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AZEREDO, E. H. de et al.

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UTILIZAÇÃO DE Brassica oleracea (L.) COMO PLANTA ATRATIVA


SIMULTÂNEA DE Myzus persicae (SULZEI, 1776) E Cycloneda
sanguinea (LINNAEUS, 1763) EM ÁREA DE CULTIVO DE BATATA
(Solanum tuberosum L.)

EDSON HENRIQUE DE AZEREDO1


JULIO CESAR PERRUSO2
EURIPEDES BARSANULFO MENEZES 3
PAULO CESAR RODRIGUES CASSINO 3

1. Pró-Reitoria de Extensão-Universidade Federal Fluminense-Pinheiral, RJ. CEP.:27197-000,


e-mail:edsonhenrique.azeredo@bol.com.br;
2. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE/RJ;
3. Centro Integrado de Manejo de Pragas “CRG”. DEnF. IB, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, RJ.
CEP: 23890-000

ABSTRACT: AZEREDO, E. H. de; PERRUSO, J. C.; MENEZES, E. B. e CASSINO, P. C. R. Utilização de


Brassica oleracea (L.) como planta atrativa simultânea de Myzus persicae (SULZ EI, 1776) E
Cycloneda sanguinea (LINNAEUS, 1763) em área de cultivo de batata (Solanum tuberosum L.).
Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 89-95,
jul.-dez., 2004. Este trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento de Myzus persicae, como
organismo fitófago visitante da batata, cultivares Achat e Monalisa. Neste estudo a utilizacão da espécie
botânica Brassica oleracea var. italica foi lateralmente às plantas da batata (Solanum tuberosum L.). No
experimento foram observados 48 exemplares de Cycloneda sanguinea L., destacando-se dos outros
biocontroladores ( Polistes sp., Solenopsis saevissinia e Zelus sp.) foram registrados. A dinâmica
populacional de C. sanguinea evidenciou-se na primeira semana de maio, quando foi registrado 14,58%,
provavelmente associado à temperatura maxima de 25°C e mínima de 13°C. Os valores obtidos da
comparacão entre as médias de C. sanguinea e variáveis meteorológicas foram significantes a P<0,05,
tornando possível o controle do M. persicae, e reduzindo o uso excessivo de defensivos agrícolas.
Palavras-Chave: Praga, cultura da batata, inimigos naturais, escudo aromático.

ABSTRACT: AZEREDO, E. H. de; PERRUSO, J. C.; MENEZES, E. B. and CASSINO, P. C. R. Utilization of


Brassica oleracea L., with attractive simultaneou plant of Myzus persicae (Sulzei , 1776) and
Cycloneda sanguinea (Linnaeus, 1763) in potato (Solanum tuberosum L.) crop area. Revista
Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 89-95, jul.-dez.,
2004. This paper had the objective to evaluate the behaviour of the aphid Myzus persicae as phytophagous
organisms visitors two potato cultivars of Achat and Monalisa. In this study was used, the botanic species
Brassica oleracea L., var. Italica on beside the split lateral in potato plant (Solanum tuberosum L.) as traps
crops. During the period of sampling 48 exemplars of C. sanguinea (specialist predator) detachment upon
other natural enemies (Polistes sp., Solenopsis saevissima and Zelus sp.) were registered. The dynamics
of C. sanguinea was evident in the first week of May, when 14,58% was registered associated probably
with the maximum temperature of 25ºC and minimum of 13ºC. The values obtained on the comparison
between the averages of C. sanguinea and meteorological factors were significant to P< 0.05, making
possible the control of M. persicae and reducing the excessive use of pesticide.
Key Words: pest, potato crops, natural enemies, aromatic shield.

INTRODUÇÃO (PALLINI et al., 2000). Esses odores


liberados são produzidos a partir de
Tanto para animais como para vegetais, compostos voláteis fazendo as plantas se
os odores desempenham papel importante defenderem do ataque de doenças e praga
nos processos de comunicação entre os (PALLINI et al., 2000; PICKET e DICKE,
indivíduos, sendo responsáveis pela 1996) ; cujas substâncias de def esa,
transmissão de informações entre eles também podem ser utilizadas como sinais

