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ENRICO DAL COVOLO - GIORGIO MOCCI

SANTOS
na Família Salesiana
ENRICO DAL COVOLO - GIORGIO MOCCI

SANTOS
na Família Salesiana
“A santidade não se conquista em poucos dias;
basta querê-la, basta pedi-la continuamente
a Deus, basta começar logo”
(Madalena Morano).
2008 © Enrico Dal Covolo
Giorgio Mocci
Título original: Santi nella famiglia salesiana.
Turim, Editrice ElleDiCi, 2007.
Tradução: Dom Hilário Moser, SDB

Todos os direitos reservados

EDITORA DOM BOSCO


SHCS CR – Quadra 506 –
Bloco B
Sala 65 – Asa Sul 70350-525
Brasília (DF)
Tel.: (61) 3214-2300
www.edbbrasil.org.br
Sumário
Apresentação 9

SANTOS 11
João Bosco 12
José Cafasso 14
Maria Domingas Mazzarello 16
Domingos Sávio 18
Leonardo Murialdo 20
Luís Versiglia 22
Calisto Caravario 24
Luís Orione 26

BEM-AVENTURADOS 29
Luís Guanella 30
Miguel Rua 32
Laura Vicuña 34
Felipe Rinaldi 36
Madalena Morano 38
José Kowalski 40
Francisco Kesy e 4 companheiros 42
Pio IX 44
José Calasanz e 31 companheiros 46
Luís Variara 48
Artêmides Zatti 50
Maria Romero 52
Augusto Czartoryski 54
Eusébia Palomino 56
Alexandrina Maria da Costa 58
Alberto Marvelli 60
Bronislau Markiewicz 62
Henrique Saiz Aparicio e 62 companheiros 64
Zeferino Namuncurá 66

VENERÁVEIS 69
André Beltrami 70
Teresa Valsé Pantellini 72
Dorotéia Chopitea 74
Vincente Cimatti 76
Simão Srugi 78
Rodolfo Komorek 80
Luís Olivares 82
Margarida Occhiena 84

SERVOS DE DEUS 87
Maria Troncatti 88
José Quadrio 90
Laura Meozzi 92
Atílio Giordani 94
Augusto Hlond 96
Inácio Stuchly 98
Antônio de Almeida Lustosa 100
Otávio Ortiz 102
Augusto Arribat 104
Elias Comini 106
Francisco Convertini 108
Estêvão Ferrando 110
Matilde Salem 112
João Swierc e 8 companheiros 114
José Vandor 116
Estêvão Sandor 118
Constantino Vendrame 120
Carlos Crespi Croci 122
Carlos Della Torre 124
Orestes Marengo 126
Apresentação

Santos na Família Salesiana. Muito mais que simples título de um


livro, esta expressão representa um caloroso auspício; de modo espe-
cial, indica a vocação fundamental de todos que – em qualquer parte
do mundo – participam da grande Família suscitada pelo Espírito
Santo por meio do carisma de São João Bosco.
Este caminho de santidade, ao qual somos chamados, é o mesmo
que foi percorrido pelos 8 santos, 116 bem-aventurados, 8 veneráveis
e 28 servos de Deus que ilustram as páginas deste livro.
Seus perfis respondem a uma única pergunta: “Que aspectos do
carisma de Dom Bosco são iluminados pela santidade dessa pes-
soa?”. Chega-se assim a um aprofundamento original do carisma
salesiano, não tanto por meio da especulação teológica de tipo acadê-
mico quanto por meio do caminho indicado pela scientia amoris, da
qual os santos são especialistas. Sempre mais, é este o caminho que
suscita nos corações a “saudade” da santidade.
A santidade: é o caminho mais exigente que queremos percorrer
juntos em nossas comunidades educativas; é o dom mais precioso
que podemos oferecer; é a meta mais alta que devemos propor com
coragem a todos, especialmente aos jovens. Somente num clima de
santidade vivida e experimentada é que os jovens terão a possibili-
dade de fazer corajosas opções de vida, descobrir o plano de Deus
sobre seu futuro, apreciar e acolher o dom das vocações de especial
consagração.
Com essa finalidade, é precioso – e pede que seja valorizado de
forma sábia – o rico patrimônio de homens e mulheres que o sistema
educativo de Dom Bosco orientou no percurso do caminho da santi-
dade, fazendo deles obras-primas de humanidade e de graça.
Ainda não se passaram 120 anos desde a morte do Fundador,
e nesse período de tempo o Sistema Preventivo já amadureceu frutos
quase inesperados, formou heróis e santos.

9
O conjunto de 160 Grandes já glorificados ou a caminho dos alta-
res, que ocupa as próximas páginas, é o selo mais nítido que a Provi-
dência de Deus apôs à história para proclamar a autenticidade do
carisma educativo de São João Bosco.
Retornemos assim ao apaixonado auspício contido no título do
livro: oxalá também nós percorramos o mesmo caminho de carisma
e santidade que a “grande nuvem de testemunhas” (Hb 12,1), cano-
nizadas ou “anônimas”, percorreu antes de nós.
Afinal, é a única coisa realmente importante: “Sede santos, porque
eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2).

Padre Pascual Chávez Villanueva


Reitor-Mor

Roma, 9 de março de 2007,


150o aniversário da morte de São Domingos Sávio

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SANTOS
J O Ã O
BOSCO
1815 s 1888

J
oão Bosco nasceu em Castelnuovo d’Asti, Itália, no dia 16 de agos-
to de 1815, numa família de camponeses. O pai, Francisco Bosco,
deixou-o órfão aos 2 anos de idade. A mãe, Margarida Occhiena,
viu-se de repente sozinha a criar Antônio, José e Joãozinho.
Com doce firmeza e uma fé sem limites, sábia educadora, ela fez
da família uma igreja doméstica. João, desde pequeno, sentia o desejo
de ser padre.
Aos 9 anos, teve um sonho que lhe revelou a futura missão:
“Torna-te humilde, forte e robusto”, disse-lhe uma senhora resplan-
decente como o sol. “O que vês acontecer com estes lobos, que se
mudam em cordeiros, tu o farás para meus filhos. Eu serei tua mes-
tra. A seu tempo, tudo compreenderás.”

12
Desde menino, João começou a entreter os colegas com mágicas e
outras brincadeiras, alternando-as com trabalho, oração e instrução
religiosa. O velho Pe. João Calosso abriu-lhe o caminho para os estu-
dos sacerdotais, que ele enfrentou com muito esforço, a ponto de dei-
xar o próprio lar por causa da oposição do irmão Antônio, que queria
ver João trabalhando no campo.
Seminarista em Chieri, fundou a Sociedade da Alegria para reunir
os jovens da cidadezinha. Em junho de 1841 foi ordenado sacerdote.
Seu diretor espiritual, São José Cafasso, o aconselhou a aperfeiçoar os
estudos no Colégio Eclesiástico.
Nesse ínterim, Dom Bosco reuniu a seu redor os primeiros meni-
nos e organizou um oratório festivo, itinerante no começo, estável em
Valdocco, depois. Margarida, já idosa, aceitou ir para Turim a fim de
ajudá-lo. Para os meninos ela era Mamãe Margarida.
Dom Bosco recolheu os primeiros órfãos sem teto. Ensinava-lhes
um trabalho e a amar a Deus. Cantava, brincava, rezava com eles.
Apareceram também os primeiros colaboradores. Desenvolveu-se,
assim, o famoso método educativo chamado Sistema Preventivo:
“Fiquem junto com os meninos, previnam o pecado por meio da ra-
zão, da religião e da amabilidade. Tornem-se santos, educadores de
santos. Nossos meninos devem sentir que são amados”.
Com o tempo, e também graças à ajuda do Papa Pio IX, os primei-
ros colaboradores se tornaram uma Congregação com o objetivo de
salvar a juventude, combatendo todas as pobrezas e fazendo próprio
o lema: “Dai-me almas, e ficai com tudo o mais”.
O jovem São Domingos Sávio foi o primeiro fruto do Sistema Pre-
ventivo. Maria Auxiliadora, que sempre apoiou Dom Bosco em sua
obra, lhe concedeu muitíssimas graças, até mesmo extraordinárias;
inclusive o dinheiro necessário para todos os seus empreendimentos.
Ajudou-o também na construção da “sua” Basílica.
Com a colaboração de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou
o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Com benfeitores e leigos
comprometidos, criou os Cooperadores Salesianos.
Aos 72 anos de idade, desgastado pelo trabalho, Dom Bosco mor-
reu no dia 31 de janeiro de 1888. Hoje, a Família Salesiana está pre-
sente no mundo inteiro. No centenário de sua morte, o Papa João
Paulo II declarou-o “Pai e Mestre da juventude”.
PIO XI BEATIFICOU-O EM 2 DE JUNHO DE 1929
E CANONIZOU-O EM 1º DE ABRIL DE 1934

13
J O S É
CAFASSO
1811 s 1860

J
osé Cafasso nasceu em Castelnuovo d’Asti, Itália, no dia 15 de
janeiro de 1811. Filho de pequenos proprietários de terra, era o
terceiro de quatro filhos. A caçula, Mariana, será a mãe do Beato
José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata.
Desde criança, a família e o povo o consideravam um pequeno
santo. Fez os estudos teológicos no Seminário de Chieri e em 1833 foi
ordenado sacerdote. Quatro meses mais tarde, entrou para o Colégio
Eclesiástico a fim de aperfeiçoar sua formação sacerdotal e pastoral.
Ali ficaria por toda a vida, tornando-se depois seu Reitor.
Naquele colégio respirava-se a espiritualidade de Santo Inácio e
as orientações teológicas e pastorais de Santo Afonso Maria de Ligó-

14
rio. O ensino recebia grande atenção e visava formar bons confesso-
res e hábeis pregadores.
José estudou e aprofundou a espiritualidade de São Francisco de
Sales, que depois transmitiria de modo especial a um estudante: João
Bosco. Dessa forma, Pe. Cafasso, seu diretor espiritual de 1841 a 1860,
contribuiu para formar e orientar a personalidade e a espiritualidade
de Dom Bosco. Também o apoiou materialmente, e fez o mesmo com
a Congregação Salesiana, desde suas origens.
Típico de seu ensinamento é o apreço pelo dever cotidiano como
caminho de santificação. O próprio Dom Bosco testemunhou: “A vir-
tude extraordinária do Pe. Cafasso foi a de praticar constantemente e
com fidelidade maravilhosa as virtudes ordinárias”.
Sempre atento às necessidades dos últimos, visitava e sustentava,
inclusive economicamente, os mais pobres, levando-lhes a consola-
ção que brotava do ministério sacerdotal. Também fazia parte do seu
apostolado acompanhar espiritualmente os presos e os condenados
à morte, a ponto de ser denominado “o padre dos presos”.
Prudente, reservado, mestre de espírito, foi diretor espiritual de
padres, leigos, políticos, fundadores. Pio XI o chamou de “a pérola do
clero italiano”.
Depois de rápida doença, morreu em Turim dia 23 de junho de
1860, com 49 anos de idade. Pio XII o apontou como “modelo de vida
sacerdotal, pai dos pobres, consolador dos enfermos, conforto dos pre-
sos, salvação dos condenados à forca”. Na encíclica Menti Nostrae, de
23 de setembro de 1950, o propôs como modelo para os sacerdotes.

PIO XI BEATIFICOU-O EM 3 DE MAIO DE 1925


E PIO XII CANONIZOU-O EM 22 DE JUNHO DE 1947

15
MARIA DOMINGAS
MAZZARELLO
183 7 s 18 81

M
aria Domingas nasceu em Mornese, na província de
Alessandria, Itália, no dia 9 de maio de 1837, no seio de nu-
merosa família de camponeses. Dotada de força física inco-
mum, desde menina trabalhou no campo com o pai José. Dizia: “Para
que Deus não nos deixe faltar o pão, é preciso rezar e trabalhar”.
Graças à educação profundamente cristã recebida em família,
Maria fazia grandes sacrifícios para se encontrar diariamente com
Jesus na Eucaristia: “Sem Ele não poderia viver”.
Em 1860, o tifo chegou em Mornese. O confessor, Pe. José Pestari-
no, pediu-lhe que cuidasse de alguns parentes da família Mazzarello.
Maria aceitou. Pouco depois, ela também adoeceu. De repente,

16
porém, viu-se curada. Embora sua força física tivesse desaparecido,
sua fé continuava firme.
Um dia, andando pela estrada, teve uma visão misteriosa: viu um
enorme edifício com muitas meninas que corriam pelos pátios e ouviu
uma voz que lhe dizia: “Confio-as a ti”. Não mais podendo ser cam-
ponesa, de acordo com sua amiga Petronila decidiu ser costureira
para ensinar as meninas pobres a costurar.
O Espírito Santo formou nela um coração materno. Prudente e
sábia, educou as meninas com amor preventivo. Aberta uma peque-
na oficina – como acontecera também com Dom Bosco –, Deus lhe
enviou as primeiras órfãs, que ali se abrigaram. Chegaram também
as primeiras colaboradoras. O Pe. Pestarino lhes daria o nome de Fi-
lhas da Imaculada.
Em 1864 Dom Bosco foi a Mornese com seus jovens a fim de abrir
um colégio para os meninos do lugar. Maria olhou para ele e excla-
mou: “Dom Bosco é um santo, eu o sinto”. Dom Bosco visitou a oficina
de costura das Filhas da Imaculada e ficou muito impressionado.
Pio IX pediu a Dom Bosco que fundasse um instituto feminino.
Depois de conversar com o Pe. Pestarino, ele escolheu as Filhas da Ima-
culada e as enviou para o colégio que, nesse ínterim, ficara pronto. Ali,
Maria e as colegas passavam fome, também por causa da hostilidade
inicial dos conterrâneos (que viram seu colégio para meninos ser desti-
nado às meninas), mas estavam sempre alegres e sua fé jamais vacilou.
Em 1872, as primeiras 15 Filhas da Imaculada se tornaram Filhas
de Maria Auxiliadora. Maria foi designada para superiora, mas se fez
chamar simplesmente de “Vigária”, porque, dizia, “A verdadeira su-
periora é Nossa Senhora”.
O Instituto cresceu e se difundiu. Abriram-se as primeiras casas e
também as primeiras missões na América. Maria era chamada de
“Mãe”. Apesar de tudo, era simples e dedicada, e dava sempre exem-
plo, mesmo nos trabalhos mais humildes. Com sua sabedoria, orien-
tou a espiritualidade do Instituto, encarnando nas Filhas de Maria
Auxiliadora o carisma que recebeu de Dom Bosco.
Morreu em Nizza Monferrato no dia 14 de maio de 1881, com a
idade de 44 anos. À sua morte, o Instituto já tinha 165 irmãs e 65 no-
viças em 28 casas (19 na Itália, 3 na França e 6 na América).

PIO XI BEATIFICOU-A EM 20 DE NOVEMBRO DE 1938


E PIO XII CANONIZOU-A EM 24 DE JUNHO DE 1951

17
DOMINGOS
SÁVIO
1842 1857 s

D
omingos Sávio nasceu no dia 2 de abril de 1842 em San Gio-
vanni di Riva, perto de Chieri, na província de Turim, Itália.
Cresceu numa família rica de valores. Desde criança, impres-
sionou a todos pela sua maturidade humana e cristã. Esperava o pa-
dre fora da igreja para ajudá-lo na santa Missa, mesmo debaixo de
neve. Estava sempre alegre. Levou muito a sério sua vida espiritual,
a ponto de – admitido à primeira Comunhão com apenas 7 anos –
traçar para si, num caderninho, um projeto de vida: “Farei a confis-
são muitas vezes e comungarei sempre que o confessor permitir.
Quero santificar os domingos e dias santos. Meus amigos serão Jesus
e Maria. Antes morrer que pecar”.

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Aos 12 anos, encontrou-se com Dom Bosco e lhe pediu para ser
aceito no Oratório de Turim, porque desejava ardentemente estudar
e ser padre. Dom Bosco, admirado, lhe disse: “Parece-me que aqui
temos um bom pano”. “Então, eu serei o pano, e o senhor, o alfaiate”,
respondeu Domingos.
Acolhido no Oratório, pediu a Dom Bosco que o ajudasse a “tornar-
se santo”. Humilde, sempre sereno e contente, punha grande empenho
nos deveres de estudante e em servir aos colegas, ensinando-lhes o
catecismo, cuidando dos doentes, pacificando os litigantes...
Sempre que um novo colega entrava para o Oratório, lhe dizia:
“Saiba que aqui nós fazemos consistir a santidade em estar sempre
muito alegres”. Procuremos “só evitar o pecado como um grande
inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração, e vamos
cumprir com exatidão os nossos deveres”.
Tenazmente fiel ao seu programa, sustentado pela intensa partici-
pação nos sacramentos e por filial devoção a Maria, alegre nos sacri-
fícios, Deus o cobriu de dons e carismas.
No dia 8 de dezembro de 1854, dia em que o Papa Pio IX proclamou
o dogma da Imaculada Conceição, Domingos se consagrou a Nossa Se-
nhora e começou a avançar rapidamente pelo caminho da santidade.
Em 1856, junto com alguns amigos do Oratório, fundou a Compa-
nhia da Imaculada, para se empenhar numa ação apostólica de gru-
po. Mamãe Margarida disse a Dom Bosco: “Você tem muitos meni-
nos bons, mas ninguém supera o belo coração e a bela alma de Do-
mingos Sávio”. E explicou: “Eu sempre o vejo rezar. Fica na igreja
mesmo depois dos outros. Todo dia ele deixa um pouco o recreio
para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento. Na igreja se com-
porta como um anjo no paraíso”.
Morreu em Mondonio em 9 de março de 1857. Ainda não tinha 15
anos. O próprio Dom Bosco escreveu sua biografia. Chorava sempre
que a relia. Seus restos mortais são venerados na Basílica de Maria
Auxiliadora, em Turim. Sua festa se celebra no dia 6 de maio. Pio XI o
definiu como “um pequeno, antes, grande gigante do espírito”.
É padroeiro das mães gestantes. Por sua intercessão, muitas são as que
testemunham graças surpreendentes.

PIO XII BEATIFICOU-O EM 5 DE MARÇO DE 1950


E CANONIZOU-O EM 12 DE JUNHO DE 1954

19
LEONARDO
MURIALDO
1828 s 1900

L
eonardo Murialdo nasceu em Turim, Itália, no dia 26 de outu-
bro de 1828, oitavo filho de uma família de elevado nível social
e econômico. Órfão de pai com apenas 4 anos, recebeu ótima
educação cristã no colégio dos escolápios, em Savona.
Na juventude, atravessou uma profunda crise espiritual que o le-
varia à conversão e à descoberta da vocação sacerdotal. Começou em
Turim os estudos de filosofia e teologia. Ao mesmo tempo, trabalhava
no Oratório do Anjo da Guarda, dirigido pelo primo Pe. Roberto
Murialdo. Graças a essa colaboração, tocou com suas mãos os proble-
mas da juventude de Turim: meninos de rua, presos, limpadores de
chaminés, garçons de bar...

20
Em 1851 foi ordenado sacerdote. Começou a trabalhar em estreito
contato com o Pe. Cafasso e com Dom Bosco, que lhe entregou – e ele
aceitou – a direção do Oratório São Luís. Leonardo respirava o Siste-
ma Preventivo, encarnou-o e o aplicou em todas as suas futuras obras
educativas.
Em 1866 assumiu a direção do Colégio dos Pequenos Aprendizes
de Turim, que tinha por objetivo acolher e formar humana, cristã e
profissionalmente meninos pobres e abandonados. Fez muitas via-
gens pela Itália, pela França e pela Inglaterra para visitar instituições
educativas e assistenciais, aprender, confrontar e melhorar o próprio
sistema educativo.
Foi um dos promotores das primeiras bibliotecas populares católi-
cas e da União dos Operários Católicos, da qual, por longos anos, se-
ria o assistente eclesiástico. Em 1873, com o apoio de alguns colabora-
dores, fundou a Congregação de São José (Josefinos de Murialdo).
A finalidade apostólica da Congregação era a educação da juventu-
de, especialmente da mais pobre e abandonada. Abriu oratórios, esco-
las profissionais, casas para jovens trabalhadores e colônias agrícolas.
Aprofundou seu compromisso com as associações leigas, especialmen-
te no campo da formação profissional dos jovens e da boa imprensa.
Seu lema era: “Fazer e calar”. Foi homem espiritual e de oração,
contemplativo na ação, como Dom Bosco. Em 1884 manifestaram-se
diversos sintomas de broncopneumonia. Dom Bosco foi levar-lhe sua
bênção. Apesar da saúde fragilizada, viveu até 30 de março de 1900.
A perda do pai em tenra idade inspirou também Leonardo a ser
pai e guia dos jovens que Deus lhe confiava. A vida, o estilo e a obra
o colocam ao lado do seu amigo e modelo São João Bosco.

PAULO VI BEATIFICOU-O EM 3 DE NOVEMBRO DE 1963


E CANONIZOU-O EM 3 DE MAIO DE 1970

21
L U Í S
VERSIGLIA
1873 s 1930

L
uís Versiglia nasceu em Oliva Gessi, na província de Pavia, Itália,
no dia 5 de junho de 1873. Desde pequeno ajudava na Missa.
O povo já o imaginava como padre, mas Luís não queria ouvir
falar disso: o que ele queria mesmo era ser veterinário. Aos 12 anos foi
acolhido por Dom Bosco, que o fascinou a ponto de mudar de idéia.
Em 1888, pouco depois da morte do Santo, Luís ficou muito impres-
sionado com a cerimônia de entrega do Crucifixo a sete missionários.
Decidiu tornar-se salesiano, com a esperança de partir para as missões.
Obtida a láurea em filosofia, em pouco tempo se preparou para a
ordenação sacerdotal, que ocorreu em 1895. Com apenas 23 anos de
idade, Pe. Miguel Rua, sucessor de Dom Bosco, o nomeou mestre dos

22
noviços em Genzano, Roma, missão que cumpriu com bondade,
firmeza e paciência durante dez anos.
Por insistência do bispo de Macau, em 1906, seis salesianos chega-
ram à China, guiados pelo Pe. Versiglia: estavam realizando reiterada
profecia de Dom Bosco. Estabelecida em Macau a “casa mãe” salesia-
na, abriu-se também a missão de Heungchow. Pe. Luís animou toda
aquela região com o estilo de Dom Bosco, criando uma banda musi-
cal muito apreciada, orfanatos e oratórios.
Em 1918 os salesianos receberam do Vigário apostólico de Cantão
a missão de Schiuchow. No dia 9 de janeiro de 1921, Pe. Versiglia foi
consagrado bispo. Sábio, incansável e pobre, viajava continuamente
para visitar e animar os irmãos e cristãos daquela região. Sua chega-
da era uma festa para os povoados, sobretudo para as crianças. Foi
um verdadeiro pastor, dedicado por inteiro ao seu rebanho.
Deu ao Vicariato uma estrutura sólida, com um seminário e casas
de formação. Ele mesmo projetou várias residências e casas para ido-
sos e necessitados. Cuidou convictamente da formação dos catequis-
tas. Escreveu em seus apontamentos: “O missionário que não estiver
unido a Deus é um canal que se separa da fonte”. “O missionário que
reza muito, também muito realizará.” Como Dom Bosco, era um
exemplo de trabalho e temperança.
Entretanto, na China, a situação política tinha se tornado muito
tensa, sobretudo para os cristãos e os missionários estrangeiros. Co-
meçaram as perseguições. No dia 13 de fevereiro de 1930, junto com
Pe. Caravario, o bispo foi fazer a visita pastoral na missão de Lin-
chow. No dia 25, um grupo de piratas bolchevistas parou a barca do
bispo e tentou apoderar-se das moças. Os missionários se opuseram
com todas as forças. Inútil. Começou o martírio: espancamento selva-
gem e morte por fuzilamento. Antes, D. Versiglia se confessou com o
Pe. Caravario. Em seguida, de joelhos, recebeu a descarga. Seu últi-
mo respiro foi para as almas da sua amada China.

