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História da Matemática

História da Matemática
Prof. Julio César de Oliveira

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História da Matemática

Apresentação 3
SUMÁRIO 1. A história da matemática por ela mesma. 3
1.1 Origem do pensamento numérico. 4
2. A matemática Grega 6
2.1 Tales de Mileto 7
2.2 Pitágoras de Samos 7
2.3 Euclides 8
2.4 Os três famosos problemas da matemática. 8
2.5 Apolônio, o grande geômetra. 9
2.6 Eratóstenes de Cirene 10
2.7 Sugestão de estudos 11
3. O Ensino da Matemática no Brasil 12
3.1 O movimento republicano e a educação 12
3.2 Os grupos Escolares 13
3.3 A Unificação das Matemáticas 16
3.4 O Movimento da Matemática Moderna 18
4. O uso da história da Matemática em sala de aula 19

5. Bibliografia: 21
História da Matemática

admiração. Conhecer um pouco da vida de


um dos grandes matemáticos é fabuloso,
Apresentação pois os torna mais parecidos com seres
humanos normais, se é que podemos chamá-
los de normais. Podemos perceber que eles
Escrever um material sobre história da também tiveram dificuldades ao longo de sua
matemática a princípio parece simples, pois, vida, dificuldades de saúde, financeira, entre
estamos falando de, aproximadamente, outras. Alguns nem chegaram a desfrutar
quatro mil anos de história. Entretanto, dos louros de suas descobertas, pois,
meu desejo era escrever um conteúdo que algumas dessas descobertas só foram melhor
não se restringisse apenas aos grandes observadas após a morte dos autores.
nomes da história, ligados a matemática e a Finalmente, gostaria de esclarecer que o
física. Gostaria de escrever um material que material poderá ser escrito de duas maneiras:
pudesse dar ao leitor condições de utilizar uma com todos teoremas e demonstrações
a história em sua prática profissional, ou referentes aos conteúdos abordados
seja, ensinar matemática. Devido a este historicamente; outra, onde analisamos
anseio, tive que me debruçar sobre algumas apenas os conteúdos históricos, mas, nem
pesquisas na área de educação matemática por isso menos valiosa. Nesta última o leitor
que utiliza a história da matemática, fazendo poderá dar maior ênfase a história dos seus
uma analogia ao cinema, como ator principal personagens deixando para a leitura de um
ou simplesmente como coadjuvante. segundo material que contemple as provas
Nas leituras que realizei, além de teses matemáticas.
e dissertações, analisei também diretrizes
estaduais e federais, neste caso, o PCN
de matemática. Para minha alegria, todos
eles estão em sintonia com que acredito. A 1. A história da matemática
história da matemática tem a principal função
de “humanizar” a matemática. Porém, para por ela mesma.
que o leitor possa compreender melhor, este
“A matemática, olhada corretamente,
papel da história da matemática é necessário
possui não apenas verdade, mas
conhecer um pouco sobre a história da suprema beleza, uma beleza fria e
educação matemática, quais foram e como austera, como aquela da escultura,
aconteceram as mudanças sobre o que e sem apelo a qualquer parte de nossa
natureza mais fraca, sem as encan-
como ensinar matemática. Entender que
tadoras armadilhas da pintura ou da
vivemos em uma constante mudança. Certa música, mas sublimemente pura, e
vez, ouvi um professor dizendo que não capaz de uma rigorosa perfeição que
suportava mais frases do tipo: “precisamos somente a maior das artes pode exibir”
ter paciência, pois estamos em uma fase (Russell, Bertrand A. W. apud, GARBI,
de transição.” Certamente, esta transição 2010)
ocorre desde de 1930, com a unificação das
matemáticas. Porém, vamos discutir mais
adiante, esta e outras mudanças que ocorram
no panorama da educação matemática,
principalmente, no Brasil.
Além dessas considerações sobre história
da educação, não poderíamos deixar de
falar, é claro, da história da matemática
que sempre nos desperta curiosidade e

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História da Matemática

[...] ,a Idade da Pedra durou vários


1.1 Origem do pensamento milhares de anos, começando talvez já
numérico. em 5 000 000 a.C. e indo até por volta
de 3 000 a.C. Num mundo de vastas
Sempre que inicio minhas aulas de história pastagens e savanas onde abunda-
da matemática realizo a seguinte indagação vam os animais selvagens e as pes-
soas eram principalmente caçadores e
aos meus alunos: A matemática é criação do
colhedores. Suas vidas eram agrestes
homem ou ela foi descoberta por ele? Explico e difíceis, de maneira que elas viviam
que no mundo há objetos descobertos, por demasiado ocupadas e em permanente
exemplo, o ouro o diamante, enfim tudo agitação para poderem desenvolver
tradições científicas. Depois de 3 000
aquilo que, em certo momento o homem,
a.C. emergem comunidades agrícolas
intencionalmente, ou não, encontrou pronto. densamente povoadas ao longo do rio
Entretanto, há objetos criados pelo homem, Nilo na África, dos rios Tigre e Eufrates
por exemplo, o avião, o automóvel, entre no Oriente Médio e ao longo do rio
Amarelo na China. Essas comunidades
outros. E a matemática, foi descoberta
criaram culturas nas quais a ciência e
ou criada? Esta pergunta é de cunho a matemática começam a se desen-
filosófico, e desta forma, estimula inúmeras volver. (EVES, H. 2004, p.24)
respostas controversas e, ao mesmo
tempo, fantásticas. A melhor resposta para
tal pergunta é que não há uma resposta Alguns historiadores apontam a descoberta
definitiva. Pois, podemos argumentar que do osso de Ishango,(figura 1) como sendo a
o homem descobriu a matemática, pois, prova concreta do pensamento matemático
encontramos muitos elementos matemáticos do homem primitivo. Neste osso há marcas
na natureza, por exemplo, o caracol que representam quantidades numéricas,
encontrado no mar, a flor de girassol, entre provavelmente representando uma
outros exemplos. Todavia, se analisarmos associação biunívoca com alguma coleção
a matemática apenas com matrizes, de objetos a ser contado. Entretanto, outros
números complexos, logaritmos, entre historiadores acreditam que esse osso
outros, concluiremos que a matemática foi represente muito mais, algum apontam
criada pelo homem. Enfim qual é a resposta certas explicações a respeito das marcações
correta? Como já disse não há resposta (figura 2).
para tal pergunta. É uma questão ainda em
aberto.
Após as discussões decorrentes dessa
pergunta, começo outra série de indagações:
quando o homem começou a pensar em
matemática? Qual é a origem dos números?
Os símbolos que usamos para a numeração,
de onde vieram?
Historiadores acreditam que o homem
iniciou o processo de contagem na idade
da pedra, onda as civilizações eram
predominantemente nômades vindo a se Figura 1: OssO Ishango, com mais de 8000 anos
de idade.
desenvolverem por volta de 3000 a.C., Fonte: www.express-news.it
segundo Eves (2004),

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História da Matemática

C., respectivamente, não sabemos ao certo


se esses papiros são os documentos mais
antigos da cultura egípcia.