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para a orientação de inimigos naturais no (SOUTHW OOD, 1973; EDW ARDS e


processo de busca das pragas. WRATTER, 1981, citados por PANIZZI e
O baixo consumo de batata pelos PARRA, 1991), fazem com que os insetos
brasileiros tem como causa, segundo utilizem ou não, estas plantas, como fonte
Souza e Reis (1999), o excesso de de alimento e adequada sob o ponto de
defensivos agrícolas nas áreas de lavoura. vista nutritivo. Para isto, é necessário que
Nesse sentido os pulgões exigem uma haja uma seqüência de f ases
metodologia de controle. comportamentais.
Preliminarmente, como se desconhecia A maioria dos estudos sobre
a existência no município de Pinheiral (RJ), alimentação de insetos (KENNEDY, 1965)
de pulgões associados à batata, levantou- f ocaliza apenas a f ase f inal
se a expectativa do predador manter-se ali, (reconhecimento do alimento e sua
na dependência de um atrativo. Para isso, aceitação), necessitando de estudos sobre
utilizaram-se de plantas-isca como os primeiros movimentos dos insetos na
defensivo químico natural. Staedler (1976) planta e como a planta é encontrada e
citado por Panizzi e Parra (1991), aponta contactada que, na visão de Matthews &
nesse intrincado processo de interação, a Matthews (1978), citados por Panizzi &
química do meio ambiente, como por Parra (1991), isto ocorre devido aos
exemplo as substâncias voláteis que estímulos da planta, prov ocando
emanam das plantas, os feromônios que, movimentos em níveis de especialização
segundo Chapman (1982) citado por orientados em direção à planta.
Panizzi & Parra (1991), são os estímulos Discutiu-se a partir dessa técnica, a
à preferência alimentar pelos insetos predominância da Cycloneda sanguinea
fitófagos; como de outros compostos (Linnaeus, 1763) (Coleoptera:
(substâncias secundárias) que Coccinellidae) em área de batata, tendo em
manifestaram inicialmente como uma vista a estratégia do emprego de planta-
resposta das plantas às pressões armadilha (como brócolos, repolho, couve
exercidas pelos herbívoros. A herbivoria dos e assemelhados) fazendo um meio protetor
insetos, segundo Kogan (1986), nada mais às pragas. Essas plantas sintetizam em
é que o “instinto” botânico dos insetos. suas folhas os glucosinolatos, cujas
De acordo com Thorsteinson (1955), substâncias podem ser liberadas na forma
citado por Panizzi e Parra (1991) foi de isotiocianatos (substâncias picantes)
Verschaffelt, um botânico holandês que em reconhecidas pelos pulgões (PICKET e
1910, fez a primeira citação sobre a química DICKE, 1996). De acordo com Moraes et
envolvida em uma interação inseto/planta), al. (2000) alguns compostos voláteis são
quando em crucíferas atuava atraindo armazenados nos tecidos vegetais e
adultos de borboletas do repolho; porém, liberados no momento em que as injúrias
tais substâncias, para outros insetos não ocorrem, outros são induzidos pelo dano
comuns às crucíferas são um composto causado pelo herbívoro e são, geralmente,
tóxico ou de defesa da planta a estes liberados não apenas pelo tecido lesado,
insetos. A interação entre insetos e plantas mas também pelas folhas não atacadas,
somente é entendida com a inclusão dos podendo ainda, transmitir informações que
inimigos naturais (parasitos e predadores), a longa distância, permita discriminar a
representada nas relações planta/fitófago/ espécie de herbívoro muito próximos.
inimigo natural. A localização de plantas Diversos trabalhos sobre interação
hospedeiras em meio a uma diversidade hospedeiro, fitófago e insetos carnívoro
de espécies botânicas; as injunções foram desenvolvidos, dentre os quais, os
climáticas (temperatura, ventos e chuva); que relataram sobre compostos de atração
além da estrutura fenotípica das plantas emanados das plantas de alimentação das

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presas, sensores químicos dos insetos e Achat, de procedências alemã (cruzamento


