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Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Saúde e Medicina


Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia

ARTES SENSORIAIS: ESTIMULANDO OS SENTIDOS DO


IDOSO POR MEIO DE APRECIAÇÃO E FAZER ARTÍSTICO

Autora: Marcia Degani


Orientadora: Profa. Dra. Isabelle Patriciá Freitas
Soares Chariglione

Brasília - DF
2022
MARCIA DEGANI

ARTES SENSORIAIS: ESTIMULANDO OS SENTIDOS DO IDOSO POR MEIO DE


APRECIAÇÃO E FAZER ARTÍSTICO

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do título de
Doutora em Gerontologia.

Orientadora: Profa. Dra. Isabelle Patriciá


Freitas Soares Chariglione

Brasília
2022
RESUMO

DEGANI, M. Artes sensoriais: estimulando os sentidos do idoso por meio da apreciação e


fazer artístico. 2022. 158 f. Tese (Doutorado em Gerontologia) – Universidade Católica de
Brasília, Brasília, 2022.
O processo de envelhecimento traz consigo uma série de desconfortos, sendo que um deles é
provocado pela redução da acuidade sensorial. Esses déficits variam de pessoa para pessoa em
relação aos sentidos afetados e ao grau de comprometimento. Nessa perspectiva, todas as
relações estabelecidas entre os indivíduos e o mundo ocorrem através das funções sensoriais.
Assim, a comunicação, a percepção de si, o prazer e a manutenção da sobrevivência dependem
diretamente do funcionamento adequado do aparato sensorial. O objetivo deste estudo foi
analisar diferentes metodologias de expressões artísticas e suas relações com o fazer artístico e
com o desenvolvimento de potenciais perceptivos em idosos. Optou-se por uma metodologia
de natureza qualitativa, não experimental, exploratória, descritiva e transversal. A amostra de
conveniência foi composta por oito idosos, com média de idade igual a 86,00 anos (DP= ±
7,66), participantes do Centro-Dia para idosos - Pasárgada. Os idosos foram avaliados por
instrumentos de caracterização e desenvolvimento para a caracterização da amostra e
instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento dos idosos no decorrer do tempo
(avaliação sensorial). O procedimento metodológico foi composto por seis etapas: a)
recrutamento; b) levantamento de informações sobre os participantes; c) entrevista inicial; d)
dinâmica de introdução à apreciação artística; e) avaliação do perfil sensorial; e, f) oficinas. As
atividades realizadas que tiveram como objetivo integrar percepção sensorial e expressão
artística, foram oferecidas na seguinte temática: a) apreciação de imagens artísticas, b)
avaliação do perfil sensorial; c) oficina de artes visuais, movimento e música; d) oficina de artes
cênicas; e) oficina de montagem da árvore sensorial. Os relatórios foram analisados à luz do
método biográfico que se distingue da metodologia das histórias de vida, amplamente
empregada nas ciências humanas, devido ao caráter coletivo desse modo de análise, sendo
relatadas as avaliações biográficas dos oitos idosos. Os resultados corroboram estudos que
indicam as intervenções de natureza sensorial como importantes promotoras de ganhos
psicológicos, emocionais e sociais. Conclui-se ainda que o caráter permissivo e lúdico da arte
trouxe o rompimento com padrões que caracterizam as coisas como boas ou ruins, propiciando
a valorização de todas as produções como únicas que atribuíram valor devido à sua natureza
expressiva.

Palavras-chave: estimulação sensorial, técnicas de expressão artística, intervenção.


ABSTRACT

DEGANI, M. Sensory arts: stimulating the senses of the elderly through appreciation and
artistic making. 2022. 158 f. Thesis (PhD in Gerontology) – Universidade Católica de Brasília,
Brasília, 2022.
The aging process brings with it a series of discomforts, one of which is caused by the reduction
in sensory acuity. These deficits vary from person to person in terms of affected senses and
degree of impairment. From this perspective, all relationships established between individuals
and the world occur through sensory functions. Thus, communication, self-perception, pleasure,
and maintenance of survival depend directly on the proper functioning of the sensory apparatus.
The aim of this study was to analyze different methodologies of artistic expressions and their
relationship with artistic practice and with the development of perceptual potentials in the
elderly. A qualitative, non-experimental, exploratory, descriptive, and transversal methodology
was chosen. The convenience sample consisted of eight elderly people, with a mean age of
86.00 years (SD= ± 7.66), participating in the Day Care Center for the elderly - Pasárgada. The
elderlies were evaluated by characterization and development instruments to characterize the
sample and instruments to monitor the development of the elderly over time (sensory
evaluation). The methodological procedure consisted of six steps: a) recruitment; b) gathering
information about the participants; c) initial interview; d) introduction dynamics to artistic
appreciation; e) evaluation of the sensory profile; and f) workshops. The activities carried out
that aimed to integrate sensory perception and artistic expression were offered in the following
theme: a) appreciation of artistic images, b) evaluation of the sensory profile; c) visual arts,
movement, and music workshop; d) performing arts workshop; e) sensory tree assembly
workshop. The reports were analyzed in the light of the biographical method that differs from
the methodology of life histories, widely used in the human sciences, due to the collective
nature of this mode of analysis, with the biographical evaluations of the eight elderlies being
reported. The results corroborate studies that indicate sensory interventions as important
promoters of psychological, emotional, and social gains. It is also concluded that the permissive
and playful character of art brought about a break with standards that characterize things as
good or bad, promoting the appreciation of all productions as unique that attributed value due
to their expressive nature.

Keywords: sensory stimulation, artistic expression techniques, intervention.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
1. CAPÍTULO 1 – PROJETO PILOTO............................................................................... 12
2. CAPÍTULO 2 – ARTIGO SNOEZELEN ........................................................................ 36
3. CAPÍTULO 3 – A ARTE COMO ESTRATÉGIA DE ESTIMULAÇÃO PARA O
IDOSO ..................................................................................................................................... 55
4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 82
5. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 83
5.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 83
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 83
6. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 84
6.1 TIPO DE ESTUDO ....................................................................................................... 84
6.2 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ....................................................................................... 85
6.3 AMOSTRA .................................................................................................................... 86
6.4 INSTRUMENTOS......................................................................................................... 86
6.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 89
6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................ 97
7. RESULTADOS .............................................................................................................. 98
8. ARTIGO – METODOLOGIAS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA EM IDOSOS
FREQUENTADORES DE UM CENTRO DIA: UMA ANÁLISE BIOGRÁFICA .. 119
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 140
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 142
APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................ 152
APÊNDICE II – Questionário Sociodemográfico ............................................................. 154
ANEXO I – Critérios de Avaliação do Perfil Sensorial .................................................... 155
7

INTRODUÇÃO

Antes de expor o contexto no qual surgiu o desejo de realizar esta pesquisa, devo
ressaltar que apenas uma ciência de caráter interdisciplinar como a Gerontologia me permitiria
realizá-la. Este trabalho reúne a minha formação e vivência profissional na área da música e
das artes por mais de 30 anos, a visão humanista que passei a cultivar a partir do Mestrado em
Gerontologia Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a
necessidade de compreender o ser humano na sua integralidade, o que me levou a cursar o
bacharelado em fonoaudiologia.
Os transtornos de natureza sensorial me chamaram a atenção, inicialmente, em
atendimentos que realizei como fonoaudióloga no Centro Dia Pasárgada, em São Paulo, nos
anos de 2015 e 2016 e, posteriormente, na Unidade Longevità Sudoeste em Brasília, em 2017.
Nesses dois espaços, tive a oportunidade de me relacionar com pessoas em quadros demenciais,
a maioria diagnosticada com Doença de Alzheimer e outros tipos de transtornos associados de
ordem física e cognitiva. Antes de verificar, por meio da literatura, que as demências exacerbam
as perdas sensoriais, uma das coisas que mais me chamou a atenção nos idosos com esse
diagnóstico foi a perda do olfato. Ao realizar uma dinâmica em que propus a identificação de
aromas, como de ervas, café, alho e sabonete, percebi que a discriminação dos odores estava
severamente alterada. A partir disso, passei a observar os demais sentidos e constatei que havia
déficits sensoriais importantes na maioria deles em todos os idosos.
Meu interesse pelo assunto aumentou quando descobri que a estimulação sensorial
poderia ser realizada de forma passiva, em estágios mais severos nos quadros demenciais, em
casos de acidentes vasculares cerebrais e em outras situações que impedem a participação ativa
e consciente do idoso. Sempre me incomodou o fato de se negligenciar as necessidades dos
velhos por estarem “no final da vida” e penso que, justamente por isso, a qualidade de vida do
idoso deveria estar em primeiro lugar especialmente nessa fase. Verifiquei que,
surpreendentemente, os idosos, mesmo aqueles portadores de doenças degenerativas, ao serem
estimulados da forma adequada, podem apresentar melhoras ou retardar a progressão dos
sintomas preservando por um período maior a funcionalidade do organismo.
Envolver as artes nas abordagens em estimulação multissensorial surgiu de forma
natural e intuitiva, por ser uma linguagem que me é familiar desde a infância (pois venho de
uma família de artistas) e na qual tive a oportunidade de me profissionalizar, tendo atuado tanto
no palco, como nos bastidores por mais de trinta anos. Por explorar a criatividade, a
inventividade, exigir que a atenção se presentifique no aqui e agora, pela liberdade expressiva
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que a caracteriza e por ser tecida de conteúdos emocionais, acredito que as linguagens artísticas
possam ser exploradas em diversos contextos terapêuticos e promoverem ganhos especialmente
ao público idoso.
Há algum tempo, observo uma tendência à exploração de experiências sensoriais nas
artes por proporcionarem um contato mais intenso com o objeto artístico por diversas vias (ou
módulos) sensoriais simultaneamente, resultando na imersão do espectador no universo da obra,
muitas vezes integrando-o como cocriador. A utilização de novas tecnologias nas artes permitiu
a associação de diversos estímulos sensoriais em experimentos, instalações e performances.
Também tenho observado uma maior preocupação da sociedade, de forma geral, com questões
que envolvem a sensorialidade. Nessa delicada fase que temos atravessado, a importância de
uma dieta sensorial adequada veio à tona junto com a experiência do isolamento. Fomos levados
a sentir na própria pele o desconforto que causa a sensível redução dos estímulos sensoriais no
nosso cotidiano.
No segundo semestre de 2018, tive a oportunidade de criar uma instalação
multissensorial para idosos inspirada nos trabalhos que conheci voltados para as crianças, com
o cuidado de não propor experiências que parecessem infantis. Cursando o Doutorado em
Gerontologia, a disciplina “Aspectos artísticos do envelhecimento”, ministrada pelos
professores Lucy Gomes e Vicente Alves, solicitou aos alunos que apresentassem algo de
caráter artístico vinculado à velhice ou ao envelhecimento no III Simpósio da Rede dos
Programas Interdisciplinares sobre Envelhecimento (Reprinte)/2018. Expus minha ideia ao
colega Vagner Lacerda, que me incentivou a seguir adiante e tornou-se meu parceiro nessa
empreitada. A descrição e os resultados dessa experiência encontram-se no primeiro capítulo
deste documento, sob o título de Projeto Piloto. Essa experiência foi fundamental na criação do
Projeto de Pesquisa e depois no seu desenvolvimento, mesmo com as adaptações realizadas em
decorrência da COVID-19.
Os idosos que participariam inicialmente seriam compostos pelo grupo NeuroCog-
Idoso, da Universidade Católica de Brasília (UCB), dirigido pela professora Isabelle Patriciá
Freitas Soares Chariglione, minha orientadora. Porém, devido à pandemia e pelos cuidados
éticos e metodológicos necessários nesse momento, o local de coleta de dados foi modificado
para o Centro Dia para idosos – Pasárgada, onde os idosos já estariam inseridos e no qual a
equipe já estaria adaptada a um protocolo próprio de atendimento e acompanhamento.
Desde a realização do Projeto Piloto, tenho estado atenta a tudo que se relaciona à
estimulação multissensorial para idosos por ter observado os benefícios que esse tipo de
intervenção proporciona a esse grupo em específico. Por intermédio de artigos, publicações,
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teses e dissertações, conheci a abordagem Snoezelen em Estimulação Multissensorial e realizei


o curso de capacitação nessa metodologia em maio de 2019, em Curitiba. No Brasil, o foco dos
trabalhos da metodologia Snoezelen está voltado primordialmente para crianças na educação
especial, em deficiências múltiplas, estimulação precoce, paralisia cerebral e autismo. Esta será
a primeira tese que terá como foco a população idosa. Foi durante esse curso de formação
promovido pela AMCIP sob a direção da professora Marisa Cella que soube da existência de
trabalhos valorosos que exploram no Brasil a abordagem Snoezelen adequada aos idosos,
contudo, durante o levantamento bibliográfico que alicerça essa pesquisa, não encontrei
material escrito que os descrevesse. Encontrei publicações mais robustas sobre o tema ao
realizar o curso de formação internacional na metodologia Snoezelen sob a orientação da
professora Maria Amélia Nabais Martins e coordenação de Ad Verheul, um dos criadores da
abordagem Snoezelen, no ano de 2020.
A princípio, associar a estimulação multissensorial às artes como forma de intervenção
para idosos surgiu do impacto que algumas apresentações artísticas exerceram em mim. Além
de visualmente atrativas, me senti imersa numa atmosfera que me proporcionou sensações
corporais prazerosas e até mesmo desagradáveis, profundas e contundentes, ao ponto de
marcarem minha memória. Vivenciar os estímulos sensoriais me levou a refletir sobre o papel
do aparato sensorial em todas as atividades da vida, do quanto somos dependentes dessas
impressões na interpretação do mundo e na manutenção do equilíbrio físico, mental e
emocional. O efeito da arte preocupada em estabelecer um diálogo sensorial com o fruidor
potencializou minha sensibilidade de forma que meu interesse se voltou sobre a possibilidade
de refinar a percepção no sentido qualitativo, uma vez que quantitativamente, em termos de
limiares perceptivos dos órgãos sensoriais, a natureza se encarrega de diminuir com o passar
dos anos sem que haja possibilidade natural de reposição.
A descoberta mais grata de todo esse processo que me deu a certeza de estar pisando em
solo firme foi durante a leitura do tratado “De anima” escrito por Aristóteles (384 a.C.– 322
a.C.) quando descobri que o conceito de estética se fundamenta na sensorialidade. A estética,
no sentido etimológico, é a expressão que impacta os sentidos. Tendo a mesma raiz da palavra
grega que designa sensibilidade: estesis.
O sensível e progressivo aumento na longevidade ainda é algo relativamente recente e
talvez por isso o declínio sensorial do idoso ainda não seja visto com a atenção que merece.
Em geral as perdas sensoriais são vistas como algo apenas mecânico, que pode ser minimizado
com o uso de óculos ou aparelho auditivo. Devemos lembrar que o mundo se configura por
meio da percepção sensorial de forma individual e intransferível. O impacto de uma alteração
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sensorial na vida de qualquer pessoa é muito mais abrangente que uma falha mecânica na
captação dos estímulos ou apenas uma perda de limiares perceptivos. A funcionalidade do
organismo depende da interpretação adequada dos estímulos sensoriais, sendo que poderá
chegar ao ponto de colocar uma vida em risco, como no caso de não se conseguir detectar um
cheiro de gás/fumaça ou não perceber a buzina de um automóvel ao atravessar a rua. Da mesma
forma e não menos importante, tudo o que pode ser interpretado como prazer também depende
dos órgãos sensoriais Transtornos de natureza cognitiva, física, emocional e até
comportamental podem advir dos déficits sensoriais, sendo que o isolamento e a depressão
também podem ter como causa o déficit no processamento desses estímulos.
Esta pesquisa teve como objetivo estimular a percepção sensorial do idoso por meio de
dinâmicas que envolveram a prática artística. Os participantes vivenciaram diferentes modos
de expressão nas artes ora por meio da fruição, ora exercitando a criatividade. A atmosfera
lúdica esteve presente em todos os momentos trazendo não somente bem-estar e leveza, mas
principalmente, favorecendo a imersão no mundo das sensações, de uma forma livre e
descompromissada, prazerosa e divertida.
Apresentaremos no primeiro capítulo o Projeto Piloto realizado na Universidade
Católica de Brasília em 2018, o segundo capítulo trata da abordagem Snoezelen contextualizada
às necessidades do idoso, sendo este capítulo, artigo publicado em 2019 na Revista Kairós de
Gerontologia. Embora esta tese não trate diretamente da metodologia Snoezelen, foi este
conceito que alicerçou o trabalho realizado nas intervenções. O terceiro capítulo aborda as
características que a arte tem do ponto de vista perceptivo demonstrando que por si só se
constitui veículo de estimulação sensorial.
Por ter sido realizada no auge da pandemia da COVID-19 foi necessário realizar
algumas mudanças e adaptações na pesquisa de campo. A primeira delas esteve relacionada ao
seu corpus e modalidade de análise. Planejávamos trabalhar com idosos cognitivamente
saudáveis frequentadores do grupo NeuroCog-Idoso, mas como, de forma geral, estes grupos
foram desativados, a pesquisa foi adequada a um grupo de idosos que, na sua totalidade,
apresentava alterações cognitivas e encontrava-se em idade muito avançada. Essa mudança
impactou na metodologia adotada em relação à análise dos dados obtidos, uma vez que, o
registro da fala desses indivíduos foi insuficiente para que se realizasse a análise de conteúdo
que, a princípio, seria por meio do software IRaMuTeQ. Assim, mantivemos o caráter
qualitativo que será apresentado de forma descritiva alicerçado no método biográfico.
A Estesiologia, corrente filosófica derivada da Fenomenologia proposta por Merleau
Ponty norteou o nosso olhar, por ter seu foco nas relações entre o corpo e a consciência do ser
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humano, partindo do princípio que ele é constituído a partir da experiência, da linguagem, do


desejo e de sua historicidade. A Estesiologia se ocupa do estudo da sensibilidade do homem
nas relações com a natureza, com o outro, em espaços e tempos históricos e culturais
(PORPINO, 2018).
Assim, buscou-se realizar uma pesquisa que concebesse o ser humano de forma
holística, integrando a funcionalidade sensorial do corpo, a sensibilidade, a história pessoal, a
memória, a criatividade, o prazer, a beleza e a expressão.
12

1. CAPÍTULO 1 – PROJETO PILOTO

Artigo submetido à Revista Estudos Interdisciplinares sobre A Terceira Idade, em julho de


2019. Status: Em avaliação.

Título: Estimulação da memória através de circuito multissensorial: um relato de


experiência

Title: Memory stimulation through multisensory circuit: an experience report

Marcia Degani1
Vagner Lacerda Ribeiro2
Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione3

Resumo: Este artigo descreve uma intervenção experimental em estimulação multissensorial,


realizada com os idosos assistidos pelo projeto NeuroCog-Idoso da Universidade Católica de
Brasília, buscando contextualizá-lo diante das alterações sensoriais que ocorrem durante o
processo de envelhecimento, com maior ou menor severidade. Verificaram-se as diferentes
abordagens sobre o estudo dos sentidos, desde a Filosofia até as Neurociências, assim como se
procurou descrever as alterações comuns relacionadas ao declínio da acuidade sensorial nos
idosos. O estudo também investiga a possibilidade de diferentes abordagens em terapias de
estimulação multissensorial e o impacto que a memória sensorial exerce no indivíduo idoso.
Por meio do experimento, foi possível verificar a estreita ligação entre os sentidos e a memória,
resgatando sensações e prazeres pouco estimulados ou até mesmo esquecidos. Sugere-se o
aprofundamento de estudos que se relacionem ao desenvolvimento de novas dinâmicas
auxiliares na manutenção da memória, tratamento de demências e desenvolvimento de novos
produtos e serviços adaptados às necessidades dos idosos.
Palavras-chave: Sentidos. Estimulação multissensorial. Idosos. Memória.
Abstract: This article describes an experimental intervention in multisensory stimulation
performed with the elderly assisted by the NeuroCog-Idoso project of the Universidade Católica
de Brasília, seeking to contextualize it in the face of the sensorial alterations that occur during
the aging process, with greater or lesser severity. The different approaches on the study of the
senses, from Philosophy to Neurosciences, were examined, as well as the common alterations
related to the decline of sensorial acuity in the elderly. The study also investigates the possibility

1
Graduada em Fonoaudiologia, Doutoranda em Gerontologia, Universidade Católica de Brasília, e-mail:
marciadegani@yahoo.com.br
2
Graduado em Economia, Doutorando em Gerontologia, Universidade Católica de Brasília, e-mail:
vagnerlr@uol.com.br
3
Graduada em Psicologia, Doutorado em Cognição e Neurociências, Universidade de Brasília, e-mail:
ichariglione@unb.br
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of different approaches in multisensory stimulation therapies and the impact that sensory
memory exerts on the elderly individual. Through the experiment, it was possible to verify the
close connection between the senses and the memory, recovering sensations and pleasures that
were not stimulated or even forgotten. It is suggested to deepen studies related to the
development of new auxiliary dynamics in memory maintenance, treatment of dementias and
development of new products and services adapted to the needs of the elderly.
Keywords: senses, multisensory stimulation, elderly, memory,

1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional nos países em desenvolvimento se tornou uma realidade
(ALMEIDA, 2019; ARAGÃO; CHARIGLIONE, 2019; MENDES et al., 2018). Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS, 2008), esses países envelhecem a uma velocidade maior
que os países desenvolvidos. As estatísticas preveem que, em cinco décadas, mais de 80% dos
idosos do mundo viverão em países em desenvolvimento. Em decorrência do resultado dos
avanços científicos e medicinais, da redução das doenças parasitárias e infecciosas, da
diminuição dos índices de natalidade, assim como das taxas de mortalidade, o ser humano vem
aumentando a quantidade de anos vividos e, dessa forma, o período da velhice tem se estendido
cada vez mais. Shirrmacher (2005) ressalta que, já nos anos 90 do século XX, estudos sobre a
longevidade realizados na Alemanha admitiram não saber se existirá um limite de tempo para
extensão da vida humana.
Demograficamente, o escalão que mais cresce na população mundial, na atualidade, é o
dos idosos acima de 80 anos: são 540 milhões de idosos longevos no mundo (MARTINS, 2011).
A população brasileira acima dos 80 anos de idade, segundo o Censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2000, era de 1.832.105 pessoas. No
Censo de 2010, o Brasil contabilizou 2.935.558 idosos longevos (com 80 anos ou mais), além
de 24.210 centenários: 2/3 deles, mulheres. A população com faixa etária acima dos 80 anos,
em 1940, era de 170,7 mil habitantes, passando para 2,9 milhões em 2010, ano em que os idosos
longevos representavam 14,2% da população idosa e 1,5% da população brasileira. Espera-se
que, em 2030, representem 21% dos idosos ou 2,7% dos brasileiros (ALCÂNTARA, 2016).
Segundo a OMS (SBGG, 2019), atualmente o Brasil conta com mais de 29 milhões de
idosos, sendo que este grupo etário cresceu 35,5% em menos de 20 anos, pois, em 2000, a
população idosa do Brasil era de 14,5 milhões de pessoas. O envelhecimento acelerado da
população trouxe desafios em todos os âmbitos que envolvem a qualidade de vida. Sobre disso,
pode-se dizer que diversos fatores corroboram para que um indivíduo possa envelhecer com
dignidade, que interferem não apenas na qualidade de vida do idoso, mas de toda a população.
14

Vão desde fatores psicológicos, sociais e culturais, até a assistência médica e a existência de
políticas públicas que garantam a todos, condições adequadas de higiene, saneamento básico,
transporte, segurança, acessibilidade (OMS, 2008).
A OMS entende que todas as etapas da vida humana, desde o nascimento, constituem-
se em curso de vida. Sabe-se que a capacidade funcional tende a aumentar durante a infância,
atinge o ápice nos primeiros anos da vida adulta e começa a entrar em declínio. A velocidade
desse declínio é influenciada por fatores genéticos, estilo e qualidade de vida, sendo variável
de acordo com cada indivíduo. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006)
considera que o conceito de saúde está relacionado à funcionalidade do organismo e não
necessariamente à presença ou ausência de doenças. Contudo, o idoso está mais naturalmente
exposto às perdas em todos os níveis. Borges (2018, p. 5) define o envelhecimento como “fase
de deterioração corporal e funcional, diminuição da vitalidade e da capacidade de adaptação do
organismo às mudanças”.

1.1 Envelhecimento e declínio sensorial


O envelhecimento se caracteriza pela diminuição da velocidade de transmissão nervosa,
lentificação das funções motoras, da marcha, dos reflexos e redução da quantidade de receptores
sensoriais. Os receptores sensoriais são as células encarregadas de captar o estímulo sensorial
para ser interpretado no cérebro. Essas células vão morrendo com o passar dos anos, de forma
que a acuidade dos sentidos vai sendo prejudicada progressivamente (GIRO; PAÚL, 2013).
Apesar de envolver perda funcional em múltiplos sistemas, incluindo todos os sistemas
sensoriais, o cérebro envelhecido preserva a plasticidade, o que torna possível, através de
programas de estimulação, desacelerar a taxa de declínio.
Para Borges (2018), as alterações sensoriais prejudicam a autoimagem e a autoestima,
desencadeando o afastamento de atividades que antes eram prazerosas, o que contribui para que
as capacidades remanescentes sejam cada vez menos estimuladas. O declínio sensorial afeta a
vida do indivíduo em amplos aspectos, sendo necessário que o idoso se adapte a essa nova
condição. Dentre as consequências da redução aos estímulos ou da privação sensorial, no caso
dos idosos, pode-se mencionar a falta de força e tônus muscular, instabilidade postural,
alteração na marcha, fadiga, insegurança de movimentos por mudança da consciência espacial,
redução do tempo de atenção, dificuldade para graduar a força ao manipular objetos, entre
outros (AMARAL, 2016).
Juntamente com o sistema sensorial, ocorre a deterioração dos sistemas motor e
cognitivo. Segundo Giro e Paúl (2013), o início do declínio cognitivo se inicia por volta dos
15

45-49 anos. As perdas sensoriais interferem no funcionamento intelectual e nos processos de


cognição, comprometendo o desempenho das atividades de vida diária. O enfraquecimento das
vias sensoriais poderá, inclusive, desencadear comportamentos de introversão, isolamento,
ansiedade e solidão, causando um profundo impacto no convívio social (FERREIRA, 2011).
O prejuízo na captação dos estímulos nos órgãos dos sentidos causa o declínio sensorial,
ao passo que a progressão do déficit cognitivo piora a qualidade da percepção sensorial em
relação ao reconhecimento, interpretação e reação a esses estímulos no córtex cerebral. As vias
sensoriais estão associadas às vias motoras e cognitivas, de modo que estimular de forma
direcionada uma delas quase que inevitavelmente atingirá as outras duas (AMARAL, 2016).
É através das células sensoriais que os estímulos são captados, permitindo ao indivíduo
o reconhecimento de si mesmo, do outro e do ambiente. Essas células são altamente
especializadas e localizam-se espalhadas pelo corpo ou concentradas nas regiões dos órgãos
dos sentidos. Após serem captados, os estímulos sensoriais são levados ao cérebro através de
impulsos nervosos (GOLDSCHMIDT et al., 2008). Chegando ao córtex, o impulso nervoso é
interpretado em regiões distintas, como sensação visual, olfativa, gustativa, auditiva ou tátil.
O cérebro, portanto, recebe, registra e organiza o input sensorial, buscando respondê-lo
através dos outputs certos, que seriam as respostas adaptativas do corpo relacionadas aos
estímulos recebidos. As informações captadas através da percepção sensorial são armazenadas
e transformadas em aprendizado cognitivo pela memória, fazendo com que a inteligência
intervenha no processo perceptivo, de modo que valores éticos, culturais, morais etc. interfiram
na maneira como cada indivíduo reconhece e interpreta a realidade (GOLDSCHMIDT et al.,
2008).

