Você está na página 1de 10

517

TEMAS LIVRES FREE THEMES


Aliados do A. Aegypti: fatores contribuintes
para a ocorrência do dengue segundo as representações sociais
dos profissionais das equipes de saúde da família

Allies of A. Aegypti: factors contributing to the occurrence


of dengue according to social representations
of professionals of family health teams

Cássia Barbosa Reis 1


Sonia Maria Oliveira de Andrade 2
Rivaldo Venâncio da Cunha 3

Abstract Historically, health policies and actions Resumo Historicamente as políticas de saúde e
to combat dengue have been based on vector con- as ações de combate ao dengue são pautadas no
trol and field activities, while neglecting health controle vetorial, com atividades de campo, dei-
education activities. Establishing the social repre- xando em segundo plano as atividades de educa-
sentations of family health unit professionals about ção em saúde. Conhecer as representações sociais
the factors that contribute to the sustained level of de profissionais de unidades de saúde da família,
the occurrence rates of dengue is the scope of this sobre os fatores que contribuem para a manuten-
research, in order to contribute to improved com- ção dos índices de ocorrência do dengue é o objeti-
munication between health professionals and cit- vo desta pesquisa de forma a contribuir para a
izens, seeking to control the disease. A qualitative melhoria da comunicação entre profissionais de
study was conducted with family health strategy saúde e população, visando o controle da doença.
professionals in six selected cities, with data tabu- Foi realizado estudo qualitativo com profissio-
lated by the Collective Subject Discourse technique. nais da estratégia de saúde da família de seis mu-
The results showed four discourses about the is- nicípios selecionados, sendo os dados tabulados
sues that were raised by the question of what caused pela técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Os
the incidence of dengue. The conclusion drawn is resultados mostraram quatro discursos referentes
that the professionals attribute the major share of a aspectos que foram levantados através da per-
1
Curso de Enfemagem, responsibility for the incidence of dengue to the gunta sobre qual a causa da ocorrência de dengue.
Universidade Estadual de population, but also note the lack of structure and Conclui-se que os profissionais atribuem à popu-
Mato Grosso do Sul. Cidade
organization of services as well as perceiving diffi- lação parte importante da responsabilidade pela
Universitária Rod.
Dourados/Itaum, Rural. culties for changes in observed behavior to occur ocorrência do dengue, mas também observam a
79804-970 Dourados MS. with the resources available. falta de estrutura e organização dos serviços, bem
cassia@uems.br
2
Key words Dengue, Health personnel, Family como percebem dificuldades para que ocorra a
Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde, health, Prevention, Behavior mudança dos comportamentos observados com os
Câmara de Pesquisa e recursos disponíveis.
Pós-Graduação,
Universidade Federal de
Palavras-chave Dengue, Profissional de saúde,
Mato Grosso do Sul. Saúde da Família, Prevenção, Comportamento
3
Departamento de Clínica
Médica, Faculdade de
Medicina, Universidade
Federal de Mato Grosso do
Sul.
518
Reis CB et al.

Introdução Metodologia

Historicamente as políticas de saúde e as ações Este estudo tem desenho qualitativo descrito por
de combate ao dengue são pautadas no controle Driessnack et al.8 como forma de explorar te-
vetorial, com atividades de campo1-5. Entretan- mas pouco pesquisados na área de saúde ou
to, o controle do dengue deve ser multidirecio- onde a pesquisa quantitativa não parece ter pro-
nado, com ações voltadas também para o diag- duzido conhecimento adequado para respon-
nóstico precoce, o tratamento adequado e a pre- der a questões que envolvem aspectos subjeti-
venção da disseminação do vírus. vos da realidade.
No Brasil, o combate ao vetor, por ser causa- O marco teórico metodológico da presente
dor de febre amarela, teve início entre 1902 e 1907, pesquisa é a Teoria das Representações Sociais
seguidos de programas de combate ao vetor, (TRS), proposta por Moscovici em 1961. Como
implantados nas décadas de 40 e 50, sendo con- parte da psicologia social, a TRS é um sistema de
siderado erradicado em 1955. Houve a reintro- interpretação da realidade9, que se dá quando
dução do mosquito em 1967, nova erradicação ocorre a interação e a comunicação desta reali-
em 1973 e retorno em 1976 em função de falhas dade, onde estão implicados interesses humanos
nas ações de controle e mudanças ambientais e diversos10. Portanto, a forma de captar a repre-
sociais ocorridas neste período6. sentação social é a palavra, por excelência, uma
Os autores supracitados fazem um resgate vez que ela torna compreensível identificar as
histórico dos programas de controle do dengue crenças, as imagens, as metáforas e os símbolos
no Brasil, citando a elaboração, em 1996, do Pla- compartilhados coletivamente. Esses itens a se-
no de Erradicação do Aedes aegypti (PEAa), que, rem identificados são pontos comuns na defini-
entretanto não conseguiu implementar todas as ção de vários autores, sendo que o próprio Mos-
ações programadas, principalmente nas áreas de covici9 afirma que toda representação é compos-
informação, educação e comunicação social. ta por linguagem e imagem, organizadas, socia-
Com a certeza de que a erradicação não era lizadas e entendidas no contexto onde estão inse-
uma meta viável, a Fundação Nacional de Saúde ridos os indivíduos.
(Funasa), responsável pela coordenação das Para que haja atribuição de sentido para um
ações de controle do dengue, elaborou o Plano determinado objeto e se forme uma representa-
de intensificação das Ações de Controle do den- ção social, duas figuras são descritas por Mos-
gue (PIACD/ 2001), seguido pelo Programa Na- covici9, a objetivação e a ancoragem. Assim, a
cional de Controle do dengue (PNCD/2002). representação de um objeto ocorre em contato
Paralelo aos programas de controle citados, com a realidade já vivida que transforma o con-
o Ministério da Saúde implantou, em 1994, o teúdo e as percepções desse objeto. Nota-se que
programa de saúde da família (PSF). É uma es- a relação é dialética, uma vez que a percepção do
tratégia que está em processo de constante mu- objeto também pode transformar a realidade do
dança, atualmente implantado em 5.290 municí- indivíduo e do seu meio.
pios, atingindo, no Estado de Mato Grosso do Na emergência das RS existem fatores que
Sul, 100% dos 78 municípios, com cobertura favorecem seu surgimento como a presença de
populacional estimada de 61,3%7. objetos que aparecem de diversas formas na so-
A ESF tem atividades voltadas para o controle ciedade e de grupos que mantém determinada
do dengue nas ações de educação em saúde e mo- relação com o objeto da representação. Associa-
bilização social que estão inclusas nas atividades de do a isso existem os valores que os grupos se
trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS) apoiam para garantir sua identidade e coesão
como parte da estratégia adotada pelo PNCD1. (“enjeu social”), a interação com outros grupos
Entretanto, ações desenvolvidas por esses que determina estes valores e a ausência de um
programas não foram capazes de controlar a sistema ortodoxo11.
ocorrência do dengue e assim sendo, conhecer as Dessa maneira, sinteticamente pode-se afir-
representações sociais de profissionais de unida- mar que as representações sociais são substratos
des de saúde da família, sobre os fatores que con- verbais ou verbo-narrativos que são explicita-
tribuem para a manutenção dos índices de ocor- dos nos discursos e mostram o posicionamento
rência do dengue é o objetivo desta pesquisa de individual sobre o tema pesquisado12.
forma a contribuir para a melhoria da comuni- Para apreensão da complexidade das RS, foi
cação entre profissionais de saúde e população, utilizada na coleta de dados a entrevista que pri-
visando o controle da doença. vilegia a fala por meio dos discursos produzidos
519

