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ASSISTÊNCIA SOCIAL
RESUMO
ABSTRACT
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Estudante de Pós-Graduação. Centro Universitário Tiradentes (Unit). E-mail:
robertatavares.m@hotmail.com
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Mestre. Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado de Alagoas (SASEAL)
1. INTRODUÇÃO
Em meados dos anos 1970 o sistema do capital4 enfrenta a crise mais severa de
sua história, na qual a maior parte da humanidade é quem sofre as consequências com a
redução e precarização dos serviços sociais e das políticas públicas (MESZÁROS, 2000).
É típico desse sistema que aconteçam as crises, pois as mesmas fazem parte de
seu ciclo. Segundo Netto e Braz (2011, p. 167, grifos dos autores) “a crise é constitutiva do
capitalismo: não existiu, não existe e não existirá capitalismo sem crise”. Porém, o que
diferencia a crise estrutural do capital para as crises que o próprio sistema necessita é que,
dos anos 1970 até hoje, não houve a fase do auge, ou seja, o sistema conseguiu retomar,
mas não atingiu a expansão:
Vivemos na era de uma crise histórica sem precedentes. Sua severidade pode ser
medida pelo fato de que não estamos frente a uma crise cíclica do capitalismo mais
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Segundo Correia (2005) a sociedade pode controlar as ações do Estado através do controle social.
Porém, com o advento do neoliberalismo e seu caráter individualista a sociedade coletiva deixou de
ganhar espaço. Por esse fato a participação popular tornou-se escassa.
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Sistema do capital ou modo de produção capitalista, foi “gestado no ventre do feudalismo e no
interior do qual a produção generalizada de mercadorias ocupa o centro da vida econômica” (NETTO;
BRAZ, 2011, p. 85, grifos dos autores).
ou menos extensa, como as vividas no passado, mas a uma crise estrutural,
profunda, do próprio sistema do capital (MÉSZÁROS, 2000, p. 7).
Como essa crise não tem precedentes, estudiosos afirmam que o declínio do
sistema aconteceu quando o Estado passou a intervir além do âmbito econômico, ou seja,
ampliou suas ações para o social em resposta às reivindicações dos trabalhadores. Com a
questão social em alta e a luta efervescente da classe trabalhadora5, o Estado efetiva as
políticas sociais visando acalmar os ânimos e gerar lucro, como afirma Faleiros: “Por este
meio procura-se, ao mesmo tempo, contribuir para a acumulação de capital, para manter o
sistema de compra e para responder às pressões das forças sociais do momento”
(FALEIROS, 2006, p. 54).
Logo após à efetivação dessas políticas, com o investimento do Estado no
social, o mercado entra em crise - a chamada crise estrutural do capital, não conseguindo
mais alcançar a prosperidade e mesmo diante da concessão de renda para a população
consumir, o subconsumo entra em cena e traz consigo a desvalorização da moeda. Assim, a
solução encontrada é o retorno do laissez-faire (mercado livre), pois, segundo os liberais,
ele mesmo consegue se regular e enxugar os gastos sociais para investir no econômico.
É dessa forma que o neoliberalismo entra em cena, segundo Anderson (1995):
No Brasil6, “o ajuste neoliberal foi implementado a partir dos anos 1990 [do
século XX], mesmo o país [...] resistindo às políticas de desregulamentação financeira e à
abertura comercial irrestrita” (MOURA; PEREIRA, 2012, p. 16). O impacto desse ajuste
abrangeu o país em um pequeno lapso temporal e atingiu as políticas sociais públicas,
descaracterizando tanto a Constituição Federal de 1988 como as Leis Orgânicas.
No âmbito da Assistência Social, que visa romper com o clientelismo e caridade,
a promulgação da Lei Orgânica da Assistência em 1993 foi um marco histórico, pois a
concepção de que o usuário é sujeito de direito é firmada, porém a efetivação ainda é
deficiente.
Com o enxugamento dos gastos sociais, as políticas públicas vêm sofrendo
grande precarização, pois o investimento maior é no setor privado. Porém, mesmo com tal
investimento e se adequando ao ideário neoliberal, a economia não consegue prosperar,
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Devemos entender as políticas sociais, não de forma unilateral, mas a partir do binômio concessão-
conquista, dentro do movimento contraditório da sociedade capitalista.
