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Aspectos históricos e

epistemológicos da
matemática
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os aspectos históricos do ensino da matemática.


 Identificar os aspectos epistemológicos do ensino da matemática.
 Analisar os aspectos epistemológicos e históricos na constituição
do ensino da matemática.

Introdução
Certamente, a maior parte dos professores de matemática,
principalmente do ensino fundamental, já ouviu a pergunta (ainda
que retórica): “quem inventou a matemática?”. Mesmo no meio
acadêmico matemático, muitos professores não têm resposta para
essa questão, e vários deles nunca refletiram sobre os fundamentos
da disciplina que lecionam.
Se cada professor pensar sobre a matemática desde os
primórdios, usando o pensamento filosófico, assim como aquele que
inspirou os gregos na era de ouro da matemática, então poderá
mostrar aos seus alunos que, apesar de não haver uma resposta
direta a essa pergunta, ela pode ser respondida no âmago de cada
um.
Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos históricos e
epistemológicos da matemática, e compreender quais influências
sociais e históricas nos fizeram chegar à forma de ensinar essa
disciplina que conhecemos e utilizamos hoje.
Aspectos históricos do ensino da matemática
Uma questão que sempre gera divergências entre os matemáticos é se a
matemática é uma ciência ou uma linguagem. Na verdade, para não se
2 Aspectos históricos e epistemológicos da matemática

perder em pensamentos fi losófi cos, muitos preferem deixar essa pergunta


vagando no espaço de suas mentes.
Se a matemática é uma ciência, ela deveria estudar e explicar fenômenos
por si mesma; porém, na maior parte da vezes, isso não ocorre. Por outro
lado, se considerarmos a matemática como mera linguagem, estaremos
desprezando todos os elementos matematicamente naturais, como os
prismas de cristais, os espirais de um girassol ou os processos periódicos
naturais. Ainda que todos eles necessitem de símbolos lógicos para a sua
representação, encerram em si informações de padrões matemáticos.
Diante de um assunto tão filosófico e debatido há tantos anos, seria
muita pretensão querer encontrar uma resposta aqui. O que importa é que o
uso da matemática é inerente ao ser racional: o ser humano. Sem o
pensamento matemático, o valor ordenado das letras nessa frase teria pouco
sentido, os fenômenos físicos e químicos ocorreriam sem que pudéssemos
compreendê-los, e o homem não seria mais que um mero espectador do
Universo. A Figura 1 ilustra com bom-humor a “invenção” da matemática.

Figura 1. A “invenção” da matemática.


Fonte: Andrini e Vasconcellos (2015, p. 20).

Para analisar os aspectos históricos do ensino da matemática e as suas


mudanças sociais ao longo da história, devemos nos desprender de tudo que
sabemos e voltar a pensar no homem da idade das cavernas. De acordo com
Eves (2004), as civilizações nômades iniciaram o desenvolvimento da
contagem por volta de 3.000 a.C. — ou seja, há aproximadamente cinco mil
anos. Porém, bem antes dessa fase, não havia linguagem escrita, e as
expressões verbais eram extremamente primitivas.
Aspectos históricos e epistemológicos da matemática 3

[...] a Idade da Pedra durou vários milhares de anos, começando talvez já em


5.000.000 a.C. e indo até por volta de 3.000 a.C. Num mundo de vastas
pastagens e savanas onde abundavam os animais selvagens e as pessoas
eram principalmente caçadores e colhedores. Suas vidas eram agrestes e
difíceis, de maneira que elas viviam demasiado ocupadas e em permanente
agitação para poderem desenvolver tradições científicas. Depois de 3.000
a.C. emergem comunidades agrícolas densamente povoadas ao longo do rio
Nilo na África, dos rios Tigre e Eufrates no Oriente Médio e ao longo do rio
Amarelo na China. Essas comunidades criaram culturas nas quais a ciência e
a matemática começam a se desenvolver (EVES, 2004, p. 24).