JOÃO PAULO II BEATIFICOU-O EM 15 DE MAIO DE 1983


E CANONIZOU-O EM 1º DE OUTUBRO DE 2000

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CALI S TO
CARAVARIO
1903 s 1930

C
alisto Caravario nasceu em Cuorgnè, na província de Turim,
Itália, no dia 18 de junho de 1903. Desde pequeno, pelo seu
caráter manso e reflexivo, todos o consideravam um menino
bom. Por natureza, era levado à oração.
Amava ternamente sua mãe, como testemunham as numerosas
cartas que se escreviam. Aos 5 anos, transferiu-se com a família
para Turim, perto do oratório de Porta Nuova. Na escola salesiana
era um dos primeiros da classe. Todos os dias fazia questão de
ajudar na Missa.
Aconselhado pelo diretor do oratório, Pe. Sante Garelli, entrou
para o noviciado e se tornou salesiano. Em 1922, D. Luís Versiglia

24
estava em Turim e falou aos clérigos sobre as missões. Calisto lhe dis-
se: “Excelência, um dia eu estarei junto com o senhor na China”.
O Pe. Garelli foi para a China. Calisto tanto insistiu que, depois de
pouco tempo, conseguiu partir também. A mãe disse ao Pe. Garelli:
“De boa vontade deixo meu filho nas mãos de Dom Bosco”. E Calisto
escreveria: “Com todo o afeto de que sou capaz, eu te agradeço,
Senhor, por me teres dado uma mãe tão boa”. “Mamãe, uma notícia
que te dará alegria: esta manhã dei minha primeira aula de catecismo
em chinês.”
Calisto foi mandado para Macau. Depois de dois anos seu novo
destino foi a ilha do Timor, onde edificava a todos pela sua bondade
e pelo seu zelo apostólico. Escreveu: “Minha boa mãe, reza para que
o teu Calisto seja sacerdote por inteiro, não só pela metade”.
No dia 18 de maio de 1929, voltando a Shiuchow, D. Versiglia o
ordenou sacerdote e lhe confiou a missão de Linchow. Em pouco
tempo visitou todas as famílias e conquistou a simpatia dos meninos
das escolas.
De repente, a situação política da China entrou em ebulição. Quem
mais sofria eram os cristãos e os missionários estrangeiros. As perse-
guições não se fizeram esperar.
No dia 13 de fevereiro de 1929, Pe. Caravario estava em Shiuchow
para acompanhar o bispo na visita pastoral à sua missão de Linchow.
Durante a viagem, piratas eivados de ideologia bolchevista tentam
capturar as catequistas que estavam na barca dos missionários.
Pe. Calisto falou gentilmente com eles. Sem lhe dar ouvidos, es-
pancaram os dois missionários e os obrigaram a descer da barca.
Levaram-nos para uma mata. Ali, a poucos instantes da morte, Pe.
Caravario se confessou com D. Versiglia. Em seguida, foi fuzilado.
Era dia 25 de fevereiro de 1930. Oito anos antes, Pe. Caravario
dissera a D. Versiglia: “Um dia eu estarei junto com o senhor na Chi-
na”. Esteve. Na vida e na morte.

JOÃO PAULO II BEATIFICOU-O EM 15 DE MAIO DE 1983


E CANONIZOU-O EM 1º DE OUTUBRO DE 2000

25
L U Í S
ORIONE
1872 s 1940

L
uís Orione nasceu em Pontecurone, diocese de Tortona, Itália,
no dia 23 de junho de 1872. Em sua primeira adolescência aju-
dou o pai a pavimentar estradas até a idade de 13 anos.
Luís queria estudar para ser padre. Foi acolhido no convento fran-
ciscano de Voghera, mas precisou abandoná-lo por causa de uma
grave pneumonia. Passou, então, para o colégio de Valdocco, onde
conheceu Dom Bosco já ancião.
Teve o privilégio de se confessar com ele. Luís havia preparado
três cadernos inteiros de pecados. Dom Bosco, porém, os arrancou de
suas mãos e lhe disse: “Nós seremos sempre amigos”. Em Turim res-
pirou o espírito salesiano. Também conheceu perto do Oratório da

26
Pequena Casa da Divina Providência, obra imensa (pequena só de no-
me) da caridade de São José Bento Cottolengo em favor dos pobres.
Luís pensava continuamente nas palavras de Dom Bosco: “Nós sere-
mos sempre amigos”. Só depois de longa oração diante do túmulo do
Santo é que se convenceu de que Deus não o queria entre os salesianos.
Em 1889, iniciou os estudos de filosofia no seminário de Tortona.
Em 1892, ainda clérigo, abriu em Tortona um oratório e no ano se-
guinte um colégio. Em 1895 foi ordenado sacerdote. Durante a orde-
nação, o bispo deu a batina a seis alunos do seu colégio.
Começou a abrir obras em toda a Itália. Em 1903, o bispo de Tor-
tona reconheceu a Congregação religiosa masculina da Pequena Obra
da Divina Providência, composta de sacerdotes, irmãos coadjutores
e eremitas, com o carisma apostólico de “colaborar para levar ao Pa-
pa os pequenos, os pobres e o povo da Igreja, mediante as obras de
caridade”.
Depois do tremendo terremoto de 1908 na Sicília, socorreu Messi-
na e Reggio Calabria, acudindo aos órfãos e à população. Pio X o
nomeou vigário geral da diocese de Messina. Depois de ali cumprir
sua missão, voltou a ocupar-se com a expansão da Congregação. Por
ocasião da Primeira Guerra Mundial, ajudou a Itália inteira.
Em 1915, fundou o ramo feminino das Pequenas Irmãs Missioná-
rias da Caridade, às quais se somarão, em 1927, as Irmãs Sacramenti-
nas Adoradoras, cegas, e, sucessivamente, as Irmãs Contemplativas
de Jesus Crucificado. Mais tarde surgirá o Instituto Secular, seguido
pelo Movimento Laical Orionino. As fundações se difundiram por
boa parte do mundo, na América Latina, nos Estados Unidos, na In-
glaterra, na Albânia.
Em toda a sua vida, jamais esqueceu o modelo de Valdocco, a
ponto de repetir: “Caminharia sobre brasas, contanto que pudesse
ver ainda uma vez Dom Bosco e dizer-lhe: muito obrigado!”.
No dia 12 de março de 1940, Pe. Orione morreu numa casa da
Pequena Obra da Divina Providência, em Sanremo.

JOÃO PAULO II BEATIFICOU-O EM 26 DE OUTUBRO DE 1980


E CANONIZOU-O EM 16 DE MAIO DE 2004

27
BEM-AVENTURADOS
L U Í S
GUANELLA
1842 s 1915

L
uís Guanella nasceu em Fraciscio di Campodolcino em Val San
Giacomo, na província de Sondrio, Itália, no dia 19 de dezem-
bro de 1842. A particular situação geográfica da terra em que
cresceu forjou nele um sólido caráter: firmeza, temperança, espírito
de sacrifício. Distinguiu-se sempre pela sua grande fé, enriquecida e
alimentada pela piedade popular que aprendeu convivendo com os
simples e os pobres. Estudou no Colégio Gallio de Como e em vários
seminários diocesanos.
Em 1866 foi ordenado sacerdote e, pouco depois, nomeado pároco
de Savogno. Dedicou-se com muito zelo aos jovens, preocupando-se
com eles quanto à escola e revitalizando a Ação Católica.

30
Entrou em contato com Dom Bosco. Fascinado pelo carisma sale-
siano, tentou abrir um colégio para jovens, mas não obteve êxito.
Quis, de qualquer modo, ficar com Dom Bosco e em 1875 tornou-se
salesiano. Cuidou do Oratório São Luís, em Turim, e pouco depois foi
nomeado diretor do Colégio Dupraz, em Trinità (Cuneo).
Ficou na Congregação somente por três anos, porque Deus tinha dis-
posto diversamente: de fato o bispo o chamou de volta para a diocese.
Luís não tinha medo de defender seus jovens e seus pobres, mes-
mo perante as pretensões dos poderosos e dos políticos. Também por
esse motivo foi obrigado a fechar a escola para meninos pobres, aber-
ta em Traona.
Enviado pelo bispo para dirigir um asilo de idosos pobres, encon-
trou na obra um grupo de Ursulinas, que organizou em Congrega-
ção: as Filhas de Santa Maria da Providência. A nova Congregação se
dedicava à educação da juventude, especialmente a mais pobre e
marginalizada, à assistência dos doentes mentais e ao acompanha-
mento e à manutenção dos idosos abandonados.
Em Como, fundou a Casa da Divina Providência, em cujo centro
erigiu o santuário do Sagrado Coração. Apoiado pelo bispo, fundou
também o ramo masculino: os Servos da Caridade, também eles com
os mesmos objetivos.
Suas Congregações floresceram na Itália, na Suíça e nos Estados
Unidos. Para apoiar os moribundos, fundou a Pia União do Trânsito
de São José. Construiu diversas igrejas e obras para os emigrantes e
marginalizados.
O que ele aprendeu da experiência feita com Dom Bosco não foi
somente a predileção pelos jovens, que teve em toda a sua vida, mas
em particular a obediência sacrificada aos superiores. Como Dom
Bosco, foi obediente ao bispo, embora no sofrimento e na incom-
preensão. Morreu em Como no dia 24 de outubro de 1915.

PAULO VI DECLAROU-O VENERÁVEL EM 6 DE ABRIL DE 1962


E BEATIFICOU-O EM 25 DE OUTUBRO DE 1964

31
MIGUEL
RUA
1837 s 1910

M
iguel Rua nasceu em Turim, Itália, em 9 de junho de 1837.
Último de nove filhos, perdeu o pai quando tinha 9 anos de
idade. Estudou com os Irmãos das Escolas Cristãs até a ter-
ceira série elementar.
Deveria ter começado a trabalhar na Régia Fábrica de Armas de
Turim, onde o pai era operário, mas Dom Bosco – que aos domingos
confessava naquela escola – lhe propôs continuar os estudos com ele,
garantindo-lhe que a Providência pensaria nas despesas.
Um dia, Dom Bosco distribuía medalhas a seus meninos. Miguel
era o último da fila e chegou tarde, mas o ouviu dizer: “Toma,

32
Miguelzinho!”. O padre, porém, não lhe deu nada. Entretanto, acres-
centou: “Nós dois faremos tudo à meia”, e assim realmente foi.
Colaborador na Companhia da Imaculada junto com Domingos
Sávio, foi aluno modelo, apóstolo entre os colegas. Dom Bosco lhe
disse: “Preciso de ajuda. Você vestirá a batina dos clérigos, está de
acordo?”. “De acordo!”, respondeu. No dia 25 de março de 1855, no
quarto de Dom Bosco, Miguel emitiu nas mãos do Fundador os votos
de pobreza, castidade e obediência. Era o primeiro salesiano.
Miguel começou a trabalhar intensamente: ensinava matemática
e religião. Assistia no refeitório, no pátio, na capela. À noite, passava
a limpo as cartas e as publicações de Dom Bosco. Finalmente, estu-
dou para se tornar padre. Tinha só 17 anos!
Foi-lhe entregue também a direção do Oratório Festivo São Luís.
Em novembro de 1856, morreu Mamãe Margarida. Miguel foi visitar
sua própria mãe e lhe disse: “Mamãe, a senhora quer vir para o ora-
tório?”. Joana Maria veio, e também nisso a família Rua fez meio-a-
meio com a família Bosco. Ficou em Valdocco por vinte anos.
Em 1858, o clérigo Rua acompanhou Dom Bosco na audiência do
Papa Pio IX para a aprovação das Constituições. Na volta, foi-lhe con-
fiada a direção do primeiro oratório em Valdocco. No dia 28 de julho
de 1860 foi ordenado sacerdote. Dom Bosco lhe escreveu um bilhete:
“Você, mais do que eu, verá a Obra Salesiana atravessar os confins da
Itália e estabelecer-se no mundo”. Pe. Rua foi posto à frente da primei-
ra casa salesiana fora de Turim, em Mirabello. Poucos anos depois vol-
tou a Valdocco, substituiu e assistia a Dom Bosco em tudo.
Em novembro de 1884, Leão XIII nomeou Pe. Rua vigário e suces-
sor de Dom Bosco. Quatro anos mais tarde, o Santo morreria em seus
braços. A essa altura, Pe. Rua já era considerado uma Regra viva.
Mostrava-se paterno e amável, como Dom Bosco. Consolidou as mis-
sões e o espírito salesiano.
Morreu no dia 6 de abril de 1910, com 73 anos. Com ele, a Socieda-
de Salesiana tinha passado de 773 a 4 mil salesianos. E as inspetorias,
de 57 a 345, em 33 países. Paulo VI o beatificou, dizendo: “Da fonte,
ele fez um rio”.

PAULO VI DECLAROU-O VENERÁVEL EM 26 DE JUNHO DE 1953


E BEATIFICOU-O EM 29 DE OUTUBRO 1972

33
LAURA
VICUÑA
1891 s 1904

L
aura Vicuña nasceu em Santiago do Chile em 5 de abril de 1891,
de José Domingos e Mercedes Pino. Os Vicuña, família aristo-
crática chilena, foram obrigados ao exílio por causa de uma
revolução. Refugiaram-se em Temuco, numa casa pobre. Pouco de-
pois, José Domingos morreu improvisamente e Mercedes precisou
refugiar-se com as duas filhas na Argentina, em Junín de los Andes.
Ali, Mercedes conheceu o prepotente Manuel Mora e aceitou
transferir-se para sua fazenda, para trabalhar, mas também para
conviver com ele. Em 1900 Laura foi acolhida, junto com sua irmã
Júlia Amanda, no Colégio das Filhas de Maria Auxiliadora. Era uma
aluna modelo: empenhada na oração, atenta às indicações das irmãs,

34
disponível para com as colegas, sempre alegre e pronta a qualquer
sacrifício.
No ano seguinte, fez a primeira Comunhão, com o mesmo fervor
e os mesmos propósitos de Domingos Sávio, que escolhera como seu
modelo. Entrou para a Associação das Filhas de Maria.
Durante um catecismo sobre o sacramento do Matrimônio, Laura
compreendeu a situação de pecado da mãe, e improvisamente des-
maiou. Compreendeu também por que durante as férias na fazenda
a mãe a fazia rezar às escondidas, e por que não se aproximava dos
sacramentos. Desde então, Laura aumentou suas orações e seus sa-
crifícios pela conversão da mãe.
Nas férias de 1902, Manuel Mora insidiou a pureza de Laura. Ela
se recusou com firmeza, deixando-o furioso. Voltou para o Colégio,
como estudante e ao mesmo tempo auxiliar, pois não pagava pensão.
Pediu insistentemente para ser Filha de Maria Auxiliadora. Por causa
da situação da mãe, não foi aceita.
Ofereceu, então, sua vida a Deus para a conversão da mãe, au-
mentou sua ascese e, com o consentimento do confessor Pe. Augusto
César Crestanello, abraçou, com voto, os conselhos evangélicos. Já
consumida pelos sacrifícios e pela doença, foi espancada por Manuel
Mora ao rejeitar mais uma vez suas pretensões.
Em sua última noite, fez esta confidência: “Mamãe, eu morro! Faz
tempo que o pedi a Jesus, oferecendo-lhe a minha vida por ti, para
obter teu retorno a Deus... Mamãe, antes da morte não terei a alegria
de ver-te arrependida?”. “Laura", respondeu Mercedes, "eu juro que
farei tudo o que você pede”.
Com essa alegria, morreu no dia 22 de janeiro de 1904. Seu corpo
repousa na capela das Filhas de Maria Auxiliadora, em Bahía Blanca.
No centenário da morte de Dom Bosco, Laura, que tinha dado a vida
pela virtude mais cara ao Mestre, foi beatificada por João Paulo II em
Castelnuovo Don Bosco, na presença de milhares de jovens.

PAULO VI DECLAROU-A VENERÁVEL EM 5 DE JUNHO DE 1966


E JOÃO PAULO II BEATIFICOU-A EM 3 DE SETEMBRO DE 1988

35
FELIPE
RINALDI
1856 s 1931

F
elipe Rinaldi nasceu em Lu Monferrato, na província de Ales-
sandria, Itália, no dia 28 de maio de 1856. Era o oitavo de nove
filhos. Ainda criança, conheceu Dom Bosco em sua própria ter-
ra quando o Santo passeava ali com seus meninos.
Aos 10 anos, o pai mandou-o para o colégio de Mirabello, mas
Felipe não quis ficar e, poucos meses depois, o deixou. Dom Bosco
lhe escreveu e procurou convencê-lo a voltar, mas Felipe foi irredutí-
vel. Em 1874, Dom Bosco foi a Lu, tentou persuadi-lo a ir com ele
para Turim, mas sem sucesso. Três anos mais tarde, finalmente, con-
seguiria convencê-lo e, aos 21 anos, Felipe começou em Sampierda-
rena o caminho para vocações adultas.

36
Em 1880, depois do noviciado, emitiu os votos perpétuos nas
mãos do próprio Dom Bosco. Graças à santa insistência do Fundador,
em dezembro de 1882, Felipe respondeu ao chamado do Senhor e foi
ordenado sacerdote. Depois de pouco tempo, Dom Bosco o nomeou
diretor de Mathi, um colégio para vocações adultas, que mais tarde
transferia para Turim.
A poucos dias da morte de Dom Bosco, Pe. Rinaldi quis confessar-
se com ele. Antes de absolvê-lo, já quase sem forças, o Santo lhe disse
somente uma palavra: “Meditação”.
Em 1889, Pe. Miguel Rua o nomeou diretor de Barcelona: “Deve-
rás resolver assuntos bastante delicados”, lhe disse. Em três anos,
com a oração, a mansidão, uma presença paterna e animadora entre
os jovens e na comunidade salesiana, levantou aquela obra. Foi no-
meado inspetor da Espanha e de Portugal. Em nove anos, graças
também à ajuda econômica da venerável Dorotéia Chopitea, Pe.
Rinaldi fundou 16 casas.
Pe. Rua, depois de uma visita, ficou impressionado e, em seguida,
o nomeou Prefeito geral da Congregação. Em seu novo encargo, Pe.
Rinaldi continuou a trabalhar com zelo, sem jamais renunciar a seu
ministério sacerdotal. Cumpriu sua missão de governo com prudên-
cia, caridade e inteligência.
Depois da morte do Pe. Rua, Pe. Paulo Albera, terceiro sucessor de
Dom Bosco, o confirmou Prefeito geral e nomeou seu Vigário.
Em 1921, foi eleito terceiro sucessor de Dom Bosco. Deu enorme im-
pulso às missões: fundou institutos missionários, revistas e associa-
ções. Durante seu reitorado partiram para todo o mundo mais de
1.800 salesianos. Fez muitas viagens pela Itália e pela Europa.
Instituiu a Associação dos Ex-alunos e fundou o Instituto Secular
das Voluntárias de Dom Bosco. Obteve de Pio XI a indulgência do tra-
balho santificado. Mestre de vida espiritual, reanimou a vida interior
dos salesianos, mostrando profunda intimidade com Deus e ilimitada
confiança em Maria Auxiliadora. O grande salesiano Pe. Francesia dis-
se: “Ao Pe. Rinaldi, só faltava a voz de Dom Bosco”. Morreu no dia
5 de dezembro de 1931, enquanto lia a vida do Pe. Rua.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 3 DE JANEIRO DE 1987


E BEATIFICOU-O EM 29 DE ABRIL DE 1990

37
MADALENA
MORANO
1847 s 1908

M
adalena Catarina Morano nasceu em Chieri, na província de
Turim, Itália, no dia 15 de novembro de 1847. Aos 8 anos,
perdeu o pai, Francisco, e começou a ajudar a mãe no traba-
lho. Retomou os estudos graças ao tio, que era padre. A professora a
encarregava de ajudar as menorzinhas.
Entretanto, encontrou-se pela primeira vez com Dom Bosco, que
estava de passagem por Buttigliera d’Asti. Madalena sentiu-se incli-
nada ao magistério e, aos 17 anos, conseguiu o diploma de professo-
ra. Com 19 anos, começou a lecionar em Montaldo Rotinese, o que
faria com diligência e competência por quatorze anos, conquistando
o respeito e a estima de todo o povoado.

38
Madalena se aconselhou com seu diretor espiritual. Com suas
economias, comprou uma casa para a mãe. Em seguida, foi conver-
sar com Dom Bosco, que a encaminhou a Mornese, onde Madre
Mazzarello a acolheu com festa. Foi imediatamente encarregada de
ensinar. Em 1880 se consagrou a Deus com os votos perpétuos e
pediu a Deus a graça de “permanecer em vida enquanto não com-
pletasse a medida da santidade”.
Em 1881, a pedido do arcebispo de Catania, Madalena foi enviada
para dirigir a nova obra de Trecastagni. Por quatro anos, dirigiu, en-
sinou, lavou, cozinhou. Era catequista, mas, sobretudo, testemunha,
a ponto de as meninas começarem a bater à sua porta, dizendo: “Que-
remos ser como a senhora”.
Depois da pausa de um ano em Turim, onde dirigiu a casa das
Filhas de Maria Auxiliadora de Valdocco, voltou à Sicília como Visi-
tadora, diretora e mestra das noviças. Tinha a missão de fundar no-
vas casas e formar irmãs santas. Voltando constantemente “um olhar
para a terra e dez para o céu”, abriu escolas, oratórios, internatos e
oficinas em muitos lugares da ilha.
Surgiram numerosas vocações, atraídas pelo seu zelo apostólico e
pelo clima de comunhão que se lhe criava em torno. Seu múltiplo
apostolado era apreciado e encorajado pelos bispos. Em Catania,
confiaram-lhe a Obra dos Catecismos, a fundação de novos oratórios
e o Internato Magisterial.
Devotíssima de São José e de Maria Auxiliadora, que a guiaram
nas novas fundações, conseguiu assimilar fielmente o carisma de
Dom Bosco e o Sistema Preventivo. Com a saúde minada por um
tumor, morreu em Catania no dia 26 de março de 1908. À sua morte,
as casas da Sicília eram 18, as irmãs 142, as noviças 20, as postulantes
9. Seu corpo é venerado em Alì Terme (Catania).

JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 1º DE SETEMBRO DE 1988


E BEATIFICOU-A EM 5 DE NOVEMBRO DE 1994

39
J O S É
KOWALSKI
1911 s 1942

J
osé Kowalski nasceu em Siedliska, perto de Rzeszów, na Polô-
nia, em 13 de março de 1911, de Wojciech e Sofia Borowiec, séti-
mo de nove filhos. Seus pais, católicos praticantes, eram campo-
neses, donos de modesta propriedade.
Depois da escola primária, inscreveram-no no colégio salesiano
de Oswiecim (Auschwitz). José logo se distinguiu pelo empenho no
estudo e no trabalho, e pela alegria sincera. Entrou para a Compa-
nhia da Imaculada e a Associação Missionária, tornando-se seu pre-
sidente. Encantou-se com o carisma salesiano e com Dom Bosco, de
quem procurou imitar o exemplo: empenho na animação alegre das
festas religiosas e civis, presença apostólica no meio dos colegas, em
particular, o primado da vida espiritual.

40
Ainda jovem estudante, começou a redigir seu diário, no qual res-
salta sua devoção a Maria Auxiliadora e à Eucaristia: “Ó minha Mãe",
escreveu, "eu devo ser santo porque esse é o meu destino. Ó Jesus,
ofereço a ti meu pobre coração (...). Faze que eu jamais me afaste de
ti e que até à morte permaneça fiel: antes morrer que te ofender, nem
mesmo com um pequeno pecado. Eu devo ser um salesiano santo,
como foi meu pai Dom Bosco”.
Emitiu a profissão temporária em 1928 em Czerwinsk e recebeu a
ordenação sacerdotal em 29 de maio de 1938 em Cracóvia. Foi nomea-
do secretário inspetorial. Cuidava de um coral juvenil na paróquia e
se ocupava com os jovens mais difíceis.
Em 1939, a Polônia foi ocupada, mas os salesianos continuaram
seu trabalho educativo. Esta foi a razão principal da dramática prisão
do Pe. Kowalski, ocorrida no dia 23 de maio de 1941. A Gestapo o
capturou junto com outros 11 salesianos que trabalhavam em Cracó-
via. Inicialmente foi internado na prisão de Montelupich, na própria
cidade; de lá, no dia 26 de junho, foi transferido para o campo de
concentração de Auschwitz, identificado sob o número 17.350.
Na prisão se dedicou secretamente ao apostolado: confessava, cele-
brava missa, recitava o terço, fazia conferências às escondidas – também
sobre Dom Bosco –, reforçando nos colegas de prisão a vontade de lutar
para sobreviver. Enfrentou sofrimentos, vexações e humilhações.
Descoberto com o terço na mão, recusou-se a pisá-lo, acelerando
assim o martírio, que se deu em Auschwitz no dia 4 de julho de 1942.
Seu corpo, primeiro, foi atirado na cloaca, depois queimado no cre-
matório do campo.
Seus co-nacionais começaram a venerar sua memória, certos de
que seu sacrifício tinha fecundado as vocações polonesas. Também o
Papa João Paulo II pensava assim, e se interessou pessoalmente pela
causa dos diversos mártires poloneses que, com José Kowalski, quis
beatificar em Varsóvia no dia 13 de junho de 1999.

JOÃO PAULO II EMITIU O DECRETO DE MARTÍRIO


EM 26 DE MARÇO DE 1999
E BEATIFICOU-O EM 13 DE JUNHO DE 1999

41
FRANCISCO
KESY
E 4 COMPANHEIROS
1920 s 1942

N
o dia 1º de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia, dando
início à Segunda Guerra Mundial. A casa salesiana de Poz-
nan, na rua Wroniecka, foi ocupada pelos soldados alemães e
transformada em depósito. Os jovens continuavam a reunir-se nos
jardins fora da cidade e nos bosques vizinhos. Surgiram numerosas
associações secretas.
Em setembro de 1940, Francisco Kesy e quatro colegas oratorianos
foram presos sob acusação de pertencer a uma organização ilegal.
Levados para a temível Fortaleza VII na própria cidade de Poznan,
sofreram torturas e passaram por interrogatórios. Transferidos para
diversas outras prisões, nem sempre tiveram a sorte de ficar juntos.

42
Reconduzidos a Poznan, enfrentaram um processo e receberam a
sentença de condenação à morte. Morreram guilhotinados em Dres-
den no dia 24 de agosto de 1942.
Viveram o longo tempo de prisão em espírito de fé e espiritualida-
de salesiana. Rezavam continuamente: orações da manhã e da noite,
terço, novenas a Dom Bosco e a Maria Auxiliadora. Procuravam
manter-se em contato com as próprias famílias por meio de mensa-
gens que às vezes conseguiam enviar em segredo. Davam ânimo a
seus parentes, pediam e prometiam orações. Quando podiam, ani-
mavam com alegria as festas litúrgicas passadas na cela. Sua fé nunca
vacilou. Foram testemunhas autênticas até a morte.
Francisco Kesy nasceu em Berlim no dia 13 de novembro de 1920. A família se transferiu
para Poznan por causa do trabalho do pai. Francisco era aspirante no seminário menor dos
Salesianos em Lad. Durante a ocupação, não podendo continuar os estudos, empregou-se num
estabelecimento industrial. Passava o tempo livre no oratório, onde, em estreita amizade de
ideais com os outros quatro, animava as associações e as atividades juvenis.
Dele se diz que era muito sensível, mas ao mesmo tempo alegre, tranqüilo, simpático,
sempre disposto a ajudar os outros. Comungava quase todos os dias; à tarde recitava o terço.
“Em Wronki, dado que eu estava sozinho na cela", escreveu em mensagens à família, "tive
tempo para me examinar. Prometi viver de forma diversa, como nos recomendou Dom Bosco,
viver para agradar a Deus e à sua Mãe, Maria Santíssima. Peço a Deus que todas essas tribula-
ções e sofrimentos toquem a mim, não a vocês”.
Ceslau Józwiak nasceu em Lazynie no dia 7 de setembro de 1919. Era de temperamento
um pouco irascível, mas espontâneo, cheio de energia, dono de si, pronto ao sacrifício, coeren-
te e positivamente veraz. Notava-se que aspirava à perfeição cristã e a nela progredir. Um co-
lega de prisão escreveu: “Tinha bom caráter e bom coração, sua alma era como um cristal...
Confiou-me uma preocupação: jamais manchar-se com alguma impureza”.
Eduardo Kazmierski nasceu em Poznan no dia 1º de outubro de 1919. Eram características
suas a sobriedade, a prudência e a bondade. No oratório pôde desenvolver dotes musicais não
comuns. A vida religiosa que se respirava em sua família e nos Salesianos conduziu-o rapida-
mente à maturidade. Durante a prisão demonstrou grande amor aos companheiros mais ve-
lhos. Foi livre de qualquer sentimento de ódio aos perseguidores.
Eduardo Klinik nasceu em Bochum no dia 21 de junho de 1919. Tímido e tranqüilo, tor-
nou-se mais vivaz quando entrou no oratório salesiano. Era um estudante sistemático e respon-
sável. Distinguia-se porque se comprometia seriamente em qualquer atividade. Dava a impres-
são de ser o mais sério e profundo.
Jarogniew Wojciechowski nasceu em Poznan no dia 5 de novembro de 1922. Era medita-
tivo, tendia a aprofundar a visão das coisas para compreender os acontecimentos. Era um
animador no melhor sentido da palavra. Distinguia-se pelo seu bom humor, pelo empenho e
pelo testemunho.

JOÃO PAULO II EMITIU O DECRETO DE MARTÍRIO


EM 26 DE MARÇO DE 1999
E BEATIFICOU-OS EM 13 DE JUNHO DE 1999

43
PIO IX
1792 s 1878

J
oão Maria Mastai Ferretti – Papa Pio IX – foi o nono filho do
conde Jerônimo e de Caterina Sollazzi. Nasceu em Senigallia,
Itália, no dia 13 de maio de 1792. Entre 1803 e 1808 foi aluno dos
escolápios no Colégio dos Nobres, em Volterra.
Queria tornar-se sacerdote, mas improvisos ataques de epilepsia o
forçaram a interromper os estudos. Em 1815, em Loreto, obteve a graça
da cura. Retomou os estudos teológicos e foi ordenado sacerdote em
1819. Em 1823, por dois anos, esteve como missionário no Chile.
Com apenas 35 anos foi nomeado arcebispo de Spoleto, depois,
em 1832, de Imola. Em 1840, o Papa lhe conferiu o cardinalato e no
dia 16 de junho de 1846, com 54 anos, foi eleito Sumo Pontífice.

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Logo após a eleição, promoveu numerosas reformas nos Estados
Pontifícios (liberdade de imprensa, liberdade para os judeus, início
das estradas de ferro, concessão de uma Constituição), mas quando,
em 1848, se negou a apoiar a guerra contra a Áustria começaram as
“perseguições”.
São João Bosco teve a primeira audiência com Pio IX no dia 9 de
março de 1858. Ambos tiveram a impressão mútua de encontrar um
santo. Pio IX apoiou e orientou Dom Bosco na fundação da Congre-
gação Salesiana. Sugeriu-lhe que a denominasse Sociedade, para que
estivesse em sintonia com os tempos; que os salesianos emitissem os
votos, não, porém, solenes; aconselhou que a roupa fosse simples e as
práticas de piedade intensas, todavia não muito complexas. Conven-
ceu Dom Bosco a escrever suas Memórias, como herança espiritual
para os salesianos. Durante seu pontificado aprovou as Constituições
e a Sociedade Salesiana, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora
e a Pia União dos Cooperadores Salesianos, da qual foi o primeiro
inscrito.
Dom Bosco muito amou Pio IX e aceitou todos os seus conselhos,
também quando lhe custavam grandes sacrifícios: “Estou disposto a
enfrentar qualquer fadiga”, dizia, “quando se trata do papado e da
Igreja”. Mas também o Pontífice tinha grande estima por Dom Bosco.
Diversas vezes o chamou a Roma para pedir-lhe ajuda a respeito de
assuntos muito delicados.
No dia 8 de dezembro de 1854 definiu o dogma da Imaculada
Conceição. Em 1869 convocou o Concílio Vaticano I. No dia 8 de de-
zembro de 1870 proclamou São José patrono da Igreja universal.
Morreu no dia 7 de fevereiro de 1878, depois de trinta e dois anos
de Pontificado. João Paulo II o beatificou junto com o “Papa bom”
João XXIII.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 6 DE JULHO DE 1985


E BEATIFICOU-O EM 3 DE SETEMBRO DE 2000

45
J O S É
CALASANZ
E 31 COMPANHEIROS

E
ntre 1936 e 1939, a Espanha enfrentou dramática e sangrenta guerra
civil: um conflito carregado de ásperos antagonismos ideológicos.
Pagou a conta a Igreja espanhola, que, sobretudo por parte das for-
ças dos anárquicos e dos milicianos, sofreu violenta perseguição.
Foram massacrados milhares de sacerdotes, religiosos, religiosas
e leigos, só por serem cristãos. Entre eles havia também numerosos
membros da Família Salesiana: 39 sacerdotes, 22 clérigos, 24 coadju-
tores, 2 Filhas de Maria Auxiliadora, 4 salesianos cooperadores, 3 as-
pirantes salesianos e 1 colaborador leigo: 95 no total.
Deu-se início a três causas distintas de martírio, que depois se redu-
ziram a duas: uma para o grupo de Valencia – 32 mártires –, tendo à

46
frente Pe. José Calasanz; outra para os dois grupos de Sevilha e Madri –
63 mártires –, à frente, Pe. Henrique Saiz Aparicio. O primeiro grupo foi
beatificado no dia 11 de março de 2001, com outros mártires da diocese
de Valencia; o segundo grupo foi beatificado no dia 28 de outubro de
2007, com mártires – 435! – de várias dioceses da Espanha.
Pe. José Calasanz Marqués (1872-1936) nasceu em Azanuy. Em
1886, em Sarriá, viu Dom Bosco já cansado e sofrendo. Tornou-se
salesiano em 1890 e, cinco anos mais tarde, sacerdote. Foi secretário
do Pe. Rinaldi e em seguida superior da inspetoria do Peru-Bolívia.
Voltando à Espanha, foi nomeado superior da inspetoria Tarrago-
nense (Barcelona-Valencia). Homem de grande coração, muito traba-
lhador, desde o início se preocupou com a salvação dos seus irmãos.
Capturado junto com outros salesianos enquanto presidia em Valen-
cia o retiro espiritual, durante a viagem um tiro de fuzil na cabeça
consumou seu martírio.
Eis a lista dos mártires salesianos. Todos foram sacrificados em
1936, menos um, em 1938 (entre parênteses, o ano de nascimento):
Sacerdotes: José Batalla Parramón (1873), José Bonet Nadal (1875), Jaime Bonet Nadal
(1884), Antônio Martín Hernández (1885), Sérgio Cid Pazo (1886), João Martorell Soria
(1889), Júlio Junyer Padern (1892), Ricardo de los Ríos Fabregat (1893), Francisco Bandrés
Sánchez (1896), Juliano Rodríguez Sánchez (1896), José Otín Aquilué (1901-1938), José
Castell Camps (1901), José Giménez López (1904), Álvaro Sanjuán Canet (1908), José Ca-
selles Moncho (1907).
Irmãos salesianos (coadjutores): José Rabasa Bentanachs (1862), Ângelo Ramos Ve-
lásquez (1876), Egídio Rodicio Rodicio (1888), Jaime Buch Canals (1889), Agostinho Gar-
cía Calvo (1905), Eliseu García García (1907), Jaime Ortiz Alzueta (1913).
Clérigos: Miguel Domingo Cendra (1909), Félix Vivet Trabal (1911), Pedro Mesonero
Rodríguez (1912), Felipe Hernández Martínez (1913), Zacarias Abadía Buesa (1913), Fran-
cisco Xavier Bordas Piferrer (1914).
Colaborador leigo: Alexandre Planas Saurí (1878).
Filhas de Maria Auxiliadora: Maria Carmem Moreno Benítez (1885, Vigária Inspetorial:
foi diretora e confidente da Beata Eusébia Palomino, que lhe profetizou o martírio), Maria
Amparo Carbonell Muñoz (1893).

JOÃO PAULO II EMITIU O DECRETO DE MARTÍRIO


EM 20 DE DEZEMBRO DE 1999
E BEATIFICOU-OS EM 11 DE MARÇO DE 2001

47
L U Í S
VARIARA
1875 s 1923

L
uís Variara nasceu em Viarigi, na província de Asti, Itália, no
dia 15 de janeiro de 1875. Sua família era profundamente cristã.
O pai, Pedro, tinha ouvido Dom Bosco falar em 1856 quando
viera até o povoado para pregar uma missão. Decidiu, então, levar
Luís a Valdocco para que continuasse ali seus estudos.
O Santo morreria quatro meses mais tarde. Mas o conhecimento
que o pequeno Luís teve de Dom Bosco bastou para marcá-lo por
toda a vida. Terminado o ginásio, pediu para ser salesiano. Entrou
para o noviciado em 17 de agosto de 1891. Variara estudou filosofia
em Valsalice, onde conheceu Pe. André Beltrami. Muito o impressio-
nou a alegria com que enfrentava sua enfermidade.

48
Em 1894, Pe. Miguel Unia, célebre missionário dos leprosos de
Agua de Dios, estava em Valsalice para escolher um clérigo que se
ocupasse dos jovens leprosos. Entre 188 colegas que tinham a mesma
aspiração, fixando o olhar em Variara, disse: “Esse é meu”.
Luís chegou a Agua de Dios no dia 6 de agosto de 1894. O lepro-
sário tinha 2 mil habitantes, dos quais 800 leprosos. Apenas chegou,
Luís se tornou a alma dos doentes, de modo especial das crianças.
Organizou uma banda musical, animando os doentes com um ines-
perado clima de festa.
Em 1895 morreu Pe. Unia. Luís ficou sozinho com Pe. Rafael
Crippa. Em 1898 foi ordenado sacerdote. Imediatamente se revelou
um ótimo diretor espiritual. Em 1905 terminou a construção do "Asilo
Padre Unia”, um internato capaz de hospedar até 150 órfãos e lepro-
sos, e de garantir-lhes a aprendizagem de um trabalho e uma futura
inserção na sociedade.
Em Agua de Dios, junto às Irmãs da Providência, tinha surgido
uma Associação das Filhas de Maria, um grupo de 200 moças. Pe.
Luís era seu confessor. Descobriu no grupo algumas que se sentiam
chamadas à vida religiosa. Nasceu assim o ousado projeto – coisa
única na Igreja – de um instituto que permitisse aceitar também
doentes de lepra. Inspirando-se na espiritualidade do Pe. Beltrami,
desenvolveu o carisma salesiano de viver como vítima e fundou a
Congregação das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, que
hoje conta com 600 religiosas.
Essa fundação lhe causou muitos sofrimentos por causa da in-
compreensão das pessoas e de alguns superiores, que, diversas ve-
zes, julgaram oportuno afastá-lo de Agua de Dios. Como Dom Bosco,
foi exemplar na obediência. Perante as calúnias, jamais pronunciou
palavra. Era crível porque obediente. Pe. Rua, desde Turim, o enco-
rajava. Morreu em Cucuta, na Colômbia, no dia 1º de fevereiro de
1923, longe de seus queridos doentes, como a obediência tinha deter-
minado. Hoje repousa em Agua de Dios, na capela de suas Filhas.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 2 DE ABRIL DE 1993


E BEATIFICOU-O EM 14 DE ABRIL DE 2002

49
ARTÊMIDES
Z AT T I
18 8 0 s 19 51

A
rtêmides Zatti nasceu em Boretto, província de Reggio Emilia,
Itália, no dia 12 de outubro de 1880, de Luís Zatti e Albina
Vecchi, uma família de agricultores. Desde pequeno foi acos-
tumado ao trabalho e ao sacrifício. Com 9 anos já ganhava o dia como
trabalhador braçal.
Em 1897, a família Zatti, pressionada pela pobreza, emigrou para
a Argentina e se estabeleceu em Bahía Blanca. Ali Artêmides começa
a freqüentar a paróquia dos salesianos e se tornou colaborador do
pároco, Pe. Carlos Cavalli, com o qual muitas vezes partilhava o tra-
balho e a oração. Sentiu o desejo de se tornar salesiano; foi aceito co-
mo aspirante pelo futuro Card. João Cagliero e, com a idade de 20
anos, foi para a casa de Bernal. Ali começou a estudar com empenho
para recuperar os anos perdidos.
50
A Providência lhe confiou a missão de cuidar de um jovem padre
doente de tuberculose, que morreu em 1902. No dia em que Artêmi-
des deveria receber a batina, também ele contraiu a doença. Voltando
para casa, o Pe. Carlos Cavalli o encaminhou ao hospital missionário
de Viedma.
Pe. Evásio Garrone, valendo-se de sua experiência amadurecida no
exército, dirigia o hospital. Junto com ele, Artêmides pediu a Maria
Auxiliadora a graça da cura, com a promessa de que, se fosse curado,
dedicaria toda a sua vida ao cuidado dos doentes. Curou-se e manteve
a promessa. Começou por ocupar-se com a farmácia anexa ao hospital,
onde aprendeu a lógica do Pe. Garrone: só paga quem pode.
Quando faleceu Pe. Garrone, toda a responsabilidade passou às
suas mãos. Em 1908 emitiu os votos perpétuos. Foi de uma doação
absoluta aos seus doentes. As pessoas o procuravam e estimavam.
Para o pessoal qualificado do hospital, era não só um ótimo dirigen-
te, mas sobretudo um grande cristão.
Há quem descreva assim seu dia: “Às 4 e meia já está de pé. Me-
ditação e Missa. Passa por todas as repartições. Em seguida, de bici-
cleta, vai visitar os doentes da cidade. Depois do almoço, entusiástica
partida de bochas com os convalescentes. Das 2 às 6 da tarde, nova
visita aos doentes do hospital e aos da cidade. Até às 8, trabalha na
farmácia. Outra passagem pelos corredores do hospital. Estuda me-
dicina até às 11 da noite. Finalmente, leitura espiritual. Em seguida,
dorme, mas sempre atento a qualquer chamada”.
Obteve o diploma de enfermeiro. Em 1913 foi o animador da cons-
trução do novo hospital, que depois, para sua tristeza, foi demolido.
Sem desanimar, levantou outro.
Como Dom Bosco, fez da Providência sua primeira e garantida
doadora para cobrir o orçamento das obras a ele confiadas. Maria
Auxiliadora nunca o abandonou. Quando Dom Bosco pensava como
deveriam ser os seus coadjutores salesianos, certamente os desejava
santos como Artêmides. Em 1950, caiu da escada, foi forçado ao re-
pouso. Depois de alguns meses manifestaram-se os sintomas de um
câncer. Faleceu no dia 15 de março de 1951. Seu corpo repousa na
capela dos salesianos de Viedma, na Argentina.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 7 DE JULHO DE 1997


E BEATIFICOU-O EM 14 DE ABRIL DE 2002

51
M A R I A
ROMERO
19 0 2 s 19 7 7

M
aria Romero Meneses nasceu em Granada, Nicarágua, no
dia 13 de janeiro de 1902, numa família de grande bem-es-
tar. O pai, ministro do governo republicano, era muito gene-
roso com os pobres. Maria aprendeu desde criança o que significa
fazer a caridade concreta também nas dificuldades.
A família sonhava um futuro brilhante para ela: estudou música,
piano e violino. Com 12 anos, entrou para o colégio das Filhas de
Maria Auxiliadora, onde se mostrava disponível e alegre. Parecia-lhe
que o carisma de Dom Bosco fora feito sob medida para ela. No no-
viciado ensinava música e trabalhava no oratório festivo, onde tocou
com suas mãos, pela primeira vez, a pobreza das meninas.