Ciência & Saúde Coletiva, 18(2):517-526, 2013


pelos entrevistados, favorecendo o diálogo e o Definiram-se como sujeitos da pesquisa os
acesso às opiniões13. profissionais de saúde inseridos na ESF, das ca-
Os dados resultantes foram analisados con- tegorias médicos, enfermeiros e auxiliares de en-
siderando-se o Discurso do Sujeito Coletivo fermagem. A escolha dos sujeitos foi pautada na
(DSC)14, técnica que processa os discursos cole- premissa de que esses profissionais são a refe-
tados, que em sua forma bruta são expressões rência em saúde para a população da sua área de
individuais de uma concepção de mundo, para atuação e no entendimento de que as representa-
dar forma a uma RS, coletivamente construída. ções desses profissionais influenciam a sua for-
O processamento dos discursos leva à cons- ma de trabalhar e de se comunicar com os usuá-
trução do DSC que se dá de forma discursiva e rios dos serviços.
não por categorização, utilizando-se, comumente A seleção da amostra foi feita pela saturação
de três figuras metodológicas: as expressões-cha- das respostas definida como “o estado onde ne-
ve, as ideias centrais e o DSC propriamente dito. nhum outro dado novo e relevante para o estu-
A identificação das expressões-chave seme- do emerge e os elementos de todos os temas, con-
lhantes nos depoimentos é realizada através de ceitos e teoria já foram considerados”8. Assim,
sucessivas leituras do discurso de cada sujeito as entrevistas foram feitas com todos os profis-
pesquisado. A expressão-chave é a figura meto- sionais, sendo que, conforme cada categoria atin-
dológica que revela a essência do depoimento, é giu a saturação, ela foi eliminada da entrevista na
exatamente o que o sujeito falou sobre o tema14. próxima ESF.
Apesar de os pesquisadores seguirem uma O estudo foi realizado na microrregião de
lógica bem definida na confecção da(s) Dourados (MS). O Estado de Mato Grosso do
questão(ões) norteadora (s) da sua pesquisa, a Sul tem 78 municípios, sendo que, no processo
resposta do entrevistado, geralmente, segue lógi- de regionalização da saúde, foi dividido em três
ca própria, o que faz com que encontremos ex- macrorregiões. A macrorregião de Dourados, si-
pressões-chave sobre o tema diluídas em todo o tuada na região sul, engloba 35 municípios, onde
discurso construído. Por isso a importância da reside a quarta parte da população. Com exce-
leitura sucessiva e atenciosa dos dados para iden- ção de Dourados, sede da macrorregião, todos
tificação de todas as expressões-chave que apre- os municípios são de pequeno porte. A macror-
sentem sentido e que melhor descrevem a men- região é dividida em quatro microrregiões, de-
sagem emitida pelo entrevistado. nominadas pelas suas sedes: Dourados, Naviraí,
No momento da elaboração do seu discurso, Nova Andradina e Ponta Porã.
o indivíduo está explicitando a sua representa- A microrregião de Dourados é composta por
ção social sobre o tema proposto, sendo que, na 11 municípios com extensão territorial de 21.396
escala de complexidade da técnica, esta etapa está km2 que representa 5,99% da área total do Estado.
no primeiro nível e produz matéria prima riquís- Dourados é o segundo maior município do
sima para a confecção do DSC. Estado de Mato Grosso do Sul, com 189.762 ha-
De posse desses discursos individuais refle- bitantes7. É um município que tem a agropecuá-
tindo as representações sociais de um determi- ria e o comercio como base econômica, com bai-
nado grupo, devem ser identificadas as ideias cen- xa taxa de desemprego e está em franco processo
trais ali presentes, que constituem a segunda fi- de desenvolvimento do seu parque industrial. É
gura metodológica. É a forma mais sintética pos- referência regional na área de saúde e a atenção
sível de descrever o sentido atribuído pelo entre- básica está organizada em uma rede composta
vistado, ao assunto discutido. As ideias centrais por unidades básicas (UB), unidades de saúde
semelhantes são selecionadas e a identificação da da família (USF), unidades de atendimento se-
similaridade já pressupõe o agrupamento dessas cundário e terciário. Existem 42 equipes de saúde
ideias centrais de forma a construirmos o DSC12. da família (ESF), dessas cinco na área rural e
O DSC é a síntese, com sequência lógica, de duas na área indígena.
todas as expressões-chave separadas em cada gru- Os outros cinco municípios da microrregião
po de ideias centrais. Uma vez construído o DSC, de Dourados, selecionados para pesquisa são de
tem-se uma série de dados processados que dará pequeno porte (menos de 50.000 habitantes),
subsídios para uma análise fundamentada do com as mesmas características populacionais e
tema. Neste sentido, o uso do DSC mostra-se bas- econômicas de Dourados. Todos apresentam
tante eficaz, já que a técnica sintetiza a opinião do cobertura populacional de agentes comunitários
grupo pesquisado e explicita tanto as fragilidades de saúde acima de 70%, com quatro ou mais
quanto as fortalezas do contexto avaliado. unidades de saúde da família implantadas.
520
Reis CB et al.