1.2 Os estudos sensoriais – uma visão desde a Filosofia


Aristóteles (384-322 a.C.) constatou que os pensamentos não surgem do contato de
nossa alma com o mundo das ideias, mas da experiência sensível. "Nada está no intelecto sem
antes ter passado pelo mundo dos sentidos", afirmou o filósofo. Para ele, o corpo seria o
principal instrumento de aprendizagem. No século XVII, o filósofo René Descartes (1596-
1650) postulou que o mundo dos sentidos seria a maior fonte de entraves ao conhecimento, pois
poderiam confundir ou iludir a razão, uma vez que ela seria o único meio seguro para conduzir
o homem ao verdadeiro conhecimento. A visão de Descartes fundamentou o pensamento
racionalista, traduzido na máxima “cogito ergo sum” - penso, logo, existo.
Nos séculos XVII e XVIII, os pensadores britânicos John Locke (1632-1704) e David
Hume (1711-1776) afirmaram que a percepção sensorial seria a primeira porta de entrada de
16

informação do ambiente para o ser humano e que esta seria condição para o desenvolvimento
de todo e qualquer processo reflexivo (KLEINMAN, 2014). Em meados do séc. XX, a
fenomenologia e os pensadores existencialistas retomaram a visão de Aristóteles. Para o
filósofo Merleau-Ponty (1908-1961), o corpo não é apenas um objeto para o estudo da ciência,
mas uma condição permanente para que se vivencie a experiência, conferindo especial
importância à percepção sinestésica, pois “o sentido da experiência está na corporeidade e não
em uma essência desencarnada” (NÓBREGA, 2008).
Atualmente, a psicologia cognitiva parte do princípio de que toda informação
processada no cérebro percorre antes alguma via sensorial, sendo que a memória sensorial é a
primeira responsável pelo processamento das informações. Primeiramente, a informação é
captada pelos órgãos dos sentidos por meio de estímulos visuais, táteis, auditivos, olfatórios ou
gustatórios, para que possa ser posteriormente interpretada no córtex cerebral. Essa memória é
extremamente curta, baseada na sensação e na percepção. Sua duração é de segundos a
milésimos de segundos antes de haver o esquecimento. A memória sensorial será codificada e
transformada em informação sensorial através do treino, repetição e atenção (CORRÊA, 2010;
SIGNOR, 2018).
O objetivo do experimento a ser descrito e discutido neste artigo foi observar o
comportamento de idosos cognitivamente saudáveis diante de estratégias lúdicas de
estimulação sensorial e as memórias despertadas a partir dos estímulos expostos.

1.3 Estimulação multissensorial para idosos e os cinco sentidos primários na velhice


As intervenções em terapia de estimulação multissensorial têm se destacado nos últimos
anos em decorrência do aumento da longevidade, pois o envelhecimento, além de propiciar o
declínio da acuidade sensorial, também acarreta um aumento das situações que envolvem
privação sensorial, como a institucionalização e a permanência do idoso acamado por longos
períodos (MARTINS; RODRÍGUEZ; MEDEIROS, 2017). Segundo as autoras, a maioria dos
idosos institucionalizados não dispõe de uma dieta sensorial adequada (quantidade de estímulos
sensoriais necessários por dia), necessitando de intervenção terapêutica que supra essa carência.
A terapia voltada exclusivamente para a estimulação multissensorial costuma ser
empregada nos casos de perda cognitiva severa, quando o idoso apenas consegue responder aos
estímulos sensoriais. Entretanto, as terapias que envolvem estimulação motora e cognitiva
também ativam os sentidos. Torres et al. (2016) ressaltam que os déficits cognitivos associados
ao envelhecimento são progressivos e, havendo interrupção das atividades de estimulação
sensorial e cognitiva, os ganhos obtidos se esvaem, fazendo com que o processo
17

neurodegenerativo volte a progredir. Desse modo, os autores recomendam que os idosos sejam
permanentemente estimulados, especialmente nas instituições de longa permanência, onde se
constatou haver déficits cognitivos mais intensos e precoces, além de uma maior carência de
estímulos sensoriais.
A abordagem Snoezelen é uma forma de estimulação multissensorial que pode se
adequar à demanda dos idosos, especialmente os que apresentam quadros cognitivos mais
comprometidos. O método foi criado na década de 1970, na Holanda, pelos terapeutas Verheul
e Husegge, com a finalidade de melhorar o bem-estar de pessoas com deficiência mental
profunda. Snoezelen é a junção de duas palavras holandesas: snuffelen (cheirar/explorar) e
doezelen (repousar/relaxar). As salas Snoezelen são ambientes aconchegantes e tranquilos,
projetados para despertar percepções sensoriais de forma controlada, confortável e segura. Essa
abordagem se desenvolve por meio de diversos tipos de equipamentos que promovem estímulos
sensoriais, tais como: colchão de água, poltrona massageadora, projetores, óleos aromáticos,
tubos de bolhas, objetos com variedade de texturas, luzes coloridas etc. A interação com esses
elementos pode ser tanto ativa como passiva, em sessões individuais ou em grupos pequenos
que comportem, no máximo, três idosos. Esses espaços destinam-se a promover estimulação,
interação e/ou relaxamento (AMARAL, 2014; ROSA JUNIOR et al., 2009).
Estimular os sentidos dos idosos também pode ser uma boa estratégia para acionar a
memória. Santos et al. (2016) observaram que estimular cada sentido fez com que aflorasse
memórias de experiências cotidianas. Martins (2011) constatou que a estimulação sensorial,
além de reduzir a depressão e os processos disruptivos, atinge fortemente a memória retrógrada,
ressaltando que o ideal seria que o terapeuta buscasse conhecer o percurso de vida do seu
paciente, sobretudo na infância, de forma que, ao selecionar os estímulos, possa ser mais
eficiente e assertivo. Queiroz, Ziruollo e Mello (2012) destacam que o estímulo sensorial ativa
a memória retrógrada e ressaltam que a reação sensorial é das últimas funções a serem perdidas
com o processo de envelhecimento.

1.3.1 Visão
A visão é uma das perdas sensoriais mais frequentes em idosos, juntamente com a
audição. A função visual normal é capaz de perceber, discriminar e interpretar os estímulos
luminosos. Os sistemas visual, vestibular e somatossensorial atuam no controle postural, sendo
que alteradas ocasionam mudança na marcha, desequilíbrio e demandam um maior gasto
energético, gerando fraqueza muscular e podendo levar a quedas (PENEDO, 2018).
18

A partir dos 40 anos, a estrutura ótica dos olhos começa a ser afetada pelo
envelhecimento e, a partir dos 60, a estrutura retiniana. Os problemas visuais mais comuns nos
idosos são: catarata, glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética (LAMAS & PAÚL,
2013). Dificuldades visuais significativas atingem 14% dos idosos entre 70 e 74 anos. A partir
dos 85 anos, 32% possuem perda visual, sendo que 25% não conseguem ler jornal, mesmo com
auxílio de óculos ou lupas. 90% dos idosos necessitam usar lentes corretivas em algum período
da vida (PEDRÃO, 2011).
O idoso normal poderá perder a acuidade visual em ambientes com pouco contraste, ter
dificuldade de adaptar a visão em locais escuros (por causa da redução do tamanho da pupila),
ter menos tolerância ao brilho, reduzir a discriminação das cores e diminuir a capacidade de
leitura. As alterações visuais podem levar uma pessoa de 60 anos a necessitar quatro vezes mais
luminosidade do que uma de 20 anos (BRAIDA; NOJIMA, 2016).
A visão subnormal em idosos está relacionada ao declínio cognitivo, a doenças
cardíacas, à artrose e hipertensão, podendo levar a quedas e fraturas de quadril, o que
compromete demasiadamente a qualidade de vida. 60% dos idosos que possuem visão
subnormal também apresentam déficit auditivo, restrição de mobilidade, comprometimento
cognitivo, doenças cardíacas e pulmonares. O comprometimento da visão, juntamente com
doenças articulares e cardíacas, são os principais fatores que levam o idoso a necessitar de
auxílio nas atividades de vida diária. A depressão é mais associada à perda visual do que
auditiva, por exercer maior impacto na execução das atividades cotidianas (PEDRÃO, 2011).
É importante que haja um treinamento para a readaptação das habilidades visuais e
motoras direcionadas às atividades de vida diária. Também o uso de óculos, a utilização de
novas técnicas de leitura e a adaptação da iluminação são imprescindíveis para minimizar os
efeitos da redução da acuidade visual, ressaltando que alguns idosos se tornam hipersensíveis
à luminosidade.

1.3.2 Audição
O ser humano consegue captar frequências - graves e agudos - que atingem o espectro
de 20 a 20.000 Hz. A intensidade acima de 130 dB causa desconforto, e acima de 160 dB podem
causar o rompimento da membrana timpânica. A conversação normal situa-se em torno de 500
a 3.000 Hz e entre 45 a 60 dB. A perda auditiva envolve o comprometimento da sensibilidade
às frequências, às intensidades ou a ambas. Em relação à intensidade, considera-se leve a perda
até 25 dB, até 40 dB, moderada, e até 60 dB, severa. O Brasil possui cerca de 5 milhões de
deficientes auditivos, sendo que, aos 60 anos, 44% já apresentam a audição comprometida,
19

entre 70 a 79 anos, 66% podem apresentar perda significativa, e após os 80 anos, 90%. Os
indivíduos do sexo masculino são mais suscetíveis a terem déficits auditivos devido à
quantidade de pelos que levam ao acúmulo de cerúmen no conduto auditivo externo. A perda
auditiva não tratada leva ao isolamento social (PEDRÃO, 2011).
A presbiacusia é a doença degenerativa mais comum, ocorrendo com maior frequência
em homens acima de 40 anos. Há uma maior dificuldade na audição de frequências mais
agudas, entre 1.000 e 8.000 Hz. É mais comum a perda se iniciar nas frequências agudas, indo
para as médias e, em seguida, as graves. Também é frequente a ocorrência de zumbidos.
Com o aumento da idade, observa-se a tendência em aumentar a perda auditiva. Dos 80
aos 89 anos, o idoso costuma apresentar o aumento dos limiares nas frequências agudas, assim
como prejuízos em relação à clareza da fala, discriminação dos fonemas, compreensão do
discurso rápido e em ambientes ruidosos (LAMAS; PAÚL, 2013).
Quanto mais tempo houver entre a descoberta da perda e a reabilitação, pior será o
prognóstico. Voltar a ter uma audição normal não será possível. O idoso deverá utilizar
aparelhos de amplificação sonora individuais, prescritos a partir do exame audiométrico, que
poderão melhorar a intensidade do estímulo acústico, a discriminação da fala e a diminuição do
ruído de fundo. No Brasil, 50% dos idosos que possuem déficit auditivo nunca utilizaram
aparelhos. Dos que chegaram a experimentá-lo, 10% a 30% mantêm o uso a longo prazo, e 70%
a 90% desistem devido a: contexto clínico (se for uma deficiência auditiva central, pode não
ser compensada com o uso do aparelho), insatisfação com o desempenho do aparelho,
intolerância aos sons amplificados e até vergonha ou vaidade. As perdas auditivas relacionadas
à idade podem ser prevenidas evitando-se a exposição a ruídos de alta intensidade, a ingestão
de medicamentos ototóxicos, o tabaco, a exposição a solventes industriais e um maior consumo
de álcool (PEDRÃO, 2011).

1.3.3 Paladar
O paladar e o olfato são os sentidos responsáveis pelo apetite, pelas escolhas alimentares
e pela nutrição. O gosto e o cheiro dos alimentos preparam a digestão estimulando as secreções
salivares, gástricas, pancreáticas e intestinais. Existem cinco gostos básicos: o amargo, o ácido,
o salgado, o doce e o umami, sendo que cada um deles é percebido em região diferente da
língua. O sabor de um alimento é a junção do aroma, do gosto, da textura, do ruído ao mastigar
e da aparência do alimento, ou seja, o sabor envolve a integração multissensorial. O sentido do
paladar é o que mais se distingue emocionalmente e a ligação que estabelece com os outros
sentidos é também considerada um fator emocional (MARQUES, 2016).
20

A idade avançada é um dos fatores de risco para os transtornos do paladar e para a


anosmia – dificuldade ou incapacidade de perceber odores. Havendo um transtorno do paladar,
o indivíduo perde o apetite e pode escolher erradamente os alimentos, o que pode levá-lo à
desnutrição. Se houver pouca variabilidade na dieta, o quadro poderá piorar. Além da redução
da sensibilidade para aromas e sabores, haverá também a redução da capacidade de discriminar
e diferenciar os alimentos, sendo que as sensações poderão ser percebidas de forma distorcida.
Os transtornos do paladar estão, de forma geral, relacionados ao uso de medicamentos, os quais
poderão gerar: ageusia (perda do paladar), hipogeusia (diminuição na percepção dos sabores) e
disgeusia (percepção distorcida dos sabores). Durante o tratamento de neoplasias, 50% dos
pacientes sofrem de disfunção do paladar. A radioterapia e a quimioterapia afetam a reparação
dos epitélios sensoriais olfativos e gustativos, comprometendo anatomicamente a integridade
das papilas gustativas (PEDRÃO, 2011).
A quantidade de papilas gustativas não diminui com a idade, o que diminui é a
concentração de células sensoriais em cada papila, alterando a capacidade gustativa em cada
região da língua. A redução do paladar ocorre com o envelhecimento também por alterações
cognitivas, nas quais o cérebro falha ao interpretar as sensações do gosto, e decorrentes de
doenças degenerativas que acometem a cavidade oral. A percepção para o salgado e para o
amargo é a que declina com maior evidência, explicando a tendência que o idoso tem para
consumir mais sal e açúcar (LAMAS; PAÚL, 2013).
O principal fator etiológico para a alteração do paladar e para a xerostomia (pouca
salivação/boca seca) é o uso de medicamentos, principalmente os antidepressivos, anti-
hipertensivos, anti-histamínicos e digitálicos. As cáries e doenças periodontais contribuem para
a redução do prazer e interesse pelas refeições. Os problemas com a prótese podem prejudicar
o processamento do alimento e a gustação, salientando que próteses que cobrem o palato duro
atrapalham a propagação do odor e podem causar perda olfatória (PEDRÃO, 2011). Entretanto,
tanto alterações no paladar como no olfato poderão indicar um futuro aparecimento de doença
degenerativa. Atualmente, investiga-se o olfato como biomarcador precoce dessas doenças
(LAMAS; PAÚL, 2013).

1.3.4 Olfato
O olfato é uma das sensações humanas mais primitivas. Além de assumir especial
importância em relação à nutrição e na detecção de odores que podem colocar em risco a saúde
e a vida do idoso, tais como cheiro de gás, de queimado e alimentos estragados, destaca-se
como um sentido capaz de trazer memórias relacionadas às experiências vivenciadas. O odor
21

está associado ao prazer e ao desprazer, sendo fortemente ligado às recordações do ser humano
(MARQUES, 2016).
No processo de envelhecimento, o olfato é mais prejudicado que o paladar. O
comprometimento é o mesmo para homens e mulheres, porém, a discriminação dos odores é
melhor nas mulheres. As alterações nos idosos compreendem: a redução do muco nasal com
menor fluidez do muco que é produzido, a substituição do epitélio sensorial nasal pela mucosa
respiratória e a diminuição da concentração de neurônios, sendo que a taxa de recuperação da
capacidade olfatória em idosos é reduzida. Na doença de Alzheimer, verifica-se a perda da
capacidade olfatória, pois a habilidade de discriminação de odores situa-se no lobo temporal
medial, precocemente comprometido pela doença. A doença de Parkinson também compromete
o olfato, ressaltando que os testes de função olfatória auxiliam no diagnóstico diferencial para
outros transtornos neurodegenerativos (PEDRÃO, 2011).
A perda olfatória pode levar o idoso a alimentar-se mal, a perder o interesse nas refeições
e levá-lo à desnutrição. Os sentidos do olfato e do paladar representam uma forma importante
de interação com o meio ambiente, assim como fonte de prazer. A perda desses sentidos pode
desencadear estados de tristeza e até depressão (LAMAS; PAÚL, 2013).

1.3.5 Tato
Montagu (1988) considera o tato a matriz de todos os sentidos, pois seu órgão
correspondente é a pele, e dela se originaram os ouvidos, a boca, o nariz e os olhos. A pele é o
mais sensível e antigo órgão do corpo humano, o primeiro meio de comunicação e de proteção
do ser humano. Para Marques (2016, p. 13), “o tato traduz a componente física do ser humano”,
intermediando a interação com o ambiente e a relação com as outras pessoas.
O tato faz parte do sistema sensorial somático – tato, pressão, vibração, propriocepção,
dor e sensações térmicas. Os receptores para tato, pressão e vibração são as terminações
nervosas localizadas na pele. Os receptores para a propriocepção são as cápsulas das
articulações, os tendões e a musculatura esquelética. No envelhecimento, pode ocorrer redução
na sensação de dor, vibração, frio, calor, pressão e toque. Deficiências vitamínicas (complexo
B), diabetes, alcoolismo, tabagismo, doenças renais, mieloma múltiplo, neoplasias, doenças
autoimunes, exposição a toxinas e infecções podem causar a perda do tato (PEDRÃO, 2011).
O idoso pode perder a sensibilidade para temperaturas, o que pode lhe causar
queimaduras ou hipotermia. Ocorre também a diminuição da sensibilidade ao toque, pressão e
vibração com o aumento da possibilidade de lesões na pele. O aumento dos limiares para a
percepção do tato pode levar o idoso a tolerar um estímulo extremo sem perceber que causa
22

dor, além de comprometer a coordenação motora e o reconhecimento de presença, forma,


tamanho e temperatura (LAMAS; PAÚL, 2013).
A experiência descrita neste artigo foi realizada por 26 idosos cognitivamente saudáveis,
que compõem o grupo NeuroCog-Idoso da Universidade Católica de Brasília (UCB). Criou-se
uma instalação que propôs dinâmicas, explorando a percepção sensorial dos idosos. Essa
instalação compreendeu um circuito multissensorial nos moldes das atividades multissensoriais
desenvolvidas para crianças, com o cuidado de evitar estratégias que parecessem
infantilizadoras, porém, que mantivessem um caráter lúdico.
A experiência foi realizada no dia 23 de outubro de 2018, às 15h, na UCB do câmpus
Águas Claras, ocupando o espaço de uma sala ampla (sala 206 do bloco D). A instalação foi
composta por cinco estações, cada uma delas responsável pela estimulação de um dos sentidos
primários (visão, audição, tato, olfato e paladar). As experiências sensoriais foram dispostas em
forma de circuito, sendo que todos os participantes permaneceram ao mesmo tempo no mesmo
espaço físico e foram se revezando em cada estação, até que todos realizassem todas as
vivências. Ao final, um cavalete contendo folhas em branco e pincéis atômicos estiveram
disponíveis, sem nenhuma instrução em específico, para que se expressassem livremente, se e
como desejassem. Esse experimento teve como objetivo explorar a percepção e a memória
sensorial de idosos cognitivamente saudáveis, verificando quais lembranças poderiam emergir
diante deste tipo de estimulação.

2 MÉTODO
Trata-se de um relato de experiência, de uma das atividades realizadas com os idosos
do Grupo NeuroCog-Idoso. Esta pesquisa e o seu referido Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido foram submetidos ao sistema do Comitê de Ética em Pesquisa, e aprovados por
meio do protocolo CAAE n° 67653517.4.0000.0029, sob o parecer nº 2.071.414.
Para tanto, utilizou-se um recorte transversal, descritivo, quantitativo e qualitativo.
Buscou-se avaliar e descrever a experiência multissensorial desses idosos de forma quantitativa
e qualitativa através de questionário entregue no final do circuito que explorou o desempenho
dos idosos em relação às dinâmicas propostas. Foram elaboradas seis questões objetivas de
múltipla escolha mais uma questão subjetiva. Esses questionários foram preenchidos pelos
próprios idosos após a prática. Optou-se pelo método misto, visando abarcar a complexidade
das vivências que trataram não apenas de identificar os elementos sensoriais, mas também
verificar o impacto que estes exerceriam sobre a memória dos idosos que estavam ali presentes.
23

2.1 Amostra
O grupo foi composto por 26 idosos, com média etária de 74 anos, cognitivamente
saudáveis, assistidos pelo projeto NeuroCog-idoso. A amostra contou com quatro idosos do
sexo masculino e 22 do sexo feminino, com idades entre 60 e 88 anos, distribuídos conforme
Gráfico 1.

2.2 Instrumentos
2.2.1 Instrumentos da instalação multissensorial

Estação Tato
Composta por cinco Caixas de Sensações e um Tapete de Plástico Bolha. As caixas
foram preparadas para que os idosos apalpassem os elementos que estariam dentro delas sem
que fosse possível visualizá-los, sendo eles: bolinhas de gude, plástico bolha, Geleca (Amoeba),
isopor, esponja de cozinha dupla face picada (mais ou menos 4 cm).
As caixas foram dispostas em um balcão, sendo que, enquanto os idosos apalpavam os
elementos dentro das caixas, também caminhavam descalços sobre a superfície do plástico
bolha.

Estação Olfato
24

Jogo da Memória de Cheiros: composto por diversos potinhos que continham ervas,
óleos essenciais e café. O “jogo” consistia em identificar o cheiro e realizar o pareamento desses
diversos odores, contudo, a proposta consistia em simplesmente explorar os odores. Foram
escolhidos para esta estratégia os seguintes elementos: alecrim, erva doce, café, óleo essencial
de menta, eucalipto e canela.

Estação Paladar
Criou-se uma cascata de isopor no formato de pipocas e, embaixo da cascata, foram
colocados saquinhos de pipocas entre as “pipocas de isopor”, fazendo alusão ao formato,
tamanho, cor e textura do alimento. As pipocas foram oferecidas a quem quisesse comê-las.

Estação Audição
Composta por taças coloridas “afinadas com água” em correspondência com oito sinos
coloridos (afinados em escala de dó maior, cada sino correspondendo a uma nota musical). As
taças eram percutidas com uma baqueta de madeira.
Em um biombo foram dispostos quatro fones de ouvido, cada um deles com um som
que representasse um dos elementos da natureza, sendo eles: chuva, vento, enxada cavando a
terra e fogo queimando a madeira. O idoso foi convidado a interagir com esses sons.

Estação Visão
Foram oferecidos diversos adereços de fantasias que ficavam em um cabideiro junto
com um espelho e uma moldura que continha a inscrição “Eu sou Uma Obra de Arte”. Sendo a
última das estações do circuito, nenhuma instrução foi dada. O idoso que se sentiu à vontade
vestiu os adereços, interagiu com os colegas e tirou fotos atrás da moldura. A proposta foi
apenas brincar, transformando o próprio visual através do uso desses acessórios.

2.2.2 Instrumento de avaliação


Foram entregues questionários contendo seis perguntas objetivas, que investigaram a
acuidade sensorial do idoso em relação a cada sentido, e uma subjetiva, referente às recordações
despertas através do estímulo sensorial. Os questionários foram compostos pelas seguintes
perguntas:
a) As experiências sensoriais trouxeram algum tipo de memória?
b) Qual ou quais vivências (referentes às cinco estações/sentidos) trouxeram
lembranças?
25

c) Na dinâmica referente ao tato “Caixas de Sensações”, quantos e quais elementos você


conseguiu identificar?
d) Na experiência do olfato “Jogo da Memória”, quantos e quais elementos conseguiu
identificar?
e) Você conseguiu perceber a repetição dos cheiros?
f) Você participou de interação criativa opcional? Escreveu/desenhou no cavalete ou
interagiu com os adereços?
g) Você poderia descrever alguma vivência ou memória desperta pelas brincadeiras
sensoriais?
Os questionários foram entregues aos idosos após vivenciarem as cinco estações. Na
mesma sala, reservou-se um espaço com carteiras escolares e canetas para que os próprios
participantes preenchessem os questionários.

3 RESULTADOS
Ao responderem se as experiências sensoriais trouxeram algum tipo de memória, os 26
idosos responderam que sim, demonstrando que o estímulo sensorial por si só pode estimular o
surgimento de lembranças.
Sobre quais sentidos trouxeram essas lembranças, observou-se que o olfato (“Jogo da
memória dos cheiros”) foi o que mais acionou a memória dos idosos. Dos 26 idosos presentes,
22 referiram que o cheiro trouxe memórias. A experiência reiterou a proposição de Marques
(2016), ao afirmar que o olfato é o sentido que possui maior agilidade em trazer memórias
passadas.
O segundo sentido que mais estimulou a memória foi a audição (20 pessoas), em
seguida, o tato - caixas de sensações (16 pessoas), audição - sinos (13 pessoas), tato - tapete de
bolhas (12 pessoas) e visão - adereços (1 pessoa). Os resultados consolidados das experiências
mais reportadas seguem apresentados no Gráfico 2.
26

Acredita-se que a estratégia elaborada para a visão estimulou pouco a memória dos
idosos porque esteve voltada para o lúdico, e o fato de vestirem os adereços trouxe uma
atmosfera de interação e diversão. Isso fez com que a atenção se voltasse para o ambiente e
para as pessoas, em vez de provocar um movimento de introversão e reflexão, mais propício ao
surgimento de reminiscências.
Na dinâmica das caixas de sensações, na qual deveriam experimentar, pelo tato, cinco
sensações, 15 idosos conseguiram identificar todos os elementos que provocaram as sensações
táteis, sendo 12 do sexo feminino e três do sexo masculino com idades, que variam de 60 a 88
anos. Oito idosos não identificaram um dos cinco elementos, sendo que três idosos não
identificaram o plástico bolha, dois idosos não identificaram a esponja dupla face, dois idosos
não identificaram o isopor e um idoso não identificou a bolinha de gude. Desses oito idosos,
seis eram do sexo feminino e dois do sexo masculino com idades entre 63 e 86 anos. Apenas
um idoso do sexo feminino, 70 anos, identificou três elementos, sendo eles a geleca/amoeba, a
bolinha de gude e o isopor; um idoso (sexo feminino 72 anos) identificou dois elementos (geleca
e bolinha de gude) e um idoso não respondeu a essa questão.
Os elementos mais percebidos foram geleca e bolinha de gude. Todos identificaram a
geleca e apenas um idoso não identificou as bolinhas de gude. Neste experimento, observamos
27

que neste grupo, composto por idosos cognitivamente saudáveis, a diferença etária não
interferiu nos resultados. Os resultados consolidados são apresentados no Gráfico 3.

A percepção tátil mais aguçada foi atribuída para a geleca e bolinhas de gude por se
tratar de elementos que remetem ao lúdico e à memória retrógrada. Confirmou-se, depois, na
questão subjetiva, que os idosos referiram ter se recordado de situações vividas na própria
infância e na infância dos filhos.
Na experiência sensorial que explorou o olfato (memória dos cheiros), cinco idosos
identificaram todos eles (café, menta, eucalipto, erva doce, canela e alecrim); três idosos não
identificaram apenas o alecrim e um idoso não identificou apenas o café. Dos seis idosos que
conseguiram identificar quatro dos seis odores a que foram expostos, todos eles identificaram
a menta e o eucalipto. Cinco idosos identificaram o café, quatro idosos identificaram a canela,
dois idosos o alecrim e um idoso a erva doce. Sete idosos identificaram três odores, três idosos
dois odores e um idoso apenas um odor, que foi o café. Os odores mais identificados em ordem
decrescente foram: o café, juntamente com a menta, seguido do eucalipto, canela, erva doce e
alecrim. Atribuiu-se o resultado obtido devido aos cheiros do café, da menta e do eucalipto
serem mais presentes no cotidiano: a menta pode remeter às pastilhas, cremes dentais etc., e o
eucalipto é odor característico de produtos de limpeza e saunas. Quanto à canela, por ser um
condimento mais frequentemente utilizado na culinária do dia a dia do que a erva doce e o
alecrim. Os idosos representantes de 88% da população (23) perceberam que os cheiros se
28

repetiram, sendo que um idoso não percebeu e dois não responderam a essa pergunta. O resumo
das quantidades de experiências olfativas detectadas pelos idosos encontra-se ilustrada no
Gráfico 4.

