento. As ações de fiscalização para
(RL). A lei também exige que as áreas de matas reduzir o desmatamento foram dramaticamente
ciliares, encostas íngremes e topos de morros sejam ampliadas na segunda metade da década passada,
mantidas como “Áreas de Preservação Permanente” ajudando a alcançar uma redução de 75% nas taxas
(APP). Todas essas áreas foram isentas do Imposto de desmatamento na Amazônia (para uma revisão
Territorial Rural (ITR), embora geralmente os sobre o assunto, ver Nepstad et al. 2014). Porém,
baixos valores do imposto, até agora, tenham a reação ruralista frente às rigorosas medidas
tornado a isenção fiscal um incentivo mínimo para adotadas levou à insistência para mudar o CFB
que os proprietários conservem as RLs e APPs. (Soares-Filho et al., 2014).
Desde a sua aprovação inicial o CFB sofreu Em 2012, depois de mais de uma década de
alterações substanciais, mas o princípio resistência e de não cumprimento da lei por
fundamental de que cada propriedade deve interesses do agronegócio, a demanda ruralista
proteger a sua cota de vegetação nativa como RL para fazer recuar a regulamentação sobre o uso
permanece. Em 1997, em resposta à preocupação da terra sob o CFB prevaleceu parcialmente. No
global com o aumento do desmatamento, a RL entanto, importantes proteções ambientais foram
nas áreas florestais da Amazônia foi elevada de mantidas e novos mecanismos foram introduzidos,
o que potencialmente poderia induzir ao maior
cumprimento da lei. A nova legislação brasileira
1 Nas áreas florestais da Amazônia Legal, inicialmente era de uso do solo (Lei nº 12.651 / 2012) mantém as
necessário que os proprietários de terras protegessem 50% da mesmas exigências de reservas proporcionais como
floresta remanescente em suas propriedades, enquanto que
nas áreas de Cerrado na Amazônia Legal esta proporção foi
na legislação anterior, mas concedeu uma anistia
reduzida para 35%. Nas demais áreas do país era exigida a geral nas propriedades privadas com até quatro
proteção de 20%. “módulos fiscais”, para todos os desmatamentos
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ilegais realizados antes de 22 de julho de 2008 terras no órgão ambiental estadual, delineando
(artigo 67)2. Todas as propriedades - pequenas a RL e a APP georreferenciadas em imagens
e grandes - também foram isentas de multas de satélite. Os proprietários ou “posseiros” de
associadas ao desmatamento ilegal até esta mesma propriedades com déficit de RL, então, são
data. No entanto, foi mantida a exigência de responsáveis por determinar o modo como
que, para as propriedades maiores do que quatro eles planejam cumprir a legislação ambiental,
módulos fiscais, os déficits históricos devem ser para servir de base para o monitoramento
corrigidos ou “regularizados” no futuro. do cumprimento. Para fins de conformidade
ambiental, o CAR, a RL e outras exigências do
De acordo com estimativas de Soares-Filho (2013), Código Florestal se aplicam a todas as propriedades
das cerca de 5 milhões de fazendas brasileiras, 92% rurais (e podem ser referidos como critérios para
têm área de até quatro módulos fiscais, embora concessão de empréstimos por fontes de crédito
estas representem apenas 30% da área total. O ou como critérios de aquisição por frigoríficos
artigo 67 do CFB 2012 reduziu o passivo de RL ou outros compradores privados de commodities
em cerca 17Mha, principalmente nas propriedades agrícolas). Embora o CAR seja obrigatório para
com menos de quatro módulos fiscais, onde não todos os tipos de propriedade, a emissão de CRA é
é mais necessário compensar os déficits de RL aberta apenas aos proprietários de terras tituladas.
incorridos antes de 22 de julho de 2008. No total, O CAR teve sua origem em instrumentos de
a nova legislação florestal reduziu a área estimada licenciamento adotados nos estados de Mato
com déficit de RL em 58%, de 50 ± 6 a 21 ± Grosso e Pará, na Amazônia brasileira, como
0,6Mha. Ao mesmo tempo, a nova lei reduziu ferramenta para o cumprimento do CFB. Estes
as APPs pela redefinição de sua largura mínima sistemas estaduais mostraram-se promissores
a partir das margens de cursos de água, e pela como meios para legitimar procedimentos de
exclusão da exigência de que a vegetação nativa licenciamento e monitoramento remoto, embora
deve ser mantida no topo dos morros, respondendo eles não tenham reduzido significativamente o
por outra redução na área de proteção exigida, desmatamento (Azevedo, 2009; Pires, 2013).
estimada em 6Mha. Como resultado da experiência com esses sistemas
experimentais, o cadastramento foi adotado em
Em um esforço para neutralizar as dificuldades todo o país como um elemento central da nova
anteriores para o seu cumprimento, a nova legislação florestal, que também acrescentou
legislação criou o Cadastro Ambiental Rural outros instrumentos para amarrar o CAR a
(CAR), que exige que todos os proprietários ou ações específicas dos proprietários de terras para
“posseiros”3 de propriedades rurais registrem suas cumprimento das exigências legais da RL e APP.
compensação poderia ser feita diretamente pela parte de suas propriedades, não podem
compra de servidões florestais permanentes ou desmatar legalmente essas áreas remanescentes
temporárias em uma outra propriedade para no futuro. Porém, os pequenos agricultores
compensar o déficit, ou através da aquisição das estão autorizados a emitir CRA em até 100%
chamadas Cotas de Reserva Ambiental (CRA). das florestas remanescentes (fora de APPs). No
O sistema de CRA permitiria que proprietários entanto, a partir de 22 de julho de 2008, todas
de terras dentro do mesmo bioma negociassem as propriedades privadas, grandes ou pequenas,
reservas excedentes entre si. Tal instrumento estão vinculadas às percentagens de reserva legal
foi incluído no CFB anterior, sob o nome de em seus respectivos biomas. Além disso, a partir
“Cotas de Reserva Florestal”. No entanto, a dessa data em diante, todos os proprietários de
sua implementação foi extremamente limitada, terras que reduzirem a vegetação nativa para além
entre outros fatores, porque só foram permitidas dos limites legais são obrigados a retornar para
compensações dentro da mesma bacia hidrográfica, a legalidade pela restauração dessas áreas, sem
o que restringiu severamente as possibilidades possibilidade de compensá-las comprando CRA.
de negociação. De nosso conhecimento, os Assim, as CRA são apenas um instrumento para
resultados globais do sistema de cotas no CFB auxiliar o cumprimento de déficits históricos
anterior não foram avaliados.4 Uma vez que havia (e não de futuros), e os pequenos agricultores
pouca ameaça real e tangível de uma aplicação podem contribuir para a oferta de CRA, mas
consistente das restrições do antigo CFB, poucos não contribuirão para a demanda por CRA sob o
produtores estavam dispostos a restaurar suas atual CFB.
propriedades ou a compensar seus passivos com
ativos de conformidade ambiental de baixo custo, O registro ambiental pelo CAR, estabelecido
disponíveis em propriedades em outras localidades. através da nova legislação florestal brasileira,
junto com a exigência para o desenvolvimento
Sob a nova legislação florestal, o superávit de um programa estadual de regularização
legalmente “desmatável” é a área de floresta acima ambiental (PRA), define o quadro no qual se
das exigências da RL (fixados entre 20% a 80%, espera que o esquema de CRA opere. O Sistema
de acordo com o bioma), que o proprietário do de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), um
imóvel pode derrubar legalmente. Na região sistema georreferenciado baseado na internet,
amazônica, algumas áreas tiveram suas exigências foi desenvolvido pelo Ministério do Meio
de RL reduzidas de 80% para 50%, devido Ambiente e replicado pelos estados. O sistema
à promulgação do zoneamento ecológico- permitirá o cadastro de mais de 5 milhões de
econômico. Tais propriedades são habilitadas a propriedades rurais, melhorando a transparência
emitir CRA a partir da área entre 50% e 80%. e fornecendo um caminho para a conformidade
Os proprietários de terras em propriedades com ambiental. O sistema é operado on-line e
até quatro módulos fiscais com déficit de florestas calcula automaticamente os passivos legais,
gerados antes de 22 de julho de 2008 foram bastando simplesmente carregar os limites
desonerados da obrigação de recuperar a floresta georreferenciados das propriedades e demarcando
ou compensar esses déficits. No entanto, esses os corpos d’água e remanescentes florestais.
pequenos agricultores que tinham desmatado Espera-se que esta ferramenta automatizada
mais do que o limite legal na época, mas ainda facilite a demarcação de áreas potencialmente
têm áreas de florestas remanescentes em qualquer negociáveis e a identificação de mudanças no
uso da terra, reduzindo assim os custos de
monitoramento e cumprimento da lei. Espera-
4 Muitos poucos proprietários de terras trouxeram suas se que, assim, o SICAR também facilite o
propriedades para a legalidade através de compensação
em outras propriedades; por exemplo, entre 1999 e 2007, mercado para CRA. Embora ainda existam
apenas cinco desses pedidos foram processados pelo órgão inúmeras incertezas sobre os procedimentos de
ambiental do Mato Grosso (Azevedo, 2009). O Estado do registro para títulos de CRA, um decreto federal
Mato Grosso também tentou estabelecer um fundo para o (Decreto nº 7.803 / 2012) e um instrumento
qual os proprietários de terras poderiam contribuir como normativo do Ministério do Meio Ambiente
compensação pelo desmatamento excessivo das áreas florestais.
O fundo, então, seria utilizado para custear as despesas de
(Instrução Normativa nº 2, de 5 de maio de
regularização de propriedades privadas em áreas protegidas. 2014) esclareceram alguns procedimentos.
Contudo, o Ministério do Meio Ambiente rejeitou a criação Alguns estados já aprovaram legislação
desse fundo (Ibid.: p 267). complementar para a implementação desse
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estatuto, incluindo os procedimentos para registro vai diminuir - na pior das hipóteses, praticamente
e negociações.5 No entanto, há uma questão-chave a zero. Desta forma, esse “ar quente” vai conseguir
sobre a temporalidade: quando este cadastro de esvaziar tanto o valor potencial de mercado quanto
propriedade estaria suficientemente avançado para a eficácia ecológica do mecanismo de CRA (Soares-
servir como um instrumento (pré-condicionado) Filho et al., 2014).
para implementação das CRA em grande escala?
A velocidade de implementação do CAR é muito O novo CFB estipula que as CRA também podem
desigual entre os estados, especialmente em ser emitidas para regularizar propriedades privadas
algumas potenciais áreas de oferta da Amazônia, em “Unidades de Conservação” (UC) passíveis
onde a posse da terra não é clara e provavelmente de regularização fundiária. Os proprietários de
vai inibir a participação nas CRA - da mesma terras privadas no interior de áreas que o governo
forma que inibe a implementação de outros designou como UC, em teoria, deveriam receber
instrumentos de gestão territorial baseados em uma compensação pela sua perda, mas este tipo
áreas, tal como os pagamentos por serviços de processo tem enfrentado morosidade para ser
ambientais (PSA) (Börner et al. 2010). concluído. O potencial para vender CRA destas
terras poderia gerar receitas que permitiriam que o
governo liquidasse seus débitos relacionados com
1.1 Potenciais benefícios das CRA estas terras e regularizasse a integração a unidades
de conservação. Embora potencialmente útil
Instrumentos econômicos como as CRA exigem para reforçar o estado de conservação dessas áreas
que determinadas pré-condições sejam alcançadas a protegidas e, portanto, benéfica para a conservação
fim de funcionarem de forma eficaz. A posse segura da biodiversidade no longo prazo, a possibilidade
e bem demarcada da terra (regularização fundiária) de emissão de CRA dentro de áreas protegidas
é uma delas. Mas talvez a questão mais importante como UC aumentaria mais ainda o escopo das
para a implementação generalizada das CRA negociações, e, assim, colocaria pressão sobre o
é se o nível de fiscalização do uso da terra e do valor de mercado das cotas de reserva.
cumprimento com a RL - que estimula diretamente
os incentivos para CRA - e, consequentemente, as Por outro lado, se fôssemos considerar como único
oportunidades para as negociações, serão realmente objetivo alcançar baixos custos de regularização
suficientes para estimular um mercado. ambiental para proprietários de terras com
passivos de RL, o aumento da oferta de excedentes
Restrições geográficas sobre transações (ou a florestais seria bem-vindo. Deste modo, o objetivo
falta delas) serão um aspecto crucial da eficácia de redução de custos de regularização das CRA
deste instrumento. Na maior parte das regiões da apresenta importantes trade-offs com os objetivos
Amazônia e do Cerrado, por exemplo, ainda há de conservação, se estes não estiverem claramente
uma grande quantidade de floresta intacta, maior definidos. A questão crucial para a formulação
do que as restrições incorporadas na legislação de políticas nacionais pode, assim, alcançar um
florestal. Grande parte dessa área florestal, adequado equilíbrio entre a oferta e a procura
especialmente em áreas menos acessíveis, pode não de cotas, de modo que a compensação possa se
estar sob ameaça iminente de ser desmatada. Isto tornar parte da solução para alcançar as metas de
tem o potencial para criar o que alguns chamam de conservação e os objetivos de redução de custos de
“ar quente” no mercado potencial de CRA, o que forma integrada.
significa que os proprietários poderiam compensar
seu passivo de RL através da compra de CRA Outro aspecto crítico do instrumento das CRA
de terras que, embora legalmente desmatáveis, é a complexidade institucional das regras para o
na prática não estão ameaçadas de vir a sofrer registo de terras disponíveis para a negociação, o
desmatamento. Tal “ar quente” também vai que poderia adicionar múltiplas camadas de custos
aumentar a oferta e, portanto, o preço das CRA de transação e facilmente sufocar o instrumento.