Esse período que antecede 3.000 a.C. (a chamada Idade da Pedra) foi
marcado por uma grande evolução cognitiva e, em conjunto com ela, vinha
a necessidade de contagem e enumeração de quantidades. Situações como
quantidade de crianças na tribo, contagem de gado ou de dias começavam a
ser um desafio ao homem naquela época. Segundo historiadores, diversas
técnicas que buscavam representar quantidade foram desenvolvidas, como:

 colocar em uma bolsa de couro uma pedra para cada objeto que se
queria quantificar;
 em uma corda, dar um nó para cada objeto que se queria quantificar;
 criar marcas lineares em ossos — a técnica mais conhecida e talvez a
mais comum.

O osso Ishango (Figura 2), por exemplo, data de aproximadamente


20.000 a.C. e traz marcações lineares para unidades. No entanto, segundo
historiadores, essas marcações estão agrupadas de forma que podem
representar bem mais que unidades simples, talvez um calendário lunar
primitivo.

Figura 2. Osso Ishango.


Fonte: Santos (2016, documento on-line).
4 Aspectos históricos e epistemológicos da matemática

Observe que os riscos primitivos que representam unidades simples são


bem próximos ao nosso usual algarismo 1. Então, será que o homem teria
criado a contagem de objetos, ou simplesmente formulado símbolos que a
representassem, atendendo a uma demanda de sua época?
Talvez a resposta importe pouco, se pensarmos na linha evolutiva do
homem, uma vez que essa contagem está tão próxima do seu início que
podemos dizer que o homem como ser pensante já surgiu contando.
Portanto, a matemática é basicamente inerente ao ser humano.
Com o advento da escrita, pouco depois de 5.000 a.C., a matemática
começou a se tornar mais socializável, já que o pensamento começou a
ganhar forma em tábuas de pedra. Dessa forma, não somente para a
matemática, mas de forma geral, um homem poderia começar a passar os
seus conhecimentos a outro de modo mais concreto do que simplesmente
pela linguagem verbalizada.
Mais especificamente dentro da matemática, os babilônios e os egípcios
foram precursores em escrever cálculos matemáticos na pedra e em
pergaminhos, com o objetivo de passar a mensagem a outros. Assim, eles
provavelmente deixaram os primeiros registros do ensino da matemática. A
Figura 3 traz o papiro Rhind, um dos mais antigos documentos matemáticos
egípcios, que traz soluções para diversos problemas matemáticos.
Justamente com o papiro Rhind, o papiro Moscou, encontrados no Egito,
são possivelmente os documentos matemáticos mais antigos já encontrados.
Na Figura 4, você pode ver a tábua Plimpton 322, de origem babilônica, que
também apresenta soluções matemáticas.

Figura 3. Papiro Rhind.


Fonte: Santos (2015, documento on-line).
Aspectos históricos e epistemológicos da matemática 5

Figura 4. Tábua Plimpton 322.


Fonte: Kelly (2017, documento on-line).

Quando avançamos para o período histórico que se inicia


aproximadamente no século VI a.C., encontramos na Grécia uma época
riquíssima para a matemática. Pelo mundo, a matemática como linguagem
foi sendo desenvolvida por diferentes civilizações de diversas formas.
Assim, encontramos diferentes símbolos em várias culturas para representar
uma unidade simples, por exemplo. Ainda, algumas culturas utilizavam base
decimal, enquanto outras, mais baseadas em astrologia, utilizavam outras
bases, como a sexagesimal (base 60). Entretanto, a grandeza dessa
disciplina está no fato de que o seu pensamento lógico a torna universal.
Uma unidade pode ter símbolos variados em culturas diferentes, mas
continua sendo uma unidade.
Nesse sentido, os gregos começaram a tratar a matemática não só como
ferramenta, como as demais civilizações, mas também como meio de
pensamento lógico, que poderia encerrar em si todas as explicações. Então,
os gregos tinham para com essa disciplina um olhar mais filosófico e
científico. Não é à toa que a palavra “matemática” vem do grego máthema,
que significa ciência, conhecimento ou aprendizagem, e deriva da palavra
mathematikós, que significa o prazer de aprender. Portanto, para esse
povo, a matemática era a ciência do conhecimento.
Na época, muitas culturas mantinham registros matemáticos de como
determinar ciclos lunares ou como medir áreas circulares, volumes, entre
outros. Porém, todas essas situações sempre estavam de acordo com as suas
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necessidades práticas. Já os gregos tiveram uma influência enorme nos