Foram consideradas como atividade de interação e criatividade aquelas que requereram


contribuições individuais e de caráter subjetivo, sendo elas: a adesão ao uso de adereços e os
registros (desenhos e mensagens) realizados espontaneamente no cavalete. Dezoito idosos
participaram das duas atividades, três idosos apenas dos adereços e dois idosos apenas do
cavalete. Um idoso referiu que não participou, mas gostaria de ter participado, e dois idosos
não responderam à questão. Os resultados seguem reportados no Gráfico 5.
29

Quanto às mensagens escritas no cavalete, destacam-se: “casa engraçada com vivências


fantásticas”; “eu quero mais: geleca, cheiros bons, pipoca!”; “todas as brincadeiras foram
maravilhosas, amo todos vocês”; “gostei de todas as brincadeiras e lembranças da infância”;
“parabéns pro Coral!”; “lembrei da infância: bolinha de gude e geleca”; “emoções mil!”; “muito
legal!!”,“lembrei do tempo de escola”; “só o ouro!”, etc. Das mensagens e desenhos (corações,
flores, rostinho sorrindo – smile) que deixaram no cavalete, destacou-se a citação da música
“Metade”, de Oswaldo Montenegro: “porque metade de mim é amor e a outra metade também”.
Sobre a questão subjetiva contida no questionário: “Você poderia descrever alguma
vivência ou memória desperta pelas brincadeiras sensoriais?”, dos 26 questionários recebidos,
seis não responderam. As respostas obtidas foram submetidas à análise de discurso, utilizando-
se o software IRaMuTeQ, originando a seguinte nuvem de palavras:
30

A nuvem sintetiza o resultado do experimento realizado, pois “lembrar” foi a tônica do


experimento. Todas as estratégias, de alguma forma, remetem a lembranças vivenciadas no
cotidiano ou em tempos mais remotos. As palavras “brincadeira” e “infância” se destacaram
pelo caráter lúdico da instalação e pela maioria das memórias relatadas, que foram as do tempo
de infância. É interessante também observar que a palavra “geleca” vai de encontro ao resultado
do questionário que refere que este foi o elemento mais identificado, e a palavra “cheiro”
demonstrou que o olfato, nessa dinâmica, foi o sentido que mais despertou lembranças.

4 DISCUSSÃO
Por meio da experiência realizada, observou-se que a abordagem sensorial vai ao
encontro do perfil, das necessidades do público idoso, e pode trazer desdobramentos positivos
não apenas para a terapêutica dos distúrbios que envolvem o declínio sensorial. Observou-se,
ainda, de imediato, que a perda da acuidade dos sentidos exerce forte impacto na realização das
atividades rotineiras do dia a dia, fazendo com que o idoso seja prejudicado desde a realização
de um trabalho doméstico, podendo até levá-lo ao constrangimento nas relações interpessoais
e, por vezes, ao isolamento. Aprimorar a percepção sensorial na velhice trará o benefício de
ativar a memória dos sentidos, despertando sensações e lembranças que serão despertadas pela
integração sensorial: um determinado cheiro será capaz de trazer uma recordação tátil, ou
determinado gosto, remeterá a alguma paisagem que o levará recordar fatos ocorridos, e assim
por diante.
Verificou-se que o aspecto lúdico trouxe um clima favorável durante o desenvolvimento
do experimento e que os idosos aderiram e apreciaram as estratégias propostas. O ambiente
31

descontraído também favoreceu as produções e expressões espontâneas, ressaltando que houve


contribuições criativas desses idosos ao experimento, tais como desenhos, mensagens e poses
para fotos.
Deve-se considerar que os seres humanos necessitam dos sentidos não apenas para
aprenderem o ambiente e o outro, mas também para sentirem prazer e desprazer. Seja no sabor
(cheiro e gosto) da culinária, na apreciação musical, na contemplação de uma paisagem, de uma
obra de arte ou pelo relaxamento obtido através de uma massagem, um toque de carinho, uma
brisa marinha, o calor e o frio. O fato é que as sensações proporcionadas pelos nossos sentidos
estão constantemente conectando os indivíduos à própria vida e trazendo-os à percepção da sua
corporeidade.
Os cinco sentidos são ferramentas sensoriais capazes de ativar a memória e fazer com
que se lembre de episódios até certo ponto esquecidos no tempo. Como foi visto, com o passar
dos anos, o processo de envelhecimento pode trazer alterações sensoriais significativas,
podendo, até mesmo, influenciar no afastamento e até mesmo na perda de ações que provocam
sensações importantes e prazerosas. No artigo de Oliveira e Braga (2013), é tratada a relevância
da utilização do marketing sensorial nos níveis comunicacionais e os benefícios que isso pode
trazer para o consumidor. Destaca, inclusive, o caso de consumidores não atendidos, como os
deficientes físicos. Também aborda a influência do marketing sensorial como ferramenta a ser
utilizada para despertar a emoção e gerar inclusão social. Em relação a esse tema, cabe ressaltar
que o conhecimento acerca das alterações sensoriais dos idosos pode gerar ambientes e produtos
mais adequados, que poderão trazer uma série de benefícios a este público.
À luz do artigo de Oliveira e Braga (2013), a perda da acurácia dos sentidos poderia
implicar exclusão social dos idosos na apreciação de produtos e serviços? O mercado tem se
preocupado com esse segmento de forma adequada, aprimorando seus negócios com foco nos
clientes que envelhecem? Sentimentos de alegria e felicidade poderiam ser resgatados através
da estimulação sensorial no intuito de auxiliar os idosos no processo de envelhecimento?
Em outro trabalho, Koura et al. (2010) reportam os efeitos da terapia horticultural no
cuidado geriátrico. Seus resultados demonstraram que, muitas vezes, três ou quatro sentidos são
estimulados em uma única atividade, com impactos na coordenação motora, gustativa, olfativa
e visual, podendo auxiliar na redução dos efeitos negativos do desequilíbrio e demência, dentre
outros.
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que a experiência foi positiva, tanto para os idosos que se envolveram ao
participar das estratégias propostas, como para os pesquisadores que puderam vivenciar,
32

juntamente com eles, o forte componente afetivo presente na memória sensorial. As memórias
sensoriais, pelo caráter marcante que possuem, são elementos que, juntamente com as
lembranças, são capazes de despertar um sentido mais profundo de identidade – pessoal e
cultural – remetendo à história de vida de cada um.
Verificou-se que a abordagem multissensorial pode receber diversos enfoques e ser
utilizada para vários propósitos, sendo um eficiente caminho para que haja a emersão de
recordações antigas ou recentes. Também evidenciou ser um eficaz instrumento de estimulação
utilizado para desencadear processos criativos que pode ser utilizado como recurso terapêutico
contribuindo na formação de novas redes de plasticidade neural em indivíduos portadores de
doenças neurodegenerativas, em acidentes vasculares cerebrais e em outros quadros que
envolvam comprometimento neural.
Sugere-se, como possibilidade de ampliação deste estudo, verificar até que ponto as
alterações sensitivas dos idosos poderão ser minimizadas através de abordagens que estimulem
a acuidade sensorial, e como o desenvolvimento da sensibilidade sensorial pode ser realizado
através das artes, em atividades dirigidas de degustação, concertos, audições temáticas,
exposições, visitas acompanhadas a teatros, museus, terapia horticultural, cromoterapia,
aromaterapia, etc. A estimulação multissensorial se apresenta como um novo caminho a ser
explorado que poderá agregar à saúde mental, à preservação das habilidades cognitivas e à
qualidade de vida dos idosos.

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36

2. CAPÍTULO 2 – ARTIGO SNOEZELEN

Artigo submetido à Revista Kairós – Gerontologia em outubro de 2019. Status: Publicada.


O Artigo está disponível no endereço:
https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/view/45609

Uma proposta da abordagem Snoezelen em estimulação multissensorial no contexto da


gerontologia

Marcia Degani
Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione

RESUMO: Através dos sentidos do corpo o ser humano se constitui e estabelece as suas
relações com o mundo. A perda da acuidade sensorial que ocorre com o envelhecimento afeta
todos os indivíduos em diferentes níveis, causando transtornos que comprometem a
independência, a autonomia, as relações interpessoais e o sentido de identidade. A abordagem
Snoezelen tem sido utilizada tanto como conceito quanto como intervenção terapêutica, visando
a adaptação e a melhoria na qualidade de vida dos idosos.

Palavras-chave: estimulação, idoso, sentidos.

ABSTRACT: Through the senses of the body the human being is constituted and establishes
its relations with the world. The loss of sensory acuity that occurs with aging affects all
individuals at different levels, causing disorders that compromise independence, autonomy,
interpersonal relationships and the sense of identity. The Snoezelen approach has been used
both as a concept and as a therapeutic intervention, aiming at adapting and improving the quality
of life of the elderly.

Keyword: stimulation, elderly, senses.

Introdução

O envelhecimento global da população tem sido foco de interesse de estudiosos de


diversas áreas do conhecimento mobilizando a ação participativa de todos os setores da
37

sociedade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, o


percentual de pessoas idosas no Brasil era de 7,32% correspondendo a 20,6 milhões de pessoas
com 60 anos ou mais. Em 2016, constatou-se um aumento de cerca de 9 milhões de idosos
atingindo 29,6 milhões. Este índice deverá em 2019 atingir 9,52% e, em 2050 prevê-se uma
inversão da pirâmide etária, com grande redução das faixas etárias de 0 a 24 anos e o aumento
do número de pessoas acima dos 60 anos. Com o aumento da expectativa de vida, a população
acima dos 60 anos tenderá a viver mais 20 ou 30 anos, tornando o grupo das pessoas acimas de
80 anos igualmente crescente (Brasil, 2018). Caradec (2016), observa que este contexto
demográfico se caracteriza pelo “envelhecimento no envelhecimento”, uma vez que os anos a
mais serão vivenciados no período da velhice e que isto se refletirá em ganho ou ônus, a
depender de como o indivíduo atingiu a idade avançada, levando em conta a sua saúde física e
mental, o aspecto financeiro, social e outros.

Tendo em vista que o contingente populacional de idosos aumentou significativamente


e tende a aumentar cada vez mais, surgem diferentes configurações no modo de vida dos idosos
que implicam em novas necessidades para estas pessoas. O envelhecimento acarreta uma série
de mudanças no organismo, sendo um processo no qual ocorrem alterações em todos os tipos
de células, havendo um forte impacto no sistema sensorial. Mesmo ao se tratar de um organismo
saudável haverá perdas graduais e estas mudanças demandarão medidas que visem a adaptação
a essas transformações (Lamas & Paúl, 2013).

O declínio na acuidade sensorial ocorre em todos os indivíduos com o passar do tempo,


sendo variável de pessoa para pessoa. Os sentidos atuam em conjunto, cada um
complementando a informação do outro, de forma que, a alteração no funcionamento de um
deles impactará a ação dos outros. As alterações sensoriais corroboram para que haja o
comprometimento das funções cognitivas, sendo comum que os idosos sintam, em decorrência
desses déficits, além do declínio da cognição, transtornos adaptativos que prejudicam desde as
atividades de vida diária até suas relações interpessoais (Alcântara, Mattos & Novelli, 2013).

Há uma série de situações que ocorrem com maior frequência no período na velhice que
podem levar o indivíduo a sofrer alterações sensoriais, tais como: demência, lesões cerebrais,
diabetes, polifarmácia, depressão, institucionalização, ficar por longos períodos acamados ou
em ambientes pobres em estímulos sensoriais e outros. O aumento do declínio sensorial causará
dificuldades na comunicação e prejuízos relacionados à autonomia e à independência do idoso
(Giro & Paúl, 2013).
38

O Snoezelen surgiu com o intuito de proporcionar estímulos sensoriais a indivíduos que


apresentassem comprometimentos físicos e mentais, em ambiente seguro, por meio de situações
prazerosas e através de uma abordagem não diretiva. O conceito veio a partir da realidade de
pessoas institucionalizadas que estariam mais sujeitas a contextos de privação sensorial. Assim
sendo, na sua origem e no seu desenvolvimento, o Snoezelen preocupou-se em proporcionar
estímulos sensoriais pela necessidade de manter saudável o funcionamento físico e cognitivo
do organismo. Atualmente o Snoezelen é realizado como intervenção não farmacológica no
tratamento de diversas patologias, como conceito ou filosofia e como aproximação terapêutica
(Amaral, 2014; Sánchez & Abreu, 2010).

Neste artigo abordaremos inicialmente a sensorialidade do ponto de vista filosófico e a


sua importância na constituição integral do sujeito. Em seguida, situaremos a percepção
sensorial tendo como referência a Teoria da Integração Sensorial com enfoque na velhice.
Apresentaremos a metodologia Snoezelen, seu histórico, fundamentos e experiências bem-
sucedidas realizadas no contexto gerontológico e, finalmente, refletiremos sobre a importância
da estimulação multissensorial na velhice e sobre a inexistência de registros que relatem
experiências de estimulação multissensorial na abordagem Snoezelen para idosos no Brasil,
sendo um tipo de intervenção especialmente indicado em quadros demenciais e em diversos
outros contextos da gerontologia.

Indivíduo, sentidos e corporeidade

A existência subjetiva do sujeito se dá através de sua corporeidade, pois o homem vive


e experimenta o mundo através de seu corpo, cabendo ao aparato sensorial estabelecer e mediar
suas relações no mundo. Ao envelhecer, o corpo sofre diversas transformações que põem em
risco sua integridade física e mental. Os sentidos do corpo são os meios que possibilitam ao ser
humano a apreensão dos sinais de tudo que o cerca para que possa respondê-los através de
comportamentos adaptados. É por intermédio deles que os indivíduos estabelecem as relações
com o outro, com o mundo e consigo mesmo. A autoconsciência e a cognição também se
constroem através dos sentidos, sendo o início deste processo na vida intrauterina. Mesmo não
estando plenamente desenvolvidos no momento do nascimento eles serão os responsáveis por
garantir a adaptação ao mundo e a sobrevivência do indivíduo durante toda a sua vida (Rocha
& Dounis, 2013).

Situar o sujeito no seu próprio corpo e outorgar à percepção o papel de intermediar as


suas relações com o mundo, na filosofia, remota à Aristóteles no séc III a. C. Para ele, a
39

experiência antecede a essência, ou seja, o conhecimento se forma a partir do que foi


vivenciado, através da ação do sujeito no mundo. De acordo com seu pensamento, haveria sete
formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem,
raciocínio e intuição. A sensação seria responsável por comunicar as qualidades dos objetos
nos níveis interno e externo: externo, informando as qualidades dos objetos em si e, interno, o
que estas qualidades provocam no corpo. A percepção surge como resultado da organização
das sensações, sendo que ela e a imaginação, juntas, conduzem à memória, à linguagem e ao
raciocínio (Rabello, 2014).

Para Aristóteles a sensação é o que define o animal pois, se ele possui sensação,
provavelmente também terá capacidade de imaginar e o apetite (no sentido de vontade), pois
onde existe sensação também existe prazer, dor e desejo. No tratado “Sobre a Alma”,
Aristóteles confere especial enfoque às sensações, sendo o primeiro estudioso a especificar e
caracterizar os cinco sentidos primários. Para o filósofo, os sentidos são atributos da alma, pois
é através dela que vivemos e percepcionamos (Aristóteles, trad. Lóio, 2019).

Na antiguidade, os pensadores já eram capazes de distinguir os órgãos sensoriais que


captam os estímulos do aparato “sensório”, sendo este o local onde se processam as
informações. Para Aristóteles, o coração seria a sede do processamento das informações.
Diversos estudiosos conjecturaram sobre como ocorreria o processo perceptivo, contudo, as
respostas mais consistentes começaram a surgir no decorrer dos séculos XIX e XX, pois esta
compreensão dependeria não apenas de informações acerca da atuação dos nevos e do cérebro,
mas também do conhecimento de fenômenos como a luz e o som, assim como da química
(Rooney, 2018).

Em todos os períodos da história pensadores se dedicaram ao estudo dos sentidos.


Demócrito (c.460-370 a. C) destacou-se por propor um meio inteiramente físico de percepção,
uma vez que os pensadores gregos incluíam um componente não corpóreo (a anima/alma) ao
processo perceptivo. Nos manuscritos de Leonardo da Vinci (1452-1519) encontram-se esboços
detalhados sobre a anatomia dos olhos, cérebro e nervo óptico. Descartes (1596-1650) foi dos
primeiros a tentar explicar a percepção através da física e dos mecanismos do corpo. Newton
(1642-1727), através da realização de experiências com o seu corpo, concluiu que a percepção
sensorial envolve outros componentes que transcendem à mecânica do corpo, contrapondo à
visão mecanicista de Descartes (Rooney, 2018). Hoje sabe-se que a memória sensorial se
constrói através de experiências que possuem significados culturais e afetivos, sendo que estas
40

dependem não apenas do funcionamento adequado do aparato sensorial, mas também da


experiência.

A visão acerca da percepção sensorial de Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo,


educador, artista e criador da Antroposofia, é de caráter holístico e parte do princípio de que os
sentidos seriam as janelas que possibilitariam a percepção do homem em relação ao próprio
corpo e ao mundo exterior. As ideias de Steiner convergem com o pensamento de Aristóteles,
pois consideram a percepção responsável por toda experiência de mundo e que, apesar de todos
os processos cognitivos estarem interconectados, a percepção seria a atividade cognitiva mais
básica da qual surgiriam todas as outras. Sua primeira conferência sobre os sentidos ocorreu em
1909 em Berlim sendo que, pela primeira vez no mundo, foi considerada a existência de outros
sentidos, além dos cinco primários. Segundo a sua classificação, o ser humano possui doze
sentidos, sendo eles subdivididos em três estratos: os sentidos inferiores (tato, vital, movimento
e equilíbrio, responsáveis pela percepção do próprio corpo), os médios (olfato, paladar, visão e
térmico, responsáveis pela percepção da natureza delimitando o “meu corpo” do mundo
externo) e os superiores (a audição, o sentido da palavra, o sentido do pensar e o sentido do eu,
responsáveis pelo reconhecimento do outros seres humanos) (Steiner, 1999).

Em meados do séc. XX, surge a corrente filosófica existencialista trazendo como


principal representante o filósofo Jean Paul Sartre. Para os existencialistas, o homem não possui
uma natureza essencial, mas uma consciência que se constrói através de suas experiências de
vida. Sartre caracteriza a liberdade como a autonomia que o ser humano tem para criar a si
mesmo (Kleinman, 2014). Merleau-Ponty, filósofo existencialista contemporâneo de Sartre, vê
o ser humano como promessa de um projeto a ser construído na experiência através de seu
corpo. A ampliação dos conceitos de corpo e percepção fundamentaram o pensamento deste
filósofo. De acordo com Merleau-Ponty, a experiência perceptiva é a experiência existencial,
pois só percebemos algo porque dispomos de mecanismos corporais que nos permitem fazê-lo.
Logo, o sujeito da percepção é o próprio corpo e não uma consciência separada dele. A
experiência perceptiva não se resume à uma reação do organismo aos estímulos do mundo
físico, mas reflete uma pluralidade de formas, através das quais, o indivíduo se relaciona com
o mundo, de modo que a sensibilidade e o significado estejam imbricados (Caminha, 2019).

Para Merleau-Ponty (1945), a percepção significa presença no mundo, fundamento


essencial de toda experiência e todo saber. A vida corporal e o pensamento estabelecem uma
relação de reciprocidade. No domínio corporal todas as experiências terão um significado para
41

a consciência, logo, o corpo deve ser compreendido como a própria expressão da existência. Há
uma distinção entre o “corpo vivido” e o “corpo objeto”: o “corpo objeto” representaria a
dimensão apenas biológica, foco de estudo das pesquisas científicas, enquanto o “corpo vivido”
seria aquele que sente, experimenta e atribui significado aos comportamentos. O corpo seria
comparável à uma obra de arte: não há como separar aquilo que se expressa (o próprio corpo)
de sua expressão (Caminha, 2019).

O ser humano existe através do seu corpo e ter um corpo disfuncional requer uma
atenção especial no sentido de potencializar as suas capacidades remanescentes. A perda da
acuidade sensorial em idade avançada representa uma série de limitações. É importante
considerar que, o corpo do idoso em seu aspecto sensível e perceptivo, não se trata de um “corpo
objeto”, mas sim de um “corpo vivido”, construído através das suas experiências, possuindo
uma identidade única, que permanece em constante transformação ao longo da vida. Assim,
podemos entender que, ao acessarmos o corpo nessa dimensão, lidaremos com o indivíduo
integralmente, nas suas dimensões objetiva e subjetiva, uma vez que todas as experiências de
vida ocorrem mediadas pela percepção sensorial.

Integração multissensorial e envelhecimento

O sistema sensorial humano é composto por: sistema visual, auditivo, somatossensorial,


gustativo, olfativo e vestibular, que fazem parte do sistema nervoso - encarregado pelo
processamento da informação sensorial. O sistema somatossensorial é responsável pela
percepção dos objetos que podem ser tocados e possui três subsistemas: o tato (sensações de
tato fino, pressão e temperatura), a propriocepção (capacidade de perceber o corpo no espaço e
a posição dos membros) e a dor (impressões dolorosas de temperatura e o tato mais grosseiro).
O sistema vestibular se encarrega de promover uma imagem visual estável na retina (enquanto
a cabeça se move) e fazer ajustes na postura, para manter o equilíbrio.

A informação sensorial interpretada no córtex cerebral é proveniente dos neurônios


sensoriais (células receptoras sensoriais) que percorrem caminhos neurais até atingirem as
partes do cérebro responsáveis pela decodificação das diferentes sensações captadas pelos
órgãos dos sentidos. Essas informações podem ser provenientes tanto do ambiente externo
como dos órgãos do próprio corpo. Os sentidos atuam como transdutores de impressões vindas
do mundo físico para a esfera mental. Cada sentido comporta um tipo de receptor específico
responsável pela captação de uma forma diferente de energia. Centenas de milhões de
receptores sensoriais presentes no organismo transformam a energia captada em atividade
42

elétrica, para que a mesma seja decodificada em diferentes áreas do cérebro responsáveis pelo
processamento das informações sensoriais. Para que os receptores possam reagir aos estímulos
é necessário que o mesmo corresponda à sua capacidade de transdução (Martins, 2015).

O ser humano possui pelo menos seis tipos de receptores sensoriais, sendo eles: os
quimiorreceptores (responsáveis pelo olfato e paladar), os mecanorreceptores (encarregados na
percepção das variações de movimento, força, sensações táteis e auditivas), os nociorreceptores
(encarregados de transmitir sensações de dor), os fotorreceptores (responsáveis pela captação
da luz através da visão), os proprioceptores (fornecem informações sobre a posição do corpo e
a força a ser aplicada) e os termorreceptores (responsáveis por fornecer informações sobre a
temperatura) (Martins, 2015).

A sensação é a resposta que o organismo fornece em relação à captação dos estímulos


pelos órgãos sensoriais, consistindo em um mecanismo estritamente fisiológico, ao passo que,
a percepção está relacionada à interpretação dessas informações, implicando na atribuição de
significados que serão dados de acordo com a experiência de cada indivíduo. A percepção
assimila, decodifica e processa os estímulos captados pelos sentidos através das sensações. É
no âmbito da percepção que serão construídas as redes neurais relacionadas às memórias
sensoriais. Uma experiência sensorial pode resgatar memórias antigas, sendo que a emoção
provocada pela sensação antecede a sua lembrança (Molleri et al., 2010).

Em geral, os estímulos acionam várias formas de percepção, ou seja, são captados por
diversas modalidades sensoriais. Por exemplo, se uma travessa quente de comida cai no chão,
ao mesmo tempo ocorrerão o estímulo visual (se o evento estiver no campo visual de quem o
percebeu), auditivo, tátil, olfativo, proprioceptivo etc. O sistema nervoso irá integrar e organizar
todas essas informações para que a pessoa possa responder de forma adaptativa. Neste caso, o
sujeito que a deixou cair poderia se afastar (resposta motora) no instante em que a travessa
estivesse caindo, para não se sujar, não se ferir ou não se queimar. Outra pessoa poderia
identificar o evento mesmo estando fisicamente distante, através do barulho causado pelo
impacto de travessa no chão e do cheiro da comida (Martins, 2015).

Atualmente a ciência compreende o processo perceptivo considerando que os sentidos


funcionam de forma cooperativa. Ao ser bombardeado simultaneamente por diversas
informações recebidas pelas vias sensoriais, o cérebro organiza e integra as sensações para
produzir as respostas motoras, comportamentais, emocionais e atencionais adequadas às
circunstâncias envolventes. O tratamento que o cérebro confere às sensações e como as organiza
43

é chamado de Integração Sensorial. Compreende-se como Integração Sensorial o processo


neural através do qual o cérebro recebe, registra e organiza o input proveniente de diversas
modalidades sensoriais para responder através de comportamentos adaptativos do corpo ao
meio circundante. A Teoria da Integração Sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional
Jean Ayres no início dos anos 70 permanecendo atual até a atualidade (Molleri, et al., 2010).

Diante de uma série de informações sensoriais, o SNC tende a priorizar a informação


mais adequada para a realização da tarefa. Essa capacidade de selecionar os dados sensoriais,
organizá-los e selecionar as respostas adaptativas é denominado organização sensorial.
Contudo, nos idosos, pode haver a perda da redundância sensorial, que seria a capacidade de
perceber os dados sensoriais por várias vias sensoriais simultaneamente. Assim, a percepção do
estímulo estaria restrita a apenas um dos sentidos e quando este está ausente não ocorre a
organização sensorial necessária para a busca de outras informações (Ricci, Gazola & Coimbra,
2009).

A resposta adaptativa seria uma ação apropriada através da qual o indivíduo responde,
com sucesso, à demanda ambiental. Na medida em que o indivíduo é estimulado aumenta-se o
número de respostas adaptativas relacionadas ao mesmo estímulo. As novas respostas
adaptativas são sempre melhores que as anteriores, facilitando a aprendizagem ou o
aperfeiçoamento de habilidades (Rocha & Dounis, 2013).

O processo de integração sensorial ocorre em cinco etapas: o registro sensorial


(reconhecimento da sensação); a orientação/atenção (atenção seletiva específica ao estímulo);
a interpretação (atribuição de um significado para a sensação); a organização da resposta
(organização cognitiva, motora e emocional) e a execução da resposta (único estágio que pode
ser diretamente observado). A atribuição do significado irá depender dos aprendizados
anteriores e da experiência individual do sujeito, sendo que a afetividade integra estes
significados (Molleri, et al., 2010).

Modulação sensorial é a habilidade de lidar e organizar reações às sensações de maneira


adaptativa que ocorre nos níveis fisiológico e comportamental. Respostas não adaptativas
podem ser hiporresponsivas, hiperresponsivas ou flutuantes (quando ambas se alternam), a
depender de como cada organismo modula a sensação. A hiporresponsividade demonstra que
o sujeito requer muita entrada (input) sensorial para atingir o limiar de excitabilidade que
provocará uma resposta comportamental. A hiperresponsividade se caracteriza pelo baixo
44

limiar de excitabilidade, fazendo com que o indivíduo reaja rapidamente, bruscamente e, na


maioria das vezes, negativamente aos estímulos sensoriais (Cavadas, 2018).

Falhas na integração sensorial podem resultar em: falta de força e tônus muscular
gerando má postura e fadiga; prejuízo na consciência espacial e na percepção de posição
ocasionando insegurança e dificuldade na coordenação dos movimentos; uso ineficaz da
informação visual para coordenar os movimentos do corpo causando prejuízos no desempenho
das ações; dificuldade para manter a atenção e a concentração; lentidão no desempenho de
tarefas motoras novas; rejeição a alimentos por causa de temperatura ou textura; tendência ao
isolamento, dificuldade na graduação da força para manipular objetos; alterações na fala e na
linguagem, e outros (Posar & Visconti, 2018). As alterações no equilíbrio corporal dos idosos
também são influenciadas por desajustes no funcionamento sensorial decorrentes do processo
de envelhecimento, predispondo os idosos à instabilidade e às quedas, pois o equilíbrio humano
se constrói a partir de informações sensoriais, neste caso, visuais, vestibulares e proprioceptivas
(Ricci, Gazola & Coimbra, 2009).

À medida que o organismo envelhece é comum apresentar alterações nas capacidades


sensoriais. Uma das razões pela qual a acuidade sensorial tende a diminuir é a redução do
número de neurônios que resulta na diminuição do tamanho e do peso do encéfalo afetando a
função dos neurônios remanescentes e o processamento feito pelo sistema nervoso central que
se torna mais lento. Todas as modalidades sensoriais sofrem perdas decorrentes do processo de
envelhecimento sendo que a visão, a audição e o equilíbrio são os sentidos mais fortemente
comprometidos (Lamas & Paúl, 2013).