No entanto, a intenção do governo é de introduzir
um incentivo para facilitar o cumprimento da
5 O estado do Mato Grosso do Sul aprovou recentemente nova legislação, e, embora as CRA não tragam
um decreto que regulamenta a nova legislação florestal,
estabelecendo as bases para a criação de títulos para permitir ganho monetário líquido para os proprietários
as negociações de CRA (BVRio, 2014). de terras em conjunto (as transações entre áreas
Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro | 5
Painel 1
Painel 2
de oferta e de “recebimento” de CRA apresentam as CRA possam servir como um estímulo mais
saldo líquido igual a zero), ela representa uma forte para a conservação, pode ser necessário
oportunidade através da redução dos custos de complementá-la com outros incentivos (crédito,
regularização para aqueles em situação de déficit PSA, etc.). Em teoria o mecanismo de CRA serve
e fornece incentivos positivos para aqueles que para produzir ganhos de eficiência econômica,
conservaram além do exigido - seja por intenção ao reduzir os custos de regularização enquanto
deliberada ou por inação. No entanto, para que simultaneamente atinge um nível fixo de benefícios
6 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
ambientais. No entanto, para que isso funcione amplamente adotados pelos governos locais
na prática, certas restrições de negociações de vem nos Estados Unidos e em outros países. Neste
ser implementadas para evitar que o mecanismo contexto, são descritas lições gerais que se aplicam
alcance o benefício de redução de custos com universalmente a este tipo de instrumento, que
um ônus elevado, ao enfraquecer os resultados de podem ser adequadamente aplicadas no contexto
conservação ambiental. Intervenções adicionais brasileiro. Então, resenhamos a recente literatura
também poderão ser necessárias se o objetivo for pertinente focada no funcionamento potencial
aumentar a participação e os benefícios para os de instrumentos similares ao de CRA no Brasil,
pequenos agricultores, que de outra forma terão no que diz respeito à sua eficácia relativa para a
dificuldades em acessar o mercado, apesar das conservação e desenvolvimento, à eficiência no
provisões especiais dispensadas a eles no novo uso de recursos e de justiça social, bem como as
Código Florestal. possíveis barreiras para sua implementação, que
terão de ser superadas para operar em uma escala
A seguir, descrevemos as origens do mecanismo de adequada e a um custo razoável. A Figura 1,
CRA, e as suas raízes na família de instrumentos abaixo, apresenta o conceito de compensação de
de direitos de desenvolvimento negociáveis RL em termos hipotéticos, aplicável ao cenário
(TDR). Tais instrumentos de TDR foram brasileiro (Chomitz, 2004).
2 Experiências de TDR na gestão do
uso da terra
2.1 Origem dos TDRs como da terra como um recurso natural básico e valioso
instrumento de desenvolvimento “(Lei Geral da Cidade § 20-f(2), citado por
urbano Cuomo & Perales, 2011).
direitos para expandir o uso da terra são chamadas diferentes. Assim, os proprietários podem desejar
de áreas de demanda (”recebimento”). Áreas de expandir seus direitos de uso comprando-os de
oferta tipicamente são reservas naturais, cabeceiras outros usuários da terra que concordam em manter
de bacias hidrográficas, áreas ambientalmente áreas de conservação intactas. Esse tipo de sistema
sensíveis, trilhas e outros recursos históricos, é adequado para a conservação de uma quantidade
recreativos e culturais, bem como espaços abertos mínima de florestas entre muitos usuários, como
com aptidão agrícola e valor de uso econômico bem ilustrado na abordagem descrita na Figura
mais baixos. Áreas de demanda, na maioria 1, em que uma meta de conservação global (por
dos países que adotaram esse instrumento, são exemplo, a conservação de 20% da área total da
principalmente os projetos de desenvolvimento propriedade) é definida em uma base geográfica e é
residencial ou comercial que buscam permissão permitida a negociação entre as propriedades para
para aumentar a sua densidade ou extensão. Tal se alcançar esse objetivo global.
abordagem vem sendo amplamente utilizada tanto
nos países desenvolvidos e como naqueles em Por outro lado, um regime de TDR de zona
desenvolvimento, onde o espaço aberto e terras dupla é mais apropriado para alcançar objetivos
agrícolas periurbanas são objeto de especulação e específicos de conservação, como a proteção de
desenvolvimento “aos saltos.” 7 8 No entanto, nos determinados blocos contíguos de habitat, dentro
últimos anos, os TDR também começaram a ser de uma área geográfica específica (Johnston and
adaptados para o manejo mais amplo da paisagem Madison, 1997). Uma comparação resumida dos
(Johnston e Madison, 1997). dois tipos de sistemas de TDR é apresentada na
Figura 2, abaixo. O instrumento brasileiro de
É importante distinguir entre os sistemas de TDR CRA assemelha-se mais claramente à um sistema
operando com zonas de transferências únicas e de zona única, sem clara determinação das áreas
zonas duplas. Em geral, os casos descritos têm de oferta, e, portanto, a sua eficácia para atingir
duas zonas separadas (oferta e demanda), onde as alguns objetivos particulares de conservação
restrições de uso são diferenciadas, servindo assim pode ser limitada, exigindo, assim, a adoção de
como base para a negociação. No esquema de uma instrumentos complementares para reforçar e
única zona, as negociações ocorrem em uma base direcionar ações para os objetivos de conservação.
equivalente entre proprietários de terras dentro
do mesmo contexto de restrição, muito similar à O Brasil poderia considerar a opção de usar
concessão de licenças de pesca ou autorizações de uma estratégia de zona dupla como um meio de
poluição aplicáveis à mesma região geográfica. Os reforçar os benefícios para conservação derivados
direitos são alocados de acordo com uma licença da negociação de direitos de desenvolvimento
para usar a propriedade segundo às exigências de áreas prioritárias. Para isso, estabeleceria
legais. Dadas as diferenças na fertilidade da terra e diferentes pesos para situações distintas, ao invés
outras características, os custos de oportunidade são de empregar o mesmo peso para cada hectare em
ambas as propriedades de oferta e de demanda.9
Por exemplo, os formuladores de políticas
7 Os sistemas de TDR são comuns, por exemplo, no
Canadá, Austrália, México e Índia. Na China, “curiosamente, poderiam incentivar mais ou menos compras de
as práticas de transferência e negociação de direitos de CRA em unidades de conservação ou em áreas no
desenvolvimento da terra (LDR) têm crescido na última mesmo bioma em outros estados, dependendo da
década. Como uma reação às limitações impostas pelo existência, ou não, de suficiente demanda e oferta
sistema estatal chinês de planejamento de uso da terra sobre o no mesmo estado para alcançar os objetivos de
desenvolvimento urbano e industrial local, algumas províncias
costeiras do país têm levado a cabo uma série de reformas
conservação a um custo razoável.
inovadoras na área de transferência e comércio de LDR”
(Wang et al., 2009). O valor dos direitos de desenvolvimento varia,
8 Nota do tradutor: o conceito de desenvolvimento aos mas pode ser definido como a diferença entre o
saltos (leapfrog development) vem sendo usado no contexto uso agrícola ou de conservação (dependendo de
do crescimento sustentável dos países em desenvolvimento qual opção de uso da terra é favorecida) e o valor
explicitando, basicamente, a substituição de tecnologias e
indústrias menos eficientes, mais caras ou mais poluentes
por outras, mais avançadas, mais limpas e eficientes, 9 A nova legislação florestal indica que as compensações
evitando assim fases prejudiciais ao ambiente, ao não seguir a devem ser direcionadas para corredores florestais contíguos e
trajetória de desenvolvimento pela qual já passaram os países outras áreas prioritárias, mas a própria lei não fornece medidas
industrializados. específicas para alcançar este objetivo.
| 9
Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
Figura 2. Comparação dos regimes de TDR de zonas simples e dual e suas respectivas vantagens.
Devido à falta de demanda imediata por direitos Programas voluntários permitem que os
de densidade adicionais em alguns contextos, as proprietários escolham entre desenvolver as
leis preveem agora a criação de uma “poupança” de suas propriedades ou vender os direitos de
direitos de desenvolvimento por uma autoridade desenvolvimento. Outro mecanismo utilizado
municipal, para uso em oportunidades futuras. Com em alguns casos é o de proibir o uso de direitos
efeito, ao invés de ter que assegurar a disponibilidade de desenvolvimento em áreas de oferta pelo
simultânea de um comprador e de um vendedor aumento das restrições de zoneamento, exigindo
de TDR, a conservação das áreas de oferta pode ser que os proprietários vendam aqueles direitos para
compensada, no primeiro exemplo, pela utilização áreas de demanda designadas, se quiserem obter
de fundos públicos ou doações, garantindo receitas adicionais a partir de suas propriedades.
assim a sua proteção - enquanto os direitos de Em todos os casos, os TDRs são criados no
desenvolvimento são “armazenados” para futura contexto da prévia avaliação de impacto ambiental
comercialização quando um empreendedor precisar e do ordenamento do território, em relação à
de mais direitos de densidade. O valor dos direitos definição das áreas desejáveis para a conservação
negociáveis pode, desse modo, ser melhorado pelo e para intensificação de uso (Kaplowitz et al.,
aumento artificial de sua escassez através da compra 2008). É importante notar que no Brasil, ao
pública ou sem fins lucrativos e sua retirada do contrário de outros casos de TDRs que foram
mercado, ou pela utilização de tais direitos para criar formulados em uma escala muito menor, as CRA
servidões de conservação em um momento futuro.10 não se beneficiam de uma avaliação ambiental
prévia à definição de critérios para melhorar a sua
potencial efetividade.