A coleta de dados foi realizada em todas as DSC 1 - Falta de cuidado da população


Unidades de Saúde da Família (USF) desses seis com o ambiente em que vive
municípios durante o segundo semestre de 2010. Eu acho que a população não se conscientizou
O presente estudo seguiu as Diretrizes e Nor- ainda com as questões que os ovos permanecem lá.
mas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos15, Elas não acreditam e quando acreditam são deslei-
aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa em xadas. Mas porque, sendo que tem coleta? Então o
Seres Humanos da Universidade Federal de Mato que falta é uma conscientização da população e po-
Grosso do Sul. der público. Parece uma negação, né? Porque quan-
do a gente ta na campanha de coletar, de distribuir
saco de lixo, ta todo mundo empenhado em estar
Resultados e discussão coletando e tudo. Então quando acontece uma di-
minuição a população acaba se esquecendo, acaba
Foram entrevistados 12 médicos (26,6%), 16 en- deixando de lado um pouco. Com certeza o muni-
fermeiros (35,6%) e 17 auxiliares de enfermagem cípio também tem parte porque tentando diminuir
(37,8%), com média de idade de 39,95 anos, sen- os casos lançou mão de algumas estratégias, e ai a
do a maioria na faixa etária de 31 a 50 anos estratégia levou o povo ao comodismo... agora pra
(57,8%). Mais de um terço são do sexo feminino tirar tá difícil. Isso é do ser humano, se acomodar:
(75,5%). deixa as vasilhas de boca pra cima e fica. Mesmo ele
esclarecido ele é incapaz de virar uma lata com água.
Fatores relacionados É um fator cultural. Eu acho que é um pouco da
aos macrodeterminantes em saúde cultura mesmo do brasileiro de deixar se prejudicar
né? Só se preocupa na hora que está em cima de
Os DSC confeccionados a partir das falas dos uma cama, enfermo. Porque, às vezes, não é só o
entrevistados das categorias profissionais médi- fumacê que vai resolver o problema do dengue, mas
cos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem que o que vai resolver mesmo é a educação, mudança de
respondem a questão norteadora sobre quais são hábitos, é a população se envolver. Ah, eu acho que
os fatores que contribuem para a ocorrência do na realidade muitos já nascem dessa forma. A cul-
dengue, mostram quatro ideias centrais (IC) des- tura, essa cultura que eu to falando, num to falando
critas na Tabela 1. nem só a dengue, mas a cultura de não cuidar, de
Em relação à IC que relata a falta de cuidado não ficar atento, atinge todas as classes sociais. Tem
com o ambiente, encontra-se no DSC 1, aspectos algumas famílias que são resistentes. Porque quan-
sobre o descaso da população com o seu entor- do você fala do dengue ela já acha que na casa dela
no, o comodismo, hábito e cultura e a resistência não tem. Se a gente tem resistentes nessa área a
da população às orientações recebidas dos pro- gente continua tendo dengue.
fissionais das ESF. Observa-se uma correlação direta entre o fato
Conforme descrito na Tabela 1, houve 100% de que a população não acredita nas informações
de citações desses aspectos entre os enfermeiros e técnicas sobre dengue e o comportamento deslei-
percentuais não inferiores a 65% nas outras ca- xado em relação ao cuidado com o meio ambien-
tegorias profissionais. Observa-se que a respon- te. Ao descuido com o micro-espaço, atribui-se o
sabilização da população em relação ao cuidado desconhecimento ou a baixa conscientização do
com o ambiente é ideia concreta nas RS dos pro- papel individual na construção do coletivo. Este
fissionais entrevistados. descaso generalizado é descrito por Boff16 como

Tabela 1. Frequência absoluta e relativa das causas apontadas por profissionais da Estratégia de Saúde da
Família para ocorrência de dengue. Microrregião de Dourados, 2010.
Auxiliares de
Médicos Enfermeiros enfermagem Total
Ideias Centrais (n = 12) (n = 16) (n = 20) (n = 48)
n % n % n % n %
Falta de cuidado com o ambiente 8 66,7 16 100,0 13 65,0 37 77,1
Descrédito na ocorrência e na gravidade da doença 10 83,3 10 62,5 10 50,0 30 62,5
Serviços diretos e relacionados ao controle da dengue 7 58,3 8 50,0 9 45,0 24 50,0
Situação socioeconômica da comunidade atendida - - 5 31,3 6 30,0 11 22,9
521