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O Brasil não teve o Estado de Bem Estar Social, o país servia/serve de base para a sustentação dos
países centrais. Esse processo explica o atraso da política neoliberal chegar ao Brasil.
pois milhares de cidadãos dependem dos serviços públicos e, sem saúde, sem educação e,
principalmente, sem ter o que comer, não há emprego formal, não há autonomia de renda e
não há qualidade de vida.
Desse modo, entendemos que o neoliberalismo não se constituiu em resposta
exitosa para colocar a economia capitalista no nível pretendido por seus defensores,
conforme demonstram Netto e Braz (2011), mas conseguiu suplantar os direitos
conquistados pelos trabalhadores de forma contundente, como o que vem acontecendo na
política de Assistência Social.
No item a seguir explanaremos o contexto histórico da política de Assistência
Social. Analisaremos seu desenvolvimento no Brasil e evidenciaremos o controle social
como base para a participação popular nessa política.
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Mesmo com o choque de concepções, cabe ressaltar que a Constituição de 1988 foi promulgada
indo de encontro ao ideário neoliberal. Essa Constituição reconheceu a Assistência Social como
direito à seguridade social em seus artigos 203 e 204 (SPOSATI, 2008, p.39).
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Entre as razões ponderáveis que justificam o veto, sobressai a da existência, na proposição de
dispositivos contrários aos princípios de uma assistência responsável, que se imite a auxílios às
camadas mais carentes da população sem, contudo, comprometer-se à complementação pecuniária
e continuada de renda, papel este com uma ação voltada a maior disponibilidade de empregos e
salários dignos (SPOSATI, 2008, p.49).
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Segundo Correia, a expressão controle social parte de duas premissas: a primeira é a que entende
controle social como controle do Estado sobre a sociedade, ou seja, o Estado controla a sociedade
em favor dos interesses da classe dominante, através da implementação de políticas sociais visando
amenizar os conflitos de classe. É a ideia de um Estado restrito a administrar os interesses da classe
dominante. A segunda entende o controle social como controle da sociedade sobre as ações do
Estado: aqui, a sociedade tem como controlar as ações do Estado, favorecendo a classe
trabalhadora. A ideia é de um Estado ampliado que, mesmo representando a classe dominante, ele
incorpora as demandas da classe trabalhadora. É nessa segunda perspectiva que se baseia a
participação popular no processo de gestão político-administrativo-financeira e técnico-
operativa, com caráter democrático e descentralizado (BRASIL, 2005).
Posteriormente, nesse sentido, a LOAS reafirmou a Assistência Social como
política pública universal e de gestão participativa. Com o objetivo de efetivar essas
percepções, em 2004, foi aprovada a Resolução nº 145/04 (Conselho Nacional de
Assistência Social, Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Secretaria
Nacional de Assistência Social), que visa à implantação da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS), que foi elaborada em discussões realizadas em todos os Estados do Brasil
através de fóruns e conferências (FONSECA et.al, 2014).
A PNAS retrata os desafios da participação dos usuários – a qual pode se dá
nos conselhos, nas conferências, nos fóruns, não restringindo-se apenas a esses (BRASIL,
2005). Aqui trataremos, particularmente, dos Conselhos10 de Assistência Social. A Política
Nacional de Assistência Social cita algumas reflexões sobre as dificuldades do
entendimento desses usuários sobre a importância da sua participação. A primeira é que a
assistência social só conquistou caráter de política em 1988, o qual foi reafirmado em 1993
com a LOAS; a segunda é sobre a falta de capacitação para esses usuários, pois é
necessário explicar todo processo da política, seu financiamento e a importância da inserção
desses usuários neste processo. Soares (2008, p.110) alerta que “as determinações
macrossocietárias ditadas pelo capitalismo, através do neoliberalismo, como saída para
mais uma das crises do capital, favorecem o esvaziamento dos conselhos em seu objetivo
geral”.
Devido a essa questão, iremos relatar, a seguir, as consequências do ajuste
neoliberal sobre o controle social na assistência social. Será que os limites para participação
dos usuários são apenas esses que cita a Política Nacional de Assistência Social.