10 O Serviço de Conservação de Recursos Naturais do
USDA (USDA Natural Resource Conservation Service) provê Os TDR têm sido usados para proteger terras
financiamento no âmbito do seu Programa de Servidão agrícolas de alta qualidade e ecossistemas em todo
Agrícola e de Conservação (ACEP), para 50-75% da aquisição os Estados Unidos. Os programas de TDR têm
de servidão em áreas a serem desejavelmente mantidas como
terras agricultáveis, pastagens, florestas não protegidas e zonas contribuído para a preservação de mais de 400.000
úmidas (as zonas úmidas podem incluir áreas passíveis de acres (162 mil ha) de terra, cujo desenvolvimento
serem viavelmente restauradas para o seu status como tal). Para foi restringido através desse tipo de negociação e
inscrever a terra através de servidões de terras agrícolas, o NRCS pelo zoneamento e servidões associadas, e agora são
elabora acordos de cooperação com os parceiros elegíveis, usados em mais de 200 cidades e municípios em
incluindo organizações sem fins lucrativos. Cada servidão é
obrigada a ter um plano de servidão de terras agrícolas que
todo o país (NJ Future, 2010). Vinte e três estados
promova a viabilidade da terra no longo prazo. Ver: http:// foram identificados como jurisdições autorizadoras
www.nrcs.usda.gov/wps/portal/nrcs/main/ky/programs/ a usar o TDR para implementar objetivos de
easements/ acep/. uso da terra. Os maiores programas de TDR nos
10 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
Estados Unidos incluem Puget Sound, Washington O conceito de “bancos” de terras para a
(ao redor de Seattle); Montgomery County, conservação e compensação primeiro ganhou
Maryland (e outros subúrbios de Washington, impulso com os bancos de mitigação das zonas
DC, em Maryland); a área do Lake Tahoe, na úmidas na década de 1970, que em seguida se
Califórnia, bem como as Pinelands de New Jersey e espalharam por todo os EUA12, que foram bem
o pioneiro Pine Barrens, em Long Island. regulamentados na década de 1990 (Santos et al.,
2011). A base jurídica para os bancos de mitigação
Um aspecto interessante do TDR das Pinelands de das zonas úmidas surgiu a partir da Seção 404
New Jersey (NJ) (ver anexo 1) é que ele permitiu da Lei da Água Limpa (Clean Water Act), que
que as comunidades alocassem o crescimento exige a mitigação compensatória para os impactos
residencial em zonas ambientalmente menos inevitáveis sobre áreas úmidas, córregos, ou outros
sensíveis abaixo de um limite total de unidades recursos aquáticos (US EPA, 2014). A Agência de
habitacionais (176 mil), que foi considerado como Proteção Ambiental dos EUA (US EPA, 2014)
sendo a capacidade de carga da região, preservando, define áreas contidas num banco de mitigação
assim, zonas úmidas em risco e os recursos das como “zona úmida, córrego, ou outra área de
áreas montanhosas. Outra característica de interesse recursos aquáticos que foi restaurada, estabelecida,
é o recurso quase que exclusivo às negociações de melhorada ou (em certas circunstâncias)
créditos no mercado, ao invés de depender de um preservada, com a finalidade de proporcionar
Banco de Crédito, que realizou apenas dois leilões uma compensação por impactos inevitáveis sobre
públicos desde a sua criação, e paga apenas 80% do recursos aquáticos permitidos sob a Seção 404
preço de mercado para créditos para evitar minar o ou um regulamento similar, estadual ou local,
mercado aberto. No entanto, o Banco de Crédito para áreas úmidas.” Um empreendedor não pode
permaneceu responsável pela certificação das compensar impactos sobre áreas úmidas fazendo
transações e propriedades no interesse público. pagamentos para um fundo de pesquisa, nem
por qualquer outro método indireto (Ecosystem
2.1.1 Lições aprendidas com “bancos de Marketplace, 2014).
conservação”
O número de créditos gerados em um banco local
Nos Estados Unidos, outra grande aplicação está relacionado com a dimensão da zona úmida
de TDRs para conservação11 tem sido a criação e o valor ecológico da área (US EPA, 2014). Não
de “bancos de conservação”. Os bancos de é incomum que menos créditos, em termos de
conservação foram desenvolvidos como uma extensão de área (em acres), estejam disponíveis
alternativa ao pagamento das taxas tradicionais que para venda do que o total de acres restaurados
exigiam, geralmente, que os empreendedores que (Ecosystem Marketplace, 2014). Além disso,
impactassem negativamente um habitat ou espécie bancos de mitigação de áreas úmidas envolvem
depositassem uma quantia designada em um uma razão de mitigação, ou um multiplicador, o
fundo de apoio para atividades de pesquisa ou de que significa que é exigido de um empreendedor
conservação (Jakle, 2013). Bancos de conservação, adquirir mais créditos do que a quantia de acres
ao contrário, são estoques de terras para destruídos em seu projeto. Em geral, para cada
conservação que permitem aos empreendedores acre de zona úmida destruída, 1 a 3 acres de
comprar créditos de terras preservadas com créditos de zonas úmidas restauradas devem ser
elevado valor de conservação, como um meio para adquiridos, embora esta razão possa chegar a
compensar as perdas de habitats em um local de 1:10 (Ecosystem Marketplace, 2014). Em 2013,
desenvolvimento. Os principais tipos de bancos havia 935 bancos de zonas úmidas e de córregos
de conservação envolvem ações voltadas para a nos EUA (Jakle, 2013) e o mercado foi estimado
mitigação de zonas úmidas e para o habitat de
espécies ameaçadas de extinção.
12 Essa expansão foi alimentada pelo apoio do Serviço
de Pesca e Vida Selvagem dos EUA (US Fish and Wildlife
11 Bancos de mitigação e conservação se assemelham mais Services - USFWS) para a criação de bancos em 1983, e foi
a obrigações transferíveis de desenvolvimento do que a direitos impulsionada pela orientação uniforme sobre os bancos
transferíveis de desenvolvimento, uma vez que são exigências de mitigação para áreas úmidas publicada pelo Corpo
que um proprietário de terras deve cumprir para obter o de Engenheiros do Exército dos EUA (US Army Corps of
direito de desenvolver (Solimar Research Group, 2003). Engineers), a EPA, o USFWS, e outras agências federais.
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
em US$ 1,3-2,2 bilhões por ano em 2008, com os locais mais desejáveis para os bancos de
dezenas de milhares de acres envolvidos (Ecosystem conservação (USFWS, 2012).
Marketplace, 2014).
Os bancos para conservação de espécies
Um banco de conservação de espécies ameaçadas ameaçadas de extinção começaram na Califórnia
apresenta áreas que “contém valores de recursos na década de 1990 e se tornaram generalizados
naturais que são conservados e geridos em nos EUA na década de 2000, após a publicação
perpetuidade, através de uma servidão de pelo USFWS, em 2003, das primeiras diretrizes
conservação retida por uma entidade responsável federais abrangentes sobre os bancos de
por fazer cumprir os termos da servidão, para conservação. Em 2011, havia 90 bancos ativos,
espécies indicadas em uma listagem específica, 17 inativos e 19 bancos fechados nos EUA, com
utilizada para compensar impactos ocorridos em preços variando de U$ 3.000-125.000 por acre
outro local com os mesmos valores de recursos (Ecosystem Marketplace 2012). No final de
em terras fora do banco”(USFWS, 2003). 2009, mais de 80.000 acres de terra estavam sob
Conceitualmente, o banco de habitat de espécies servidões de conservação, devido ao comércio
ameaçadas é muito semelhante ao banco de de créditos para espécies ameaçadas de extinção
mitigação de áreas úmidas, mas centra-se na (Ecosystem Marketplace 2012), protegendo
proteção das espécies em perigo e ameaçadas e mais de 22 espécies (Fox & Nino-Murcia
seu habitat (em vez de proteger apenas os recursos 2005). Variantes de bancos para a conservação
aquáticos). As exigências regulamentadoras para com o objetivo de proteger ainda mais espécies
esses bancos de conservação surgiram a partir da ameaçadas de extinção foram desenvolvidas
Lei de Espécies Ameaçadas (Endangered Species recentemente sob o nome de “trocas de habitat”,
Act), seções 7 e 10, que requerem que as agências que incorporam a ponderação baseada nas
federais consultem o US Fish and Wildlife condições de desempenho e adicionalidade
(USFWS) a respeito do impacto potencial sobre associadas à funcionalidade relativa dos habitats
espécies em perigo e ameaçadas de extinção (ver anexo 1 para mais detalhes).
e exigem que os empreendedores obtenham
uma autorização caso suas ações possam incluir 2.1.2 Avaliação das experiências
incidentes envolvendo as espécies listadas
(Ecosystem Marketplace, 2012).13 As unidades A característica comum dos programas de TDR
comercializadas são ou uma área de habitat para é seu recurso primário de criação de mercados
espécies terrestres, um metro linear de habitat para gerenciar transações voluntárias. Embora
ciliar para espécies aquáticas, ou, dependendo da as transações sejam voluntárias, elas estão
ecologia das espécies, a unidade pode ser um casal sujeitas à regulação, registro e monitoramento
para reprodução (Ecosystem Marketplace, 2012). público, de acordo com as regulamentações de
Como no sistema de bancos para mitigação de restrições de uso da terra. Elas dependem de uma
zonas úmidas, muitas vezes há uma ponderação definição regulatória prévia na qual os direitos
no cálculo da mitigação, exigindo que os de propriedade estejam bem estabelecidos, e
empreendedores comprem mais créditos do que a nos quais as restrições de uso da terra sejam
dimensão das terras afetadas. Terras privadas, de rigorosamente aplicadas. Os TDRs muitas
populações tradicionais, estaduais e de governos vezes incluem a incorporação de servidões
locais (e, com especial consideração, terras para conservação permanentes no título da
federais) são elegíveis para se tornarem bancos de propriedade das áreas de oferta. Os fatores
conservação, e planos de recuperação de espécies que promoveram maior sucesso incluem um
do USFWS são usados como guias para determinar forte impulso para o desenvolvimento regional
pareado com um controle rigoroso sobre as
restrições de uso da terra nas áreas de oferta.
Outras características importantes são a criação
13 O USFWS é a principal agência que administra a Lei de bancos de crédito para aumentar a liquidez
de Espécies Ameaçadas para as espécies terrestres e de água e a implementação simultânea de regimes (sem
doce, enquanto que o Serviço Nacional de Pesca Marinha
(National Marine Fisheries Service) é a agência líder no que
exigência de compensação) de Pagamento por
diz respeito às espécies marinhas e anádromas (Ecosystem Direitos de Desenvolvimento (PDR) para
Marketplace 2012). complementar as transações de mercado. Os
12 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
Os autores estimaram que a área total do território autores entenderam que, caso isso fosse feito,
com vegetação natural sem proteção legal (92 Mha) os proprietários considerariam atraente reservar
corresponde a quase o dobro da área ocupada pelas áreas para a proteção da natureza, promovendo
quatro principais lavouras brasileiras (soja, milho, a criação e o crescimento do mercado de CRA.
cana-de-açúcar e feijão) ou 1,4 vezes a superfície Além disso, eles propuseram que fosse exigida uma
agrícola total excluindo pastagens (64 Mha). escala espacial apropriada para a compensação
da proteção, de modo a estimular a proteção em
De acordo com os resultados, alcançar a completa regiões onde há mais pressão para a conversão
conformidade com a versão prévia do CFB da vegetação.