Ciência & Saúde Coletiva, 18(2):517-526, 2013


um dos sintomas da crise civilizacional e que en- radicação do vetor, ainda que, a partir do Pro-
fatiza a necessidade do cuidado com a terra nos grama de Erradicação do Aedes aegypti (PEAa I),
pequenos detalhes do nosso cotidiano. existisse o componente Informação, Educação e
A referência à falta de conscientização da po- Comunicação (IEC), não efetivamente implan-
pulação perpassa todo o discurso, mas é impor- tado. Ainda que o PNCD passasse a ter foco no
tante frisar que essa conscientização, tão neces- controle e não na erradicação do Aedes aegypti,
sária na ótica dos profissionais, não é um pro- as ações de educação em saúde são baseadas no
cesso simples, já que a experiência da doença é repasse de informações para a população sobre
fator preponderante para formar o que Bosi e prevenção e tratamento do dengue. Assim, as
Affonso17 chamam de “consciência preventiva”. ações não alcançaram mudanças comportamen-
Esta não ocorre só porque existe um saber que é tais, apresentando para a população um cenário
passado dos profissionais para a população, mas assistencialista, o que explica a RS do profissio-
decorre de sua experiência com a saúde e a doen- nal quando atribui à política de saúde a acomo-
ça. Assim, a orientação e, muitas vezes, a limpeza dação da população em relação ao dengue. Res-
realizada pela equipe de saúde, não leva a uma salta-se, neste DSC, a percepção da dificuldade
postura permanente de conservação do meio e de reverter esta situação, uma vez que o setor
consequente formação de hábitos higiênicos. saúde não consegue atingir aspectos do compor-
Marzocki18 enfatiza que é um grande desafio tamento humano. Reafirma-se aqui a importân-
manter a população motivada, principalmente cia da valorização da consciência preventiva14 para
em casos em que a doença tem ocorrência endê- comportamentos. Vale lembrar que é exatamen-
mica e esporádica. Associado a isso temos as ações te esta mudança comportamental o objetivo do
de planejamento do PNCD, verticalizado e não “Communication and marketing integrated for
integrado, que não incentiva adequadamente a behavior impact” (COMBI), metodologia pro-
mudança efetiva de comportamento da popula- posta pela Organização Panamericana de Saúde
ção para ações de prevenção e controle da doen- (OPAS) após estudos realizados em diversos pa-
ça. A ausência, no DSC, de aspectos relacionados íses a partir de 2.0004,22.
à amplitude de conhecimentos da população Ainda que tenha havido um esforço no senti-
mostra o quanto o profissional ainda precisa do de capacitar os países para o desenvolvimen-
incorporar os diversos conceitos que formam a to desta metodologia, a implantação no Brasil é
consciência coletiva. incipiente, iniciando-se através de um projeto
Essa dificuldade em “tomar consciência” atri- piloto em 2004 para ser desenvolvido em quatro
buída à população é explicada no DSC como uma municípios de estados distintos nas regiões nor-
“negação” de sua responsabilidade em relação ao deste, sudeste e sul. Segundo avaliação de Bra-
meio ambiente. O processo de negação do apren- ga22, as ações foram planejadas para trabalhar
dido passa pela lógica Aristotélica do “ou é ou componentes particulares do controle do den-
não é” onde uma coisa é sempre contrária a ou- gue atingindo apenas parcialmente os objetivos
tra, mas que não significa que um ou outro se- propostos para mudança de condutas. Existe
jam necessariamente falsos ou verdadeiros19,20. premente necessidade de investimentos em me-
Assim, pela lógica dos profissionais, os quin- todologias adequadas a mudanças de compor-
tais estão sempre sujos porque existe certa nega- tamento de forma a garantir ações sustentáveis
ção da necessidade real de manutenção a limpe- em médio e em longo prazo6. Esta conclusão não
za, que deve ser realizada pelos agentes públicos e foi referida pelos entrevistados e apresentaram
não são entendidas como responsabilidade indi- ainda outras causas para o comodismo: falta de
vidual. Mas, a manutenção constante da higiene educação da população, falta de perspectiva de
ambiental é fator preponderante para a preven- vida e individualismo.
ção de epidemias e diminuição dos riscos de Quando citada a falta de educação, parece
transmissão do dengue21. referir-se a educação informal, recebida da famí-
O DSC aponta o comodismo como uma ca- lia e do meio social. É mais uma colocação de
racterística humana, generalizando este conceito maus hábitos do que propriamente o que se en-
para toda população. Os profissionais atribuem tende por falta de educação formal. O que falta é
esta acomodação às políticas assistenciais implan- a educação para a cidadania.
tadas para a prevenção e controle do dengue. Outro fator apontado como causa da ocor-
Quando se verifica o histórico dessas políticas e rência de dengue é a cultura. Laraia23 apresenta a
programas6, observa-se que, até a edição do evolução do conceito de cultura através dos tem-
PNCD, as ações foram todas voltadas para a er- pos e traz a ideia de que “culturas são sistemas
522
Reis CB et al.