avanços matemáticos, uma vez que, ao se debruçarem sobre o assunto,
desenvolveram-no além dos limites que o homem da época utilizava.
Dessa forma, avanços em diferentes áreas da matemática foram obtidos,
mas o mais significativo para o nosso contexto é o surgimento de escolas de
matemática — ainda que não da forma como as conhecemos hoje, mas
como o seu esboço. Podemos citar Platão e os seus discípulos, ou Pitágoras
e a sua “sociedade secreta”: os pitagóricos.
Portanto, iniciou-se uma revolução na forma de tratar a matemática, que
passou de uma ferramenta simples a uma área de conhecimento, que é
reconhecidamente expansível e a qual o homem reconhece não ter
condições de finalizar com a sua vida efêmera. Seria necessário, dessa
forma, passar adiante todo o conhecimento acumulado, bem como registrar
os avanços para quem nos suceder.
Ainda na Antiguidade, por volta do século III a.C. foi fundada no norte
do Egito a maior biblioteca da época, e possivelmente a mais importante da
história, a Biblioteca de Alexandria. Ela tinha por finalidade reunir obras de
todos os continentes e todo o conhecimento da humanidade.
Muitos nomes de relevância para a matemática foram bibliotecários em Alexandria,
tais como Euclides e Eratóstenes.
Eratóstenes foi um matemático egípcio, estudou em Cirene, Atenas e em
Alexandria. Ficou conhecido, principalmente, por ter medido a circunferência da
Terra com uma pequena margem de erro, utilizando apenas trigonometria
simples, baseada na sombra de um pilar e na luz do sol no fundo de um poço.
Por volta de 1600 d.C, ou seja, aproximadamente 800 anos depois, Galileu Galilei
afirmou que a Terra era redonda.

Apesar da sua enorme importância, não vamos nos ater neste capítulo
aos avanços matemáticos da Idade Média, deixando a cargo do leitor os
aprofundamentos na história da matemática.

A História da Matemática é um campo que permite que o professor elabore


sua concepção referente à disciplina, assim como colabora para a
organização de abordagens pedagógicas que poderão contribuir no processo
de ensino aprendizagem. Com o estudo da História da Matemática se pode
analisar a construção das noções básicas dos conceitos matemáticos, com
isso o aluno revive suas descobertas e aumenta a sua compreensão do
conteúdo sem a necessidade de memorização de suas definições. O uso dos
fatos históricos na sala de aula proporciona um melhor entendimento dos
alunos no que diz respeito à dimensão histórica dos assuntos envolvidos,
despertando assim o interesse dos alunos, motivando-os ainda mais a buscar
Aspectos históricos e epistemológicos da matemática 7

o conhecimento. O professor precisa despertar nos alunos o aspecto


investigativo para que ele próprio busque alternativas para resolver
problemas, propiciando assim que os alunos desenvolvam o senso crítico,
colaborando para que, se forme cidadãos mais críticos e conscientes do seu
papel na sociedade contemporânea, o que faz com que se tenha uma
possibilidade mais evidente de êxito na construção do conhecimento
(OLIVEIRA, 2014, p. 2).

O trecho citado vem reforçar a sugestão dos PCNs para a educação


básica, no que tange ao auxílio na compreensão e memorização dos
conteúdos. Dessa forma, a construção do conhecimento por parte do aluno
passa a ter mais significado quando acontece por meio de um processo
investigativo e crítico.
Alguns dos grandes matemáticos gregos são Tales de Mileto, Sócrates, Platão,
Aristóteles, Pitágoras, Euclides, Apolônio e Eratóstenes. Na Idade Média,
exemplos de grandes matemáticos são Kepler, Galileu Galilei, Newton, Fermat,
Euler, Gauss e Fibonacci.