“exigiria mudanças drásticas no uso da terra
agrícola, com grandes áreas sendo retiradas de No mesmo ano, Biofílica e ICONE (2012)
produção e restauradas ou conduzida a regeneração simularam a atuação do mercado de CRA entre
natural” Sparovek et al. (2010: p. 6046). A plena estados e biomas brasileiros, para focar operações
conformidade com o CFB pode não ser satisfatória corporativas em segmentos-chave do setor do
em termos de eficiência econômica ou de agronegócio. O modelo AgLUE e o banco de
efetividade ecológica devido a vazamentos, uma vez dados que eles rodaram (em parceria com o
que a vegetação primária em áreas desprotegidas laboratório de Sparovek), consideraram apenas
é perdida para a produção agrícola enquanto que dois agentes de mercado: pecuaristas (com pouca
as atuais áreas agrícolas devem ser reconvertidas disposição a pagar pelo cumprimento da lei) e
para a vegetação natural protegida (ver o gráfico produtores de soja (com disposição a pagar). Além
no painel 1 da Figura 1). Foi realizada uma disso, foi considerado que os preços de venda das
análise da compensação da RL permitida pelo terras refletiam a disposição a pagar e o custo de
antigo CFB com base na abordagem de TDR oportunidade.15
(ou seja, a compensação dentro de pequenas
bacias hidrográficas) para avaliar o seu potencial Biofílica & ICONE (2012) analisaram o uso
para corrigir esse problema (veja a discussão de CRA como um meio de compensar os
sobre Efetividade). proprietários privados cujas terras não tinham sido
expropriadas quando Unidades de Conservação
Em um artigo sequencial, Sparovek et al. (2012) públicas (UC) foram criadas, uma medida
discutem os pontos fracos do que eram, então, as especificamente prevista na nova legislação
revisões propostas ao CFB e apresentaram sugestões florestal. Eles assumiram que tais negociações em
para a melhoria do projeto de legislação (Projeto UC seriam 20% mais caras do que as negociações
de Lei Substitutivo nº 1.876 / 1999, relatado pelo convencionais em áreas privadas devido ao
então deputado federal Aldo Rebelo), em particular aumento dos custos de transação para negociações
para evitar a redução significativa na RL contida na entre atores públicos e privados. No entanto, eles
lei. Embora o mecanismo de compensação tivesse também estimaram que 27% da área de UCs no
se revelado, até o momento, de difícil aplicação Brasil apresentam problemas específicos de posse,
e não fosse utilizado frequentemente pelos que poderiam ser solucionados usando CRA.
proprietários, Sparovek et al. (2012) propuseram As vendas de CRA dessas propriedades dentro
que a compensação poderia promover o de Unidades de Conservação poderiam ajudar a
desenvolvimento agrícola. Eles argumentaram que, resolver esses problemas através do provimento
por meio da compensação, os produtores poderiam de recursos financeiros para compensar os
fazer um melhor uso da terra agrícola existente, proprietários privados e consolidar o status dessas
contribuindo ao mesmo tempo para a proteção propriedades dentro de unidades de conservação.
da vegetação natural em outras propriedades. As opções para o cumprimento da lei consideradas
O instrumento poderia estimular o aumento da por Biofílica &ICONE (2012) foram: 1) sem
conservação, o desenvolvimento agrícola e fornecer compensação, com recuperação da RL utilizando
uma maneira para que os agricultores brasileiros regeneração natural (considerada como tendo
regularizassem o uso ilegal das terras. custo zero de implantação, mas com pleno
Sparovek et al (2012) sugeriram alterações no 15 Estavam disponíveis apenas dados resumidos em uma
projeto de lei para assegurar que os requisitos da apresentação feita a partir desse estudo e sem a indicação
RL fossem mantidos em um nível que estimulasse de estimativas sobre a área potencialmente utilizada para
a demanda pela compensação da reserva. Os negociação, sendo informado somente o seu valor bruto.
Tabela 1. CRA no Código Florestal Brasileiro: escopo dos modelos de simulação e premissas
Valor total do mercado (Bilhões
Área total de demanda por CRA (Mha) Área total de oferta para CRA (Mha)
R$)
Valor médio Área prevista
estimado para ser
para CRA negociada
Cenários / * premissas (R$/ha) (Mha) Total
Amazônia
Caatinga
Cerrado
Mata Atlântica
Pampas
Pantanal
Total BR
Amazônia
Caatinga
Cerrado
Mata Atlântica
Pampas
Pantanal
Total BR
Amazônia
Mata Atlântica
Cerrado
Fontes: compilado a partir das simulações revisadas (ver referências). UC = Unidades de Conservação
Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
| 17
18 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
custo de oportunidade); e 2) a compra de CRA. cada unidade de bacia, não considerando APPs em
Foram definidos três cenários para a negociação topos de morro e encostas íngremes, assumidas
de CRA: a) o mercado dentro dos estados (com como RL.
compensações em UC); b) o mercado dentro dos
Estados (sem UC); c) o mercado no interior de Soares-Filho (2013) estimou o excedente total
biomas (com compensações em UC). Foi assumido de RL sobre as exigências da nova legislação em
que os valores de mercado são determinados pelo 99 ± 6 Mha. A maior parte deste excedente está
equilíbrio da oferta e da demanda estimadas. distribuído no interior do país, como na Caatinga,
onde é estimado em 26 ± 1,5 Mha, e no Cerrado,
No mercado abrangendo os biomas (incluindo que tem o maior superávit, de 40 ± 2 Mha. Há
UC), a Mata Atlântica emerge como o maior também uma concentração no Pantanal e nos
mercado em termos de valor de CRA (R$ Pampas, mas nestes biomas predominam as
10.2 bilhões), pois as atividades econômicas já pastagens nativas ao invés de florestas. Em relação
consolidadas e a baixa oferta de terras marginais ao bioma Amazônico, o superávit estimado de
pressionam o valor de CRA para cima. Na cerca de 20 ± 1 Mha pode ser identificado devido
Amazônia, a presença de apenas alguns estados à prevalência de terras ainda em domínio público
com demanda potencial (Rondônia e Pará, nesta (terras devolutas). O excedente da Mata Atlântica (4
simulação) e o alto volume de oferta de outros ± 0,3 Mha) corresponde a apenas 3% da extensão
estados (o Amazonas, por exemplo) resultam em original do bioma, mostrando a necessidade crítica
um baixo valor potencial de mercado para CRA, de sua restauração.
levando a um potencial mercado de apenas R$
0,8 bilhões. O Cerrado é semelhante à Amazônia, O déficit de RL foi reduzido em 58% com as novas
com um valor total de R$ 1,9 bilhões. Quando disposições do CFB, passando de 50 ± 6 para 21
a análise do mercado é restrita aos estados (sem ± 0,6 Mha. Os estados que apresentaram a maior
compensação em UCs), o valor nos mercados da redução foram Mato Grosso, Pará, Minas Gerais
Amazônia e do Cerrado sobe para R$ 10,3 bilhões e Bahia. O déficit resultante está concentrado ao
e R$ 4,4 bilhões, respectivamente, devido à oferta longo da fronteira da Amazônia, em toda a região
mais restrita e aos preços mais altos. Quando as da Mata Atlântica e no sul do Cerrado. Os biomas
CRA de UC são incluídas, o valor potencial de com maior déficit restante são a Amazônia (8
mercado sobe cerca de 16% na Amazônia e de 3% Mha), a Mata Atlântica (6 Mha) e o Cerrado (5
no Cerrado. O valor de mercado potencial na Mata Mha). A análise confirma a viabilidade potencial
Atlântica seria totalmente dependente da inclusão de um mercado para CRA, mostrando as áreas
de compensação de UCs, que até então não tinham que atuam como fonte de superávit de florestas e
sido consideradas disponíveis para negociações. demonstrando que é possível reduzir até 55% dos
O valor potencial na Mata Atlântica sobe de déficits de Reserva Legal (16 ± 0,5 Mha) utilizando
zero para R$ 7,8 bilhões (com compensação de os excedentes do mesmo bioma e estado.
APs), no cenário estadual. O estudo não fornece
estimativas de áreas, mas essas presumivelmente Soares-Filho et al. (2014) confirmam o impacto
foram compatíveis com aquelas geradas no modelo calculado anteriormente (Soares-Filho, 2013) da
de Sparovek, uma vez que o estudo se baseou no revisão do CFB sobre a conservação de florestas
mesmo banco de dados. no Brasil e a magnitude do esforço necessário para
implementar completamente a nova lei. O mesmo
Soares-Filho (2013) quantificou a mudança na banco de dados da ANA com 166.000 unidades,
área a ser conservada ou restaurada devido à com uma área média de 3.683 ha foi usado para
nova legislação florestal (Lei nº 12.651 / 2012), essa simulação, embora reconhecidamente o uso
estimando os esforços necessários para atingir a de microbacias hidrográficas como um substituto
conformidade e procurando incrementar a sua para propriedades rurais gere algum grau de
implementação, de modo a melhor conciliar a escalonamento de erro.16
produção agrícola e a conservação da floresta.
Microbacias (12º ordem) foram utilizadas como
16 O grau de incerteza associado ao uso de microbacias
unidade de análise, a partir do banco de dados hidrográficas para representar propriedades rurais é
da Agência Nacional de Águas (ANA) (166.000 inversamente proporcional ao número de propriedades
unidades, com média de 5.000 ha). Áreas líquidas contidas nestas microbacias, e diretamente proporcional ao
de RL e APP foram combinadas e calculadas para tamanho da microbacia.
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
A nova legislação manteve a mesma proporção de vegetação, através da compra de licenças florestais
RL por bioma; no entanto, reduziu drasticamente (i.e., TDRs) de vendedores (áreas de oferta), ou por
as áreas necessárias a serem restauradas em ambas as uma combinação dessas duas opções. No entanto,
RL e APP. A área total a ser restaurada diminuiu de não são assumidas despesas com restauração,
50 ± 6 para 21 ± 1 Mha, dos quais 78% abrangem nem são consideradas as APPs. Quatro cenários
a RL, com o restante correspondendo à APP. Os foram definidos: 1) mercado em todo o estado,
autores argumentam que essas reduções podem 2) mercado somente no Cerrado, 3) mercado
ter um grande impacto sobre os programas de em grandes propriedades no Cerrado (apenas
conservação da biodiversidade e de restauração propriedades acima 1.000 ha), e 4), mercado
florestal, especialmente na Mata Atlântica. Além apenas nas áreas florestais. O escopo do TDR foi
disso, tanto o CFB como a nova legislação florestal limitado aos estabelecimentos acima de 100 ha,
permitiriam um desmatamento legal adicional de devido à premissa de que a inclusão de pequenas
88 ± 6 Mha em propriedades particulares, com propriedades exacerbaria os custos de transação.
potencial para emitir 18 ± 4 GtCO2e.
Chomitz (2004) estimou a cobertura florestal
Soares-Filho et al. (2014) colocam grande ênfase em Minas Gerais como sendo de 13,9% da
no potencial de mercado das CRA, que de acordo área total de terras, embora o CFB exija pelo
com a simulação poderia abater um valor estimado menos 20% nos biomas de Floresta Atlântica e
de 56% do déficit de RL. A restauração de florestas do Cerrado. A grande parte das áreas florestais
como parte do esforço para cumprir a nova remanescentes é encontrada nos estabelecimentos
legislação poderia sequestrar até 9 ± 2 GtCO2e. As com mais de 100 ha. A área de RL excedente,
CRA e PSA seriam essenciais no Cerrado, o bioma acima da exigência de 20 %, representa apenas
mais cobiçado para a expansão do agronegócio, uma pequena fração da área total para todas as
dado o seu excedente de RL de 40 ± 3 Mha. É classes de tamanho, com exceção das maiores.
necessário fortalecer e integrar os esforços de Na verdade, apenas para a classe de propriedades
vários órgãos estaduais e federais responsáveis pela de maior tamanho a área excedente de florestas
aplicação da lei, assegurando clareza na posse da ultrapassa a quantidade de área em “déficit”. No
terra, a concessão de licenças ambientais e o apoio agregado, as unidades de observação têm cerca de
à produção agrícola. Os autores argumentam que, 934.000 ha de florestas excedentes e 3 milhões de
para funcionar, este sistema integrado deve ser hectares de área em déficit. As zonas deficitárias
transparente e conectado a incentivos econômicos são encontradas principalmente nas áreas agrícolas
para a conservação; caso contrário, ele só irá mais favoráveis, no Oeste e no Sul, mais perto
incentivar os proprietários a exercer em os seus de centros populacionais e de áreas favoráveis
direitos de desmatar. para a agricultura. As zonas com excedentes
são encontradas nas áreas mais secas e mais
escassamente povoadas do Norte. Nos cenários
3.3 Simulações estaduais e restritos aos biomas, no Cerrado a oferta excederia
subestaduais a demanda. A restrição para propriedades maiores
(acima de 1.000 ha) cerceia a demanda muito
Embora um pouco antigo, o estudo de Chomitz mais do que provê oferta, uma vez que as maiores
(2004) exprime ideias-chave para o potencial de classes de tamanho detêm o maior excedente
instrumentos assemelhados ao TDR, examinando proporcional. Consequentemente, o preço cai
o impacto econômico e ambiental dos cenários dois terços, para R$ 12 por ha, mas a quantidade
alternativos para as negociações no estado de Minas cai menos de um terço. O estudo conclui que a
Gerais, com base nas disposições regulatórias do negociação entre as grandes propriedades, sem
CFB aplicadas até 2012. Um modelo de simulação restrições ao bioma, iria promover resultados mais
simples, geograficamente explícito, usando dados eficientes em termos de Unidades de Conservação e
agregados em nível municipal sobre o uso da terra de redução de custos através de TDR.