localização do habitat da presa (KESTEN, das cultivares Fina e Rheinhort) e, na
1969 e NORDLUND, 1981, citados por Monalisa, holandesa (resultado do
PANIZZI e PARRA, 1991). cruzamento das cultivares Bierna A1-278 e
A interação entre planta, praga e Colmo), respectivamente. As batatas-
inimigos naturais, formam uma estrutura semente foram adquiridas da Estação
complexa chamada interação tritrófica. A Experimental de Maria-da-Fé, Minas
atuação dos predadores nas lavouras é o Gerais. O delineamento experimental foi
desafio maior para o futuro do controle em blocos ao acaso, com quatro
biológico. Os predadores são reguladores repetições e nove tratamentos [(N0K0; N0K1;
gerais (SILVEIRA NETO, 1976) devido a N0K2; N1K0; N1K1; N1K2; N2K0; N2K1; e N2K2)];
capacidade de manter a densidade totalizando 36 parcelas/cultivar. Para esse
populacional da presa, em condições de estudo os trabalhos de campo foram
equilíbrio; são infalíveis e insaciáveis, conduzidos sem a aplicação de produtos
independente da densidade populacional de fitossanitários. O monitoramento da
ambos (Lotka e Volterra “apud” SILVEIRA população de insetos visitantes da área de
NETO, 1976). O estudo sobre insetos plantio, f oi realizado nas mudas de
entomófagos deriva da relevância que estes Brassica oleracea L., distribuídas
artropodos têm no controle natural de lateralmente nas leiras, formando uma
populações de herbívoros (PANIZZI e cortina vegetal.
PARRA, 1991). A especialização de O uso de planta-armadilha é uma
praticamente todas as espécies da família estratégia utilizada nas proximidades da
Coccinellidae na predação de homopteros cultura principal, como armadilhas naturais,
é um exemplo disto. Tendo em vista a cuja população da praga se concentraria
necessidade de sistematicamente, em área restrita de modo a facilitar o
proceder a novos registros de parâmetros controle (GRAVENA, 1983; NASCIMENTO
de importância fitossanitários, o presente e CARVALHO, 2000). Utilizou-se na
estudo objetivou verificar a eficiência da avaliação dos tratamentos a metodologia
couve brócolos (crucífera) como planta de amostragem proposta por Azeredo
atrativa simultânea de Mizus persicae
(1998) através da equação 1: n = X  y,
(SULZEI, 1776) (Homoptera: Aphididae) e 2
de seu predador, C. sanguinea como onde “n” é o número de plantas amostradas
visitantes desse agroecossistema, em em função do número total de plantas por
cultivo de inverno. hectare (X) e número de plantas do talhão
pesquisado (Y). As amostragens de
presença-ausência de M. persicae e C.
MATERIAL E MÉTODOS sanguinea foram realizadas por meio da
equação 2: i = Y/n, onde “i” representa o
O experimento foi conduzido no campus intervalo de observações. Em relação a
da Universidade Federal Fluminense, em isso, determinou-se que, n = 13,
Pinheiral, RJ, de coordenadas geográficas representasse o número de plantas
de latitude 44º04’4,9"W, longitude monitoradas semanalmente; enquanto,
22º29’2,9"S e altitude de 473m. A área tem i = 72, fosse o compasso de leitura, para o
como características de seus solos, total de 196 plantas úteis, durante 13
pertencerem ao tipo mar de morro, semanas de duração dos estádios
relacionada ao domínio geomorfológico de fenológicos da planta.
relevo ondulado, localizada à margem Os tratamentos com adubação foram
direita do rio Paraíba do Sul. As em três níveis de N + K (0 Kg. ha-1; 75 Kg.
observações foram feitas nas cultivares ha-1; e 150 Kg. ha-1), aplicados aos 15 dias

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antecedendo ao plantio e, aos 30 e 50 dias sanguinea, no período do estudo