52
Feitos os votos perpétuos, foi enviada a São José da Costa Rica,
que se tornou sua segunda pátria. Sua missão era ensinar no colégio
das meninas ricas. Como Dom Bosco, porém, ela procurava particu-
larmente “meninos pobres e abandonados”. Escolhendo entre suas
melhores alunas, formou algumas discípulas para a Obra dos Orató-
rios. Chamava-as de “as pequenas missionárias”: passavam pelos
barracos dos pobres, ajudavam na limpeza, levavam comida e roupa
recolhidas pela Irmã Maria e davam catequese. Depois começou a
fundar oratórios festivos para os meninos mais pobres: tinha 36!
Maria Auxiliadora, que chamava de “minha Rainha”, lhe mandava
abundantes ofertas para sustentar suas obras. Para garantir a assistência
médico-farmacêutica, graças à ajuda voluntária de médicos especialistas
conseguiu criar um ambulatório com diversas especialidades. Enquanto
as pessoas esperavam para ser atendidas, encontravam à disposição sa-
las para catequese e alfabetização, e uma capela para rezar.
Fez construir casas “verdadeiras” para as famílias sem teto, as
“ciudadelas Maria Auxiliadora”, obra que continua ainda hoje por
meio da Associação Leiga Ajuda aos Necessitados (Asaune).
Quis que se levantasse uma igreja no centro de São José, a capital,
para propagar a devoção salesiana a Maria Auxiliadora. Realizou
grandes coisas com sua fé e com a colaboração de pessoas ricas, con-
quistadas para a sua causa depois de terem provado os efeitos da
devoção mariana.
Como Dom Bosco e Madre Mazzarello, foi contemplativa na ação.
Sua união com Deus fazia que fosse procurada como conselheira es-
piritual. Imprimiram-se vários volumes de seus Escritos espirituais.
Morreu de infarto no dia 7 de julho de 1977. O governo da Costa Rica
a declarou cidadã honorária da nação. Seu corpo repousa em São
José da Costa Rica, junto à grande obra fundada por ela com o nome
de “Casa da Virgem e Obra Social.

JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 18 DE DEZEMBRO DE 2000


E BEATIFICOU-A EM 14 DE ABRIL DE 2002

53
AUGUSTO
CZARTORYSKI
1858 s 1893

A
ugusto Czartoryski, príncipe polonês, nasceu no exílio, em Paris,
França, no dia 2 de agosto de 1858. Era filho do príncipe Ladislau
e da princesa Maria Amparo, filha da rainha da Espanha.
Havia uns trinta anos que a nobre estirpe dos Czartoryski, ligada
aos interesses dinásticos da Polônia, tinha emigrado para a Espanha.
Desde o exílio, o príncipe Ladislau procurava restaurar a unidade da
pátria desmembrada em 1795. Aos 6 anos, Augusto perdeu a mãe.
Ocupou seu lugar Margarida de Orléans, filha do conde de Paris,
pretendente ao trono da França.
Desde pequeno, Augusto se mostrou um menino bom e reflexivo.
Embora estreitamente ligado à sua amada Polônia, jamais se viu
atraído pela vida da corte. A ação da graça em sua alma o levou ao
desapego dos bens terrenos e a uma vida espiritual profunda.
54
Quando tinha entre 10 e 17 anos estudou em Paris e em Cracóvia,
mas sua saúde frágil o obrigou a interromper os estudos e a deslocar-
se continuamente no Sul da Europa em busca de climas melhores.
Naqueles anos, a Providência lhe pôs ao lado um preceptor, Rafael
José Kalinowski, que o guiou com prudência não só nos estudos, mas so-
bretudo na vida espiritual. Em seguida Kalinowski se tornou carmelita e
sacerdote, e hoje a Igreja o venera entre os santos. O preceptor descreve
seu aluno como um jovem de humor estável, dotado de grande bondade,
cortês, sincero, inteligente, muito religioso, simples de coração.
Em maio de 1883, Dom Bosco estava na França. Foi convidado ao
Palácio Lambert pela princesa Margarida de Orléans. Augusto ajuda-
va na Missa, e o Santo lhe disse: “Faz muito tempo que desejava co-
nhecê-lo”. O príncipe ficou eletrizado com aquele encontro. A seguir,
foi diversas vezes a Turim, Itália, para visitar Dom Bosco. Pedia-lhe
com insistência para fazer parte dos salesianos, mas o Fundador não
estava convencido. Augusto falou com o Papa Leão XIII, que convi-
dou Dom Bosco a aceitar o príncipe.
Em julho de 1887, depois de ter renunciado a todos os seus bens e
à possibilidade do trono, contra o parecer da família, entrou final-
mente para o noviciado. Tinha 29 anos. Procurou adaptar-se aos ho-
rários e ao estilo de vida, tornar-se o mais humilde dos noviços. Dom
Bosco, quase à morte, abençoou sua batina. Começou os estudos de
filosofia. Logo, porém, voltou sua doença, a tuberculose.
Na casa de Valsalice, em Turim, encontrou Pe. André Beltrami. Os
dois criaram uma profunda amizade espiritual enquanto André cuida-
va de Augusto, doente. Entretanto, Pe. Miguel Rua o fez estudar teolo-
gia e o admitiu às Ordens sagradas. Quando foi ordenado sacerdote em
Sanremo, no dia 2 de abril de 1892, sua família esteve voluntariamente
ausente: usara todos os meios para fazê-lo sair da Congregação.
Augusto encarnou plenamente a espiritualidade salesiana, em
particular a dimensão do sacrifício e da oferta da própria vida e do
sofrimento pelo bem dos jovens e da Congregação. Morreu com 35
anos em Alassio, no dia 8 de abril de 1893, sábado da oitava de Pás-
coa. “Que bela Páscoa!”, exclamara, pouco antes. Seu corpo é venera-
do em Przemysl (Polônia).

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 1º DE DEZEMBRO DE 1978


E BEATIFICOU-O EM 25 DE ABRIL DE 2004

55
EU S ÉBIA
PALOMINO
1899 s 1935

E
usébia Palomino Yenes nasceu em Cantalpino, na província de
Salamanca, região oeste da Espanha, no dia 15 de dezembro de
1899.
A família de Agostinho Palomino, autêntico homem de fé, era
muito pobre. Em alguns períodos do ano, Eusébia e o pai eram obri-
gados a pedir esmola nos povoados vizinhos, mas o faziam com uma
alegria e uma fé realmente singulares. Naquelas longas caminhadas,
Agostinho ensinava o catecismo à filha, ávida de conhecer os misté-
rios do Senhor. Na família de Eusébia, todos trabalhavam e todos se
amavam. Viveu intensamente o dia de sua primeira Comunhão.

56
Em seguida, foi trabalhar numa família de posses. Não cedeu às
tentações da adolescência, pondo sempre em primeiro lugar seu amigo
Jesus. Daí passou para Salamanca, primeiro como babá, depois como
assistente num internato. Desejava tanto ser religiosa! Um dia, carpin-
do, encontrou uma medalha de Nossa Senhora Auxiliadora.
Num outro dia, uma amiga misteriosa a conduziu ao oratório das
Irmãs, que a convidaram a ficar com elas como ajudante. Estranhamen-
te, a cozinha se tornava meta das educandas, que iam visitar aquela co-
zinheira ignorante, mas que tinha sempre uma boa palavra para elas.
Chegou a Salamanca a Madre Vigária, que a aceitou entre as pos-
tulantes. Eusébia fez o noviciado em Barcelona, edificando as colegas
com sua humildade e seu sorriso. Tornando-se Filha de Maria Auxi-
liadora em 1924, foi enviada a Valverde del Camino com o encargo de
cozinheira e ajudante doméstica.
Fazia seus trabalhos ordinários extraordinariamente bem, como
queria Dom Bosco. Deus a cobriu de dons. Também ali as meninas
começaram a se aproximar dela, atraídas pelo seu fascínio espiritual.
Trabalhou no oratório. Seminaristas, adultos e sacerdotes lhe pediam
conselho, atraídos pelo seu espírito de oração e de fé convicta e con-
vincente. Propagou a devoção às Santas Chagas de Cristo e a assim
dita “escravidão mariana” de São Luís M. Grignion de Montfort.
Contam-se muitos fatos extraordinários em sua vida.
Como Dom Bosco, recebeu de Deus o dom da profecia. Predisse a
guerra civil espanhola e se ofereceu como vítima pela Espanha. Co-
meçou a sentir-se mal. Sua diretora, Irmã Carmen Moreno – depois,
mártir e bem-aventurada, conforme Irmã Eusébia lhe profetizara –, a
atendia, ao mesmo tempo em que recolhia seus pensamentos. Antes
de morrer teve momentos de êxtase e visões. Foi para Deus no dia 10
de fevereiro de 1935. Seu corpo repousa em Valverde del Calmino.

JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 17 DE DEZEMBRO DE 1996


E BEATIFICOU-A EM 25 DE ABRIL DE 2004

57
ALEXANDRINA MARIA

DA COSTA
1904 s 1955

A
lexandrina Maria da Costa nasceu no dia 30 de março de 1904,
em Balasar, Portugal. Foi educada cristãmente pela mãe, junto
com a irmã Deolinda. Ficou com a família até os 7 anos, depois
foi enviada para Póvoa do Varzim, na casa de um marceneiro, para
poder freqüentar a escola elementar que não havia em Balasar. Vol-
tando à sua terra, trabalhou como camponesa.
Era vivaz, brincalhona e afetuosa, muito procurada pelas colegas. Aos
14 anos pulou da janela de casa para salvar sua pureza insidiada pela
paixão de algumas pessoas mal-intencionadas. Cinco anos mais tarde, a
lesão provocada pela queda se transformou em paralisia total, que a obri-
gou ao leito por mais de trinta anos. Cuidava dela sua irmã mais velha.

58
Pediu a graça da cura, mas Nossa Senhora lhe concedeu a aceita-
ção do sofrimento e o desejo de sofrer pela salvação das almas.
O carisma salesiano de viver como vítima, que se desenvolveu com
o Pe. André Beltrami, o Pe. Augusto Czartoryski, o Pe. Luís Variara
e a Irmã Eusébia Palomino, inspirou Alexandrina. Ela se ofereceu
como vítima a Cristo para a conversão dos pecadores e pela paz no
mundo: “Não tenho outro objetivo que o de dar glória a Deus e
salvar as almas”.
Por quatro anos (1938-1942), superando a paralisia habitual, des-
cia da cama. Por 182 vezes, às sextas-feiras, durante três horas muito
dolorosas, revivia a paixão de Cristo. Pediu a Pio XII a consagração
do mundo ao Coração Imaculado de Maria (31 de outubro de 1942).
De 27 de março de 1942 até à morte, por treze anos e sete meses,
não tomou bebida nem alimento, a não ser a Comunhão diária. Esse
fato inexplicável foi verificado cientificamente por diversos médicos,
às vezes também de maneira humilhante para Alexandrina. Foi uma
grande mística. Em união contínua com Jesus Eucaristia, teve êxtases
e revelações.
Deus quis que seu segundo diretor espiritual fosse um salesiano,
o Pe. Humberto Pasquale, que recolheu seu precioso diário. Aceitou
então tornar-se cooperadora salesiana. Dizia: “Sinto uma união mui-
to grande com os salesianos e os cooperadores do mundo inteiro.
Quantas vezes olho meu atestado de pertença aos cooperadores e
ofereço meus sofrimentos, unida a todos eles, para a salvação da ju-
ventude! Amo a Congregação. Amo-a tanto! Jamais a esquecerei na
terra e no céu”.
Milhares de pessoas foram até seu leito para ter o conforto de
suas palavras. No dia 13 de outubro de 1955 faleceu em Balasar, onde
está sepultada, voltada para o sacrário. Multidões de peregrinos vão
visitá-la.

JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 21 DE DEZEMBRO DE 1995


E BEATIFICOU-A EM 25 DE ABRIL DE 2004

59
ALBERTO
MARVELLI
1918 s 1946

A
lberto Marvelli nasceu no dia 21 de março de 1918 em Ferrara,
Itália, segundo de sete irmãos. Quando a família se transferiu
para Rimini, começou a freqüentar o oratório salesiano.
Sempre disponível, tornou-se catequista e animador, o braço di-
reito dos salesianos. Amava e praticava todo tipo de esporte. Tomou
como modelos Domingos Sávio e Pedro Jorge Frassati.
Aos 17 anos, escreveu no seu diário um projeto de vida que iria
renovando ao longo do tempo. Entrou para o grupo oratoriano da
Ação Católica, tornando-se em pouco tempo seu presidente paro-
quial. Prestou serviço na Igreja de Rimini como vice-presidente dio-
cesano da Ação Católica. Estudante de engenharia em Bolonha, par-

60
ticipava ativamente da Federação dos Universitários Católicos Italia-
nos, sendo fiel, com sacrifício, à Eucaristia diária. Em junho de 1942
obteve a láurea e começou a trabalhar na Fiat de Turim.
Cumpriu seu serviço militar em Trieste, e conseguiu conduzir à
Eucaristia muitos de seus colegas. Durante a Segunda Guerra Mun-
dial foi um apóstolo entre os refugiados e uma verdadeira Providên-
cia para os pobres. Depois da entrada dos aliados em Rimini, foi no-
meado assessor municipal para o Secretariado da Habitação e
Reconstrução, e engenheiro responsável pelo da Engenharia Civil:
“Os pobres passem à frente" dizia, "os outros podem esperar”. Acei-
tou participar das eleições nas listas da Democracia Cristã. Era reco-
nhecido por todos como cristão comprometido, nunca discriminava
quem quer que fosse, a ponto de um adversário comunista dizer:
“Meu partido até pode perder. Basta que seja eleito como prefeito o
engenheiro Marvelli”. O bispo o nomeou presidente dos intelectuais
católicos.
A devoção mariana e a Eucaristia foram as colunas de sua vida:
“Que mundo novo se abriu diante de mim contemplando Jesus sa-
cramentado!", escreve em seu diário. "Sempre que recebo a santa Co-
munhão, sempre que Jesus em sua divindade e humanidade entra
em mim, em contato com minha alma, é um incendiar-se de santos
propósitos, uma chama que queima, mas que me deixa tão feliz!”
Morreu atropelado por um caminhão militar no dia 5 de outubro
de 1946. Como queria Dom Bosco, foi um bom cristão e honesto cida-
dão, comprometido na Igreja e na sociedade com um coração salesia-
no. Fez seu o lema: “Ou viver subindo, ou morrer”.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 22 DE MARÇO DE 1986


E BEATIFICOU-O EM 5 DE SETEMBRO DE 2004

61
BRONISLAU
MARKIEWICZ
1842 s 1912

B
ronislau Markiewicz nasceu no dia 13 de julho de 1842 em Pru-
chnik, na Galícia, Polônia, sexto de onze filhos, numa família
religiosa e da pequena burguesia. Enfrentou a fome, a pobreza
e as perseguições que encontrou na escola por causa de seus ideais
cristãos; sempre com espírito de fé, a ponto de decidir entrar para o
seminário. No dia 15 de setembro de 1867 foi ordenado sacerdote.
Dedicou-se intensamente a ensinar o catecismo e ao apostolado
entre os presos. Gostava de ficar com o povo, sobretudo com os po-
bres. Sentia-se inclinado a trabalhar em favor dos jovens abandona-
dos que padeciam todo tipo de pobreza. Por eles quis estudar peda-
gogia, a fim de melhor ajudá-los a salvar a alma.

62
A Providência o levou a desejar ardentemente entrar para um ins-
tituto religioso que cuidasse da juventude. Por isso, foi para a Itália,
e ficou fascinado pela espiritualidade de Dom Bosco, que, sem saber,
já o trazia no coração. Pediu para fazer parte da Congregação Salesia-
na. Em 1887 emitiu votos perpétuos nas mãos de Dom Bosco. Teve a
felicidade de ouvir as recomendações do Santo e de assimilar direta-
mente seu espírito.
Em 1892 voltou para a Polônia como salesiano e como pároco a
Miejsce, na Galícia, onde se dedicou à juventude polonesa pobre e
abandonada. Para responder da melhor maneira às exigências con-
cretas da Galícia, fortemente afetada pela pobreza, Bronislau sentiu a
necessidade de viver com maior radicalismo os princípios de Dom
Bosco. Aconselhando-se com seus colaboradores, fundou a Socieda-
de Temperança e Trabalho. Nove anos depois de sua morte, a Socie-
dade, no ramo masculino e feminino, foi reconhecida pela Igreja,
dando origem a duas Congregações postas sob a proteção de São
Miguel Arcanjo. Seus membros assumiram o nome de micaelitas.
Também Pe. Bronislau, como Dom Bosco, a seus filhos e aos jovens,
recomendava grande devoção à Eucaristia e a Nossa Senhora, bem
como a São Miguel, que apontava como protetor na luta cotidiana con-
tra o mal. A união a Cristo Crucificado e a virtude da temperança ca-
racterizaram sua atividade apostólica em favor do próximo. Morreu
em Miejsce Piastowe (Polônia) no dia 29 de janeiro de 1912.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 2 DE JULHO DE 1994


E BENTO XVI BEATIFICOU-O EM 19 DE JUNHO DE 2005

63
HENRIQUE
SAIZ APARICIO
E 62 COMPANHEIROS

D
urante a guerra civil espanhola de 1936-1939, foram mortos
muitos sacerdotes, religiosos e leigos cristãos. Os membros
martirizados da Família Salesiana são, ao todo, 95. Os grupos
de Sevilha e Madri, tendo à frente o Pe. Henrique Saiz Aparicio, so-
mam 63 mártires.
O Pe. Henrique Saiz Aparicio foi o corajoso diretor do aspirantado
salesiano de Carabanchel Alto, na periferia de Madri. Quando os mi-
licianos irromperam no instituto, ele disse prontamente: “Se vocês
querem sangue, aqui estou eu. Mas não façam mal aos meninos”. Os
jovens foram libertados, enquanto o Pe. Saiz e oito Salesianos foram
presos e depois mortos. Pouco tempo antes de morrer, confiou a um

64
amigo: “Que há de melhor do que morrer para a glória de Deus?”.
Ofereceu sua vida em troca da vida dos jovens que lhe tinham sido
confiados pela Providência. Até seu último suspiro foi para eles.
Eis a lista dos mártires.
MADRI
10 sacerdotes: Henrique Saiz Aparicio, Salvador Fernández, Sabino Hernández, Felix
González, Germano Martín, José Villanova, Miguel Lasaga, André Jiménez, André Gómez,
Pio Conde;
14 clérigos: Carmelo Pérez, Estêvão Cobo, Teódulo González, Manuel Martín, Virgí-
lio Edreira, Justo Juanes, Pedro Artolozaga, Francisco Edreira, Manuel Borrajo, Vitoriano
Fernández, Pasqual de Castro, João Larragueta, Luís Martínez, Florêncio Rodríguez;
14 coadjutores: Mateus Garolera, Dionísio Ullívarri, Nicolau de la Torre, Paulo Gra-
cia, Valentim Gil, João Codera, João M. Celaya, Francisco José Martín, Emílio Arce, Rai-
mundo Eirín, Anastásio Garzón, Estêvão Vásquez, Heliodoro Ramos, Antônio Cid;
3 aspirantes: Frederico Cobo, Higino de Mata Diez, Tomás Gil;
1 leigo: João de Mata Diez.

SEVILHA
12 sacerdotes: Antônio Torrero, Antônio Mohedano, Manuel Gómez, Miguel Molina,
Henrique Canut, Félix Paco, Francisco Míguez, Antônio Pancorbo, Manuel Fernández,
Paulo Caballero, Antônio Fernández, José Limón;
2 clérigos: Honório Hernández, João Luís Hernández;
4 coadjutores: Estêvão García, Rafael Rodríguez, José Blanco, Tomás Alonso Sanjuán;
3 cooperadores: Teresa Cejudo, Bartolomeu Blanco, Antônio Rodríguez.

BENTO XVI EMITIU O DECRETO DE MARTÍRIO EM 26 DE JUNHO DE 2006


E BEATIFICOU-OS EM 28 DE OUTUBRO DE 2007

65
ZEFERINO
NAMUNCURÁ
1886 s 1905

Z
eferino Namuncurá nasceu no dia 26 de agosto de 1886 em
Chimpay, às margens do rio Negro, Argentina. Três anos
antes, Manuel, seu pai, último grande cacique das tribos
de índios Araucanos, tinha sido obrigado a se entregar às tropas
federais.
Após onze anos de vida livre e agreste, Manuel Namuncurá man-
dou Zeferino estudar em Buenos Aires, para que no futuro pudesse
defender sua raça. O clima de família que se respirava no colégio
salesiano fez que ele se encantasse com Dom Bosco. Cresceu nele a
dimensão espiritual e começou a desejar ser salesiano sacerdote para
evangelizar seu povo.

66
Escolheu Domingos Sávio como modelo e, durante cinco anos,
fez um esforço extraordinário para inserir-se numa cultura total-
mente nova. Ele mesmo foi outro Domingos Sávio. Exemplar era
seu empenho na piedade, na caridade, nos deveres de cada dia, no
exercício ascético.
Esse rapaz, que tinha dificuldade em “pôr-se na fila” ou em
“obedecer ao sino”, tornou-se pouco a pouco um verdadeiro mode-
lo. Como queria Dom Bosco, era perfeito no cumprimento dos seus
deveres de estudo e de oração. Nos divertimentos, os colegas o que-
riam como árbitro: sua palavra dirimia qualquer dúvida e encerra-
va qualquer discussão.
Impressionava a calma com que fazia o sinal-da-cruz, como se
estivesse meditando palavra por palavra; com seu exemplo, corrigia
os colegas, ensinando-lhes a fazê-lo com calma e devoção.
Em 1903 (Zeferino estava com 16 anos e meio, seu pai foi batizado
aos 80), D. João Cagliero o aceitou no grupo dos aspirantes em Vied-
ma, centro do Vicariato apostólico, para começar a estudar latim. Por
causa de sua saúde frágil, o bispo salesiano decidiu levá-lo à Itália
para prosseguir os estudos de modo mais sólido e num clima que lhe
parecia ser mais conveniente.
Na Itália, encontrou Pe. Miguel Rua e o Papa Pio X, que o aben-
çoou comovido. Freqüentou a escola em Turim e, em seguida, o colé-
gio salesiano de Villa Sora, em Frascati. Estudou com tanto afinco
que se tornou o segundo da classe.
A tuberculose, porém, minava sua saúde. No dia 28 de março de
1905 foi levado para o Hospital Fatebenefratelli da Ilha Tiberina, em
Roma, onde morreu serenamente no dia 11 de maio do mesmo ano.
Desde 1924, seus restos mortais repousam em sua pátria, em Fortín
Mercedes, onde multidões de peregrinos acorrem para venerá-lo.

JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 22 DE JUNHO DE 1972


E BENTO XVI BEATIFICOU-O EM 11 DE NOVEMBRO DE 2007

67
VENERÁVEIS
ANDRÉ
BELTRAMI
1870 s 1897

A
ndré Beltrami nasceu em Omegna, na província de Novara,
Itália, no dia 24 de junho de 1870. Em família recebeu uma
educação rica em valores cristãos.
André era de caráter vivaz. Na adolescência foi tentado na pureza
por conversas de um mau colega, mas a freqüência aos sacramentos e
uma vontade decidida fizeram dele um jovem estimado por todos.
Os pais quiseram que fosse para o colégio salesiano de Lanzo,
onde entrou em outubro de 1883. Distinguiu-se no estudo e no exer-
cício das virtudes cristãs. Ali amadureceu sua vocação. Diria mais
tarde: “Deus pôs no meu coração a convicção íntima de que o único
caminho conveniente para mim era fazer-me Salesiano”. A mãe, ao

70
entregá-lo aos cuidados do mestre de noviços, disse: “Faça dele um
santo”. Em 1886 recebeu o hábito clerical em Foglizzo das mãos de
Dom Bosco, que diria dele: “Beltrami é um só”.
Nos anos de 1888 e 1889, em Valsalice, Turim, em dois anos, com-
pletou dois cursos trienais e os concluiu com os respectivos diplo-
mas. Nesse período, conheceu o príncipe polonês Augusto Czar-
toryski, que acabava de ser acolhido na Congregação. O príncipe logo
adoeceria de tuberculose, e seria o Pe. Beltrami – que de imediato
sintonizou espiritualmente com ele – a fazer-lhe de anjo da guarda,
tanto em Valsalice quanto em outros lugares onde o enfermo esteve.
Escreveu: “Sei que devo cuidar de um santo, de um anjo”.
Mais tarde, também o Pe. André contraiu a mesma doença e, na
escola do santo coirmão, suportou o sofrimento com alegria interior.
Ofereceu-se como vítima de amor pela conversão dos pecadores e
para a consolação dos doentes, vivendo o lema: “Nem sarar, nem
morrer, mas viver para sofrer”.
Pe. Beltrami compreendeu plenamente a dimensão sacrifical do
carisma salesiano, no espírito de Dom Bosco. O clérigo salesiano
Luís Variara, então estudante de filosofia em Valsalice, ficou intima-
mente impressionado com Pe. André. Nele se enraíza a espiritualida-
de das futuras Filhas dos Sagrados Corações fundadas pelo Pe. Va-
riara: viver com alegria a vocação de vítimas junto com Jesus.
Ordenado sacerdote por D. João Cagliero, entregou-se de corpo e
alma à contemplação e ao apostolado da pena. Com um desejo sem-
pre mais veemente de santidade, consumou sua existência na dor e
no trabalho incessante. Exatíssimo na observância da Regra, amou
ardentemente Dom Bosco e a Congregação.
Nos quatro anos de vida que teve depois do sacerdócio, conti-
nuou a rezar e a escrever. Merece ser citada sua tradução italiana dos
primeiros volumes da edição crítica das Obras de São Francisco de
Sales. Quando faleceu, em 20 de dezembro de 1897, tinha 27 anos. Seu
corpo repousa na igreja de Omegna, sua terra natal.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 21 DE ABRIL DE 1911


PAULO VI DECLAROU-O VENERÁVEL EM 5 DE DEZEMBRO DE 1966

71
TERESA
VALSÉ PANTELLINI
1878 s 1907

T
eresa Valsé Pantellini nasceu em Milão, Itália, no dia 10 de ou-
tubro de 1878, de uma família de elevadas condições. O pai,
José Valsé Pantellini, católico fervoroso e grande trabalhador,
era dono de diversos hotéis no Egito, onde Teresa passou os primei-
ros anos de sua vida. Ele educou sua filha ensinando-a a amar os
pobres e a sempre ajudá-los.
A família primeiro se transferiu a Milão, depois a Florença. O pai
de Teresa morreu quando ela tinha 12 anos. A menina amadureceu
um mais profundo espírito de oração. Recebeu cuidadosa instrução
literária e artística, e cultivou as virtudes humanas sob a guia doce e
ao mesmo tempo exigente da mãe.

72
No dia da primeira Comunhão se deu conta de sua chamada para
o estado religioso e se ofereceu a Deus com profunda alegria. A mãe
transferiu a família para Roma a fim de favorecer os estudos univer-
sitários do irmão Ítalo. Teresa entrou para o colégio das Damas do
Sagrado Coração e se empenhou nas Conferências de São Vicente.
Luxo, bem-estar e divertimentos não lhe faltavam, mas vivia um
constante espírito de alegre e oculta mortificação.
Seu diretor espiritual era o Servo de Deus Pe. Tiago Radini Te-
deschi, futuro bispo de Bérgamo. Encorajada por ele, Teresa decidiu
bater à porta do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora de Roma
“para entregar-se ao Senhor irrevogavelmente", como ela mesma dis-
se, "na educação das meninas pobres do povo”.
Emitiu sua profissão religiosa em 1903, depois de um experiente
tirocínio como educadora entre as oratorianas do bairro do Trasteve-
re, em Roma. As irmãs daquele tempo a lembram assim: “Irmã Tere-
sa sabia cativar aquelas meninas: de fato, era hábil em manter a dis-
ciplina, passando por cima de infindáveis faltas de civilidade e de
boa educação. Uma das meninas, ao ver-se recusado um capricho,
cuspiu-lhe no rosto. A Irmã suportou o gesto com admirável edifica-
ção de quantos ali estavam”.
Teresa era gentil e delicada com todos, estava sempre disposta aos
trabalhos mais humildes e pesados. Cuidava da lavanderia e das ofi-
cinas das meninas pobres com alegria e espírito de sacrifício. Era co-
mo Dom Bosco queria: extraordinária no ordinário.
Não impediram seu caminho de santificação os sintomas sempre
mais insistentes de um mal que a consumia: a tuberculose. Percebeu
que chegara o momento de amar a doença – não só de aceitá-la – co-
mo um dom que a unia ao Crucificado: “O que tu quiseres, Jesus, eu
também quero, e o quero até quando tu quiseres”.
A alegria e a simplicidade de Mornese, o sacrifício silencioso, sua
contínua união com Deus e o amor filial a Nossa Senhora foram os
alicerces de seu projeto de vida. No dia 3 de setembro de 1907, Irmã
Teresa encontrou-se com aquele Jesus que tinha escolhido para si de
maneira irrevogável. Está sepultada em Nizza Monferrato.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 6 DE DEZEMBRO DE 1926


JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 12 DE JULHO DE 1982

73
DOROTÉIA
CHOPITEA
181 6 s 18 91

D
orotéia nasceu em Santiago do Chile em 5 de junho de 1816,
de uma família rica de fé, de filhos – 18! – e de bens materiais.
Os pais, Pedro Nolasco Chopitea e Isabela Villota, tinham óti-
ma condição social e viviam como cristãos exemplares, generosos em
obras de caridade.
Dorotéia tinha 3 anos quando a família se transferiu para Barcelo-
na, Espanha. Era dotada de um caráter enérgico, vivaz, em-
preendedor; mais do que tudo, tinha um coração de ouro. Aos
13 anos, escolheu como diretor espiritual Pe. Pedro Nardó, que a
guiaria por cerca de cinqüenta anos. Recebeu boa instrução.

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Aconselhada pelo Pe. Pedro, aos 16 anos casou-se com um jovem
excelente, José Serra, comerciante e banqueiro. Seriam esposos fiéis e
felizes por cinqüenta anos. Ao completá-los, José diria: “Nosso amor
cresceu todos os dias”. Em seu lar nasceram seis filhas: Dorotéia,
Ana Maria, Isabela, Maria Luísa, Carmen e Jesuína.
A principal preocupação de Dorotéia era viver para Deus. Culti-
vava sua piedade: Missa todos os dias, Comunhão, terço. Mas a coisa
mais extraordinária era sua caridade para com todos, especialmente
com os mais pobres: “Os pobres serão minha primeira preocupação”.
Foi chamada “a esmoler de Deus”.
Acompanhava o marido em suas viagens; foi recebida por Leão
XIII, que a tratou com grande deferência. De sua munificência e da de
seu marido nasceram cerca de 30 fundações: asilos, escolas, hospitais,
oficinas... Há quem tenha calculado que os bens distribuídos por ela
superem o orçamento de muitas entidades estatais.
No dia 20 de setembro de 1882, viúva havia um mês, escreveu a
Dom Bosco: “Gostaria de fundar nos subúrbios de Barcelona uma
obra para jovens operários e para órfãos”. Dom Bosco aceitou e Do-
rotéia se tornou, assim, cooperadora salesiana. A obra foi iniciada em
Sarriá, em 1884.
Colaborou com Pe. Felipe Rinaldi, inspetor da Espanha, na reali-
zação de outras obras salesianas. O futuro Reitor-Mor testemunha a
seu respeito: “Ouvi muitas vezes dizer que se ocupava nos mais hu-
mildes serviços para com os doentes”. Em abril-maio de 1886, Dom
Bosco se encontrou com a santa benfeitora, mais disposta do que
nunca a ajudá-lo.
Falecido Dom Bosco, Dona Dorotéia deu início a três novas obras,
entre as quais o colégio Santa Dorotéia, confiado às Filhas de Maria
Auxiliadora, no qual empregou o dinheiro que se tinha reservado para
a velhice. Dom Bosco a chamava de “nossa mãe de Barcelona”. Tam-
bém Dorotéia, como outrora Mamãe Margarida, morreu pobre, no dia
3 de abril de 1891. Está sepultada em Barcelona-Sarriá.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 4 DE ABRIL DE 1927


JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 9 DE JUNHO DE 1983

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VINCENTE
CIMATTI
1879 s 1965

V
icente Cimatti nasceu em Faenza, Itália, no dia 15 de julho de
1879, de Tiago e Rosa Pasi, último de seis filhos. Entre eles, a
irmã, M. Rafaela, da Congregação das Irmãs Hospitaleiras da
Misericórdia, é bem-aventurada. Luís, salesiano coadjutor e missio-
nário na América Latina, morreu com fama de santidade. Ele, Vicen-
te, é venerável.
Aos 3 anos já era órfão de pai. A mãe o levou à igreja paroquial
onde Dom Bosco estava pregando: “Vicentinho, olha, olha Dom Bos-
co!”. A vida inteira ele lembrará a doce fisionomia do velho padre.
Com 17 anos se tornou salesiano e foi mandado para Turim-Val-
salice, onde lecionou e acumulou títulos de estudo: diploma de com-

76
posição pelo Conservatório de Parma, láurea em ciências naturais, em
filosofia e pedagogia em Turim. Aos 24 anos foi ordenado sacerdote.
Por vinte anos foi professor e compositor muito brilhante no colégio
de Valsalice. Será chamado de maestro por gerações de clérigos.
Entretanto, pedia com insistência ao Reitor-Mor: “Encontre-me
um lugar na missão mais pobre, mais difícil, mais abandonada; nas
comodidades eu não me sinto bem”. Aos 46 anos foi satisfeito seu
desejo. Pe. Felipe Rinaldi o mandou como chefe do grupo de missio-
nários para fundar a obra salesiana no Japão. Ali trabalharia durante
quarenta anos.
Conquistou o coração dos japoneses com sua bondade, empenhan-
do-se, como Dom Bosco, no apostolado da imprensa e da música. Tra-
duziu para o japonês a vida de Domingos Sávio. Por ocasião do 2.600º
aniversário da fundação do Império Japonês, foi convidado a compor
uma sonata a ser transmitida pelo rádio. O jornal mais importante do
Japão a considerou “mais japonesa do que as japonesas”. Fundou a
banda musical dos meninos e girou com ela por todo o país. Diretor
da primeira casa salesiana em Miyazaki, tornar-se-ia, três anos mais
tarde, superior da nascente Visitadoria do Japão. Inspirado por Deus,
com a colaboração do Pe. Antônio Cavoli, daria vida à Congregação
das Irmãs da Caridade de Miyazaki, para cuidar das crianças, dos jo-
vens pobres e dos doentes, manifestando em obras e palavras o amor
misericordioso do Sagrado Coração de Jesus.
Viajou muito para encorajar continuamente os primeiros salesia-
nos no Japão, abrindo obras especialmente para meninos órfãos e
abandonados. Em 1935 foi nomeado Prefeito apostólico. Depois dos
difíceis anos da guerra, repletos de infindáveis sacrifícios, fundou em
Tóquio a Cidade dos Meninos, que, com escolas elementares, médias
e profissionais, em pouco tempo acolheu 260 órfãos. Em 1949, aos 70
anos, continuou seu trabalho como diretor do estudantado filosófico
e teológico de Chofu por mais nove anos.
Morreu em Chofu, como um patriarca, no dia 6 de outubro de
1965. Recebeu diversos reconhecimentos por parte das autoridades
italianas e japonesas. Seu corpo – exumado em 1977 e encontrado
perfeitamente intacto – repousa agora na cripta da igreja de Chofu.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 6 DE NOVEMBRO DE 1976


JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 21 DE DEZEMBRO DE 1991

77
SIMÃO
SRUGI
1877 s 1943

S
imão Srugi nasceu em Nazaré, atual Israel, no dia 27 de abril de
1877, último de dez filhos. Aos 3 anos, em poucos meses, per-
deu os pais. Foi então confiado aos cuidados da avó. Em 1888
entrou para o orfanato de Belém, dirigido pelo Pe. Antônio Belloni.
Esse padre desenvolvia um trabalho em favor dos jovens pobres
muito semelhante ao de Dom Bosco. Aconselhado pelo Papa Leão
XIII, em 1891 se tornou salesiano e confiou suas obras à Congregação.
Simão se sentia tão bem que, aos 16 anos, pediu para ser salesiano.
Foi mandado para o oratório-escola agrícola de Beit Jemal, onde com-
pletou seus estudos e fez o noviciado, consagrando-se como salesia-
no coadjutor.

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Ali passaria toda a sua vida, trabalhando incansavelmente por cin-
qüenta anos. Desenvolveu uma infinidade de trabalhos e sempre com
grande amor. Dava aula para muitas crianças muçulmanas, que o cha-
mavam de “Mu’allem Srugi” e dele diziam: “É bom como o mel”. Tra-
balhava de moleiro: os camponeses de toda a região lhe levavam o
grão para moer. Orientava todos os trabalhos com justiça e serenida-
de.
Foi também enfermeiro. Na região não havia médico. Os doentes
de uns 50 povoados – quase sempre gente pobre – acorriam a ele. Era
o bom samaritano da parábola de Jesus: tinha pena de todos os sofre-
dores. Tratava-os com delicadeza, limpava-os, curava-os, enquanto
lhes falava de Jesus e Maria. Os doentes diziam: “Os outros médicos
não têm as mãos abençoadas do Sr. Srugi, suas mãos têm o poder e a
doçura de Alá”. Era tão gentil e delicado que os muçulmanos diziam:
“Depois de Alá, só o Sr. Srugi”.
Dom Bosco queria que seus coadjutores ficassem com o povo e
levassem a ele o Evangelho por meio do testemunho de vida e da
oração. Às vezes, muitos vinham ver Simão só para que ele lhes im-
pusesse as mãos. As mães lhe apresentavam os filhinhos para que os
abençoasse. Em alguns povoados surgia uma desavença: os litigantes
iam a ele para que fosse árbitro e promovesse a paz.
Todos sentiam que Srugi se comunicava com Deus de verdade.
Nutria-se da Eucaristia e do Evangelho. Passava seu tempo livre
diante do Santíssimo. Quando em 1908 Pe. Miguel Rua visitou a casa
de Beit Jemal, disse: “Acompanhem-no bem, tomem nota de suas
palavras e do que ele faz, porque se trata de um santo”.
Morreu consumido pelo trabalho e pela doença no dia 27 de se-
tembro de 1943, com 66 anos. Os funerais foram uma apoteose. Seus
humildes restos mortais repousam em Beit Jemal, junto à tumba glo-
riosa de Santo Estêvão.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 11 DE MAIO DE 1964


JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 2 DE ABRIL DE 1993

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RODOLFO
KOMOREK
1890 s 1949

R
odolfo Komorek nasceu em 11 de agosto de 1890 em Bielsko,
na Silésia, Polônia, que naquela época pertencia à Áustria. Era
o terceiro de sete filhos de João e Inês Goch, pais realmente
cristãos.
Com 19 anos entrou para o seminário, onde era comparado
com São Luís. Aos 24 anos foi ordenado sacerdote na diocese de
Breslau. Durante a Primeira Guerra Mundial foi capelão militar
no hospital e, a pedido seu, tornou-se capelão também no front.
Por três anos foi pároco em Frystak, onde deu testemunho de po-
breza, oração e zelo apostólico. Seu confessionário estava sempre

80
cercado de pessoas. Pe. Rodolfo era amado e respeitado por to-
dos, especialmente pelas crianças.
Com 32 anos pediu para entrar na Congregação Salesiana, e em
1922 começou o noviciado. Queria ser missionário. Por isso, em ou-
tubro de 1924 foi destinado a São Feliciano (RS), no Brasil, para cui-
dar pastoralmente dos imigrantes poloneses e sem qualquer assistên-
cia religiosa. Distinguiu-se como evangelizador e confessor excepcio-
nal. Era conhecido como “o padre santo”.
Foi exemplar na prática do voto de pobreza, tão amado por Dom
Bosco. Vivia em união com Deus, na presença do Senhor. Dele di-
ziam: “Nunca foi visto rezar tanto”. E ainda: “Sua genuflexão valia
um sermão, e sua compostura, quando ajoelhado no chão, nos con-
vencia de seu extraordinário espírito de piedade e mortificação”.
Passou por várias paróquias e comunidades salesianas.
Foi mandado como confessor no Estudantado filosófico de Lavri-
nhas, onde se distinguiu pela sua santidade. Lecionava 28 horas por
semana. A casa de saúde de São José dos Campos foi a última etapa
dos seus vinte e cinco anos de missão.
Nos últimos oitos anos de vida, era feliz por se consumir lentamen-
te e por oferecer a Deus, até o fim, o respiro de seus pulmões doentes
de tuberculose. Assistia aos outros doentes, exercendo durante todo o
dia o ministério sacerdotal. Dormia sobre três tábuas de madeira.
Passou os últimos dias em contínua oração. Queria que seus re-
médios, já inúteis, fossem dados aos pobres que não conseguiam
comprá-los. Não aceitou nem oxigênio nem água. Morreu com
59 anos, no dia 11 de dezembro de 1949.
Está sepultado em São José dos Campos, onde a profunda pieda-
de, particularmente o amor à Eucaristia, o serviço incansável em fa-
vor do próximo mais necessitado e seu espírito de contínua penitên-
cia formaram e continuam a formar gerações de fiéis.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 31 DE JANEIRO DE 1964


JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 6 DE ABRIL DE 1995

81
L U Í S
OLIVARES
1873 s 1943

L
uís Olivares nasceu em Corbetta, na província de Milão, Itália,
no dia 18 de outubro de 1873, quarto entre quinze filhos. Um
irmão se tornaria missionário e uma irmã, canossiana. Entrou
para o seminário de Monza e depois no de Milão.
Como seminarista, conheceu os salesianos graças ao seu diretor
espiritual, que era um grande benfeitor. Leu a vida de Dom Bosco e
ficou impressionado, particularmente por causa do seu sistema edu-
cativo, que já tinha provado em casa com sua mãe.
Concluídos os estudos, foi ordenado sacerdote em Milão em 1896.
Pediu imediatamente para ser salesiano, mas seu bispo, o Bem-aven-
turado Card. André Ferrari, o mandou, ainda jovem padre de 22 anos,

82
para ser vice-reitor do colégio arquiepiscopal de Saronno. Aplicando
ali o Sistema Preventivo, Luís transformou o seminário numa família.
Após oito anos, obteve autorização para fazer-se salesiano. De-
pois da profissão, foi mandado estudar e lecionar teologia moral e
sociologia no Estudantado de Foglizzo.
Em 1910 foi nomeado diretor e pároco em Roma na difícil paró-
quia de Santa Maria Liberatrice, no bairro do Testaccio. O bairro mal
afamado se transformou visivelmente graças à bondade do seu novo
pároco: disse que pregaria mesmo que fosse para uma só velhinha.
Um dia, esbofeteado na rua por um homem violento, Pe. Luís disse:
“Obrigado!”, e ofereceu a outra face.
Como verdadeiro filho de Dom Bosco, estava sempre no meio do
povo e dos jovens. Seu confessionário era assediado da manhã à tarde.
Em 1916, Bento XV o fez bispo de Sutri e Nepi. Ditou para si mes-
mo um regulamento em cinco pontos: “Amarei minha diocese como
uma esposa. Na oração, tratarei com Jesus dos interesses das almas
e não tomarei nenhuma decisão importante antes de consultá-lo.
Evitarei o luxo e o supérfluo. Terei um horário e o observarei fiel-
mente. Lema da minha vida episcopal: a caridade disposta a qual-
quer sacrifício”.
D. Luís foi um bispo no estilo de Dom Bosco: “Por dom de Deus,
sou cristão, salesiano, sacerdote e Bispo: devo tornar-me santo”. Vi-
sitava os presos e dava catecismo aos jovens trabalhadores. A carida-
de pastoral, a atenção e a esmola às famílias pobres, o amor aos mais
deserdados e a preferência pelos jovens mais necessitados foram as
prioridades dos seus vinte e seis anos de episcopado.
Morreu fora de sua diocese no dia 19 de maio de 1943, enquanto
pregava o retiro espiritual aos jovens estudantes do segundo grau de
Pordenone. Tinha quase 70 anos. Agora repousa em Nepi, na catedral.

INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO EM 24 DE MAIO DE 1963


JOÃO PAULO II DECLAROU-O VENERÁVEL EM 20 DE DEZEMBRO DE 2004

83
MARGARIDA
OCCHIENA
1788 s 1856

M
argarida Occhiena nasceu no dia 1º de abril de 1788 em Ser-
ra di Capriglio, na província de Asti, Itália, sexta de onze
filhos. Foi batizada no mesmo dia na igreja paroquial. Seus
pais eram camponeses repletos de sinceros sentimentos cristãos.
Desde jovem, Margarida foi uma grande trabalhadora. Os tempos e
os compromissos não lhe permitiam estudar, mas seu amor pela oração
a enriqueceu com aquela sabedoria que não se encontra nos livros.
Em 1812 casou-se com Francisco Bosco. Francisco tinha 27 anos,
era viúvo. Tinha um filho de 3 anos, Antônio, e também cuidava da
mãe doente. No ano seguinte nasceu José e, em 1815, João, o futuro
Dom Bosco.