Aspectos epistemológicos do ensino da


matemática
O ramo da fi losofi a que estuda a natureza do conhecimento é chamado de
epistemologia. Esse termo foi utilizado pela primeira vez pelo fi lósofo
escocês James F. Ferrier, e é composto pelos conceitos de episteme e logos.
O primeiro signifi ca conhecimento, enquanto o segundo corresponde a
palavra (ainda que os sentidos mais utilizados sejam o de estudo ou
ciência).
Dentro do ensino da matemática, há diversas correntes metodológicas,
que podem ser vistas como tendências em educação matemática. Os
aspectos epistemológicos do ensino da matemática formam um conjunto
dessas tendências, englobando aquelas que tratam as teorias da educação
matemática e o uso da própria educação matemática como campo científico.
O construtivismo radical, as teorias da psicologia e a filosofia da educação
também fazem parte desse grupo.

A epistemologia e a história esclarecem aspectos relacionados à


complexidade dos conceitos e suas relações entre si. Essas considerações
devem iluminar discussões curriculares e constituem uma fonte de hipóteses
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para as investigações psicológicas e pedagógicas (CAMPOS; NUNES,


1994, p. 6).

Os aspectos epistemológicos e históricos para a educação matemática


buscam teorizar os conhecimentos matemáticos. Dessa forma, essa corrente
busca fazer com que o professor tenha os conhecimentos históricos como
alicerce para uma teorização e aplicação baseada no amplo conhecimento
do conteúdo a ser abordado.
Logo, o professor teria uma base concreta para ter a segurança necessária
à produção de novos conhecimentos e de investigações temáticas, e ao
desenvolvimento de aplicações pedagógicas do tema.
Campos e Nunes (1994) acreditam que essa perspectiva epistemológica
coloca como questão essencial o papel assumido pelo professor.
Salientamos que o professor deve assumir um papel de grande significado
nessa prática, em que a sua experiência e a forma como ele a transmite serão
o principal norteador de como se dará a sua prática pedagógica em sala de
aula.
Quando um professor decide seguir determinada prática pedagógica com
o objetivo de facilitar a absorção do conhecimento por parte dos seus
discentes, ele está se apoiando — ainda que de forma subconsciente — na
sua bagagem epistemológica, que seria o conjunto de suas convicções, seus
saberes e suas experiências enquanto aluno.
É justamente no reforço e na ampliação dessa bagagem que se
estruturam os aspectos epistemológicos da educação matemática. Para a
plena aplicação das práticas epistemológicas, o professor precisará dominar
o conhecimento pedagógico do assunto, bem como o conhecimento
matemático relacionado.
Dentro do conhecimento pedagógico, o professor precisará conhecer os
métodos de ensino e aprendizagem relacionados ao tema, ter empatia para
com os alunos, assim como carisma, que não pode ser desconsiderado como
característica importante ao bom locutor.
Já o conhecimento matemático servirá de base para o professor construir
estratégias para a aplicação e o desenvolvimento do conteúdo. Dessa forma,
dominar cada conteúdo é fundamental para conhecer os caminhos e as
possibilidades a serem tomadas dentro da realidade de cada aluno ou turma.
Aspectos históricos e epistemológicos da matemática 9

A construção do processo de ensino da


matemática ao longo da história
Tomando como base a interação entre conhecimento e domínio do
conteúdo, para consequente refl exão e aplicação, usaremos como base a
história da matemática e o desenvolvimento de cada processo de
ensino/aprendizagem para a construção do pensamento fi losófi co e
matemático.
Vimos que o processo de ensino da matemática passou por diferentes
fases e formas ao longo da história de diferentes civilizações. Gomes (2005)
escreve que, além dos grandes nomes para essa disciplina, a cultura grega,
no período chamado cosmopolita, trouxe a separação entre os estudos das
áreas do conhecimento. Os que podiam pagar estudos já o faziam com
mestres ou tutores. Havia também grupos que se reuniam para promover
estudos de determinadas áreas, como os pitagóricos. Além disso, os
primeiros registros históricos deram início à propagação do conhecimento, e
a datação e referência a feitos e descobertas passou a ser mais precisa.
Outro fator importante para todo esse registro foram os Elementos de
Euclides, uma coletânea de livros nos quais Euclides de Alexandria juntava
todo o conhecimento matemático da humanidade até aquele momento.
De acordo com Gomes (2005), todo esse avanço grego se viu
interrompido por volta do século V d.C., quando os bárbaros tomaram
Roma. Na verdade, bem mais que interrompido, o conhecimento histórico
acumulado até ali quase foi totalmente destruído. Nesse período, os
mosteiros católicos eram praticamente a única forma de propagação e
ensino de matemática. Porém, a forma de educação cristã da época não
estimulava a filosofia e o pensamento criativo, sendo um grande inibidor da
ciência e da sua evolução. Essa forma de conceber o ensino é uma antítese
ao pensamento grego, e isso também foi fundamental para a “estagnação”
do desenvolvimento matemático por séculos.
Nos séculos seguintes, a educação voltou a se expandir, e a ciência se
tornou popular, principalmente entre os nobres. Dessa forma, surgiram os
grandes nomes da matemática da Idade Média. Com a Idade Moderna,
vieram algumas constatações reflexivas sobre a educação, entre elas o fato
de que a educação secundária estava divergente na sociedade industrial que
despertava mundo afora. Houve então uma necessidade de aprimoramento
dos professores, bem como de ampliação do quadro para a educação
pública.
1 Aspectos históricos e epistemológicos da matemática
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Dessa forma, iniciou-se o pensamento e o aprimoramento da educação


