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Estreio hoje nesse espaço essa “coluna” ao qual vou batizar temporariamente de

#Fanfact... A intenção é dividir aqui com vocês minha paixão pelo World of Darkness,
nessas quase 3 décadas que fui apresentado primeiro ao Vampire the Masquerade e
assim por diante.

Apesar de trágico, o ano passado aconteceu uma coisa muito divertida, quando fui
convidado por uma empresa terceirizada pela Galápagos para fazer a tradução do
Vampiro Quinta Edição. Por ser um especialista no assunto, minha função era dar
conta dos termos específicos do livro. Afinal, eu mesmo não tinha o costume de jogar
com os livros em português, mas como narrador de LARPs precisava usar o que fosse
de maior conhecimento geral, e pra isso sempre recorri as antigas traduções e tive que
traduzir muito conteúdo para meus jogadores.

Depois de uma pesquisa imensa (!) com tudo que eu já mexera de tradução, produzi
um documento, seguindo a orientação da empresa que não queria mexer nos termos
que os fãs já conheciam pela tradução da Devir, ter que aportuguesar o máximo
possível, mas eu batia muito na tecla de poder mudar muitas coisas que não faziam
sentido, “melhorar” outras que (na minha humilde opinião) precisavam ser revisadas e
padronizar algumas coisas que tinham 2 ou mais traduções diferentes...

Passar horas olhando dicionários antigos, vendo antigos docs meus, me surpreendia
como eu traduzira algo em 1997, em 2001, 2004... Ou agora no Rio V5 ... Ou alguns
posts que coloquei nos grupos de fãs perguntando como traduziriam tal termo novo...
enfim, como agradar a todes (viu o que eu fiz aqui?) Muito difícil... Até porque
tradução é uma coisa muito subjetiva.

Mudar o nome do Sabá pra Sabbat? Mas, vai desagradar os fãs... Mas, é nome próprio.
Mas, então não pode mudar nada... Anarch, Autarkis, Caine, Menele... Todos termos
próprios do jogo, com uma letra de diferença...

E os novos termos que já caíram na boca do povo? Touchstone como Pedra-de-toque?


Propor uma tradução completamente diferente, como por exemplo, reminiscência...
Enfim, isso em si daria um papo imenso, que não é meu objetivo aqui, hoje.

Mandamos essa pesquisa que durou um mês, e após aprovada trabalhamos por seis
meses, mas a Galápagos resolveu fazer sua própria tradução, começando do zero, sem
usar nossa tradução ou mesmo minha pesquisa inicial.

E a vida é assim, fecha-se uma porta aqui, para se abrir um portal ali, e está tudo bem.
Tenho certeza que a tradução da Galápagos está incrível. Fico com a minha pesquisa
como material de fã. E agora finalmente posso falar dela!

Vamos ao que eu quero falar e o que eu gosto e me atrai na tradução que são as
descobertas! Quando você, ao querer traduzir algo, descobre que uma palavra que
não tem nenhum dicionário na verdade é um termo, e não uma ou duas palavras
literais. É muito legal! Vou dar um exemplo.
O Ritual de Feitiçaria de Sangue “Olhos do Falcão Noturno” ou Eyes of the Nighthawk.
Encontrei esse ritual pela primeira vez em inglês em um guia do Sabbat, e na época,
quando o vi traduzido pela Devir, achei estranho a opção de traduzir Hawk como
Falcão, quando deveria ser um Gavião. Não sabia exatamente qual era a diferença
entre um e outro, não sou biólogo, e fui pesquisar, e anotei isso em um doc antigo:
“Os gaviões tendem a ser pássaros maiores do que os falcões, voam mais devagar e
preferem planar no céu. Enquanto os falcões usam suas garras para capturar e matar
suas presas, já os falcões usam seus bicos poderosos para quebrar o pescoço de suas
presas.” Na prática, não muda muito a poesia do ritual. Dá na mesma. O efeito é o
mesmo. Talvez o tradutor tenha achado que ficava mais bonito um falcão noturno, do
que um gavião noturno. E falando em voz alta, talvez ele esteja certo.

Mas, a dúvida me comia o pensamento, porque a palavra estava junta, e não


separada? Foi quando me acendeu uma luz: Talvez não seja um Gavião noturno, ou
seja, mas seja um nome próprio, um tipo de gavião noturno. Pesquiso aqui, pesquiso
ali e voilá:

“O Nighthawk é uma ave noturna da subfamília Chordeilinae, dentro da família


Nightjar, Caprimulgidae, nativa do hemisfério ocidental. O termo "nighthawk",
registrado pela primeira vez na Bíblia de King James de 1611, era originalmente um
nome local na Inglaterra para o nightjar europeu. Seu uso nas Américas refere-se a
membros do gênero Chordeiles e gêneros relacionados foram registrados pela
primeira vez em 1778.”

Certo. Mas, eu tinha o problema durante a pesquisa da tradução de não usar


Anglicismos. Então eu não poderia usar, eu tinha que achar o correspondente
brasileiro ou pelo menos sul-americano dessa ave. Bom, “Falcão Noturno” não dá
conta, no meu entendimento pessoal. Estava descartado. Mais pesquisa, e então eu
descobri que os Nightjars (Filo Chordata, Família Caprimulgidae), que são muito
parecidos com os Nighthawks e foram confundidos no tal registro bíblico anglicano,
são chamados de Notibó em portugal, e tem dois nomes no Brasil, sendo um deles
bem conhecido atualmente: curiango ou... bacurau!

Não seria o máximo se o ritual se chamasse, então: Olhos do Bacurau? Era minha
proposta. E agora é só um #Fanfact

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