na primeira e segunda pré-amontoas. (AZEREDO et al., 2000), além de outros
Com o objetivo de se verificar os efeitos inimigos naturais, Polistes sp., Solenopsis
dos fatores meteorológicos sobre a cortina saevissima e Zelus sp. A localização de
vegetal de B. oleracea na ocorrência C. sanguinea na maioria das avaliações foi
simultânea de presa e predador utilizaram- em ramos superiores e inferiores e, em
se dos dados climáticos oferecidos pela apenas seis casos, o predador migrava
Estação Light-Tocos, Departamento de entre hastes e folhas próximas ao solo,
Climatologia e Meteorologia, convênio quando as amostragens foram realizadas
UERJ/LIGHT, Piraí, RJ. Esses dados, entre 15:00 e 16:00 horas.
representaram, temperatura máxima (Tmx), Os valores das correlações entre C.
no período, registrou 25,8ºC; sendo a sanguinea, fatores meteorológicos, e
temperatura mínima (Tmi) de 14,9ºC, cultivares diferiram, estatisticamente.
amplitude de temperatura (At) 10,9ºC, Portanto, em relação à cultivar Monalisa
umidade relativa (UR) 80,4%; precipitação observa-se que a presença do predador
pluviométrica (Ppl) 4,6mm; insolação (ins) associou-se à variável insolação (Tabela 1).
4,78 h/d e vento total (Vt) de 43,6 km/h. Tomando-se por base esses resultados,
Os dados foram submetidos à correlação observ a-se que o incremento à C.
linear simples de Pearson e as médias sanguinea esteve associado a planta-isca
obtidas em cada mês de amostragem, de B. oleracea. Tais inferências é devida
entre população de M. persicae e de C. ao fato de que, paralelamente, se constatou
sanguinea e fatores meteorológicos, foram população zero, de M. persicae, nas plantas
comparadas pelo teste de Student- amostradas do experimento (AZEREDO,
Newman-Keuls (P = 0,05). 1998). Esses resultados são corroborados
pelos trabalhos de Santa-Cecilia et al.
(2001), citado por Gravena (2004) ao
RESULTADOS E DISCUSSÃO estudarem aspectos biológicos e resposta
funcional de C. sanguinea, na capacidade
Encontrou-se influência das cultivares predatória sobre ninfas de Schizaphis
sobre a dinâmica populacional da graminum (pulgão do sorgo e do trigo) e,
C.ycloneda sanguinea, quando se utilizou de Rossini et al. (2001) ventilando a
a tática de plantas atrativas de Brassica predação total do pulgão preto (Toxoptera
oleracea. Na área do experimento foram citricida) do limoeiro cravo por esta espécie
registrados 48 exemplares de C. de joaninha em comparação à

Tabela 1. Correlações lineares simples para as interações realizadas entre número de indivíduos de Cycloneda
sanguinea, fatores meteorológicos e semana de amostragem em batata, Solanum tuberosum L., cv. Achat
e Monalisa. Pinheiral, RJ. Período: Maio e Agosto de 1996.

r Significância (P<0,05)
Causas da correlação
Achat Monalisa Achat Monalisa
Cycloneda sanguinea e semana -0,122 -0,050 +0,129ns +0,326ns
Cycloneda sanguinea e Tmx. +0,135 +0,021 +0,104ns +0,426ns
Cycloneda sanguinea e Tmi. -0,045 -0,086 +0,337ns +0,218ns
Cycloneda sanguinea e UR -0,119 -0,103 +0,133ns +0,176ns
Cycloneda sanguinea e Ppl. -0,074 -0,128 +0,245ns +0,123ns
Cycloneda sanguinea e Ins. +0,007 +0,155 +0,474ns +0,008*
Cycloneda sanguinea e vt. +0,050 -0,008 +0,305ns +0,472ns
Cycloneda sanguinea e At. +0,090 -0,065 +0,233ns +0,208ns
* valores significativos a P < 0,05; ns - não significativo.

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Cryptolaemus montronzieri que reduziu Tabela 2. Comparação para as interações realizadas