84
Juntos se transferiram para os Becchi, pequeno aglomerado de
casas perto de Castelnuovo d’Asti. Em 1817 Francisco morreu de
pneumonia. Aos 29 anos, Margarida viu-se sozinha: devia levar
adiante a família num momento de grande carestia, dar assistência à
mãe de Francisco, cuidar de Antônio e dos pequenos José e João.
Margarida era uma mulher de grande fé. Deus estava sempre em
todos os seus pensamentos e em suas palavras. O amor de Deus era tão
intenso que formou nela um coração de mãe santa. Educadora sábia,
soube conjugar paternidade e maternidade, doçura e firmeza, vigilân-
cia e confiança, familiaridade e diálogo, educando os filhos com amor
desinteressado, paciente e exigente. Atenta à maneira como iam cres-
cendo, ela confiava nos meios humanos e na ajuda divina.
Criou três rapazes com temperamento muito diferente, usando os
mesmos critérios, mas com métodos diferentes. Ensinou-lhes o cate-
cismo e os preparou para a primeira Comunhão.
Ao ouvir o sonho dos 9 anos de Joãozinho, foi a única que conse-
guiu interpretá-lo à luz de Deus: “Quem sabe se um dia não serás
sacerdote”. Por isso, permitia-lhe ficar junto com meninos menos re-
comendáveis para que com ele se comportassem melhor.
A hostilidade de Antônio por causa dos estudos de João a obrigou
a afastar o filho menor para que pudesse estudar. Ela o acompanharia
até a ordenação sacerdotal. Naquele dia pronunciaria algumas pala-
vras que permaneceriam para sempre no coração de Dom Bosco.
Em 1846, Dom Bosco ficou gravemente doente. Margarida cuida-
va dele. Foi quando descobriu o bem que ele fazia aos jovens abando-
nados. Ao pedido do filho para que ela o acompanhasse, respondeu:
“Se você acha que esta é a vontade de Deus, estou pronta a partir”.
A presença de Mamãe Margarida transformou o oratório numa
família. Por dez anos, sua vida se confundiu com a do filho e com os
inícios da Obra Salesiana: foi a primeira e principal colaboradora de
Dom Bosco. Tornou-se o elemento materno do Sistema Preventivo.
Sem o saber, foi a “co-fundadora” da Família Salesiana.
Morreu em Turim, de pneumonia, no dia 25 de novembro de 1856,
com 68 anos. Acompanharam-na ao cemitério muitos meninos que a
choraram como se chora a perda da própria mãe. Gerações de Sale-
sianos a chamaram e chamarão de Mamãe Margarida.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 6 DE FEVEREIRO DE 1995


JOÃO PAULO II DECLAROU-A VENERÁVEL EM 23 DE OUTUBRO DE 2006

85
SERVOS DE DEUS
M AR I A
TRONCATTI
1883 s 1969

M
aria Troncatti nasceu em Corteno Golgi, na província de
Brescia, Itália, no dia 16 de fevereiro de 1883, numa nume-
rosa família de criadores de gado em montanhas. Cresceu
alegre e laboriosa no campo e no cuidado dos irmãozinhos, num cli-
ma cálido de afeto de seus exemplares pais.
Em Corteno chegava o Boletim Salesiano, e Maria, rica de valores
cristãos, pensava na vocação religiosa. Inicialmente o pai não estava
de acordo, mas apenas a filha chegou à maioridade, 21 anos, ele deu
seu consentimento. Maria pediu para ser admitida no Instituto das
Filhas de Maria Auxiliadora e emitiu a primeira profissão em 1908
em Nizza Monferrato.

88
Durante a Primeira Guerra Mundial acompanhou em Varazze
cursos de assistência sanitária e trabalhou como enfermeira da Cruz
Vermelha no hospital militar. Depois de uma violenta tempestade,
Maria prometeu a Nossa Senhora que, se lhe salvasse a vida, partiria
para as missões. Nossa Senhora a ouviu e Ir. Maria pediu à Madre
Geral para ir trabalhar entre os leprosos. Todavia, sete anos mais tar-
de, Madre Caterina Daghero a enviou para o Equador.
Em 1925 desembarcou na baía de Guayaquil e chegou a Chunchi,
onde foi enfermeira e farmacêutica por pouco tempo. Acompanha-
das pelo bispo missionário D. Domingos Comin e por uma pequena
expedição, Ir. Maria e outras duas Irmãs se embrenharam pela flores-
ta amazônica. Seu campo de missão era a terra dos índios Shuar, na
parte sul-oriental do Equador. Logo que chegou em Méndez, Ir. Ma-
ria conquistou a estima de uma tribo Shuar ao operar com um cani-
vete a filha de um cacique, ferida por uma bala.
As irmãs se estabeleceram definitivamente em Mácas, vila de co-
lonos cercada de habitações coletivas dos Shuar, numa pequena casa
na colina. Como Dom Bosco foi Pai e Mestre, Ir. Maria tornou-se mãe,
e por quarenta e quatro anos seria chamada por todos Madrecita. Deu
início a um difícil trabalho de evangelização em meio a riscos de todo
tipo. Foi enfermeira, cirurgiã, ortopedista, dentista, anestesista, mas,
de modo especial, catequista, rica de maravilhosos recursos de fé,
paciência e bondade salesiana.
Sua obra de promoção da mulher Shuar floresceu em centenas de
novas famílias cristãs, formadas, pela primeira vez, respeitando a li-
vre escolha pessoal dos jovens esposos. Desenvolveu sua atividade,
sobretudo no campo da formação e da saúde, no Hospital Pio XII de
Sucúa e em numerosos dispensários. Era a mãe das missões do Vica-
riato apostólico de Méndez: Mácas, Méndez, Sevilla Don Bosco e Su-
cúa. Suas andanças pela floresta eram incansáveis.
No dia 25 de agosto de 1969, Ir. Maria foi de avião para Sucúa a
fim de fazer o retiro espiritual: o avião caiu pouco depois de decolar.
A rádio da Federação Shuar deu a triste notícia: “Nossa Madre, Ir.
Maria Troncatti, está morta”. Seu corpo repousa em Mácas.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 7 DE SETEMBRO DE 1986


CONCLUÍDO EM 25 DE OUTUBRO DE 1987

89
J O S É
QUADRIO
1921 s 1963

J
osé Quadrio nasceu em Vervio, na província de Sondrio, Itália,
no dia 28 de novembro de 1921, de Agostinho e Jacomina Robus-
telli, uma família camponesa, rica de vida cristã.
A graça de Deus tinha tomado conta do seu coração desde crian-
ça, a ponto de, aos 8 anos, já traçar para si um regulamento de vida,
que terminava com estas palavras: “Procurarei fazer-me santo”.
Lendo a Vida de Dom Bosco que lhe foi emprestada pelo pároco,
sentiu que a Família Salesiana seria sua família. Em 1933 entrou para
o Instituto Missionário de Ivrea, fazendo-se notar pela inteligência,
mas particularmente pela bondade.

90
Em 1937 tornou-se salesiano, sendo logo escolhido para freqüen-
tar a faculdade de filosofia na prestigiosa Universidade Gregoriana
de Roma. Na licenciatura obteve a nota máxima. Assim, com apenas
20 anos, começou a lecionar filosofia, de forma clara e profunda, para
os clérigos estudantes em Foglizzo.
Em 1934, iniciou, sempre na Gregoriana, os cursos de teologia,
morando na comunidade salesiana do Sagrado Coração da casa ins-
petorial de Roma. José era salesiano e imitava o estudante João Bos-
co: dedicava todo o seu tempo livre ao cuidado dos sciucià, os órfãos
da Segunda Guerra Mundial. Sua interioridade e sua amabilidade
salesiana foram crescendo e se manifestando sempre mais.
Em 1946, em solene disputa teológica na presença de nove car-
deais e também do futuro Paulo VI, defendeu a definibilidade dog-
mática da Assunção de Maria aos céus. Conseguiu um êxito que o
tornou famoso na Igreja e na Congregação. Pio XII levaria em conta
também seus estudos para definir esse dogma de fé em 1950.
Os sucessos no estudo e a superioridade intelectual não diminuí-
ram sua jovialidade humilde e sempre pronta ao serviço, isenta de
qualquer manifestação de orgulho.
Ordenado sacerdote em 1947, laureou-se em teologia em 1949. No
mesmo ano começou o magistério teológico no Estudantado teológi-
co de Turim. Claro e incisivo, deixou marcas profundas nos seus nu-
merosos alunos do Pontifício Ateneu Salesiano. Sua união com Deus
levou-o a alcançar os cumes da mística. Dele se dirá que quando su-
bia à cátedra, seu ensinamento era tão intenso e profundo, que pare-
cia que a teologia ardesse. Em 1954 foi nomeado decano da faculdade
de teologia.
Em 1960 manifestou-se nele um linfogranuloma maligno. Plena-
mente consciente, continuou até que pôde o magistério e a participa-
ção na vida comunitária. Também no hospital demonstrou o calor da
sua amabilidade para com todos. "O grande milagre que o Pe. Miguel
Rua me fez", escreveu poucos meses antes de morrer, "é uma paz
imerecida e suavíssima, que torna esses dias de espera prolongada os
mais belos e felizes da minha vida". Faleceu no dia 23 de outubro de
1963.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 21 DE JANEIRO DE 1991


CONCLUSÃO EM 18 DE JULHO DE 1992

91
LAURA
MEOZZI
1874 s 1951

L
aura Meozzi nasceu em Florença, Itália, no dia 5 de janeiro de
1874, de Alexandre e Ângela Mazzoni, família rica, de origem
nobre. Logo se transferiram para Roma, onde o pai foi funcio-
nário do Ministério da Fazenda.
Laura fez seus estudos com as irmãs dorotéias, em seguida freqüen-
tou alguns cursos de medicina. Seu diretor espiritual era um salesiano
que, convidando-a a responder ao chamado de Deus, a ajudou a deixar
as riquezas e o bem-estar para servir a Jesus nas meninas mais pobres.
Depois de passar muitas noites em oração, Laura tornou-se Filha de
Maria Auxiliadora em 1898. Até 1921, por mais de vinte anos, trabalha-
ria na Itália, de modo particular na Sicília, quando foi escolhida como
responsável pelas primeiras Irmãs missionárias enviadas à Polônia.

92
Em todos esses anos iria se delineando a característica particular
de Ir. Laura: a maternidade. Era dotada de uma doçura derivada da
amabilidade salesiana e da simplicidade de Mornese que, como Ma-
dre Mazzarello, fará que as crianças polonesas a chamem de mate-
czcka: mãe.
Em 1922, Ir. Laura pôs-se em viagem junto com outras cinco Irmãs
para Rozanystok a fim de fundar uma casa para os órfãos da guerra. As
irmãs organizaram a casa, que logo ficou cheia com 80 meninos e meni-
nas muito pobres e sem qualquer disciplina. Ela os transformou numa
grande família. O mais desafortunado deles dirá: “Eu tinha uma grave
doença intestinal, mãe Laura tomou conta de mim como se eu fosse seu
filho. Ela se interessava como se fosse mãe de todos, mas tinha um cui-
dado especial para com os deficientes mentais e os mais necessitados”.
O inspetor governamental ficou tão impressionado que disse às irmãs:
“Mandaremos outros 200 órfãos”.
O Governo e as famílias nobres ofereciam as estruturas e as Filhas
de Maria Auxiliadora se multiplicavam, abençoadas por Deus, abrin-
do o noviciado e novas casas para crianças pobres. De 1922 a 1940, Ir.
Laura foi diretora, em seguida inspetora, quando abriu 9 obras e for-
mou 110 novas irmãs.
Durante a Segunda Guerra Mundial foi convidada pelo cônsul a
voltar para a Itália, mas permaneceu na Polônia. Foi morar num or-
fanato no bosque de Sakiszki, vestida de camponesa. Animava a vida
das irmãs da Polônia com cartas clandestinas, muito parecidas com
as de Madre Mazzarello.
No fim da guerra, definidas as novas fronteiras da Polônia, as
irmãs e 104 meninos tiveram que sair de Wilno num trem especial
para voltar para a nova Polônia. Entre eles, porém, escondidos, havia
também meninos não autorizados e partisans com suas famílias. Ir.
Laura correu o risco de ser fuzilada; rezou insistentemente a Nossa
Senhora e viu-se livre desse perigo.
Ir. Laura deu novamente vida a 12 casas. Renasceu o noviciado, por
toda a parte voltaram a pujança, a alegria, o sorriso. Mas ela se sentia sem-
pre mais cansada. Assistida pelas irmãs e acompanhada pelas orações de
todos, morreu no dia 30 de agosto de 1951 em Pogrzebien (Polônia).

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 9 DE OUTUBRO DE 1986


CONCLUSÃO EM 13 DE JANEIRO DE 1994

93
ATÍLIO
GIORDANI
1913 s 1972

A
tílio Giordani nasceu em Milão, Itália, no dia 3 de fevereiro de
1913. Seu pai trabalhava nas ferrovias e sua mãe, Amália, foi obri-
gada a ficar de cama depois do nascimento de um dos filhos.
Atílio era um rapaz luminoso e dinâmico. Depois da escola ele-
mentar freqüentou os três anos da escola técnica. Ainda pequeno,
descobriu Dom Bosco e o oratório salesiano de Milão, pelo qual será
sempre um grande apaixonado. Ali recebeu sua primeira formação
e, jovem para os jovens, se empenhava com perseverança na anima-
ção alegre dos grupos: por várias dezenas de anos foi um catequista
dedicado e um animador salesiano genial, simples e sereno.
Como bom cooperador salesiano, conhecia e usava todos os ins-
trumentos educativos do Sistema Preventivo para animar seus meni-

94
nos: cuidava da liturgia e da formação; estava sempre presente no
meio dos jovens e nos jogos do pátio; educava para o aproveitamento
do tempo livre e animava o teatro.
Atílio organizava passeios com os jovens do oratório, compunha
cantos, encenações, criava rifas de beneficência, caças ao tesouro,
competições paroquiais e olimpíadas para rapazes, sem nunca esque-
cer o centro da alegria cristã: o amor a Deus e ao próximo. Amava a
Deus com todo o seu coração e encontrava na vida sacramental, na
oração e na direção espiritual os recursos para a vida da graça.
Começou o serviço militar em 1934 e o terminou, em fases alterna-
das, em 1945. Demonstrava senso apostólico entre os colegas de armas.
Encontrou emprego na indústria da Pirelli em Milão, onde também pro-
curava difundir a alegria e o bom humor, com grande senso do dever.
Após a guerra, casou-se com Noemi Davanzo, que o acompanha-
ria e apoiaria por toda a vida. Para suscitar novas esperanças nos jo-
vens destroçados pela guerra, deu início à Cruzada da Bondade, que
se difundiria em toda a Itália.
Em casa era um marido sempre presente, rico de fé intensa e sere-
nidade, vivendo em consciente austeridade e pobreza evangélicas
em favor dos mais necessitados. Todos os dias permanecia fiel à sua
meditação, à Eucaristia e ao terço.
Seus três filhos viajaram para o Brasil para um tempo de volunta-
riado missionário. De acordo com a esposa, Noemi, marido e mulher
decidiriam também viajar, a fim de partilhar totalmente a vocação
dos filhos ao voluntariado.
No Brasil, continuou a ser catequista e animador. No dia 18 de
dezembro de 1972, em Campo Grande, durante uma reunião, estava
falando com entusiasmo e ardor do dever de dar a vida pelos outros,
quando improvisamente desmaiou. Teve apenas tempo para dizer ao
filho: “Pier Giorgio, agora continue você...”, e morreu, vitimado por
um infarto.
Seu corpo, levado para a Itália, agora repousa na Basílica de Santo
Agostinho de Milão. Na homilia de exéquias, o pároco disse: "A cada
um de nós Atílio repete a frase que, ao morrer, disse ao seu filho:
'Agora, continue você!'".

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 21 DE NOVEMBRO DE 1994


CONCLUÍDO EM 19 DE JANEIRO DE 1996

95
AUGUSTO
HLOND
1881 s 1948

A
ugusto Hlond nasceu em Brzczkowice, na Polônia, no dia 5 de
julho de 1881, de João, operário das ferrovias, e Maria Imiela.
Foi o segundo de onze filhos, dos quais quatro se fizeram sale-
sianos. Os pais lhe transmitiram uma fé forte e um amor filial a Nos-
sa Senhora.
Aos 12 anos, respondendo ao chamado de Deus, acompanhou seu
irmão mais velho, Inácio, até a Itália para se consagrar a Deus na
Sociedade Salesiana. Recebeu o hábito talar das mãos do Pe. Miguel
Rua em 1896. Continuou os estudos em Roma na Universidade Gre-
goriana, obtendo o doutorado em filosofia. De volta à Polônia, fez o
tirocínio em Oswiecim. Foi redator do Boletim Salesiano polonês. Or-
denou-se sacerdote em 1905.

96
Em 1907 já era diretor da nova casa de Przemysl, onde abriria e
ampliaria o oratório salesiano. Depois, diretor de Viena, de acordo
com o bispo e as autoridades, abriu três institutos de educação para
meninos, adolescentes e jovens. Fundou uma editora católica de lín-
gua alemã e socorreu os jovens vítimas da Primeira Guerra Mundial.
Em 1919 tornou-se inspetor da nova inspetoria germano-húngara
com sede em Viena. Em dois anos, o jovem inspetor dotou a inspeto-
ria de dez fundações.
Foi nomeado administrador apostólico e depois bispo de Katowi-
ce em 1926. Em 24 de julho do mesmo ano, o Papa Pio XI o instituiu
arcebispo de Gniezno e Poznan e primaz da Polônia. No ano seguin-
te, no dia 20 de junho, o Santo Padre o designava como cardeal.
Recebeu da Sé Apostólica o encargo de cuidar dos poloneses da
diáspora, dispersos pelas várias partes do mundo. Para essa finalida-
de, fundou uma Congregação chamada Sociedade de Cristo.
Com a Segunda Guerra Mundial começou seu calvário, que o obrigou
ao exílio até o fim da guerra. Augusto faria de tudo, contanto que pudes-
se pôr em prática o Da mihi animas salesiano. Como Dom Bosco, não tinha
medo de opor-se aos poderosos, contanto que salvasse os fracos.
No começo ficou em Roma, onde deu início à corajosa defesa de
sua pátria, que intensificou na França, quando se refugiou em Lour-
des. Alcançado pela polícia nazista, foi deportado para Paris na pre-
tensão de que desse apoio a um governo polonês fiel aos nazistas.
O cardeal se recusou decididamente. Os nazistas então o internaram
na Westfália, Alemanha.
Libertado pelas tropas aliadas, voltou para a Polônia e foi nomea-
do arcebispo de Varsóvia. Assim, da mesma forma como antes tinha
defendido seu povo dos horrores do nazismo, agora, com vigorosas
pastorais, continuou a defendê-lo do ateísmo bolchevista. A divina
Providência o salvou de mais de um atentado.
Morreu em 22 de outubro de 1948. Os funerais foram uma apo-
teose. Pela primeira vez na história da Polônia, o sepultamento ocor-
reu na própria catedral.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 9 DE JANEIRO DE 1992


CONCLUSÃO EM 21 DE OUTUBRO DE 1996

97
INÁCIO
STUCHLY
1869 s 1953

I
nácio Stuchly nasceu em Omoluc, na Morávia, República Checa
(antiga Checoslováquia), em 14 de dezembro de 1869. Teve a sor-
te de crescer num ambiente familiar e escolar rico de valores cris-
tãos, apesar das perseguições. Terminou os estudos ginasiais na Silé-
sia austríaca.
Como se sentia chamado por Deus, deram-lhe a idéia de ir para
Turim com Dom Bosco. Pe. Miguel Rua o mandou para Valsalice, onde
foi acolhido como vocação adulta. Depois do noviciado, estudou filo-
sofia em Ivrea, em seguida agronomia, conseguindo o diploma.
Enviado para Gorizia, no Norte oriental da Itália, ensinou e estu-
dou teologia. Cumpriu com amor e exatidão numerosas tarefas,

98
a ponto de seus superiores se esquecerem de sua ordenação sacerdo-
tal. Inácio esperava e obedecia. Foi ordenado sacerdote em Gorizia
em 1901. Seu confessionário foi logo rodeado de gente, pois se dizia
que era um padre sábio e prudente.
Pediu para ser missionário, mas Pe. Rua lhe respondeu: “Tua mis-
são é no Norte!”. De fato, em 1921 foi enviado para Liubliana, Eslo-
vênia, para dirigir os trabalhos de construção do santuário de Maria
Auxiliadora. Numa terra empobrecida pelas guerras, com humilda-
de, procurava as ofertas para manter os irmãos e completar o santu-
ário, que seria terminado e consagrado em 1924.
Na casa de Perosa Argentina, perto de Turim, havia alguns anos que
se acolhiam jovens checoslovacos que se preparavam para transplantar
a obra salesiana para aquela terra. Inácio foi chamado a dirigi-la, tam-
bém porque era um dos poucos salesianos checos na Congregação.
Em 1927 foi enviado para a Checoslováquia a fim de abrir a pri-
meira casa em Frystak, da qual foi diretor de 1928 e a 1934. Passou
depois à nova casa de Moravska Ostrava, também como diretor.
Inácio tinha 66 anos, e já era o pai dos salesianos checos. Nomeado
inspetor da Checoslováquia, como sempre, obedeceu. Graças a seu
carisma de governo, a região assistiu a um vasto florescimento voca-
cional. Sob sua orientação, surgiram na Checoslováquia 12 casas sa-
lesianas, com 270 religiosos, todos boêmios e morávios, além de 20
outros salesianos enviados para as missões.
Seu espírito de trabalho, a piedade simples, tão recomendada por
Dom Bosco, e sua amabilidade para com todos fecundaram aquela
terra. Enfrentou a Segunda Guerra Mundial reforçando nos irmãos a
fé e a esperança, e agindo com caridade para com os mais fracos.
Em 1948 terminou seu segundo mandato de inspetor. Voltou en-
tão para a casa de Frystak, como confessor. A tormenta da persegui-
ção russa se abatia sobre a Checoslováquia, e Pe. Stuchly viu com dor
o fim da obra salesiana por ele criada. Atingido pela doença, enfren-
tou-a cristãmente, e também então sua fé não vacilou. Faleceu no dia
17 de janeiro de 1953, com 83 anos.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 5 DE MARÇO DE 1993