Figura 3: Fragmento do Papiro de Rhind


Figura 2: Explicação dos traços do osso de Is-
Fonte: www.educ.fc.ul.pt
hango
Fonte: www.express-news.it

Outro marco importante para a matemática


foi a criação da geometria. Provavelmente
foram os egípcios responsáveis pela
introdução do tema no nosso mundo.
Para ser mais preciso, foram os arquitetos
e construtores primitivos os pioneiros
na solução das questões de geometria
básica. Vale ressaltar que as soluções
encontradas para os problemas geométricos
e aritméticos eram puramente empíricos,
ou seja, resolviam por experimentações até Figura 4: Tablete de Plimpton322:
Fonte: members.multimana.co.uk
encontrarem as soluções.
Existem documentos que datam com
mais precisão os pensamentos matemáticos
existem na época, entretanto, não Ahmes merece respeito pois, foi o primei-
sabemos ao certo qual civilização produziu ro de autor de conteúdo matemático que a histó-
conhecimento matemático mais cedo, os ria registrou. No papiro encontramos 85 proble-
egípcios ou os sumérios. Tal dúvida surge, mas de Aritmética e Geometria e nele também
pois os sumérios utilizavam tabletes de argila
encontramos as indicações de como resolve-
para expressar seu conhecimento, enquanto
os egípcios utilizam papiros que degradam -los. Um dos problemas resolvidos por ele utiliza
com muito mais facilidade. Desta forma, a regra da falsa posição. Tal problema é descrito
mesmo tendo chegado até nós um tablete da seguinte forma: “Uma quantidade, somada a
datado de, aproximadamente, 2200 a.C e seus dois terços, mais sua metade e mais sua
os Papiros de Ahmes e Moscou, datados
sétima parte perfaz 33. Qual é ela”
de, aproximadamente, 1650 a.C e 1850 a.

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História da Matemática

O papiro de Moscou, datado de 1850 a.C,


portanto, mais antigo que o de Ahmes, mas en-
contrado em data posterior, possui 25 proble- 2. A matemática Grega
mas de Aritmética e Geometria. Com um surpre-
endente problema de geometria que tratava do
Falar sobre a matemática Grega, para
cálculo do volume do tronco de uma pirâmide de
mim, é muito perigoso. Pois, certamente
altura 6 e bases quadradas, medindo 4 e 2. deixarei de falar de alguém importante. São
grandes nomes da ciência e da matemática,
mas falar de todos seria muito difícil, pois,
teria que escrever um livro, com no mínimo
200 páginas. Portanto, tive que, infelizmente,
selecionar alguns deles. Escolhi comentar
sobre Tales de Mileto, um dos sete sábios;
Pitágoras de Samos, o místico; Platão e seus
discípulos, Euclides, com os seus elementos;
Arquimedes de Siracusa, comparado apenas
a Newton e Gauss; e finalmente, Apolônio de
Perga, cujo estudo teve aplica
Para começar, devemos o termo
matemática, a eles, os gregos. Pois, a
palavra “Matemática” tem origem na palavra
grega “máthema” que significa Ciência,
Figura 5: Reprodução do problema 14 de papiro conhecimento ou aprendizagem, derivando
Moscou mostrando o problema do volume de um daí “mathematikós”, que significa o prazer
tronco de pirâmide quadrada, com a transcrição
hieroglífica. de aprender. Algo que também reparamos
Fonte: www.ime.usp.br sobre os gregos é o fato de que muitos
deles eram identificados pela cidade onde
nasceram. Entretanto, alguns nasceram na
De fato a solução para tal problema região denominada Magna Grécia, que foi
é fascinante, tendo em vista, que os uma expansão do Império Grego, devido
conhecimentos matemáticos eram a necessidade de novos comércios para
desenvolvidos confirme problemas reais seus produtos, como, por exemplo, azeite,
fossem surgindo, baseados sempre no cerâmica e vinho grego. A Magna Grécia se
empirismo. Entretanto, a solução desse localiza na região, que conhecemos hoje,
problema não é tão elementar, nem tão como Itália.
pouco empírico. Há um pensamento lógico
a respeito dessa solução. Talvez, estejamos
nos deparando com os primórdios do cálculo
racional e lógico, instituído pelos matemáticos
gregos.

Figura 6: Principais cidades de origem grega no


século VII a.C.
Fonte: www.cfh.ufsc.br

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História da Matemática

Finalmente, a principal contribuição


2.1 Tales de Mileto feita por Tales a matemática é pensamento
racional sobre a geometria, ou seja, Tales é
responsável pela geometria demonstrativa,
Sua vida é pouco conhecida, sabe-se, deixando para trás a geometria empírica
entretanto, que foi capaz de prever um utilizada até então.
eclipse solar em 585 a.C. Data inclusive
utilizada para aproximar seu nascimento,
ou seja, quarenta anos antes deste eclipse. 2.2 Pitágoras de Samos
Porém, também, não é possível afirmar
com certeza se esse episódio é fato ou Pitágoras nasceu em Samos,
ficção. Quando falamos sobre Tales, muitas provavelmente em 586 a.C. e o ano de
histórias são consideradas lendas. Entre sua morte é possivelmente 500 a. C.
os historiadores, há um único consenso, o Alguns historiadores defendem a idéia
de que Tales teria sido o primeiro dos sete de que Pitágoras tenha conhecido Tales
Sábios da Grécia Antiga. pessoalmente, pois Samos era próximo a
Segundo alguns historiadores, os sete Mileto e a fama de Tales era conhecida na
sábios são: Tales de Mileto, Pítaco de Grécia. Entretanto, essas afirmações são
Mitelene, Bias de Priene, Sólon de Atenas, conjecturas baseadas na incerteza, pois, não
Cleobulo de Lindos, Míson de Queneia e há documentos que comprovem tal encontro.
Quílon de Lacedemónia. Entretanto, há Porém, podemos afirmar que Pitágoras iniciou
discordância sobre os nomes relacionados. seus estudos apoiado nas descobertas de
Voltando a Tales, creditam a ele alguns Tales.
teoremas, sendo eles: um ângulo inscrito em Embora Tales tenha sido o primeiro a
declarar que as verdades matemáticas
um semi círculo e um ângulo reto; um círculo
devem ser provadas pelo raciocínio,
é bissectado por um diâmetro; os ângulos acredita-se que foram os pitagóricos
da base de um triângulo são iguais; os pares os primeiros a produzir demonstrações
de ângulos opostos formados por duas retas razoavelmente rigorosas.
Os pitagóricos foram, também, os
que se cortam são iguais; se dois triângulos
primeiros a enxergar a Matemática
são tais que dois ângulos e um lado de um como algo abstrato, pairando acima da
são iguais, respectivamente, a dois ângulos realidade física. (GARBI, 2010, p.26)
e um lado do outro, então os triângulos
são congruentes. O único documento que Devido a instabilidade que existia em
comprova tais teorema a Tales, é datado de Samos, Pitágoras mudou-se para Crotona,
1 000 após a existência de Tales, o filósofo onde fundou a escola dos pitagóricos.
Proclo (410 – 485), ele diz de Tales: Famosa escola da Grécia que despertou certo
desconforto entre os moradores de Crotona.
[...] primeiro foi ao Egito e de lá intro- Entretanto, antes de chegar a esta cidade
duziu esse estudo na Grécia. Desco-
passou pelo Egito, onde provavelmente
briu muitas proposições ele próprio, e
instruiu seus sucessores nos princípios obteve conhecimento em geometria e
que regem muitas outras, seu mé- posteriormente veio a desenvolver tal tema.
todo de ataque sendo em certos casos Outra área de grande interesse de Pitágoras
mais geral, em outros mais empírico.
era teoria dos números. Ele acreditava que
(Heath, apud, BOYER, 1996, p.32)
tudo no mundo era regido por números e
geometria. A música também foi outro objeto