matemática, um movimento internacional de renovação e modernização. No
início do século XX, esse processo ganhou espaço no Brasil com o
movimento da Escola Nova.
No nosso país, um marco importante da modernização da educação foi a
unificação das matemáticas. Até então, tínhamos as três principais áreas da
matemática divididas como diferentes disciplinas: álgebra, aritmética e
geometria. Assim, para ser aprovado em matemática, um aluno precisaria
ser aprovado em três disciplinas, com exames e notas diferentes.
Os reflexos dessa mudança podem ser notados na cultura escolar e em
muitos livros até os dias atuais, uma vez que cada professor tinha uma área
de preferência. Dessa forma, professores de álgebra e aritmética tinham uma
maior dificuldade nos temas geométricos. Então, muitos livros lançados nas
décadas seguintes deixavam de abordar conteúdos de geometria, ou os
traziam nos últimos capítulos, nos quais os professores quase nunca
conseguiam chegar ao longo do ano letivo.
Na década de 1950, com os avanços da corrida espacial, muitos países da
Europa viram a necessidade de investir no ensino de matemática, a fim de
não ficarem para trás em termos de avanços científicos. Seguindo esse
mesmo impulso, o Brasil precisou aproveitar o crescimento econômico para
entrar nessa corrida. Por volta da década de 1960, teve início no país o
Movimento da Matemática Moderna.

Esse movimento tinha como principais objetivos a consolidação da


unificação das três matemáticas, a ênfase na precisão, formalização da
Matemática e no método de expressar a linguagem matemática, e a
modernização do ensino de 1º e 2º grau (Ensino Fundamental e Ensino
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Médio), por meio de um processo algébrico rigoroso e abstrato. Além disso,


introduziu elementos de teoria dos conjuntos no currículo básico.
O uso da história da matemática para o ensino dessa disciplina é uma
tendência moderna — mais especificamente dos dias atuais, com o uso da
tendência epistemológica, que visa à associação direta do uso da história.
Segundo os PCNs:

Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar


necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos
históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos
matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de
desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do
conhecimento matemático. Além disso, conceitos abordados em conexão
com sua história constituem-se veículos de informação cultural, sociológica
e antropológica de grande valor formativo. A História da Matemática é,
nesse sentido, um instrumento de resgate da própria identidade cultural. Em
muitas situações, o recurso à História da Matemática pode esclarecer ideias
matemáticas que estão sendo construídas pelo aluno, especialmente para dar
respostas a alguns “porquês” e, desse modo, contribuir para a constituição de
um olhar mais crítico sobre
os objetos de conhecimento (BRASIL, 1997, p. 34)
Como já foi citado, a associação dos conteúdos com a história da
matemática traz consigo a reflexão sobre as necessidades humanas que
fizeram despertar aquele conhecimento. Além disso, permite reflexões
filosóficas com base naquele contexto histórico-social, associado ao
conteúdo e às suas aplicações nos dias atuais.
Dessa forma, podemos concluir como sendo de grande importância
reflexiva o uso das tendências histórico-epistemológicas na educação
matemática, que se apropria da experiência e do conhecimento do professor
para fazer com que o aluno reflita e possa criticar todo o processo de
construção do conhecimento matemático. Essa tendência gera ainda uma
experiência bem mais significativa ao aluno, que passará a ter também uma
bagagem e um repertório mais amplos
sobre cada conteúdo estudado. podemos destacar: a) conceitos
abordados em conexão com a sua
história, que se constituem como
veículos de informação cultural,
sociológica e antropológica de
grande valor formativo.
b) conceitos de álgebra linear, já
1. De acordo com os PCNs, a história da que todo conhecimento
matemática é capaz de estimular algébrico é calçado na história
alguns conceitos nos alunos (BRASIL, da matemática.
1997). Entre esses conceitos,
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c) conceitos relacionados única e começaram a surgir logo após a II


