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História da matemática: e-book – como surgiram

alguns conceitos matemáticos?


1a edição

Org.
Valdirene da Rosa Rocho
Carla Margarete Ferreira dos Santos
Margarete Farias Medeiros
Carla Sofia Dias Brasil
Taís Pereira da Silva

I NSTITUTO F EDERAL C ATARINENSE


S OMBRIO, 2018.
História da matemática: e-book – como
surgiram alguns conceitos matemáticos?

Org.
Valdirene da Rosa Rocho
Carla Margarete Ferreira dos Santos
Margarete Farias Medeiros
Carla Sofia Dias Brasil
Taís Pereira da Silva

Correção ortográfica
Rosemary de Fátima de Assis Domingos

Colaboradores
Caio Robério Barpp da Silva
Elisiane Cardoso de Andrade
Joel de Oliveira Bassani
Mara Cristina Baltazar
Sabrini dos Anjos
Zilmara Raupp de Quadros

Instituto Federal Catarinense


Sombrio, 2018.
Somos filiados

Editora do Instituto Federal Catarinense


Rua das Missões, nº 100
Ponta Aguda – Blumenau – SC
CEP 89051-000

Editor chefe – Eduardo Augusto Werneck Ribeiro


Conselho Editorial: Cladecir Alberto Schenckel, Fernando José Garbuio, Josefa Surek de Souza e
Kátia Oliveira.
H673 História da matemática: e-book - como surgiram
alguns conceitos matemáticos? / Valdirene da Rosa
Rocho; Carla Margarete Ferreira dos Santos;
Margarete Faria Medeiros; Carla Sofia Dias Brasil;
Taís Pereira da Silva (Orgs.). -- Sombrio:
Instituto Federal Catarinense, 2018.

65 f. il. col.

ISBN:978-85-5644-023-5

1. História da Matemática.I. Rocho, Valdirene da


Rosa , II. Santos, Carla Margarete Ferreira dos.
III. Medeiros, Margarete Faria. IV. Brasil, Carla
Sofia Dias. V. Silva, Taís Pereira da. VI. Instituto
Federal Catarinense. VII. Título.
CDD: 510.9
Sumário

1 6o ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.1 Matemática e o seu aparecimento 9
1.2 Quem inventou a matemática e os números? 11
1.3 De onde vieram os números? 14
1.4 A necessidade de representar quantidades 16
1.5 O mistério dos números decimais 20
1.6 Dos números (in)compostos aos primos 22
1.7 A origem das frações 26
1.8 História dos sinais 29
1.9 Geometria 32

2 7o ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1 O longo caminho da álgebra 36
2.2 A origem do conceito de área 38
2.3 O fantástico número pi (π) 40

3 8o ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.1 História da álgebra 45
3.2 A história dos polinômios 47
6

4 9o ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1 Uma pequena viagem na história das funções 51
4.2 O teorema de pitágoras e os números irracionais 54
4.3 Sistemas de medidas e sua origem 57
Introdução

O estudo da matemática pode ser associado a sua história, nos ca-


pítulos a seguir, podemos observar notações e registros matemáticos,
nas quais foi possível descrever uma parte do caminho que esta ciên-
cia percorreu.
O tema central deste e-book, traz um breve resumo da história da
matemática, possibilitando que professores utilizem em aulas para
introduzir determinado conteúdo, ou até mesmo em momentos de
leituras, os quais podem ser propiciados em uma aula de matemática.
Visando, assim, a interdisciplinariedade, tendo como base assuntos
de, geografia, história, português e outros.

“Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que estudam


seriamente esta ciência acabam tomados de uma espécie de
paixão pela mesma. Em verdade, o que proporciona o máximo
de prazer não é o conhecimento e sim a aprendizagem, não é a
posse, mas a aquisição, não é a presença, mas o ato de atingir
a meta.” (Gauss - Carl Friedrich)
8

Visto que, atualmente a história da matemática vem sendo mais


difundida em salas de aulas, alguns documentos oficiais como os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) [9] incentivam o uso, des-
tacando que a história da matemática pode oferecer uma importante
contribuição ao processo de ensino e aprendizagem dessa área do
conhecimento.
Ao revelar a matemática como uma criação humana, ao mostrar
necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes
momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos
e processos matemáticos do passado e do presente, o professor cria
condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favo-
ráveis diante desse conhecimento. A história da matemática é, nesse
sentido, um instrumento de resgate da própria identidade cultural.
Matemática e o seu aparecimento
Quem inventou a matemática e os núme-
ros?
De onde vieram os números?
A necessidade de representar quantidades
O mistério dos números decimais
Dos números (in)compostos aos primos
A origem das frações
História dos sinais
Geometria

1. 6o ano

1.1 Matemática e o seu aparecimento comércio, ainda que às vezes


de maneira não formal.
Mara Cristina Baltazar
Zilmara Raupp de Quadros Figura 1.1: Pinturas rupestres.

A matemática é um aspecto
único do pensamento humano,
e sua história difere de to-
das as outras histórias. Desde Fonte: [13]
o homem da idade da pedra
já se tem registros da mate- A história da matemática se
mática, quando desenvolviam fez em vários milênios e ainda
uma cultura complexa que in- hoje ela está em processo de
cluía a fabricação de ferramen- desenvolvimento de novas des-
tas para caça e proteção, lingua- cobertas e aplicações no nosso
gem simbólica e através de con- dia a dia. Historiadores rela-
tagem simples (Fig. 1.1), com tam como os primeiros exem-
muitas até atuais consequên- plos de atividade matemática
cias na religião, arte, música e vêm da consciência humana
10 Capítulo 1. 6o ano

nas operações numéricas, con- tação pode-se combinar os de-


tagem ou padrões em formas dos das mãos e dos pés, che-
geométricas (Fig. 1.2). gando até vinte (Fig. 1.3).

Figura 1.2: Formas geométricas. Figura 1.3: A antiga civilização.

Fonte: [30]

Fonte: [30]
A evolução da matemática
Assim sendo, a matemática está diretamente relacionada
nasce como ciência formal a com o movimento da sociedade
partir da percepção de seme- para cada novo tempo. Com os
lhanças, diferenças e desigual- problemas surgindo, a matemá-
dades entre quantidades e for- tica vai se aperfeiçoando com
mas. O conceito de número novos conceitos que foram se
foi um processo longo e gra- estabelecendo.
dual, assimilados pela huma- Ninguém sabe quando come-
nidade no processo de conta- çou a matemática, o que sabe-
gem. A necessidade da lin- mos é que toda civilização que
guagem simbólica era utilizada desenvolveu a escrita também
para expressar quantidades e mostra evidências de algum ní-
eventos, e ainda é atualmente, vel de conhecimento matemá-
como exemplo simples de utili- tico, isto é, nomes para nú-
zar os dedos das mãos, que po- meros, formas, ideias básicas
dem facilmente ser usados para sobre contagem e operações
indicar um conjunto de 1, 2, 3, aritméticas parecem ser parte
4, ou 5 objetos em cada mão, da herança comum da humani-
ampliando ainda essa represen- dade em toda parte.
1.2 Quem inventou a matemática e os números? 11

A matemática é um esforço foi inventada da noite para o


humano continuado, como a dia, mas foi sendo construída
literatura, a física, a arte, a ao longo do tempo devido às
economia, ou a música. Tem necessidades que vinham sur-
um passado e um futuro, bem gindo na vida do homem.
como um presente. A mate-
Entre os séculos VIII e IX
mática que aprendemos e usa-
a.C., durante o período Paleo-
mos hoje difere de muitos mo-
lítico e Idade da Pedra, a mate-
dos da matemática de mil e qui-
mática engatinhava na Babilô-
nhentos ou mesmo de cem anos
nia. Os babilônios e os egíp-
atrás.
cios já tinham uma álgebra e
A matemática do século XXI
uma geometria, mas somente o
certamente evoluirá para algo
que bastasse para as suas neces-
diferente da do século XX.
sidades práticas, não havia uma
Aprender sobre matemática é
ciência organizada. Esta ciên-
como começar a conhecer ou-
cia surgiu da necessidade de re-
tra pessoa, quanto mais você
presentar quantidades.
sabe de seu passado, melhor
pode entendê-la e interagir Com o surgimento da civiliza-
com ela, agora e no futuro. ção egípcia, a matemática ob-
teve grandes avanços nas di-
1.2 Quem inventou a matemática e os nú-
versas áreas, tais como na ge-
meros? ometria, álgebra e astronomia.
Joel de Oliveira Bassani O povo hindu também contri-
Elisiane Cardoso de Andrade buiu na construção do conheci-
mento matemático, bem como
Quem inventou a matemá- os árabes e os gregos. A ma-
tica? A matemática não é algo temática é dada como um saber
que podemos dizer que não inacabado, pois sempre surgem
12 Capítulo 1. 6o ano

novas descobertas. cesso que alguns povos utiliza-


Quem inventou os números? vam para relacionar quantida-
E desde quando os números des, ou seja, unidades de diver-
começaram a existir? Os nú- sos objetos ou animais obtidos,
meros surgiram com a necessi- era colocando uma pequena pe-
dade de representar as quanti- dra em um saquinho, cada pe-
dades de objetos e animais (Fig. dra valia uma unidade. Alguns
1.4). povos, tribos indígenas, confec-
cionavam calendários pictográ-
Figura 1.4: Contando com pedras.
ficos e desenhos em cavernas.
Sendo assim, podemos afir-
mar que os números eram pri-
meiramente representados por
pedras, nos dedos das mãos e
dos pés ou marcas em ossos,
madeiras e pedra (Fig. 1.5).
Fonte: [27]
Além de nós em cordas, pro-
cesso também muito utilizados
Neste período, denominado para medição e demarcação de
como a pré-história, existia um terras.
processo rudimentar de conta-
Figura 1.5: Primeiros registros.
gem como ranhuras em ossos,
marcas em galhos, desenhos
em cavernas e pedras. Essas
que até hoje podem ser vis-
tas como monumentos históri-
cos, pelo fato de serem os pri-
meiros registros de antigas ci-
vilizações. Além disso, o pro- Fonte: [31]
1.2 Quem inventou a matemática e os números? 13