(padrões de comportamento socialmente trans- No DSC sobre a ocorrência do dengue apa-


mitidos) que servem para adaptar as comunida- rece esta dificuldade, já que na visão do usuário a
des humanas aos seus embasamentos biológicos”, casa pode não estar “tão suja” assim que precise
e enfatiza que o conceito de cultura está em cons- de intervenção externa.
tante reformulação já que se refere à compreen- As primeiras intervenções necessitam desses
são da natureza humana. Esta adaptação opera cuidados colocados no final do DSC, com uma
interferindo no plano biológico como expresso introdução do tema depois de conhecer o ambi-
no DSC que atribui à cultura a falta de cuidado e ente da família para não “afugentar” e dificultar
de compromisso da população com o seu entor- o trabalho dos agentes de saúde22. Entretanto,
no, o que leva a um ambiente propício para a nos casos onde a barreira já se instalou, tornas-
manutenção de criadouros do Aedes aegypti. se necessário uma abordagem direta para desco-
A ideia da imutabilidade da cultura, expressa brir a causa do problema, fazendo a família en-
no DSC dificulta as proposições de mudanças tender e, principalmente, participar das ações de
que os profissionais de saúde acreditam necessá- prevenção e controle do dengue.
rias e vem de encontro com o que Laraia23 chama Volta aqui à ênfase nas ações que propiciem
de troca de padrões culturais, ou seja, a cultura é mudanças de conduta4 para que as atividades de
dinâmica e, portanto, mutável. comunicação possam influenciar, e posterior-
Observa-se que no DSC aparece a cultura mente reforçar a decisão, a conduta e a norma
como um fator homogêneo em relação às classes social em relação à prevenção do dengue.
sociais, ou seja, não cuidar do ambiente está na Existem, entretanto, outros aspectos que não
cultura de pobres e ricos. foram levantados neste discurso em relação a esta
Em todo DSC as palavras cultura e hábitos resistência ao trabalho da equipe de saúde: a fal-
são citadas como sinônimos. ta de empatia da população com a própria equi-
Habito é uma palavra derivada do latim ha- pe e a perspectiva negativa da visita domiciliar.
bere, termo genérico utilizado por Aristóteles que Estabelecer vínculo e manter a relação com a fa-
o dividia em hábitos intelectuais e hábitos mo- mília é um grande desafio profissional que preci-
rais. Hábito refere-se à adaptação mental para sa ser enfrentado para que haja acolhimento de
reagir de forma idêntica a um determinado estí- ambas as partes25. A perspectiva negativa, segun-
mulo24. É uma tendência adquirida e não um do Sakata et al.26, refere-se ao caráter de fiscaliza-
determinismo biológico. Observa-se que o habi- ção e vistoria da visita domiciliar, muito caracte-
to pode adquirir características boas ou más, re- rizado no caso do dengue. Esse controle sobre a
ferentes a concepções morais de cada uma das vida e o ambiente das pessoas pode produzir um
ações referidas. Quando, no DSC, aparece hábi- distanciamento entre família e profissional se o
to, está se referindo na verdade a concepção moral visitado entender que está limitando sua privaci-
de mau hábito o que nos remete à necessidade de dade e sua autonomia.
mudança de hábito, considerada difícil para os
entrevistados já que tudo está associado à cultu- DSC 2 - Descrédito da população
ra imutável ou de difícil acesso pelos meios dis- na ocorrência e na gravidade da doença
poníveis aos profissionais. A dengue já se tornou uma coisa comum, que
É importante que os profissionais entendam vai continuar acontecendo é uma moda. Eles
essas diferenças e que cultura é essencial na for- acham que porque mosquitinho pequenino, ele
mação da identidade individual e comunitária. não é tudo isso que a gente fala e que a TV fala um
Importante também se faz diferenciar os tipos pouco é pra assustar. É muito de graça, não dá
de hábitos de forma a planejar ações para mudar valor. Acreditam só depois que estão doentes. O
os que são prejudiciais e propiciem o apareci- que precisa é que a sociedade inteira entenda que
mento de reservatórios do Aedes aegypti. tem que ser uma luta de todo mundo. A questão é
Os profissionais entrevistados sentem, em que, principalmente porque a dengue tem uma boa
alguns casos, que a família apresenta barreiras taxa de cura, a dengue não está levando à morte,
para a realização da visita domiciliar, quando o igual à gripe A. Como em geral adoecem muitas
assunto é dengue. Este assunto envolve aspectos pessoas, mas nunca teve um número de mortos
que são difíceis de abordar como, por exemplo, expressivos, as pessoas não se preocupam, acha que
higiene e formas de cuidado no armazenamento é uma doencinha assim. Mesmo sabendo que tem
de vasilhames. Uma primeira abordagem inade- risco de morte, acaba banalizando, como coisa co-
quada, normativa e enfática demais pode propi- mum. Então eu acho que quem nunca teve dengue
ciar resistência a ações posteriores. minimiza a doença.
523

