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LEVANTAMENTOS DOS LOCAIS DE CRIME CONTRA A PESSOA

E CONTRA O PATRIMÔNIO

Levantamentos dos Locais de Crime Contra a Pessoa e Contra o Patrimônio

A seção de Crimes Contra a Pessoa, em regra, é responsável pelos exames em locais de homicídio
(com exceção dos resultantes de acidentes de trânsito), suicídio, lesões corporais, dentre outros crimes
contra a pessoa, além do crime de latrocínio, que apesar de ser classificado juridicamente como um
crime contra o patrimônio, apresenta maior similaridade pericial aos crimes contra a vida. Os Peritos
Criminais dessa seção atendem prontamente, 24h por dia, todos os chamados em que ocorre óbito no
local, em função da grande quantidade de vestígios presentes em tais ocorrências, sendo eles, os
profissionais responsáveis pela liberação do cadáver para ser encaminhado ao Instituto Médico Legal,
onde posteriormente é realizado exame de necropsia pelo Médico Legista. Os demais exames (em que
a morte ocorre posteriormente, ou há somente lesões corporais, dentre outros) são realizados mediante
solicitação por ofício.

A seção de Crimes Contra o Patrimônio realiza perícias, em sua grande parte, em locais de crimes de
furto e roubo. O atendimento se dá por solicitação do plantão, 24h por dia, para os casos de flagrante
delito, enquanto as demais ocorrências são atendidas posteriormente mediante requerimento por ofício.

A seção de Crimes de Trânsito realiza perícias em locais de acidente de trânsito (colisões, atropela-
mentos, etc...). Assim como a seção de Crimes Contra a Pessoa, o atendimento se dá de pronto quando
o óbito ocorre no local, sendo as demais perícias realizadas posteriormente e/ou indiretamente com
base nos boletins da polícia, avarias dos veículos, dentre outros. É atribuição dessa seção os exames
em veículos, se relacionados a danos (resultantes de acidente de trânsito ou ação humana intencional)
ou falhas mecânicas (nos casos em que estiverem relacionadas a acidente de trânsito em que tenha
resultado ao menos lesão corporal grave).

A seção de Engenharia Forense apresenta uma das maiores gamas de exames do Instituto, responsá-
vel por todas as perícias das diversas especialidades da engenharia, além de outras de menor com-
plexidade como fuga de presos, danos em imóveis, dentre outras. Mesmo sendo uma das áreas da
localística, a engenharia apresenta um caráter misto, uma vez que grande parte de seus exames são
de características laboratoriais, como os realizados em equipamentos eletrônicos. Os maiores volumes
de atendimento da seção estão relacionados a explosões (Principalmente de caixas eletrônicos), in-
cêndios, crimes ambientais e equipamentos eletrônicos (em sua maioria máquinas de jogo de azar e
rádios comunicadores).

O objetivo principal dos Peritos Criminais dessas seções é comparecer aos locais de crime para mate-
rializar o delito, assim como buscar vestígios de autoria. Quanto aos elementos identificadores de au-
toria, cumpre referir que a coleta de impressões papilares, por determinação da Secretaria de Estado
da Segurança Pública, está a cargo dos Papiloscopistas do Instituto de Identificação do Paraná. Os
demais exames, como coleta de fluidos biológicos para exames de DNA, exames de reconhecimento
facial em imagens, dentre outros, ainda competem a este Instituto.

É sabido que todo o exame de local de crime se configure como o cerne do ponto de partida da inves-
tigação criminal, sendo, portanto, inconcebível qualquer procedimento de análise investigativa de fatos
delituosos sem ter havido um prévio contato do profissional com o local que desenvolveu, suposta-
mente, a infração penal.

O ilustre professor RABELLO (1996) nos ensina e define local do crime como sendo:

“[...] a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o
fato, se entenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumida-
mente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou poste-
riores à consumação do delito, e com este diretamente relacionado.”

O maior desafio para o profissional perito, certamente é a questão do nível de preservação e isolamento
do local de crime. Para Dorea (2012):

“Da elasticidade incontestável do conceito de local de crime, salienta-se a importância decorrente para
o correto e completo isolamento e guarnecimento (custódia policial) do local onde se verificou a infra-
ção, a fim de que sejam propiciadas as condições para um levantamento eficaz e de extremo valor
prático”.