por classe de tamanho das propriedades agrícolas
(756 municípios e 14 classes de dimensão), Bernasconi (2013) discute a compensação da RL
emprega uma especificação igualmente simplificada por meio de TDR através de um estudo de caso
para a dinâmica de uso da terra. No modelo, os em São Paulo (SP) que avalia os efeitos potenciais
proprietários de terras de áreas de demanda podem de TDR sobre os resultados da conservação,
alcançar a conformidade através do abandono considerando ambos os custos de oportunidade e
de terras agrícolas para a regeneração natural da os resultados ecológicos em comparação com um
20 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
cenário de comando e controle, sem compensação. áreas prioritárias”, o custo fica em R$ 7.500. A
Diferentes alternativas de escopo para o mercado segmentação de áreas pode, assim, reduzir os custos
de Reserva Legal em SP foram simuladas utilizando de implementação.
o software de otimização MARXAN with Zones,
e foi avaliada a relação custo-efetividade de cada Além de apresentar o maior custo e o resultado
alternativa. O banco de dados utilizado foi obtido menos eficiente na segmentação de áreas
a partir do Censo Rural (IEA-LUPA) 17, incluindo prioritárias, o cenário sem compensação em
320.000 unidades de produção agrícola (UPA), São Paulo ainda tem a desvantagem de deixar,
agregadas por meio de uma grade hexagonal de respectivamente, 762 mil e 166 mil hectares de
500 ha cada, totalizando 50.600 hexágonos. A Floresta Atlântica e do Cerrado remanescentes
vegetação várzea e de matas ciliares foi somada ao sem proteção legal. Em geral, estas áreas são terras
total da vegetação natural, tratada em conjunto marginais, com custos de oportunidade muito
como RL. Foram comparados três cenários para baixos e de interesse limitado para conversão
o cumprimento das exigências de Reserva Legal: para outros fins. Porém, essas terras continuam
1) Comando e controle (sem compensação), 2) a ser muito importantes para a biodiversidade
com compensação dentro dos biomas, 3) com e para funções ecológicas. Sem compensação,
compensação apenas nas áreas prioritárias (com os proprietários teriam de reflorestar extensas
as áreas de oferta priorizadas pelo potencial de áreas em outras partes do bioma para atingir a
melhorar a conectividade entre fragmentos). O conformidade. A produção agrícola deslocada
software MARXAN simulou a alocação de RL, para o cumprimento da lei faria com que áreas
com os preços de venda das terras sendo usados ainda com cobertura florestal viessem a sofrer um
no modelo como um substituto para os custos aumento de pressão para o seu desmatamento
de oportunidade. (vazamento).
A simulação de Bernasconi (2013) estimou que os A análise por Stickler et al. (2013) teve
remanescentes de vegetação natural compreendiam como objetivo: “compreender os padrões de
13,3% de todas as áreas rurais particulares em SP. conformidade com a regulamentação ao longo do
A análise ao nível de propriedade estimou que tempo e das mudanças na política de uso da terra, e
havia um “superávit” total de 928.000 ha com as implicações desses padrões de conformidade para
vegetação natural, dos quais 762.000 ha em bioma os custos percebidos pelos proprietários de terras
de Floresta Atlântica e 166.000 ha de Cerrado. e para o desempenho ambiental das paisagens
Havia um total de 2,3 milhões de hectares de agrícolas no estado de Mato Grosso” (Ibid., p.
vegetação natural em propriedades com “déficit”, 01). O estudo realizou uma análise do CFB em
(1,49 milhões ha na Mata Atlântica e 801.000 ha dois níveis: a área florestal do Mato Grosso usando
no Cerrado). Dada a exigência legal para restaurar microbacias hidrográficas como unidades, e nas
as áreas deficitárias e os custos mais elevados para cabeceiras do rio Xingu (180.000 km2), utilizando
restaurá-las do que compensar com propriedades imóveis cadastrados como unidades.
com áreas de florestas excedentes, haveria uma
base para o funcionamento do mercado. No Os autores concluíram que as regulamentações do
entanto, os custos de oportunidade são elevados: CFB são limitadas em sua finalidade de defender
na Floresta Atlântica há cerca de 1 milhão de os interesses públicos em terras privadas. Em um
hectares de déficit de RL, em áreas onde o custo cenário de total cumprimento da lei, a mudança
de oportunidade é ≥ R$ 10.000 / ha. No Cerrado, na exigência de RL de 50% para 80% impõe
cerca de 700.000 ha alcançariam um preço similar aos proprietários de terra a renúncia a rendas
ou ainda maior. Comparando-se os cenários, potenciais, presentes e futuras, de US$ 2 a 3
o custo médio de oportunidade por ha para bilhões, assumindo que todas as terras elegíveis
conformidade no cenário “sem compensação” foi para o desmatamento legal fossem convertidas
de R$ 16.000, mas se é permitida a “compensação para a agricultura. Além disso, os autores não
dentro do bioma”, o custo fica em R$ 3.800; no identificaram sucesso nas tentativas do governo
caso de se permitir “a compensação apenas em para criar procedimentos através dos quais os
proprietários de terras que desejassem cumprir a lei
pudessem fazê-lo facilmente, nem foram oferecidos
17 Para detalhes sobre a base de dados, por favor ver: incentivos positivos aos proprietários de terras que
http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa/sobreolupa.php desejassem cumprir o CFB. Os autores estimaram
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
no longo prazo. Além disso, a fragmentação Sparovek (2012) argumentou ainda que, embora
aumenta significativamente o perímetro de a nova legislação possa resolver o problema de
florestas exposto aos efeitos de borda. Uma vez ilegalidade dos agricultores, ela não é eficaz na
que as áreas de excedentes florestais provavelmente promoção da conservação “adicional” àquela que
estão localizadas em propriedades maiores, onde teria ocorrido de outra forma. Na situação atual,
predominam fragmentos proporcionalmente com amplo desrespeito ao CFB, relativamente
maiores, Chomitz esperava que as compensações poucas áreas em terras com um elevado custo de
fossem permitir a manutenção de uma maior oportunidade para a produção permanecem sob
conectividade, pois a maioria das áreas com floresta. Há um risco de que, dada a perspectiva
excedentes em seu estudo sobre Minas Gerais de ampla compensação e redução generalizada
foram encontradas em grandes propriedades. dos passivos, haveria um baixo custo para o
Por outro lado, no bioma Amazônia, muitas cumprimento da nova legislação, permitindo
vezes uma RL de 80% implica que as atividades que a agropecuária de baixa produtividade (por
agrícolas, mais do que as florestas, podem exemplo, a criação extensiva de gado) continue a
acabar sendo fragmentadas, com consequências se expandir, promovendo pouca restauração e a
econômicas adversas. Estes dois exemplos indicam conservação das florestas. Uma vez que a oferta
a necessidade de uma abordagem regulatória que de CRA potencialmente excede a demanda por
considere o mosaico completo de uso da terra. um fator de 8: 1, poderíamos antecipar uma
imagem onde os setores de cultivos de alto valor
Enquanto as negociações com um escopo maior (por exemplo, soja, cana de açúcar) busquem a
podem garantir maiores oportunidades para essa compensação de CRA, mas em áreas distantes de
conectividade, Sparovek (2010) expressou a opinião sua origem e permaneçam áreas de agricultura
de que as negociações de RL de grande escopo intensiva com os maiores déficits.
não conseguem resolver problemas relacionados
com a conservação da água e da vegetação natural Em um cenário contrastante onde a formulação
em áreas que têm um grave déficit de RL. Por anterior (sem redução dos passivos) do
exemplo, a vegetação nativa desprotegida do CFB fosse efetivamente aplicada, Chomitz
Cerrado fora da Amazônia Legal (27 Mha) é (2004) argumenta que a ampliação do escopo
muito maior do que o déficit de RL que Sparovek geográfico para as compensações pode aumentar
(2010) estimou para o mesmo bioma (2 Mha), o substancialmente o potencial para a conservação
que implica que, se apenas os agricultores nesta da floresta. O incentivo para e os benefícios
mesma área estão autorizados a compensar o seu advindos das compensações exigem diferenças
déficit através da proteção da vegetação nativa do tanto para a cobertura florestal como para o valor
Cerrado, menos de 10% da vegetação atualmente da terra. Os negociadores poderiam encontrar
desprotegida poderia ser protegida por esta medida. imóveis com mais florestas contíguas para de
A permissão para que os agricultores em biomas modo mais fácil e barato zerar o seu déficit se
como a Mata Atlântica, onde existem significativos eles tivessem um maior escopo para a negociação.
déficits não equacionados, realizem negociações Embora exista alguma variação local nesses
com propriedades no Cerrado poderia aumentar fatores, os maiores ganhos nas compensações
a proteção, mas os investimentos em proteção de podem ser obtidos a partir de maiores distâncias.
áreas de oferta muito distantes não resolveriam A análise mostrou que um escopo substancial
os problemas relacionados com as exigências a para a compensação pode surgir mesmo na
respeito da água e da vegetação natural em áreas de hipótese extrema de que acordos comerciais
demanda, com um contínuo, mas então legalizado intraestabelecimentos e intramunicipais tenham
déficit de RL.20 sido explorados ao máximo. Devido ao fato
de que áreas com excedentes e com déficits
20 É concebível que uma parte destas exigências possa tendem a ser distantes uma das outras, a restrição
vir a ser satisfeita pelas disposições da legislação para a da esfera de negociação a pequenos distritos
conservação da APP, mesmo onde as exigências de RL administrativos provavelmente restringiria esse
são cumpridas através de compensação. Não há indicação potencial, como no caso extremo da limitação
alguma na legislação a respeito das exigências mínimas para das compensações às microbacias hidrográficas,
manutenção da vegetação natural em áreas de “recebimento”.
Esses limites teriam de ser analisados caso a caso pelos órgãos presente no antigo CFB. Por outro lado,
ambientais estaduais. territórios menores também incrementariam
24 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
Figura 3. Site da BVTrade, uma plataforma online para negociação de CRA e outros ativos ambientais.