De acordo com Lamas e Paúl (2013), a perda visual é das mais temidas complicações
do envelhecimento pelo impacto que exerce na qualidade de vida, colocando em risco a
independência do idoso e podendo propiciar quedas, erros na administração de medicamentos,
isolamento e depressão. A presbiacusia (perda auditiva decorrente do envelhecimento) atinge
de 30 a 35% das pessoas acima dos 65 anos e é considerada a principal causa de anos vividos
com incapacidade na vida adulta. A perda auditiva não tratada reflete em isolamento, uma vez
que implica em dificuldades para a compreensão da fala. O olfato e o paladar também sofrem
prejuízos com o envelhecimento. Metade das pessoas entre 65 a 90 anos possuem perda
significativa do olfato, sendo que o paladar também se altera com o envelhecimento
aumentando a sensibilidade para o gosto amargo. A redução do paladar pode estar envolvida
com o uso de medicamentos, doenças na cavidade oral, causas nutricionais, infecciosas e
endócrinas.
45

Hoje sabe-se que a redução do olfato está associada à doenças degenerativas sendo um
dos indicadores de quadros demenciais e que, além dos danos cognitivos, as demências
apresentam um aceleramento na perda do processamento sensorial (Alcântara, Mattos &
Novelli, 2019). A perda da acuidade do paladar e do olfato pode causar transtornos e colocar a
vida do idoso em risco, tais como, não perceber o cheiro e o gosto de algum alimento vencido
ou esquecer o gás ligado e não sentir o cheiro. Também pode contribuir levando-o a um quadro
de desnutrição (por perder o interesse pela comida) ou a uma alimentação muito doce ou muito
salgada, inadequada para quem tem diabetes ou hipertensão. O tato comporta vários tipos de
receptores, cada um deles responsável por um tipo de sensação da pele (pressão, calor, frio, dor,
etc.). A perda específica de determinados receptores faz com que o idoso consiga tolerar
estímulos mais extremos sem sentir dor. A redução da percepção tátil também compromete o
equilíbrio e a coordenação causando alterações na marcha e predispondo o idoso a quedas
(Ricci, Gazolla & Coimbra, 2009; Lamas & Paúl, 2013).

Muitos são os fatores que podem levar ao comprometimento do aparato sensorial, assim
como as consequências que poderão advir dessas mudanças, lembrando que, alterações
sensoriais interferem na percepção de mundo do indivíduo exercendo um forte impacto em
todas as suas atividades e, sobretudo, na sua qualidade de vida (Alcântara, Mattos & Novelli,
2019). Situações de internação que requerem a permanência no leito por longos períodos
empobrecem a dieta sensorial, assim como a institucionalização, necessitando o planejamento
de uma dieta sensorial adequada (Martins, 2015). O termo dieta sensorial refere-se a uma oferta
de estímulos sensoriais necessários para manter o cérebro ativo e garantir o bom funcionamento
do organismo. O empobrecimento da dieta sensorial também pode resultar em isolamento e
depressão (Martins, 2015).

Surgimento, características e contextos terapêuticos da abordagem Snoezelen/MSE


(Multi Sensory Environment)

O Snoezelen se fundamenta na ideia de que o mundo em que vivemos a todo momento


nos fornece diversos tipos de sensações produzidas pela luz, som, cheiros, gostos, tato etc. O
foco da abordagem Snoezelen será potencializar todas as entradas sensoriais em ambiente
controlado e de forma não diretiva, promover relaxamento e bem estar, aumentar o autocontrole
e a confiança em si mesmo, incentivar o desenvolvimento da criatividade e da exploração,
aumentar os níveis de atenção e concentração, a possibilidade de escolha, o estabelecimento de
46

uma boa comunicação com o terapeuta e a redução de comportamentos não adaptativos (Taco,
2016; Venâncio, 2016; Sánchez & Abreu, 2018; Nacimba, 2018).

O conceito Snoezelen surgiu na Holanda no final dos anos 60 e início dos anos 70 do
séc. XX. Criado por Jan Hulsegge, musicoterapeuta, e Ad Verheul, terapeuta ocupacional,
partiu da necessidade de proporcionar experiências sensoriais a pacientes que apresentassem
múltiplas deficiências com alto grau de severidade, incluindo os quadros psiquiátricos e de
deficiência intelectual grave, residentes no Instituto “De Hartemberg”. Estes terapeutas
observaram que o ambiente institucional era pobre em estímulos sensoriais, sendo necessário
criar situações para que essas pessoas recebessem uma dieta sensorial que evitasse os prejuízos
decorrentes da privação sensorial. No início, Hulsegge e Verheul desenvolveram materiais que
pudessem ser explorados por estes pacientes adaptando-os às suas condições e restrições, tais
como: mobiles, objetos musicais, objetos coloridos com diferentes texturas, tecidos coloridos,
massageadores etc., que seriam utilizados juntamente com diversos elementos da natureza na
estimulação dos sentidos. Estes objetos foram dispostos nos espaços de vida dos residentes
tendo um efeito tão benéfico que surpreendeu os profissionais que atuavam no local. (Martins,
2015).

A ideia de criar um espaço específico para a estimulação dos sentidos surgiu a partir de
uma tenda de atividades montada num centro para pessoas com comprometimentos múltiplos
na Holanda em 1978. Hulsegge e Verheul inspiraram-se nessa experiência para criar um espaço
temporário que foi montado numa feira de verão. Na medida em que os efeitos positivos da
estimulação sensorial foram se evidenciando, os espaços se ampliaram e, ao longo dos anos, o
Snoezelen foi recebendo locais próprios passando a ser realizado em salas estruturadas com
equipamentos apropriados para a estimulação dos sentidos. Embora o Snoezelen originalmente
tenha sido criado para atender às necessidades de pacientes com deficiências múltiplas, quadros
psiquiátricos e graves comprometimentos cognitivos, foi logo sendo adequado também para
outras populações, no contexto pedagógico, educacional, de lazer, relaxamento e outros
(Amaral, 2014).

O termo Snoezelen foi criado a partir do neologismo entre duas palavras holandesas:
“snoezel”, que significa cheirar ou sentir e “doezelen” que quer dizer repousar ou relaxar,
combinando então duas vertentes: uma ativa, que é a própria estimulação sensorial e outra
passiva, o relaxamento. É importante ressaltar que, de acordo com os seus idealizadores, a
intervenção Snoezelen não se restringe a um espaço particular, podendo ser realizada também
em ambientes externos e ao ar livre, desde que proporcione ao sujeito uma estimulação sensorial
47

que provoque sensações agradáveis, em ambiente seguro, controlado e de forma não diretiva,
ou seja, permitindo ao paciente escolher o estímulo com o qual gostará de interagir (Amaral,
2014; Martins, 2015; Sánchez & Abreu, 2018).

O ambiente multissensorial é uma sala planejada para proporcionar experiências


sensoriais de forma controlada promovendo a interação, o relaxamento, a escolha e o
relacionamento. O terapeuta terá o papel de adequar os estímulos às condições e necessidades
do paciente, ora intensificando-os, ora reduzindo-os, assumindo assim o controle da entrada
(input) sensorial. Caberá a ele também promover a escolha e mediar a interação do paciente
com os elementos sensoriais. O espaço deverá permitir a possibilidade de ajustes em relação à
iluminação e temperatura, assim como dispor de diversos elementos para a estimulação dos
sentidos, tais como: luzes, cheiros, sabores, texturas, cores etc. Estes locais são conhecidos
como MSE e o trabalho realizado, neste caso, será de acordo com a abordagem Snoezelen, que
prima pela interação, relaxamento e estimulação. Os elementos que compõem estes espaços
podem variar de acordo com as necessidades de uso, sendo que o terapeuta poderá criar
instrumentos para serem utilizados de forma personalizada, de acordo com as necessidades de
cada paciente. A utilização desses ambientes tem demonstrado ganhos relativos ao aumento de
atenção, concentração, memória, mobilização da criatividade, melhora da coordenação e do
desenvolvimento motor, relaxamento, elevação da autoestima, bem-estar, interação social e
outros (Sella,2017).

O espaço Snoezelen comporta uma gama abrangente de elementos, de forma que a


seleção dos mesmos será feita de acordo com o sistema sensorial a ser estimulado, em função
do perfil dos sujeitos que serão atendidos e em conformidade com o local em que a sessão será
realizada. Exemplos de elementos táteis: fibras óticas, tubo de bolhas, objetos de diferentes
texturas e temperaturas, destacando o colchão de água com temperatura adequada. O colchão
de água é muito utilizado na abordagem Snoezelen por proporcionar estimulação tátil e
vibratória. A vibração ocorre através da instalação se um sistema de som com subwoofer
debaixo do colchão fazendo com que as sensações vibratórias provenientes da música se
propaguem na água. A estimulação vestibular gera a diminuição do tônus muscular induzindo
ao relaxamento e o elemento mais utilizado será também a cama de água. Os elementos
vibratórios são muito importantes para a estimulação do sentido auditivo. Dentre eles pode-se
incluir o colchão vibratório e a instalação de um sistema de som home theater. Os elementos
visuais adquirem no Espaço Snoezelen a função de criar uma atmosfera agradável e tranquila
podendo-se utilizar a bola de espelhos giratória, o bubble tubes (tubo de bolhas iluminado por
48

luzes coloridas que obedece ao controle de mudança de cor), fibras óticas e projetores de
imagens. Os elementos auditivos são fundamentais para que o espaço transmita paz e
tranquilidade. A voz do terapeuta deve ser suave e a música que for utilizada durante a sessão
deve permanecer em volume baixo. A ambientação olfativa também deve ser suave e agradável.
Pode-se também trabalhar o olfato em conjunto com o paladar através dos alimentos que serão
degustados (Rodríguez & Ilauradó, 2010).

A abordagem Snoezelen foi reconhecida e adotada em vários países da Europa,


especialmente no Reino Unido, nos anos 80 e 90. Em Portugal, nos finais da década de 90,
surgiu como terapia voltada para o tratamento da demência, sendo realizada nos contextos
psicogeriátricos. Quando empregada nos centros residenciais e instituições, deve se expandir
para além do atendimento terapêutico realizado nas salas de estimulação atingindo as atividades
de vida diária, com a finalidade de ampliar e modelar os estímulos recebidos ao longo do dia.
Ações neste sentido têm em vista, por exemplo, explorar os cheiros relacionados aos cuidados
de higiene (sabonete, shampoo, etc.), assim como o dos alimentos durante as refeições, a
utilização de música enquanto realizam algumas atividades, sempre buscando aproveitar ao
máximo as situações do cotidiano que possam ativar os sentidos e promover sensações
prazerosas (Martins, 2015).

No Brasil a abordagem Snoezelen é representada e difundida pelo Centro


Snoezelen/MSE Brasil, em parceria com a AMCIP (Associação Mantenedora do Centro
Integrado de Prevenção), entidade filantrópica que fica na cidade de Curitiba-PR. O primeiro
contato da AMCIP com uma sala Snoezelen se deu em 2003 nos Estados Unidos em
Orlando/Flórida, originando a implantação do Projeto Piloto no Brasil. Em 2006 mais de 30
crianças com as mais diversas patologias já seriam atendidas no espaço da AMCIP. Em 2008
iniciou-se a multiplicação do método através de cursos de capacitação. Cada estado brasileiro
que capacita a sua equipe torna-se disseminador em sua área geográfica, sendo que a
capacitação da equipe multiplicadora deverá ser realizada no Centro Snoezelen/MSE Brasil, em
Curitiba. Atualmente o Brasil conta com sete estados multiplicadores, 150 terapeutas
capacitados e 40 salas adaptadas para a aplicação da metodologia Snoezelen (Sella, 2017).

O trabalho que a AMCIP desenvolve é voltado para bebês e crianças que ficaram
hospitalizadas por longos períodos e sofreram intercorrências invasivas resultando em stress e
rejeição ao contato físico, especialmente com médicos e terapeutas. Em contexto de internação,
os bebês são privados de receberem os estímulos necessários para o seu desenvolvimento, de
forma que o Snoezelen atuará promovendo estes estímulos em situações que envolvam a
49

interação com o terapeuta (SELLA, 2017). Ainda não há registros de estudos e pesquisas que
envolvam idosos e estimulação multissensorial na metodologia Snoezelen no Brasil, assim
como de ILPIS (Instituições de Longa Permanência) que possuam um espaço Snoezelen para
atendimento no contexto gerontológico.

As áreas de intervenção da terapia Snoezelen, segundo Amaral (2014) seriam: quadros


de demência, autismo, deficiência mental, lesões corporais, equilíbrio corporal e também outros
tipos de intervenção realizadas no período de gravidez e amamentação. Os efeitos das
intervenções englobam a diminuição da agressividade e de comportamentos mal adaptados,
melhoria do humor, redução dos sintomas depressivos, melhoria do estado cognitivo, aumento
da disposição para interagir com as outras pessoas, o despertar de sentimentos de conforto,
segurança, relaxamento e outros. A autora ressalta que, especificamente em relação às
demências, os efeitos da terapia Snoezelen ocorrem imediatamente após as sessões de
estimulação, uma vez que os pacientes demonstram níveis de atenção mais elevados, melhor
humor, manifestam reações de prazer e até melhor funcionamento da memória.

Martins (2015) destaca como campos de utilização do Snoezelen: dificuldade de


aprendizagem em adultos, demências, crianças com necessidades especiais, maternidade e
pediatria, dores crônicas, quadros psiquiátricos em adultos, lesões cerebrais etc. Em relação aos
benefícios obtidos através da terapia nos casos de dificuldade de aprendizagem destaca: o
aumento da concentração, a melhor consciência de si, maior interação social, aumento de
comportamentos adaptados, redução de comportamentos estereotipados e melhoria na
autoestima. Quanto à realização da abordagem Snoezelen em residências geriátricas, observa o
aumento do bem-estar e relaxamento, a melhoria do humor, redução do medo e da tristeza,
melhora na atenção e na comunicação, redução da angústia e da agressividade e aumento da
autoestima.

Venâncio (2016), observa que na última década as intervenções Snoezelen se


estenderam para um novo público-alvo: os idosos com demência, sendo que as perdas sensoriais
se agravam com maior severidade ao progredir o quadro demencial. Esta autora ressalta que a
reabilitação da memória em pacientes que se encontram na fase inicial da Doença de Alzheimer
pode ser realizada através do Snoezelen e que os benefícios não se limitam a pacientes que se
encontram nos estágios iniciais. Mesmo não sendo diretamente direcionado à estimulação
cognitiva, o Snoezelen melhorará a atenção, o relaxamento, o humor havendo redução de
comportamentos inadequados, refletindo na melhoria da cognição.
50

Taco (2016), ao investigar os benefícios do Snoezelen em idosos com comprometimento


cognitivo leve relata a melhora e a manutenção das funções cognitivas, respostas favoráveis
nos níveis de relaxamento, melhora nas relações afetivas e maior independência em relação às
atividades de vida diária. Navarro (2017), obteve sucesso ao utilizar a abordagem Snoezelen
para estimular o paladar e o olfato em pacientes com Doença de Alzheimer.

Nacimba (2018), conclui que o Snoezelen pode reduzir os níveis de ansiedade através
do relaxamento e da estimulação em pacientes com demência referindo que, de acordo com a
escala de Beck, houve uma redução dos níveis de ansiedade, de moderado para leve, nos
períodos anterior e posterior à intervenção. Sánchez e Abreu (2018), relatam que a intervenção
em estimulação multissensorial de acordo com a abordagem Snoezelen resultou em melhoria
na qualidade de vida dos pacientes idosos, especialmente em estágios mais avançados de
demência, nos quais outras intervenções terapêuticas não foram possíveis de serem realizadas
e ressaltam que, mesmo nos estágios mais severos é crucial manter-se a estimulação,
observando que o Snoezelen em geral, proporciona tranquilidade e prazer aos idosos. Contudo,
estes autores também recomendam prudência ao realizar-se em pacientes com epilepsia e
histórias de quadros convulsivos, assim como em pessoas com esquizofrenia que apresentem
episódios delirantes e alucinações.

Através destes estudos constatou-se que a aplicabilidade do conceito Snoezelen pode


ser muito bem-sucedida nos contextos gerontológicos. Além dos benefícios observados no
tratamento de demências, também se observou resultados positivos no tratamento de distúrbios
psiquiátricos, nos acidentes vasculares crânio-encefálicos, no tratamento de dores crônicas, nos
cuidados paliativos, na redução de quadros depressivos e processos disruptivos. (Rodriguez &
Llauradó, 2010; Martins, 2015).

Considerações Finais

Desde a Antiguidade os estudiosos reconhecem a importância do aparato sensorial como


meio que possibilita ao ser humano a apreensão do mundo que o cerca e a si mesmo. Não há
experiência humana que não seja intermediada pelos sentidos corporais. São eles que garantem
a sobrevivência, proporcionam prazer e permitem a fruição de todas as formas de beleza que o
mundo pode proporcionar.

A adaptação das pessoas, desde o nascimento até a morte, se deve ao adequado


funcionamento sensorial e as desordens nessa dimensão trazem transtornos que atingem o
indivíduo na sua integralidade, uma vez que a percepção sensorial envolve o organismo como
51

um todo, nas esferas biológica, emocional e cultural. Um transtorno de ordem sensorial pode
atingir muito mais que a realização de atividades práticas, afetando camadas mais profundas do
indivíduo, relacionadas à identidade, ao reconhecimento de si, do outro e do ambiente.

Com o aumento da longevidade, a sociedade tem estado mais atenta à uma série de
questões de diversas naturezas que envolvem o envelhecer. Todos os indivíduos perdem em
acuidade sensorial na medida em que envelhecem e o declínio da funcionalidade do organismo
se deve, em grande parte, a essas perdas. A demência vem se tornando um assunto de interesse
de toda a sociedade, pois o seu maior fator de risco é a idade avançada, sendo uma das razões
que mais comprometem o vivenciar de uma velhice satisfatória. Sabe-se hoje, que o declínio
sensorial é mais acelerado quando há processos neurodegenerativos e que os déficits sensoriais
podem ser indicadores de quadros demenciais.

Não encontramos publicações brasileiras sobre a abordagem Snoezelen direcionada para


idosos. Neste âmbito, em outros países, o Snoezelen tem se desenvolvido especialmente como
terapia não farmacológica para o tratamento de demências, por se adequar em qualquer estágio
de severidade - inclusive quando o paciente não responde a outros tipos de estimulação - por
ser prazeroso e ter efeito calmante. Os tratamentos que envolvem estimulação multissensorial
no Brasil são, em geral, voltados para crianças autistas ou indivíduos com deficiências
múltiplas, contudo, em relação aos idosos, ainda há pouco investimento. As perdas sensoriais
exercem um forte impacto na dinâmica de vida desta população e deflagram as perdas
funcionais do organismo. Assim, é importante potencializar as entradas sensoriais
remanescentes para que estas compensem, na medida do possível, os déficits presentes.

As alterações sensoriais fazem parte do processo de envelhecimento e fatalmente


ocorrerão em algum grau em todas as pessoas que envelhecerem, trazendo transtornos de
diversas naturezas. Elas merecem atenção especial em todas as fases da vida, inclusive na
velhice, pois na medida em que for positiva a adaptação do indivíduo a essas mudanças, tanto
melhor será a sua qualidade de vida.

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______________________________________________________________________

Marcia Degani – Fonoaudióloga, musicista, mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP,


doutoranda em Gerontologia na Universidade Católica de Brasília. E-mail:
marciadegani@yahoo.com.br

Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione – Psicóloga, Doutora em Cognição e


Neurociências pela UnB, Pesquisadora na área de Envelhecimento e Professora do
departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento pela UnB. E-mail:
ichariglione@gmail.com
55

3. CAPÍTULO 3 – A ARTE COMO ESTRATÉGIA DE ESTIMULAÇÃO PARA O


IDOSO

Capítulo publicado no livro velho-Ser: um olhar interdisciplinar sobre o envelhecimento


humano em fevereiro de 2021. Status: Publicado.
O LIVRO ESTÁ DISPONÍVEL NO ENDEREÇO: https://www.fundarfenix.com.br/ebook/95velhoser

Marcia Degani, Doutoranda em Gerontologia, Universidade Católica de Brasília.

Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione, Doutora em Cognição e Neurociências,

Universidade de Brasília.

RESUMO

As artes e a percepção sensorial sempre caminharam juntas. A estética, um dos princípios das

artes, traz na própria raiz o sensorial, uma vez que o termo “estética” deriva do vocábulo grego

estesis, que corresponde, na língua portuguesa a “estesia”, tendo como significado

sensibilidade: sensível, aquilo que é sentido, logo, o sensorial. As neurociências reconhecem

nas artes elementos que promovem intensa estimulação nos circuitos neurais. A estimulação

multissensorial é indicada aos idosos especialmente devido à não reposição de células sensoriais

que se perde com o passar do tempo, cuja função seria a captação dos estímulos sensoriais e

que não são repostas pelo organismo resultando na progressiva queda de limiares perceptivos

que traz forte impacto na qualidade de vida do idoso comprometendo o seu desempenho

funcional. O prejuízo em qualquer modalidade sensorial afeta toda a dinâmica da percepção

sensorial, sendo que os sentidos agem em conjunto de forma complementar. Diante da

necessidade de uma intervenção que aborde a questão sensorial, no sentido de desenvolver

mecanismos adaptativos, surge a possibilidade de estimular os sentidos por meio das artes,
56

sendo este um caminho que oferece uma riqueza de possibilidades, podendo conferir benefícios

de diversas naturezas ao idoso.

Palavras-chave: arte, estimulação sensorial, idoso, técnicas de expressão artística.

INTRODUÇÃO

Este capítulo integra o referencial teórico da tese “Artes Sensoriais: estimulando os

sentidos do idoso por meio da apreciação e do fazer artístico” redigida por Marcia Degani para

a obtenção do título de Doutora em Gerontologia, sob a orientação da Professora Doutora

Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione. O estudo propõe a análise da utilização de

estratégias que envolvam a linguagem das artes na estimulação multissensorial dos idosos e

busca investigar os efeitos desse nível de estimulação. A revisão bibliográfica realizada para

esse capítulo em específico, teve como objetivo buscar na literatura as possíveis familiaridades

existentes entre arte e percepção sensorial. O texto apresentará, inicialmente, reflexões sobre o

significado da estimulação no contexto do idoso e sobre os caráteres utilitário e contemplativo

assumidos pela percepção sensorial. Em seguida, abordará o surgimento do conceito de estética,

a natureza da obra de arte, explorará modos de interação entre fruidor e obra de arte, o

processamento sensorial e perceptivo no universo das artes e abordará os níveis de estimulação,

no âmbito cognitivo, que se pode atingir por meio de experiências que envolvam criatividade,

performance e apreciação artística.

DESENVOLVIMENTO

Estimulação na velhice: atividade e motivação


57

O estudo do envelhecimento e da velhice, enquanto fenômeno biopsicossocial, ainda é

algo relativamente recente, pois é na atualidade que a humanidade está aprendendo a lidar com

o aumento da longevidade: não se tem notícias de que, em algum outro período histórico, a

humanidade tenha atingido idades tão avançadas (TEIXEIRA, 2020). Além de recente, é algo

dinâmico e em constante transformação, pois, a cada geração, as pessoas vivem e envelhecem

de formas distintas. Além disso, há uma dimensão pessoal, pois cada um envelhece à sua

maneira e esse processo levará em conta fatores tais como a genética, o modo de vida, os

hábitos, a resiliência, a autoaceitação e tantos outros. Dessa forma, pode-se caracterizar o

envelhecimento um tema de ordem complexa que envolve os aspectos objetivos e subjetivos da

vida humana (FORNER; ALVES, 2020).

No latim, complexus significa “o que encerra muitos elementos” (CUNHA, 2010).

Portanto, entende-se que a gerontologia possui esse caráter, permitindo abordar o indivíduo na

sua inteireza e integrar aspectos que, em outras disciplinas, seriam tratados como pertinentes a

diferentes domínios. Para Petraglia (2013), complexidade significa “o que é tecido junto”. Este

autor observa na atualidade a tendência ao restabelecimento do diálogo entre as culturas

científica e humanista que, nas suas origens, se relacionavam sem qualquer impedimento. A

gerontologia encerra este caráter de interdisciplinaridade.

Sabe-se que as perdas funcionais fazem parte da velhice e que o envelhecimento do

organismo pode acarretar uma série de transtornos. Desde que se evidenciou o envelhecimento

global da população, com o aumento da longevidade, e que as pessoas têm tido a oportunidade

de conviver com gerações anteriores, vivenciando a própria velhice junto com a velhice dos

seus ascendentes, surgiu um medo generalizado de atingir idades avançadas sem saúde e sem

qualidade de vida. Assim, as pessoas têm buscado conhecer melhor o processo de

envelhecimento, cultivar hábitos salutares e manterem-se ativos, tanto fisicamente como

cognitivamente (FORMIGA et al., 2017).


58

Sobre estimulação, pode-se pensa-la de duas formas: uma delas está relacionada ao

exercitar, a disponibilizar os estímulos necessários para que, pela prática, o sujeito mantenha

ou desenvolva habilidades físicas e mentais. O outro relaciona-se à motivação e ao entusiasmo,

pois, estar estimulado significa ter vontade de realizar. No primeiro sentido, de alguma forma,

a família, a sociedade e o governo têm a missão de proporcionar meios para que os idosos se

mantenham em atividade, exercitando seus corpos e suas mentes.

Diante dos atuais desafios previdenciários, há uma preocupação política em preservar,

pelo máximo período possível, o idoso saudável e produtivo. A Organização Mundial da Saúde

(OMS) inclui o conceito de Envelhecimento Ativo nas suas plataformas, definindo-o como

processo de otimizar as oportunidades de saúde, participação na sociedade e segurança, tendo

como finalidade a melhora na qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem (BRASIL,

2018). Entretanto, para que o idoso se mantenha em atividade (ou sendo estimulado), será

necessário que, antes, ele tenha vontade e disposição, que ele queira, ou seja, se sinta estimulado

a realizar as coisas. Assim foi durante toda a sua vida, sendo que a própria rotina se encarregava

de manter sua funcionalidade.

Se não houver um propósito ou uma perspectiva de realização que parta ou dependa

desse corpo, de onde virá o estímulo, no sentido de motivação, para que esse idoso se mantenha

em atividade? Manter o organismo funcionando da melhor forma para, na medida do possível,

evitar doenças e não piorar os desconfortos, é um temor, uma neurose, não um jeito de se manter

a funcionalidade de forma natural e orgânica. Ter o corpo funcional é tê-lo pronto para realizar

as atividades que cada vida requer. Um deficiente visual pode ter o corpo infinitamente mais

funcional que milhares de outras pessoas a depender da função que foi atribuída a ele realizar,

a exemplo do cantor lírico Andrea Bocceli. Não seria necessário haver motivações de

realização, que fossem além do medo da doença, do desconforto e da inatividade, para que os

idosos invistam na própria manutenção física e cognitivamente?


59

Uma visão ampliada dos processos perceptivos

Em “A educação dos sentidos”, o escritor Rubem Alves (2018) reflete que todo ser

humano carrega consigo, em cada mão, duas “caixas”: na mão direita, a caixa de “ferramentas”,

e na esquerda, a caixa de “brinquedos”. A caixa de ferramentas simboliza todas as realizações

humanas de caráter utilitário, relacionando-se ao trabalho e aos aspectos ligados à manutenção

da sobrevivência. Nessa esfera, os sentidos cumpririam a função de manter a vida, de interagir

no mundo com essa finalidade. A segunda caixa, a caixa de brinquedos, é a caixa das coisas

“inúteis”. Nela, guardam-se os prazeres, as alegrias, as lembranças felizes, a arte. Nas línguas

inglesa e germânica, produzir arte e brincar se traduzem no mesmo verbo: to play e spielen,

demonstrando a dimensão lúdica que existe ao tocar um instrumento, interpretar um texto

teatral, pintar, dançar, etc.

