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O elo perdido de Yosemite


Fernando Souza

7-10 minutos

O mirante Discovery View revela de uma vez só gigantes como El


Capitán, Half Dome e a Bridalveil Fall Universal Images Group
Editorial/Getty Images
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A começar pela pronúncia (“Ioze-MÍ-te”? “Ioze-MÁI-te”?), o


Parque Nacional de Yosemite era uma incógnita. Informações
desencontradas, orientações para ficar dias, trilhas sabe-se lá a
dificuldade. Por que não ir de Napa Valley a Los Angeles pela
Highway 1, ladeando os penhascos à beira-mar da Big Sur,

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com opções de pernoite em cidades de verdade? Mas a


“questão Yosemite” exigia respostas, e o desvio de 302
quilômetros a leste, de Napa ao coração do parque, me daria
todas elas. “Io-SSÊ-m’ri”, assim que se pronuncia, é um
escândalo de rochas descomunais como o Pão de Açúcar,
margeadas por estradas em bom estado numa área irrigada por
riachos à Visconde de Mauá, forrada de prados com pinheiros
altíssimos e dotada de uma infraestrutura invejável. Para quem
gosta de natureza, é um parque para pelo menos dois dias de
trilhas. Yosemite, agora eu sei, é o elo que faltava para uma
viagem perfeita entre San Francisco (ou Napa) e Los Angeles.

Eram três da tarde quando encostei na guarita da Arch Rock,


na El Portal Road, a entrada mais a sudoeste e uma das cinco
de Yosemite. A guarda-parque com chapéu me deu o mapa, e
eu segui pelo asfalto de pista simples. Um riozinho quase seco
passou a acompanhar a via, agora sombreada por um bosque
de pinheiros que se perdiam na penumbra. De repente surge
um descampado com amplas campinas. Abrindo a passagem, à
frente, irrompem El Capitan, uma rocha com absurdos 900
metros de face vertical, à esquerda, e Catedral, uma copiosa
cordilheira calcária, à direita. O acostamento generoso faz cada
recém-chegado sair do carro e clicar a paisagem
compulsivamente. Estou na parte baixa do parque, já em
Yosemite Valley, e, conforme a estrada avança, multiplicam-se
as tendas ao estilo glamping do Housekeeping Camp e as
barracas de camping de Curry Village.

Os bolsões de estacionamento, bem parecidos, são ótimos para


você perder o carro. Já se passaram 18 quilômetros da entrada,
e a via faz um looping para voltar, margeando o centro de
visitantes, o museu (temporariamente fechado), um mercado
com ATM e tudo, a ótima Degnan’s Deli e os hotéis Yosemite

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Lodge at the Falls, rústico e decente, e o aristocrático The


Ahwahnee.

Para chegar às atrações da parte baixa, você deixa o carro no


estacionamento e pega um ônibus circular até o início da trilha
desejada. É possível também alugar bikes e cavalos, ficar
caminhando entre os bosques ou escalar as gigantescas
massas rochosas, como o El Capitan – se for um alpinista
experiente. Para chegar à parte alta de Yosemite há um longo
caminho de carro – de Arch Rock, são 105 quilômetros até a
extremidade leste, onde está a entrada Tioga Pass. No trajeto,
em Crane Flat, fica um dos dois postos de combustíveis (o
outro se localiza em Wawona, ao sul). Apesar da infra toda,
95% da área é selvagem, e como são 3 027 quilômetros
quadrados de reserva, o dobro da Chapada Diamantina, não
rola muvuca nem nos trekkings mais óbvios.

Urso farejador

Das placas aos copos de refri, não faltam avisos da presença


de ursos-negros em Yosemite, mas o mais provável é que você
só encontre esquilos. Menos agressivo que o pardo, o urso-
negro tem olfato sete vezes mais apurado que o de um cão
farejador. Por isso, no Yosemite Lodge at the Falls, a recepção
insiste em saber se há comida no carro dos hóspedes, mesmo
que esteja dentro de uma mochila no porta-malas. Além de
fariscadores, os ursos são espertos e fortes, capazes de
estourar os vidros e entortar as portas do veículo. E, se você
topasse com um deles, se fingiria de morto ou correria? Nada
disso: bata palmas, grite, faça barulho – pareça mais
ameaçador que o próprio bicho.

Petrificado

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Eu dediquei meio dia à parte baixa e um dia à alta do parque,


explorando as trilhas fáceis. Foi o suficiente para, além de ter
um panorama, exercitar o corpo dentro dos limites do meu
sedentarismo. Comecei pela trilha da Cachoeira Vernal, perto
de Curry Village, mas precisei interrompê-la na metade, porque
escurecia. O visual: de um lado, a queda-d’água lambendo o
paredão; do outro, um profundo vale com escarpas em
semicírculo e a base inundada de pinheiros. No dia seguinte,
parti para uma trilha vizinha à Vernal, a de Mirror Lake, que em
meia hora culmina numa imensa clareira cercada de montanhas
e coníferas, cenário todo refletido num espelho-d’água. A
imagem é quase brega de tão perfeita, como aquelas paisagens
de quebra-cabeça.

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Ao sair da El Portal Road e entrar na Big Oak Flat Road, a


caminho da parte alta do parque, a estrada fica espremida entre
a encosta e os penhascos bestiais. Entrei à direita na Tioga
Road, a artéria da parte alta (fechada no inverno), até a trilha de
May Lake. Os caminhos de Yosemite, quando não sinalizados,
são intuitivos, e em 25 minutos cheguei ao lago, cercado de
pinheiros e montanhas calcárias, como sempre, mas também
de um punhado de campistas. De volta à estrada, avistei o
Tenaya Lake, o maior lago do parque e parada usada tanto
como praia lacustre quanto como área de piquenique. Fiz um pit
stop sem pressa para o lanche, comprado antes na déli de
Yosemite Valley, embora ali perto houvesse um restaurante e
uma conveniência, abertos só no verão. A seguir, a estrada
conduz a uma enorme pradaria, Tuolumne Meadows, cingida,
ao fundo, por rochas imensas e uma floresta de clima
subalpino, já que a altitude ali passa dos 2 600 metros. Ao lado
da pista, Pothole Dome, uma gigantesca pedra solitária em

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forma de domo convexo, convida a ser escalada na perna, em


dez minutos, para escancarar uma panorâmica do relvado e de
seu entorno. Pela mesma Tioga Road segui até Tioga Pass, de
onde sai a trilha íngreme para Gaylor Lakes. O percurso me
levou a uma várzea com um lago bem negro, mas não tão belo
quanto os outros cenários que eu havia visto. Com mais tempo,
eu a trocaria pela trilha de seis quilômetros para Cathedral
Lakes, que sai de Tuolumne Meadows.

Tênis e roupas confortáveis, protetor solar e labial, boné, óculos


de sol e água são tudo de que você precisa nesse circuito de
Yosemite. Para conhecê-lo, espere dirigir por mais de 200
quilômetros, mas tudo é recompensador. Sem precisar
caminhar, é possível encostar em mirantes obscenos, como o
Tunnel View, na Wawona Road, de onde se avista a pedra Half
Dome. Essa estrada sai de Yosemite Valley para o sul, já na
direção de Los Aangeles. Muito antes disso, você saberá que
fez o melhor caminho.

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