Um dos componentes ideológicos por trás desse tipo de proposta é a ideia de que o
setor público caracteriza-se, por princípio, em qualquer circunstância, como
ineficiente e ineficaz, ao contrário do setor privado, o único a possuir uma
„racionalidade‟ e uma „vocação‟ capazes de levar ao crescimento econômico. As
possibilidades de sucesso da proposta privatizante estariam assim garantidas desde
que o Estado não interferisse (SOARES, 2009, p. 40).
Devemos lembrar que a maior parte dos usuários da Assistência Social não
estão organizados em entidades e/ou associações que os permitam participar de processos
eleitorais como esses. Desse modo, as vagas são comumente preenchidas por
organizações de usuários que são “aquelas juridicamente constituídas, que tenham,
estatutariamente, entre seus objetivos a defesa dos direitos de indivíduos e grupos
vinculados à PNAS [Política Nacional de Assistência Social], sendo caracterizado seu
protagonismo na organização mediante participação efetiva nos órgãos diretivos que os
representam, por meio da sua própria participação ou de seu representante legal, quando
for o caso” (RESOLUÇÃO Nº 24 DE 16 DE FEVEREIRO DE 2006/CNAS), tais como as que
encontramos na composição do Conselho Nacional de Assistência Social: Organização
Nacional de Cegos do Brasil, Associação Brasileira de Autismo, Movimento Nacional de
População de Rua.
Grande parte dessas entidades não possuem representações em âmbito
estadual e/ou municipal o que, frequentemente, tem provocado sucessivas vacâncias nos
conselhos estaduais e municipais, como é o caso do Conselho Estadual de Assistência
Social de Alagoas que realizou em 2014 duas eleições para o segmento da sociedade civil
por esse motivo (RESOLUÇÃO Nº. 005/2014 24 DE ABRIL DE 2014, RESOLUÇÕES Nºs 17
e 18 DE 21 DE AGOSTO DE 2014/ CEAS-AL).
Um último problema, mas não menos grave, que identificamos na participação
social na política de Assistência Social é a conjunção do que vem a ser sociedade civil, a
qual não é homogênea, não é um campo pacífico, mas é, como afirma Gramsci, o lugar
onde se processa a articulação institucional de ideologias e dos projetos classistas. Ela
expressa a luta, os conflitos e articula, contraditoriamente, interesses estruturalmente
desiguais (CORREIA, 2005, p.55 apud SOARES, 2008, p.20). Sendo assim, há vários
interesses que se contrapõe nos conselhos de assistência social, não apenas entre governo
e sociedade civil, mas dentro mesmo da própria sociedade civil (representantes dos
usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência
social e dos trabalhadores do setor), o qual, muitas vezes é mistificado a partir do
predomínio da visão liberal de sociedade, dando uma ideia de que todos estão ali em busca
do mesmo objetivo, mascarando a dinâmica do conselho que é de conflito e de luta.
Devemos ressaltar que enquanto usuários e suas organizações junto com
algumas entidades de trabalhadores defendem a estatização da Política e a sua realização
por instituições públicas, as entidades e organizações de assistência social podem querer
continuar detendo a quase exclusividade no desenvolvimento dos serviços
socioassistenciais promovendo, desse modo, a privatização da Política em discussão.
Acreditamos que tais questões, aqui apresentadas, levam ao esvaziamento dos
conselhos de seu objetivo central e se constituem em estratégias neoliberais para
comprometimento do exercício do controle social que, embora, não provoquem, tais
conselhos, mudanças significativas através de meios institucionais, é necessária uma
revisão na forma de organização e atuação dos conselhos de assistência social para que
possam ter visibilidade e sejam, de fato, legítimos representantes da classe trabalhadora
(SOARES, 2008, p.114).
5. CONSIDERAÇOES FINAIS
REFERÊNCIAS
CORREIA, Maria Valeria Costa. Desafios para o Controle Social: subsídios para
capacitação de conselheiros de saúde. Rio de Janeiro. Fiocruz: 2005.
CORREIA, Maria Valéria Costa. Que controle social na Política de Assistência Social?
In: Serviço Social & Sociedade, ano XXIII n.72. São Paulo: Cortez, 2002.
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. In: Outubro, No. 4. São Paulo: Instituto
de Estudos Socialistas, 2000.
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. 8. ed. São Paulo: Cortez,
2011.
NETTO, José Paulo. BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. 7. ed.
São Paulo: Cortez, 2011, p. 166-235 – (Biblioteca básica de serviços social; v.1).
SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011.