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História da Matemática

de estudos de Pitágoras, percebeu que as


notas musicais eram dividas em escalas.
2.4 Os três famosos
Para poder ter uma breve idéia sobre
Pitágoras é interessante assistir a um vídeo problemas da matemática.
que mostra, de forma pouco científica, um
pouco sobre Pitágoras.
Com o fim da extensa guerra do
http://www.youtube.com/watch?v=Nc1vulpH31E Peloponeso, em 404 a.C., entre Atenas
e Esparta, pela liderança política da
Grécia, a cultura voltou a desenvolver-se
2.3 Euclides naquela região. Atenas, embora derrotada,
comandava o novo período de evolução
cultural. Nessa mesma cidade em 427 a.C.,
Ao falarmos de Euclides não podemos o ano da grande peste, nasce Platão. Aluno
deixar de citar o seu tratado sobre de Sócrates torna-se um grande filósofo e
Geometria, Os Elementos. Este trabalho foi o envolto pelo clima de guerra, sai daquela
marco para o desenvolvimento da Geometria região em busca de mais conhecimentos.
Dedutiva, antes a geometria era pensada Estuda matemática com Cirene na África
apenas como resolução de problemas e torna-se amigo de Arquitas. Ao retornar
práticos. Com Euclides esse pensamento a Atenas em 387 a.C., funda a famosa
mudou, ele, além de desenvolver Academia de Platão, instituição voltada ao
pensamentos apoiados no raciocínio lógico, estudo e pesquisa da ciência e filosofia.
sistematizou a geometria, sou seja, toda Quase todos os importantes trabalhos
verdade teria que demonstrada através matemáticos e filosóficos do século IV a.C.,
de argumentos matemáticos tidos como foram feitos por discípulos ou amigos de
verdades, os chamados axiomas. Euclides Platão. A grande importância de Platão para a
enunciou cinco axiomas dos quais conseguiu matemática, não foram as suas descobertas
construir toda a geometria que conhecemos e sim a sua convicção entusiástica de que
hoje. É importante frisar que Os Elementos o estudo da matemática fornecia o mais
foi escrito no século III a.C. e até meados refinado tratamento de espírito e por isso
do século XX era utilizada praticamente deveria ser cultivado pelos filósofos e pelos
sem alterações pelos alunos que aprendiam governantes.
geometria. A matemática grega era dividida em
Outro ponto importante sobre Os três tipos de linhas de desenvolvimentos, a
Elementos é o fato de que o quinto axioma geometria superior, que estudava as curvas
foi responsável por inúmeras discussões, —diferentes das retas e circunferência— e as
culminando com a criação de outras superfícies —diferentes dos planos e esferas.
geometrias, as ditas Geometrias não Esta geometria teve inicio na tentativa de
Euclidianas. solucionar os três famosos problemas da
antiguidade, que são: duplicação do cubo,
trissecção do ângulo e quadratura do circulo.
A origem de cada um desses problemas
não é muito clara e precisa. O problema da
duplicação do cubo tem pelo menos duas
origens diferentes. Uma delas é que algum
poeta grego antigo, leigo em matemática,
descrevendo o descontentamento do Rei
Minos, com o tamanho do túmulo de seu

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História da Matemática

filho, pediu aos seus súditos que este fosse Delos, trissecção do ângulo e quadratura do
dobrado. O poeta então fez menção em circulo.
dobrar cada uma das arestas do túmulo, Estes problemas mais tarde foram tidos
pensando que com isso dobraria seu como insolúveis, pois perceberam que era
volume. Outra origem, a respeito desse impossível resolvê-los apenas com régua e
problema, diz que a grande peste dizimou compasso. Mas a importância destes
um quarto da população de Atenas. Tendo problemas à matemática ocorre, pois com as
ocorrido isto foi designada uma delegação tentativas de resolvê-los, o estudo da
de atenienses para ir até o oráculo de Apolo matemática evoluiu consideravelmente.
—Deus grego—, em Delos (outra cidade da Existiram diversas soluções, observando que
Grécia), ao chegarem perguntaram como todas, não foram conseguidas apenas com
a peste poderia ser combatida. O oráculo régua e compasso e algumas delas merecem
respondeu que a delegação deveria duplicar ser citadas: Hipócrates de Chios ( 440 a.C.),
volumetricamente o altar de Apolo. Eles construiu duas médias proporcionais entre
apressadamente dobraram as dimensões do dois segmentos de reta de comprimento, s e
altar e isto não fez com que a peste fosse 2s, tendo como os valores das médias, x e y.
afastada, pois eles não multiplicaram por Desenvolvendo esta relação que segue,
s x y
dois o volume do altar e sim por oito. Como = = , chegaremos em algo deste tipo
é possível observar a origem é diferente, mas
x y 2s x³ = 2s³, onde x é a aresta de um
o problema em ambos os casos é o mesmo. cubo, com o dobro do volume de um cubo de
Ficou assim enunciado: “Dado à aresta de um aresta s. Tiveram ainda soluções feitas por
cubo, construir só com régua e compasso a Eratóstenes e Nicomedes e usaram artifícios
aresta de um segundo cubo tendo o dobro do mecânicos e Menaecmo através das secções
volume do primeiro” (Boyer, 1996, p. 44). cônicas. Para resolver o problema da
Na mesma época circulava em Atenas, trissecção, Nicomedes inventou a conchóide.
entre os estudiosos de lá, uma tarefa que As cônicas novamente aparecem para a
os intrigavam o problema da trissecção de solução desse problema, que foi feito por
um ângulo. Eles achavam intrigante, pois Papus (300 d.C.), através das propriedades
se a bissecção de um ângulo era feita de do foco-diretriz, as curvas transcendentes,
maneira tão simples como que a trissecção entre essas estão a quadratriz de Hípias (425
lhes causavam tanto esforço. Assim ficou a.C.) e a espiral de Arquimedes (225 a.C.).
enunciado: tendo um ângulo qualquer dado, Para a quadratura do círculo, novamente
construir apenas com régua e compasso um foram usadas: a espiral e a quadratriz.
ângulo com um terço do ângulo dado.
Quanto ao problema da quadratura do
círculo é mencionado que quando Anaxágoras 2.5 Apolônio, o grande
esteve preso, para ocupar seu tempo geômetra.
concentrou seus esforços na tarefa de
construir, apenas com régua e compasso, um
quadrado com área igual à área de um círculo Apolônio de Perga era um astrônomo
dado. Outro autor cita apenas que provém de notável e escreveu diversos títulos sobre
Anaxágoras. matemática. Desenvolveu o modelo
Tanto este último problema como o matemático favorito para representação
segundo, tem origem pouco esclarecida, mas do movimento dos planetas. Ele propôs
isto não diminui a importância deles. São dois sistemas alternativos, um consistia de
estes os famosos problemas: duplicação do movimentos epicíclicos, outro de movimentos
cubo, também conhecido como problema de excêntricos. Sua obra de maior repercussão é
Secções Cônicas. Devido a todas suas obras