Fonte: http://www.bvrio.org.br/site/index.php/bvtrade
responsabilidades pelo PRA e CAR foram deixados estado de São Paulo, proporcionaria uma maior
para os estados, que também assumiriam o ônus heterogeneidade de custos entre as opções de
do monitoramento e fiscalização. Porém, não está proteção da RL, assegurando menor custo global
claro qual deve ser a origem das receitas adicionais para o cumprimento da lei do que uma opção sem
necessárias para gerir essas desafiadoras atividades. compensação. A inclusão de TDR permitindo o
mercado dentro do bioma reduziu em 76% os
O escopo geográfico das compensações representa custos de cumprimento da lei para uma área de
uma outra área importante para a melhoria da RL protegida equivalente, em comparação com o
eficiência. Sparovek (2012) indicou que a versão cenário sem compensação.
anterior do CFB apresentava a dificuldade de
exigir que a compensação ocorresse apenas se a Apesar da inclusão de uma restrição ao mercado
área destinada para a proteção fosse localizada focando nas áreas prioritárias ter feito os custos
na mesma bacia hidrográfica onde ocorre o quase dobrarem de valor (+ 95%) em comparação
déficit de RL. Por outro lado ele afirmou, com o cenário do mercado restrito apenas pelo
junto com outros autores e entrevistados, que bioma, isso ainda foi 50% menos oneroso
a compensação nos limites dos biomas poderia que o cenário sem a compensação, no qual os
ser excessivamente ampla. Assim, há um trade- proprietários de terras teriam que se envolver em
off entre a compensação em um escopo mais reflorestamentos caros ou com a regeneração da
restrito para otimizar os serviços ecossistêmicos floresta, um pouco mais barata. Isto ocorre porque
locais e potencialmente reduzir os custos de os custos de oportunidade da terra em áreas de
fiscalização e monitoramento, e a compensação demanda foram consideravelmente maiores, assim
em escopo amplo, para compensar a ausência de os ganhos com a compensação foram obtidos
florestas elegíveis para a proteção nos locais onde mesmo quando as áreas em negociação foram
ocorrem os déficits. As negociações mais restritas restritas àquelas prioritárias para a proteção
irão criar escassez e aumento dos custos para os da biodiversidade. O estudo mostra que a
compradores, mas têm o potencial de promover implementação de CRA poderia reduzir os custos
o direcionamento da manutenção da prestação de sem negligenciar a conservação de áreas prioritárias.
serviços ecossistêmicos em zonas próximas às áreas
de demanda. Sob um esquema com o escopo de Outro fator que pode afetar a eficiência é a
bioma, seria possível ocorrer as compensações mais disposição da nova legislação florestal que
baratas ao incluir na negociação os proprietários estabelece que a compensação também pode
de terras em áreas cobertas com vegetação natural ser realizada para regularizar propriedades
em regiões muito remotas com baixa aptidão para localizadas dentro de Unidades de Conservação.
a agricultura e baixo risco de se tornarem sujeitas Biofílica / ICONE (2013) constataram que a
ao desmatamento ou outro tipo de degradação. possibilidade de usar áreas no interior de UCs
Regiões de expansão agrícola provavelmente terão para gerar CRA, junto com a consideração do
maiores custo de oportunidade, pois aí ocorrem potencial de compensar fora do estado, ampliou
oportunidades mais restritas para as negociações. significativamente a escala do mercado. Na
Como observado acima, grande parte das áreas Mata Atlântica, onde o mercado sofre por causa
de florestas usadas para a compensação viriam da insuficiente oferta de RL, as UCs sozinhas
de regiões onde a pressão para conversão é baixa, poderiam desempenhar o papel de ofertantes.
e poucas viriam de regiões onde há expansão da Embora esta abordagem possa ser uma saída
agricultura, onde a venda de CRA iria contribuir para o problema da falta de oportunidades para
mais eficazmente para a proteção da natureza. a compensação em bacias hidrográficas críticas
identificadas por Sparovek (2012), sua eficiência
A restrição no escopo de compensações, no pode ser questionável se o objetivo for garantir
entanto, viria à custa da redução de potenciais que a vegetação natural seja mantida dentro
eficiências que poderiam otimizar a alocação dos limites das áreas de terras privadas sujeitas
das áreas de produção agrícola e das áreas para à pressão de conversão agrícola. Se o mercado
conservação da natureza. Em contraste com a de CRA fosse dominado pela compensação de
oposição de Sparovek às negociações de grande UC, ele apresentaria baixa adicionalidade no
escopo, Bernasconi (2013) constatou que a sentido em que essas áreas já estão legalmente
compensação ao nível de bioma, mas dentro do protegidas, e seriam usadas para substituir áreas
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
que, potencialmente, poderiam ser restauradas. pastagens impróprias para a agricultura, com
Por outro lado, há uma enorme área de terras menores custos de oportunidade, seriam alvos
privadas não indenizadas dentro dos limites de preferíveis para serem restauradas. Se isso fosse
áreas mais tarde demarcadas como parques ou feito, apenas uma área de cerca de 550 mil ha
reservas. Se as CRA fossem usadas para contribuir em terras aráveis permaneceria com exigência
para o financiamento dessas indenizações, poderia de restauração . O plantio de espécies florestais
alcançar um amplo benefício social, aliviando comerciais também pode se tornar uma fonte de
também conflitos de longo prazo. receitas, tornando a restauração mais atraente.
O mercado com escopo mais restrito (no interior Direcionando o olhar para a região Amazônica,
dos estados - mesmo quando incluindo UCs) pode dois estudos de simulação feitos em Mato
ter seu potencial reduzido em relação aos valores Grosso concordam sobre vários aspectos. Micol
de negociação (na simulação de Biofílica / ICONE et al. (2013) fizeram uma distinção importante
o valor caiu para quase a metade, de um total de entre o excedente de RL que está sujeito ao
R$ 24,2 para R$ 13 bilhões). No entanto, alguns desmatamento legal e aquela parte da RL que é
estados podem preferir esta opção. De acordo protegida por lei e não passível de desmatamento
com a gestora ambiental de São Paulo, Helena legal. Em Mato Grosso, o desmatamento em
Carrascosa (comunicação pessoal), a compensação áreas afetadas pelo aumento da RL de 50% para
em UCs não seria tão desejável quanto a 80%, em 1997, foi considerado ilegal, impondo
identificação de áreas prioritárias dentro de o que muitos agricultores consideram uma carga
paisagens agrícolas, onde os custos de oportunidade desleal. Stickler et al. (2013) estimaram que a
são mais altos, e a promoção da restauração de mudança na lei através do aumento da exigência
terras degradadas mais interessante. Tanto Helena da RL representou um custo de oportunidade
Carrascosa como Márcio Santilli (comunicação de direitos de desmatamento renunciados
pessoal) citaram casos em que proprietários de até US$ 3 bilhões em rendas potenciais
de terras, através da articulação política com provenientes do cultivo de soja ou da criação de
vereadores e prefeitos, promoveram a criação de gado, se todas as terras fossem convertidas. Os
UCs em zonas marginais, em São Paulo, como custos de oportunidade para a conservação de
um meio de se livrar de seus passivos ambientais remanescentes florestais diminuíram ao longo
compensando-os; mas, em seguida, doando área do tempo enquanto os proprietários de terras
para governos locais fazerem a manutenção. Eles desmatavam ilegalmente suas áreas florestais
fizeram isso para evitar os custos de servidões privadas, deixando menos florestas para serem
permanentes e as exigências de proteção e cuidado conservadas. Considerando que sob o antigo
associadas com suas propriedades, externalizando CFB estas áreas desmatadas ilegalmente eram
esses custos para o governo através da criação e tratadas como passivos ambientais, a nova
manutenção de Unidades de Conservação. legislação isenta os agricultores de grande parte
da carga de restauração em todo o bioma de
Vários entrevistados mostraram preocupação que florestas do Mato Grosso, da ordem de 12.000-
os custos consideravelmente mais elevados de 18.000 km2. As economias de custos sobre a
restauração florestal, combinados com custos de legislação anterior seriam de cerca de US$ 2,5-3
oportunidade da terra, resultariam no abandono bilhões com as despesas de restauração, próximo
desta opção em favor de negociações de CRA mais do equivalente ao custo de oportunidade
baratas. Na Mata Atlântica não está autorizado atribuído às restrições ambientais anteriores.
o manejo de produtos florestais de espécies
nativas em áreas sob regeneração enquanto que as Além disso, a possibilidade de realizar
espécies exóticas podem ser plantadas e colocadas compensações reduziu ainda mais os custos de
sob manejo, tornando a primeira abordagem oportunidade das exigências para a restauração
indesejável aos proprietários. Por outro lado, restante, ao permitir que os agricultores
Soares-Filho et al (2014) sugerem que, pelo comprem CRA de propriedades com área
menos no que diz respeito à disponibilidade excedente de RL no próprio estado. A aquisição
de terras, a preocupação de que a restauração de cotas de reserva legal ao invés de realização
florestal irá competir com a produção agrícola de reflorestamento na propriedade poderia
não é procedente. Eles sugeriram que áreas de levar a uma economia global de US$ 1 bilhão
28 | Peter H. May, Paula Bernasconi, Sven Wunder e Ruben Lubowski
ou mais.22 Isto, porém, poderia minar o potencial de CRA, o fato é estimado que apenas 17%
que a lei deveria ter de funcionar como um dessas propriedades possuem títulos plenamente
incentivo para aumentar a cobertura florestal. registros e suprem as exigências de comprovação
Algumas áreas sujeitas ao desmatamento legal de propriedade (Soares-Filho, 2014). Isto
têm custos de oportunidade significativamente implica em um grande desafio para assegurar
mais elevados do que outras áreas de florestas a participação das pequenas propriedades no
que não são passíveis de desmatamento. As terras mercado de CRA (além daquele associado aos
remanescentes passíveis de desmatamento legal custos de transação), considerando a exigência de
sob a nova legislação têm um potencial para a que os emitentes de CRA devem ter direitos de
produção de soja ou de carne de cerca de US$ 370 propriedade regularizados na forma de titulos de
milhões em termos de valor presente líquido, e, terras registrados.
muito provavelmente, serão convertidas para esse
fim. A perspectiva de que essas áreas poderiam Os entrevistados concordaram que a anistia
ser compradas para a conservação é muito pouco geral sobre as exigências de restauração do
provável, dada a disponibilidade de propriedades desmatamento ilegal prévio em propriedades
com menor custo de oportunidade na fronteira da menores que quatro módulos fiscais foi responsável
floresta. Se apenas essas áreas forem usadas para a pela maior parte da redução da demanda potencial
compensação, ao invés de realizar a restauração no de CRA. Ao mesmo tempo, a possibilidade de
local, o impacto global em termos do aumento da emitir CRA usando toda a vegetação remanescente
cobertura florestal será reduzido, em relação ao caso em tais propriedades - em vez de apenas a RL
sem compensação. excedente com base nos atuais limites específicos
do bioma - foi responsável por uma parte
Em resumo, a eficiência na implementação de CRA substancial do aumento do potencial de oferta de
estará estreitamente relacionada com a escala em CRA. Propriedades menores agora não têm mais
que é permitida a compensação, com a inclusão de passivos históricos, mas elas ainda estão sujeitas
Unidades de Conservação e com a relação de custos às regras que regem a futura mudança no uso da
de oportunidade para os potenciais vendedores terra, e estão habilitadas a compensar qualquer
com os custos de restauração para os potenciais área remanescente em suas propriedades daqui
compradores. Os elevados custos de transação e para frente. Micol et al. (2013), por exemplo,
de monitoramento implicam em fricção que pode destacam que os assentamentos da reforma agrária
impedir a eficiência e restringir as negociações. e pequenas propriedades agrícolas de até quatro
módulos fiscais têm um total de 6,7 Mha de
oferta potencial de CRA só em Mato Grosso, o
4.3 Preocupações com a equidade que representa 54% da oferta total em áreas de
floresta23 e 28% da oferta no Cerrado. Desse total,
A nova legislação florestal (parágrafo § 4º do 1,4 Mha (21%) é passível de desmatamento legal
artigo 44 da Lei nº 12.651 / 2012) estipula que uma vez que excedem as exigências do novo CFB.
as pequenas propriedades (até quatro módulos
fiscais) também podem emitir títulos de CRA. A Além disso, de acordo com Soares-Filho
regulamentação de CRA sob este parágrafo ainda (comunicação pessoal), enquanto que sob o
depende da implementação de uma legislação antigo CFB a oferta excedente só seria suficiente
específica por cada estado brasileiro. Apesar de para equacionar até 50% do déficit em áreas de
as pequenas propriedades poderem, desse modo, demanda, sob a nova legislação florestal a oferta
desempenhar um papel fundamental no mercado de CRA potencial é suficiente para compensar
até 92% do déficit de RL, de acordo com uma
estimativa quantitativa com base nas disposições
22 Em 2009, a área superavitária remanescente sob floresta legais. Isto significa que será necessária muito
em RL capaz de ser legalmente derrubada e, portanto, pouca restauração para atingir o cumprimento
disponível para este tipo de negociação, era de 8.646 km2. da lei, dependendo dos custos de CRA. Assim,
Nos termos da legislação de 2012, essa negociação reduziria
a carga de restauração para aproximadamente 75.000 km2 -
68.000 km2. Isto reduziria os custos diretos de restauração 23 Estes números se referem às áreas com florestas no Mato
(p.ex., plantio de mudas) em cerca de US$ 8 milhões. O custo Grosso, que são definidas como aquelas no bioma amazônico,
de oportunidade poderia ser reduzido em cerca de US$ 585 ecótonos transicionais, e outras florestas que circundam o
milhões (Stickler et al., 2013). Pantanal.