CONCLUSÃO EM 20 DE JANEIRO DE 2001

99
ANTÔNIO
DE ALMEIDA LUSTOSA
1886 s 1974

A
ntônio de Almeida Lustosa nasceu no dia 11 de fevereiro de
1886 de uma família da pequena burguesia rural de São João
del Rei, Minas Gerais. Dos pais aprendeu o espírito de sacrifí-
cio e o valor do trabalho. Havia poucos anos, os salesianos tinham
aberto o Colégio Dom Bosco em Cachoeira do Campo, e Antônio ali
entrou aos 16 anos de idade. Dois anos depois, decidiu tornar-se sa-
lesiano. Distinguiu-se pela acuidade intelectual e pelo empenho na
vida religiosa.
Aos 26 anos foi ordenado sacerdote. Logo lhe confiaram o cargo
de mestre de noviços e de diretor de Lavrinhas, responsável pela for-
mação dos aspirantes salesianos e dos estudantes de filosofia e teolo-

100
gia. Além de lecionar, formou muitos clérigos para o apostolado sa-
lesiano, levando-os a animar as paróquias e os oratórios vizinhos.
Em 1925, surpreendeu-o a nomeação para bispo de Uberaba,
diocese de operários e mineradores. Quis ser consagrado no dia
11 de fevereiro, data que lembrava a presença de Nossa Senhora em
sua vida. Encontrou o seminário praticamente vazio. Depois de um
ano, estava rodeado de uns 30 seminaristas do ginásio. Ocupou-se
dos marginalizados, empenhando-se particularmente no campo da
justiça social.
Depois de menos de quatro anos, viu-se transferido para Corum-
bá, Mato Grosso do Sul, diocese maior e com mais dificuldades para
a evangelização. Passados apenas dois anos, era nomeado para arce-
bispo da imensa diocese de Belém do Pará, no Norte. Ali ficou dez
anos, prodigalizando-se com a generosidade de sempre.
Em 1941, mais uma vez foi transferido, agora para a importante
sede de Fortaleza, capital do Ceará. Ali, em vinte e dois anos de epis-
copado, deu o melhor de si mesmo, vivendo intensamente o Da mihi
animas de Dom Bosco.
Era considerado o bispo da justiça social. Deu-se conta de que a
primeira evangelização consiste em restituir a dignidade às pessoas
e às famílias mais pobres. Fundou então o ambulatório, o Hospital
São José, as escolas populares gratuitas e os círculos operários. Inau-
gurou a “sopa” para os pobres e os Serviços Sociais da Arquidiocese.
Sem jamais descuidar das almas, dava a vida pelo seu pré-seminário,
pelo Santuário Nossa Senhora de Fátima e pela Rádio Assunção Ce-
arense. A fim de dar assistência às famílias, fundou a Congregação
das Josefinas, atualmente presente em vários estados do Brasil.
Dom Lustosa foi, como Dom Bosco, um escritor prolífico nos seto-
res mais diversos: teologia, filosofia, espiritualidade, hagiografia, li-
teratura, geologia, botânica. Teve muitos dotes também no campo
artístico: são seus os vitrais da Catedral de Fortaleza. Em 1963, de-
pois de trinta e oito anos de atividade episcopal, retirou-se para a
casa salesiana de Carpina, Pernambuco, onde passou os últimos
quinze anos de vida e onde veio a falecer no dia 14 de agosto de 1974.
Seu corpo repousa na Catedral de Fortaleza.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 14 DE AGOSTO DE 1993


CONCLUSÃO EM 14 DE AGOSTO DE 2001

101
OTÁVIO
ORTIZ
1879 s 1958

O
távio Ortiz nasceu em Lima, no Peru, no dia 19 de abril de
1879, oitavo filho de Manuel e Benigna Coya.
Em 1892, os salesianos abriram a primeira escola profissional
naquele país. Otávio, que havia um ano freqüentava o oratório, entrou
como aprendiz de marcenaria. Era um rapaz atento e profundo. Um
dia, ajudava na cozinha; com uma das mãos mexia a sopa e com a
outra lia o catecismo. A Providência quis que fosse visto por D. Tiago
Costamagna, que observou: “Por que não fazem estudar esse menino?
Em vez de marceneiro poderia tornar-se sacerdote!”. E assim foi.
Fez o noviciado em Callao e emitiu os votos perpétuos nas mãos
do Pe. Paulo Albera, Visitador extraordinário. Fez o tirocínio na mes-
ma casa, tendo entre seus alunos o futuro D. Vitório Alvarez.

102
Em 1907, tornou-se o primeiro sacerdote salesiano do Peru. Foi
encarregado, como diretor, de fundar a escola profissional de Piura,
onde deu vida ao semanário La Campanilla. Foi diretor muito estima-
do em Cuzco e Callao.
Em 1921, para sua grande surpresa, foi nomeado bispo de Cha-
chapoyas, ao norte da Cordilheira dos Andes. O território era vasto
como a Itália, acidentado e sem ligações entre as cidades. Otávio quis
ser um bispo no estilo de Dom Bosco. De fato, escolheu como lema
episcopal Da mihi animas, exprimindo seu zelo pelas almas, ao preço
de qualquer fadiga.
No estilo de Dom Bosco, se interessava junto às autoridades para
que Chachapoyas tivesse estradas, hospitais, água e eletricidade. Quan-
to às escolas, ele mesmo resolveu o problema: para meninos, adultos e
mulheres. Promoveu a boa imprensa e as iniciativas culturais. Como
prioridade, queria o ensino do catecismo nas igrejas urbanas todos os
domingos, instituiu a União dos Catequistas, organizou o ensino da
religião nas escolas, tomava conta da formação dos seus padres.
Viajava continuamente, a cavalo e a pé, através de florestas, mon-
tanhas e rios, para encontrar-se com seus fiéis esparsos pelos povoa-
dos. A cada cinco anos conseguia visitá-los todos: na diocese havia
120 mil pessoas!
Durante seu governo, uma parte do território foi elevado ao grau
de Prefeitura apostólica e uma outra ao de Prelazia nullius. Com mui-
tas dificuldades, construiu um seminário em sua diocese.
Por duas vezes recusou uma diocese de maior prestígio e menos
cansativa. Em 1953 Pio XII o nomeou assistente ao sólio pontifício.
Após uma operação, no dia 1º de março de 1958, o bom bispo morreu.
Está sepultado na sua catedral. Grandíssima é sua fama de santidade.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 8 DE JULHO DE 1992


CONCLUSÃO EM 22 DE DEZEMBRO DE 2001

103
AUGUSTO
ARRIBAT
1879 s 1963

J
osé Augusto Arribat nasceu no dia 17 de dezembro de 1879 em
Trédou, departamento de Aveyron, França, de uma família de cam-
poneses, pobre de bens materiais, mas rica de valores cristãos.
A pobreza da família obrigaria o jovem Augusto a começar a esco-
la média no Oratório Salesiano de Marselha somente aos 18 anos.
O carisma de Dom Bosco fascinou também Augusto, que pediu para
começar o noviciado salesiano.
Em 1902, a França do radical Combes expulsou 30 mil religiosos.
Os noviços se transferiram para Avigliana, no Piemonte, Itália, e Au-
gusto recebeu a veste talar das mãos do Bem-aventurado Miguel
Rua, tornando-se salesiano aos 25 anos.

104
Voltando para a França, começou a vida salesiana ativa semiclan-
destino, primeiro em Marselha, depois em La Navarre. Foi ordenado
sacerdote em 1912.
Durante a Primeira Guerra Mundial, também os religiosos expul-
sos eram chamados a defender a pátria, e Augusto arriscou a vida
como enfermeiro e transportador de feridos.
Terminada a guerra, continuou a trabalhar intensamente em La
Navarre, animando a vida religiosa dos jovens até 1926; em seguida,
foi para Nice, onde permaneceu até 1931. Em 1931, a obediência o
chamou a prestar serviço como diretor na casa de La Navarre, con-
fiando-lhe também a paróquia de Santo Isidoro no vale de Sauvebon-
ne. Seus paroquianos o chamavam “o santo do vale”.
Pe. Augusto era bom, sentia-se alegria em estar perto dele, os jovens
e os adultos iam em grande número confessar-se com ele porque sabiam
que seriam compreendidos, perdoados, encorajados, e não julgados.
No final do terceiro ano foi mandado para Morges, no cantão de
Vaud, na Suíça. Seria lembrado pelo seu espírito de temperança, vi-
vido também por Dom Bosco, o que caracterizaria sempre sua vida.
Falava de Deus aos jovens, e os jovens o ouviam com maravilha por-
que ele se tornara uma pessoa crível.
Posteriormente, foi diretor por três mandatos sucessivos, de seis
anos cada um, primeiro em Millau, depois em Villemur, finalmente
em Thonon, na diocese de Annecy.
O período mais carregado de perigos e de graças foi provavel-
mente o que passou em Villemur durante a Segunda Guerra Mun-
dial. Soldados alemães das SS ocuparam a escola onde ele escondia
jovens judeus. A pouca distância da casa salesiana, muitas vezes en-
contrava operários espanhóis militantes comunistas: ele os cumpri-
mentava, tirando o chapéu, e eles, diante de tanta amabilidade, tam-
bém se mostravam amáveis.
Semblante aberto e sorridente, seu ascetismo e seu dinamismo
apostólico lembravam o lema “trabalho e temperança” recomendado
por Dom Bosco aos seus salesianos.
Voltando a La Navarre em 1953, Pe. Arribat ficaria lá até à morte,
no dia 19 de março de 1963. Está sepultado em La Navarre.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 19 DE MARÇO DE 1995


CONCLUSÃO EM 1º DE DEZEMBRO DE 2002

105
E L I A S
COMINI
1910 s 19 4 4

E
lias Comini nasceu no dia 7 de maio de 1910 em Calvenzano, pro-
víncia de Bolonha, Itália, de Cláudio Comini e Ema Limoni. Em
1914, a família de Elias se transferiu para um lugar chamado Ca-
setta, na paróquia de Salvaro.
O arcipreste de Salvaro, Mons. Fidêncio Mellini, ao servir no exér-
cito em Turim, mantinha contatos freqüentes com Dom Bosco, que
lhe profetizou o sacerdócio. Mons. Mellini estimava muito Elias, pela
sua fé, pela bondade e pela grande capacidade intelectual. De acordo
com os pais, mandou-o para a escola dos salesianos de Finale Emilia,
onde Elias pediu para se tornar salesiano.
Depois do noviciado em Castel de’ Britti, fez a primeira profissão
religiosa em 1926. No mesmo ano faleceu o pai de Elias. Desde aque-

106
le momento, o arcipreste seria para ele um segundo pai. Completou
os estudos em Turim-Valsalice. Em seguida, laureou-se em letras pe-
la Universidade estatal de Milão. No dia 16 de março de 1935 foi or-
denado sacerdote.
Pe. Elias Comini foi padre e professor, apóstolo dos jovens nas
escolas salesianas de Chiari e de Treviglio. Encarnou particularmente
a caridade pastoral de Dom Bosco e as características da amabilidade
salesiana, que transmitia aos jovens com seu caráter afável, sua bon-
dade e seu sorriso. No verão de 1944 foi a Salvaro para dar assistência
à sua velha mãe e ajudar Mons. Mellini. A região tinha se tornado o
epicentro da guerra entre aliados, partisans e alemães, em meio ao
terror da população e à quase total devastação.
Os salvarenses e refugiados daquelas localidades tiveram cons-
tantemente Pe. Elias a seu lado, sempre pronto para as confissões,
zeloso na pregação, hábil em se servir da sua capacidade de bom
músico para tornar mais alegres as celebrações litúrgicas.
Junto com o dehoniano Pe. Martino Capelli, visitava e socorria os
procurados e os fugitivos, cuidava dos feridos, enterrava os mortos.
Promoveu a paz entre as populações locais, os alemães e os partisans,
muitas vezes correndo risco de vida.
Um dia, na província de Salvaro, cheia de clandestinos fugitivos,
chegou a notícia de que, após um embate com os partisans, as terríveis
SS tinham capturado 69 pessoas, entre as quais havia moribundos que
precisavam de conforto. Pe. Elias e Pe. Martino tomaram os santos
óleos e, sob o fogo inimigo, se puseram a caminho. Foram presos, por-
que considerados espiões dos partisans, e obrigados a trabalhos força-
dos. Foram postos junto com outros reféns numa cavalariça.
Pe. Elias, com heróica caridade pastoral, rejeitou a liberdade que lhe
foi proposta, para ficar junto com os demais presos. Disse: “Ou nos liber-
tam a todos ou ninguém!”. Foram processados e acusados injustamente.
Antes do fuzilamento, que ocorreu em Salvaro (Bolonha) no dia 1º de
outubro de 1944, Pe. Elias e Pe. Martino, como outrora D. Versiglia e o
Pe. Caravario, se confessaram mutuamente. Depois, Pe. Elias pronun-
ciou em voz alta a absolvição para todos os reféns, que responderam
com um sinal-da-cruz. Seu corpo foi jogado no rio Reno.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 3 DE DEZEMBRO DE 1995


CONCLUSÃO EM 25 DE NOVEMBRO DE 2001

107
FRANCISCO
CONVERTINI
1898 s 1976

F
rancisco Convertini nasceu no povoado de Marinelli, perto de
Cisternino, na província de Brindisi, Itália, no dia 29 de agosto
de 1898. Sua família era muito pobre, e foi obrigado a trabalhar
desde pequeno. Ao completar 18 anos, chamado pelo exército para
combater durante a Primeira Guerra Mundial, foi preso pelos aus-
tríacos e internado num campo de concentração. No fim da guerra
recuperou a liberdade.
Curado de meningite, decidiu entrar para a Polícia Financeira.
Acompanhou a Turim o comandante, de quem era ajudante de or-
dens, e, muito devoto de Nossa Senhora, foi se confessar na Basílica
de Maria Auxiliadora. Quis a Providência que o confessor fosse o Pe.
Ângelo Amadei, o segundo grande biógrafo de Dom Bosco.

108
Pe. Ângelo foi seu guia espiritual. Depois de convidá-lo a partici-
par da entrega do crucifixo a 11 missionários que partiam para a Ín-
dia, disse-lhe: “Por que você também não se faz missionário?”.
Francisco começou com grande esforço os estudos no Instituto Sale-
siano Missionário de Ivrea e, depois de ter recebido o crucifixo do
Pe. Felipe Rinaldi, no dia 7 de dezembro de 1927 embarcou para a Índia.
Foi formado por salesianos santos. Fez o noviciado em Shillong
com Pe. Estêvão Ferrando e foi discípulo do Pe. Constantino Vendra-
me. Francisco conheceu a vida de Dom Bosco por meio do Pe. Amadei
e na Índia aprendeu a encarnar o espírito apostólico missionário.
Junto com Pe. Vendrame, ia onde o povo se encontrava: os dois
missionários percorriam quilômetros para visitar os povoados, entra-
vam nas casas para contar a grandes e pequenos a vida de Jesus.
Com dificuldade, conseguiu fazer os estudos filosóficos e teológi-
cos. Foi ordenado sacerdote em junho de 1935.
O novo bispo, D. Estêvão Ferrando, mandou-o para a missão sa-
lesiana de Krishnagar. Mesmo sem nunca ter chegado a falar bem a
língua bengali, ninguém em Krishnagar teve tantos amigos, tantos
filhos espirituais entre ignorantes e sábios, entre ricos e pobres. Era
um dos poucos missionários que podiam entrar numa casa hindu e
ir além da primeira sala de ingresso. Estava continuamente pela es-
trada, de povoado em povoado.
Pe. Francisco era bom, sua amabilidade salesiana abria o coração
das pessoas, sabia ser pai, irmão e amigo. Doava-se indistintamente
a todos: muçulmanos, hindus, cristãos... Por todos foi amado e vene-
rado como mestre de vida interior, que possuía em abundância a “sa-
bedoria do coração”.
Gozou de fama de santidade já em vida, não só pela sua heróica doa-
ção às almas, mas também por causa de misteriosos acontecimentos que
se contavam a respeito dele. Foi um apóstolo de Maria Auxiliadora.
Morreu no dia 11 de fevereiro de 1976, murmurando: “Minha mãe,
eu nunca te causei desgosto em minha vida. Agora, vem ajudar-me!”.
Seu corpo foi exposto na catedral; não terminava nunca a fila das pes-
soas de toda raça e toda religião que queriam vê-lo pela última vez.
Atualmente descansa no jardim adjacente à catedral de Krishnagar.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 12 DE DEZEMBRO DE 1997


CONCLUSÃO EM 20 DE JUNHO DE 2005

109
ESTÊVÃO
FERRANDO
1895 s 1978

E
stêvão Ferrando nasceu em Rossiglione, na província de Gêno-
va, Itália, no dia 28 de setembro de 1895. Seus pais foram Agos-
tinho Ferrando e Josefina Salvi.
Desde pequeno começou a freqüentar as escolas dos salesianos,
primeiro em Fossano e depois em Turim. Ficou fascinado pela vida
de Dom Bosco. Pediu para ser salesiano, e em 1912 emitiu a profissão
religiosa em Foglizzo Canavese (Turim).
Durante a Primeira Guerra Mundial prestou serviço militar no
setor da saúde, recebendo a Medalha de Prata ao Mérito. Em 1923,
terminados os estudos teológicos, recebeu a ordenação sacerdotal.

110
Pediu para ser missionário e foi enviado para a Índia, no Assam,
região que confina com o Tibete, a China e a Birmânia. Por dez anos foi
mestre dos noviços e diretor do estudantado filosófico e teológico.
Como bom filho de Dom Bosco, a fim de aprender a língua, ia com
seus salesianos jovens aos povoados das colinas e organizava os ora-
tórios festivos para os meninos.
Com total surpresa para ele, em 1934, Pio XI o nomeou bispo da
diocese de Krishnagar. No dia 10 de novembro sucessivo recebeu a
consagração episcopal em Shillong. Ao tomar posse da nova diocese,
beijou o chão e confiou seu futuro ao Jesus Crucificado.
O novo bispo pediu aos sacerdotes para irem aos povoados anun-
ciar o Evangelho ao povo. Ele mesmo se deslocava continuamente.
Seu apostolado se caracterizava pelo estilo salesiano: alegria, simpli-
cidade e contato direto com as pessoas. Aproximava-se dos meninos,
dos pobres e necessitados; amorosamente ia ao encontro de todos.
Reconstruiu a grande catedral e o complexo da residência missio-
nária. Difundiu a devoção a Maria Auxiliadora e a Dom Bosco. Queria
que os indianos fossem os primeiros evangelizadores de sua terra.
Com um grupo de catequistas indianas fundou as Irmãs Missioná-
rias de Maria Auxílio dos Cristãos, às quais ensinou o amor a Jesus, a
Maria Auxiliadora, a Dom Bosco, às missões e às pessoas pobres.
No dia 26 de junho de 1969, depois de ter tomado parte nos traba-
lhos do Concílio, pediu demissão da própria diocese. Em 1972 voltou
ao Assam para consagrar a igreja catedral arquiepiscopal de Shillong,
finalmente terminada.
Na Itália, o velho bispo missionário se retirou para a casa salesia-
na de Quarto (Gênova). Em 1970 escreveu: “Aqui na Itália me per-
guntam com freqüência: como é que o senhor deixou o Assam depois
de quarenta e sete anos de vida missionária? Respondo: porque final-
mente despontou o dia que há quarenta e sete anos eu desejava, o dia
em que a Igreja na Índia pudesse fazer tudo por si mesma!”.
Morreu no dia 20 de junho de 1978. Nove anos depois, as Irmãs de
Maria Auxílio dos Cristãos quiseram ter perto de si os restos mortais
de D. Ferrando. A urna foi depositada na capela do convento de Santa
Margarida em Shillong, na terra que tinha sido sua segunda pátria.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 8 DE OUTUBRO DE 2003


CONCLUSÃO EM 13 DE AGOSTO DE 2006

111
MATILDE
SALEM
1904 s 1961

M
atilde Chelhot in Salem nasceu em Alepo, Síria, no dia 15 de
novembro de 1904. Pertencia a uma família de elevadas
condições sociais e econômicas. Estudou com as irmãs ar-
mênias da Imaculada Conceição, graças às quais cresceu em intensa
vida espiritual.
No dia 15 de agosto de 1922, com 18 anos, casou-se com Jorge
Elias Salem, rico homem de negócios. Jorge tinha um caráter autori-
tário e possessivo, mas era boa pessoa. Matilde precisou ter muita
paciência para acalmar-lhe os contrastes.
Ficou constatado que não podiam ter filhos. Jorge, além disso, fi-
cou doente de diabetes. Matilde lhe esteve próxima durante vinte e
dois anos. Amou-o e cuidou dele, acompanhando-o em suas viagens

112
de negócios e participando de várias tratativas. Foi estimada e respei-
tada pelos dirigentes das grandes firmas européias.
O marido, aconselhado por D. Isidoro Fattal, arcebispo metropo-
lita greco-católico de Alepo, sonhava abrir uma escola profissional
que formasse futuros trabalhadores cristãos. Infelizmente, no dia 26
de outubro de 1944 Jorge morreu improvisamente.
Matilde poderia ter refeito sua vida. Todavia, foi então que desco-
briu sua verdadeira vocação: dedicar-se totalmente ao próximo com
um amor maior. Entregou-se completamente ao grandioso projeto
deixado em testamento pelo seu marido, guiando a Fundação Jorge
Salem, da qual era presidente.
Sua família foram os jovens pobres da cidade, e se preparou assim
para se tornar verdadeiramente mãe. Com a colaboração com
D. Fattal foi a Turim tratar diretamente com Pe. Pedro Ricaldone a en-
trega de sua obra aos filhos de Dom Bosco, enviados à Síria em 1947.
Mandou construir uma pequena casa para si perto do Instituto. Daí
para a frente, os salesianos seriam sua casa e sua família. Ali colocaria
os restos mortais de seu marido, e ali ela mesma seria sepultada. Em
pouco tempo se tornou a Mamãe Margarida dos meninos de Alepo.
Enriqueceu-se com várias experiências espirituais: cooperadora
Salesiana, filha de São Francisco de Assis, co-fundadora da Obra do
Amor Infinito. Quanto à caridade, não houve instituição beneficente
que não a visse empenhada como colaboradora: sociedade catequé-
tica, conferências de São Vicente, colônias de férias para meninos po-
bres e abandonados, vice-presidência da Cruz Vermelha, beneficên-
cia islâmica, obra em favor dos jovens infratores. Encarnou em cheio
o dinamismo apostólico salesiano.
Em 1959 descobriu que estava com câncer. Em resposta ao diag-
nóstico dos médicos, ela só fez este comentário: “Graças, meu Deus”.
Foi uma via-sacra de vinte meses. Por testamento, distribuiu todos os
seus bens às diversas obras de beneficência, a ponto de poder dizer:
“Morro numa casa que não me pertence mais”.
Faleceu em Alepo, em fama de santidade, no dia 27 de fevereiro
de 1961, com 56 anos de idade, a mesma do seu querido Jorge. Está
sepultada na igreja dos salesianos em Alepo.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 20 DE OUTUBRO DE 1995

113
J O Ã O
SWIERC
E 8 COMPANHEIROS
1877 s 1941

J
oão Swierc nasceu em Królewska Huta, Alta Silésia, Polônia, em 29
de abril de 1877. Era filho de Mateus Swierc e Francisca Rother.
Graças à boa fama do Instituto Salesiano de Valsalice, Turim,
veio à Itália completar os estudos ginasiais. Pediu para ser salesiano
e iniciou o noviciado em Ivrea. Estudou filosofia e teologia em Turim.
No dia 6 de junho de 1903 foi ordenado sacerdote em Turim pelo
Card. Agostinho Richelmy.
Voltando para a Polônia, começou o trabalho pedagógico salesia-
no com muita dedicação e diligência, dando provas de ótima capaci-
dade e virtude religiosa. Primeiro foi diretor em Oswiecim, depois
em outras casas da sua pátria. Desde que foi constituído o Conselho
Inspetorial, foi sempre conselheiro, até à morte.

