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MANUAL DO

Criminalística e Medicina Legal – CBFPM 2022


PARTICIPANTE

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UD II – Locais de Crime

Notas

Objetivos
Ao finalizar esta unidade o participante espera-se que o
participante tenha alcançado os seguintes objetivos:

1. Conhecer a Criminalística em âmbito geral e especifico,


sensibilizando para a importância do isolamento e prevenção
de locais de crime ou corpo de delito, posteriormente
levantados, a fim de que a investigação pericial possa
reconstruir a dinâmica física do evento criminal ou
confirmar, na dinâmica do procedimento investigatório, teses
ali propostas;

2. identificar os princípios básicos das perícias em geral,


técnicas, métodos e procedimentos aplicáveis às perícias
externas, relacionando com as ciências em geral, com as
inovações tecnológicas e identificando a importância de tudo
em todas as fases da ação policial;

3. propiciar ao profissional de segurança uma visão de


posicionamento da ciência médico-legal no curso do ciclo
completo da ação policial, habilitando a proceder
corretamente o encaminhamento da prova, segundo
conveniência de tempo, espaço e tipo de evidência com que
se depara.

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1. Definição de Local de Crime



A preservação do local de crime e sua caracterização é um ponto
de extrema relevância na demanda persecutória criminal. O Código de
Processo Penal Brasileiro, em seu artigo 6º, I, dispõe que “logo que tiver
conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá
dirigir-se ao local, providenciando que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais”. Percebe-se,
portanto, que a lei processual não menciona um conceito a respeito de
local do crime, ficando tal tarefa a cargo da doutrina.
Segundo Eraldo Rabelo, “local de crime é a porção do espaço
compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é
constatado o fato, se estende de modo a abranger todos os lugares em
que, aparentemente, necessária ou presumivelmente, hajam sido
praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais preliminares
ou posteriores, à consumação do delito, e com esta diretamente
relacionados”.
Nota-se que, dependendo do tipo de delito, os locais de crime
poderão ter conteúdo variado de vestígios, como, por exemplo, nos
crimes contra a pessoa, nos quais as evidências relacionam-se
especificamente à vítima, ao passo que nos crimes contra o patrimônio os
vestígios apresentados relacionam-se à coisa.
Ressalta-se que no local de crime serão pesquisados elementos
físicos que configurarão as provas materiais para a tipificação do delito e
a busca de sua autoria, sendo definidos como vestígios os elementos que
determinam ação criminosa, como por exemplo, sinal de pisada, rastro,
etc.
A experiência prática referente aos trabalhos realizados nos locais
de crime comprova, de forma incontroversa, que os esclarecimentos
necessários a serem realizados frente a um delito se encontram
proporcionalmente relacionados ao nível de preservação do local.

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Contudo, a inexistência da preocupação de alguns agentes de segurança


em isolar e preservar o local da infração penal torna-se um dos grandes
obstáculos encontrados, hoje em dia, pela perícia criminal quanto à
fidedigna análise das evidências. Diante do exposto faz-se necessário,
primeiramente, entender o local de crime e saber classificá-lo em
imediato, mediato e relacionado, conforme segue:

a) Local Imediato: é aquele abrangido pelo corpo de delito e o seu


entorno, onde estará a maior parte dos vestígios materiais, mas não
necessariamente a sua totalidade.

b) Local Mediato: é a área adjacente ao local imediato; é toda a região


espacialmente próxima ao local imediato e a ele geograficamente
ligada, passível de conter vestígios relacionados com a perícia em
execução.

c) Local Relacionado: é todo e qualquer lugar sem ligação geográfica


direta com o local do crime e que possa conter algum vestígio ou
informação que propicie ser relacionado ou venha a auxiliar no
contexto do exame pericial.

2. Isolamento e preservação do
local de crime

O isolamento e a preservação do local de crime são uma garantia


de que o perito irá encontrar a cena do crime conforme fora deixada pelo
autor e pela vítima tendo, assim, as condições técnicas de analisar todos
os vestígios. É também uma garantia para a investigação como um todo,
pois haverá mais elementos a serem analisados e acostados ao Inquérito
Policial.
O procedimento de preservação do local de crime sucede as
providências pertinentes ao procedimento de isolamento do local de
crime.