Assim, pode-se dizer que os Figura 1.6: Representação dos números conforme
registros de números ocorre- seus ângulos.

ram de forma variada e de


acordo com cada civilização,
sendo que cada povo pos-
suía a sua própria forma de
representá-los. A necessidade
de representar grandes quanti- Fonte: [44]

dades deu origem à numeração pela sua criação, sendo a jun-


escrita. O atual sistema numé- ção de vários saberes e de di-
rico é o decimal porque pos- ferentes povos. Hoje a escrita
sui apenas dez símbolos para obteve algumas alterações, mas
representá-lo e são oriundos do se aproxima muito daquela ori-
sistema hindu-arábico. ginal (Fig. 1.7).
Depois de ter havido diver-
Figura 1.7: Representação dos algarismos indo-
sas representações, os números arábicos.
com a forma que utilizamos fo-
ram difundidos na Europa nos
séculos XV e XVI, e seus de-
senhos foram fundamentados
na quantidade de ângulos que
cada figura possui (Fig. 1.6). Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

No século XVII muitos tipos Estas e outras formas de re-


de números já haviam sido in- gistrar os números são frutos
ventados, assim, podemos con- de estudos dos povos antigos,
cluir que os números existem bem como a evolução dos siste-
há muito tempo, não tendo mas de numeração. Buscando
apenas uma pessoa responsável demonstrar suas principais di-
14 Capítulo 1. 6o ano

ferenças e mudanças conforme Figura 1.8: Registros nas paredes de cavernas.


o contexto histórico.

1.3 De onde vieram os números?

Mara Cristina Baltazar


Zilmara Raupp de Quadros
Fonte: [13]
No princípio, os homens das
cavernas podiam pintar, mas geraram a necessidade de con-
podiam eles contar [35]? Em tar.
que época surgiu o nosso sis- O pastor começou a contar as
tema de numeração? Vamos sa- ovelhas e o gado com as pe-
ber um pouco mais sobre a his- dras pelo sistema de compara-
tória dos números? ção: uma pedra, uma ovelha,
Há mais de 30 000 anos, o ou seja, um para um. Assim,
homem vivia em pequenos gru- cada ovelha que saía correspon-
pos, morando em grutas e ca- dia a uma pedra. No final do
vernas para se esconder dos ani- dia, à medida que as ovelhas
mais selvagens e proteger-se da entravam, o pastor ia tirando
chuva e do frio. Nas pare- as pedras do saquinho, assim
des das cavernas registravam ele saberia se todas haviam vol-
suas caças, suas atividades (Fig. tado (Fig. 1.9).
1.8). Durante muito tempo a ati-
Com o passar dos anos o ho- vidade de contar se constituiu
mem mudou o seu modo de em um para um. Mas com a
viver; em vez de caçar, cole- criação de muitos animais este
tar frutos e raízes, começou a sistema não foi mais suficiente
dedicar-se à agricultura e criar para suprir as necessidades do
animais, atividades estas que homem em relação ao processo
1.3 De onde vieram os números? 15

Figura 1.9: Representação da contagem dos nú- Figura 1.10: Primeiros registros.
meros.

Fonte: [31]

necessidade de registrar gran-


Fonte: [38] des quantidades deu origem à
numeração escrita.
de contagem, havendo, então, a
Inúmeras foram as tentativas
necessidade de registrar.
de cada civilização em propor
Os primeiros registros acon- seus próprios sistemas numéri-
teceram de forma muito vari- cos. Uns posicionais, outros
ada. Cada povo utilizou-se não, com símbolos e bases dife-
de uma técnica diferente para rentes tais como o chinês (Fig.
registrar grandes quantidades, 1.11) e egípcio (Fig. 1.12), en-
sendo que as primeiras tentati- tre outros.
vas foram: marcas em ossos,
Figura 1.11: Sistema de numeração chinês.
nós em cordas, partes do corpo,
marcas em pedras e paredes
(Fig. 1.10).
Registrar quantidades, de
qualquer forma, não foi sufici-
ente, e finalmente começaram Fonte: [34]
a elaboração dos primeiros
sistemas de numeração. A
16 Capítulo 1. 6o ano

Figura 1.12: Sistema de numeração egípcio.


existiram? Se a sua resposta
foi não, quem os inventou? Por-
que os inventou? Acredito que
enquanto está lendo esse texto
muitas outras perguntas estão
surgindo em seus pensamentos,
e se pegue a refletir como a ilus-
tração (Fig. 1.13).

Figura 1.13: Pensando em números


Fonte: [14]

Com o passar dos anos ou-


tros sistemas de numeração fo-
ram criados, porém hoje basi-
camente utilizamos um único
sistema, para registrar nossas
quantidades. Fonte: [25]

1.4 A necessidade de representar quanti-


Em muitas situações no nosso
dades dia a dia existe a necessidade
de representar quantidades, por
Joel de Oliveira Bassani
exemplo, se alguém nos per-
Taís Pereira da Silva
gunta: quantos irmãos você
O que lembramos quando tem? Quantos lápis possui?
pensamos ou ouvimos a pala- Quantos pares de tênis possui?
vra Matemática? Quantos pen- Quantos amigos tem no face-
saram na palavra número? Ge- book? O homem pré-histórico
ralmente um é consequência com certeza não tinha redes so-
do outro. Os números sempre ciais, não usava tênis, e muito
1.4 A necessidade de representar quantidades 17

menos lápis (Fig. 1.14). Figura 1.15: Agricultura e criação de animais.

Figura 1.14: Homem pré-histórico.

Fonte: [23]

Fonte: [11]
dade de contar. Como por
exemplo, uma tribo tinha que
No princípio, os povos pri- saber quantos era seus mem-
mitivos viviam daquilo que a bros e quantos eram seus ini-
natureza lhes davam, viviam migos. Provavelmente a ma-
na floresta e para sobreviver neira mais antiga de contar se
alimentava-se da caça e de fru- baseou em algum método de re-
tas produzidas em árvores fru- gistro simples, como no início
tíferas, o homem pré-histórico do dia quando os pastores leva-
registrava suas caças, suas ati- vam as ovelhas para o pasto, co-
vidades por meio de desenhos locavam uma pedrinha dentro
nas paredes das cavernas, lo- de um saquinho, para cada ove-
cais onde se abrigavam. Pouco lha que levavam consigo. Ao
a pouco, o homem foi mu- retornar para casa, conferiam
dando seu estilo de vida. Com a quantidade de ovelhas que
o abandono da vida nômade, voltavam, devolvendo ao saqui-
começou a dedicar-se a agricul- nho uma pedra para cada ove-
tura, à criação de animais (Fig. lha. Ou seja, a relação esta-
1.15). belecida era de um para um,
Com a evolução gradual da assim sabiam se seu rebanho
sociedade, esse novo modelo estava aumentando (nascimen-
de vida implicou na necessi- tos) ou diminuindo (roubo ou
18 Capítulo 1. 6o ano

morte). Uma evidência dessa número, grandezas e formas


prática está na própria origem podem ser encontradas nos pri-
da palavra cálculo (do latim meiros tempos da raça humana,
calculus, que significa pedra). e vislumbres de noções mate-
Na antiguidade, no início do máticas se encontram em for-
dia quando os pastores levavam mas de vida que podem da-
as ovelhas para o pasto, colo- tar de milhões de anos antes
cavam uma pedrinha dentro de da humanidade e podiam estar
um saquinho, para cada ove- mais relacionadas com contras-
lha que levavam consigo (Fig. tes do que semelhança, como
1.16). Ao retornar para casa, diferença entre um e muitos,
conferiam a quantidade de ove- desigualdade de tamanhos, for-
lhas que voltavam, devolvendo mas e formatos em gerais, na
ao saquinho uma pedra para contagem de animais e objetos.
cada ovelha. Ou seja, a rela-
ção estabelecida era de um para Os dedos de uma mão podem
um. representar o conjunto de um,
dois, três, quatro ou cinco obje-
Figura 1.16: O pastor e as ovelhas.
tos, utilizando as duas mãos até
dez objetos, ou vinte quando
utilizando as mãos e os pés [6].
Deste modo podemos afirmar
que antigamente, quando os nú-
meros ainda não eram conheci-
dos, o melhor método de con-
Fonte: [31]
tagem era a de relacionar obje-
Para um historiador matemá- tos. Quando os dedos eram in-
tico, [7], as noções primitivas suficientes ou impróprios para
relacionadas com o conceito de representar uma relação, se uti-
1.4 A necessidade de representar quantidades 19

lizavam de pedras, nós em cor- Figura 1.17: Primeiros registros.


