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1.

Identificação
Aluno: Graziele Soares Furtado da Costa
Matrícula: 201903061989
CRA: 9,33
Curso: Jornalismo
Unidade: Petrópolis - RJ
Previsão de conclusão do curso: dezembro de 2022
Orientador: Tamara de Souza Campos
CPF: 184.489.137-28
Título do projeto de pesquisa do orientador: “Identidades Femininas possíveis na Tribuna de
Petrópolis, na Primeira Onda do Feminismo”
Data do início do projeto de pesquisa: mês/ano: agosto de 2020 a fevereiro de 2021
Título do plano de trabalho do aluno:“Sexo Frágil e as construções identitárias femininas
permitidas na Tribuna de Petrópolis entre 1905 e 1910”
Período a que se refere o relatório apresentado: agosto de 2020 a fevereiro de 2021
Relatório: final ( ) parcial (X )

2. Desenvolvimento do relatório técnico-científico do aluno

2.1. Resumo do projeto do orientador (até 300 palavras)

“Identidades Femininas possíveis na Tribuna de Petrópolis, na Primeira Onda do


Feminismo”, foi o artigo base e principal até o momento para o desenvolvimento desta
pesquisa. Dentro do contexto histórico da primeira onda femista o artigo é voltado para
compreender como a mulher era inserida dentro da imprensa Petropolitana no séc XIX por
meio do jornal Tribuna de Petrópolis - um dos jornais mais antigos do país.
A partir disso, o artigo faz referência a 10 identidades que as mulheres se encaixam
naquela época, nas quais foram citadas e utilizadas como referência neste relatório. Essas
representações e identidades ajudam não só a compreender como se referiam a mulher no
século XIX, mas também como se refere a ela no século XXI. Interessante é que mesmo com
tanto espaço de tempo ainda é notório encontrar tais identidades, atualmente.
O artigo faz uso de um jornal cotidiano, e não de um voltado somente para mulheres,
no intuito de mostrar a mulher como“sujeito da história”.

2.2. Cronograma original do plano de trabalho individual do aluno

A metodologia usada para pesquisa se baseia nas idas ao acervo físico da Biblioteca
Central Municipal Gabriela Mistral, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Como o acervo não
possui previsão de digitalização do material, foi necessário a realização do registro fotográfico,
para posteriormente fazer a análise. O material registrado foi limitado somente às capas dos
jornais, que foram escolhidas de forma aleatória pelo site sorteador.com. A limitação
relacionada às capas é justificada pelo levantamento prévio de que as duas últimas páginas são
dedicadas a anúncios, assim, não se enquadram dentro da análise proposta.
Após recolher o material jornalístico, as publicações do jornal impresso foram
separadas por anos e meses. Para armazenamento das informações foi utilizado o google forms,
no qual requisitou os seguintes registros: data de publicação, número da edição, dia da semana
que foi feita a publicação do jornal e separar entre nota, notícia, artigo, falecimento/aniversário
e outro, cada citação que continha alguma mulher.

2.3. Apresentar e comentar a bibliografia lida no período e os métodos e técnicas de


pesquisa utilizadas

“As mães de famílias futuras: a Revista o Tico-Tico e a formação das meninas


brasileiras (1905-1925)” foi um artigo usado como estímulo para a criação de senso crítico
sobre o tema “Sexo Frágil e as construções identitárias femininas permitidas na Tribuna de
Petrópolis entre 1905 e 1910” . A pesquisa busca mostrar a diferença entre o homem e a
mulher a partir da perspectiva de uma revista que surgiu no no início do séc XX, “O Tico-
Tico”.
Com destaque para a formação da criança naquela época, a revista apresenta como o
homem é destinado aos estudos e preparado para o mercado de trabalho desde muito cedo. Já
a mulher é ensinada a se preocupar somente com os afazeres domésticos, e se tornarem esposas
afetivas, sadias, belas, isto é, companheiras perfeitas para um marido.
O artigo também traz destaque à ambiguidade gerada em algumas publicações da
revista, quando relaciona a mulher como educadora do homem na sua formação moral e como
cuidadora para que ele seja um “homem de bem”, mesmo a mulher sendo o indivíduo dentro
da sociedade que não poderia estudar e se capacitar realizar com êxito as tarefas que lhe foram
atribuídas por meio da sociedade.
Outro ponto a se destacar é o fato de algumas seções abordarem como a mulher poderia
se tornar útil dentro do lar, desde criança. Enquanto os homens crescem brincando, a mulher
tem que crescer ajudando a mãe - considerada uma tarefa divertida - seja passando pano nos
móveis, dobrando roupas ou ajudando a cuidar do irmão mais novo, pois desta forma, isso a
estimula a ser uma boa dona de casa.