114
Pe. João foi um religioso salesiano exemplar, amava a Congrega-
ção de Dom Bosco, dava sempre provas de possuir todo o seu espíri-
to. A ele eram confiados os assuntos mais difíceis e delicados.
No dia 23 de maio de 1941, sendo diretor de Cracóvia Debniki, foi
preso pela Gestapo junto com outros salesianos e levado para as pri-
sões de Cracóvia. Posteriormente foi transferido para o campo de
concentração de Oswiecim.
No dia 27 de junho de 1941, Pe. João foi cruelmente torturado e
morto por um soldado alemão, porque era padre e porque não para-
va de invocar o nome de Jesus. Tinha 64 anos de idade, 42 de profis-
são e 38 de sacerdócio.
Dele ainda se deve dizer que, já em vida, tinha fama de santidade,
independentemente de seu martírio.
Com ele foram também martirizados em Oswiecim:
Pe. Inácio Antonowicz: nascido em 1890 em Wieslawice, reitor do Seminário de Cra-
cóvia, morreu no dia 21 de julho de 1941 no hospital do campo de concentração.
Pe. Inácio Dobiasz: nascido em 1880 em Ciochowice, foi assassinado no dia 27 de
junho de 1941, nas jazidas de areia.
Pe. Carlos Golda: nascido em 1941 em Tychy, foi condenado à morte por ter confes-
sado os soldados alemães; sua execução se deu em 14 de maio de 1942.
Pe. Francisco Harazim: nascido em 1885 em Osiny, morreu no dia 27 de junho de
1941, também assassinado nas jazidas de areia.
Pe. Ludovico Mroczek: nascido em 1905 em Kety, morreu no hospital de Auschwitz
(Oswiecim), no dia 6 de janeiro de 1942.
Pe. Wlozimierz Szembek: nascido em 1883 em Porega Zegoty, morreu no campo de
concentração no dia 22 de setembro de 1942.
Pe. Casimiro Wojcieschowski: nascido em 1904, foi assassinado dia 27 de junho de
1941, durante o trabalho nas jazidas de areia.
Pe. Francisco Miska: nascido em 5 de dezembro de 1898, em Swierczyniec, na Alta Silé-
sia, diretor de Jaciazek e depois de Lad, foi internado no campo de concentração de Dachau,
onde morreu por maus-tratos e sevícias no dia 30 de maio de 1942.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 17 DE SETEMBRO DE 2003

115
J O S É
VANDOR
1909 s 1979

J
osé Vandor nasceu em Dorog, Hungria, em 29 de outubro de
1909, de Sebastião Wech e Maria Puchner. Chegando como mis-
sionário em Cuba, mudaria o nome de Wech para Vandor, e a
partir daquele momento todos o chamariam de Padre Vandor.
Desde pequeno se distinguiu pela bondade e pelo caráter conci-
liador. Sua formação começou com os franciscanos, dos quais
aprendeu um verdadeiro amor pela pobreza que conservou por to-
da a vida. Conheceu os salesianos e ficou impressionado pela espi-
ritualidade e pela caridade pastoral de Dom Bosco. Em 1927 come-
çou o noviciado. Emitiu os votos perpétuos no dia 13 de agosto de
1932. Continuou sua formação teológica na Itália, em Turim, onde

116
recebeu a ordenação sacerdotal em 5 de julho na Basílica de Maria
Auxiliadora.
Naquele mesmo ano foi enviado a Guanabacoa, em Cuba, onde
permaneceu até 1940 como conselheiro escolar e responsável pela
animação espiritual. Era muito querido entre os jovens, especialmen-
te entre os mais pobres, pelos quais tinha particular atenção.
Com apenas 31 anos assumiu a direção da Escola Agrícola de Mo-
ca, na República Dominicana. Distinguiu-se pela sabedoria e pela
prudência, o que o indicou para ser mestre dos noviços. Em 1946,
Pe. Vandor chegou ao Colégio de Artes e Ofícios de Camagüey como
administrador.
Em 9 de dezembro de 1954 foi para Santa Clara como responsável
pela Igreja do Carmo e encarregado da construção da Escola de Artes
e Ofícios. Nessa situação, demonstrou seu espírito de pobreza e seu
dinamismo salesiano, graças aos quais, sem ter moradia estável, con-
seguiu reformar a casa paroquial, a Igreja do Carmo e construir a
casa salesiana.
Pe. Vandor era um diretor espiritual muito procurado. Sua doçura
abria os corações dos jovens e dos adultos. Na abertura da escola, ele
foi o escolhido para ser diretor até o ano de 1961.
Durante esse período, Cuba estava em plena guerra civil. Pe.
Vandor fazia de tudo para consolar os doentes, os feridos e os pobres,
arriscando a própria vida. Ofereceu-se como mediador de paz entre
as tropas de Che Guevara e as do coronel Cornélio Rojas, do exército
do general Batista.
Dele, disseram: “Foi um dos corações mais amáveis, delicados e
nobres do clero de Villa Clara. Pe. Vandor pode ser posto ao lado de
São Francisco de Sales pela docilidade paciente, pela doação pruden-
te, pela sabedoria iluminada na direção espiritual; e de São João Bos-
co, pelo dinamismo apostólico, pelo amor aos jovens pobres, pelo
espírito de fé e de alegria serena, e pela maneira cordial de tratar as
pessoas”. Morreu no dia 8 de outubro de 1979.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 8 DE OUTUBRO DE 2003

117
ESTÊVÃO
SANDOR
1914 s 1953

E
stêvão Sandor nasceu em Szolnok, Hungria, no dia 26 de no-
vembro de 1914. Era filho de Estêvão Sandor e Maria Fekete,
primeiro de três irmãos. O pai era funcionário das Ferrovias do
Estado e a mãe, dona-de-casa. Ambos transmitiram aos próprios fi-
lhos uma profunda religiosidade.
Estêvão estudou em sua cidade, obtendo o diploma de técnico
metalúrgico. Desde menino, era muito estimado pelos colegas, ale-
gre, sério e gentil. Gostava de ficar junto dos amigos das redondezas;
era seu líder, como tinha sido Dom Bosco entre os jovens de Chieri.
Ajudava os irmãos menores a estudar e rezar. Sobretudo, lhes da-
va o exemplo. Recebeu com fervor a Crisma, empenhando-se em imi-

118
tar seu santo protetor e São Pedro. Todos os dias ajudava na Missa
dos padres franciscanos e recebia a Eucaristia.
Lendo o Boletim Salesiano, conheceu Dom Bosco. Sentiu-se imedia-
tamente atraído pelo carisma salesiano. Conversou com seu diretor
espiritual, manifestando-lhe o desejo de entrar para a Congregação.
Falou também com os pais, que lhe negaram a permissão e procura-
ram dissuadi-lo. Estêvão, porém, conseguiu convencê-los, e em 1936
foi aceito no Clarisseum, onde em dois anos fez o aspirantado.
Especializou-se na Tipografia Dom Bosco como técnico impressor.
Iniciou o noviciado, mas precisou interrompê-lo porque chamado
para o exército. Em 1939 deu baixa definitiva e, após o ano de novi-
ciado, emitiu sua primeira profissão no dia 8 de setembro de 1940.
Destinado ao Clarisseum, empenhou-se ativamente no ensino dos
cursos profissionais. Encarregado da assistência do oratório, cum-
priu-a com entusiasmo e competência. Foi o promotor da Juventude
Operária Católica. Seu grupo recebeu o reconhecimento como o me-
lhor do movimento.
A exemplo de Dom Bosco, mostrou-se educador modelar. Em
1942 foi chamado de novo ao front e ganhou uma medalha de prata
ao mérito militar. A trincheira era para ele um oratório festivo.
No fim da Segunda Guerra Mundial se empenhou na reconstru-
ção material e moral da sociedade, dedicando-se em particular aos
jovens mais pobres, que reunia para lhes ensinar um ofício. No dia 24
de julho de 1946 emitiu sua profissão perpétua, tornando-se coadju-
tor salesiano. Em 1948 conseguiu o título de mestre impressor. No
fim dos estudos, os alunos de Estêvão eram empregados nas melho-
res tipografias da capital e do estado.
Começaram as perseguições aos religiosos e às escolas católicas,
que tiveram de fechar as portas. Estêvão, descoberto na tipografia,
teve de fugir e esconder-se nas casas salesianas, trabalhando sob fal-
so nome numa tipografia pública.
Em julho de 1952 foi capturado em seu lugar de trabalho, e nunca
mais foi visto pelos salesianos. Um documento oficial certifica que,
processado e condenado à morte, foi executado no dia 8 de junho de
1953. Está em curso a causa de martírio.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 24 DE MAIO DE 2006

119
CONSTANTINO
VENDRAME
1893 s 1957

C
onstantino Vendrame nasceu em San Martino di Colle Umber-
to, na província de Treviso, Itália, no dia 27 de agosto de
1893.
Seus pais, Pedro Vendrame e Helena Fiori, lhe ensinaram a amar
o trabalho, o sacrifício e, sobretudo, a Deus. Desde pequeno, se dis-
tinguiu pela inteligência e pela bondade.
Em 1913 entrou para o noviciado de Chioggia, fez o serviço mili-
tar obrigatório, que o ajudou a aumentar a têmpera de seu caráter.
Em março de 1929 foi ordenado sacerdote e em outubro recebeu o
crucifixo missionário na Basílica de Maria Auxiliadora.

120
Aos 31 anos, partiu para a Índia. Logo que chegou em Shillong, se
empenhou no aprendizado da língua local, façanha que realizou em
tempo extraordinariamente breve.
Em cinco anos, as paróquias entregues aos seus cuidados cresceram
enormemente, o número de futuros batizados passou de 400 a 1.449.
Trabalhou especialmente no nordeste indiano. Visitava continua-
mente os povoados, encontrando-se com o povo e as crianças. Fazia-
se um deles, buscava o contato humano. Entrava nas casas dos po-
bres e dos doentes, ajudava-os e falava com eles, ouvia suas histórias
e, depois de ter se tornado amigo, lhes contava a vida de Jesus.
Intuiu a importância da mulher na cultura dos Khasi. Criou um
grupo de mulheres, a que chamou Apóstolas dos Khasi, que deviam
evangelizar os pobres e as crianças. Sempre à frente em tudo, como
Dom Bosco, usava os meios de comunicação social para evangelizar os
povoados. Quando projetava nas telas a vida de Jesus, participavam
muitíssimas pessoas, das quais inúmeras pediam depois o Batismo.
Pe. Constantino deu prioridade à formação dos catequistas leigos,
que evangelizavam as comunidades e o acompanhavam em
suas viagens. Como bom salesiano, criou e acompanhou os oratórios
festivos. Educou centenas de crianças, conseguindo também entrar
em suas famílias, alargando, assim, a obra de evangelização.
Levou o cristianismo também entre os hindus, os muçulmanos e
os metodistas, a ponto de ser comparado a São Francisco Xavier ou a
São Paulo. Devotíssimo do Sagrado Coração de Jesus, fez construir
dois santuários, um em Mawlai e outro em Wahiajer. Como Dom
Bosco, tinha uma devoção filial a Maria Auxiliadora, de quem falava
sempre. Criou também um grupo de jovens mulheres que chamou de
Legião de Maria, com a missão de visitar os pobres e os doentes e de
rezar por eles.
Dedicou-se ao nordeste da Índia até o último suspiro: a essa altura, já
era como uma roupa surrada que não se podia mais remendar. Morreu
santamente no dia 30 de janeiro de 1957 no hospital de Dibrugarh.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO DIA 19 DE AGOSTO DE 2006

121
CARLOS
CRESPI CROCI
1891 s 1982

C
arlos Crespi Croci nasceu em Legnano (Milão), Itália, no dia
29 de maio de 1891, o terceiro dos 13 filhos de Daniel Crespi e
Luísa Croci. Após freqüentar uma escola local, aos 12 anos
Carlos encontrou os salesianos no Colégio Santo Ambrósio de Milão,
onde completou os estudos ginasiais. Em 1903, foi completar seus
estudos no Liceu Salesiano de Valsalice, Turim, e sentiu que Dom
Bosco o chamava. Fez o noviciado em Foglizzo. Em 8 de setembro de
1907 emitiu sua primeira profissão como salesiano e em 1910 fez a
profissão perpétua. Começou os estudos de filosofia e teologia em
Valsalice, onde teve como colega o clérigo Renato Ziggiotti, futuro
sucessor de Dom Bosco. Ao mesmo tempo dava aulas de ciências
naturais, matemática e música. Em 1917 foi ordenado sacerdote.

122
Na Universidade de Pádua descobriu um microrganismo até en-
tão desconhecido, despertando o interesse da Academia. Em 1921
obteve o doutorado em ciências naturais e em seguida o diploma
em música.
Em 1923, seguindo o caminho que Nossa Senhora lhe mostrara,
partiu para as missões no Equador. Desembarcou em Guayaquil, foi
para Quito, e logo para Cuenca, onde ficou por toda a vida. Iniciou
seu enorme trabalho em favor dos pobres: fez instalar luz elétrica em
Macas, abriu uma escola agrícola em Yanuncay: para isso fez vir da
Itália maquinários e pessoal especializado. Conseguiu assim abrir
várias outras oficinas, criando a primeira Escola de Artes e Ofícios,
mais tarde Universidade Politécnica Salesiana.
Em Yanuncay acolheu os noviços, e em 1940 deu início também à
Faculdade de Ciências da Educação, tornando-se seu primeiro reitor.
Instituiu a escola elementar Cornélio Marchán para as crianças mais
pobres. Abriu um Colégio de Estudos Orientais para formação ade-
quada aos salesianos destinados ao Equador oriental. Fundou o Mu-
seu Carlos Crespi, riquíssimo de descobertas científicas e conhecido
também fora da América. Divulgou com todas as forças a devoção a
Nossa Senhora Auxiliadora, consumindo sua vida no santuário dedi-
cado a ela. Seu confessionário, especialmente nos últimos anos de vida,
vivia cercado de gente, e o povo começava a chamá-lo espontanea-
mente de São Carlos Crespi. Sempre no meio dos pobres, aos domin-
gos de tarde dava catecismo aos meninos de rua, além do pão de cada
dia. Organizou oficinas de corte e costura para as meninas pobres da
cidade.
Além de ser feito cônego honorário da catedral de Cuenca, rece-
beu numerosas honrarias: medalha de ouro ao mérito, conferida pelo
Presidente da República do Equador; medalha de ouro ao mérito
educativo, pelo Ministro da Educação; comenda da República italia-
na; declaração de “Cidadão mais ilustre de Cuenca no século 20”;
doutorado Honoris Causa post mortem, da Universidade Pontifícia Sa-
lesiana de Roma.
Morreu em Cuenca no dia 30 de abril de 1982. Todo o Equador
chorou a morte de um santo filho de Dom Bosco.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO DIA 8 DE DEZEMBRO DE 2006

123
CARLOS
DELLA TORRE
1900 s 1982

C
arlos Della Torre nasceu no dia 9 de julho de 1900, em Cernus-
co sul Naviglio, província de Milão, Itália, de Antônio e Filo-
mena. Era o quarto dos sete irmãos da família Della Torre. Em
1917, no início da Primeira Guerra Mundial, foi chamado ao serviço
militar. Na volta para casa, seu pai faleceu.
Encarregou-se de cuidar da família até 1923, quando, a fim de se-
guir sua vocação sacerdotal e missionária, entrou para o Instituto
Salesiano Cardeal Cagliero de Ivrea, onde, em três anos, conseguiu
terminar os estudos ginasiais.
Em 1929, pela última vez despediu-se da família e partiu para a
China. Os superiores o destinaram à nova missão salesiana da Tailân-

124
dia, onde emitiu a profissão religiosa em Bang Nock Khuek, casa–
mãe da missão salesiana tailandesa.
A Providência quis que fosse encarregado da direção, inclusive es-
piritual, do pessoal da casa. Em contato com as jovens e mulheres en-
carregadas dos trabalhos domésticos – ele disse: “Fui inspirado por
Nossa Senhora” – teve a intuição de reuni-las e fundar uma Congrega-
ção de Irmãs locais destinada ao serviço e à manutenção das igrejas,
escolas paroquiais, da cozinha e da lavanderia dos colégios. Além dis-
so, deveriam assumir a catequese das crianças, preparando-as para os
Sacramentos.
Em 1936, o clérigo Carlos foi ordenado sacerdote. Depois da
Segunda Guerra Mundial, de acordo com os superiores, tomou a do-
lorosa decisão de deixar a Congregação a fim de se dedicar comple-
tamente à organização de sua obra, ocasião em que se incardinou na
diocese de Bangcoc.
Pe. Carlos sofreu como Dom Bosco e Pe. Luís Variara, mas conti-
nuou seu trabalho com firmeza, certo de estar cumprindo a vontade de
Deus. Foram anos realmente difíceis para ele e para suas consagradas,
que chegaram a viver momentos desesperadores, sem um centavo,
sem casa, sem trabalho. Ganhavam seu pão bordando ou costurando
roupas que, afinal, só conseguiam vender por poucas moedas.
Com autorização do bispo, Pe. Carlos enviou a Roma o primeiro
regulamento para aprovação de suas irmãs como instituto de consa-
gradas. Em 1955, após muitas dificuldades, as primeiras sete irmãs
emitiram sua profissão no nascente Instituto Secular das Filhas da
Realeza de Maria Imaculada.
Entretanto, já havia tempo que Pe. Carlos tinha solicitado sua re-
admissão na Congregação Salesiana. O bispo, porém, só concordou
quando ele completou 80 anos. Morreu como salesiano, em Bangcoc,
no dia 4 de abril de 1982.
Atualmente as Filhas da Realeza de Maria Imaculada somam
48 professas, 4 noviças e 36 aspirantes, que trabalham em 5 obras
próprias do instituto.

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 14 DE JULHO DE 2003

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OREST ES
MARENGO
1906 s 1998

O
restes Marengo nasceu em Diano di Alba, pequena cidade do
Piemonte, província de Cúneo, no dia 29 de agosto de 1906.
Por três anos freqüentou a escola elementar das Filhas de Ma-
ria Auxiliadora, onde intensificou o amor a Dom Bosco que havia
aprendido dos pais, Lourenço e Agostinha Montaldo. Por desejo de-
les, Orestes continuou os estudos em Turim, Valdocco, onde teve a
oportunidade de conhecer vários salesianos da primeira geração, en-
tre os quais o Pe. Albera, o Pe. Francesia e o Pe. Rinaldi.
No segundo ano de ginásio, a Providência lhe mandou, como su-
plente do professor, o Pe. Estêvão Ferrando, que poucos meses de-
pois iria partir para as missões da Índia. Também Orestes queria ser

126
missionário. Por isso, fez seu pedido ao então Prefeito Geral da Con-
gregação, Pe. Pedro Ricaldone, que o enviou a fazer o noviciado exa-
tamente em Shillong, Índia. Sob a guia do Pe. Ferrando, antes como
mestre de noviços e depois como diretor do estudantado filosófico,
Pe. Orestes dedicou-se a girar pelos povoados indianos, aprendendo
as línguas locais e animando os oratórios festivos.
Durante os estudos teológicos teve a ventura de colaborar com o
pároco da comunidade de Shillong, Pe. Constantino Vendrame, do
qual absorveu o estilo pastoral salesiano, um estilo que faz do Da
mihi animas de Dom Bosco a principal motivação do ser missionário.
No dia 2 de abril de 1932, na Igreja do Santo Redentor, de Shillong,
Orestes foi ordenado sacerdote. Desse momento em diante, entregou-
se de corpo e alma a visitar as vilas do nordeste indiano: visitou-as
em todas as suas dimensões. Levou a mensagem do Evangelho a mi-
lhares de famílias, ajudando-as com tudo o que tem. Conquistou logo
a simpatia do povo, também porque se esforçou por aprender as 20
línguas da região. Homem de oração, afável e acolhedor, sabia, com
simpatia e benevolência, infundir confiança em todos os corações.
Em 1951 foi nomeado bispo da nascente diocese de Dibrugarh.
Aceitou por obediência e foi consagrado no dia 27 de dezembro de
1951, na Basílica de Maria Auxiliadora, em Turim. Em sua diocese,
continuou a visitar as vilas, pregando e confessando todos os fiéis.
Em 1964 recebeu a nomeação para primeiro bispo da diocese de
Tezpur e cinco anos depois lhe foi confiada a nova diocese de Tura.
Renunciou antes do tempo para deixar espaço a um bispo local, que
finalmente foi aceito pelo governo indiano. Transcorreu os últimos
anos da sua vida no apostolado. Continuou por algum tempo a aju-
dar o novo bispo de Tura, buscando fundos para sustentar a diocese.
Sempre disponível para as várias missões até à morte, faleceu em
Tura no dia 30 de julho de 1998.
A obediência aos superiores, o anseio pela salvação das almas e o típi-
co otimismo salesiano foram as características mais evidentes e mais
amadas pelo quarto Servo de Deus missionário no nordeste da Índia

INÍCIO DO PROCESSO DIOCESANO EM 9 DE JULHO DE 2007

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