das, desenhos nas paredes das
cavernas ou qualquer tipo de
coisa concreta.
Depois dessa primeira noção
de quantidade, surgiu a nume-
ração escrita, do desejo de man-
ter os registros que antes eram
simbolizados pelas pedras, em
um registro mais prático e sim-
Fonte: [31]
ples, mas duradouro e confiá-
vel, para um possível trans- variada. Cada povo utilizou-se
porte ou troca de informações de uma técnica diferente para
entre grupos, visto que muitas registrar grandes quantidades.
vezes as pedras podiam ser per- Sendo assim, é possível afir-
didas ou pesavam demais, con- mar que a matemática foi cons-
forme a grande quantidade em truída de forma gradual e por
que elas representavam. vários povos.
Então essa numeração escrita, A existência de alguns re-
era feita com marcas em ma- gistros em território europeu,
deiras ou qualquer outro objeto mais especificamente na Morá-
que possibilitasse a marcação. via, atual República Democrá-
Essa marcação, a propósito, é tica do Congo, foi encontrada
tão ou mais antiga que a pró- o osso de babuíno com 55 pro-
pria escrita (Fig. 1.17). fundos riscos estes com cerca
Deste modo, podemos desta- de 30 mil anos [6]. Ainda
car que os primeiros registros encontramos relatos do Osso
aconteceram de forma muito de Ishango (Fig. 1.18), com
20 Capítulo 1. 6o ano

8 mil anos de existência, po- é denominado sistema decimal,


rém hoje estudos revelam que ou seja, de base dez, com valor
a sua idade estimada também posicional.
seja de 30 mil anos. Atual-
mente, o osso está no Instituto 1.5 O mistério dos números decimais
Real Belga de Ciências Natu- Caio Robério Barpp da Silva
rais, em Bruxelas, na Bélgica.
O sistema decimal que usa-
Figura 1.18: Faces frontal e posterior do Osso de mos atualmente pode ter sido
Ishango — Institut royal des sciences naturelles
de Belgique. convencionado pelo simples
fato de termos dez dedos em
nossas mãos. Porém, sua ori-
gem, deu-se a partir da necessi-
Fonte: [29]
dade de substituir números fra-
cionários, que eram utilizados
Registrar quantidades de frequentemente.
qualquer forma não foi sufici- Por usar o número 10 como
ente e finalmente começaram base numérica, a notação então
a elaboração dos primeiros foi chamada de “decimal”, e
sistemas de numeração. Deste decem significa “dez” em latim
modo fica evidente que, a [43]. Conforme a posição que
necessidade de registrar gran- o símbolo ocupa, representa o
des quantidades deu origem número. Porém o que existe no
à numeração escrita. Visto número 10 que o torna tão es-
que, o sistema numérico que pecial?
utilizamos atualmente para Nas antigas civilizações eram
representar quantidades, algu- utilizadas diversas notações
mas operações desde as mais como, por exemplo, os babilô-
simples até as mais complexas nicos, que usam a base 60,
1.5 O mistério dos números decimais 21

os gregos usavam o alfabeto, como valor posicional, ao invés


os maias a notação vigesimal disso havia símbolos múltiplos
(base 20). Nossa representação de 10, 100 e 1000.
simbólica surgiu na Índia, por As escritas de números fra-
volta de 500 d.C. cionários são encontradas em
O mais antigo registro en- registros antigos, tendo quase
contrado sobre nosso sistema 3000 anos a.C., a forma deci-
numeral foi próximo à ci- mal que é conhecida hoje, sur-
dade Bakshali, motivo este que giu somente no século XVI,
deu nome ao manuscrito (Fig. sendo o percursor um fran-
1.19). Registros apontam que cês chamado François Viète,
a sua origem seja entre os sécu- tornou-se bem superior aos nú-
los II a.C. e III d.C., o manus- meros fracionários. Sendo es-
crito foi escrito em uma casca ses, um grade potencial de evo-
de bétula [1]. lução, quando nos referimos
aos computadores e calculado-
Figura 1.19: Manuscrito de bakshali.
ras.
Assim, temos algumas rela-
ções correspondentes, escrita
na forma geométrica, fracioná-
ria e decimal, representando o
mesmo valor, observe a figura
(Fig. 1.20)
Fonte: [1]

Observou-se que eram usado


símbolos diferentes para repre-
sentar os algarismos de 0 ao 9,
porém não para representá-lo
22 Capítulo 1. 6o ano

Figura 1.20: Relações correspondentes. parte inteira, o


1 indica um dé-
cimo, 2 um centésimo, e as-
sim por diante, e com o pas-
sar do tempo somente o sím-
bolo que representava a parte
inteira era empregado. Esse
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017. uso tornou-se cada vez mais
simplificado até se tornar um
Simon Stevin levou em consi-
ponto ou uma vírgula.
deração a notação indo-arábica.
A necessidade surgiu quando
1.6 Dos números (in)compostos aos pri-
se sentiu incomodado ao repre- mos
sentar números na notação fra-
cionária, contudo a notação se- Caio Robério Barpp da Silva
xagesimal (base 60) também No início da vida escolar, es-
passou a ser utilizada, dando tudamos a definição de núme-
então uma representação para ros primos, ou seja, os núme-
ângulos e consequentemente, ros primos são aqueles que pos-
aos nossos minutos e segundos. suem apenas dois divisores, o 1
Então, os números decimais es- (um) e o próprio número. Esses
critos por Stevin foram repre- divisores devem ser diferentes,
sentados conforme figura (Fig. dessa forma, o número 1 não é
1.21). primo [41].
Figura 1.21: Representação decimal por Stevin. Assim, quando nos depara-
mos com um número inteiro,
maior que um, dizemos que
Fonte: [45]
estes são: compostos ou pri-
Na representação de Stevin, mos, observamos que, ao longo
o símbolo 0 representava a da história surgiram algumas
1.6 Dos números (in)compostos aos primos 23

curiosidades as quais impulsi- tágoras deu início aos estudos


onaram discussões e conjectu- sobre os números primos.
ras sobre conceitos matemáti- Os primeiros registros reve-
cos, surgiram personagens que lam que os gregos constituem
marcaram o tema, vamos então um dos povos mais antigos que
mergulhar na história. estudaram sobre os números
De acordo com [7], há re- primos.
gistros de que os estudos mos-
No que se refere ao conhe-
tram que este tópico dos núme-
cimento dos gregos antigos
ros inteiros e suas propriedades
acerca dos números primos, en-
é discutido desde as civiliza-
contramos nos livros didáticos
ções mais antigas. Pois os nú-
que foi Euclides quem escre-
meros primos despertaram in-
veu os conceitos sobre os nú-
teresse por muitos matemáti-
meros primos da forma que é
cos já que os números inteiros
encontrada até hoje.
eram compostos por números
primos. Como podemos verifi- Euclides registra no livro Ele-
car no número 6 (Eq. 1.1): mentos de Euclides a defini-
ção de números primos como
sendo: “protós arithmós estin
6 = 2.3 (1.1)
monadi mone metroymenos”.
onde, 2 e 3 são primos. Na tradução: número primo
Os estudos sobre os núme- é todo aquele que só pode
ros primos começaram na Es- ser medido através da unidade.
cola Pitagórica por volta de Segundo [15], o nome núme-
530 a.C., porém não existem re- ros primos tem origem grega,
gistros deixados por Pitágoras, quando, classificavam os nú-
somente alguns fragmentos de meros em primeiros ou inde-
textos, os quais revelam que Pi- componíveis, e secundários ou
24 Capítulo 1. 6o ano

composto. São secundários, Figura 1.22: Crivo de eratóstenes.


por que são formados por nú-
meros primos, mas os romanos
ao traduzirem, apenas a palavra
primeiro, que em latim é pri-
mus.
Boyer [7], nos diz que: no IX
livro de Euclides, o último dos
Fonte: [24]
três sobre teoria dos números,
na Proposição 20, temos que primos, então pegavam-se os
os números primos são mais do múltiplos de 2 (dois) e furava-
que qualquer quantidade fixada se, ou seja, eram crivados na
de números primos. Portanto, tabela, o próximo número que
Euclides considerava que há in- não estivesse furado permane-
finitos números primos. cia e tinha então seus múltiplos
Eratóstenes de Alexandria foi perfurados, e assim até comple-
outro grego que se aventurou a tar a tabela, ou seja, [2] traz em
estudar sobre os números pri- seu livro a definição, e assim
mos, no século III a.C. Uma podemos perceber o motivo de
de suas contribuições foi o o número 1 (um) não ser primo,
crivo de Eratóstenes, veja Fig. vejamos os conjuntos dos divi-
[1.22]. sores de 1, 2, 7 e 8:
A tabela continha números, • D(1) = {1}
sendo do 2 (dois) até n, onde n • D (2) = {1, 2}
poderia ser um número natural • D (7) = {1, 7}
qualquer, iniciava no 2 (dois), • D (8) = {1, 2, 4, 8}
pois o número 1 (um) não sa- Notamos que os conjuntos
tisfaz a definição de números D(7) e D(2) possuem apenas
1.6 Dos números (in)compostos aos primos 25

dois elementos. Então 7 (sete) proposta por Fermat em seu


e 2 (dois) são números primos. único livro, como verdadeira
Porém, D(1) e D(8) não têm e por meio dele percebeu um
somente dois elementos. Dize- teorema mais geral.
mos que 1 (um) não é um nú- Com o passar do tempo
mero primo e que 8 (oito) tam- surgiram muitos matemáticos
bém não é um número primo. propondo teoremas, buscando
Ao longo da história muitos fama e dinheiro através dos prê-
estudiosos estudaram os núme- mios que começaram a ser ofer-
ros primos, como Diofanto de tados. Entre as proposições
Alexandria (200 d.C. – 298 mais conhecidas está em deter-
d.C.), Fibonacci (1200 d.C.), o minar uma função que exprime
francês Pierre de Fermat (1601 todos os números primos.
- 1665), que ao ler o texto de No entanto, surgiram diver-
Diofanto, despertou uma curi- sas fórmulas, sendo descober-
osidade sobre os números pri- tas falhas quando testavam nú-
mos, tornando-o fundador da meros maiores que o previsto
moderna teoria dos números na fórmula. Foi Carl Friedrich
[7]. Gauss (1777 - 1855), quem
Leonhard Euler (1707 − conjecturou o que é conhecido
1783), considerou Fermat como teorema dos números pri-
como o príncipe da Matemá- mos, porém só foi provado em
tica, pois mesmo não sendo 1896 pelo francês J. Hadamard
Fermat um matemático por e pelo belga C. J. de la Vallee
profissão, contribuiu para Poussim.
o avanço dos estudos neste O desenvolvimento dos com-
assunto, e então Euler, que putadores modernos facilitou
demonstrou uma conjectura o trabalho dos matemáticos
26 Capítulo 1. 6o ano