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
a permissão para um uso mais amplo de CRA Em uma abordagem distinta, Chomitz (2004)
- um movimento pensado inicialmente para considera que a criação de um sistema de TDR
resolver um problema de equidade ao extinguir em Minas Gerais tenderá a gerar rendas para
os passivos de pequenas propriedades - poderia proprietários que têm áreas muito grandes, mas
resultar na redução do valor econômico total do estes estão longe de serem os mais ricos, uma vez
mercado de CRA devido ao forte aumento do que geralmente eles detêm áreas de solos fracos ou
volume de oferta, bem como pela eliminação improdutivos, ou de acesso remoto, que servem
da demanda de pequenos produtores. Por primariamente como uma “reserva de valor”. Este
sua vez, baixos valores de CRA significam grupo representa menos de 20% dos proprietários
baixa compensação para os proprietários que de terras de Minas Gerais, mas mais de três quartos
mantiveram as florestas em pé além de suas da área total. Se, devido aos custos de transação,
obrigações legais. A justa preocupação em apenas os grandes proprietários participarem das
favorecer os pequenos agricultores, assim, cria negociações, haveria apenas uma ligeira redução
um trade off em relação à outra justa preocupação na quantidade estimada de florestas postas sob
de favorecer adequadamente os proprietários proteção. No entanto, é necessária maior atenção às
de terras que historicamente conservaram implicações distributivas de tal opção de restrição
excedentes florestais. do mercado.
começo permita a fiscalização do cumprimento implicam em transações adicionais. Uma vez que
da lei, e isso tem levado à um aumento na as compensações são voluntárias, o financiamento
expectativa de que aumente a conformidade. Isso para aquisição de CRA e / ou para os custos de
torna mais urgente a necessidade de um melhor restauração pelo sistema bancário representa um
desenho para a implementação do instrumento importante pré-requisito para o cumprimento da
de CRA. A possibilidade de associar este mercado lei. A própria estruturação do mercado de CRA
ao emergente mecanismo de REDD+ e ao PSA, continua a ser um território disputado, onde alguns
os quais poderiam fornecer fontes ampliadas de estados, como São Paulo, buscando estabelecer
demanda para a proteção das florestas, também plataformas de negociação através da Bolsa de
merece uma reflexão mais aprofundada, dadas as Valores BOVESPA, enquanto o governo federal
garantias oferecidas pelo registro de CRA para propõe um sistema único de títulos através do
a permanência da floresta em pé (Raul do Valle, Banco Central.
pessoal comunicação).
Os sistemas de certificação que regulam a produção
Por outro lado, a adição de CRA ao aparato agrícola destinada a mercados específicos também
existente de comando e de controle pode podem contribuir positivamente pelo aumento
representar um enfraquecimento dessa estrutura, da demanda para a efetividade ambiental e de
uma vez que isso pode levar à possibilidade de cumprimento da lei. No entanto, o risco dos
que áreas críticas para a restauração de florestas efeitos de vazamento que seguem a implementação
degradadas sejam compensadas de forma rigorosa das regras, na ausência da correspondente
barata com CRA, que pode não corresponder intensificação agrícola em áreas já desmatadas
aos objetivos de conservação estabelecidos em deve ser considerado. O cumprimento integral do
alguns estados. As CRA podem vir de terras não antigo CFB poderia ter causado a conversão de
ameaçadas de desmatamento, longe das áreas ecossistemas naturais atualmente desprotegidos
onde a cobertura florestal é mais necessária. Isto para terras agrícolas, a fim de compensar a
sugere a necessidade de políticas de incentivos produção agrícola perdida. O vazamento é
complementares, junto com certas restrições uma preocupação igualmente válida em relação
bem desenhadas para as negociações - de modo aos sistemas de certificação, dependendo do
a direcionar as compensações para as áreas tamanho da região geográfica em consideração.
prioritárias para a conservação, bem como para Finalmente, a produção certificada pode não ser
assegurar que pelo menos parte do déficit seja uma opção para os produtores sem capacidade
sanado pela restauração de áreas de demanda – para atender todas as exigências (sobre alguns
enquanto, ao mesmo tempo, mantenha liquidez aspectos da produção, mas também relacionadas
suficiente para que o mercado de CRA funcione. com o monitoramento, contabilidade e elaboração
Mesmo que a compensação ocorra com CRA de relatórios).
de terras sob ameaça de desmatamento, outra
preocupação crítica é a garantia do monitoramento O governo federal deveria disponibilizar melhores
e fiscalização suficientes para que essas áreas critérios gerais a serem aplicados em nível
permaneçam de fato protegidas. nacional. Os estados e as suas agências ambientais
devem assumir seus papeis como organizadores,
Os incentivos financeiros também poderiam reguladores e agências de monitoramento de TDR.
ser implementados para aumentar a provisão de Alguns estados já desenvolveram mecanismos
benefícios da conservação florestal e da restauração, para gestão da bases de dados dos sistemas de
através deum esquema de Compra de Direitos de propriedades em nível local que têm se mostrado
Desenvolvimento e / ou de um sistema de PSA, fundamentais para subsidiar o planejamento do
por exemplo. Os incentivos financeiros também uso da terra e da conservação, especialmente para
poderiam ser usados para assegurar o cumprimento assegurar que os custos de transação de CRA para
mais completo da lei e, possivelmente, para criar os atores privados não sejam proibitivos.
uma distribuição mais equitativa dos custos
das opções de conformidade e da renúncia ao Soares-Filho (2014) afirma que o primeiro desafio
desenvolvimento (Börner et al. 2015). Os custos crucial é convencer o setor do agronegócio de
para completar o cadastro no CAR e para a seus ganhos potenciais com a nova legislação
estruturação e negociação de títulos de CRA florestal. Mesmo que as atividades de fiscalização
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
da lei tenham se intensificado nos últimos podem até voltar a receber nova anistia em futuras
anos, historicamente os proprietários de terras reformas legais. Para enfrentar esse desafio, o
tiraram vantagens da fiscalização governamental Brasil deve continuar a investir em sua capacidade
relativamente fraca das leis ambientais. Uma de monitoramento e fiscalização. Os sistemas de
questão estratégica particularmente relevante é monitoramento do desmatamento por satélite
como o setor ligado à pecuária vai reagir à nova mantidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas
lei uma vez que, de longe, a área de pastagens Espaciais (INPE) precisam ser expandidos para
supera a área agrícola no Brasil e a maior parte da outros biomas brasileiros e adaptados para detectar
produção é destinada ao mercado interno. A anistia mudanças sutis no uso da terra, incluindo a
concedida pela nova legislação florestal poderia degradação florestal e o desmatamento no cerrado,
levar à percepção de que é improvável que os em matas ciliares e em pequenos remanescentes da
desmatadores ilegais sejam processados, e que eles Mata Atlântica.
5 Resumo e conclusões
Com base em nossa avaliação da experiência potenciais das cotas até reduzir valor do mercado
adquirida com os instrumentos de TDR nos global no agregado (Biofílica / ICONE, 2013).
Estados Unidos, fica claro que a força de Além disso, como Sparovek (2012) adverte, um
tais mercados ambientais é em grande parte escopo muito amplo para o mercado de CRA
dependente do escopo de aplicação dos direitos resultar rá em perda de funções ecossistêmicas.
à terra negociáveis e da existência de demanda
suficiente para as cotas de uso da terra. Se o Como o Brasil é um país extenso, assim como
mercado local para a comercialização de cotas é a área de seus biomas, um escopo de mercado
fraco ou confinado a uma área excessivamente abrangendo o bioma inteiro pode resultar em
restrita, pode ser preciso estimular os preços concentração da conservação em áreas onde há
através da criação de “bancos” ou da compra baixo risco de desmatamento, devido à baixa
complementar de direitos de desenvolvimento. aptidão para a agricultura ou à grande distância do
No geral, o fator mais importante é a existência mercado. A proteção dessas áreas, já passivamente
de legislação clara e passível de fiscalização em protegidas, implicaria em nula adicionalidade
ambas as áreas de oferta e de demanda que exija ambiental (“ar quente”). Além disso, há muitas
que as negociações aconteçam para que sejam tipologias e ecossistemas diferentes dentro do
atingidos os objetivos dos proprietários, tanto mesmo bioma que poderiam acabar sendo
dos que necessitam de desenvolvimento, ou subrepresentadas em um escopo mais amplo. A
adequação ambiental, no caso. Pode ser necessário perspectiva de mercados segmentados que abordem
estabelecer um limiar para o crescimento das áreas melhor tanto os custos de oportunidade quanto
de oferta, de modo a aumentar o valor das cotas os critérios ambientais deveria ser contemplada
para proprietários de áreas de demanda. A presença no âmbito da definição de prioridades dos
de um “banco” de TDR ou de um depositário estados, conforme definido pelas regulamentações
envolvendo a aquisição pública de direitos de complementares de maio de 2014. A modelagem
desenvolvimento e sua posterior liberação para das ameaças de desmatamento associada com
o mercado quando a demanda se materializar a presença de estradas e com a influência de
representa outro componente potencial do sucesso frigoríficos aplicada em cenários construídos por
dos sistemas de TDR. Soares-Filho et al. (2014) deve se tornar parte
dessa estratégia.
A maioria dos estudos sobre o potencial de
CRA no Brasil concorda com a experiência Por outro lado, estudos mostram que quando o
internacional de que a efetividade ecológica e escopo do mercado apresenta algumas restrições -
a viabilidade econômica do mecanismo estão como ocorre na lei atual, que permite a negociação
fortemente associadas ao escopo do mercado. dentro de biomas, mas define prioridades para
Os estudos que comparam diferentes cenários negociação para além das fronteiras estaduais -
concluem que quanto maior o escopo, maiores alguns biomas e estados como a Mata Atlântica
são as possibilidades de transações no mercado. e Caatinga têm perspectivas mais baixas de
Além disso, os custos para os compradores serão realização de negociações ambientalmente eficazes.
mais baixos e o volume total do mercado tende a Isto ocorre porque há falta de oferta de áreas
ser maior. Por outro lado, no caso de chegar a um florestais excedentes, eliminando a possibilidade de
escopo excessivamente amplo de negociações na negociação, ou há um excesso substancial de oferta,
escala de biomas, isso poderia reduzir os preços em relação à demanda. Um excesso de oferta de
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
baixo custo no mercado poderia resultar em preços O impacto potencial do instrumento em termos de
muito baixos de CRA dessas áreas de florestas, eficácia para a conservação pode ter sido ainda mais
reduzindo os incentivos e falhando a desencorajar o diluído com o decreto de 05 de maio de 201425,
desmatamento legal. que expandiu a possibilidade de comércio de cotas
fora do estado com o conceito de “área prioritária”
Isto implica que, em geral, há um trade-off entre que poderia ser utilizada para compensação. Isto
um escopo mais amplo, com menores custos resultou em um aumento adicional na oferta
de oportunidade e maior volume de transações, potencial que, somado com a drástica redução na
estimulando o mercado em algumas regiões, demanda (causada pela anistia dada pela legislação
e um escopo mais restrito com efetividade de 2012), pode reduzir a eficácia ecológica da
ecológica mais localizada, em outras regiões, e CRA. Isso aumenta a probabilidade de que as CRA
maior potencial para o direcionamento para áreas tenderão a ser emitidas apenas em áreas muito
prioritárias para a conservação. Deste modo, marginais com custos de oportunidade muito
provavelmente o sistema de negociações precisará baixos e com pouco risco de desmatamento.
de uma ‘mãozinha’ dos órgãos reguladores para
alcançar um conjunto equilibrado de objetivos. Seguindo o mesmo argumento, se o mercado
A realização de simulações pré-negociação, bem fosse dominado por CRA oriunda de Unidades
como ajustes reais do sistema por tentativa e erro, de Conservação, como simulado por Biofílica /
quando este estiver em execução, podem ajudar ICONE (2013), isso também apresentaria baixa
a subsidiar o processo. Outra possibilidade é a adicionalidade, pois essas áreas já estão protegidas
criação, complementarmente, de um “banco” e acabariam sendo usadas para reduzir as exigências
federal ou de um programa de Compra de Direitos para a restauração em outras áreas. Para evitar
de Desenvolvimento para ajudar a gerenciar as que isto ocorra, os estados devem ser estimulados
transferências interestaduais. a elaborar seus Programas de Regularização
Ambiental (PRA) incluindo a definição de áreas
Outro ponto importante levantado pelos estudos prioritárias dentro do seu território. Isto será
é a diferenciação entre o “excedente” legalmente importante para garantir que os excedentes
“desmatável” e aquele “não desmatável”, mas florestais no interior do estado sejam valorizados, e
que ainda assim pode ser vendido como CRA para reduzir o risco de que elas sejam desmatadas.