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História da Matemática

sobre geometria, ficou conhecido, entre seus e mais tarde com Kepler, ao afirmar que a
colegas, como “O Grande Geômetra”. trajetória de Marte descrevia uma elipse, com
Com oito livros, Secções Cônicas chega a um dos focos sendo o Sol.
ter cerca de 400 proposições sobre o assunto.
Os quatro primeiros livros tratam do assunto
de uma maneira mais elementar, sendo que 2.6 Eratóstenes de Cirene
os três primeiros têm fortes citações de
Euclides, mas Apolônio se defende dizendo
em seu livro III, que alguns dos teoremas Viveu no século III a.C., foi amigo
são seus, pois completou com os lugares de Arquimedes e diretor da Faculde de
ali considerados. Enquanto que nos quatro Alexandria, período em que sua biblioteca
últimos volumes tratam do assunto de teve maior desenvolvimento, chegando
maneira além do fundamental, tornando-os a alcançar a marca de 480 000 obras.
cada vez mais específicos. Desenvolveu um método para determinar
Antes de Apolônio os gregos obtinham se um número era primo ou não, tal método
as secções cônicas através de três tipos de ficou conhecido como Crivo de Eratóstenes.
cone, conforme o seu ângulo do vértice: Entretanto, sua maior descoberto, foi
reto, agudo ou obtuso. O grande geômetra determinar, através de simples matemática,
mostrou que era possível tirar todas as o comprimento da circunferência da Terra,
três secções de qualquer tipo de cone, com erro inferior a 10%, um feito incrível,
bastando para isso variar a inclinação do se levarmos em consideração muitos séculos
plano que o seciona. Sendo o cone reto ou mais tarde, alguns acreditavam que a
obliquo. Mostrou, o que para eles ainda Terra era plana. Eratóstenes descobriu o
era desconhecido, o cone duplo. Com isso comprimento da Terra utilizando sabedoria,
ficou fácil de entender a hipérbole (que trigonometria e simples proporção. Ao ler um
conhecemos hoje) de dois ramos e não papiro que comentava que em certo dia do
duas hipérboles como os gregos pensavam. ano ao meio dia, não existia a formação de
Apolônio definiu o cone duplo da seguinte sombras de obeliscos e construções, ou seja,
maneira: de tudo que estava posto ao Sol. Em posse
Se fizermos uma reta, de comprimento desta informação pediu medissem a distância
indefinido e passando sempre por
entre Alexandria e Siena, cidade onde o
um ponto fixo, mover-se ao longo da
circunferência de um circulo que não relato ocorrera.
está num mesmo plano com o ponto Para maiores ilustrações é interessante
de modo a passar sucessivamente por assistir aos vídeo da série Cosmos, de um
cada um dos pontos dessa circunferên-
importante cientista do século XX, Carl
cia, a reta móvel descreverá a super-
fície de um cone duplo. (BOYER, 1996, Segan. Neste vídeo ela conta em detalhes
p. 100). sobre a biblioteca de Alexandria e o feito de
Eratóstenes.
Vídeo 1
O mais importante sobre Apolônio, foi
que em sua época estudou exaustivamente http://www.youtube.com/watch?v=YMcE
um assunto pelo simples prazer de estudar, 9zDEJNQ&feature=related
pois suas descobertas não haviam aplicações
naquele momento. Tais aplicações só vieram Video 2
surgir, quase dois mil anos após os primeiros
estudos de Apolônio. Galileu percebeu que http://www.youtube.com/
os corpos lançados próximos a superfície da watch?v=6wIgJe3zJ-k&feature=related
Terra descreviam uma trajetória parabólica

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História da Matemática

a Alemanha e a Inglaterra, pois ambos os


países defendiam a autoria do calculo aos
2.7 Sugestão de estudos
seus descendentes. A Alemanha alegava
que Leibniz havia desenvolvido a teoria do
calculo independente do Newton. Enquanto,
Infelizmente, falar sobre todos os nomes a Inglaterra alegava que as idéias de
que, de alguma maneira, realizaram Newton haviam sido usurpadas pelo alemão.
contribuições importantes à matemática Controvérsias a parte, hoje atribuímos aos
seria algo extremamente trabalhoso. E dois os responsáveis pela criação do CDI.
além do mais, para você que tem mais ou Existem também matemáticos que
menos 15 dias para ler este material seria, tiveram uma vida extremamente curta, mas
na minha opinião desgastante. Levando em que deixaram contribuições de extrema
consideração que alguns alunos do curso relevância, Galois, Abel e Fermat, que em seu
de pós graduação não possuem o tempo leito de morte, moribundo devido a um duelo
necessário para realizar alguma tarefas. travado com marido enciumado, deixou um
Entretanto, não posso deixar de, ao menos, teorema, cuja demonstração não obteve êxito
citar alguns nomes. Não posso deixar de falar durante mais de trezentos anos. Por falar
de Fibonacci e sua maravilhosa seqüência, em matemáticos de pouca idade, o que dizer
que mostra que muitos objetos encontrados Gauss, aos nove anos de idade percebeu,
na natureza seguem um a lógica matemática, em lampejo de genialidade, que a soma de
por exemplo, o crescimento dos galhos de termos opostos em uma seqüência aritmética
uma arvore. Não podemos deixar de falar era sempre igual. Desta maneira deduziu
que Fibonacci foi responsável pela introdução a fórmula da soma de n termos de uma
da numeração Hindu-Arábica na Europa, no progressão aritmética.
século XI. São inúmeros nomes, se fosse falar apenas
Outros personagens que dou destaque é o uma de cada um deles escreveria um texto
italiano Cardano, estudou sobre as equações robusto. São tantos os nomes que, a medida
do 3° grau. Dizem que roubou a fórmula de que discorre sobre um personagem me vem
resolução de Tartaglia, outro italiano que outro a mente. Pascal, Descartes, Bernoulli,
também desenvolveu teorias sobre o assunto. Euler, Arquimedes, como poderia deixar de
Alguns apontam Cardono como um canastrão citar seu nome.
que usava de meios poucos ortodoxos para Bom, deixarei alguns vídeos que
conseguir alcançar seus objetivos. Discussões esclarecem um pouco mais sobre a vida de
a parte, temos que admitir que o estudo das alguns nomes citados. Vale a pena ler um
equações do 3° grau foi responsável pelo pouco mais sobre eles. Pois, defendo que
surgimento dos números complexos. possuir conhecimento nunca é demais.
Kepler, através dos dados Tycho Brahe Kepler
conseguiu formular três leis que contribuíram,
juntamente com os trabalhos de Galileu http://www.youtube.com/
Galile para o trabalho de Isaac Newton, watch?v=gXpzUM9J2II
que escreveu sobre óptica, gravitação
e mecânica. Seu trabalho conhecido Galileu e Newton
por Principia, foi considerado a maior
contribuição a humanidade realizada por um http://www.youtube.com/watch?v=xxFXd
único homem. Para escrever este trabalho MuqbMA&feature=related
desenvolveu uma nova teoria, o, hoje,
conhecido, Cálculo Diferencial e Integral. Tal http://www.youtube.com/watch?v=bgtdfI0
teoria causou certo desentendimento entre jsi4&feature=related

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História da Matemática

http://www.youtube.com/
watch?v=QBZKMuWp_es&feature=related O ensino de matemática no Brasil era em
parte, a mesma matemática ensinada em
Arquimedes Portugal, ou seja, Geometria Euclidiana,
noções de trigonometria e alguns tipos de
http://www.youtube.com/
equações algébricas elementares, além de
watch?v=X8c3AdgMi9w razões, proporções e juros.
O ensino no Brasil, de modo geral, muda
O último teorema de Fermat
com a chegada da família real portuguesa,
em 1808. Em 1810 é criada, no Rio de
http://www.youtube.com/
Janeiro, a Academia Real Militar, com o curso
watch?v=0Kvbo0NpfXA de matemática. Durante sua existência sofreu
algumas reformas para poder se adequar a
Gauss
necessidade do pais, por exemplo, a partir
de 1850 alguns desafios começaram e surgir,
http://www.youtube.com/watch?v=s6P38
podemos citar, a construção e manutenção
x8RVjw&feature=related
das ferrovias. Desta forma, o ensino de
matemática superior em nosso país foi
Fibonacci
realizado nas Escolas de Engenharia.
http://www.youtube.com/
watch?v=QaWepnGWRs8 3.1 O movimento republicano
e a educação