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O presente trabalho visa trazer à baila, uma reflexão sobre as delimitações reais dos locais de crime –
que muitas vezes perpassam o campo geográfico ou físico pela autoridade atendente da ocorrência,
além dos tipos de locais de crime e suas peculiaridades dado à natureza da infração penal.

Delimitação do Local de Crime

O art. 169, do Código de Processo Penal, nos ensina que,

Para o efeito de exame do local onde houver sido praticado a infração, a autoridade providenciará
imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão
instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Parágrafo único. Os peritos
registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências
dessas alterações na dinâmicas dos fatos.

Essa delimitação física, geográfica ou associativa com o objeto da investigação, não consiste numa
tarefa fácil, sobretudo para a polícia administrativa que comumente faz a comunicação à polícia judici-
ária. Para Jesus Antônio Velho e outros (2012), nos ensina que:

“A principal tarefa é descobrir qual será a área necessária a ser isolada para que a perícia possa pro-
curar todos os vestígios relacionados ao fato. Uma regra prática a ser levada em consideração é a
providência de isolar a maior área possível dentro do contexto e da situação existentes, pois áreas
demasiadamente pequenas trazem o risco de contaminação ou perda de vestígios importantes para a
apuração dos fatos”.

Isolamento e Preservação de Locais

É evidente que os exames de locais de crime devem, obrigatoriamente, por expressa ordem legal, ser
realizados por peritos.

Umas das adversidades que o perito sempre enfrenta na sua rotina de campo, é o nível de preservação
do estado das coisas, contextualizadas com a dinâmica do delito. Dado que esses profissionais não
são os primeiros a chegar a uma cena de crime, é essencial que a autoridade atendente da suposta no-
titia criminis, adote uma gama de providências calcadas na finalidade de se isolar e preservar o macro-
ambiente que tenha alguma ligação com a ação delitiva. Isso é muito importante para que a Crimina-
lística trabalhe revestidos de uma maior segurança nessa busca constantes por vestígios importantes
para a configuração da autoria e materialidade do crime.

Para os policiais presentes na ocorrência exige-se um certo bom senso e zelo em suas condutas, que
poderão ser determinantes para a preservação de certos vestígios que requerem maiores cuidados,
como uma pegada na areia, um escarro, sangue, esperma etc. Esse cuidado é compreensível, tranqui-
lamente, visto que muitas situações climáticas podem provocar degradação a estes tipos de vestígios.

Quanto à preservação do local de crime, a perita criminal BARACAT (2008) leciona que:

“[...] a preservação dos vestígios deixados pelo fato, em tese delituosa, exige a conscientização dos
profissionais da segurança pública e de toda a sociedade de que a alteração no estado das coisas sem
a devida autorização legal do responsável pela coordenação dos trabalhos no local pode prejudicar a
investigação policial e, conseqüentemente, a realização da justiça, visto que os peritos criminais anali-
sam e interpretam os indícios materiais na forma como foram encontrados no local da ocorrência.”

Dessa forma, percebe-se a relevância dos procedimentos de isolamento e preservação do local de


crime, para a ocorrência de um trabalho pericial que proporcione uma verdadeira exatidão no que con-
cerne a análise dos vestígios, culminando, assim, numa conclusão mais consistente e robusta do laudo
pericial.

Registro Pericial do Local

Essa fase representa o chamado “levantamento de local”, consistindo, no processo de documentação


que ocorre após a busca de vestígios no local. Logicamente, os tipos de recursos disponíveis para a
realização de todo esse processo são inúmeros, sofrendo, sempre, influência do próprio progresso
engatinhado pelas Ciências Forenses ao longo dos anos.

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Segundo Jesus Antônio Velho (2012), os recursos básicos são:

• “Descrição Narrativa: trata-se de relatório escrito de tudo o que o perito encontrar no local. A cena
geralmente é descrita do geral para o específico. Em princípio, nenhum item é insignificante e nada
pode ser descartado da documentação. Há um jargão no ambiente pericial que diz ‘nem lixo pode ser
considerado lixo no local de crime’. De fato, há vários registros de vestígios importantes detectados em
cestos de lixos.

