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Professor Esp. Arq.

André Barbosa
Acadêmicos, empresários e marqueteiros têm a mania de
fazer uso de anglicismos para aparentar conhecimento ou
mostrar que estão antenados com o linguajar da moda.
No campo da arquitetura e do urbanismo é comum o uso
corriqueiro e equivocado de certas expressões – green
buildings, bussiness district, smart cities, urban clusters,
generic city – para qualificar aspectos inerentes às
cidades.
FIGURA DO CURSO DE CIDADES
INTELIGENTES PROMOVIDO PELA
UNICAMP:
http://lcv.fee.unicamp.br/index.php/
courses/smart-cities-course.
ACESSADO EM MARÇO DE 2020.
Em meio a essa exaltação pseudointelectual, resgatou-se
a expressão gentrification para designar qualquer
espécie de renovação de áreas urbanas. Chegou-se,
inclusive, a associá-la ao processo de urbanização das
favelas.

COMPLEXO DO ALEMÃO - RJ:


https://fotospublicas.com/wp-
content/uploads/2013/11/MG_3
580.jpg . ACESSADO EM
MARÇO DE 2020.
Derivada de gentry – que
significa de origem gentil, de
boa linhagem ou nobre – essa
expressão tem sido traduzida
literalmente por “gentrificação”,
ou seja, “enobrecimento” de
áreas degradadas. Tal conceito
foi empregado de forma
SOHO – NOVA IORQUE:
pioneira na requalificação
https://roteiroamerica.com/soho-o- urbana do Soho, em Nova York,
descolado-bairro-de-new-york.
ACESSADO EM MARÇO DE 2020. e em algumas cidades
europeias, durante as décadas
de 1980 e 1990.
Na verdade, tratava-se de uma
estratégia do poder público para
revitalizar áreas urbanas em parceria
com a iniciativa privada. O processo
consistia na recuperação e
requalificação dos imóveis existentes
e na construção de novos edifícios
com a intenção de atrair para essas
localidades segmentos sociais com
poder aquisitivo mais elevado.

PELOURINHO -SALVADOR:
https://br.pinterest.com/pin/132645151510
083096/. ACESSADO EM MARÇO DE
2020.
RECIFE ANTIGO – MARCO ZERO:
https://nortravel.pt/optitravel/www/media
/custom/cli_93/media/PKT_1101_14774745
64.jpg.ACESSADO EM MARÇO DE 2020.

O sucesso alcançado por tais iniciativas pioneiras repercutiu


favoravelmente em outros países, inclusive no Brasil onde
ocorreram intervenções semelhantes nos bairros do Pelourinho,
em Salvador, e no Recife Antigo, ambas no início da década de
1990.
CENTRO ANTIGO DE SÃO
PAULO:
https://medium.com/funda%C3%
A7%C3%A3o-
fhc/revitaliza%C3%A7%C3%A3o-
de-centros-hist%C3%B3ricos-
metropolitanos-
5f4a0f980560.ACESSADO EM
MARÇO DE 2020.

De lá para cá muita coisa mudou. Recentemente, o Estado


passou a delegar às grandes empreiteiras, através de
parcerias público-privadas, a gestão dos negócios imobiliários
envolvendo a recuperação e a transformação de áreas
abandonadas.
Essa tendência se
consolidou a partir das
exigências mercadológicas
relacionadas com a
organização da Copa do
Mundo e das Olimpíadas. E,
nesse contexto, a
gentrificação se tornou um
dos principais protagonistas
desse processo.
CHARGE SEGREGAÇÃO:
http://www.arionaurocartuns.com
.br/2016/08/.ACESSADO EM
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Para melhorar a aparência
dos espaços urbanos
privilegiaram a construção
de edificações suntuosas
sem dotar o seu entorno
com a infraestrutura
necessária. Relegou-se a um
segundo plano o verdadeiro
sentido social dessas
realizações. A tão sonhada
proposta de integrar todas
PROJETO DE INTEGRAÇÃO –
FAVELA/CIDADE – INFELIZMENTE NÃO as favelas do Rio à cidade
FOI IMPLEMENTADO:
https://www.select.art.br/wp-
formal deixou de ser
content/uploads/sites/12/2015/11/favela1 prioridade.
.jpgACESSADO EM MARÇO DE 2020.
Os projetos de urbanização para
essas áreas permanecem em COMPLEXO DO ALEMÃO - RJ:
http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/20
compasso de espera enquanto as 13/04/morro-do-alemao-vai-ganhar-
empreiteiras continuam realizando 1900-novas-casas.ACESSADO EM
MARÇO DE 2020.
intervenções localizadas.
A abertura aleatória de ruas para
atender exclusivamente às questões
de operacionalidade das Unidades
de Polícia Pacificadora é um
equívoco conceitual. Em urbanismo
não existem soluções
generalizantes. As estratégias de
segurança pública devem caminhar
solidariamente com os demais
determinantes dos projetos de
urbanização. Não se pode ignorar as COMPLEXO DO ALEMÃO - RJ:
https://oglobo.globo.com/rio/veja-as-
características morfológicas dessas imagens-do-bope-no-complexo-do-
alemao-4742188.ACESSADO EM
localidades. MARÇO DE 2020.
Portanto, a eventual remoção de habitações para este ou para
outros fins deverá ser precedida de estudos e projetos atentos
às peculiaridades de cada coletividade. Sempre que possível, os
moradores devem ser realocados em novas construções no
interior da própria comunidade ou no seu entorno imediato.

JARDIM SILVINA AUDI - SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP:


https://arcowebarquivos-us.s3.amazonaws.com/imagens/35/64/pdt_mos_13564.jpg.
ACESSADO EM MARÇO DE 2020.
O processo de remoção deve se
restringir às construções que se
encontram em margens de rios, em
encostas sujeitas à instabilidade
geológica, em talvegues por onde
escoam as águas pluviais, em espaços
sem condições de salubridade, em
percursos destinados às redes de
infraestrutura e à abertura de vias que
facilitem a acessibilidade dos
FAVELA À BEIRA DE CÓRREGO EM SP:
moradores e dos agentes públicos e https://www.vitruvius.com.br/revistas/re
ad/entrevista/06.024/3309.
privados que atuam no cotidiano ACESSADO EM MARÇO DE 2020.
dessas comunidades.
Não será através do processo de gentrificação que se alcançará a
melhoria das condições de vida em nossas favelas, muito menos
a sua integração com a cidade formal. Esse modelo só servirá
para agravar, ainda mais, a atual tendência de exclusão social.
O resto é conversa fiada. CIDADE PEDRA BRANCA – PALHOÇA/SC:
https://www.cidadepedrabranca.com.br/um-
pouco-de-historia.ACESSADO EM MARÇO
DE 2020.
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.076/
5005 . ACESSADO EM MARÇO DE 2020

TEXTO ORIGINAL:
JANOT, Luiz Fernando. Um problema em qualquer
língua. O Globo, Rio de Janeiro, 21 dez. 2013.

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