2.4. Resultados obtidos no período


Ao todo foram contabilizadas 104 capas de jornais, contendo 223 análises já realizadas
a partir das 10 identidades propostas. São elas:

1. falecimento/aniversário/casamento/nascimento/enfermidade = 58 casos
2. professora = 15 casos
3. arauto da beleza, pura, santa, religiosa = 24 casos
4. acompanhante = 48 casos
5. vítima de violência doméstica e nas ruas = 7 casos
6. mulher artista = 20 casos
7. mulher perdida = 11 casos
8. freira = 3 casos
9. engajada politicamente ou referendada com prestígio = 33 casos
10. rainha do lar/mãe = 4 casos
Obs: Em alguns casos houve a identificação de 2 ou mais identidades.

1) Falecimento/aniversário/casamento/nascimento/enfermidade (58 casos) - w. Em nota


publicada em 16 de fevereiro de 1905, nota -se que não basta apenas citar o nome da mulher,
na qual celebra sua data de aniversário, mas é necessário atrelá-la a seu esposo. O material será
transcrito para reduzir o espaço, porém, se manterá a grafía da época:
“Festejou hotem seu natalicio, a exma Sra. Edith Land Lima esposa do Sr. Fernando
Ferreira Lima.”

O mesmo acontece na notícia relacionada a enfermidade, no dia 11 de abril de 1905:


“Está gravemente enferma exma senhora D. Cecília de Mello Franco Marinho, esposa
do sr. Henrique Marinho, nosso collega da Gazeta Notícias."

2) Professora (15 casos) - Por ser uma das únicas profissões possível para mulher
naquela época, as citações que englobava a mulher como professora giravam em torno de
licenças, transferências de distritos, solenidades em escolas, premiações e eventos religiosos,
nas quais, algumas professoras se destacavam com habilidades musicais. Em nota divulgada
no dia 05 de junho de 1906, encontra-se uma professora que pede licença para cuidar de sua
saúde:
“A professora da 12º mista em Itaypava, 3º districto deste municipio d. Thereza
Mathilde de Abreu Sobré, requereu 3 mezes de licença na fórma da lei, para tratar de sua
saúde.”
Outra nota publicada em 11 de novembro de 1906, se destaca pela forma de prestígio
que a professora, Virgilia Portilho recebe, por conseguir manter uma escola com número acima
da média em quantidade de alunos:
“Vimos hontem o mappa apresentado à Camara Municipal pela sra. d. Virgilia Portilho
Machado, professora da escola mantida no bairro Quissamã pela Sociedade Escolar e
Beneficiente ahi fundada ha um anno. Por esse documento verifica-se que a matricula accusa
o numero elevado de 86 alumnos, sendo a media de frequencia diaria de 63,8.
Tratando - se de uma escola particular, sem auxilo algum do poder publico é dignos de elogios
esse resultado que representa enorme esforço dos que tomaram o encargo de distribuir a
instrução por tao grande numero de creanças, em sua totalidade pertencentes a familias pobres.”

3) Arauto da beleza, pura, santa, religiosa (24 casos) - Representa a mulher como o sexo
belo ligada principalmente a santidade. Em 06 de maio de 1905, d. Alzira, uma mulher que se
destacava na cidade por ser alguém que ajudava as pessoas e que foi irmã fundadora e zeladora
da Confraria de Nossa. Senhora do Rosário, faleceu. No dia de seu velório, D. Alzira foi retrata
da seguinte forma:
“ Ai! é tão triste a morte! Olhae: d. Alzira está morta… Palida e fria parece dormir;
paira ainda nos seus labios descorados sellados pelo Anjo da Noite, um sorriso angelico, aquelle
sorriso que a todos cativava; nem as sombras da outra vida pôde apagar-lhe a formosura, porque
era muito formosa; seus cabellos negros, muito negros, têm ainda o brilho da seda; suas mãos
brancas e finas, agora cruzadas sobre o peito, ja não podem dar esmolas, porque a caridade
estavam nelas; seus olhos cerrdos não têm mais o brilho, a doçura, o encanto de outr’ora; seu
coração cheio de bondade e amor, não bate mais!...”

Nota-se nesse caso que mesmo após a morte, a exaltação da beleza feminina e a ligação
de pureza relacionada a mulher se mantém.