em descobrir números primos. e a criar unidades padrão para


Com a utilização deste recurso, as medidas.
é possível encontrar números Ao escolher uma determi-
primos com até 17 milhões de nada unidade padrão para me-
dígitos. dir, perceberam muitas vezes
Dusautoy [17], afirma que os que o resultado obtido não era
primos são as pérolas que ador- um número inteiro e sentiram
nam a vastidão infinita do uni- a necessidade de fracionar a
verso de números que os ma- unidade de medida, como, por
temáticos exploraram ao longo exemplo, ao cortarmos uma
dos séculos. pizza em porções (Fig. 1.23),
dividirmos um chocolate, a di-
1.7 A origem das frações visão de matérias de um ca-
Elisiane Cardoso de Andrade derno, na divisão de ingredien-
Joel de Oliveira Bassani tes de uma receita culinária, as
Mara Cristina Baltazar horas do dia, entre outros exem-
Sabrini dos Anjos plos. As frações nos auxiliam
a expressar o tamanho de uma
Historicamente, a necessi- porção.
dade de criar novos números,
além dos naturais, foi sentida e Figura 1.23: Pizza em porções.

sugerida naturalmente por pro-


blemas práticos da natureza ge-
ométrica. Houve tempo em
que o homem não conhecia as
frações. Mas a necessidade
de medir terras, colheitas, lí-
Fonte: [22]
quidos e tecidos, com exatidão
levou-o a introduzir as frações A palavra fração provém do
1.7 A origem das frações 27

latim fractus e significa “par- dido por outro, ou seja, nume-


tido”. rador dividido pelo denomina-
Os números racionais sur- dor.
gem da necessidade em atri-
buir valores para grandezas que A história das frações é tão
nem sempre eram inteiras. O antiga quanto a história do ho-
conjunto dos números racio- mem e, por consequência, a in-
nais postulados pelo matemá- venção dos números. Surgi-
tico Dedekind pode ser escrito ram a cerca de 3000 anos a.C.
na forma de uma razão (fração), Ainda no tempo das constru-
sendo este conjunto represen- ções das Pirâmides Egípcias o
tado pela letra Q, formado pe- faraó Sesóstris dividiu o solo
los quocientes a e b, onde b 6= 0, que ficava às margens do Rio
a Nilo entre alguns agricultores.
ou seja, .
b Mas nos meses de junho a se-
Os objetos existentes no es- tembro essas terras eram alaga-
paço podem ser divididos em das, por causa das cheias do
partes ou não. Por exemplo, Rio Nilo, e tinham as cercas
não podemos dizer “uma pes- de pedra que as demarcavam
soa e meia ou duas pessoas derrubadas pelas águas. Assim
e um quarto”. No entanto, que essas águas baixavam, era
quando há possibilidade de di- necessário realizar uma nova
visão, estes podem ser dividi- demarcação de terras. O fa-
dos em porções menores do raó enviava seus funcionários
que uma unidade. responsáveis para realizar esta
As frações são úteis para ex- nova medição. Os profissionais
pressar o tamanho de uma por- que faziam este serviço eram
ção. Elas podem ser expressas denominados de estiradores de
como um número inteiro divi- cordas (Fig. 1.24), isto porque
28 Capítulo 1. 6o ano

eles esticavam cordas com nós teiro. Hoje essas frações são
demarcados para realizar a me- chamadas de frações unitárias.
dição. Essas frações eram representa-
das com um símbolo oval sobre
Figura 1.24: Estiradores de cordas.
o denominador, conforme a fi-
gura(Fig. 1.26).

Figura 1.26: Representação egípcia de fração uni-


tária.

Fonte: [20]

As cordas utilizadas pelos es- Fonte: [12]

tiradores já tinham nós mar-


cando certa unidade de medida. Dificilmente cabia um nú-
Quando esticavam estas cor- mero inteiro nas dimensões do
das verificavam quantas vezes terreno, por mais adequada que
aquela medida cabia no terreno. fosse a unidade de medida es-
As vezes não cabia um número colhida. Foi por essa razão
inteiro de vezes nas dimensões que os egípcios criaram um
do terreno (Fig. 1.25) e foi aí novo tipo de representação nu-
que surgiram as primeiras fra- mérica: o número fracionário,
ções. cuja representação é uma fra-
ção.
Figura 1.25: Corda com nós. No Papiro de Rhind ou Ah-
mes (Fig 1.27), datado de apro-
Fonte: [31]
ximadamente 1700 a.C., há ou-
No início eles usavam como tros tipos de frações, represen-
frações somente o número 1 tadas como uma soma de fra-
dividido por outro número in- ções unitárias.
1.8 História dos sinais 29

Figura 1.27: Papiro de Rhind - Museu Britânico.


1
exemplo, em partes de , a
8
compradora poderia levar um
1
comprimento de de vara e pa-
8
1
garia de 16 moedas.
8
A forma moderna de escre-
Fonte: [29]
ver frações com uma barra divi-
dindo o numerador pelo deno-
O povo babilônio abordava as minador vem do método Hindu.
frações de uma forma diferente, O primeiro matemático a usar a
sendo o seu denominador o nú- barra de frações da forma como
mero 60, pelo fato de a base de ela é usada hoje foi Fibonacci.
seu sistema de numeração ser Ainda hoje, as frações são usa-
sessenta (60 símbolos). das nas medidas.
Já na Grécia antiga, a ideia de Contudo, na Inglaterra e nos
fração como um número levou Estados Unidos, é utilizada
tempo a ser aceita. Por mui- uma unidade de medida cha-
tos séculos, apenas os elemen- mada polegada, que é subdivi-
tos das sequências 2, 3, 4, 5, ... dida em meios, quartos e oita-
eram considerados números e o vos.
“1” era o gerador de todos os
números. 1.8 História dos sinais
A invenção das frações sur-
Elisiane Cardoso de Andrade
giu para facilitar na resolução
Joel de Oliveira Bassani
de diversos problemas enfren-
Mara Cristina Baltazar
tados pelos comerciantes da
Zilmara Raupp de Quadros
época. Se a vara estivesse di-
vidida em partes iguais, por Os matemáticos chineses da
30 Capítulo 1. 6o ano

antiguidade tratavam os núme- Figura 1.28: Comércio marítimo.


ros como excessos ou faltas.
Os chineses realizavam cálcu-
los em tabuleiros, onde repre-
sentavam os excessos com pa-
Fonte: [20]
litos vermelhos e as faltas com
palitos pretos. Na Índia, os ma-
Na época Renascentista, ocor-
temáticos também trabalhavam
reu um grande desenvolvi-
com esses estranhos números.
mento nos países da Europa
Brahmagupta, matemático nas-
ocidental e no desbravamento
cido no ano 598 d.C., afirmava
dos mares para descobrirem ou-
que os números podem ser en-
tras terras [20]. Com a des-
tendidos como pertences ou dí-
coberta de outros territórios ao
vidas.
redor do mundo, melhoraram
Ao longo dos séculos, o de- as condições para os comerci-
senvolvimento da Matemática antes que saiam em longas ex-
sempre esteve diretamente li- pedições em busca de novas
gado a atividades de trocas e mercadorias. Quando estes co-
posteriormente ao desenvolvi- merciantes voltavam vendiam
mento do comércio. Quanto esses produtos e com o lucro
mais complexas as atividades que conseguiam partiam rumo
de comércio entre os povos, a novas expedições na busca de
mais os matemáticos tinham uma nova remessa de produtos
que quebrar a cabeça para des- para comercializar.
cobrir fórmulas que permitis- No pensamento daqueles que
sem aos comerciantes efetuar pesquisavam assuntos relacio-
suas contas com precisão e ra- nados à matemática circulava
pidez (Fig. 1.28). um problema: substituir as pa-
1.8 História dos sinais 31

lavras por símbolos simples e mático inglês William Ough-


que facilitassem a rapidez dos tred que ao olhar para uma
cálculos e que ainda auxiliasse expressão semelhante à repre-
diante do desenvolvimento que sentada na figura (Fig. 1.29),
estava ocorrendo. buscou representá-la de uma
forma mais simples.
Os matemáticos ficaram en-
cantados com a invenção dos Figura 1.29: Exemplo de expressão que originou
o sinal de vezes.
comerciantes que passaram a
utilizar o número com sinal em
diversas situações. Até esta
época eram utilizadas somente
palavras para representar os si-
nais e os números eram utili- Fonte: Elaborado pelos autores, 2016.