exclusivamente às competências Guerra Mundial.
que devemos desenvolver com c) o conteúdo matemático baseado
os alunos em sala de aula. apenas em movimentos políticos,
d) conceitos complexos voltados à democracia, pois não
relacionados à construção e se suportava mais tanta repressão
demonstração dos teoremas por parte dos militares.
e postulados elaborados por d) a formalização da matemática
antigos matemáticos. e a introdução de elementos
e) conceitos simples do conteúdo baseados na teoria dos conjuntos,
matemático, tendo em vista que dando ênfase à precisão e ao
os assuntos mostrados a partir rigor matemático.
da história são os mais e) a substituição gradual dos
elementares, não permitindo, professores presenciais por
com isso, abordar a matemática módulos de aula EaD.
mais profunda. 4. Temos hoje a matemática como uma
2. Eratóstenes, um dos bibliotecários da disciplina única, composta por suas
Biblioteca de Alexandria, por volta de subáreas de forma unificada para
200 a.C., utilizando uma matemática a Educação Básica. Essa unificação
simples, fez uma grande contribuição ocorreu no Brasil como parte de um
à ciência. O que ele determinou de processo de modernização do
forma aproximada? a) A currículo. Quais eram as disciplinas
circunferência da Terra. que foram unificadas para compor
b) O volume de água presente no rio nossa atual matemática? a) Álgebra e
Nilo. aritmética.
c) O volume da Pirâmide de Quéops. b) Álgebra, aritmética e geometria.
d) A massa da Terra. c) Aritmética e geometria.
e) A distância da Terra à Lua. d) Álgebra e geometria.
3. Podemos resumir o Movimento da e) Álgebra e trigonometria.
Matemática Moderna no Brasil como: a) 5. Quais são os nomes dos primeiros
um movimento preocupado com o documentos egípcios que relatam a
excesso de informação que nossos existência da matemática nessa
alunos vinham região do mundo? a) Pergaminho
tendo, propondo desta forma luso e papiro de Moscou.
um conteúdo mais simplificado, b) Papiro de Moscou e tábua
para que todos pudessem algébrica.
acompanhar. c) Pergaminho luso e tábua
b) um ensino baseado nas algébrica.
aplicações da matemática na área d) Papiro de Rhind e
computacional, tendo em vista que papiro de Moscou.
os primeiros computadores pessoais e) Tábua Plimpton e tábua de
logaritmos.
ANDRINI, Á.; VASCONCELLOS, M. J. Praticando matemática. São Paulo: Editora do Brasil,
2015. (6º ano).
Aspectos históricos e epistemológicos da matemática 1
3

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros


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CAMPOS, T. M.M.; NUNES, T. Tendências atuais do ensino e aprendizagem da
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EVES, H. Introdução à história da matemática. São Paulo: Unicamp, 2004.
GOMES, E. B. A história da matemática como metodologia de ensino da matemática:
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(Mestrado em Educação em Ciências e Matemática) – Programa de Pós-Graduação em
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KELLY, A. Trigonometria em tablete de 3.700 anos da Babilônia. Pesquisa FAPESP, São
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Leituras recomendadas
BOYER, C. B. História da matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1996.
BÚRIGO, E. Z. O movimento da matemática moderna no brasil: encontro de certezas e
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MACIEL, W. Epistemologia. [2018?]. Disponível em:
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Disponível em: <http://www.dartmouth.edu/~matc/MathDrama/reading/Wigner. html>.
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