4) Acompanhante (48 casos) - Mulheres que, em sua maioria, não possuem seus nomes
escritos nas matérias, são apenas citadas como senhora, filha de, sogra de, esposa de, ligadas
ao nome do esposo, em eventos, festas e chegada/saída da cidade de Petrópolis. Mesmo sendo
parecida com a primeira identidade, Falecimento/aniversário/casamento/
nascimento/enfermidade, nesta categoria ocorreu variações entre o nome da mulher estar ligado
ao homem ou não. Em 16 de fevereiro de 1905, encontra-se uma nota na qual revela apenas o
nome do homem, e a mulher é referida como “esposa”:
“O sr. dr. Lauro Muller e sua exam esposa visitaram hotem a familia do sr. presidente
da Republica.”
Já na nota divulgada em 02 de fevereiro de 1906, que retrata um almoço oferecido pelo
sr. Barão do Rio Branco, percebe-se que o nome da mulher é transcrito e sem ligação ao
homem:
“ Nesta festa de cordialidade tomaram os srs: Atilio Serra, encarregado de negocios da
Italia, capitão de fragata marques de Campomassa, primeiros tenentes Giulio Farreni e Giulio
Lonizzi, guarda marinha Ettore Farina, commandante e oficiaes daquelle cruzador; general
Souza Aguiar, chefe da casa militar da presidencia da Republica, e senhora; mme. Samuel
Gracie, dr. Thomaz Bezzi, senhoritas Hortencia Rio Branco e Carmem Belfort, drs. Raul do
Rio Branco, Domicio da Gama e Paranhos da Silva; e Alcides Paranhos.”
Das 14 pessoas citadas, somente 3 são mulheres, tendo 2 o nome escrito.

5) Vítima de violência doméstica e nas ruas (7 casos) - Identidade que retrata mulheres
que sofrem violência e abuso a sexual tanto em casa, quanto nas ruas, de seus pais, maridos e
parentes. Ainda remete a relatos sobre assaltos e brigas que a mulher não estava envolvida, mas
ainda sim é acusada. O exemplo de 01 de janeiro de 1905 retrata o quadro de um abuso:
“Sabbado a tarde, Rezende ao chegar em casaencontrou João da Lava, cocheiro do
tubary n.52, forçando sua amasia de nome Maria a têr relações illicitas com elle João.”
Outro exemplo, é publicado no dia 17 de junho de 1905, quando uma mulher é
perseguida por um homem embriagado:
“Na avenida 7 de Abril foi antehotem, às 10 horas da noite, preso pelo comissario
depolicia, sr. Silvestre Lardoza, o creoulo Ezequiel de tal, que em estado de embriaguez,
perseguia uma mulher, promovendo grande escandalo.”

Ainda há outro exemplo, em que se chega ao caso extremo de assassinato:


“Foi distribuida ao sr. desembargador Pamplana de Menezes a appellação crime n.1775,
em que é appellante José Alves, condemnado a 15 annos de prisão cellular pelo Tribunal do
Jury desta comarca, por ter assassinado a mãe de sua ex-amasia no logar denominado Cortiço”.

6) Mulher artista (20 casos) - Cheia de apreciações, reconhecimento, e adjetivações


positivas é caracterizada a mulher artista. Importante ressaltar que esta é também uma das
profissões que a mulher poderia exercer, e que ao contrário de uma professora, é tratada sempre
com carinho e prestígio pelo jornal da Tribuna de Petrópolis, veja o exemplo de 05 de janeiro
de 1905:
“Da actriz sra. Julia Silva recebemos amavel cartão de cumprimento.”

7) Mulher perdida (11 casos) - diferente da identidade, arauto da beleza, pura, santa,
religiosa, a mulher perdida é retratada com adjetivações negativas, ajudando a construir uma
imagem degenerada, perdida, imoral e até mesmo criminosa. Em 18 de março de 1905, foi
divulgado uma nota sobre uma mulher que trocava carícias com soldados:
"Esta vae com vistas ao sr. delegado de policia que, pelo modos está disposto a fazer
valer as nossas leis penaes, religiosamnete olvidas pelo seu sandosissimo antecessor: Em Villa
Thereza, proximo à sede da Sociedade Filhos de Euterpe móra a conhecida rameira Rosa de
Araujo, para quem, familia,, respeito e regras de pudor são cousas infimas e despresiveis.
Assim mereadejando amores e caricias alli mesmo à janela com os soldados do 7° aqui
destacados, e fazendo a luz outras coisas mais, Rosa obriga as famílias da vizinhança a
furtarem-se de aparecer as portas e a outros constrangimentos. Exarando a queixa que nos
trouxeram à banca de trabalho, temos por certo que a autoridade policial cohibirá os
desgramentos da amorosa rameira. "
Nota-se neste caso que a mulher não recebe pronomes de tratamento e é vista como
alguém que comete atos desrespeitosos, por trocar carícias em público.
8) Freira (3 casos) - Mulheres que se dedicavam a vida religiosa eram descritas de forma
positiva, além de se destacarem no envolvimento com a educação infantil e caridades em geral.
Na menção em 11 de abril de 1905, uma freira apela por aos cidadãos por ajuda em prol das
condições que um hospital se encontrar:
" Não foi debalde que a respeitável Irmã Superiora da Congregação de Santa Catharina apelou
para os sentimentos humanitários dos habitantes deste municipio, em prol do Hospital de Santa
Thereza."
Além de ser um cargo de respeito para a sociedade, é perceptível que a mulher freira
encontra um pouco de voz, por fazer tal declaração em meio a um jornal, que oculta nomes de
mulheres, como visto na identidade, mulher acompanhante.