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A polícia militar, sendo uma instituição pública prestadora de


serviços à comunidade, exerce sua missão constitucional de polícia
ostensiva e, nesse sentido, destaca-se dentre suas atribuições, a promoção
do devido isolamento do local de crime, assim como de sua preservação.
Portanto, o policial que primeiramente chegar ao local do crime, no
que concerne aos procedimentos referentes aos vestígios e evidências,
deverá isolar a área de ocorrência do evento criminoso, não
permitindo a alteração das coisas, devendo, inclusive, evitar que
qualquer pessoa tenha contato com os vestígios e com os instrumentos do
crime, resguardando-os a fim de serem oportunamente analisados pelos
profissionais de perícia.

3. Segurança no local de crime


1º. Segurança pessoal: a primeira preocupação do profissional de


segurança pública ao dar o atendimento inicial no local de crime é com a
sua segurança.

2º. Cuidados ao se aproximar de um local de crime: parar a viatura em


local estratégico que facilite a proteção dos ocupantes, a uma distância
razoável do foco central de atendimento, evitando maior aproximação
para não destruir possíveis vestígios.

3º. Socorro às vítimas no local: verificar se há vítimas no local e se


ainda estão com vida.

4º. Isolar e preservar o local de crime: a fim de garantir que o perito


encontrará a cena do crime conforme fora deixada pelo autor e pela
vítima tendo, com isso, as condições técnicas para analisar todos os
vestígios.

Após a chegada da autoridade policial competente (delegado de


polícia, que representa a polícia judiciária) no local de crime, conforme
preconiza o CPP, o policial militar que atendeu a ocorrência entregará o
local a este, transmitindo todas as informações e impressões obtidas,

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confeccionando documento operacional - Boletim de Atendimento (BA)


– devendo constar necessariamente o nome do responsável da Policia
Civil.

Além da preservação do local de crime a autoridade policial


deverá buscar outras evidências que possam colaborar na investigação
policial.

4. Vestígios
Nos exames periciais em locais de crime a matéria prima de todo
o levantamento é sempre o vestígio. Ele é a fonte de onde se extraem
todas as informações e, consequentemente, é por meio dele que o perito
fará suas interpretações baseadas em metodologia científica.

Os vestígios constituem-se, pois, em qualquer marca, objeto ou


sinal sensível que implique em uma sequência de procedimentos para a
sua produção ou para a sua disposição em determinada configuração,
forma ou estado.

5. Evidências

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Constitui uma evidência o vestígio que, após analisado pelos


peritos, mostra-se diretamente relacionado com o delito investigado. As
evidências são, portanto, os vestígios materiais depurados pelos peritos.

6. Indícios

O termo indício encontra-se definido no artigo 239 do Código de


Processo Penal: “Considera-se indício a circunstância conhecida e
provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se
a existência de outra ou outras circunstâncias”.
Vimos que, num primeiro momento, o termo definido CPP parece
sinônimo do conceito de evidência. Todavia, a expressão indício foi
definida para a fase processual, ou seja, para um momento pós-perícia, o
que quer dizer que a nomenclatura indício engloba, além dos elementos
materiais de que trata a perícia, outros de natureza subjetiva, próprios da
esfera da polícia judiciária.
No contexto geral, podemos dizer que cabe aos peritos a
capacidade de transformar vestígios em evidências, enquanto aos
policiais reserva-se a tarefa de agregar às evidências informações
subjetivas, bem como apresentar o indiciado à Justiça. Portanto, conclui-
se que toda evidência é um indício, porém, nem todo indício é uma
evidência.

7. Presunção

Segundo o procurador de Justiça aposentado Marcos Antônio de


Barros, a presunção “decorre da lei, ou se extrai de uma regra de
experiência, que traz em si, a presunção de veracidade. Pode ser absoluta
ou relativa, mas não é um meio de prova”.
Presunção é a convicção gerada na consciência sobre a existência
real de um fato ou circunstância desconhecidos que, por sua natureza,
permitem a relação com um fato conhecido. Esse fato conhecido e

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provado é o indício, cuja relação necessária ou possível com o fato que se


desconhece, prova ou leva a presumir sua existência.