Ciência & Saúde Coletiva, 18(2):517-526, 2013


Os profissionais entendem que a população com que a população também não acredite na
não acredita na ocorrência da doença por esta sua gravidade. Santos et al.28 evidenciam o conhe-
ter caráter benigno. Esta representação também cimento ineficiente quanto à gravidade da doen-
foi relatada por Fiqueiró et al.27, bem como a ça, mas é crescente a frequência de manifestações
descrição de sua inevitabilidade. não usuais e graves20, bem como o aumento dos
A descrição de “doença da moda” evidencia o óbitos ocorrido nos últimos anos. Neste sentido,
conhecimento sobre seu ciclo biológico, mas não o DSC aponta a cobertura dos meios de comuni-
sobre sua importância. Santos et al.28 também cação como difusores de alertas sobre o H1N1,
chegaram a esta conclusão, o que agrava o fato sem dar a mesma ênfase para os dados alarman-
de que não apresentam atitude adequada na pre- tes e crescentes de óbitos por dengue.
venção e controle do dengue.
Sabe-se que, independente da sua situação DSC 3 - Qualidade dos serviços diretos
geográfica e socioeconômica, qualquer pessoa tem e dos relacionados ao controle do dengue
risco de ser picada pelo Aedes aegypti e desenvol- Como o município não está coberto nem uns
ver a dengue. Entretanto, esta evidencia não en- 70% por PACS ou PSF como deveria estar, existe
contra reflexo na população, pela visão dos pro- assim uma baixa atividade educativa. E eu acho
fissionais. É interessante notar que existe uma que o poder público pega muito leve com essas pes-
generalização em relação a este “descrédito na soas que são donos de terrenos baldios, e tem aquele
ocorrência”, já que parece ser um descrédito de lixão a céu aberto. Uma parceria diminuída do se-
toda população e não só de uma parte que não tor de serviços urbanos. Tinha, por exemplo, locais
adota medidas de prevenção. que juntavam lixo, mas a prefeitura não foi retirar.
Existe concordância entre os estudos realiza- Então eu acho que o poder público também falhou.
dos sobre conhecimento da população de que a Por exemplo, houve aquela reforma da Sanesul onde
taxa de acerto em inquéritos feitos sobre o vetor se fizeram muitos buracos, deixaram muitas coisas
e a doença é alta, mas que isto não se reflete na que juntavam muita água. Não adianta você que-
prática. É necessário um processo de abstração rer botar defumador e ter entulho jogado por aí,
bastante elaborado para entender como um ví- continua não cuidando do foco que é a água para-
rus, ser invisível, pode causar transtornos tão da! Até porque, você vê nesses órgãos públicos aque-
intensos. Partindo desta constatação, fica mais las plantas que junta água. Nós recebemos treina-
difícil motivar a necessidade de autocuidado e a mentos pontuais, e tudo aquilo que a gente conhece
mudança de atitude, mesmo porque, como apon- é que a gente vai atrás de ler, procurar se informar,
ta Ferreira29 uma das premissas a se considerar mas realmente falta, há deficiência. É dificultando
para o trabalho em educação e mobilização soci- porque se o profissional não ta bem capacitado pra
al em saúde é que “não se pode cuidar da saúde falar sobre o assunto, ele não vai ter certeza, con-
do outro, se este não quer fazê-lo por si mesmo”. vencimento, na hora de que ele vai ta passando
E só consegue-se fazer a população querer algo orientação. Não estamos sabendo educar.
quando ela entende a necessidade das ações. Neste Diversos itens referentes à estrutura dos ser-
DSC aparece também a representação sobre as viços de saúde e de serviços públicos municipais
políticas assistencialistas para reforço do fato de foram citados como deficientes e causa básica da
que se a doença é benigna e a assistência é gratui- ocorrência do dengue na região.
ta não existe porque temê-la. Ainda que os dados mostrem uma cobertura
Uma ideia que perpassa, não só este, mas em populacional média de ESF acima de 77% nos
vários outros DSC, é a individualidade das atitu- municípios da microrregião de Dourados, o fato
des. A cidadania é outro conceito que precisa ser de que existem áreas descobertas foi identificado
trabalhado nas atividades educativas para que se como fator importante, já que esta estratégia é
possa pensar em coletividade. O DSC propõe ain- considerada como prioritária para a prevenção e
da o trabalho em sociedade, em grupo para en- o controle do dengue. Zambrini30 entende que a
tender que a luta contra dengue é coletiva. Para ênfase na assistência prestada pela atenção bási-
tanto é importante que todos entendam que a ca é essencial para a eficácia dos programas de
ocorrência da doença é universal e as ações de controle, citando a diferença entre os índices de
prevenção e controle são de responsabilidade infecção do dengue no Rio de Janeiro e Niterói.
compartilhada de população e instituições, se- A presença de lixo a céu aberto e terrenos bal-
jam elas publicas ou privadas. dios utilizados como depósito de lixo também
No DSC a RS de que a dengue é uma doença foi identificado como falha de estrutura e de fis-
corriqueira e benigna está bem definida. Isso faz calização por parte dos órgãos responsáveis, sen-
524
Reis CB et al.

do que a parceria entre os diversos setores do metodológica de conseguir alcançar a população