Relata, ainda, o autor que apresentou esse tema a um grupo de idosos iniciando sua fala

com a afirmativa de que aquelas pessoas finalmente teriam chegado “à idade em que se

tornaram completamente inúteis” (ALVES, 2018, p. 18). Após a reação negativa da plateia que

interpretou como ofensa tal afirmação, o autor questionou-os: “então vocês se identificam mais

com uma vassoura do que com uma canção do Tom Jobim?” (ALVES, 2018, p. 18). Ao

estabelecer um paralelo transpondo para elementos sensoriais do mesmo domínio, a pergunta

poderia ser feita: “vocês se identificam mais com uma sirene de ambulância, alarme de carro

ou apito de chaleira do que com uma canção do Tom Jobim?” Dessa forma, através da

proposição de Rubem Alves, percebe-se que, também no sentido sensorial existirão duas

dimensões de percepção com funções totalmente distintas: uma utilitária e outra contemplativa.

Entre os 40 e 50 anos de idade, a maioria das pessoas começa a sentir o declínio da

funcionalidade do organismo, que se manifesta na redução da acuidade sensorial (inicialmente,

com maior frequência, na visão e audição), nas mudanças hormonais e endócrinas que afetam

o metabolismo e do declínio das funções cognitivas (CURTA; WEISSHEIMER, 2020; GIRO;


60

PAÚL, 2013). Na velhice, é raro encontrar alguém que não apresente redução nos limiares

sensoriais e que não vivencie alguma espécie de desconforto em decorrência disso. Intervenções

em estimulação multissensorial facilitam ao idoso se adaptar a esse novo modo de percepcionar

buscando desenvolver mecanismos de compensação.

São muitas as situações vivenciadas pelos idosos como institucionalização, internações,

depressão e outras, que podem contribuir para que ele tenha uma rotina de vida carente em

estímulos sensoriais. Estimular os sentidos é fundamental para a saúde integral do idoso para a

manutenção da saúde geral do organismo, das funções cognitivas, para a saúde mental e

equilíbrio emocional. Nesse aspecto, a estimulação sensorial cumprirá a função que Rubem

Alves chamaria de “utilitária”, tendo em vista a preservação da saúde e a funcionalidade do

organismo. Entretanto, os sentidos são fundamentais tanto para acionar os reflexos de proteção

diante da iminência de um acidente automobilístico, quanto para divagar em sensações ao ouvir

uma bela canção. Tanto para saber o valor do boleto atrasado, quanto para interromper a leitura

e suspirar diante de determinada literatura. Na infância, período no qual não deveria existir

muita distinção entre o que é e o que não é brincadeira (to play, spielen), é interessante observar

que o ser humano desenvolve da mesma forma as mesmas habilidades que lhe garantem a

sobrevivência e as que levam ao exercício da criação e abstração. A arte, em toda a sua riqueza,

deveria permanecer na vida adulta como uma maravilhosa “caixa de brinquedos”, promovendo

prazeres, exercitando a abstração, proporcionando um contato mais íntimo consigo mesmo,

com os próprios e com outros sentimentos, sensações e emoções.

A natureza da arte segundo a neurociência

Na década de 1950, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, dentre eles

físicos, matemáticos, biólogos, antropólogos, filósofos e outros, se reuniram em torno de


61

estudos que investigavam o pensamento e o espírito humanos como processos naturais e

identificáveis. Essas pesquisas contrariavam o pensamento cartesiano tradicional que distinguia

os atributos do corpo das qualidades espirituais, de forma que o pensamento, o sentimento, as

percepções e a emoção estariam separados do corpo e da matéria. O objetivo dessas

investigações seria explicar, descrever, simular e ampliar as capacidades cognitivas humanas

de linguagem, raciocínio, percepção, emoção, consciência, cultura, coordenação motora,

planejamento e decisão. Assim, surgiram as ciências e tecnologias da cognição, tendo caráter

de natureza técnica. Com o aperfeiçoamento tecnológico, especialmente na medida em que os

computadores passaram a captar e integrar as informações do ambiente externo, os artistas

incluíram essas ferramentas ao próprio processo de criação (COUCHOT, 2012).

Essas investidas no campo da tecnologia permitiram aos artistas realizarem diversas

experiências, tanto no âmbito da criação como no ramo da sinestesia. Sinestesia significa

percepcionar sensorialmente uma informação por mais de uma via sensorial, integrando aquilo

que obteve de informação, na medida em que uma modalidade sensorial complementa o que

foi captado por outra. Sendo a definição de sinestesia proveniente da medicina para denominar

um fenômeno de ordem neurológica, se caracterizará pela ocorrência de experiências sensoriais

em domínios que não foram estimulados, mas desencadeados por outros domínios, por

exemplo, a associação de estímulos sonoros a gustativos, visuais e táteis: “aquele instrumento

tem um som ardido” ou “a voz negra tende a ter um timbre mais escuro e aveludado”. Ao

explorar os efeitos sinestésicos, a arte contemporânea busca construir propostas que integrem

modalidades perceptivas distintas através da utilização de novas tecnologias, possibilitando a

criação de correspondências perceptivas para proporcionar experiências sensoriais mais

intensas (BERGANTINI, 2019).

Atualmente, as ciências cognitivas buscam relacionar a arte e a biologia na investigação

dos processos neurobiológicos subjacentes ao prazer de quem cria, frui, executa, interpreta e
62

analisa a obra de arte. As pesquisas provenientes das neurociências retiram a arte de um patamar

transcendente para compreender como ela se processa no corpo das pessoas. Através da

ressonância magnética, hoje é possível identificar estados psíquicos utilizando dados de

imageamento cerebral e, a partir da análise dessas informações, atingir a compreensão de

diversos processos referentes ao funcionamento do comportamento humano relacionados às

artes e às emoções que elas provocam (GONÇALVES, 2018; RIBEIRO, 2013).

Historiadores e antropólogos identificaram que, desde os tempos mais remotos, os seres

humanos vivenciam experiências estéticas. Estética, do grego aisthêtikos, significa “aquele que

tem a capacidade de sentir”. Esse vocábulo seria derivado de aisthêsis: “capacidade de perceber

através dos sentidos, sensibilidade”. Proveniente das neurociências, em meados dos anos 2000,

surgiu a neuroestética, que vem agregando conhecimentos relacionados à construção de

conceitos de beleza enriquecendo e renovando as teorias da arte. A neuroestética tem por

objetivo revelar as leis neuronais subjacentes ao sentimento de beleza que intervém na

percepção e compreensão dos processos que envolvem fruição e criação artística, partindo de

análises em torno dos artefatos do período pré-histórico, tais como: pinturas rupestres,

esculturas, ícones e adornos (COUCHOT, 2018).

De acordo com Couchot (2018), nas suas origens, o sentimento estético foi identificado

no homem primitivo através de objetos que eram recolhidos sem que houvesse qualquer

evidência de possuírem função instrumental (não teriam nem função utilitária, nem memorial).

Seu foco seria a contemplação, a excitação da atenção perceptual, para que fossem interrogados

pelos sentidos: tocados, apalpados, recolhidos, guardados e expostos. Esse sentimento é

impulsionado pela atenção estética proveniente da atenção cognitiva. Absorver as impressões

do mundo por meio da atenção cognitiva resultou na inserção do ser humano no ambiente,

permitindo o diálogo com seu meio. É através dela que o homem passou a formular hipóteses,

antever situações, prever e se inscrever na temporalidade.


63

O sentimento estético surge de uma atenção diferenciada que provoca emoções, prazeres

e ressonâncias cognitivas como ideias, conceitos e juízos de valor de uma forma não

hierárquica. Ele gera condutas que se caracterizam por se retroalimentarem, ou seja, o prazer

que se obtém através do fazer artístico é o que impulsiona o ser humano a permanecer

realizando a arte, de modo que, para algo ser vivenciado como conduta estética, deverá ter como

finalidade seu próprio caráter gratificante. A atenção estética pode se fixar em qualquer objeto,

contudo quem a suscita é o fruidor, tal como afirmou David Hume, no século XVII: “a beleza

está na mente de quem a contempla” ou popularmente, “a beleza está nos olhos de quem vê”

(SUASSUNA, 2018).

A cultura e a história individual do observador sempre interferirão na construção dos

conceitos de beleza. Por essa razão, Couchot (2018), propõe que o termo “belo” seja substituído

por “indutor estético”, designando tudo aquilo que for capaz de capturar a atenção e levar ao

prazer contemplativo. Indutores estéticos podem ser intencionais (condutas operatórias, tais

como uma pintura, dançar e cantar) ou não intencionais (condutas simbólicas que se expressam

no belo da natureza: uma paisagem, conchas, cristais, fósseis, o canto dos pássaros, o barulho

da água, etc.).

Para as ciências cognitivas, a percepção consiste na exploração da vida em suas

múltiplas representações, por meio de uma abertura cognitiva para o mundo. A percepção

ocorre na medida em que o homem necessita identificar elementos conhecidos e desconhecidos

para garantir a sua sobrevivência, gerando ações ou respostas adaptativas, sendo que, na arte, a

consequência natural da percepção, será o prazer provocado pelo sentimento estético

(DÖRING, 2017; STERNBERG, 2000).

O sentimento estético surge, então, como resultado de uma emoção associada a um

prazer contemplativo acionado por determinado indutor estético. A emoção, segundo as

ciências cognitivas, é uma manifestação somática que se faz presente para que o animal reaja
64

ao perigo através de condutas de luta ou fuga, visando a sua proteção e sobrevivência. Nos seres

humanos, as emoções envolvem processos cognitivos mais elaborados associando-se aos

valores, ideias e julgamentos, sendo parte integrante da razão e da tomada de consciência,

podendo surgir, inclusive, de condutas racionais. As principais características da emoção, de

acordo com as neurociências são: a participação nos processos racionais (não sendo algo que

se opõe à razão) e sua natureza ao mesmo tempo somática e psíquica. Elas fundamentam as

relações com o outro e são adaptativas. Logo, deve-se considerar que toda conduta contém um

caráter cognitivo e uma natureza afetiva (MOURTHÉ JUNIOR; LIMA; PADILHA, 2018).

Da percepção ao sentimento estético: a contribuição das neurociências

A percepção é um processo cognitivo dinâmico aberto para o mundo, que funciona a

partir de um modo de exploração, dando-se através dos sentidos. Perceber formas, a fim de

interpretá-las, para o cérebro, é o mesmo que formular hipóteses. Como resultado, o indivíduo

responderá por meio de ações. Na arte, ao invés da percepção estabelecer uma relação dialética

com as ações, esta relação será impulsionada pelo prazer, transformando-se assim em

sentimento estético (COUCHOT, 2018).

Para que uma percepção se transforme em sentimento estético, deverá atravessar três

níveis, sendo que o primeiro nível se subdivide em três etapas. No primeiro nível, ocorrerá a

apreensão global e intuitiva do conteúdo percebido, e a primeira etapa corresponderia ao

momento de busca ou atenção exploratória. Nessa etapa, ocorre a estimulação dos sistemas

perceptivo-motores que, no caso da estimulação visual será o deslocamento dos olhos, que fará

uma espécie de varredura no ambiente, o ajustamento da posição do corpo em relação a eles, a

ligação com o cérebro límbico, que reagirá pela atração, repulsão ou indiferença, e a ativação

do hemisfério direito na análise das informações.


65

Em seguida, ocorrerá a etapa da seleção, na qual serão retidos os elementos

significativos. O sistema reticulado colocará as estruturas cerebrais em estado de vigília e o

lobo parietal posterior ativará a atenção visual, realizando uma triagem de informações e

eliminando as que prejudicam a apreensão dos elementos selecionados. Ainda no primeiro

nível, ocorrerá uma terceira etapa, que tratará de avaliar as impressões captadas pelos sentidos

em comparação com as ações em curso. Essa etapa corresponderia à fase da antecipação. Diante

de uma obra de arte, o indivíduo acessa seu repertório de memórias, facilitando a exploração e

levando-o à seleção de informações que o ajudará a formular hipóteses perceptivas. Os dois

hemisférios serão recrutados. No caso de uma percepção musical, o direito se encarregará de

identificar o timbre dos instrumentos realizando um tipo de audição mais subjetiva, enquanto o

esquerdo realizará uma audição bem mais especializada, na qual irá discriminar elementos

como linguagem, ritmo e harmonia. Cabe ressaltar que, nesse nível de percepção, a experiência,

a educação e a cultura irão interferir no sentido de modificar significativamente a qualidade do

que foi percepcionado (CAMARGO, 2019).

Ao atingir o segundo nível, ocorrerá a análise das estruturas selecionadas. Haverá a

ativação das vias aferentes e áreas subcorticais ligadas aos órgãos sensoriais, que receberão e

tratarão as informações provenientes do primeiro nível. Essas operações são acompanhadas por

emoções e reações do sistema neurovegetativo, tais como a redução da concentração sanguínea

e de cortisol durante a audição de músicas que expressem tranquilidade, a produção de

dopamina quando a emoção provocada pela música produz prazer e a ativação do cerebelo nas

variações de tempo e ritmo.

Quanto à percepção visual, durante a apreciação de um quadro ou obra tridimensional,

os fotorreceptores da retina distinguirão inicialmente os contrastes entre formas e cores,

transmitindo ao hemisfério direito e esquerdo as informações adquiridas. Os hemisférios

realizarão a apreciação de informações, tais como discriminação de contornos, reconhecimento


66

de formas, cores, rostos, etc., em diferentes áreas do córtex. Os primeiros e segundos níveis

serão condições para que ocorra a emergência do sentimento estético no terceiro nível.

O terceiro nível se caracteriza pela integração dos dados fornecidos pelos níveis

anteriores, mais o surgimento do sentimento estético propriamente dito, que virá permeado de

reminiscências, pensamentos e julgamentos. Em resumo, no primeiro nível, haverá a apreensão

do conteúdo percebido, no segundo, a análise de suas estruturas e no terceiro, a integração

desses processos que resultarão na emergência do sentimento estético (COUCHOT, 2018).

Memória e criação artística

Nenhum ato criativo seria possível sem o uso da memória, contudo, a criação artística a

utilizará de uma forma peculiar. Na mitologia grega, a inspiração do artista, ou memória

criadora, se dá através do delírio das Musas, capaz de arrebatar o “poeta” no papel de artista

criador. Durante o êxtase criativo, o acesso aos portões da poesia só ocorrerá se o poeta

sucumbir à loucura das Musas (STEINER, 2003). Mnemosyne (a memória criativa) será a mãe,

condutora do Coro das Musas, responsável pelo desencadeamento dos processos de criação.

Bosi (1994) reflete que a Memória é irmã de Cronos e de Okeanós, do tempo e do oceano,

responsável por presidir a função poética, por meio de uma intervenção louca e sobrenatural.

Gilson (2010) descreve que os antigos poetas começariam suas obras invocando inspiração às

Musas, uma vez que a arte transcenderia o entendimento, necessitando apoiar-se no símbolo de

uma divindade.

A teoria de memória de Henry Bergson (2010) é considerada a mais aceita ao se tratar

de processos de criação. Sua ênfase seria o emprego das lembranças de forma inventiva. De

acordo com essa teoria, a memória situa-se em um campo flexível e mutável, ultrapassando a

função de recordar histórias individuais e sociais. Para o autor (2011), a memória criadora
67

possui um caráter dinâmico, tal como a concepção dos gregos na antiguidade: a “matéria-prima”

da arte. Esse dinamismo é exemplificado ao afirmar que, por mais que se observe determinado

objeto, ele nunca será o mesmo, pois a cada instante ele, no mínimo, se torna mais velho,

cabendo à memória o papel de conservar as impressões do passado, atualizando-as no presente.

Ainda de acordo com o filósofo, a realidade é a própria mobilidade. Para ilustrar seu

raciocínio, ele descreve a relação de duração e movimento por meio da metáfora da flecha

lançada, que traça o seu trajeto em um só golpe. Se o percurso for visto de forma fragmentada

– ao interromper-se a continuidade do percurso – a flecha será vista como algo inerte, ao passo

que, se contemplada a partir da duração do percurso, estará em movimento, pois nunca estará

em nenhum ponto do trajeto percorrido. Assim, o tempo da criação está situado em um fluxo

contínuo, no qual presente, passado e futuro se interpenetram e não pertencem à esfera

cronológica. O passado, como conteúdo da memória, é definido por Bergson (2010) como uma

totalidade aberta, sendo possível transitar por ele durante o movimento da criação. Se, para ele,

o que define a realidade é o movimento, então o passado não “foi”, o passado “é”, de maneira

que, ao responder a cada chamado do presente, ressurgirá impregnado de novidades. A memória

não consiste em uma regressão do presente ao passado, mas na atualização do passado ao

presente, no qual trará novos planos de consciência ao materializar-se em uma percepção atual

(ANDRADE, 2012).

A representação artística recorre ao símbolo para expressar a dimensão subjetiva da

realidade. A lembrança evoca o símbolo, fazendo com que ele ressurja cada vez mais forte,

tanto maior for o investimento da memória ao resgatar as sensações vivenciadas. Do ponto de

vista criativo, a memória articula-se à inteligência e à intuição. Para o filósofo, a inteligência

corresponderia no homem o que o instinto é para os animais, sendo que sua função será atuar

na esfera das questões imediatas e práticas, contudo, poderá também agir movida pelo impulso

criador, instigado pela intuição. A intuição funciona como um crivo que seleciona o que
68

verdadeiramente merece ser investigado e a racionalização ocorreria posteriormente a tudo que

já existe por si, como se o processo criativo primeiro “se encontrasse” para depois se

desenvolver (BERGSON, 2011).

Sobre o método de investigação intuitiva de Bergson (2011), Maciel Junior (2008)

afirma que, quando a inteligência é tocada pela intuição, abre-se um novo percurso direcionado

às ações criativas, pois as obras de arte nascem sempre de impulsos intuitivos e estes de

movimentos emocionais.

Ao destacar o papel da emoção associada à intuição como fator desencadeante do

processo de criação e ao enfatizar que é a inteligência que age a serviço da intuição, uma vez

que a memória é quem faz emergir a ação criadora, Bergson (2010) afirma que a arte habita na

atemporalidade e se desenvolve em um espaço denominado “todo aberto”, no qual as memórias

se dispõem, tal qual num jogo de cartas, para serem atualizadas no momento presente em todos

os processos criativos.

Outro conceito necessário à compreensão da teoria de Bergson (2010) sobre a memória

criadora, segundo esse filósofo, será o “intervalo de indeterminação” aquele “hiato” aberto pela

ação criadora que força o criador a sair das soluções automáticas. O intervalo de indeterminação

ocorre quando, no processo criativo, surge a necessidade de realizar escolhas, nos momentos

de congelamento e hesitação, na experimentação de elementos diferentes, nas mudanças de

percurso, destruições e reconstruções. Quanto menor ele for, maior o automatismo. O intervalo

de indeterminação seria então o bloqueador das ações condicionadas que, na visão de Bergson

(2010), é imprescindível para que a criatividade artística se desenvolva (CANELLAS, 2008).

Bergson (2010), ressalta que a música é a forma de arte que melhor traduz o significado

de tempo experienciado, que seria o tempo vivido em estado de contemplação. Este tempo só

pode ser percebido na sua dimensão subjetiva, em termos de sensibilidades, tensões e emoções,
69

pois a música cria uma imagem do tempo percebida pelo movimento de formas sonoras sendo,

assim, um tempo transitório. Os fenômenos que preenchem a dimensão subjetiva do tempo não

são lineares nem mensuráveis, mas sim, determinados pela experiência individual (ISHISAKI,

2016).

Aspectos relevantes sobre a natureza da arte

Tanto as expressões artísticas, como o próprio conceito da arte, passaram por diversas

transformações ao longo do tempo, de forma que, mesmo na cultura ocidental, o que hoje se

compreende como arte, em outros tempos não seria reconhecido como tal (ECO, 2016). O que

se sabe é que tais objetos, hoje considerados artísticos e que muitas vezes se encontram expostos

nas galerias dos museus, foram considerados especiais por não possuírem função utilitária, mas

por terem sido selecionados através de critérios simbólicos, tendo como finalidade a

representação de algo (STEIN, 2006).

A arte pode ser compreendida como um sistema de estímulos (sensoriais) construído

com base na utilização de símbolos. Cabe aqui ressaltar que o símbolo possui um significado

aberto comportando diferentes formas de interpretação e carrega um sentido de totalidade, tanto

para quem o criou, como pela cultura que o assimilou. A significação dos símbolos pode ser

construída por um grupo social ou permanecer no domínio das interpretações individuais.

Alguns estudiosos, como Lev Vygotsky (1896-1934), enfatizam a natureza social da arte,

afirmando que a sua significação, construída por meio da linguagem simbólica, é um produto

cultural que medeia o indivíduo e o gênero humano (BARROCO; SUPERTI, 2014). Um dos

propósitos da arte seria o de expressar uma ideia através de um símbolo articulado. O que a

obra de arte busca expressar não é um sentimento real, mas a ideia do sentimento, sendo a sua

expressão mais importante que a própria experiência estética. É na dimensão simbólica que está
70

a essência da arte, logo, uma obra de arte não deve ser necessariamente sensorialmente

agradável e também simbólica, mas o oposto, o aspecto sensorial deverá estar a serviço do

símbolo (LANGER, 2019). A arte provoca reflexão por se comprometer com o real

expressando-o pelo símbolo, e propicia o distanciamento, promovendo um olhar que enxerga a

totalidade por estar fora dela, como nas palavras de José Saramago “é preciso sair da ilha para

ver a ilha”. Dessa forma, a arte pode ser uma via de acesso aos conteúdos humanos de ordem

subjetiva e conduzir indivíduos à auto percepção e ao autoconhecimento.

De acordo com Gonçalves (2018), uma obra de arte se constitui como um objeto estético

intencional, fruto de um conjunto complexo de situações que começam na ideia artística e

terminam no receptor. Uma mesma obra de arte pode se abrir para diferentes leituras, sendo o

seu significado variável e dependente do fruidor. Considera-se que o objeto artístico só se torna

uma obra de arte através da percepção de quem o recebe, de modo que a arte não está situada

em determinado artefato ou performance, mas no hiato relacional entre o artista e o fruidor, no

diálogo estabelecido entre a criação e quem a acolhe (BARROSO, 2008). Couchot (2012)

ressalta que a dimensão estética de uma obra de arte não pode ser reconhecida no objeto em si,

nem tampouco na intenção de quem a produziu ou no efeito vivenciado pelo destinatário,

ressaltando, assim, seu caráter relacional: o lugar da arte é o diálogo.

Para Gonçalves (2018), o objetivo final da arte será transformar o receptor, sendo esta

a propriedade que garante sua validade enquanto estrutura artística. Deve-se, portanto, destacar

o caráter ativo do receptor na relação com a obra de arte. Para Vygotsky (1999), a percepção

da arte também exige criação, pois, não basta ao fruidor compreender e vivenciar o sentimento

do autor, mas sim, reelaborar de forma criativa o próprio sentimento, de modo que a obra se

torne a representação do seu estado de espírito.

Dewey (2010) ressalta que a arte reside na experiência singular que a criação artística

proporciona. De acordo com o autor, o artístico está relacionado à produção, seja ela realizada
71

através da transformação de materiais ou do corpo, com ou sem o uso de instrumentos para

produzir algo visível, audível ou tangível por uma execução habilidosa, que se dirija ao esforço

de perfeição (DEWEY, 2010). O estético emerge diante da apreciação, como ponto de vista que

surge por meio da percepção do fruidor. A percepção artística, longe de ser um reconhecimento

passivo, se constitui como um ato de reconstrução, pois depende de uma consciência nova e

viva.

Dada à dificuldade em estabelecer um conceito definitivo para a arte e tudo que ela

abrange enquanto obra (pintura, escultura, poesia, composição musical, etc.) ou ação

(performances teatrais, musicais, dança, etc.) (CUNHA, 2003), cabe ressaltar que, ao longo da

história, ela vem sendo objeto de estudo de diversas disciplinas, sobretudo nas ciências

humanas. A psicanálise de C. Jung, por exemplo, fundamenta-se no estudo dos símbolos, sendo

que as obras de arte são amplamente estudadas por representarem um portal de acesso ao

inconsciente (JUNG, 2018).

Jean-Paul Sartre (1905-1980) encontra na obra de arte a possibilidade de ser pharmakon

(medicamento), que trará o alívio à dor do existir, condição inerente a todos os seres humanos.

Para o filósofo, essa dor é vivenciada por uma angústia permanente que o homem vivencia por

toda a vida, por ter sido “condenado a escolher”, se tornando um verdadeiro escravo das

próprias escolhas. Para Sartre, a arte representa um escape necessário, capaz de restabelecer o

sentido de ordem diante dos acontecimentos caóticos da realidade humana (PEREIRA, 2019).

Neste estudo, o enfoque dado à arte será como fenômeno perceptivo. A experiência

estética só pode ocorrer por intermédio da percepção, enfatizando que, percepcionar não

corresponde à captação isolada de estímulos, mas à sua integração, capaz de levar o receptor a

determinado nível de reconhecimento. Percepcionar depende do funcionamento cerebral e da

personalidade, influências culturais e do modo particular com cada indivíduo reage aos

estímulos (GONÇALVES, 2018).


72

A arte como instrumento

Um instrumento pode ser pensado como extensão de determinado corpo, que visa

possibilitar a concretização de determinado desejo que não se realizaria, caso ele não existisse.

Uma garrafa, enquanto instrumento, é a resposta à necessidade de carregar líquidos, dada essa

limitação do corpo humano. Botton e Armstrong (2014) acreditam que, tal qual os outros

instrumentos, a arte possui a função de ampliar as capacidades humanas para além de suas

limitações naturais. Ainda segundo esses autores, a finalidade da arte será trazer à tona

conteúdos emocionais lançando uma luz sobre aspectos que a mente necessita processar

(BOTTON; ARMSTRONG, 2014). Sendo a arte capaz de transformar ideias e emoções em

obras destinadas à fruição, suscita um maior envolvimento com lembranças e sentimentos, tanto

por parte do autor da obra, como por parte de quem interage com ela.

Botton e Armstrong (2014) identificam sete fragilidades humanas que podem ser

reelaboradas por meio da relação estabelecida entre o homem e as artes. Esses autores

identificaram, portanto, sete funções para a arte que serão: a rememoração, a esperança, o

sofrimento, o reequilíbrio, a compreensão de si, o crescimento e a apreciação.

Esses autores acreditam que a primeira reação aos efeitos do esquecimento seria

escrever, e a segunda, a criação de uma obra de arte (BOTTON; ARMSTRONG, 2014).

Fotografar os eventos significativos da vida denota a consciência de que existe uma fragilidade

cognitiva em relação à passagem do tempo. A arte é uma forma de preservar experiências e

selecionar o que se pretende rememorar (BEZERRA, 2017).

A categoria das artes que possui mais popularidade é a alegre, agradável e graciosa

(BOTTON; ARMSTRONG, 2014; LANGER, 2019). Gonçalves (2018) acrescenta que as

pessoas tendem a rejeitar a desarticulação, a desordem e a complexidade. Colocar um quadro

de flores ou uma bela paisagem na parede de casa, para Botton e Armstrong (2014), denotaria
73

uma certa esperança ou o desejo de que o percurso dos acontecimentos siga na direção da

harmonia.

Outra função da arte será a de ajudar a enfrentar o sofrimento. Diversas obras de arte

demonstram que o sofrimento não deve ser negado, que faz parte da vida e que ser humano é

viver todos os tipos de emoção, inclusive as desagradáveis. Diversas obras-primas surgiram nos

momentos em que seus autores vivenciavam situações de intenso sofrimento. Esses artistas

transformaram a própria dor em obras de rara beleza, capazes de despertar profunda comoção.

O público, ao se identificar com a obra, teria também a oportunidade, tal qual o artista que a

criou, de reelaborar ou extravasar as suas emoções (PUSSETTI, 2013).

Quanto ao restabelecimento do equilíbrio, é importante considerar que cada indivíduo

tem um tipo diferente de dinâmica interna e, o que equilibra uma pessoa, pode exceder e

desiquilibrar outra. As obras de arte eleitas por cada pessoa com a função de reequilibrá-las

serão muito variáveis. Uma música, por exemplo, escolhida por alguém agitado, na busca de

atingir uma sensação de calma e serenidade, apresentará uma atmosfera completamente

diferente do que a escolhida por outra pessoa desanimada que busca um estado de maior

vitalidade e ânimo. Há também que se considerar que a interpretação do significado das obras

de arte varia de pessoa para pessoa. A mesma obra pode transmitir, por exemplo, tranquilidade

para uns e tristeza para outros. De acordo com Platão, a substância que constitui a harmonia na

música é a mesma que harmoniza o cosmos e, por consequência, o ser humano. Dessa forma, a

música teria a propriedade de apascentar os humores e trazer harmonia às vivências humanas

(FUBINI, 2019).

