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BERTOLI – Uma canção. Uma pequena canção que me faz comichão nas costas. Foi numa conferência sobre
música popular. Há mais, um pouco mais adiante, estás a vê-las?
ALEGORIA – Estou. Mas àquela acrescentaram qualquer coisa ao lado, na margem. Está meio apagado,
dir-se-ia uma pauta com notas de música. Fazes ideia do que seja?
BERTOLI – Sim, já mas leram e cantaram antes. Era o professor louco. Mal aqui chegava, punha-se a
corrigir os livros, sobretudo os livros de música e as partituras. Quando se deram conta, proibiram-no de
voltar cá. Nunca vos calhou?
ALEGORIA – Não...
RAGIONELLO – A mim também não. Mas conheci outros loucos. Havia um que me requisitava todos os
dias e que me decorava entoando-me em voz baixa. Tinha as unhas incrivelmente sujas. Por fim,
também o expulsaram, quando se deram conta de que ele limpava as unhas com os cantos dos livros.
Nunca cheguei a saber quem ele era. Em contrapartida, aquele que arrancava uma a uma as páginas da
„Razão pura“, vim a saber que era um estudante alemão. Quando o apanharam em flagrante, eu estava
em cima da mesa, no topo da pilha de livros que ele tinha requisitado. Cheguei a pensar que também eu
não escapava.[…]
ALEGORIA – Eu lembro-me do lambedor. Esse nunca foi apanhado em flagrante. Quando ninguém estava
a reparar, lambia as páginas. Fez-me isso um dia. Era nojento.
ALEGORIA – Macieiras! Gostava tanto de ver macieiras verdadeiras! Há em mim um capítulo que está
cheio delas. Frutos de ouro num vale inacessível. Era a passagem preferida da condessa, lembram-se,
aquela mulher grande e magra que veio todas as segundas-feiras durante trinta anos, chamávamos-lhe
assim, a condessa. No fim, tinha conseguido autorização para trazer o gato. Ele punha-se em cima da
mesa ao lado do livro que ela estava a ler e de tempos a tempos ia dar um passeio. Mas quando estava
ao lado dela, dir-se-ia que ela lia para ele. Gostava muito dos dois. Ela requisitou-me pelo menos umas
dez vezes e, de cada vez, ia diretamente para o capítulo do vale das macieiras.
BERTOLI – Tens sorte. A mim, tirando professores e estudantes, ninguém me requisita. Não, uma vez
houve um operário. Fiquei a saber porque ele o disse à jovem que estava ao lado dele, a quem parecia
RAGIONELLO – Aqui tudo é sonho e visão. Até os leitores que cá vêm, até o mundo que está lá fora. Tudo
se extinguirá.
ALEGORIA – E é porque tudo é assim, mortal, infinitamente mortal, passageiro, infinitamente passageiro,
que nós, os livros, temos de carregar o peso de sermos um pouco imortais.
2.1- Numa representação teatral, diz a quem poderá interessar esta informação.
a) que tipo de objetos são eles; b) o local onde se encontram; c) o tema da conversa.
4. Explica os motivos que conduziram à expulsão de algumas das pessoas referidas da biblioteca.
9. Refere que registo de língua predomina neste excerto, dando um exemplo textual.
GRUPO II -CEL
(Conhecimento explícito de língua)
Redige a continuação deste texto dramático, que possua um mínimo de 120 e um máximo de 180
No teu texto, deves incluir, para além das falas das personagens, pelo menos duas didascálias, uma sobre
Observações:
1- Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (exemplo: /di-lo-ei/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente
dos algarismos que o constituam (exemplo: /2015/).
2- Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras -, há que
atender ao seguinte:
- desvalorização de um ponto se escrever entre 157 e 179 palavras ou entre 241 e 264;
- desvalorização de dois pontos se escrever entre 60 e 156 ou mais de 264;
- um texto com extensão inferior a 60 palavras é classificado com zero pontos.
BOM TRABALHO!