O Governo Imperial, instituído com a


3. O Ensino da Matemática Independência do Brasil (1822), pretendia
manter intocável o latifúndio escravista
no Brasil e preservar os privilégios da elite rural.
Ao estudarmos o início do ensino de Entretanto, com o passar dos anos, essa
matemática no Brasil, temos que olhar para estrutura montada nesse pilar social e
o Brasil - Colônia e a educação oferecida econômico demonstrava sua incapacidade
pelos Jesuítas. Até então a única educação de acompanhar a evolução pela qual o
formal que existia em nosso pais. Na década Brasil passava. Juntamente com o processo
de 1750 existiu na Bahia uma faculdade evolutivo, vieram também o crescimento
de matemática, mantida pelos jesuítas, populacional, a crise do sistema escravista
embora não reconhecida pelas autoridades e a lenta substituição no campo do trabalho
portuguesas. Tal descredenciamento se deve servil para trabalhador assalariado, sem
ao fato que desde a descoberta de nosso país falar no surgimento das grandes cidades e
e até o ano de 1808 eram proibidos, segundo de inúmeras indústrias a partir da década
Silva (1992), de 1870, expandindo ainda mais na década
seguinte. Portanto, a não-adequação do
[...] escolas de nível superior, circu-
regime imperial à nova realidade e à crise
lação e impressão de livros, de pan-
fletos e de jornais, bem como a ex- econômica que atingiu o Brasil em 1877
istência de gráficas. [...] é interessante contribuiu para que os ideais republicanos se
frisar que o primeiro jornal brasileiro, fizessem cada vez mais presentes (CLARK,
Correio Brasiliense,[...] era editado em
2006).
Londres, Grã-Bretanha, e vendido no
Brasil, de modo não autorizado pela Durante o período do Brasil-Colônia e
metrópole.(SILVA, 1992,p. 32) em seguida do Brasil-Império, as políticas

14
História da Matemática

alizar-se no futuro (SOUZA, 1998, p.


educacionais não contribuíram para uma 41).
escolarização que suprisse a necessidade
da população. Dados do censo de 1890
revelaram que o País ocupava a pior posição Os grupos escolares paulistas se firmaram
entre as nações consideradas: possuía como modelo a ser copiado em outros
85,21% de iletrados (PAIVA, 1990). estados nacionais. Em 1920, vários grupos
Para tentar modificar a dura realidade escolares continuaram sendo inaugurados,
educacional apresentada pelo Brasil, os tanto no interior paulista como na capital.
liberais republicanos encontraram resposta na Contudo, as escolas criadas não foram
ideologia positivista. Esta ideologia surgiu na suficiente para atender os ideais de
Europa com o objetivo de exaltar o progresso democratização do ensino. O ensino ainda
das ciências experimentais e propor uma continuava seleto às classes econômicas mais
reforma conservadora e autoritária e, ao favorecidas.
mesmo tempo, inovadora.
[...] a ineficiência da educação popu-
A partir da República, em 1889, várias
lar cujos altos índices de seletividade
reformas educacionais foram promovidas revelavam a face obscura da exclusão
com o objetivo de melhor estruturar o ensino escolar e a impossibilidade da escola
primário e secundário. Após a criação da pública cumprir os ideais de democrati-
zação do ensino (SOUZA, 1998, p. 59).
Escola Normal Caetano de Campos (1890),
em São Paulo, o governo paulista institui as
escolas-modelo e, em seguida, os grupos Entretanto, mesmo não tendo alcançado
escolares. totalmente os objetivos para que fora criado,
o ensino público primário, em especial os
Esta nova concepção de escola primária, grupos escolares, foram decisivos para a
criada inicialmente em São Paulo, nasceu criação dos modelos de educação primária
ligada ao Projeto Educacional Republicano, que são seguidos, em certa medida, até os
que entendia a educação como instrumento dias atuais.
de desenvolvimento intelectual e moral,
requisitos importantes para alcançar o
almejado progresso nacional. 3.2 Os grupos Escolares
Acreditavam os intelectuais e gov-
ernantes paulistas da primeira hora da
Como citado anteriormente, os
república na aliança entre o progresso
do Estado e a educação popular. A republicanos buscavam alicerçar a República
educação seria para eles a força pro- por meio da educação. Todavia, a educação
pulsora que desmantelaria o atraso e pública no final do período imperial
o obscurantismo da população (MAR-
encontrava-se em total abandono, com
CILIO, 2005, p. 137).
uma quantidade de escolas muito inferior à
[...] desde o início da República, a necessária. O panorama só não estava em
implantação da escola moderna com- situação calamitosa pois existiam escolas
preendendo várias salas de aula e
particulares que tentavam suprir a demanda
vários professores era advogada por
alguns intelectuais e educadores. Entre de alunos existentes naquela época. Por
eles destaca-se a posição do deputado muito tempo, essas escolas foram, em
Gabriel Prestes que em 1892, por oc- número, superiores às do Estado. Faria Filho
asião dos debates em torno do projeto
(2003, p. 145) diz: “Essas escolas, às vezes
de lei da reforma da instrução pública
do Estado de São Paulo, defendeu a chamadas de particulares outras vezes de
criação gradual de novos tipos de es- domésticas, ao que tudo indica, superavam
colas primárias que pudessem gener- em número, até bem avançado o século XIX,

15
História da Matemática

aquelas cujos professores mantinham um


vínculo direto com o Estado”. A educação encontrava-se em momento
Atrelado a este desinteresse por parte do
de extrema delicadeza e era necessário tomar
império, tínhamos professores sem preparo
alguma atitude para reverter tal quadro. Nesse
adequado para lecionar. Muitos deles eram
nomeados professores em função de favores sentido, o Estado de São Paulo toma a dianteira
políticos. Poucos cidadãos se atreviam a ir de na tentativa de solucionar os problemas
encontro a esta situação. Por um lado, havia existentes na educação. Segundo Faria Filho,
o medo e, por outro, o comodismo por parte
de alguns. Rangel Pestana escreve no Jornal Apesar das críticas existirem desde
A Província de São Paulo em 05.11.1885: a primeira metade do século, [...] o
Brasil vai ter que esperar até mea-
O estado da instrução pública na dos da última década do século XIX,
província de São Paulo é padrão de primeiro em São Paulo e, depois em
vergonha, muitos reconhecem, mas vários estados brasileiros, para ver
bem poucos sentem-se dispostos a em funcionamento as primeiras con-
combater o mal porque é preciso arcar struções públicas próprias para a reali-
com interesses de política pessoal. Mas zação da instrução primária: os grupos
a inércia e a rotina impediram ações escolares. Nele, e por meio deles,
mais corajosas. [...] Os coronéis, os os republicanos buscarão mostrar a
assessores dos coronéis, os compan- própria República e seu projeto educa-
heiros e os chefes dos coronéis, não tivo exemplar e, por vezes, espetacu-
querem quebrar a máquina que os lar (FARIA FILHO, 2003, p. 147, grifo
habilita a fazerem de um ignorante, nosso).
mestre; de um devasso, educador;
de um analfabeto, professor ou inspe-
tor literário (RANGEL PESTANA, apud
MARCILIO, 2005, p. 137). Os primeiros anos da República são
considerados os anos áureos da instrução
pública em São Paulo, pois, nestes anos,
A manutenção da proibição do voto além das reformas do ensino primário e
de eleitores analfabetos pela primeira normal (1890, 1892, 1893), tivemos a
constituição da República mais o fato organização de uma rede de escolas normais
de possuir uma grande porcentagem de e complementares e a construção do edifício
analfabetos na população repercutiam, no da Escola Normal de São Paulo, destinada
exterior, de forma muito negativa. Segundo a ser o centro irradiador das inovações
Vanilda Paiva, didáticas.
Com a promulgação da Lei n. 169, de
A questão do analfabetismo no Brasil
07.08.1893, foi estabelecida a criação dos
emerge com a reforma eleitoral de
1882, (Lei Saraiva), que derruba a grupos escolares. No regimento interno
barreira da renda, mas estabelece a das escolas públicas de 26.07.1894, que
proibição do voto do analfabeto, crité- regulamentou a lei citada, está disposto em
rios mantidos pela primeira Constitu-
seu artigo 81 o seguinte:
ição republicana. Ela se fortalece com
uma maior circulação de idéias ligadas
Nos logares em que, em virtude de
ao liberalismo e se nutre também de
densidade da população, houver mais
sentimentos patrióticos. A divulgação de uma escola no raio fixado para a
dos índices de analfabetismo em difer- obrigatoriedade, o Conselho Superior
entes países do mundo na virada do poderá fazel-as funccionar em um só
século revelava a importância que a predio para esse fim construido ou
questão vinha adquirindo nos países adaptado. Taes escolas terão a denom-
centrais e, certamente, tocou os brios inação de “Grupo Escolar” com a sua
nacionais (PAIVA, 1990, p. 8). respectiva designação numerica em