Ao se identificar com determinada obra de arte, o indivíduo acessa uma dimensão que

lhe permite entrar em contato consigo mesmo e ter uma maior clareza ou compreensão de si.

Uma pessoa, ao se sentir atraída por uma pintura, encontrará, nos elementos que a compõem,

pistas que a levarão a ter um maior entendimento a respeito de sua identidade. Segundo Botton
74

e Armstrong (2014), isso ocorre porque, no instante em que surge a afinidade com o objeto de

arte, os valores que ali estão presentes podem ficar mais claros, tendo a arte o poder de trazer à

luz aspectos até então desconhecidos da personalidade de um indivíduo. Barroco e Superti

(2014) destacam que a obra de arte pode despertar uma série de transformações qualitativas nas

dinâmicas individuais.

Muitas obras de arte prestigiadas, tais como, cinematográficas, livros e canções, também

possuem a propriedade de causar sentimentos de desagrado e repulsa. De forma geral, isso

ocorre por provocar associações negativas. Quando o fruidor assume uma atitude aberta e

receptiva a tais manifestações, não significa necessariamente que “gostou” da obra, mas sim,

que ele se permitiu ser tocado por ela. Buscar a compreensão dos motivos que causaram tal

desagrado contribuirá para que haja um crescimento pessoal, pois, ao sair da zona de conforto,

as pessoas se tornam mais flexíveis e passam a considerar legítimas concepções e modos de

vida distintos daqueles que possui. Umberto Eco (2016) afirma ser possível compreender os

valores implícitos em uma obra de arte e, mesmo assim, não os aceitar, demonstrando que a

arte não é absoluta, mas estabelece relações dialéticas com outros saberes. Na perspectiva de

Vygotsky, a arte possibilita o crescimento humano por proporcionar a vivência de emoções e

sentimentos não cotidianos e superar o individual, transferindo as emoções para a esfera comum

(BARROCO; SUPERTI, 2014).

A arte também possui a capacidade de tirar o sujeito do automatismo, colocando-o em

estado de presença. A apreciação de uma obra artística provoca essa atitude de imersão no

momento presente, assim como desperta o interesse para o novo, pois, mesmo que o sujeito

tenha ouvido a mesma canção centenas de vezes, cada escuta lhe poderá trazer algo de novo

que ele não havia percebido. Cada momento de interação com a arte, mesmo já sendo conhecida

por parte do fruidor, é singular, pois cada escuta terá o poder de causar diferentes sensações

(BOTTON; ARMSTRONG, 2014). Gonçalves (2018) acrescenta que, no cotidiano, a


75

percepção é processada de uma forma rápida e automática e que a arte canaliza a conduta dos

indivíduos para um comportamento estético, exigindo presença e atenção ampliadas.

Sentidos especializados e percepção estética

As obras de arte são compostas por elementos sensoriais e têm a função imediata de

impressionar os sentidos. Pode-se afirmar que as artes são governadas pelos departamentos

naturais dos sentidos. As artes atingem esferas sensoriais específicas ao selecionar os modos

pelos quais serão apreendidas. A superfície estética de cada expressão artística se traduz no

universo no qual ela se insere: para a pintura, a gama de cores; para a música, os sons, notas

musicais ou frequências. Esses elementos sensoriais deverão satisfazer a uma lógica para se

tornarem componíveis e se situarem em alguma dimensão intelectual para serem

compreendidos (GONÇALVES, 2018).

Somente através das práticas culturais e artísticas, será possível desenvolver percepções

que transcendam o imediatismo das necessidades cotidianas. Assim, a arte contribui para que

os sentidos humanos se tornem plenamente desenvolvidos. Marx (2003) afirma que a arte

promove o refinamento dos sentidos, possibilitando a humanização dos cinco sentidos

primários, a aproximação no contato com os sentimentos e a liberdade de criar, segundo os

princípios da beleza. A percepção sensorial, enquanto veículo que leva à apreciação de uma

expressão artística, se distingue qualitativamente daquela que se realiza nas ações automáticas,

representando uma ruptura com as ações mecânicas.

A percepção estética, de acordo com o filósofo Mikel Dufrenne (1910-1995), difere-se

da percepção comum por proporcionar novas formas de pensar e sentir, desenvolvendo uma

espécie de olhar que se estende além da obra, na medida em que aquela experiência se integra

à vida do fruidor. Dufrenne retira o caráter elitista da percepção estética e afirma que a atenção
76

estética pode ter outros focos além da apreciação de obras de arte. Para o filósofo, a percepção

estética não é um privilégio de conhecedores, basta o observador estar aberto e disponível para

o belo (MILHORIM; TELLES, 2018).

Para um melhor entendimento do conceito e das possíveis repercussões dessa construção

nas vivências psíquicas, Dufrenne distingue três momentos no processo de percepção: presença,

representação e sentimento. A presença se caracteriza pelo contato corporal com o objeto

estético, sendo o corpo responsável por um nível primitivo de percepção que se situa em um

plano pré-reflexivo. A percepção existirá primeiro no nível corporal, antes de adquirir uma

representação no pensamento e que, ao final, será traduzida em sentimento. Esse primeiro

contato significaria entregar-se fisicamente à sensação provocada pelo elemento que suscitou o

comportamento estético. Assim, diante de um objeto estético, o apreciador, passa a ser também

intérprete, no sentido de compor essa construção através de sua receptividade e presença. A

representação corresponde à passagem daquilo que foi vivenciado pelo corpo para a esfera

mental e pode ser compreendida como a passagem do vivido (irrefletido) para o pensado

(refletido), realizada pela imaginação. Para exemplificar essa atualização, Dufrenne utiliza a

imagem da neve e a sensação de frio que ela antecipa, de modo que, para o filósofo, a

imaginação não negará o real, mas sim, terá a propriedade de antecipá-lo.

Finalmente, a percepção estética culmina na emergência do sentimento que é o resultado

da busca pelo sentido de tal experiência estética. O sentimento surge como fruto de uma relação

de familiaridade, afinidade ou mesmo cumplicidade, que se estabelece entre a obra e o fruidor.

Para Dufrenne, a obra fala por si e se abre a quem se sentiu tocado por ela (MILHORIM;

TELLES, 2014). Para Bauman (2009), o olhar estético é uma atitude que pode existir fora do

campo das produções artísticas se estendendo para a dinâmica da vida, de forma a conceber sua

construção um processo criativo, tal qual ocorre na composição de uma obra de arte

(BAUMAN, 2009).
77

CONCLUSÃO

Estimular o idoso é sempre uma missão desafiadora, pois em relação ao ciclo da vida,

ele parece andar na contramão. Tendo como parâmetro os padrões de normalidade, o bebê e a

criança são estimulados e os estímulos que são oferecidos, de todas as naturezas, trazem em si

o potencial de florescimento nas etapas posteriores da vida, ao passo que, na grande maioria

das vezes, o objetivo da estimulação dirigida aos idosos, será o de conservar algumas

habilidades que ainda possui ou desacelerar o seu ritmo de declínio.

A natural redução das células que captam os estímulos sensoriais resulta no

estreitamento dos limiares perceptivos gerando transtornos na integração sensorial. Idosos,

quanto mais longevos, tendem a enxergar menos, ouvir menos, sentir menos o cheiro e o gosto

das coisas e captar cada vez menos sensações através da pele. As transformações sensoriais que

se processam no corpo envelhecido afetam a dinâmica de vida como um todo, dentre elas, a

perda da funcionalidade do organismo, prejuízos em relação à autoimagem, isolamento,

rejeição às relações interpessoais e, a depender da gravidade e do não surgimento de

mecanismos compensatórios eficientes, até a própria sobrevivência.

O conceito de funcionalidade implica na necessidade e no desejo de desempenhar algo

por meio do próprio corpo. Ao longo da vida, as pessoas se mantém funcionais de formas

distintas, pois seus corpos atendem a diferentes demandas e são estimulados, inclusive,

enquanto realizam as ações que determinam as necessidades do corpo para que haja a

manutenção de um bom ou satisfatório desempenho.

Observa-se que o aumento da longevidade tem provocado reflexões que envolvem desde

a necessidade economizar para a velhice, até a construção de novos significados que atendam

melhor à realidade das novas gerações.


78

Diante da possibilidade de viver vinte ou trinta anos a mais que os próprios avós, tem

surgido, sobretudo nas gerações que ainda não atingiram a terceira idade, uma série de

questionamentos e preocupações. Os futuros idosos, de forma geral, desejam viver uma velhice

com significado, prazer e possibilidades de realização.

Nesse capítulo, a arte, em suas múltiplas manifestações, se apresenta como uma dessas

possibilidades, demonstrando que pode assumir o papel de estimulador e, ao mesmo tempo, ser

o próprio estímulo. Será estimulante por provocar diálogos, ser veículo de expressão, por se

abrir ao autoconhecimento, por provocar a emergência de conteúdos e potenciais

surpreendentes, por exercitar a criatividade e a inventividade. É estimuladora, por envolver e

integrar diferentes linguagens, além de provocar intensa atividade cognitiva e sensorial.

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TEIXEIRA, S. M. Envelhecimento, família e políticas públicas: em cena a organização social


do cuidado. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 137, p. 135-154, abr. 2020. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
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https://doi.org/10.1590/0101-6628.205.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.


82

4. JUSTIFICATIVA

O processo de envelhecimento traz consigo uma série de desconfortos, sendo que um


deles é provocado pela redução da acuidade sensorial. Esses déficits variam de pessoa para
pessoa em relação aos sentidos afetados e ao grau de comprometimento.
Dado que todas as relações estabelecidas entre os indivíduos e o mundo ocorrem através
das funções sensoriais e da importância fundamental que exercem na comunicação, na
percepção de si, no prazer e na manutenção da sobrevivência, será necessário que, à medida
que a acuidade de determinado sentido se reduz, outro sentido busque compensar a função
daquele afetado. Ocorre que nem sempre essa compensação se efetua e o idoso passa a se sentir
impotente, incapaz e impossibilitado para realizar uma série de ações que antes fazia parte do
seu cotidiano causando transtornos que vão desde o isolamento à depressão e até a possibilidade
de colocar sua vida em risco.
Ocorre que a percepção sensorial se dá de duas formas: uma que se relaciona à
“quantidade” ou ao espectro perceptivo que o sujeito consegue captar e outra relacionada à
“qualidade” ou ao modo como os estímulos são percebidos, sendo que uma mesma experiência
sensorial é percebida de maneira diferente por dois indivíduos que tenham o mesmo nível de
acuidade. Isso se deve ao refinamento perceptivo desenvolvido ao longo da vida.
A arte, nas suas origens, surge na medida em que o ser humano descobre o deleite
proveniente de suas experiências sensoriais. Assim, ele passa a colecionar objetos que não
cumprem uma função utilitária, mas que, de alguma forma, possuem uma função estética e que,
devido a ela, adquire um significado, passando então a simbolizar algo. Pela sua natureza, a arte
traduz o refinamento dos sentidos.
Esta pesquisa justificou-se pela necessidade de mais estudos e intervenções que
proponham o aperfeiçoamento da percepção sensorial no nível qualitativo, visto que, em
quantidade, percebe-se (mesmo que em diferentes medidas) alterações importantes no processo
de envelhecimento, e mais especificamente nos idosos. O objetivo da tese foi buscar uma
compreensão das diversas possibilidades de desenvolver uma percepção sensorial que possa
impactar na maneira (qualidade) como esse idoso pertence e interage com o mundo que o cerca.
Essas possibilidades surgem do entendimento da arte e do fazer artístico como promotores de
percepção do mundo e da possibilidade de desenvolvê-los através da fruição e do fazer artístico,
mesmo diante de limitações sensoriais concernentes a essa fase do desenvolvimento.
83

5. OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL

Analisar diferentes metodologias de expressões artísticas e as suas relações com o fazer


artístico e com o desenvolvimento de potenciais perceptivos em idosos.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Verificar o impacto das intervenções artísticas como promotoras de abertura para


novas possibilidades de expressão e diálogo com o mundo.
• Identificar se o contato com diferentes expressões artísticas oportuniza a descoberta
ou o desenvolvimento de potenciais e talentos.
• Analisar as diferentes expressões emocionais provocadas pela arte por meio da
reflexão e de produções artísticas.
84

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1 TIPO DE ESTUDO

Optou-se por um método de natureza qualitativa, não experimental, exploratório,


descritivo e transversal. Qualitativa, por se tratar de dados não quantificáveis, por ser um tema
diretamente ligado à subjetividade dos sujeitos envolvidos e pela relevância da construção
teórica a ser desenvolvida no curso da pesquisa. De acordo com Bauer, Gaskell e Allum (2018),
a pesquisa qualitativa traz, como uma de suas características, ser não numérica. Segundo esses
autores, a escolha entre os métodos qualitativo e quantitativo se dá, primeiramente, pela decisão
sobre o modo de geração dos dados e os métodos de análise que serão adotados. A pesquisa
qualitativa implica representação do mundo pela comunicação, sendo uma maneira de dar voz
às pessoas, ao invés de concebê-las como objetos cujo comportamento deverá ser quantificado
e modelado de forma estratégica. Ainda na visão dos autores acima citados, os métodos
qualitativos e quantitativos são enfoques que representam diferentes referenciais
epistemológicos no que concerne à teorização da natureza do conhecimento, tão profundamente
diferentes que chegam a ser modos de investigação mutuamente exclusivos (BAUER;
GASKELL; ALLUM, 2018).
Para Rey (2010), a produção teórica da pesquisa demanda um comprometimento
permanente do pesquisador, de modo que há uma constante reflexão acerca das informações
que vão surgindo durante o processo, sendo ela inseparável dos sentidos subjetivos que se
apresentam na sua constituição. A subjetividade se expressa tanto no âmbito individual como
no grupal, comprometendo-se com a expressão diferenciada dos sujeitos e dos cenários sociais
nos quais eles transitam, sendo que a subjetividade social se reflete através das crenças, mitos,
moral, sexualidade etc. Ainda de acordo com o autor, existem três princípios gerais para a
produção de conhecimento para a Epistemologia Qualitativa (REY, 2010), O primeiro deles
será a apresentação de um caráter construtivo-interpretativo uma vez que, segundo essa
abordagem, o conhecimento é uma construção humana e não a apropriação de uma realidade
que já foi apresentada. O segundo princípio será sobre o enfoque que deverá legitimar o singular
como produtor de conhecimento. A legitimação da informação do caso singular ocorre através
do modelo teórico que o pesquisador vai desenvolvendo ao longo da pesquisa, demandando
uma permanente implicação intelectual do pesquisador. O terceiro princípio se trata da
compreensão da pesquisa como processo dialógico, considerando a comunicação uma via
85

privilegiada para o conhecimento dos processos de sentido que caracterizam os seres


individuais.
Para Sampieri, Collado e Lucio (2006), o modelo de pesquisa será não experimental por
não haver a possibilidade de uma manipulação deliberada das variáveis. Os indivíduos
permaneceram em seu contexto natural e serão observados sem que haja o controle ou
distribuição proposital de tratamentos ou estímulos a grupos específicos. Segundo os autores
supracitados, o modelo transversal exploratório é utilizado quando o intuito da pesquisa é
começar a conhecer grupos humanos, contextos, eventos ou situações em que o problema de
pesquisa tenha sido pouco estudado ou, como, nesse caso, inédito (SAMPIERI; COLLADO;
LUCIO, 2006).
Com base nos seus objetivos, Gil (2002) classifica as pesquisas como: exploratória,
descritiva e explicativa. A investigação exploratória se propõe a trazer uma maior familiaridade
com o tema, uma vez que se direciona a áreas nas quais existem poucos conhecimentos
acumulados e sistematizados. De acordo com Boaventura (2004), as pesquisas descritivas
buscam identificar as características de uma população ou fenômeno, assim como levantar
informações sobre situações específicas que estejam relacionadas, para proporcionar a
visualização de uma totalidade, podendo, assim, gerar proposições para novos estudos.

6.2 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Devido a situação de pandemia do novo Coronavírus (SARS-CoV-2), causador da


COVID-19, pela Organização Mundial de Saúde, em 11 de março de 2020, seguida pela edição
do Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, que reconheceu o estado de calamidade
pública no Brasil para enfrentamento da Covid-19, e por fim o Decreto Distrital nº 40.475, de
28 de fevereiro de 2020, que declarou situação de emergência no âmbito do Distrito Federal, se
fez necessário a alteração da amostra previamente prevista nesta pesquisa (idosos
cognitivamente saudáveis e frequentadores do grupo NeuroCog-idoso). Para tanto, a
pesquisadora proponente desta pesquisa realizou a coleta de pesquisa no Centro-Dia Pasárgada,
localizado em São Paulo - SP.
Nesse sentido, a ideia principal do projeto nesses dois últimos anos não foi alterada, mas
atentou-se aos cuidados com o público e ao acesso dos mesmos. Para assegurar a proteção
necessária aos idosos frente à pandemia do novo Coronavírus foram adotadas todas as medidas
já impostas pelo Centro-Dia Pasárgada aos profissionais que atuam de forma presencial. As
dinâmicas foram realizadas individualmente em ambiente previamente higienizado mantendo-
86

se a distância de segurança e com utilização de todo equipamento de proteção tais como


máscaras e luvas. A pesquisa seguiu o rigoroso protocolo da instituição que continua (ainda)
passando por esse difícil momento de pandemia, mas realizando atendimento aos idosos e seus
familiares.
A pesquisa que será apresentada, assim como o seu referido Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) foram submetidos e aprovados (CAAE: 37304720.1.0000.0029)
nas condições acima detalhadas, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica
de Brasília, respeitando as normas da Comissão Nacional de Pesquisa do Ministério da Saúde.

6.3 AMOSTRA

A amostra de conveniência foi composta por oito sujeitos, com média de idade igual a
86,00 anos (DP= ± 7,66), sendo 3 homens e 5 mulheres, com escolaridade entre nível médio e
superior, majoritariamente com uso de medicamentos e com dificuldade de compreensão, dois
dos idosos possuem sequelas de acidente vascular encefálico, um idoso com esquizofrenia e um
com doença de Parkinson. frequentadores do Centro-Dia Pasárgada, situado em São Paulo - SP.
Critério de inclusão: ser frequentador do Centro-Dia Pasárgada. Critérios de exclusão:
apresentar algum déficit visual, auditivo e/ou motor que inviabilizassem o entendimento e a
realização das atividades relacionadas às avaliações e às intervenções artísticas.

6.4 INSTRUMENTOS

Os instrumentos foram apresentados em dois blocos, sendo eles: a) instrumentos de


caracterização e desenvolvimento para a caracterização da amostra; b) instrumentos de
acompanhamento do desenvolvimento dos idosos no decorrer do tempo (avaliação sensorial).

6.4.1 Instrumentos de caracterização e desenvolvimento

Os instrumentos que compuseram este bloco foram: o TCLE (Apêndice I), o


questionário sociodemográfico (Apêndice II) e as entrevistas iniciais (Apêndice III). As pessoas
que atenderam aos critérios para participar da pesquisa, de forma voluntária e não remunerada,
assinaram o TCLE. O questionário sociodemográfico foi composto por perguntas que
auxiliaram a caracterização da amostra, sendo: nome, data de nascimento, sexo, escolaridade,
composição familiar, vivência artística, função exercida (prévia e atualmente). Como os idosos
87

participantes em sua totalidade apresentam déficits cognitivos dados referentes ao questionário


foram obtidos por meio da leitura das pastas de cada frequentador do centro dia. A aplicação
do questionário foi realizada visando o estabelecimento do vínculo com cada integrante. O tema
arte foi abordado de forma superficial durante a apresentação do termo de consentimento ao
explicar no que consistiria a pesquisa a ser realizada. Para além dessas perguntas, foi feito um
levantamento ao final perguntando se o entrevistado teria interesse em expressar, ainda, alguma
informação que não lhe foi questionada. As respostas foram gravadas e transcritas.

6.4.2 Instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento dos idosos no decorrer do


tempo

Rey (2010) ressalta que a origem do uso de instrumentos nas ciências humanas é de
cunho positivista e que a sua institucionalização passou a ser uma exigência para que seja
legitimado o caráter científico do estudo, de forma que, os resultados obtidos são assumidos
acriticamente e naturalizados como verdadeiros. Para esse autor, nessa perspectiva, os
instrumentos apresentam categorias pré-definidas que determinam a abrangência das respostas,
sendo que, essa característica mutila a produção intelectual do pesquisador na fase da coleta de
dados (REY, 2010). A utilização de questionários pode ser interessante no estudo das
representações conscientes dos participantes, de acordo com Rey (2010), entretanto, em
qualquer espécie de questionário, haverá sempre uma pressão social, mesmo que inconsciente,
pois toda resposta é inseparável da pergunta e da carga subjetiva de quem a formula. Como esta
pesquisa abordará o relacionamento e as percepções dos participantes em relação às artes,
optou-se por um caminho que permitisse a livre expressão do universo subjetivo desses
indivíduos, de forma que, o material coletado durante a realização das oficinas será obtido
através da gravação dos diálogos que ocorrerão nos momentos de partilha.
Para Yin (2016), a pesquisa qualitativa não comporta a utilização de instrumentos, sendo
o termo “protocolo” mais apropriado para indicar os procedimentos realizados através por
instrumento na pesquisa quantitativa (questionários, testes, tabelas etc.). De acordo com esse
autor, mesmo havendo a utilização de instrumentos abertos, perde-se a oportunidade de capturar
a vida real pela fala do outro, uma vez que as respostas estão atreladas às respectivas perguntas
e trazem, de forma implícita, as expectativas e conjecturas do entrevistador (YIN, 2016).
Mesmo havendo um protocolo predefinido, o entrevistador deverá manter-se atento, sensível e
receptivo às informações inesperadas que poderão ocorrer de diversas formas no processo da
pesquisa. Ressalta, ainda, o autor que o protocolo funciona como um guia para que o
88

entrevistador mantenha sua organização e objetividade nos momentos de interação com os


sujeitos participantes dessa pesquisa (YIN, 2016).
Devido à mudança da amostra, o protocolo elaborado para as entrevistas teve que ser
adequado ao déficit cognitivo apresentado pelos participantes. Para manter a coesão da
pesquisa, o questionário sociodemográfico foi realizado no formato de entrevista
semiestruturada, de forma que as perguntas evoluíam de acordo com a facilidade ou dificuldade
de cada idoso em respondê-las. Outro cuidado em relação à coesão para a apresentação dos
resultados foi manter exatamente a atividade de forma presencial para todos os idosos. As
instalações eram montadas na segunda-feira no período da manhã e permaneceram em
funcionamento durante toda a semana, assim cada integrante pôde experimentar cada uma delas
no mesmo horário durante a semana.
As atividades realizadas que tiveram como objetivo integrar percepção sensorial e
expressão artística, foram oferecidas aos participantes na seguinte ordem:
1) Questionário sociodemográfico
2) Apreciação de imagens artísticas
3) Instalação da Avaliação do perfil sensorial
3.1 Primeira estação: visual
3.2 Segunda estação: auditiva
3.3 Terceira estação: tátil
3.4 Quarta estação: olfativa
3.5 Quinta estação: motora; vestibular e proprioceptiva
4) Primeira oficina: arte visuais, movimento e música
4.1 Estação 1: atividade rítmica com instrumentos de percussão e canto à
capela.
4.2 Estação 2: O idoso era convidado a caminhar sobre o plástico bolha.
4.3 Estação 3: Projeção de imagem criada com anilina colorida sobre
transparência no retroprojetor.
5) Segunda oficina: artes cênicas
5.1 Primeiro momento: preparação da sacola de praia
5.2 Segundo momento: vivência sensorial
5.3 Terceiro momento: o teatro
6) Terceira oficina: montagem da árvore de natal sensorial
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6.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O procedimento metodológico foi composto por seis etapas: a) Recrutamento; b)


Levantamento de informações sobre os participantes; c) Entrevista inicial; d) Dinâmica de
introdução à apreciação artística; e) Avaliação do Perfil Sensorial; e, f) oficinas, conforme
descrições a seguir:

a) Recrutamento
Todos os idosos que frequentavam o Centro-Dia Pasárgada no mês de novembro de 2020
foram convidados a participar da pesquisa. Dois que haviam sido frequentadores, mas não
estavam comparecendo presencialmente também foram convidados por sugestão da
diretora do Centro Dia. O primeiro contato com os responsáveis legais foi realizado pela
diretora do estabelecimento no intuito de pedir o consentimento para que os idosos que não
pudessem assinar o TCLE fossem inclusos, se eles desejassem participar da pesquisa. Após
essa autorização iniciaram-se os contatos presenciais.

b) Levantamento de informações sobre os participantes


Ocorreu por meio da leitura das pastas de cada idoso frequentador do Centro-Dia
Pasárgada. Nelas haviam os documentos de cada um deles, informações de anamnese em
entrevista com familiares e responsáveis legais, diagnósticos médicos, avaliações,
tratamentos medicamentosos e relatórios redigidos pelos profissionais que os atenderam
no centro dia informando a evolução dos atendimentos realizados. Nos diagnósticos
médicos os laudos encontrados atestavam demência senil, doença de Alzheimer, doença de
Parkinson e comprometimentos físicos e cognitivos decorrentes de Acidente Vascular
Encefálico (AVE).

c) Entrevista inicial
Foi realizada sem a participação de familiares, cuidadores ou responsáveis na presença
apenas do idoso e da entrevistadora. Utilizou-se o questionário sociodemográfico, porém
o mesmo serviu como pretexto para o estabelecimento do diálogo e guia para que se
mantivesse uma homogeneidade nas questões abordadas. O objetivo principal foi o
estabelecimento do vínculo entre pesquisador e entrevistado e, secundariamente, a
observação do estado físico e cognitivo de cada idoso.
d) Dinâmica de introdução à apreciação artística
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Consistiu em apresentar ao idoso seis imagens de pinturas que expressavam atmosferas


contrastantes perguntando a cada idoso “que imagem lhe chamou mais atenção”; “se fosse
uma delas, qual seria”; “que detalhes percebeu nas imagens escolhidas”; “que sentimento
a imagem trouxe” e “o que estaria fazendo, pensando ou sentindo a/as personagens do/dos
quadros/s que chamaram mais a atenção”.

e) Avaliação do perfil sensorial


Segundo os critérios de Avaliação do Perfil Sensorial do instrumento proposto pela Dra.
Amélia Nabais Martins (Anexo I), foi realizada no formato de instalação nos moldes do
projeto piloto, detalhado no Capítulo I da referida Tese, conforme Degani, Ribeiro e
Chariglione (em submissão).

Primeira estação: visual


Em uma mesa posta na entrada da sala, diante de alguns elementos coloridos (blocos de
madeira e copos de plástico) e luminosos (luminária colorida e giratória, lâmpada de
emergência e lanterna). O participante se assentava de um lado e a pesquisadora do outro. Nesse
momento era explicado o que seria feito e o propósito de cada estação, em seguida pedia-se
para agrupar blocos de madeira segundo a cor, dispor copos coloridos segundo as noções
básicas de orientação espacial (em cima, em baixo, dentro, fora, dos lados, na frente e atrás),
discriminar as cores da luminária, seguir o movimento lanterna e clicar no interruptor da luz de
emergência (luz intensa). Foram avaliados:
a. reação diante de objetos luminosos: lâmpada que projetava na parede luzes
coloridas em movimento
b. capacidade de seguir objetos luminosos e de cores brilhantes.
c. reconhecimento e identificação de cores.
d. ocorrência de sobre-excitação diante de vários estímulos visuais simultâneos:
pelo acionamento de todos os recursos visuais da sala ao mesmo tempo (luminária que muda
de cor, luz giratória com diversas cores formando mandalas, rede iluminada na parede piscando
e luz de emergência).
e. reação a luzes fortes.
f. necessidade de reconhecer objetos tocando-os mesmo apresentando visão
normal (observado no contexto da avaliação).