zados somente para representar


O matemático William Ough-
quantidades, mas agora com a
tred não queria utilizar a pala-
invenção dos sinais eles indi-
vra vezes, e sim inventar um
cariam também a direção desta
novo sinal para representá-la.
quantidade.
Olhando para o sinal da adi-
A aplicação do sinal da adi- ção, simplesmente o girou um
ção aparece na obra Aritmética pouco para a esquerda e sur-
Comercial de João Weidman presa, nasce aqui o sinal da
d’Eger publicada em 1489, multiplicação, sendo utilizado
sendo também atribuída a este pela primeira vez no livro Cla-
matemático alemão a introdu- vis Matematicae, no ano de
ção do sinal de subtração (−) 1631.
[40]. O surgimento do sinal Em 1637, Descartes já escre-
de multiplicação (×) no sé- via a operação de multiplicação
culo XVII é mérito do mate- utilizando apenas um ponto en-
32 Capítulo 1. 6o ano

tre os fatores. O matemático vocavam anualmente, o trans-


Leibniz não gostava de utilizar bordamento do rio Nilo. O
o símbolo × para multiplica- alagamento dos campos dani-
ção por ser facilmente confun- ficava as demarcações de li-
dido com a letra x do alfabeto, mites das propriedades e, por
passando assim a utilizar ape- isso, após o período das chu-
nas um ponto (.) para represen- vas, quando as águas voltavam
tar a operação. ao leito do rio, era necessá-
O símbolo anglo-americano rio remarcar esses limites (Fig.
da divisão (÷) também aparece 1.30).
pela primeira vez no século
Figura 1.30: Estiradores de corda.
XVII, mais especificamente no
ano de 1659, em um trabalho
do matemático suíço Johann
Heinrich Rahn [18]. Este sím-
bolo acabou se tornando conhe-
cido na Inglaterra anos mais Fonte: [20]

tarde com a tradução deste tra-


balho. O trabalho de remarcação era
feito por agrimensores que uti-
1.9 Geometria
lizavam como ferramenta uma
corda esticada reproduzindo
Mara Cristina Baltazar um triângulo retângulo, para
Zilmara Raupp de Quadros auxiliar no cálculo e extensão
Taís Pereira da Silva dos terrenos.
A palavra geometria é com- As construções das pirâmides
posta por duas palavras gregas: e templos das civilizações egíp-
geo (terra) e metron (medida). cias e babilônicas são testemu-
No antigo Egito, as chuvas pro- nhos de que a geometria já exis-
1.9 Geometria 33

tia para esses povos por co- espacial.


nhecimentos naturais geométri-
Figura 1.31: Algumas formas geométricas.
cos. Porém, o homem pré-
histórico já apresentava rudi-
mentos de um sentido geomé-
trico, quando se preocupava
em apresentar a natureza por
meio de desenhos ou em dar Fonte: [41]
forma aos objetos, por exem-
plo, construindo vasos, escul- Entre 600 e 300 a.C., acon-
pindo em pedra com as pontas teceu um marco histórico
de suas lanças. Assim, se con- na construção da Geometria
siderarmos a geometria quanto quando o matemático Euclides
à forma, sua origem é anterior de Alexandria (Fig. 1.32) fir-
à civilização egípcia. mou um sistema organizado.
Devido às suas importantes
Porém, foi na Grécia que contribuições ao estudo desse
a geometria teve o seu auge. ramo da matemática, foi atri-
Os gregos deram extrema buído a ele o título de “pai da
importância à geometria, geometria”.
empregando-na de sentidos
Figura 1.32: Euclides.
para as atividades diárias, com
conceitos acessíveis ao cida-
dão. Com o passar do tempo
às formas geométricas (Fig.
1.31) foram sendo nomeadas
de acordo com certos critérios
e características. Surge então a Fonte: [12]

geometria plana e a geometria


34 Capítulo 1. 6o ano

Euclides publicou por volta gebra, com seus artifícios sim-


de 325 a.C. o livro Os Elemen- bólicos de representação e ma-
tos, uma obra com treze volu- nipulação, só seria desenvol-
mes propondo um sistema iné- vida a partir da Idade Média.
dito no estudo da Geometria, Euclides prova resultados de
suas obras deixaram grandes natureza algébrica de forma ge-
contribuições para a matemá- ométrica, com o uso de quadra-
tica. dos e retângulos [29] .
A maior parte do conteúdo do
Já os livros III e IV li-
livro I é conhecida por quem
dam com a geometria do cír-
estuda geometria plana: teore-
culo, material que possivel-
mas de congruência de triân-
mente tem origem em Hipócra-
gulos, construções elementares
tes de Quíos. Estes exempla-
com régua e compasso, desi-
res inclui relações de interse-
gualdades envolvendo ângulos
ção e tangências entre círcu-
e lados de triângulos, constru-
los e retas. Apresenta uma de-
ções envolvendo retas parale-
finição de tangente ao círculo
las. Elementos têm sequência
da seguinte forma: “Uma li-
com a apresentação de proposi-
nha reta que toca o círculo é
ções, sempre acompanhadas de
qualquer linha reta que, encon-
demonstrações construídas de
trando o círculo, não corta o cír-
forma lógica a partir dos pos-
culo”. Ainda possuem proble-
tulados, axiomas e das proposi-
mas sobre a inscrição e a cir-
ções já demonstradas [29].
cunscrição de figuras retilíneas
O livro II é curto, contém ape- no círculo. Além de outros
nas 13 proposições, e se ocupa nove exemplares da coleção
de um assunto conhecido hoje Os Elementos aborda concei-
como álgebra geométrica. A ál- tos da geometria escrita por di-
1.9 Geometria 35

versos matemáticos, tais como:


Platão e Eudoxo [29].
O longo caminho da álgebra
A origem do conceito de área
O fantástico número pi (π)

2. 7o ano

2.1 O longo caminho da álgebra ou papiro de Rhind, do Egito


(escrita hierática), conforme fi-
Caio Robério Barpp da Silva
gura (Fig. 2.1), que foi escrito
A história da matemática co- por volta de 1650 a.C.
meçou a ser lapidada há muitos Figura 2.1: Papiro de Rhind - Museu Britânico.
séculos, nesse longo percurso,
surgiram diversas fontes que
nos remetem aos nossos ante-
passados, porém, nossa simbo-
logia matemática, do modo que
conhecemos atualmente, demo-
Fonte: [29]
rou séculos para ser convencio-
nada. O matemático Euclides
Uma parte importante do pen- (325 – 265), em sua obra
samento algébrico deixado pe- Os Elementos, descreve que
los egípcios encontra-se no foram os babilônicos que
documento matemático conhe- encontraram soluções para
cido como papiro de Ahmes, alguns problemas algébricos,
2.1 O longo caminho da álgebra 37

utilizavam de um processo mas algébricos [8].


chamado a aplicação de áreas,
uma parte da álgebra geomé-
Geralmente usa-se as letras
trica, estudada por Euclides
do início alfabeto para parâme-
em sua obra [3]. Muitas destas
tros e as do final como incóg-
escritas descrevem retas, área
nitas, a adaptação da notação
de uma determinada superfície
exponencial a essas e o uso
e volumes.
dos símbolos germânicos (+)
No século III d.C. Diofanto, e (−), tudo isso fez com que
ao escrever o seu livro Arithme- a notação de Descartes se asse-
tica, iniciou o caminho para a melhasse à nossa, pois tiramos
linguagem por notação que te- a nossa dele.
mos hoje, pois em sua obra uti-
lizava de abreviações nos tex-
Os termos como incógnita e
tos matemáticos [8].
variável, em alguns casos até
François Viéte, por volta do se assemelham, porém são de-
século XV, foi o matemá- finidas de forma diferente, pois
tico que utilizou pela primeira incógnita representa a quanti-
vez uma vogal para represen- dade desconhecida, cujo va-
tar quantidades, assim surge lor pode ser determinado pe-
uma notação para a incógnita, las condições fornecidas pela
dando flexibilidade para resol- equação. Sendo assim, é
ver expressões algébricas. uma quantidade determinada,
Em consequência diversos porém desconhecida, já a variá-
matemáticos adotaram a sim- vel, por sua vez, é a quantidade
bologia de Viéte por sua vez, indeterminada, cujo valor “va-
René Descartes utiliza uma ria” de acordo com outra quan-
nova notação para tratar proble- tidade que também é variável.
38 Capítulo 2. 7o ano

2.2 A origem do conceito de área conceito de uma extensão bidi-


mensional [5]. O conceito de
Elisiane Cardoso de Andrade
área e de comprimento tenham
Você seria capaz de explicar surgido com os povos egípcios
onde poderíamos utilizar o con- e babilônios, utilizando estes
ceito matemático de área? Tal- conceitos em grandes constru-
vez esse seja um dos mais utili- ções, como as grandes pirâmi-
zados desde a antiguidade até des do Egito (Fig. 2.3).
os dias atuais. Seja na medi-
Figura 2.3: Pirâmides de gizé no Egito.
ção de terrenos, na construção
de casas, edifícios, nas cons-
truções de embalagens para di-
versos produtos, dentre outros.
Acredite, o conceito de área
está por toda parte, na sala de Fonte: [36]

aula, na rua, na sua casa, no


Assim como muitos outros
campo de futebol (Fig. 2.2).
conhecimentos matemáticos, o
Figura 2.2: Campo de futebol. conceito de área surgiu da ne-
cessidade do povo em fazer no-
vas medições de terra após as
cheias anuais do Rio Nilo [5],
durante os meses de julho a
outubro. Quando a inundação
Fonte: [19]
passava, os agrimensores eram
Mas para que utilizamos o chamados para realizar a medi-
conceito de área? Para me- ção e estabelecer os limites de
dir o tamanho de uma superfí- terras dos pequenos agriculto-
cie, na qual está relacionado ao res. Essas medições eram cha-
2.2 A origem do conceito de área 39