• Levantamento fotográfico: iniciado assim que o perito chega ao local, o mais rápido possível. Tirar
fotos globais da cena logo ao chegar é recomendação baseada em fundamentos que podem esclarecer
qual o estado da cena quando da chegada da perícia. A etapa fotográfica permeia todo o trabalho de
análise da cena. Não é uma etapa estanque. Inicia-se com a chegada e continua até a liberação do
local. É uma importante forma de registro.

• Croqui: consiste em realizar um desenho da cena de crime e registrar a posição dos vestígios no
local de crime, de modo a contextualizá-los para futuras referências [...]”.

Principais vestígios encontrados na cena do crime

Em Locais de Crime Contra o Patrimônio

Em locais de crime contra o patrimônio, os vestígios são comumente encontrados através de danos
aos bens móveis e imóveis. O perito criminal responsável por esse tipo de exame deve-se ater em sob
determinados objetos: depredações de edificações nas suas estruturas construtivas; arrombamentos;
quebra de vidros em janelas e portas; acidentes de trânsito; apropriação indébita de água, luz, TV a
cabo; equipamentos de adulteração/furto de combustível; arrombamento de veículos, etc.

Os vestígios gerados nos objetos acima são importantes para a compreensão da dinâmica do crime,
pois podem determinar certas qualificadoras configurados e disciplinados na legislação especial penal.

A literatura criminalística aborda que quantidade de vestígios gerados em furtos é superior à de roubos.
Nos primeiros são comuns danos por meio de ruptura ou transposição forçada de fechaduras, cadea-
dos, portas, janelas, dutos de ventilação, etc., propiciando, assim, um acervo maior de vestígios mate-
riais na ação criminosa.

Em Locais de Crime Contra a Vida

Numa cena de crime em que, supostamente, tenha acontecido homicídio podem existir diversos tipos
de vestígios associativos. O principal seria a presença de manchas de sangue, em estado líquido ou
na forma de crosta. A caracterização da forma da mancha é de suma importância para a compreensão
de toda dinâmica envolvida na ação criminosa. A classificação adotada pelo ilustre perito criminalístico,
Luiz Eduardo Dorea, a partir da morfologia da mancha é muito clara e didática. Este ilustre colega
leciona um subdivisão em Manchas por projeção, escorrimento, contato, impregnação, limpeza. São
observações que poderão elucidar o modo de ação do criminoso, vítima ou objeto, durante um exame
de local de crime.

Na caracterização desse tipo de líquido biológico existe alguns testes de confirmação, como teste da
benzidina, da fenolftaleína, da leucobase e primordialmente, do luminol.

Em relação à crimes contra a dignidade sexual, o esperma é um vestígio importantíssimo a ser obser-
vado pelo perito criminalístico. Umas das provas de verificação desse vestígio consubstancia pelos
seguintes métodos: Prova de Corin-Stockis e Soro antiesperma.

Outros vestígios também podem estar presentes na cena do crime, a depender da natureza do delito,
como saliva, leite, colostro, líquido amniótico, matéria fecal, urina, vômitos, fibras e pelos.

Por meio deste trabalho, tornou-se evidente que o exame de local de crime apresenta certos paradig-
mas a serem enfrentados tanto pela polícia ostensiva (polícia militar) na questão da preservação do
local, quanto pelo perito criminal de campo responsável pela ocorrência. Para este profissional é im-
portantíssimo seu olhar extensivo numa cena do crime, além de considerar e constar em laudo, possí-
veis interferências no conjunto probante presente no local de crime, de modo, a sedimentar de forma
real e verdadeira todo o universo de provas, a serem apreciadas durante a persecução penal.

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Para matar a curiosidade e a sede de conhecimento de muitas pessoas interessadas pela rotina do
profissional de perícia, a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) realiza uma série de publicações
relacionadas à atividade forense, que vai desde os tipos de perícias à atuação dos profissionais e outras
curiosidades do âmbito da investigação criminal. A série de textos inicia, nesta terça-feira (9), pelo local
de ocorrência, também chamado de local de crime, e a importância da preservação de provas para
solucionar casos em investigação.