16
História da Matemática

cada localidad (ANUÁRIO DO ESTADO edifício escolas do sexo masculino e do


DE SÃO PAULO, 1907-1908, p. 134). feminino, havendo completa separação
dos sexos conforme prescrição legal.
(SOUZA, 1998, p. 45).

De acordo com Souza, os grupos escolares


A reunião das escolas trazia todos os
foram instalados nos centros urbanos, princípios fundamentais que propor-
áreas onde existia a maior concentração cionaram as mudanças no ensino
da população. O nome “grupo escolar” foi primário: a racionalização e a padroni-
zação do ensino, a divisão do trabalho
preferido em vez de “escolas centrais”,
docente, a classificação dos alunos, o
expressão utilizada em alguns países da estabelecimento de exames, a necessi-
Europa, pois estas geralmente se instalavam dade de prédios próprios com a con-
em centros das cidades. Um dos grandes seqüente constituição da escola como
lugar, o estabelecimento de programas
diferenciais dos grupos se referia à
amplos e enciclopédicos, a profission-
organização dos estudantes. Neles, existia a alização do magistério, novos procedi-
possibilidade de ensinar a um número maior mentos de ensino, enfim, uma nova
de alunos, visto que era necessário apenas cultura escolar (SOUZA, 1998, p. 47).
um professor para ensinar a uma classe com
[...] a concepção arquitetônica dos
até 40 alunos. Por conseguinte, esperava-se primeiros grupos escolares aliou a
que o número de pessoas não letradas caísse racionalidade e funcionalidade aos
de forma significativa. No entanto, não foi o padrões estéticos, isto é, edifícios de
dois pavimentos com oito salas de
que se percebeu. No recenseamento escolar
aula de mesmo tamanho, uma para
de 1920, foi constatado que 67,9% das cada série do curso preliminar de cada
crianças com idade para o ensino primário seção – feminina e masculina. A sime-
não freqüentavam a escola e que 74,2% da tria das plantas respondia à separação
obrigatória dos sexos (SOUZA, 1998,
população era analfabeta (SOUZA, 1998).
p. 49).
A organização pedagógica e administrativa
dos grupos escolares foi pioneira. Trouxe
consigo inúmeras inovações, novidades
que iam desde como os edifícios escolares Este modelo de ensino primário seria
deveriam ser construídos até de que forma adotado por vários Estados nos anos
o conteúdo ensinado deveria ser aplicado, seguintes. Os Grupos Escolares de São Paulo
estando estes diretamente subordinados aos se tornariam a grande referência no ensino
métodos de ensino adotados pelas escolas- primário. “O modelo consagrado no Estado
modelo do Estado (SOUZA, 1998). O modelo de São Paulo foi paulatinamente adotado nos
dos grupos era estabelecido da seguinte demais Estados brasileiros” (SOUZA, 1998, p.
forma: 50). Podemos atribuir aos grupos escolares
a responsabilidade da criação de uma nova
cultura no contexto escolar.
Cada grupo escolar poderia compor- [...] a cultura elaborada tendo como
tar de 4 a 10 escolas isoladas e seria eixo articulador os grupos escolares
regido pela quantidade de professores atravessou o século XX, constituindo-
referentes a agrupamentos de 40 se referência básica para a organização
alunos, contando também com adjun- seriada das classes, para a utilização
tos necessários à diretoria. Os alunos racionalizada do tempo e dos espaços
seriam distribuídos em 4 classes, para e para o controle sistemático do tra-
cada sexo, correspondentes ao 1.º, balho das professoras, dentre outros
2.º, 3.º e 4.º anos do curso preliminar. aspectos. É, grosso modo, nesse e com
Para a direção, o governo nomearia um referência a esse caldo de cultura que
professor da mesma escola diplomado ainda hoje se elaboram as reflexões
pela Escola Normal. Nos grupos esco- pedagógicas [...] (FARIA FILHO, 2003,
lares poderiam funcionar no mesmo p. 147) .

17
História da Matemática

pedagógica, “[...] a falta de uniformidade


dos programas, a diversidade da formação
dos professores e a aplicação de diferentes
métodos de ensino” (SOUZA, 1998, p. 49).

Outra característica presente nestas


instituições era a relevância do papel do 3.3 A Unificação das
diretor. Tal cargo era visto com muita Matemáticas
importância e, em algumas cidades, era
comparado ao padre, ao juiz e ao delegado.
Para a inspetoria, o diretor era a pessoa que Decidi falar desse assunto, pois, são
comandava a unidade escolar. Este comando poucos os professores que sabem que um
determinava a qualidade do Grupo Escolar. dia, no Brasil, tínhamos três disciplinas
No anuário de 1908, temos o seguinte relato: distintas: álgebra, geometria e aritmética.
Cada uma delas possuía exame próprio, ou
seja, o aluno tinha que ser aprovada em cada
Nos novos grupos instalados no ano
passado, verificou-se mais uma vez a uma das três. Para que possamos entender
importância decisiva que tem para os um pouco mais sobre o assunto, é necessário
destinos da instituição a escolha do di- citar Euclides Roxo.
retor. Esta escolha é para o grupo uma
questão de vida ou de morte. Pode-se
dizer, em geral, que tanto vale o dire- Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
tor, tanto vale o grupo (ANUÁRIO DO nasceu em Aracaju em 1890. Em 1909,
ESTADO DE SÃO PAULO, 1907-1908, bacharelou-se no Colégio Pedro II, referencia
p. 26) na educação da antiga capital federal, Rio
de Janeiro. Formou-se em engenharia, em
1916, pela Escola Politécnica do Rio de
Os grupos escolares foram idealizados Janeiro. Em 1915, foi aprovado em concurso
pelos republicanos na tentativa de para professor substituto de matemática
democratizar o ensino público, buscando no Colégio Pedro II. Mais tarde, em 1919,
livrar-se das marcas deixadas pelo império. foi nomeado catedrático neste mesmo
Os grupos “[...] permitiam aos republicanos estabelecimento de ensino. Em 1925, foi
romper com o passado imperial [...] nomeado diretor do externato do Colégio
projetavam um futuro em que na República Pedro II, permanecendo até 1930, quando
o povo, [...] plasmaria uma pátria ordeira foi nomeado diretor do internato da mesma
e progressista” (FARIA FILHO, 2003, p. instituição. Ficando neste cargo até 1935.
147). Entretanto, o desejo de uma educação Justamente, no período em que foi diretor, o
pública democrática sofreu alguns reveses, país passou por profundas modificações na
entre os quais podemos citar: a falta de área educacional. (Carvalho, 2004).
recursos financeiros, que acarretou, na
“[...] ampliação e diferenciação do tamanho Desde 1920, o Brasil enfrentava fervorosas
das salas e a construção de prédios de inquietações na área educacional, passou
um só pavimento” (SOUZA, 1998, p. 49); por algumas reformas no ensino. Durante a
a instalação lenta de unidades de ensino primeira república, três linhas pedagógicas
primário em todo o Estado; segundo Souza se enfrentaram: a pedagogia tradicional, a
(1998), entre 1894 e 1910, apenas 101 pedagogia nova e a pedagogia libertária.
grupos haviam sido instalados, 24 na
O movimento da Escola Nova enfatizou
capital e 77 no interior. Juntando-se a esses
os “métodos ativos” de ensino aprendi-
problemas, ainda surgia outro, de natureza zagem, deu importância substancial à