madas de agrimensura, sendo çar retas perpendiculares neces-


esta uma das práticas mais an- sárias ao ato da agrimensura.
tigas da humanidade. Os agrimensores eram cha-
O fato mais interessante era o mados de “estiradores de cor-
modo como eles mediam essas das”, devido ao uso destas cor-
terras e o que eles utilizavam das como uma unidade de me-
para fazer isso. Na prática, os dida. Essas cordas eram esti-
agrimensores já sabiam que um cadas para verificar quantas ve-
triângulo com lados que medis- zes aquela medida estava con-
sem 3, 4 e 5 possui um ângulo tida no comprimento que se de-
reto interno de 90o [5]. En- sejava medir [5].
tão, eles faziam 12 nós (3 + Os agrimensores aprendiam a
4 + 5) em uma corda com dis- determinar a área destes lotes
tâncias iguais, então, quando de terrenos por meio da divisão
iam medir as terras, amarravam destes retângulos e triângulos
as pontas e esticavam a corda, [12].
dobrando-a em três dos nós, Podemos destacar, que as pri-
conforme a figura (Fig. 2.4). meiras fórmulas para calcular
áreas de superfícies planas fo-
Figura 2.4: Estiradores de cordas ou agrimenso-
res. ram as do retângulo, do triân-
gulo e do círculo, veja a Tabela
2.1.
Tabela 2.1: Fórmulas para o cálculo de área.
Retângulo Triângulo reto Círculo
b.h
A = b.h A= A = π.r2
2
Fonte: Elaborada pela autora, 2017.

Os babilônios também dedi-


Fonte: [5]
caram parte de suas vidas a es-
Esse modo lhes permitia tra- tudar sobre a aplicação da Geo-
40 Capítulo 2. 7o ano

metria para suprir suas necessi- O número pi (π) foi desco-


dades [12]. Foram estes povos berto há muitos anos, sendo
que realizaram a divisão do cír- este um dos números mais fa-
culo em 360 partes iguais. mosos do mundo, a sua ori-
No entanto, para se determi- gem é tão mística quanto a his-
nar a área de uma superfície tória da origem dos humanos.
e também demonstrar demais O cálculo do valor deste nú-
fórmulas de outras figuras pla- mero com certeza foi um desa-
nas, tomou-se por base a área fio grande para o homem, e a
do quadrado de lado unitário sua história possui mais de qua-
como referência de unidade de tro mil anos de existência.
área, chamando de metro qua- Este número tão conhecido
drado (m2) sua unidade de me- possui diversas aplicações em
dida principal. nosso cotidiano. A sua desco-
Assim, podemos perceber berta se deu devida à da neces-
que na matemática o conceito sidade de calcular áreas em for-
de área é fruto das necessi- mato de círculo e na de demar-
dades encontradas em tarefas cação de terras.
cotidianas desde a antiguidade
até os dias atuais, sendo esta De acordo com o historiador
uma ciência que está sempre matemático [6], no papiro egíp-
em construção, pois a cada dia cio de Rhind, (Fig. 2.1) de
surgem novos estudos e novas aproximadamente 1650 a.C., já
descobertas. havia vestígios da existência de
um valor aproximado do nú-
mero π, ou seja, a busca pelo
2.3 O fantástico número pi (π)
valor aproximado de π é algo
Joel de Oliveira Bassani tão antigo quanto a história da
Elisiane Cardoso de Andrade própria matemática [6].
2.3 O fantástico número pi (π) 41

Figura 2.5: Papiro de Rhind.


morreu no ano 212 a.C. com
75 anos de idade, assassinado
por um soldado romano, em-
bora as ordens do general fosse
para que o matemático devesse
ser poupado da morte.
O matemático Arquimedes
(Fig. 2.6) nos deixou um
Fonte: [26] grande acervo de trabalhos ci-
entíficos, sendo que grande
Naquela época ainda não parte de suas descobertas são
existiam calculadoras ou com- aplicadas nos mais variados ra-
putadores capazes de realizar mos da matemática e da física,
cálculos com valores tão exatos destacando-se também como
e com várias casas decimais, pioneiro no ramo da análise
os cálculos eram realizados ma- combinatória.
nualmente. O primeiro a pro-
Figura 2.6: Arquimedes.
por um método para fornecer o
número π foi um matemático
grego que viveu no século III
a.C. chamado Arquimedes, que
nasceu por volta do ano 287
a.C. em Siracusa (Sicília). Era
filho de um astrônomo e foi um
importante guerreiro na defesa
de Siracusa contra os romanos,
utilizando várias máquinas de Fonte: [29]
defesa para lançar pedras, má-
quinas estas inventadas por ele, Dentre as obras e invenções
42 Capítulo 2. 7o ano

de Arquimedes podemos desta- culo”, no qual o círculo passou


car o Stomachion (um quebra a ser definido como um polí-
cabeça), o Princípio de Arqui- gono de infinitos lados [32].
medes (sobre os corpos flutuan-
Figura 2.7: Quadratura do círculo ou método de
tes), a palavra Eureka!, a lei da exaustão.
alavanca, a quadratura da pará-
bola, sobre as esferas e cilin-
dros, a espiral de Arquimedes,
medida do círculo, o número
π e entres vários outros traba-
lhos.
Por volta de 200 a.C. que Ar-
quimedes consegue um valor
aproximado para o número π.
Essa descoberta se deu devido Fonte: [6]

ao fascínio que os matemáticos 310


tinham com a figura do círculo, Utilizando as frações e
71
pois na matemática o círculo é 310
, Arquimedes mostrou que
a figura que representa a per- 70
o valor exato de π situava-se
feição, o começo e o fim são
entre estas duas frações, con-
apenas um. Sendo esta uma fi-
seguindo este valor circunscre-
gura incomensurável, assim in-
vendo e inscrevendo um cír-
ventaram uma medida imaginá-
culo com polígonos regulares
ria, chamada hoje de π.
contendo 96 lados, sendo esta
Para medir o comprimento uma aproximação melhor que a
do círculo os matemáticos da dos egípcios e babilônios; esta
época utilizaram o processo descoberta foi um grande acon-
chamado “quadratura do cír- tecimento na história da mate-
2.3 O fantástico número pi (π) 43

mática [32]. Figura 2.8: Símbolo π e seu valor aproximado.


Posteriormente a Arquime-
des, outros matemáticos tenta-
ram obter um valor ainda mais
aproximado para o número π.
Ptolomeu, por volta do século
III d.C., conseguiu calcular o
377 Fonte: [16]
valor de π como sendo ≈
120
3, 1416, sendo uma aproxima- 1596, repetindo o método de
ção melhor que a encontrada Arquimedes, conseguiu encon-
por Arquimedes. trar o número π com ainda
Ainda no século III d.C. o mais aproximações de casas de-
chinês Liu Hui, conseguiu en- cimais. Veio a falecer logo de-
contrar o valor de 3, 14159. pois da sua descoberta, e sua es-
E as aproximações continu- posa mandou gravar em sua lá-
aram a serem encontradas, pide o valor de π, com 35 casas
no século V o matemático decimais.
hindu Aryabhata disse que Depois disso, mais matemá-
o valor de π estava com- ticos continuaram a calcular o
preendido entre 3, 1415926 e valor de π, até chegar no ano
3, 1415927. Até o século XV de 1984, nos Estados Unidos,
o melhor valor aproximado de já com a existência de calcula-
π foi encontrado pelo matemá- doras e computadores: a apro-
tico Al-Kashi que correspondia ximação de π foi calculada
a 3, 1415926535897932 [32] novamente com mais de dez
[veja Figura (Fig 2.8)]. milhões de algarismos exatos,
O matemático holandês Lu- e em 1997 dois matemáticos
dolph Van Ceulen, no ano de japoneses conseguiram progra-
44 Capítulo 2. 7o ano

mar um computador para que é dada pela décima sexta letra


encontrasse um pouco mais de do alfabeto grego π, sendo esta
51 bilhões de casas decimais. representação adotada pelo ma-
No ano de 1761 o matemático temático Willian Jones em
francês Jean Henri Lambert fez 1706; porém, como ele não era
a mais importante descoberta muito conhecido para publicar
do século XVIII, provando que e espalhar sua ideia, incumbiu
o número π é um número irra- a outro grande matemático cha-
cional, encerrando o sonho de mado Leonard Euler (Fig. 2.9),
ele possuir um final, ou que pu- que em 1737 passou a usar o
desse ser representado por uma símbolo de Jones. E assim o
fração que expressasse seu va- símbolo passou a ser aplicado
lor exato. por todo mundo.
Figura 2.9: Leonhard Euler, pintura de 1753 —
Kunstmuseum Basel, Suiça.