apenas 42% da população da praga. entre número de Cycloneda sanguinea (L.) e
fatores meteorológicos em área de cultivo de batata,
Os insetos predadores atacam Solanum tuberosum L. Pinheiral, RJ. 1996.
rapidamente e precisam de presas para se
alimentar; a dieta é variada, podendo Variáveis X±DP
apresentar espécies cuja dieta é Cycloneda sanguinea 3,7±1,7
generalista (MEDEIROS, 1997), dentre elas
Temperatura máxima 23,5±2,0
a joaninha, podendo atuar tanto durante o
Temperatura mínima 10,7±2,5
dia quanto durante a noite. A localização
Umidade relativa 79,4±4,5
de colônias de pulgões por joaninhas
Precipitação pluviomética 0,7±1,3
adultas é realizada através de substâncias
químicas voláteis. Estes sinais químicos Insolação 3,9±1,5
são vantajosos para o agente de controle Vento total 41,7±4,8
biológico, pois são indicativos seguro da Amplitude de temperaturas 12,8±2,4
fonte alimentar (JAMAI e BROWN, 2001). F= 1110.7; gl= 7; 96; P<0,001; CV= 45,6.
Av aliando a dinâmica das redes
alimentares, Odum (1983) verificou que, Um dos aspectos interessantes
através da seleção natural os predadores observados neste trabalho, refere-se à
e parasitas adaptam-se de tal forma que, migração do inseto predador C. sanguinea
em muitos casos, além de evitar a das plantas de S. tuberosum , quando a
destruição de suas fontes alimentares, amplitude de temperatura (At) registrou
garantem ou até ampliam o bem-estar valores acima de 12ºC (Tabela 2). A
continuado de suas presas. Isto confirma, freqüência média de C. sanguinea foi
na prática, a eficiência e versatilidade da 3,7±1,7 indivíduos (IC95 = 0-7), para 48
C. sanguinea sobre a praga. exemplares amostrados na área de campo
Grav ena (1983) estudando o (F = 1110.7, gl = 7; 96; P<0,001). As
comportamento de C. sanguinea constatou correlações significativas entre ocorrência
trata-se de um exímio predador desses de C. sanguinea e fatores meteorológicas
organismos fitófagos sugadores (pulgões), em conjunto, indicam ser possível manter
considerados de importância econômica o índice de infestação da praga sem afetar
devido ao seu alto potencial reprodutivo, a produtividade da batata, comparando-se
mobilidade, capacidade de transmitir ao sistema convencional, pois apresentou
viroses e seu elevado número de plantas população nula desse afídeo no cultivo de
hospedeiras; além de, serem eficientes na inv erno. Muitos organismos-praga
predação de ovos e larvas novas de Heliothis potencias podem ser mantidos em
spp., isto é, cada larva pode consumir até densidades muito abaixo dos níveis de
200 pulgões e os adultos atacam 20 danos por inimigos naturais que ocorre
pulgões/dia, podendo viver cerca de 50 dias. naturalmente no campo (VON LENTEREN,
Diante disso, deve-se ressaltar que, o 2000).
presente trabalho apresentou controle a
praga, o que sugere-se tais aspectos
tornaram-se parâmetros importantes em CONCLUSÕES
futuras observações e decisões técnicas
relacionadas à batata. Esse desempenho Os resultados obtidos com esse
foi alcançado por meio da prática da planta- trabalho permitem concluir que:
isca de B. oleracea var. itálica que mostrou- 1. A interação conjunta dos fatores bióticos
se eficiente no equilíbrio da interação e os fatores meteorológicos, agiram no
tritrófica: batata, pulgão e inimigo natural. controle populacional do pulgão;

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2. A utilização de B. oleraceae como AZEREDO, E.H. de; P.C. R. CASSINO;


planta-isca contribuiu no incremento de C. A.G. de CARVALHO e E. LIMA. 2000.
sanguinea em área de bataticultura; Ocorrência de Cycloneda sanguinea L.
3. A presença de C. sanguinea associou- (Coleoptera: Coccinelidae) como
se ao genótipo Monalisa e significativa em predadores de insetos –praga, associados
comparação à insolação. Sugere-se ainda à batatinha, Solanum tuberosum L., no
que, em amplitude de temperatura (At) município de Pinheiral, RJ. Revista Floresta
acima de 12ºC, o ambiente da planta torna- e Ambiente. v. 7, p. 198-207.
se menos atraente ao predador
demonstrando, possivelmente, redução no GRAVENA, S. 1983. Controle bioecológico
processo de controle de M. persicae; na cultura do algodoeiro. Informe
4. Tomando-se por base esses resultados, Agropecuário, n. 104, p. 3-15.
e avaliando em conjunto, observa-se que a
partir dessa técnica de manejo ao pulgão, JAMAI, E. and G.C. BROW N. 2001.
a prevalência dos inimigos naturais nas Orientation of Hippodamia convergens
áreas de lav ouras, principalmente (Coleoptera: Coccinelidae) larvae to volatile
alimentícias, atende a necessidade em se chemical associated with Myzus nicotinae
responder aos questionamentos que, (Hemiptera: Aphididae). Environment
freqüentemente fazem sobre os impactos Entomology, v. 30, n.6, p. 1012-1016.
ambientais causados pelos agroquímicos,
quando comparados à ef iciência KENNEDY, J. S. 1965. Mechanisms of host
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KOGAN, M. 1986. Natural chemicals in


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Journal Research, v .60, p. 501-527.
Os autores expressam seus
agradecimentos aos revisores “ad hoc”, MORAES, C. M. de; M. J. LEWIS and J.H.
anônimos colaboradores, pelas correções TUMLINSON. 2000. Examining plant-
e importantes sugestões apresentadas parasitoid interactions in Tritrophic
neste estudo. Systems. Anais da Sociedade
Entomológica do Brasil, v.29, n. 2, p. 189-
203.
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