18
História da Matemática

liberdade da criança e ao interesse do


educando, adotou métodos de trabalho matemática. A resistência ao novo programa
em grupo e incentivou a prática de de ensino foi publicada abertamente no
trabalhos manuais nas escolas; além Jornal Commercio. Em 21/12/1930, apud,
disso valorizou os estudos de psicolo- Carvalho(2004), pelo catedrático do Colégio
gia experimental e, finalmente, pro-
curou colocar a criança (e não mais Pedro II Joaquim Ignácio de Almeida Lisboa.
o professor) no centro do processo
educacional. (GUIRALDELLI, apud,
CARVALHO, 2004, p. 90) O professor Roxo quis dar ao ensino
da matemática um caráter utilitário e
essencialmente prático. Julgo que não
atingiu esse objetivo.[...]
Em 1931 a reforma Campos é promulgada O professor Roxo esqueceu qual a ver-
dadeira finalidade da matemática na
e na qual, se estabelece que o ensino escola secundária. Seu principal des-
secundário deverá ter sete anos, cinco dos tino não é uma colheita mais ou menos
quais constituem o ciclo fundamental e os abundante de conhecimentos práticos
dois últimos o complementar, destinados à e isolados. A matemática é uma dis-
ciplina de espírito, uma inimitável e
preparação para cursos superiores, tendo insubstituível educadora do raciocínio
três subdivisões, de acordo com a futura área a que a mocidade deve ser submetida.
profissional do aluno. Foi neste reforma que, [...]
pela primeira vez, o ensino no pais passou a Pretenderá o autor convencer-nos
de que a reforma dos programas é o
ter uma normativa que era utilizada por todos fruto, embora tardio, do Congresso ou
os estados. Até então os governos estaduais Comissão Internacional, reunida em
não eram obrigados a seguir as orientações 1911 e 1912? Tal pretensão seria uma
do governo federal. Euclides Roxo, por estar ofensa a Klein e aos eminentes profes-
sores e matemáticos que constituíam
ocupando o cargo de diretor do Colégio aquele Congresso.[...]
Pedro II, foi responsável pelas mudanças na As aplicações práticas, que visava o
área de matemática. Vale estacar que essas congresso, não eram banalíssimas e
mudanças já eram praticadas em 1928, inúteis medidas de alturas de torres
com sombras de lápis, mas aplicações
apenas no interior do Colégio Pedro II. ao cálculo diferencial, à geometria
analítica,à astronomia, à física, à
resistência dos materiais, à estereoto-
Entre nós, até 1929, o ensino de mia. Nos programas de matemática do
aritmética, de álgebra e de geome- Pedro II não há mais nada a suprimir.
tria eram feitos separadamente. O Qual seria o espanto de Klein vendo
estudante prestava, pelo regime de a que miséria se reduz o ensino
preparatório que vigorou até 1925, matemático no maior país da Amé-
em exame distinto para cada uma rica do Sul! Como pode o professor
daquelas disciplinas[...]. Em 1928, Roxo comparar os nossos mesquinhos
propusemos à congregação do Colégio programas com os que sempre exis-
Pedro II a modificação dos progra- tiram em todos os países de adiantada
mas de matemáticas, de acordo com cultura intelectual?
a orientação do moderno movimento Os livros em que o Sr. Roxo expõe o
de reforma e a conseqüente unificação seu programa são excessivamente
do curso[...] sob a denominação de infantis. Suas aplicações práticas são
matemática[...](ROXO, apud, CARVAL- ilusórias e de nenhum alcance. Ne-
HO, 2004, p. 93) les não há vestígio da mais simples
demonstração de qualquer teorema,
por mais elementar que seja; existem
apenas verificações materiais, e por-
Tais mudanças causaram um certo tanto imperfeitas e grosseiras. Desa-
incomodo entre os professores da época. pareceu o raciocínio modelar, carac-
Eles não acreditavam que tais mudanças terístico de uma demonstração e da
própria matemática. Há noções erradas
pudessem trazer benefícios ao ensino de ou imprecisas. Foi abolido tudo o que

19
História da Matemática

seria útil ao desenvolvimento intelec-


tual do aluno.[...] Na década de 1950, o Brasil se mantinha
em pleno crescimento econômico e o sistema
educacional vinha a serviço desse projeto,
favorecendo a disseminação do Movimento
Como podemos perceber embates chegam da Matemática Moderna que começa a ser
a ser fervorosos. Este é só um dos artigos difundido, na década de 1960, iniciando-se
publicados pelos matemáticos influentes pelas grandes capitais da região sudeste, sul
da época. Tal discussão transcorreu por e nordeste. A sua inserção nessas regiões
muito tempo, posso até dizer que existe até ocorreu pela contribuição de grupos, formado
hoje. Entretanto, percebemos que o placar por professores universitários, do ensino
está favorável a Euclides Roxo, pois de fato secundário e primário, dentre outros, o GEEM
não temos mais tantas demonstrações nos (Grupo de Estudo do Ensino da Matemática)
livros didáticos e resumimos as aplicações que se destacou em São Paulo, o NEDEM
de matemática aos cálculos de alturas de (Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino de
prédios, a larguras de rios, utilizando pedaços Matemática), no Paraná e o GEEMPA (Grupo
de madeiras fincados no solo. Até que ponto de Estudo e Ensino da Matemática de Porto
isso é útil, onde hoje nós temos trenas a Alegre).
Laser, que podem medir distâncias com ótima O GEEM foi o grupo mais atuante no MMM.
precisão. Será que precisamos repensar a Seu coordenador, Professor Osvaldo Sangiorgi
matemática que ensinamos? Minha resposta foi a maior liderança do MMM no Brasil e
é sim. Não porque acho que Euclides Roxo através das ações do grupo destacou-se na
estava errado, ou certo. Na verdade não implementação e divulgação das idéias deste
podemos afirmar isso baseados apenas no movimento no Brasil. O GEEM teve atuação
que lemos até agora. Quero lançar a idéia de tão forte em São Paulo que seus cursos se
que pensar no currículo para matemática não estenderam para outras cidades do estado
é algo simples, e talvez não exista um único de São Paulo. Podemos citar a cidade de
currículo capaz de atender a todo nosso país Santos como uma sucursal do GEEM da
de forma adequada. capital. Seus curso eram divulgados pelo
jornal de maori circulação da cidade, assim,
como acontecia na cidade de São Paulo,
3.4 O Movimento da com publicações no jornal Folha de São
Matemática Moderna Paulo. Inicialmente, o NEDEM se propunha a
difundir as idéias do Movimento aos alunos
do ginasial daquele colégio, com as classes
Em meados da década de 1950, o experimentais, posteriormente, a partir
impacto produzido pelo lançamento do das publicações didáticas voltadas ao curso
Sputnik intensa preocupação não só entre os ginasial e primário como também os cursos
educadores matemáticos, mas também entre ministrados aos professores do Estado, o
os governos, principalmente o americano, em trabalho do grupo paranaense expandiu-se
relação à formação científica da população. para todo o estado, principalmente, ao final
Por conta dessa preocupação, muitos da década de 1960 e início da década de
países europeus iniciaram um processo de 1970, período em que as escolas começaram
amadurecimento da reforma do ensino da a experimentar a proposta paranaense da
Matemática. O êxito científico e tecnológico Matemática Moderna. O apelo do discurso do
alcançado pelos russos, segundo ampliou a GEEM vinha, em parte, de sua condição de
preocupação de vários países com a educação grupo de professores, autônomo em relação
Matemática oferecida a população gerando: aos governos. Não se tratava de mais um
programa de ensino redigido em gabinete