Fonte: [29]

A representação do número π
História da álgebra
A história dos polinômios

3. 8o ano

3.1 História da álgebra por diferentes métodos.


Mara Cristina Baltazar Provavelmente, a álgebra se
Zilmara Raupp de Quadros originou na Babilônia, sendo
utilizado o estilo retórico para
O termo álgebra vem do escrever as equações. Este es-
árabe que significa “reunião” tilo utiliza argumentos de reso-
ou “reacomodação das partes lução de um problema escritos
quebradas”. Quando você em prosa, sem fazer uso de sím-
pensa em álgebra, o que vem bolos nem de abreviações para
à mente primeiro? Você pensa expressar o pensamento algé-
em equações ou em fórmula brico.
com termos desconhecidos? A fase da álgebra sincopada
A história da álgebra pode começa com Diofanto de Ale-
ser vivenciada em três perío- xandria por volta do século
dos: retórico, sincopado e sim- IV d.C. e se estende por vá-
bólico. Seu início é marcado rios anos, até Françóis Viéte.
com equações da antiguidade, Sendo este que, embora utili-
escritas em versos e resolvidas zasse um estilo sincopado, o
46 Capítulo 3. 8o ano

principal responsável pela in- do mestre e sábio do mundo e


trodução de novos símbolos na vai morreu quando da metade
álgebra. da idade final do pai uatro anos
O uso dos símbolos mate- mais de estudos consolam-no
máticos, por fim, foi introdu- do pesar;
zido por Diofanto de Alexan- Para então, deixando a terra,
dria, para facilitar a escrita e também ele alívio encontrar.”
os cálculos. Estes símbolos Se realmente esse enigma for
eram, geralmente, abreviações verdadeiro, Diofanto viveu exa-
que expressavam quantidades e tamente oitenta e quatro anos.
operações. Na linguagem matemática, este
Diofanto foi o pioneiro na so- enigma é traduzido da seguinte
lução de equações. O matemá- forma:
tico com sua maravilhosa habi-
lidade, nos diz sua idade por x x x x
meio de prosa. x = + + +5+ +4
6 12 7 2
Aqui jaz Diofanto. Maravi- (3.1)
lhosa habilidade – Pela arte da efetuando os cálculos algébri-
álgebra a lápide nos diz sua cos em (3.1) temos que x = 84.
idade [12]:
No início da era moderna,
“Deus lhe deu um sexto da os matemáticos aperfeiçoam as
vida como infante, um duo- notações algébricas, aumentam
décimo mais como jovem, de a precisão dos cálculos e obtêm
barba abundante; um grande progresso na álge-
E ainda uma sétima parte an- bra. Passam a usar letras para
tes do casamento; representar as incógnitas. As
Em cinco anos nasce-lhe vi- notações utilizadas atualmente
goroso rebento lástima! O filho nas equações algébricas, como
3.2 A história dos polinômios 47

os coeficientes a, b e c para os 3.2 A história dos polinômios


números conhecidos como; x, y Joel de Oliveira Bassani
e z para as incógnitas, se deve a
esse matemático. Estudos apontam para a ne-
cessidade de contextualizar o
ensino da matemática, ou seja,
A álgebra é uma parte da
sempre buscam aplicações ime-
matemática que foi se modifi-
diatas para os conteúdos. Não
cando com o passar do tempo,
que esse deva ser um caminho
antigamente se economizava
único a ser seguido, pelo con-
tempo de escrita e espaço de
trário, a compreensão de seu
impressão, mas pouco se fazia
valor abstrato é importante.
para promover o conhecimento
A história das equações poli-
mais profundo das ideias que
nomiais é muito antiga, tem-se
expressavam. A álgebra de fato
conhecimento que na Babilô-
era uma arte em geral, uma
nia cerca de 1800 a.C., alguns
atividade que defendia forte-
métodos de resolução de equa-
mente as habilidades de seus
ções do 2o grau já eram conhe-
praticantes individuais.
cidas. Assim, o problema de
encontrar raízes de uma equa-
A nossa notação algébrica ção algébrica, isto é, de um
corrente está muito próximo do polinômio, é alvo de estudo
ideal. Seu desenvolvimento foi de muitas pessoas há muito
longo, lento e, algumas vezes, tempo.
confuso. Essa maneira de es- O estudo que se ocupa deste
crever a matemática é usual- processo é chamado Álgebra.
mente chamada de retórica, po- Este nome deve-se à expressão
rém com contraste com o estilo Al-Jabr, do livro Al-Jabr Wa’l
simbólico usado atualmente. Mugabalah, em português “ci-
48 Capítulo 3. 8o ano

ência da restauração (ou reu- mático Diofanto de Alexandria


nião) e redução” , de auto- (Fig. 3.2) criou e utilizou sím-
ria do matemático árabe Al- bolos algébricos pela primeira
Khowarizmi (Fig. 3.1), por vez. A maneira como ele uti-
volta de 830 [20]. lizou para representar uma in-
cógnita, e suas potências era
Figura 3.1: Matemático Al-Khowarizmi.
bem complicadas, muito dife-
rente daquela que conhecemos
hoje.
Figura 3.2: Diofanto de Alexandria.

Fonte: [20]

Acredita-se também que a uti-


lização de letras do alfabeto no
Fonte:[29]
estudo matemático, tenha sur-
gido com o grego Hipócrates No século XVI, François
de Quio que viveu entre 460 e Viète (1540 – 1630) (Fig. 3.3),
380 a.C., e teria representado francês, em um período quando
pontos e retas de figuras geo- a matemática básica ainda se
métricas. encontrava em formação, criou
Muito tempo depois, por um sistema de notação que con-
volta do século II d.C., o mate- sistia em representar quantida-
3.2 A história dos polinômios 49

des variáveis com letras vogais ras (a, b, c) para representar as


maiúsculas e as constantes com constantes.
consoantes maiúsculas. Figura 3.4: René Descartes
Na história da matemática,
pela primeira vez usaram-se le-
tras para representar coeficien-
tes, assim tornando possível
escrever apenas uma equação
que representasse uma classe
de equações.

Figura 3.3: François Viète.


Fonte: [29]

Assim podemos perceber que


o conceito de polinômio que
conhecemos hoje teve uma
longa caminhada. É a soma dos
saberes de diversos pensadores
ao longo dos séculos.
Observe na figura (Fig. 3.5)
Fonte: [12] que a medida dos lados são va-
riáveis.
Posteriormente tivemos gran-
Figura 3.5: Uso de polinômios no cálculo de áreas
des contribuições de René Des-
cartes, o qual fez um aprimora-
mento no estudo de Viète, uti-
lizando apenas as letras finais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.
do alfabeto (x, y, z) para re-
presentar variáveis e as primei- Note que para as regiões ilus-
50 Capítulo 3. 8o ano

tradas temos que a área dos re-


tângulos é dada por: A = x2,
A = xy e A = y2. E ainda, caso
atribuirmos valores para as va-
riáveis temos a medida da su-
perfície.
Uma pequena viagem na história das fun-
ções
O teorema de pitágoras e os números irra-
cionais
Sistemas de medidas e sua origem

4. 9o ano

4.1 Uma pequena viagem na história das belo em função do tempo, o


funções
consumo de combustível de um
Elisiane Cardoso de Andrade automóvel em função da distân-
As funções são ferramentas cia percorrida, o faturamento
indispensáveis para descrever de uma empresa em função do
fatos e fenômenos do nosso número de vendas, entre mui-
mundo. Tais descrições ex- tas outras. Ao descrevermos
pressam a relação existente en- fatos semelhantes aos citados,
tre grandezas das mais diversas relacionamos duas grandezas,
áreas do conhecimento. Utili- criando uma interdependência
zando destas ferramentas pode- entre ambas. Podemos uti-
mos analisar, interpretar e des- lizar a linguagem matemática
crever diversos fenômenos na- para representar essas grande-
turais e sociais. zas, por meio do conceito de
Podemos representar algu- funções.
mas situações envolvendo gran- As funções, assim como o
dezas variáveis, tais como: o conceito de diversos assuntos
comprimento de um fio de ca- relacionados à matemática, sur-
52 Capítulo 4. 9o ano

giram das necessidades que os cidade de um móvel (um corpo


povos enfrentavam para soluci- que se movimenta) ao longo
onar seus problemas. Não se do tempo, informação gerada
sabe ao certo quando o con- pelo matemático francês Níco-
ceito de funções foi utilizado las Oresme (1323 - 1382) a
pela primeira vez [5]. O que se qual contribuiu de forma con-
sabe é que cerca de 2000 a. C. siderável no estudo do referido
o povo babilônio já construía assunto.
tabelas de raízes quadradas. Para a representação de uma
O conceito de funções de- função, geometricamente usa-
senvolvido pelos babilônios foi mos o plano cartesiano (Fig.
aperfeiçoado ao longo dos sé- 4.1), contribuição feita pelo
culos, e uma prova disso é o matemático e filósofo René
fato que a Astronomia da época Descartes. Ainda dentre estas
era baseada em tábuas de qua- considerações ao estudo de fun-
drados, cúbicos e de raízes qua- ções temos a descoberta das
dradas [10]. leis sobre as trajetórias planetá-
rias por Keppler; assim como
Os gregos também deram
o estudo da queda dos corpos
sua contribuição relacionando
e a relação entre o espaço e o
grandezas físicas como altura
tempo por Galileu.
dos sons e dos comprimentos
das cordas vibrantes (leis da Figura 4.1: Plano cartesiano
acústica).
Desde então houve vários
acontecimentos ao longo dos
séculos relacionados à utiliza-
ção de funções, como exemplo
temos: a representação da velo- Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
4.1 Uma pequena viagem na história das funções 53

O conceito de função foi ções, realizadas pelos mate-


introduzido na matemática máticos Joseph-Louis de La-
por Gottfried Wilhelm Leibniz grange (1736 - 1813), Jean-
(1646-1716) para, inicialmente, Baptiste Fourier (1768 - 1830)
expressar a associação entre e Johann Dirichlet (1805 -
quantidades e curvas [42]. A 1859) [5]. A teoria dos conjun-
noção que temos atualmente tos, criada por Georg Cantor
de função deve-se às considera- (1845 - 1918), ampliou ainda
ções feitas posteriormente por mais o conceito de funções, até
Leonhard Euler (1707 - 1783). se chegar à definição que co-
Deve-se ao matemático ale- nhecemos hoje.
mão Leibniz, com a invenção Uma função pode ser repre-
da linguagem matemática dis- sentada algebricamente ou des-
tribuídas em diversos termos e critivamente. Sob a forma de
simbologias, a primeira utili- texto, conforme [5], exempli-
zação do termo função, propi- fica uma representação usual
ciando sua utilização nas aná- ou descritiva. Estabelecendo
lises matemáticas no século a relação entre duas grandezas
XVIII. em forma de texto, abordando
No entanto, a definição de uma determinada situação pro-
função surge mais tarde com blema.
Leonhard Euler; contudo, só O exemplo a seguir, repre-
foi no século XIX que apare- senta uma função na represen-
ceu o significado mais amplo tação descritiva: “Paulo é ven-
de função. dedor de assinatura de revistas
Destaca-se que houve ou- e seu salário varia conforme o
tras contribuições significati- número de assinaturas que ele
vas para o estudo de fun- vende no mês. Paulo recebe
54 Capítulo 4. 9o ano

um valor fixo de R$ 1200,00, Figura 4.2: Representação gráfica da situação pro-


mas comissão de R$ 40,00 para blema.

cada assinatura vendida [5].”