devido a regras diferentes para as propriedades
com menos de quatro módulos fiscais e à presença Quando se discute a eficiência econômica do
de Zoneamento Ecológico Econômico, sob a instrumento, os estudos e entrevistas indicam
nova legislação. Por definição, estes excedentes que a implementação de um mercado para CRA
têm diferentes custos de oportunidade. Em um pode contribuir adicionando valor monetário
mercado com excesso de oferta de áreas sem à vegetação nativa conservada em propriedades
adicionalidades, essa diferença significa que parte privadas. Porém, nenhuma das simulações calcula
do excedente que pode ser legalmente desmatada os custos de transação envolvidos. A maioria
tende a ser convertida, na ausência de fortes reconhece que a literatura diz que tais custos devem
incentivos adicionais para a conservação. Neste ser muito elevados e, por vezes, proibitivos, mas
caso, o mercado de CRA irá desempenhar um este aspecto ainda exige mais pesquisas empíricas.
papel de compensar alguns proprietários de terra Outra opção para melhorar a liquidez poderia ser
que desistirão de desmatar sua floresta excedente, a constituição de bancos de crédito suportados por
mas, provavelmente, não vai evitar todos os recursos públicos, como em alguns casos de TDR
novos desmatamentos que poderiam ocorrer em nos Estados Unidos. A única hipótese discutida
um outro cenário. Além disso, o bioma Mata (mas não testada) é a de que quanto maior é o
Atlântica apresenta custos de oportunidade que escopo geográfico do mercado, maiores serão os
se diferenciam daqueles em outras partes do custos para o monitoramento e fiscalização do
Brasil, uma vez que a “Lei da Mata Atlântica”24 funcionamento do sistema quando compradores
praticamente proíbe o desmatamento no bioma e vendedores estão longe um do outro, como, por
caso não tenha forte justificativa. exemplo, em dois estados diferentes.
A maioria dos entrevistados concordou que o porque essas propriedades concentram a maior
valor das CRA será insuficiente para cobrir os parte das áreas de excedentes (especialmente
custos de oportunidade da produção agrícola, fragmentos maiores) e também costumam contar
embora possa compensar em alguns casos como com a pressão de cadeias de fornecimentos no
na regeneração natural em pastagens marginais lado da demanda. Assim, esses fatores deveriam
de baixa produtividade. Assim, a venda de CRA ser ponderados em relação às preocupações sobre a
de áreas de oferta pode vir a atuar mais como um participação dos pequenos produtores.
prêmio de consolação para aqueles que preservaram
mais do que o exigido por lei, bem como para os A nova legislação florestal mudou as regras para o
pequenos agricultores que derrubaram todas as suas cálculo de excedentes para as pequenas e médias
florestas. Alguns entrevistados (Carrascosa, Valle) propriedades (até quatro módulos fiscais), a fim de
mencionaram a duração dos contratos como uma abordar as implicações distributivas dos requisitos
variável chave para a eficiência econômica. Alguns de RL, e para dar mais vantagens a elas. Alguns
proprietários de terras estão mais interessados em estudos mostram que os pequenos agricultores e
servidões temporárias do que permanentes, devido assentados poderiam ter uma forte participação
à possibilidade de mudar o status da área mais na oferta de CRA (e nenhuma participação
tarde, se o valor das CRA já não for de interesse na demanda, por definição). No entanto, esta
financeiro. Embora tais servidões não tenham sido perspectiva ainda não foi testada na prática.
usadas muitas vezes sob o antigo CFB, devido à
insuficiente pressão para o seu cumprimento, esta Em última análise, um ponto frequentemente
opção pode se tornar preferível nos termos da citado nos estudos é a viabilidade institucional do
legislação vigente. monitoramento e fiscalização de tais sistemas. O
mercado de CRA, como qualquer sistema de TDR,
Poucos estudos abordaram os aspectos distributivos requer um sistema de cadastro robusto e também
e de equidade do mercado de CRA. Os custos uma operacionalização muito boa do processo de
de transação podem excluir a maior parte das monitoramento. Isto é particularmente relevante
propriedades de menor porte do mercado. Embora onde devem ser envolvidos e integrados diferentes
a lei exija especificamente que os estados devam estados e distintos sistemas. A importância da
prestar assistência técnica aos pequenos agricultores fiscalização é crucial: sem pressão do governo, dos
para o registro no CAR e para a emissão de CRA, bancos e das cadeias de fornecimento para forçar os
ainda há muito a ser feito para assegurar que proprietários de terras em direção à conformidade
essas propriedades serão capazes de participar no com a RL não haverá qualquer demanda e,
mercado e receber uma compensação financeira portanto, não haverá mercado. Desse modo, a
para as suas áreas de vegetação natural. Uma credibilidade do monitoramento e das sanções
vez que a maioria dos pequenos proprietários por não cumprimento da lei é uma pré-condição
não possui títulos formais de posse da terra, fundamental para o sistema funcionar ou não.
pelas exigências da legislação eles não estariam
habilitados a emitir CRA. Uma possibilidade Em conclusão, o que os estudos e entrevistas
prevista para apoiar a sua participação seria mostram é que, apesar das grandes expectativas
incentivar os agentes de mercado a trabalharem que estão sendo colocadas nas CRA no contexto
como “agregadores”, prestando assistência técnica e da nova legislação florestal, o seu potencial de
promovendo escala. mercado para criar incentivos significativos para
a conservação tem sido severamente prejudicado
Dois pontos mencionados por Chomitz (2004) pela anistia, a redução de passivos e, pelo
têm influência sobre a equidade: 1) um mercado menos em algumas regiões, a permissão para as
restrito a propriedades maiores tende a ter negociações interestaduais. De modo algum as
menores custos médios de transação porque esses CRA são uma panaceia que vai resolver todos os
proprietários têm maior facilidade em lidar com as problemas de conservação das florestas em terras
vicissitudes burocráticas desse tipo de mercado e privadas no Brasil. Para se tornar eficaz, as CRA
seu reduzido número representa substancialmente devem ser utilizadas em combinação com outros
menor esforço administrativo para as autoridades instrumentos, e não os substituir. De fato, outros
públicas. 2) A restrição a grandes propriedades instrumentos que remunerem os proprietários de
também poderia ser mais eficaz para a conservação, terras ao adotarem melhores práticas e protejerem
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Cotas de reserva ambiental no novo código florestal brasileiro
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Anexo 1. Descrição de programas de
TDR norte-americanos
Os TDR têm sido utilizados de forma eficaz no zoneamento foi oferecida a oportunidade de
para permitir aumentos de densidade em negociar Créditos de Desenvolvimento Pineland
empreendimentos residenciais, de modo a permitir (Pineland Development Credits), para assim
que áreas de terras com maiores aptidões agrícolas conter o uso da terra com atividades agrícolas,
e áreas para a conservação sejam preservadas. de silvicultura, do manejo de fauna e da pesca
Os TDR foram utilizados principalmente a e recreação de baixa intensidade. Cada crédito
partir de 1993 nos pinheirais de Long Island, no representa 39 acres (15,8 hectares) de terras
estado de Nova Iorque (NYS). As negociações agrícolas de terra firme (ou 2/10 de crédito por
ocorreram a partir de 52.200 acres [12.133 ha] 39 acres de terras em zonas úmidas), cada crédito
(principais áreas de oferta) e adjacentes 47.500 sendo negociável por uma unidade residencial
acres [19.223 ha] de Áreas de Crescimento adicional em áreas de demanda em zonas menos
Compatível (Compatible Growth Areas, áreas de restritas da região do pinhal. Um Banco de Crédito
oferta menos restritivas), para proteger um aquífero de Desenvolvimento de Pinelands (Pinelands
regionalmente importante servindo 1,8 milhões Development Credit Bank - PDC) foi criado para
de pessoas. Três distritos em Suffolk County, NYS registrar e facilitar a transação desses créditos,27 e
(Brookhaven, Riverhead e Southampton) estão um município criou um mecanismo de troca de
envolvidos no plano, os quais registraram 737 créditos de desenvolvimento local, permitindo
parcelas de servidões perpétuas de conservação, e que créditos negociados em Burlington County
estabeleceram uma Câmara de Compensação para pudessem ser recebidos em qualquer lugar na
Créditos de Pine Barren (PBC) para transacionar região de Pinelands. Um total de cerca de 51.700
esses instrumentos através de leilões. As áreas de acres (20.923 ha) foram transacionados em 2013
demanda foram designadas através de planos de por um valor médio de US$ 30.000 para os
zoneamento abrangentes, em nível de distritos PDC em meados da década de 2000 (Pinelands
municipais. Pela lei do estado de Nova Iorque, Development Credit Bank, 2013), estimulando a
as áreas de oferta também têm que demonstrar criação, em 2004, de uma legislação que habilitasse
capacidade em prover serviços municipais para operações de TDR em todo o estado. No entanto,
absorver a densidade residencial adicional. Em devido a pesadas exigências de planejamento
2013, ocorreram 745 transações, e o valor do PBC e para demonstrar a capacidade de densidade
(média de 2,5 acres [1,01 ha] / parcela) subiu para adicional, até 2010 nenhuma área adicional havia
quase US$ 65.000, para um valor total de mais de sido protegida através de TDRs, no estado (NJ
US$ 33 milhões. 26 Future, 2010).
As publicações ocasionais do CIFOR contém resultados de pesquisa que são significantes para
o manejo florestal nos trópicos. O conteúdo é revisado por especialistas internos e externos.
O Código Florestal do Brasil (FC) requer que todas as propriedades privadas rurais mantenham uma proporção
fixa da sua área em vegetação natural como uma “reserva legal” cujas proporções são diferenciadas por
bioma. Os proprietários de terra têm muitas vezes ignoradas a lei. Atingir seu pleno cumprimento exigiria
uma restauração cara em áreas convertidas para outros usos. Mudanças recentes no FC preveem que os
proprietários possam “compensar” a sua escassez de reserva legal através da compra de excedentes existentes
ou restaurações obrigatórias em outras propriedades. Este artigo discute questões políticas críticas a respeito
de Cotas de Reserva Ambiental (CRA). Examinamos a eficácia ambiental relativa da CRA, a sua eficiência na
utilização dos recursos e a sua justiça social, bem como potenciais problemas de implementação. Permitindo a
compensação com base na conservação fora do local pode permitir atividades agropecuárias mais eficientes e
menos fragmentadas, bem como a conservação das florestas, em comparação com a proposição de conservação
padronizada proporcionalmente. A CRA, como uma opção para a compensação, possui grande apelo intuitivo,
embora persistem controvérsias em relação a sua implementação. Neste artigo revisamos a experiência
internacional com instrumentos econômicos semelhantes, bem como estudos brasileiros que simulam os
potenciais resultados da CRA. Entrevistas com os principais atores a respeito do instrumento complementam
a revisão da literatura. Terminamos com uma avaliação sintética das implicações dos nossos resultados para a
implementação da política.
Esta pesquisa foi conduzida pelo CIFOR, como parte do Programa de Pesquisa do CGIAR sobre
Florestas, Árvores e Agroflorestas (CRP-FTA). Este programa colaborativo visa melhorar o manejo e o
uso de florestas, agroflorestas e recursos genéticos de árvores distribuídos por toda a paisagem, de
florestas a fazendas. O CIFOR lidera o CRP-FTA em parceria com Bioversity International, o CATIE, o
CIRAD, o Centro Internacional de Agricultura Tropical e o Centro Mundial Agroflorestal.
cifor.org blog.cifor.org
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