Segunda estação: auditiva


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Havia na sala um espaço reservado com instrumentos musicais capazes de


produzir sons contrastantes: graves, médios, agudos, fortes, fracos, sonoros, percussivos, com
timbres distintos, corda, sopro etc. Os instrumentos inicialmente eram apresentados e
questionava-se ao participante que som lhe agradava mais, se algum som lhe desagradou, se
gostaria de aprender a tocar algum instrumento, que tipo de música gosta de ouvir etc. Em
seguida a dinâmica era descrita orientando ao idoso que seriam tocados vários sons sem que ele
os visse (que ele ficaria de costas para o pesquisador) e perguntava-se que instrumento estava
sendo tocado tendo como referência o som produzido. Avaliou-se:
a. reação aos sons: durante a apresentação de cada instrumento.
b. ocorrência de movimentação exagerada ou espasmo diante de som repentino:
enquanto os instrumentos eram apresentados foi combinado com o cuidador abrir e fechar a
porta bruscamente.
c. localização da fonte sonora: observava-se durante a apresentação dos
instrumentos com o idoso de costas para o pesquisador mudando o local em que o instrumento
era tocado (lado direito, esquerdo, em cima da cabeça, embaixo da cadeira, sempre com o
participante de costas para o pesquisador.
d. apreciação da música: foi avaliada em outro momento juntamente com a
permanência na posição supino (utilizou-se fundo musical para relaxamento).
e. resposta à voz do terapeuta: enquanto manteve-se de costas para o pesquisador
foram oferecidos estímulos verbais.
f. reconhecimento e identificação de sons: foram avaliados na apresentação dos
instrumentos enquanto permaneciam de costas para o pesquisador.
g. se ignora sons e ruídos tendo audição normal: observado no contexto da
dinâmica

Terceira estação: tátil


Foram utilizadas caixas que continham elementos táteis capazes de provocar sensações
distintas e contrastantes. Essas caixas permaneciam fechadas. Apenas um círculo suficiente
para que eles pudessem colocar as mãos e sentir cada elemento permanecia aberto impedindo a
visualização do conteúdo interno de cada caixa.
Conteúdo de cada caixa:
- esponja de cozinha dupla face cortada em 6 partes,
- isopor utilizado para proteção de objetos frágeis com formato arredondado (formato
de gotas) medindo mais ou menos 2cm x 1cm.
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- bolinhas de gude (biribinhas)


- brinquedo infantil “Geleca” (Amoeba) que apresenta textura gelatinosa e temperatura
fria
- bolsa de água quente
- aparelho para massagem facial ligado (produzindo vibração)
Nesta dinâmica avaliou-se:
a. reação ao toque de diferentes texturas
b. reação às mudanças de temperatura
c. tolerância ao contato das diferentes texturas contidas em cada caixa
d. reconhecimento e identificação de texturas
e. reação à percepção de objeto que produz vibração

Quarta estação: olfativa


Diversos potinhos foram pendurados com fitas coloridas em ganchos dispostos em um
painel. Cada potinho continha elementos com odores distintos em qualidade, porém de fácil
reconhecimento. A tampa de cada potinho foi vedada com gaze para curativo para que o cheiro
pudesse exalar através do tecido. A depender da expressão facial de cada participante,
perguntava-se qual era o cheiro ou eram fornecidas pistas para que identificasse o que havia
dentro de cada potinho.
Conteúdo dos potinhos:
- alho
- café
- canela
- menta (óleo essencial com cheiro de creme dental)
- lavanda amassada colhida na hora
- chocolate
- óleo de eucalipto
Por meio dessa estratégia avaliou-se:
a. reação e reconhecimento de aromas
b. percepção de aromas suaves e intensos
c. escolha de aromas

Quinta estação: motora; vestibular e proprioceptiva


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Como cada idoso necessitou se deslocar de uma estação para outra, pôde-se observar a
estabilidade da marcha, o equilíbrio e o senso de orientação espacial. Nesta última estação havia
uma poltrona reclinável, bolas com diferentes pesos não ultrapassando 500 gramas e dois
aparelhos com mola e encaixe para os dedos, próprios para exercitar a força das mãos: um com
quase nenhuma resistência nas molas e outro com uma resistência um pouco maior.
Para verificar se o idoso teria a capacidade de agarrar os objetos com as duas mãos e
somente com a direita ou à esquerda, antes que ele fosse convidado a se se sentar na poltrona
reclinável era-lhe solicitado que “ajudasse ao pesquisador” a organizar as bolas colocando-as
sobre uma bancada. Assim, as bolas eram oferecidas, ora do lado direito, ora do esquerdo. As
bolas maiores, que eram mais leves, eram lançadas de uma distância bem próxima, para
verificar se seriam pegas com as duas mãos. A relação de proximidade ao jogar as bolas foi
explorada de acordo com a performance de cada participante. Aumentava-se a distância, caso
o participante agarrasse a bola com muita facilidade.
Em seguida, eram convidados a se assentarem na poltrona, a esticar as pernas no
banquinho de apoio, a relaxarem e o pesquisador perguntava se poderia reclinar o encosto. A
intensidade das luzes era diminuída e uma música tranquila era tocada (utilizou-se áudios de
melodias celtas tocadas na harpa com acompanhamento suave e sons da natureza ao fundo).
Neste momento uma pequena lanterna era movimentada pelo pesquisador projetando o foco na
parede que ficava de frente para a poltrona. Isso era feito antes de recliná-la, caso o idoso
permitisse que deitasse o encosto.
Nessa estação foi possível observar a tolerância à posição supina, a força em cada uma
das mãos, a ação motora bilateral, a facilidade ou dificuldade para atingir o relaxamento, a
ocorrência ou não de movimentos involuntários, se segue a luz movimentando a cabeça, em
que nível se dava a percepção do movimento da lanterna e o autocontrole no sentido de
conseguir aquietar-se.
As áreas social e psicológica foram observadas durante a interação com o idoso e nas
atividades realizadas anteriormente.
As pontuações obtidas na avaliação do perfil sensorial constam nos gráficos, conforme
os critérios de Avaliação do Perfil Sensorial do instrumento proposto pela Dra. Amélia Nabais
Martins (Anexo I).

f) Oficinas
Foi oferecido a cada integrante a possibilidade de participar de três oficinas de arte, sendo:
artes visuais, movimento e música; artes cênicas e montagem da árvore de natal sensorial.
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Primeira oficina: artes visuais, movimento e música


Em formato de instalação contou com três estações. Nela trabalhou-se equilíbrio
corporal, propriocepção e orientação espacial.

Estação 1: atividade rítmica com instrumentos de percussão e canto à capela.

Após breve exploração dos instrumentos dispostos sobre a mesa (tambor, coquinhos e
caixa de madeira com baqueta) para verificar o manuseio e reconhecer os diferentes timbres, o
idoso foi convidado a escolher que instrumento iria utilizar. Propôs-se uma batida simples de
divisão binária em uníssono com o pesquisador para estabelecer um pulso regular e orgânico.
Os jogos rítmicos propostos, em sequência, foram:

- Revezamento de batidas com, juntamente verbalização, de modo que quem tocasse o primeiro
tempo falaria “um” e quem tocasse o segundo falaria “dois”.

- Realização de contraste do primeiro tempo forte e do segundo tempo fraco com apoio verbal
e sem o apoio, reforçando a batida do tempo forte no próprio instrumento.

- Manutenção regular do tempo binário no instrumento e ao mesmo tempo cantarolar refrãos de


marchinhas carnavalescas.

Aos idosos que realizaram esses jogos com facilidade foi introduzido o tempo ternário
com a mesma sequência de jogos rítmicos descritos finalizando com canções que pudessem ser
cantadas em tempo de valsa, tais como “Beijinho doce”, “Cabecinha no ombro” e “O cravo
brigou com a rosa”.

Estação 2: Dançar ou caminhar de forma rítmica sobre o plástico bolha.


Essa estação foi montada próxima à barra de apoio da sala. No caso de extrema
facilidade era ligada luminária giratória com seus reflexos sendo projetados à frente e ao chão
desafiando a estabilidade e o equilíbrio do participante.

Estação 3: Projeção de imagem criada com anilina colorida sobre no retroprojetor.


Essa atividade consistiu em aplicar sobre uma folha de transparência rígida posta sobre a
tela do retroprojetor gotas de anilina comestível diluída em água em diversas cores com a
utilização de conta gotas.
95

Segunda oficina: artes cênicas


A proposta foi criar uma atmosfera de passeio à praia utilizando elementos que
remetessem às sensações sensoriais produzidas nesse ambiente. Na parede projetou-se uma
imagem de areia indo em direção ao mar com céu azul, barcos e coqueiros. No chão, embaixo
da projeção, foram postos dois recipientes de plástico rígido, num contendo areia e no outro,
água levemente aquecida. Num dos cantos da sala foi posto um ventilador para simular a brisa
do mar e de frente para a imagem, duas cadeiras de praia com uma mesinha entre elas. Ao fundo
e em baixa intensidade havia uma caixa de som que reproduzia o som do vento e das ondas do
mar. Em cima da mesa havia água de coco, frutas picadas e biscoito de polvilho.

Primeiro momento: preparação da sacola de praia


A sala utilizada nessa instalação contava com um painel que permitia a utilização de
diversos ganchos. Neles foram pendurados vários objetos de praia como sacolas, chapéus,
boné, viseira, leque, chinelo (descartável), óculos (descartáveis), creme para pele de bebê para
simular protetor solar, toalhinhas (uma para cada idoso), um pandeiro e um tambor. Seis
bonecos do tipo fantoche foram posicionados em outra mesa que fora disposta como bancada
após os objetos de praia. Antes do idoso ser convidado a se assentar “em frente ao mar”, ocorreu
a preparação da sacola de praia que oferecia a cada participante a possibilidade de escolher o
que colocar dentro dela.

Segundo momento: vivência sensorial


Ao se assentarem na cadeira sugeriu-se tirarem os sapatos e calçar os chinelos
descartáveis, a usarem o chapéu, os óculos, a passar protetor solar, a beberem a água de coco e
comerem as frutas e o biscoito de polvilho. A areia e a água aquecida foram levadas pelo
pesquisador aos idosos que quiseram colocar seus pés. Esse segundo momento teve como
objetivo reavivar as sensações para que, a partir delas, se desenvolvesse uma improvisação
teatral com os fantoches

Terceiro momento: teatro


Foi-lhes proposto que escolhessem um boneco que os representasse. Antes de iniciar a
improvisação, o pesquisador perguntou se gostariam de criar um “faz de conta” com os
fantoches: um representado pelo pesquisador e outro pelo idoso. A ideia seria imaginá-los como
personagens que fariam um passeio à praia. Os diálogos foram criados apoiados nas ações
realizadas durante a vivência sensorial.
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Terceira oficina: montagem da árvore de natal sensorial


A sala foi preparada no formato de ateliê com mesa grande ao centro e duas cadeiras,
uma para o pesquisador e outra para os participantes. Os materiais utilizados foram dispostos
organizadamente e apresentados aos poucos. O objetivo foi oferecer a cada participante a
oportunidade de confeccionar sua própria árvore de Natal com “enfeites sensoriais”. Os
elementos escolhidos para compor a árvore foram os mesmos para todos os idosos, distribuídos
na mesma quantidade e postos numa sacola de tecido, de forma que não pudessem ser
visualizados e que o pesquisador pudesse controlar a retirada de cada um. Alguns enfeites
vinham em maior quantidade, como por exemplo, bolas, sinos, laçarotes, pompons e flores
cobertas com purpurina. As bases das árvores consistiam em cones feitos com papel cartão
verde com um acabamento na base feito de papel celofane colorido.

As sacolas foram oferecidas a cada idoso de uma forma específica levando em


consideração a performance apresentada nas atividades anteriores. Essa última proposta
consistiu, basicamente, em vivenciar o potencial sensorial de cada enfeite e, por meio deles,
compor individualmente cada árvore de natal. Foi necessário a utilização de cola quente que
era manuseada pelo pesquisador. Após explorarem sensorialmente cada elemento, indicavam
os locais que gostariam que fossem colados na árvore.

Enfeites sensoriais:

- Pompons com cheiro de mirra (utilizou-se óleo essencial para perfumar os pompons).

- Flores cobertas com purpurina de textura áspera

- Caixinhas embrulhadas representando presentes

- Pequenos tambores de plástico

- Sininhos

- Marimba com baquetas (com possibilidade de serem exploradas as notas musicais).

- Chocolate embrulhado em papel brilhante no formato de bengalinhas

- Estrela de Belém para ser posta no topo da árvore

- Velinha à bateria que poderia ser acesa.


97

6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS


Os relatórios foram analisados à luz do método biográfico. Sergio Vilas Boas (2008)
explica que o método de análise biográfica se distingue da metodologia das histórias de vida,
amplamente empregada nas ciências humanas, devido ao caráter coletivo desse modo de
análise. A análise biográfica, por sua vez, busca revelar personalidades únicas, desvendar
individualidades, investigar como o indivíduo viveu no seu tempo e como uma vida, em
particular, pode influenciar muitas (VILAS BOAS, 2008).
Este mesmo autor detecta seis características de natureza filosófica que permeiam a
narrativa biográfica, sendo elas: a descendência, na qual relativiza a herança familiar como
sendo explicativa dos seres; o fatalismo, considerando fictício qualquer personagem real vista
como predestinado vencedor; a extraordinariedade, que critica os preconceitos decorrentes da
crença em uma genialidade nata; a verdade, que desmistifica o desvelar de uma única verdade
nua e crua; a transparência, que permite ao pesquisador, nesse caso, também se revelar ao longo
de seus textos e o tempo, que valoriza o psicológico, de forma que a narrativa que não siga uma
ordem necessariamente linear e cronológica (VILAS BOAS, 2008).
Outra consideração feita por Vilas Boas (2008), que fundamenta a análise desta
pesquisa, tal qual norteia a análise biográfica, será relacionada ao tratamento dado às
informações obtidas. Não houve, em momento algum, o intuito de interpretar as ações ou os
indivíduos que compuseram a amostra, dada à complexidade dos mesmos que, em sua maioria,
enfrentam processos demenciais. O que houve foi o intuito de compreender a dinâmica de cada
um no contexto atual de suas vidas, considerando importante o que cada um deles destacou em
seus discursos e, em especial, aos relatos que foram repetidos diversas vezes. Para o autor,
interpretar seria o ato de dar sentido a alguém ou a algo, ao passo que a compreensão é um
processo subjetivo que envolve múltiplas consciências individuais. O propósito da busca de
uma compreensão do outro será construir com ele, significados compartilhados por meio de
suas experiências, destacando que o afeto e a empatia estarão sempre por trás do olhar que
observa suas ações e reflexões (VILAS BOAS, 2008).
A análise, portanto, se dará por meio da descrição. Para Yin (2016), a natureza da
descrição constitui um tipo importante de interpretação qualitativa, especialmente quando o
tema da pesquisa não foi abordado em estudos anteriores, como ocorre no presente trabalho
(YIN, 2016).
98

7. RESULTADOS

Antes de abordar os resultados desta pesquisa, penso ser de especial relevância salientar
fatores que determinaram o seu modo de execução, a apresentação dos resultados e a análise da
pesquisa. O primeiro e principal deles foi o fato desse trabalho ter se desenvolvido no auge da
pandemia da COVID-19, nos meses de novembro e dezembro de 2020, na cidade de São Paulo.
Como sabemos, São Paulo é a maior metrópole do país, contando atualmente com uma
estimativa de 12,39 milhões de habitantes (IBGE. 2020). A configuração urbana e o modo de
vida na cidade de São Paulo favoreceram a propagação da doença, de modo que, nesta época,
a incidência de contaminação e óbitos por COVID-19 ultrapassava, tanto em números
absolutos, como na porcentagem dos casos em relação ao total da população. Nesses meses
pude observar uma cidade funcionando em condições totalmente atípicas com sérios problemas
urbanos. O aumento do desemprego desfigurou a cidade, transformando-a em acampamento de
indivíduos desabrigados de seus lares. Moradores de rua se distribuíam por todos os cantos,
especialmente na região central, no caso, coincidindo com a localização do Centro-Dia
Pasárgada e imediações, locais nos quais residem os seus frequentadores. No percurso, via-se
que essas pessoas não tinham como realizar os cuidados mínimos de prevenção, de modo que
toda a população e neste caso, os familiares e responsáveis pelos idosos foram levados a
redobrar as medidas protetivas para que seus entes não fossem contaminados.

A responsabilidade do Centro-Dia Pasárgada em relação à prevenção da COVID-19 era


gigantesca. No primeiro contato que tive com a direção, fui informada acerca do novo formato
de funcionamento e todos os cuidados que deveria tomar, que me foram apresentados como
condição para que a pesquisa se viabilizasse. Tive o cuidado de não utilizar transporte público
em todos o período que me dediquei à realização das intervenções que foram descritas, assim
como evitei transitar na rua nos horários mais movimentados. No Centro Dia, os cuidados de
praxe eram realizados antes de adentrarmos às instalações, tais como, aferição de pressão
sanguínea, temperatura, desinfecção dos calçados, aplicação de álcool em gel etc. A utilização
de máscaras foi permanente e, a depender da dinâmica realizada, também o uso de luvas. A
desinfecção de todos os objetos utilizados e da sala eram realizadas a cada intervenção, assim
como buscou-se optar pela utilização de materiais descartáveis e pela substituição de tudo que
fosse manuseado ou entrasse em contato corporal direto com os idosos.
99

O contexto exposto exigiu que a população responsável aderisse com seriedade ao


isolamento. A região central da cidade de São Paulo não prima pela ocorrência de espaços que
contenham áreas verdes suficientemente amplas para que as pessoas possam ter um contato
mínimo com a natureza mantendo a distância de segurança. O Centro-Dia Pasárgada situa-se
numa região privilegiada, predominantemente residencial e está a menos de 50 metros de
distância do Parque da Aclimação, que é um espaço excelente para caminhadas, possuindo uma
vegetação belíssima. Entretanto, durante todo o período em que houve o trabalho de campo o
parque manteve-se fechado em função da pandemia. Os idosos, antes acostumados a realizar
passeios ao parque em grupo, tiveram que se adaptar a uma rotina mais solitária na companhia,
ora do pesquisador, ora do cuidador. Mesmo assim, o fato de estarem saindo de suas próprias
residências e frequentarem o Centro Dia, sendo que o mesmo permaneceu de portas fechadas
por um período por ordem do governo, pareceu ter sido um ganho imenso.

A seguir, os resultados serão apresentados de forma descritiva e, para uma melhor


compreensão do processo de cada um dos integrantes, serão apresentados em ordem
cronológica, por participante.

1. S.F.S – 89 anos

D.N. 01/08/1931

Brasileira filha de pais japoneses.

- queixa principal: memória

- possui deficiência auditiva; não usa aparelho

- boa linguagem e boa atenção

- dificuldade de compreensão em virtude do déficit auditivo

- motricidade reduzida / enrijecimento de membros

- boa associação visual/auditiva

- boa coordenação motora

- lucidez/ organização mental

- déficit visual
100

a. Questionário sociodemográfico

No primeiro contato demonstrou bom nível de compreensão, porém limitações relacionadas à


expressão, devido à acentuada deficiência auditiva (mesmo com utilização de prótese). A fala
apresentou episódios de anomia, comprometimento de memória recente e repetições. Quando
não compreende a fala do outro balança a cabeça afirmativamente como se tivesse
compreendido ou faz outros sinais verbais ou não verbais que dão a entender que compreendeu.
Quando expliquei que o trabalho envolveria arte disse: “não gosto de arte”, “isso não é pra
mim” (SIC). Ao responder sobre profissão, referiu ter trabalhado por mais de 20 anos como
costureira. Mais tarde soube pela coordenadora do Centro-dia que suas roupas são
confeccionadas até hoje por ela própria. Também soube, durante o desenrolar da pesquisa, que
ao voltar a frequentar o centro dia, apresentava sinais de depressão. Respondeu coerentemente
que é viúva, tem dois casais de filhos e reside com uma das filhas (nutricionista) que é casada
com um médico. Essa fala foi repetida durante toda a entrevista. Perguntava: "Qual é a sua
profissão”? Eu respondia que era “fonoaudióloga” e ela complementava dizendo: “minha filha
é nutricionista e o marido dela é médico” (SIC). Essa fala aparece mais de dez vezes.
Demonstrou estar interessada no trabalho que seria realizado por mim afirmando: “que coisa
interessante, quem pode ter essas ideias”? (SIC). Mostrei no notebook fotografias da instalação
sensorial realizada no Projeto Piloto (descrito no nosso capítulo 1) explicando que gostaria de
fazer a mesma coisa com eles. Observei que se manteve atenta durante toda a sessão e que
apresenta ótimo nível de atenção. Sobre o nível de escolaridade, respondeu que não sabe ler
nem escrever, mas que cursou até a quarta série primária. Nos contatos subsequentes, observei
que é alfabetizada e que possui um nível de exigência consigo mesma muito elevado. Afirmava
antes de todas as atividades propostas que não seria capaz de realizá-las. Sobre sua saúde não
referiu o uso de prótese auditiva, mas relatou ter sofrido muito com dores de cabeça. Disse que
alguém sugeriu a ela substituir os analgésicos por café, as dores cessaram e que mantém esse
hábito até hoje, apesar de não apreciar o sabor. Esse relato foi repetido diversas vezes.

b. Dinâmica das imagens

Não participou porque nos dias em que foi realizada ela não estava presente no centro dia (a
frequência da S.F.S era uma vez por semana).

c. Avaliação do perfil sensorial

Comprometimento auditivo significativo, percepção e discriminação olfativa apenas para


odores fortes e de fácil reconhecimento (café e alho), demonstrou resistência corporal não
101

relaxando na poltrona nem tolerando posição supina, ótima discriminação visual, tátil,
orientação espacial e desempenho cognitivo (compreendeu todas as instruções com facilidade).

d. Primeira oficina

Em um primeiro momento foi resistente à dinâmica com os instrumentos afirmando que não
conseguiria, mas depois realizou os jogos rítmicos com bastante facilidade. Caminhou sobre o
plástico bolha apoiada no corrimão de um lado e na bengala do outro pois apresenta
comprometimento na locomoção. Em todos os momentos manteve a fisionomia serena e alegre.
Durante a atividade com o retroprojetor dispôs as gotinhas de anilina de forma simétrica
buscando ocupar o espaço da transparência de modo equidistante. Demorou um pouco para
compreender que as imagens projetadas na parede eram as gotinhas de anilina que pingou.
Ficou muito admirada com o resultado dessa dinâmica. Referiu: “isso é artístico”, “como pode
alguém pensar numa coisa dessa”? (SIC). Após essa atividade observei que seu humor
melhorou bastante.

e. Segunda oficina

Deu a impressão de não se sentir à vontade no cenário da sacola de praia preenchendo-a com
poucos elementos. Recusou-se a tirar os sapatos, usar chapéu e óculos. Realizou a dramatização
com os bonecos respondendo apenas “sim ou não” às perguntas feitas pelo meu personagem.
Elogiou a imagem projetada na parede, o ventinho, quis ficar sentada bebendo água de coco e
comendo umas frutinhas. Entendi que o temperamento de S.F.S se adapta melhor a atividades
mais sóbrias.

f. Terceira oficina

S.F.S. fez a árvore de natal mais caprichada, simétrica e harmônica. Dispôs os enfeites
mantendo a mesma distância uns dos outros evitando colocar próximos elementos iguais.
Interagiu com todos os objetos que compunham a árvore, reconhecendo-os pelo tato antes de
retirá-los da sacola, olfato (pompons com cheiro) e paladar/olfato no caso do chocolate. Tocou
a marimba e ainda cantou “bate o sino/jingle bells”.

2. N.T.A. – 79 anos

D.N 21/03/1938

Brasileira filha de pais japoneses


102

- sociável, comunica-se bem (linguagem do dia a dia)

- déficit de memória recente

- anomia moderada

- gosta de conversar e possui bom repertório

- possui muita energia: gosta de estar sempre em movimento tendo alguma ocupação

- dificuldade para expressar seus sentimentos

- dificuldade para encontrar as palavras ao narrar fatos principalmente relacionados ao que


sente e pensa

- dificuldade de compreensão (para instruções, explicações, etc.)

a. Questionário sociodemográfico

Já no primeiro contato, N.T.A. demonstrou muita sociabilidade, alegria e simpatia


evidenciando o prazer que sente em estar em contato com as pessoas e conversar, mesmo diante
das limitações na linguagem presentes na doença de Alzheimer. Houve diversos episódios de
anomia, de perda de memória, utilização de jargões para preenchimento de turno (por exemplo,
fora de qualquer contexto ela dizia “eu gosto de conversar, gosto de me divertir, tem gente que
fica sentada com a cara fechada 'assim''' SIC), generalizações e repetições. Durante toda a
entrevista, as perguntas do questionário sociodemográfico foram respondidas com três ou
quatro relatos: que é brasileira filha de japoneses, tem setenta e poucos anos e nasceu no dia 21
de março, mas não se lembra o local e o ano; que tem um casal de filhos, mora com uma das
filhas e tem uma neta; que estudou numa escola japonesa até a quarta série; que sabe cantar
“Cabecinha no ombro” em japonês e realizar esse canto fazendo gestos delicados que remetem
às danças japonesas. Quando perguntei se ela gostaria de participar da minha pesquisa e que
seriam realizadas atividades que envolveriam as artes, ela se animou afirmando que gosta de
“todo tipo de artesanato” (SIC). Durante a entrevista cantou várias vezes “Cabecinha no ombro”
(encosta sua cabecinha no meu ombro e chora) em português e em japonês. Numa dessas vezes,
ao terminar a música, comecei a cantar logo em seguida “Beijinho doce”. Ela me acompanhou
demonstrando o conhecimento da melodia e da letra. Terminamos o horário destinado à
realização do questionário sociodemográfico cantando músicas que geralmente são conhecidas
pelos idosos dessa geração.

b. Dinâmica dos quadros


103

Escolheu a imagem da moça flutuando e ao explorarmos a figura como um todo, demonstrou


ótimo reconhecimento de cores, ótima orientação espacial relacionada à imagem e refinada
percepção de detalhes.

c. Perfil sensorial

Apresentou excelente desempenho nas áreas motora, visual, vestibular e proprioceptiva.


Apresentou pequena dificuldade no reconhecimento de texturas e timbres. O comprometimento
maior recaiu sobre a área olfativa. Afirmou ter sentido os cheiros não conseguindo identificá-
los. Não sei se isso realmente ocorreu, pois observei que não houve alteração significativa em
sua fisionomia ao inalar o conteúdo dos potinhos.

d. Primeira oficina

Realizou as três atividades com ótima desenvoltura. Observei certa dificuldade em manter a
atenção durante as instruções para cada atividade. Os tempos binários foram realizados com
muita facilidade e nos ternários encaixei “Cabecinha no ombro” em ritmo de valsa. No plástico
bolha ela quis dançar e disse que sente muita vontade de conhecer uma “balada”. Demonstrou
ter gostado muito da atividade com o retroprojetor e demorou um pouco para compreender que
a imagem projetada na parede era aquela que tinha feito na transparência.

e. Segunda oficina

Não funcionou com N.T.A. O fato de haver muitos elementos com possibilidade de escolha
desencadeou um estado de desorganização mental, euforia e hiperatividade. Ela não apenas quis
colocar tudo que viu dentro da sacola como passou todo o tempo em que permaneceu na
instalação perguntando se poderia levar as coisas para casa. O estado de euforia diminuiu um
pouco quando retirei o som das ondas do mar para reduzir a quantidade de estímulos e bebemos
a água de coco com o biscoito e as frutinhas. Mesmo assim saiu da sala querendo levar consigo
o chapéu.

f. Terceira oficina

Realizou bem, experimentou todos os enfeites sensoriais que, dessa vez tive o cuidado de
oferecer um por vez, para que ela os explorasse e indicasse o local em que deveriam ser colados.
Perguntou várias vezes se poderia levar para casa, eu respondia que sim, ela se esquecia e
perguntava novamente. Ficou muito feliz com o resultado e mais ainda por poder levar a árvore
para casa.
104

3. N.G. – 96 anos

D.N 25/12/1925

Brasileira filha de italianos.