9) Engajada politicamente ou referendada com prestígio (33 casos) - Nesta categoria, é


possível ver mulheres que se destacam de forma positiva em meio a sociedade, mesmo não
exercendo alguma profissão considerada de prestígio, na época. No dia 28 de outubro de 1905,
é divulgada uma nota, que retrata mulheres que se mobilizaram por uma causa social, após o
pronunciamento de uma freira, apelando por ajuda humanitária em prol de um hospital na
cidade:
“Uma comissão, composta de ilustres senhoras da nossa sociedade, tomou o encargo
de organização de um grande festival, que realisar se à no dia 31 de dezembro proximo futuro
em beneficio do Hospital Santa Thereza.”

10) Rainha do lar/mãe (4 casos) - Essa categoria, destaca a mulher boa mãe, religiosa, que
cuida do lar e preserva a família. Em nota publicada no dia 27 de maio de 1905, o jornal faz
uma reflexão da Maria mãe de Jesus, para com as mulheres mães, veja:
"Só ellas, as mães, sabem comprehender que a moralisação da família repousa no
desenvolvimento religioso da infância e da juventude. É no amor maternal que está o futuro do
genero humano; fraca é sem dúvida a mulher, mas é nessa mesma fraqueza que assenta sua
força. O exercito de Christo, o maior, o mais formidável, espalhado por toda a terra, se compoz
, na sua formação [...] E pela mulher que se chegará um dia na nossa patria a essa Republica
desejada por alguns sonhadores; só ella poderá educar uma geração nova no espirito da
liberdade, no amor da patria e da familia, no sentimento da proibidade e da moral, no respeito
de Deus."
Nota-se que apesar da mulher ser a responsável pela educação das gerações seguintes,
ela não está inclusa para participar juntamente com o homem do mesmo futuro, sendo apenas,
aquela que continuará, na visão do jornal, gerando filhos e cuidando para que eles sejam o
futuro da nação, assim, como foi com Maria, mãe de Jesus.

Das 10 categorias, apenas 3 identidades mantém uma relação mais profunda com o
tema, “Sexo Frágil e as construções identitárias femininas permitidas na Tribuna de Petrópolis
entre 1905 e 1910”, são elas: arauto da beleza, pura, santa, religiosa, mulher artista e rainha do
lar/mãe. As identidades totalizam 48 menções e refletem a mulher como ser submisso, frágil,
vulnerável e puro. .

2.5. Dificuldades encontradas na execução do projeto


Devido ao momento delicado em consequência da covid-19 foi preciso negociar as
idas ao acervo físico da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral de acordo com a
disponibilidade dos colaboradores, desta forma, alterando a previsão inicial da análise de 6
anos para 4 anos.

2.6. Informar se o cronograma proposto foi cumprido e as justificativas, caso não tenha
sido
Sim, o cronograma foi cumprido.

3. Autoavaliação do aluno (preenchimento obrigatório)


Em seis meses de análise, foi perceptível a diferença entre um simples trabalho
acadêmico e uma pesquisa. Alguns fatores que fizeram essa diferença ser notória, foram:
1. Locomoção
Sair do conforto habitual, e ir em lugar físico em busca de material.
2. Linguagem
O fato de analisar jornais do século XIX, e trazer uma linguagem e uma nova adaptação, fazem
mais uma vez o indivíduo sair do conforto.
3. Como usar o material
A forma de organização e como aplicar tal material na escrita foi um grande diferencial. Apesar
da forma de armazenamento ser simples, selecionar as melhores citações é um fator que trás
bastante trabalho.
De um modo geral, é surpreendente como a pesquisa muda a visão tanto na forma de
ver o mundo acadêmico, quanto na vida cotidiana.

4. Parecer do Orientador (preenchimento obrigatório)


Em caso de não cumprimento do cronograma, aprova a justificativa apresentada pelo aluno?
Sim ( ) Não ( )
Breve parecer: (preenchimento necessário)

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