O trabalho em campo da Pefoce começa logo após o acionamento da Coordenadoria Integrada de


Operações de Segurança (Ciops) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Ge-
ralmente, quem chega primeiro são os policiais militares. Eles realizam o isolamento e a preservação
do local da ocorrência aguardando a chegada dos peritos e da autoridade policial.

Os peritos criminais chegam em seguida para identificar e coletar vestígios, analisar a dinâmica do fato,
realizar fotografia forense para compor o laudo e a perícia externa na vítima (quando existir vítima fatal),
requisitados pela autoridade policial. Os peritos realizam o agrupamento do máximo de fatos e evidên-
cias relacionados ao caso para compor a prova material. Na maior parte dos casos, o trabalho resulta
no “triângulo dos vestígios”, que é a interligação direta entre o local, o suspeito e vítima.

Os peritos criminais de natureza oficial analisam o local da ocorrência de forma minuciosa, buscando
‘conversar’ com os elementos que estão dispostos ali e revelar os vestígios obscuros. O perito identifica
peças de um quebra cabeça que ele monta através dos princípios técnicos e científicos, gerando a
prova material irrefutável, que é encaminhada à autoridade que preside o inquérito policial: o delegado
de Polícia Civil. Muito do que se busca saber sobre a vítima e sobre a autoria de um crime, por vezes,
está ali, no local de crime, no corpo, nos fragmentos e vestígios que serão analisados minuciosamente
nos laboratórios da Pefoce.

Tipos de ocorrências

As ocorrências se dividem em três tipos: ocorrências de crime contra o patrimônio, quando há depre-
dação, arrombamento, danos ao imóvel, automóvel ou algum outro patrimônio público ou privado. Há
também as ocorrências de vida, quando há como resultado pessoas que perderam a vida de forma
violenta ou com morte suspeita que origine um inquérito policial, que é instaurado nas delegacias de
Polícia Civil para investigação.

Por fim, existem as ocorrências de trânsito, quando há vítimas letais e vítimas feridas criminalmente.
Neste caso, o perito vai ao local avaliar as vítimas para, em casos de óbitos, tipificar o tipo de acidente,
se colisão, capotamento ou atropelamento, analisar os danos nos veículos envolvidos, analisar marcas
de frenagens e fricções, que ajudam a construir a dinâmica do acidente. O perito criminal também
consegue realizar a identificação veicular, saber se houve adulteração no automóvel, como por exem-
plo, a troca de placas e outros itens que sofrem modificações criminosas.

A última ‘voz’

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A perita criminal, Leda Queiroz Trindade, que possui sete anos de carreira como perita criminal, inicia
os seus plantões sem saber o que terá ao longo do dia. Ela conta que sempre chega ao local de ocor-
rência de vida com a certeza de que ela pode ser a última ‘voz’ da vítima. A pessoa que vai ajudar a
contar o que ocorreu nas últimas horas e, com isso, colaborar para que a Justiça seja feita. “No local
de crime, a primeira coisa que faço é observar o que ‘a vítima tem a me dizer’, pois o corpo nos dá
informações. O local pode dar indícios do que houve nas últimas horas e últimos instantes da vítima
com o agressor. Com isso buscamos uma indicação da autoria do crime”, explica.

Entre os principais procedimentos realizados pelos peritos de local de crime é o exame perinecroscó-
pico, ou seja, de constatação dos tipos de lesões das vítimas, se foi causada por arma de fogo, se o
disparo realizado foi de longa ou curta distância, se foi provocado por arma branca, objeto contundente,
ou se há sinais de esganadura, por exemplo.

Os peritos também realizam um croqui com dados sobre o local da ocorrência. Informações de como o
corpo da vítima foi encontrado, como estão formadas as manchas de sangue, se existem elementos
no local que possam dar pistas sobre a dinâmica do crime. Amostras biológicas e outros vestígios
solicitados pela autoridade policial também são coletados para serem encaminhados para exame com-
plementar, que pode ser realizado pelo próprio perito ou pelos laboratórios que compõem a Perícia
Forense.

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