20
História da Matemática

ou imposto por uma escola às demais. A


incorporação de elementos da Matemática
moderna pelas propostas curriculares oficiais
foi precedida de muitos encontros e cursos
de formação de professores, de participação
voluntária e até mesmo militante. 4. O uso da história da
Podemos definir a Matemática Moderna
como sendo o movimento responsável pela Matemática em sala de aula
modificação de alguns conceitos da educação
matemática, podemos destacar:
Após termos visto parte da história
da matemática, desde de sua origem,
●● Unificação dos três campos até chegarmos com a matemática no
fundamentais da Matemática, Brasil. Alguns de vocês podem estar se
através da introdução de el- perguntando: para que saber toda essa
ementos unificadores como a história? Particularmente, eu não faço esse
teoria dos conjuntos, as estru- tipo de indagação. Por um lado eu adoro
turas algébricas e as relações história, não só a história da matemática,
que, acreditava-se comporiam como a historia de modo geral. Adoro ver
o fundamento das novas vestes aqueles programas que contam algum tipo
Matemática. de história. Lembro-me que quando eu tinha
●● Ênfase na precisão Matemática uns sete ou oito anos de idade, ouvia me
do conceito e na linguagem ad- pai dizendo que aula que ele mais achava
equada para expressá-la, trocan- sem sentido era a aula de história, pois, para
do o pragmatismo presentes no que saber sobre algo que já aconteceu, ele
ensino antigo da Matemática. acreditava estar perdendo tempo assistindo
●● O ensino de 1º e 2º grau deveria a esse tipo de aula. Confesso que por algum
refletir o espírito da Matemáti- tempo também cheguei a concordar com
ca contemporânea, onde a meu pai. Porém, hoje, acho fundamental
Matemática se torna mais rig- conhecermos um pouco da história, não
orosa, precisa e abstrata, através só porque meu trabalho de mestrado foi
do processo de algebrização da sobre história da educação matemática,
Matemática clássica. mas também porque a história nos dá
oportunidade de adquirirmos um pouco de
cultura geral. É através dessa cultura que
Alguns acreditam que o MMM falhou em não vamos ficar rotulados a falar só de
sua proposta de trazer mais conhecimento matemática. Já percebi que muitas pessoas
científico aos alunos. Entretanto, ficam interessadas quando mostramos
simplesmente afirmar que matemática conhecimento sobre determinados assuntos.
moderna falhou é um erro. Embora, exista Acredito que a história da matemática
um livro denominado: O Fracasso da também tenha esse poder de despertar
Matemática Moderna, de Morris Kline. Talvez interesse nas pessoas, em particular, nossos
por conta deste livro é muitos acreditem na alunos. Através da história é possivle mostrar
falho do movimento da matemática moderna, que a matemática não teve uma criação
pois, ele, despertou a atenção para os fácil e rápida, com alguns alunos chegam
problemas que tais mudanças trouxeram a a pensar. É a história que tem o papel de
educação matemática. “humanizar” a matemática, pois muitos

21
História da Matemática

acreditam que o conhecimento matemático é Com relação a exemplos práticos em sala


coisa de outro mundo. Segundo os PCN’s de aula, sugiro que realizem experiências,
façam simulações históricas, mostrem com
alguns matemáticos pensavam até realizarem
suas descobertas. Por exemplo, em certa
aulas, quando fui explicar os números
complexos, mostrei a existência dos números
complexos, de forma semelhante aquela
Ao revelar a Matemática como uma
apresentada na época de Cardano e Tartaglia.
criação humana, ao mostrar necessi-
dades e preocupações de diferentes Contei sobre a disputa entre os dois e a
culturas, em diferentes momentos tremenda falta de sinceridade, por parte
históricos, ao estabelecer comparações de Cardano. Em compensação, destaquei
entre os conceitos e processos
a honestidade e humildade de Trataglia. A
matemáticos do passado e do pre-
sente, o professor tem a possibilidade partir desta introdução, contei sobre algumas
de desenvolver atitudes e valores mais aplicações de tais números, para então dar as
favoráveis do aluno diante do conheci- definições usuais de números complexos na
mento matemático.
forma a+bi. Posso está enganado, mas não
Além disso, conceitos abordados em me recordo de ninguém perguntar sobre para
conexão com sua história constitu- que servia tal conhecimento. O que consigo
em-se veículos de informação cul- me lembrar é de quase todos os alunos
tural, sociológica e antropológica de
interessados pela minha história, mesmo
grande valor formativo. A História
da Matemática é, nesse sentido, um aqueles com menor aptidão para matemática.
instrumento de resgate da própria Infelizmente, diferente da aula de
identidade cultural. tecnologias, meus exemplos são poucos,
pois, para mim é tão comum iniciar uma aula
Em muitas situações, o recurso à
História da Matemática pode esclarecer contando algo da história de determinado
idéias matemáticas que estão sendo assunto que não consigo lembrar de um
construídas pelo aluno, especialmente item especificamente. As vezes faços
para dar respostas a alguns “porquês”
pequenas citações, como por exemplo,
e, desse modo, contribuir para a con-
stituição de um olhar mais crítico sobre para que devemos aprender a racionalizar
os objetos de conhecimento.(BRASIL, denominadores. Conto a eles que é muito
1997, p.34). mais fácil efetuar uma divisão por números
racionais do que efetuar uma divisão por
Podemos, através da história da irracionais. Conto que quando não tínhamos
matemática, realizar pontes com outras calculadora, por exemplo na época de
disciplinas, por exemplo, com a disciplina Newton, ou outro personagem qualquer,
de história. Pois, podemos citá-la quando tínhamos que facilitar ao máximo os cálculos
fazemos um panorama do que acontecia realizados. Recordo-me, que na última
em determinada época, podemos utilizar aula que falei sobre tal assunto cheguei
a geografia para poder situar melhor a falar sobre Gauss, que não tem relação
determinados locais de algumas descobertas, direta com racionalização, mas, ele foi
podemos citar as ciências, pois a matemática capaz de encontrar um meio mais eficiente
e as ciências, física e química, sempre para determinar a soma de uma seqüência
andaram de mãos dadas com a matemática. aritmética. Quero mostrar a vocês que não
Historicamente, elas nunca deixaram de tenho muitas prontas que utilizam história,
conversar e nós, atualmente, queremos mas, o fato de ter um pouco de conhecimento
ensiná-las distintamente, como se fosse sobre o assunto me permite passear por
conhecimentos totalmente desconexos. determinadas épocas e períodos, tornando

22
História da Matemática

a aula de matemática rica em cultura geral. FARIA FILHO, Luciano Mendes de. O
Finalmente, quero deixar claro para vocês espaço escolar como objeto da história da
que ter conhecimento é primordial para uma educação: algumas reflexões. Revista da
boa aula. Quando falo de conhecimento, Faculdade de Educação, São Paulo, v. 24, n.
não me refiro apenas ao conhecimento 1, p. 141-159, jan.-jun. 1998. Disponível em:
matemático, mas sim ao conhecimento de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
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