Também pode ser represen-
tada tabularmente, forma que
traz os dados abordados, veja
na tabela 4.1 a relação entre
o número de assinaturas vendi-
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
das e o salário de Paulo.
Tabela 4.1: Representação tabular.
tir de investigações matemáti-
Número de assinaturas vendidas Salário de Paulo cas constatamos a grande im-
0 1200
1 1200 + 1.40=1240
portância da empregabilidade
2 1200 + 2.40=1280
3 1200 + 3.40=1320
das funções distribuídas nos
4 1200 + 4.40=1360
5 1200 + 5.40=1400
mais variados campos da ciên-
Fonte: Elaborada pela autora, 2017. cia moderna, podendo ser con-
siderada como pilar de inúme-
Além destas duas formas,
ras bases de conhecimento.
ainda podemos representar es-
tes dados dispostos na tabela
4.2 O teorema de pitágoras e os números
transformando na sua forma al- irracionais
gébrica, ou seja,
Joel de Oliveira Bassani
f (x) = 1200 + 40x, Elisiane Cardoso de Andrade
na qual x representa a quanti- De acordo com [12], Pitá-
dade de revista vendida e f (x) goras (Fig. 4.3) nasceu por
o salário de Paulo. Tal relação volta de 572 a.C. em uma das
representa-se sua forma gráfica ilhas do mar Egeu, chamada
(Fig. 4.2). ilha de Samos, próxima a Mi-
Com o passar do tempo, a par- leto. E morreu em Metaponto,
4.2 O teorema de pitágoras e os números irracionais 55

com aproximadamente 75 ou na identificação da autoria des-


80 anos de idade, provavel- sas descobertas [18].
mente assassinado. Entre essas descobertas, há
Figura 4.3: Pitágoras. um teorema muito importante
na matemática, muito aplicado
no ramo da geometria, cha-
mado teorema de Pitágoras.
Este teorema diz o seguinte:
para qualquer triângulo retân-
gulo: “o quadrado da hipote-
Fonte: [12]. nusa é igual à soma dos quadra-
dos dos outros dois lados, deno-
Quando se mudou para Cro-
minados catetos”.
tona, uma colônia ao sul da Itá-
lia, fundou uma sociedade, co- Esse teorema já era conhe-
nhecida também como Escola cido pelo povo egípcio e babilô-
Pitagórica, onde se abordavam nico do tempo de Hamurabi
assuntos relacionados a filoso- muitos séculos antes da existên-
fia, matemática, música, astro- cia de Pitágoras [18, 12]. Po-
nomia e ciências. Tudo indica rém, na história do teorema só
que Pitágoras era seguidor de aparece que foi Pitágoras quem
Tales, outro importante filósofo realizou a demonstração deste
e matemático. teorema pela primeira vez. A
Na época da Escola Pitagó- demonstração geométrica rea-
rica, os estudos se davam oral- lizada por Pitágoras pode ser
mente e as descobertas realiza- exemplificada pela figura (Fig.
das pelos seguidores de Pitá- 4.4).
goras eram sempre atribuídas Os pitagóricos foram os res-
para ele mesmo, dificultando ponsáveis por descobrirem os
56 Capítulo 4. 9o ano

Figura 4.4: Demonstração geométrica do teorema


No cálculo dessa hipotenusa
de pitágoras. por meio do teorema de Pitágo-
ras os pitagóricos concluíram
que, por mais que os catetos
fossem divididos em partes me-
nores, o lado desse quadrado
Fonte: [33] continuava a não caber um nú-
mero de vezes na hipotenusa
números Irracionais (I), para
[12].
eles essa descoberta era fasci-
nante, mas ao mesmo tempo Assim, surgiu o √ primeiro nú-
perturbadora, pois na filosofia mero irracional 2. Essa
pitagórica tudo dependia ape- descoberta foi mantida em se-
nas dos números inteiros [12, gredo por muito tempo, so-
18]. mente muito tempo depois Te-
A conclusão de que os nú- odoro de Cirene apresentou
meros irracionais existiam deu- mais alguns
√ √ irracionais: π, e,
se através do objetivo de cal- 3, 5 7, entre outros.
cular a medida da diagonal de Por volta do ano de 370 a.C.
um quadrado de lado 1 cm con- essa descoberta tratada como
forme a figura (Fig. 4.5). um grande “escândalo” foi re-
Figura 4.5: Diagonal do quadrado de lado 1.
solvida por Eudoxo, que era
um dos discípulos de Platão
(Fig. 4.6) (outro grande mate-
mático e filósofo ), esses nú-
meros irracionais eram chama-
dos de incomensuráveis (não
podiam ser medidos). De-
Fonte:[21] dekind, matemático moderno,
4.3 Sistemas de medidas e sua origem 57

também explanou esses núme- Atualmente encontramos essas


ros em 1872. medidas em muitas situações
Figura 4.6: Platão.
do nosso cotidiano como, por
exemplo, as medidas de um ter-
reno, a capacidade de volume
de um copo, a distância entre
duas cidades, a altura de um
prédio, entre outras aplicações.
A necessidade de medir é tão
antiga quanto a história do ho-
mem e, ao longo do tempo,
vários povos desenvolveram o
Fonte: [29]
seu sistema de acordo com suas
necessidades [33].
Outro número irracional Muitas das unidades de me-
muito conhecido é o π (pi), dida utilizadas tinham por refe-
que tem diversas aplicações rência partes do corpo humano:
em nosso cotidiano, cuja des- palmo, pé, polegada, braça,
coberta se deu devido à neces- jarda, etc, exemplifica-se por
sidade de calcular áreas em meio da figura (Fig. 4.7).
formato de círculo.
Figura 4.7: Medidas de comprimento utilizando o
4.3 Sistemas de medidas e sua origem corpo humano.

Joel de Oliveira Bassani


Elisiane Cardoso de Andrade
Os sistemas de medida sur-
giram também de acordo com
as necessidades do homem. Fonte: [39]
58 Capítulo 4. 9o ano

Não se sabe ao certo sobre a corda”, porque para medir eles


origem das medidas de compri- esticavam suas cordas que pos-
mento e de áreas, pois os pri- suíam nós que demarcavam
mórdios deste assunto são mais uma certa medida na mesma,
antigos que a origem da escrita conforme pode-se observar na
[5]. figura (Fig. 4.8).
É muito provável que os pri-
Figura 4.8: Estiradores de cordas ou agrimenso-
meiros povos a utilizarem as res.
medidas de comprimento e de
área foram os babilônios e egíp-
cios, por serem civilizações
que tinham o conhecimento de
construções de grandes edifica-
ções como, por exemplo, as pi- Fonte: [5]

râmides egípcias [5].


Conforme as civilizações fo-
O povo egípcio talvez foi um ram evoluindo, foi necessário
dos povos que mais se desta- aperfeiçoar os sistemas de me-
cavam na arte de medir, pois didas utilizados. Com o de-
a cada cheia do Rio Nilo os senvolvimento do comércio, a
agrimensores do faraó neces- existência de várias unidades
sitavam medir as terras nova- de medida dificultava as nego-
mente separando-as em novos ciações, sendo necessário que
terrenos, restabelecendo os li- se criasse um único padrão de
mites das áreas inundadas pela unidades de medida para cada
cheia do Rio Nilo. grandeza [39].
Cabe aqui ressaltar que os Foi somente após a Revolu-
agrimensores do faraó eram ção Francesa em 1789, que
chamados de “estiradores de a Academia de Ciências da
4.3 Sistemas de medidas e sua origem 59

França unificou o sistema de uma unidade padrão, as demais


medidas no país, baseando-se são obtidas por meio da multi-
em padrões simples, fixos e plicação ou divisão dessa uni-
científicos [33, 39]. Assim dade por 10, 100 ou 1000.
constituiu-se o Sistema Mé-
trico Decimal, criado em junho
de 1799.
O metro padrão que conhe-
cemos hoje (com 100 cm) foi
construído em 1799. Atual-
mente nos referenciamos pelo
Sistema Internacional de Me-
didas (Sistema S.I.), aprovado
no ano de 1960 em Paris, pela
Conferência Geral de Pesos e
Medidas.
O sistema S.I. é uma versão
moderna e atual do Sistema
Métrico Decimal. O Brasil só
adotou o sistema S.I. em 1862
[33].
O Sistema Métrico Decimal,
que também é conhecido como
Sistema Internacional de Medi-
das (S.I.), é utilizado em quase
todos os países. Segundo [39],
o Sistema Métrico Decimal foi
assim chamado com base em
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