poder público não é uma realidade, propiciando com objetivo de proporcionar mudanças efeti-
atraso nas solicitações de limpeza e nas ações que vas. Para tanto, mais que adquirir conhecimen-
necessitam de apoio logístico. tos sobre a doença e seu vetor, é imprescindível
Uma observação importante no DSC é a pre- conhecer e dominar os métodos didáticos para
sença de bromélias nos prédios públicos. Os pro- trabalhar populações específicas; ter noções de
fissionais entendem que os responsáveis pelos se- história, sociologia e relações humanas, entre ou-
tores devem ter atitudes exemplares na elimina- tras. Ou seja, ter olhar ampliado para questões
ção de possíveis criadouros do Aedes aegypti. Cu- que vão muito além da biologia, patologia e tra-
nha et al.31 apresentam os resultados de estudo tamento do dengue. Desta forma, torna-se im-
que mostra que o hábito de cultivar bromélias portante que se desenvolvam relações horizon-
em domicílios como planta decorativa evidencia tais entre profissionais e usuários dos serviços de
um micro-habitat importante para abrigar for- saúde para que as ações sejam complementares
mas imaturas do Aedes aegypti, principalmente as para efetiva prevenção da dengue34.
bromélias que sofreram ação antrópica, geral-
mente as mais usadas na decoração de jardins. DSC 4 - Influência das classes sociais
Percebe-se a ansiedade dos profissionais em na ocorrência e no controle do dengue
transmitir a informação correta e atualizada so- A dengue é uma doença socioeconômica. Eu já
bre a dengue para a população. Não estar ade- percebi que não tem isso de “mais pobre e de quem
quadamente capacitado sobre o assunto gera in- tem mais dinheiro”, é “cuida mais ou cuida me-
segurança e a impressão de que não conseguem nos”. Por exemplo, essa região aqui tem mais con-
convencer os usuários. Esta ausência de capaci- dições de moradia, facilidades de vias públicas tam-
tação formal, tendo apenas repasse de informa- bém. Já no outro bairro, além de não ter emprego,
ções fragmentadas e descontinuadas de forma eles tinham um tipo de atividade que juntava lixo
verticalizada, faz com que as ações educativas fi- e a quantidade de coisas para se cuidar é maior.
quem restritas e demonstrem a fragilidade do Sem contar também, a gente via muito terreno
serviço. Cardoso e Nascimento32 acrescentam baldio lá. Mas foi encontrado larvas na classe C, na
ainda o caráter autoritário deste repasse de in- classe A, na classe E, na classe B. Mas aquela popu-
formações, realizado por setores específicos das lação parece que era mais assim. Receptiva, você
secretarias de saúde. Ainda que as discussões te- reunia, eles iam. Aqui é difícil reunir sabe, porque
óricas sobre educação em saúde e educação po- todo mundo trabalha, lá geralmente é só o pai que
pular estejam bastante desenvolvidas, a prática trabalha e tem casas que os agentes não conseguem
ainda é pautada no repasse de informações, atin- estar entrando, tem gente que recebe no portão e
gindo assim tanto os profissionais de saúde como não deixa entrar. E realmente trata mal o agente
a própria população33. de saúde.
Zambrini30 coloca que existe um alto grau de Os profissionais associam a estrutura dispo-
improvisação entre os atores envolvidos nestas nível nos bairros mais centrais com a menor ocor-
ações, concordando com Alves e Aerts34 que mos- rência de dengue, ainda que façam isso de forma
trou a dificuldade dos profissionais em fazer edu- totalmente empírica, sem citar dados epidemio-
cação popular em saúde. Esta improvisação está lógicos que comprovem esta associação. Entre-
presente no DSC e mostra o quanto a capacitação tanto, citam a estrutura das ruas, casas e sanea-
dos profissionais, nos diversos aspectos do den- mento como fatores que contribuem para que
gue, pode ajudar em futuras epidemias e mesmo haja menor numero de criadouros.
no maior controle nos períodos interepidêmicos. Por consequência, associam as condições sa-
Nota-se também certa insatisfação com o di- nitárias e socioeconômicas de bairros periféricos
recionamento das políticas de saúde nos municí- com a presença de criadouros importantes, prin-
pios da região, que menosprezam a importância cipalmente aqueles relacionados ao lixo. Ainda
de capacitação específica para melhorar o impac- que façam a diferenciação da estrutura dos bair-
to das ações e diminuir a ocorrência de dengue. ros, a representação presente é de que mesmo
Quando os profissionais colocam no DSC que sendo uma doença socioeconômica, ela afeta a
não estão sabendo educar, estão se referindo não todas as classes sociais e podem ser encontrados
só a transmissão de conteúdos específicos sobre a criadouros espalhados por toda extensão dos
biologia do vetor, formas de prevenção e contro- municípios. Ou seja, a condição socioeconômica
le, identificação de sinais, sintomas e gravidade e de moradia é fator determinante, mas não con-
do dengue. Parecem querer dizer da dificuldade dicionante na ocorrência do dengue5.
525

Ciência & Saúde Coletiva, 18(2):517-526, 2013


O DSC apresenta ainda as dificuldades en- poníveis. Considera-se importante a divulgação
contradas para que a população aceite a presen- das percepções dos profissionais, principalmen-
ça da equipe em qualquer contexto. A participa- te no que se refere a conceitos equivocado de for-
ção da população é importante para promover ma que haja a valorização de capacitação contí-
aceitabilidade dos profissionais, factibilidade das nua e contextualizada, bem como a implantação
ações e apropriação dos conceitos de prevenção de metodologias que apresentem impacto no
e controle do dengue, propiciando assim a par- comportamento de profissionais e população na
ceria na execução das ações35. prevenção e combate ao dengue. Os discursos
apresentados evidenciam a importância de uma
mudança de conduta que parta dos níveis deci-
Considerações finais sórios de gestão, que incluam a opinião e a per-
cepção de profissionais e usuários e que discuta
Conclui-se que os profissionais atribuem à po- conceitos pouco trabalhados nos cursos de for-
pulação parte importante da responsabilidade mação profissional na área de saúde, de forma a
pela ocorrência do dengue, mas também obser- conseguir impactar conduta, conforme objetivos
vam a falta de estrutura e organização dos servi- preconizados pela Organização Pan-americana
ços para atender melhor, bem como percebem de Saúde através da Estratégia de Gestão Inte-
dificuldades para que ocorra a mudança dos com- grada para Dengue (EGI-Dengue).
portamentos observados com os recursos dis-

Colaboradores

CB Reis e SMO Andrade trabalharam em todas


as etapas do artigo. RV Cunha trabalhou na con-
cepção, revisão critica e aprovação da versão a
ser publicada.
526
Reis CB et al.