8. Meios e formas de solicitações


periciais

O Departamento de Criminalística atende a solicitações da Polícia


Civil, do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Brigada Militar.
Em relação à última, as perícias solicitadas são apenas aquelas referentes
aos Inquéritos Policiais-Militares (IPM) de sua competência, como por
exemplo, exame pericial nas armas que efetuaram disparos em confronto
dos quais restaram feridos ou mortos, perícia em veículos para verificar a
origem de danos produzidos por ocorrência de trânsito.
A grande maioria das perícias realizadas no Departamento é feitas
por solicitação da Polícia Civil.
Constatada a real necessidade de levantamento pericial em um
local de crime, deverá ser feita a respectiva solicitação ao Departamento
de Criminalística, oficializada e comunicada segundo um procedimento
adequado. Atualmente, há o Departamento de Comando e Controle
Integrado (DCCI), necessário e pertinente aos diversos órgãos que atuam
na SSP (IGP, BM, PC e SUSEPE).
É de suma importância que o órgão solicitante informe com
exatidão o que a autoridade policial busca com o exame pericial. Devem
ser banidas práticas como, por exemplo, solicitar inadequadamente
“perícia de veículo” ao invés de “perícia mecânica em veículo”. A falta
de informação adequada dificulta a definição de qual seção do DC
responde pela execução da tarefa e, mais adiante, ao perito designado
saber o que deve buscar no automóvel (quesitos). Faz-se necessário
informar o fato ocorrido e quais as respostas que a autoridade policial
busca, como por exemplo, se há vestígios de tiro no veículo, se há
presença de pelos, esperma (casos de estupro), se há vestígios de droga,
se existe determinado problema mecânico, etc.

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Além disso, algumas vezes é oportuna uma conversa telefônica


prévia entre os peritos e a autoridade policial (ou seus agentes), a fim de
que os peritos obtenham informações relevantes que possam orientá-los
na execução do seu trabalho (ponto de referência, rota de deslocamento
até o local, necessidade de escolta por viatura policial, etc.).
Cabe salientar, da mesma forma, que a solicitação da perícia é
competência da autoridade policial, cabendo a ela o julgamento da real
necessidade da realização de levantamento pericial no local do crime.

9. A prova técnica no Código de


Processo Penal

A prova pericial é a prova técnica na medida em que pretende


certificar a existência de fatos cuja certeza somente seria possível por
meio de conhecimentos específicos. O perito deve fechar a investigação,
analisando com muita prudência os dados fornecidos pelas partes,
estudando-os minuciosamente.
Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de
corpo de delito, seja ele direto (quando os peritos o realizam diretamente
sobre a pessoa ou objeto da ação delituosa ou indireto) ou indireto
(quando não é propriamente um exame, uma vez que os peritos baseiam-
se nos depoimentos das testemunhas por haverem desaparecido os
vestígios, não podendo ser suprido pela confissão do acusado). É um
exame obrigatório para a autoridade à determinação da perícia quando a
infração deixar vestígios, conforme artigo 158 do CCP. Nas demais
perícias há uma faculdade da autoridade judicial ou das partes para a sua
realização.
A Perícia é um meio de prova e sua realização é determinada pela
autoridade policial (art 6°, VII, CPP). Segundo o artigo 159 do CCP, os
exames de corpo de delito e as outras perícias serão, em regra, realizados
por peritos oficiais. No caso de não existirem peritos oficiais, o exame
será realizado por duas pessoas idôneas, escolhidas de preferência as que
tiverem habilitação técnica (art 159, § 1º do CCP), referindo-se à lei a

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preferência para os que têm habilitação técnica. No entanto, nada impede


que, na ausência de profissionais legalmente habilitados, sejam nomeadas
pessoas sem esse preparo técnico, tal como já decidiu o Supremo
Tribunal Federal. Nesse seara, a Súmula 361 do STF afirma que, no
processo penal é nulo o exame realizado por um só perito.
Conforme o art. 161 do CPP, o exame de corpo de delito poderá
ser realizado em qualquer dia e em qualquer horário. Os art. 164 e 165 do
CPP trazem a previsão legal do uso de fotografia nos locais de crime
onde haja morte, devendo o cadáver ser fotografado sempre na posição
em que fora encontrado. O art. 169 do CPP é de suma importância, pois
se refere ao isolamento do local de crime, matéria que envolve a atuação
dos agentes de Polícia Judiciária, responsáveis pela preservação e
guarnecimento.
Analisando o artigo 178 do CPP vemos que cabe à autoridade
policial, presidente do inquérito policial, requisitar a perícia, podendo
também o promotor de Justiça e o juiz determinarem a realização de
perícias. Todavia, na grande maioria das ocorrências, é o delegado de
polícia que primeiro toma conhecimento e por ser o presidente do
inquérito, é quem mais exerce essa obrigação. A nomeação do perito
oficial é realizada pelo diretor do Departamento de Criminalística.

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