Referências

1. Brasil. Ministério da Saúde (MS). A sociedade contra 22. Braga IA. Avaliação da efetividade da utilização da
a dengue. Brasília: MS; 2002. metodologia Communication and marketing integra-
2. Penna MLF. Um desafio para a saúde pública bra- ted for behaviour impact – COMBI para o controle do
sileira: o controle do dengue. Cad Saude Publica dengue em duas localidades do Brasil [dissertação].
2003; 19(1):305-309. Brasilia: Universidade de Brasília; 2008.
3. Lefèvre F, Lefèvre AMC, Scandar SAS, Yassumaro 23. Laraia RN. Cultura: um conceito antropológico. 21ª
S. Representações sociais sobre relações entre va- Edição. Rio de Janeiro: Zahar; 2007.
sos de plantas e o vetor do dengue. Rev Saude Pu- 24. Farias PL. Semiótica e cognição: os conceitos de
blica 2004; 38(3):405-414. hábito e mudança de hábito em CS. Pierce. Revista
4. Parks W, Lloyd L. Planificación de la movilización y Eletrônica Informação e Cognição 1999; 1(1):12-16.
comunicación social para la prevención y el constrol 25. Marcon SS, Oliveira RG. Trabalhar com famílias
del dengue: guia paso a paso. Organización Mun- no Programa de Saúde da Família: a prática do
dial de la Salud: Ginebra; 2004. enfermeiro em Maringá-Paraná. Rev Escola de En-
5. Torres EM. Dengue. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2005. ferm da USP 2007; 41(1):65-72.
6. Braga IA, Valle, D. Aedes aegypti: histórico do con- 26. Sakata KN, Almeida MCP, Alvarenga AM, Craco
trole no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde PF, Pereira MJB. Concepções da equipe de saúde
2007; 16(2):113-118. da família sobre visitas domiciliares. Rev Bras En-
7. Ministério da Saúde. Evolução da cobertura popu- ferm 2007; 60(6):659-664.
lacional da Estratégia da Saúde da Família. 2011. 27. Figueiró AC, Sóter AP, Braga C, Hartz ZMA, Sami-
[acessado 2011 maio 8]. Disponível em: http:// co I. Análise lógica de intervenção do Programa
dab.saude.gov.br/abnumeros.php Nacional de Controle do dengue. Rev Bras Saúde
8. Driessnack M, Souza VD, Mendes IAC. Revisão Materno Infantil 2010; 10(Supl. 1):S93-S106.
dos desenhos de pesquisa relevantes para enferma- 28. Santos SL, Cabral ACSP, Augusto LGS. Conhecimen-
gem: parte 2: desenhos de pesquisa qualitativa. Rev tos, atitudes e práticas sobre dengue, seu vetor e
Latino Americana de Enferm 2007; 15(4):684-688. ações de controle em uma comunidade urbana do
9. Moscovici S. A representação social da psicanálise. Nordeste. Cien Saude Colet 2011; 16(Supl. 1):1319-
Rio de Janeiro: Zahar; 1978. 1330.
10. Moscovici S. Representações sociais. Investigações em 29. Ferreira FS. Educação em saúde no controle do den-
psicologia social. 6ª Edição. Petrópolis: Vozes; 2009. gue no Brasil, 1998 a 2004: reflexões sobre a produ-
11. Almeida AMO, Santos MFS, Trindade ZA, organi- ção científica [dissertação]. Rio de Janeiro: Fio-
zadores. Teoria das representações sociais 50 anos. cruz; 2006.
Brasilia: Technopolitik; 2011. Coedicação Centro 30. Zambrini DAB. Lecciones desatendidas entorno de
Moskovisci/UnB. La epidemia de dengue em Argentina, 2009. Rev
12. Lefèvre F, Lefèvre AMC, Marques MCC. Discurso Saude Publica. 2011; 45(2):428-431.
do sujeito coletivo, complexidade e auto-organiza- 31. Cunha SP, Alves JRC, Lima MM, Duarte JR, Barros
ção. Cien Saude Colet 2009; 14(4):1193-1204. LCVL, Silva JL, Gammaro AT, Monteiro Filho OS,
13. Fraser MTD, Gondin SMG. Da fala do outro ao Wanzeler AR. Presença do Aedes aegypti em Brome-
texto negociado: discussões sobre a entrevista na liaceae e depósitos com plantas no município do
pesquisa qualitativa. Paidéia 2004; 14(28):139-152. Rio de Janeiro. Rev Saude Publica 2002; 36(2):244-
14. Lefèvre F, Lefèvre AMC. O discurso do sujeito coleti- 245.
vo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (des- 32. Cardoso AS, Nascimento MC. Comunicação no
dobramentos). Caxias do Sul: EDUCS; 2003. Programa de Saúde da Família: o agente de saúde
15. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Normas de pes- como elo integrador entre a equipe e a comunida-
quisa envolvendo seres humanos – Resolução 196/ de. Cien Saude Colet 2010; 15(Supl. 1):1509-1520.
96. Informe Epidemiológico do SUS 1996; 2(Supl. 33. Silva CMC, Meneghim MC, Pereira AC, Mialhe FL.
3):13-30. Educação em saúde: uma reflexão histórica de suas
16. Boff L. Saber cuidar. Ética do humano – compaixão práticas. Cien Saude Colet 2010; 15(5):2539-2550.
pela terra. 5ª Edição. Petrópolis: Vozes; 1999. 34. Alves GG, Aerts D. As práticas educativas em saúde
17. Bosi MLG, Affonso KC. Cidadania, participação e a Estratégia de Saúde da Família. Cien Saude Colet
popular e saúde: com a palavra os usuários da rede 2011; 16(1):319-325.
pública de serviços. Cad Saude Publica 1998; 14(2): 35. Castro M, Pérez D, Pérez K, Polo V, Lópes M, Sán-
355-365. chez L. Contextualizacion de uma estratégia comu-
18. Marzochi KGF. Dengue endêmico: desafio das es- nitária integrada para la prevencion del dengue.
tratégias de vigilância. Rev Soc Bras Med Tropical. Revista Cubana de Medicina Tropical 2008; 60(1).
2004; 37(5):413-415.
19. D‘agord M. A negação e a lógica do sujeito. Ágora
2006; 9(2):241-258.
20. Souza EC. Negação e diferença em Platão. Tranfor-
mação Formação Ação. 2010; 33(1):1-18.
21. Guzmán MG, García G, Kouri G. El dengue y el Artigo apresentado em 106/2011
dengue hemorrágico: prioridades de investigación. Aprovado em 25/08/2011
Rev Pananam Salud Publica 2006; 19(3):204-215. Versão final aprovada em 15/09/2011

Você também pode gostar