- perda da memória recente

- tontura

- saudosismo exacerbado

- gosta de atividades alegres

- dificuldades na orientação espacial

- deficiência auditiva

- na fisioterapia o enfoque é mobilidade, coordenação, funcionalidade de membros e


alongamento

- facilidade com linguagem, compreensão e atenção

- dificuldade em manter o equilíbrio do corpo

- muito expressiva, gesticula bastante, sociável

- foi a “atriz protagonista” na fotonovela que fizeram (o texto da fotonovela foi uma construção
conjunta de todos os idosos. Mais tarde contou à coordenadora do centro-dia que o enredo se
tratava da história de sua avó).

a. Questionário sociodemográfico

N. G. soube responder sua data de nascimento e contou diversas vezes durante a entrevista que
seu nome é Natalina por ter nascido no dia de Natal. No final de todas as repetições
acrescentava: “coitada da minha mãe que bem no dia de natal estava tendo filho” (SIC).
Afirmou ter dois filhos (um casal) e residir com um deles. Disse que sabe ler e escrever, mas
não se lembrou até que “ano” foi para a escola. Como profissão, afirmou ter sido tecelã em uma
fábrica de tecidos. Tem consciência da própria deficiência auditiva, mas até então se recusava
a usar a prótese. Conheceu Inezita Barroso e demonstrou que esse evento foi marcante na sua
vida, pois diversas vezes interrompeu a entrevista para cantar “Marvada pinga”. Outro evento
que relatou várias vezes referia-se à sua infância afirmando que morou na roça, colhia café
(gestualizando como se colhe), contou que criavam porcos e que era seu pai quem matava o
105

porco. “Uma delícia comer o porco na hora” (SIC). Enfatizou o fato de o pai fazer um salame
maravilhoso “por causa do tempero, ele punha muito alho”. Recordou-se que os salames
ficavam dependurados como em um varal e que se divertia indo lá no meio da noite para “roubar
e comer escondido” (SIC). Prefere as comidas fortes e salgadas. Repetiu muitas vezes “comida
boa é a italiana: polenta com molho ao sugo, polenta com leite, rabada com polenta. Polenta
boa pra fritar tem que ser feita no dia anterior pra não ficar molengona” (SIC). Reclamou que
no centro dia não servem torresmo. Se casou com um italiano, ótimo pai, “severo como tem
que ser” (SIC). “As mulheres de hoje são muito fraquinhas: gravidez, no meu tempo, não tinha
esse monte de frescura. Essas grávidas parecem que vão quebrar. Conheci uma grávida que saiu
do tanque para ter filho e no dia seguinte já tinha voltado pro tanque” (SIC). Essas citações
consistiram no conteúdo da entrevista que era relatado diversas vezes, com as mesmas palavras.
De vez em quando o discurso era interrompido para me perguntar se eu sabia que ela conheceu
Inezita Barroso e cantar “Marvada pinga”, recordando-se de grande parte da extensa letra e da
melodia da música. “Sabia que eu conheci a Inezita Barroso”? (SIC). Antes de deixar a sala
afirmou amar a vida e achar uma pena que tudo passe muito rápido. Complementei: “como uma
viagem boa que a gente tem que aproveitar”? E ela: “pena que essa viagem acaba” (SIC).

b. Dinâmica dos quadros

Escolheu o quadro das crianças brincando na praia, observou alguns detalhes da pintura,
reconheceu o ambiente e repetia “olha que gracinha, mas que coisinha mais linda, olha as
dobrinhas...” (SIC). Nesse dia relatou que seu sonho era ter sido avó, mas que não teve nenhum
neto.

c. Instalação perfil sensorial

Apesar do acentuado declínio da memória recente, N.G. demonstrou ótimo nível de atenção e
compreensão. Os sistemas sensoriais mais comprometidos foram: auditivo pela recusa em usar
a prótese, olfativo, demonstrando dificuldade tanto na percepção como no reconhecimento dos
aromas e vestibular, evidenciando instabilidade na marcha, desequilíbrio e tontura.

d. Primeira oficina

Compreendeu o jogo rítmico, mas sentiu muita dificuldade para manter o andamento da batida.
Não encontramos a sua batida orgânica, ou seja, um tempo no qual mantivesse as batidas com
periodicidade. Entretanto, houve empenho de sua parte e em alguns momentos conseguimos
realizar tempos em uníssono. Demonstrou musicalidade assimilando com facilidade os tempos
106

binários e ternários. Caminhou sobre o plástico bolha apoiada na barra e gostou de sentir as
bolinhas estourarem ao pisar nelas. Adorou a dinâmica da anilina no retroprojetor. No início já
compreendeu que a imagem projetada era o reflexo das gotas sobre a transparência.

e. Segunda oficina

Realizou tudo que lhe foi sugerido com incrível desenvoltura e plena compreensão de todas as
ações. N.G. demonstrou extrema abertura para o lúdico. Montou a sacola, quis usar os adereços,
experimentar água de coco, frutas e biscoito. Criou personagem, desenvolveu enredo com
coerência, temporalidade (começo, meio e fim), colocou os pés na água acompanhando os
acontecimentos fictícios, ou seja, no momento em que as personagens decidiram caminhar na
praia, seguindo o desenrolar da trama. Às vezes minha personagem perguntava algo, ela se
esquecia que a pergunta era dirigida à personagem e respondia por si, mas bastava lembrar que
quem estava conversando era a “Mariazinha” (personagem que ela criou) e não ela, que
imediatamente retomava o discurso na fala da personagem. Divertiu-se muito.

f. Terceira oficina

Explorei o tato deixando todos os enfeites repetidos dentro da sacola e um de cada sobre a mesa,
para que ela os sentisse no tato e os relacionasse visualmente dizendo qual deles seria. Ela
acertou todos. Com os olhos vendados, conseguiu perceber, mas não identificou o cheiro do
chocolate. Explorou os sons da marimba e cantamos “Bate o sino pequenino” (a única música
que saía relativamente afinada no brinquedo). Encerrou a sessão encantada com a árvore. Me
perguntou se eu sabia que ela conheceu a Inezita Barroso e cantou “Marvada pinga”.

4. Z.S. – 87 anos

D.N. 30/08/1933

Brasileiro natural de Itaiaçu – SP

Informações obtidas por meio de relatórios e documentos:

- sofreu AVE afetando visão e audição do lado esquerdo

- déficit de memória recente

- desorientação espacial

- bom desempenho cognitivo


107

- dificuldade nas atividades artísticas

- gosta de falar, fala muito, solicita atenção

- interage bem com os outros frequentadores e funcionários do centro-dia

- memória retrógrada preservada

- dificuldade de compreensão (cognitiva)

- interrompe atividades para cantar “Saudades de Matão”

- é galanteador, corteja as mulheres que acha bonitas e paquera algumas das funcionárias, mas
não chega a ser desrespeitoso nem inconveniente

a. Questionário sociodemográfico

Antes de iniciar a entrevista, Z.S. demonstrou insegurança, perguntou se a atividade seria difícil
e antes que eu a explicasse, referiu que não iria conseguir realizá-la. Logo deu a entender que
seu receio era o medo de precisar escrever alguma coisa, por ser analfabeto. Falou sem parar e
não prestou atenção naquilo que lhe era perguntado demonstrando extrema necessidade de
receber aprovação e atenção. Repetiu várias vezes: “meu nome é ‘Z.S.’, assim que se pronuncia.
Nunca conheci outro Z.S. (enfatizando o acento forte em parte do nome), meu nome é
exclusivo, ninguém mais se chama assim” (SIC). Falou o tempo todo sobre sua vida
independentemente das perguntas que eram feitas. Afirmou várias vezes ter prosperado como
comerciante. Falou muito sobre dinheiro (compra, venda, imóveis, carro). Referiu ser viúvo e
ter dois filhos homens. Disse que mora com os dois, ficando cada semana na casa de um. Disse
que os dois filhos são bons para ele, cada um do seu jeito e que as duas casas são muito boas,
que tem o quarto dele em ambas. “Meus filhos me levam e me buscam aqui do centro dia. Gosto
de vir apreciando a paisagem. Gosto muito das minhas noras porque elas me tratam muito bem.
As casas são grandes, têm jardim, piscina e ficam uma do lado da outra” (SIC). Soube pela
coordenadora do Centro-dia que um dos filhos é homossexual, que ele não consegue processar
bem esse fato e que não existem duas noras. “Em casa gosto de fazer nada porque já trabalhei
muito na vida” (SIC). Decidiu que vai aprender a ler e escrever e pede às cuidadoras que o
ensinem e mandem “dever de casa” para ele treinar. Retomou muitas vezes o assunto da
alfabetização. Deixou transparecer que detesta ser analfabeto e que esse fato lhe traz
sentimentos de inferioridade. Observei que busca compensar o analfabetismo incluindo na fala
relatos que deem a entender que é rico.
108

b. Dinâmica das telas

Ficou deslumbrado com a tela da moça que parece flutuar. Várias vezes disse “olha que coisa
linda, parece que ela está assim... dançando no céu” (SIC). Quando referi que aquilo é uma obra
de arte porque despertou sua admiração, respondeu que “arte é uma coisa muito importante,
muito grande e eu não entendo nada disso” (SIC). Sobre música, afirmou gostar de música
sertaneja, Zezé di Camargo e Luciano e cantou várias vezes “Saudades de Matão”, música
difícil de ser cantada por exigir boa afinação que ele demonstrou ter.

c. Instalação do perfil sensorial

Realizou com desenvoltura as atividades que envolveram desempenho visual, motor e


proprioceptivo. O olfato apresentou-se bastante comprometido, demonstrou desorientação
espacial no final da sessão ao sair da sala, não conseguindo identificar a própria localização:
não sabia para que lado ir. Fazendo uso da prótese auditiva conseguiu localizar os sons e
identificar timbres. Achou que a música utilizada no final parecia “música de enterro” (SIC).

d. Primeira oficina

Realizou todos os jogos rítmicos propostos mantendo o andamento. Compreendeu os tempos


binários e ternários: “Cabecinha no ombro” e “Saudades de Matão” são valsinhas e a marcação
do tempo é ternária. Caminhou sobre o plástico bolha com facilidade. Realizou a atividade do
retroprojetor consciente desde o início que a projeção na parede era o reflexo do que era feito
na transparência.

e. Segunda oficina

Divertiu-se muito. Fez a seguinte observação: “mas aqui está muito melhor que na praia! A
praia é cheia de gente, um calorão, quando chove falta água...” (SIC). Quis realizar todas as
ações propostas. Criou personagem, desenvolveu trama fictícia e realizou as falas com
criatividade e facilidade para improvisar no contexto da trama. Foi incisivo ao querer conquistar
meu personagem fazendo elogios que davam a entender que eram para mim, mas foi possível
desconversar, fazer piada e contornar a situação com facilidade.

f. Terceira oficina

Montou sua árvore de natal com muito pouca ajuda, demonstrou interesse pela marimba e
identificou vários enfeites pelo tato tendo à frente o modelo de cada um.
109

5. J.B. – 85 anos

D.N 25/04/1935

Informações obtidas por meio de relatórios e documentos:

- Teve AVE com sequelas neurológicas

- Motricidade lenta

- Dificuldade para falar

- Dificuldade para concentrar e manter a atenção

- Raciocínio lento

- Toma 3 tipos de remédios psiquiátricos

- É homossexual e dedicou sua vida aos seus “dois maridos” (M.B. e F.B.). Com Fernando
relaciona-se há mais de 60 anos e com Milton há mais de 30 anos. Cada um dos três reside em
sua própria residência e os dois maridos sempre souberam um do outro.

- Agora durante a pandemia os dois maridos resolveram brigar na justiça por herança, sendo
que o Sr. João já tinha feito o testamento e isso tem o deixado muito triste.

- Encaminhamento para atividades sensoriais

- Criativo e sincero

- Bom raciocínio, memória e compreensão

- Lentidão para responder como se demorasse um tempo para a informação chegar ao cérebro
e ser interpretada

- Imenso repertório cultural (foi professor)

- Gosto refinado, sensibilidade apurada, inteligente. Só ouve música clássica.

a. Questionário sociodemográfico

J.B. entrou na sala acompanhado pela cuidadora e logo em seguida a cuidadora saiu.
Demonstrou resistência e desconfiança por meio da fisionomia. Antes que eu iniciasse minha
fala, seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Olhou o gravador e supus não ter gostado de
haver um gravador sobre a mesa, não entendendo que estava desligado. Liguei e desliguei
mostrando-lhe que quando está ligado a luz acende, guardei o gravador no estojo e coloquei
110

dentro da minha bolsa. A tristeza no seu olhar era impactante. Disse que estava achando sua
carinha muito triste e perguntei se havia acontecido alguma coisa. Ele respondeu afirmando:
“estou com um problema”. As sequelas do AVE comprometeram muito sua fala retardando o
tempo de processamento da informação e da resposta. Ao perceber minha dificuldade para
compreender sua fala, baixou os olhos, a cabeça e encolheu os ombros. Busquei estabelecer
contato visual e disse: Sr. J.B., o senhor acha que o seu problema tem solução? Ele respondeu:
“tem solução”. Complementei afirmando que também acho que os problemas podem ser
resolvidos. Notei que houve uma tentativa em expor o que estava acontecendo, mas para mim
estava realmente muito difícil compreender o que ele dizia pela demora nas respostas,
articulação imprecisa e volume muito baixo. Seus olhos novamente se encheram de lágrimas.
Coloquei luvas e perguntei se poderia segurar suas mãos. Ele balançou a cabeça afirmando que
sim. Fiz um carinho nas suas mãos e disse que, apesar de não estar entendendo direito o que ele
estava falando, tinha compreendido que ele estava passando por um momento muito difícil e
que eu estava do lado dele. Ficamos praticamente toda a sessão de mãos dadas e ele
correspondeu ao carinho movimentando o dedo polegar acariciando minha mão. Falei que a
Vanessa me disse que ele gosta muito de ouvir música clássica e que eu também gosto.
Perguntei se ele gostaria de ouvir uma música bem bonita e ele respondeu que sim. Coloquei
“Clair de Lune” de C. Debussy no celular e segurei bem perto dele, porque naquele dia não
havia planejado utilizar caixa de som. Tive a impressão de que a música transmitiu o alento que
ele estava precisando e ele expressou uma fisionomia mais serena. Nesse momento entrou a
cuidadora avisando que iria servir o almoço dele na sala em que estávamos. Ele abriu um sorriso
e a cuidadora disse que achou ótimo vê-lo com a carinha melhor porque tem sofrido muito nos
últimos tempos. Ao deixar a sala eu disse: “Sr. J.B., bom almoço. Logo, logo nos vemos”. Ele,
como professor, me corrigiu: “logo nos ve-re-mos”. Achei muito positiva a correção e entendi
como uma afirmação da própria identidade.

b. Instalação do perfil sensorial

Não quis realizar. Ao sentar-se na cadeira começou a chorar muito. Conduzi-o à poltrona
reclinável que havia na sala, reduzi a intensidade e retirei o movimento das luzes, deixando
apenas uma luz suave que mudava de cor lentamente, como se uma cor se transformasse em
outra, em sequência cromática. Coloquei as luvas e massageei suas mãos, braços e pés. Nesse
dia havia caixa de som. Inicialmente escolhi músicas instrumentais com fundo sonoro de água
e depois temas de filmes como “A bela e a fera”, o dueto final de “O fantasma da ópera” e “A
thousand years”, todas executadas de forma instrumental. Me transmitiu que estava sentindo
111

necessidade de ser acolhido com delicadeza. Terminou a sessão com fisionomia serena e sorriu
quando a cuidadora chegou para almoçarem.

c. Primeira oficina

Também não quis realizar as atividades e foi direto para a poltrona reclinável. Chorou bem
menos que na sessão anterior. O repertório desse dia foi Bach, Mozart e Vivaldi. Escolhi
melodias mais vibrantes na intenção de trazer energia por meio da atmosfera musical. Utilizei
massageadores manuais e elétricos para proporcionar qualidades diferentes de estímulos táteis.

d. Segunda oficina

Entrou na sala mais animado, montou a sacola, gostou do cenário de praia, do barulho do mar,
nesse dia observei que leva tudo que toca à boca. Ao comer o que havia sobre a mesinha
apresentou comportamento compulsivo e comeu tudo com muita rapidez. Concordou em
colocar os pés na água morna e deixou transparecer que essa atividade trouxe relaxamento.
Demonstrou necessitar contato físico, pois usei o hidratante para bebês como se fosse o protetor
solar e ele quis prolongar a ação esticando os braços e as pernas. Foi o primeiro dia que não
chorou e finalizou a sessão demonstrando satisfação e presença no aqui e agora.

e. Terceira oficina

Demonstrou interagir bem diante de vários estímulos, apresentou harmonia na disposição dos
elementos visuais, não identificou o chocolate pelo cheiro, mas comeu todos (eram três
bengalinhas para cada árvore), não se interessou pela marimba, mas finalizou a sessão sorrindo
e satisfeito com o resultado e por poder levar o enfeite para sua casa.

6. R.L.B. – 73 anos

D.N. 08/07/1947

- Doença de Parkinson

- Adora artesanato, música, artes, tecnologia, fisioterapia

- Vivenciou muitos eventos traumáticos

- Apresenta alterações emocionais

- Facilidade para expressar pensamentos


112

- Apresenta confusão nas atividades de estimulação cognitiva

- Déficit de memória recente

- Confunde-se com os objetos que são dela e os que são dos outros

- Possui boa narrativa

- Dificuldade nas atividades manuais por causa da rigidez

- Confunde lateralidade

a. Questionário sociodemográfico

R.L.B. foi recebida por mim na sala do ateliê. Chegou bastante reservada, desconfiada e falando
muito baixo, quase não dava para entender. Inicialmente expliquei o trabalho que seria feito e
iniciei a sessão com as perguntas do questionário sociodemográfico. Respondeu nome
completo, data de nascimento, naturalidade (SP), estado civil (viúva), filhos (3 filhas). Falou
que terminou o colegial e imediatamente se casou aos 18 anos. Tem uma filha casada comissária
de bordo que não tem filhos por causa da profissão. Não tem netos. Disse que a saúde está boa,
que tem dormido bem, que já tomou remédio para dormir, mas não toma mais. Referiu sempre
ter se tratado com homeopatia. Ao perguntar o nome das filhas respondeu que as filhas não
gostam que ela diga aos outros o nome delas. Assiste ao noticiário porque o marido a acostumou
assim. Gosta de vir ao centro dia para fazer fisioterapia, se exercitar. Gosta de ficar sozinha e
não entende quem reclama de solidão. Mora com a filha. Ressaltou que o marido a instruía a
não falar sobre sua própria vida e se negou a responder as demais perguntas. Busquei deixar
claro que minha pesquisa abordaria os sentidos e ela citou os cinco sentidos principais.
Novamente referiu não querer falar sobre si porque o marido não gostava porque as pessoas
iriam se aproveitar dela financeiramente. “Meu marido falava: não fala da sua vida porque tem
perigo, eu tenho tudo na minha vida, na minha bolsa tem seguro saúde, eu vou na psicóloga do
seguro saúde, é que tem uma certa segurança que ele deixou pra nós, é perigoso, é tanta coisa
que pode acontecer, não se fala da própria vida, tem que pensar que qualquer um pode ser
inimigo” (SIC). “Minhas filhas também não gostam, não é pra dar endereço, a senhora diz que
não mora aqui porque é demais, as pessoas incomodam muito, querem saber tudo da vida da
gente. Eu venho aqui pra almoçar uma vez por semana porque tenho que esperar a faxineira”
(SIC). Perguntei se gosta da comida do centro dia. “Gosto sim, é muito boa e as moças são tão
boazinhas” (SIC). Repetiu não querer falar sobre si porque as pessoas usam as informações para
113

roubar seu dinheiro. Associei ao delírio persecutório, pois soube que comumente confunde as
suas coisas com as coisas dos outros e acha que está sendo roubada.

b. Dinâmica dos quadros

Ao mostrar as seis imagens ela se impressionou com a imagem do casal sério e perguntou sobre
o homem: “esse aqui morreu”? Respondi que não sabia e ela começou a narrar uma história
como se conhecesse o casal. No quadro das crianças na praia perguntou: “elas têm problema”?
Respondi que não sabia, mas que achava que só estavam brincando na praia. Perguntei qual dos
quadros chamou mais a sua atenção. “O das crianças, elas têm o rostinho redondinho, são tão
bonitinhas” (SIC). A Sra. Gosta de praia? “Acho uma delícia pôr o pé na areia e sentir aquele
ventinho. Eu adoro criança, queria muito ter netos, mas minha filha não quer ter filhos porque
agora está nos Estados Unidos” (SIC). Qual dos quadros a senhora não gostou? Respondeu que
todas as imagens eram bonitas, mas achou o casal com a cara estranha. Quando perguntei se ela
achava que eram felizes não soube responder. Ainda sobre esse quadro, afirmou ter achado
“pesado” (SIC). “A cara da mulher alivia um pouco, mas é assustador” (SIC). Logo após ter
dito isso foi se levantando e pedindo desculpas porque estava na hora de ir, porque tinha que
almoçar, por causa da faxineira, porque não pode atrasar a filha que viria buscá-la.

c. Instalação perfil sensorial

As áreas olfativa, visual e tátil apresentaram-se íntegras, com a ressalva de não permitir contato
corporal. O olfato apresentou-se muito prejudicado. Reagiu aos aromas mais fortes, mas não
identificou nenhum deles. Na área motora, devido à rigidez característica da doença de
Parkinson, apresentou instabilidade no equilíbrio, dificuldade em relaxar e incapacidade para
permanecer na posição supina. A força e a mobilidade dos membros superiores preservada.
Quanto à área social e psicológica, durante a avaliação apresentou bons resultados, contudo,
em situações corriqueiras é comum entrar em conflito com as pessoas, sentir-se perseguida,
achar que está sendo lesada sem motivo aparente e irritar-se com facilidade.

d. Primeira oficina

Realizou todas as atividades propostas sem demonstrar dificuldade e com bom nível de
compreensão. Suponho que a atividade rítmica tenha favorecido o equilíbrio e melhorado a
estabilidade da marcha pois caminhou sobre o plástico bolha melhor do que normalmente
caminha. Realizou bem a dinâmica do retroprojetor demorando um pouco para associar suas
ações ao reflexo projetado.
114

e. Segunda oficina

Aderiu de bom grado à proposta do “faz de conta”, explorou os elementos da instalação, porém
não foi capaz de dissociar a personagem de si mesma.

f. Terceira oficina

Montou a própria árvore demonstrando certa confusão na disposição dos enfeites, quis colar
uns em cima dos outros e evidenciou desorientação espacial.

7. S.L. – 95 anos

D.N. 01/12/1925

S.L. é um dos frequentadores mais longevos do Centro Dia. No dia que tive acesso às pastas
dos frequentadores não constava a do Sr. Luiz e posteriormente, não tive como ter acesso a ela.
S.L. era sempre tratado como “Doutor” por todos no Centro Dia. Foi desembargador, residiu
em diversos países e possuía fluência em vários idiomas. De gosto refinado, S.L. aprecia óperas,
música erudita e as artes de forma geral. Foi diagnosticado com Doença de Alzheimer que se
encontra em fase razoavelmente avançada com perceptível declínio das capacidades funcionais.
Demonstrou habilidade em camuflar a perda cognitiva por ser bastante sociável, fazer uso de
generalizações e possuir linguagem corporal que leva o interlocutor a achar que está sendo
compreendido. Gosta de conversar, de estar em contato com as pessoas, é simpático, educado
e cordial.

a. Questionário sociodemográfico

Preparei a entrevista no ateliê do centro dia, de modo que conversaríamos um de frente para o
outro separados por uma mesa. O Sr. S.L. foi desembargador e mantém uma desenvoltura social
admirável, apesar de apresentar demência senil bastante avançada. Ao entrar na sala, pegou a
cadeira que estava posta ao lado da sua, tentando colocá-la em cima da mesa, entre mim e ele.
Eu o ajudei e a cadeira permaneceu em cima da mesa entre nós durante toda a entrevista. As
ferragens que se cruzam embaixo do assento comprometiam a visualização um do outro, mas
realizamos o questionário assim mesmo. Perguntei o porquê de querer colocá-la ali e ele
respondeu que era para a entrevista “ficar mais interessante” (SIC). Afirmei de forma humorada
que nunca havia entrevistado alguém daquela forma e que para mim aquele momento seria
115

inesquecível. Ele complementou minha fala afirmando que o intuito era aquele mesmo: “ser
inesquecível” (SIC). Iniciei o contato me apresentando e em seguida expliquei como seriam as
intervenções. Perguntei se ele estaria de acordo em participar da pesquisa e ele disse que sim.
O Sr. S.L. apresenta comprometimento cognitivo acentuado, sua fala não faz sentido algum,
mas demonstra uma extrema habilidade em disfarçar suas limitações por meio de
generalizações. Estabelece contato visual com o interlocutor como se compreendesse todas as
informações, balança a cabeça de modo afirmativo e repete as últimas palavras que ouviu como
se expressasse a própria opinião. Nos episódios de anomia encaixa na fala “tá tá tá”. Dentre os
jargões que utiliza para manter a interação destacam-se “foi assim que eles decidiram, fazer o
quê”, “isso é difícil”, “então fomos e agora está assim”, “são muitas coisas”, “por isso que está
assim nessa coisa”, “habitualmente é no fim” e “tudo nessa faixa”. Por meio dessas falas ele
conversa sobre qualquer assunto. Das perguntas do questionário respondeu seu nome,
nacionalidade brasileira, estado civil casado, uma filha e profissão advogado. Disse que sua
saúde está “cada vez melhor” (SIC), que come e dorme muito bem. Sobre a idade perguntei:
“quantos anos o Sr. tem”? Sua resposta: “muitos”.

b. Dinâmica dos quadros

Na tela que representa um casal sério ele disse: “sabia que eles ficaram ruim no mês passado”?
Respondi: “Não. Por quê? Ele disse: “É. Só eles que ficaram. Eu também não sabia. Começou
essa história e isso não funcionou. Mas muita coisa não foi feita. Olha, as coisas foram
apreciadas, isso, aquilo. Devo fazê-lo ou deixar de fazer, sabe? Então foi isso. Tem mais coisa
pra fazer com menos coisa do que disse. Então eu tô assim” (SIC). Complementei: “mas o Sr.
está tão bem”! Ele: “eu acho que estou. Esperando não sair disso”. Perguntei qual das imagens
ele tinha gostado mais. Ele falou: “deixa eu ver” e ficou um tempo olhando. “Essa aqui foca,
né? Mas em geral, isso aqui tem muita coisa que precisa mentalizar. Não sei por quê. Tem que
fazer isso e aquilo, então eu já fico meio sem ação” (SIC). Voltou à tela do casal sério e disse:
“essas pessoas não têm família”. Frequentemente se esquece ou nem saiba sobre o que está
falando, mas possui uma habilidade em manter o diálogo que chama a atenção. Afirmou gostar
de ouvir ópera e perguntei se havia alguma preferida. Ele respondeu: “isso é um acervo...”,
“exato”, “não sei por que”, “nada foi feito”, “disseram que seria”, “e agora eu tô nisso” e “tá tá
tá”. Perguntei se ele gostava de Puccini, da ópera Turandot e ele ficou animado demonstrando
familiaridade com o tema. Ao encerrar a entrevista perguntei se poderia contar com ele.
Respondeu que sim e acrescentou: “Semana que vem, né? Sem chateação” (SIC).

c. Instalação perfil sensorial


116

Basicamente apresentou apenas reação aos estímulos, exceto aos olfativos. Percebeu e reagiu a
alguns dos estímulos apresentados, porém não foi capaz de identificá-los e nomeá-los. Levando
em consideração a idade avançada, obteve bom desempenho vestibular e proprioceptivo.
Apresenta limitações motoras e dificuldades para locomoção. Demonstrou certa intolerância ao
toque, resistência ao relaxamento e à posição supina. Apresentou rigidez corporal.

d. Primeira oficina

Realizou apenas a dinâmica do retroprojetor, coloquei como fundo musical a ária de ópera
“Nessum dorma” cantada por Luciano Pavarotti, mas ele não deu a mínima bola para isso.

e. Segunda oficina

Participou, escolheu os itens da sacola, quis usar o chapéu e os óculos, não quis beber a água
de coco porque coloquei no copo e ele não gostou do aspecto turvo da água. Comeu as frutas e
ficou conversando como se estivesse na praia (ele mesmo, não criou personagem). Não realizou
o teatro com os fantoches.

f. Terceira oficina

Quis levar tudo à boca, fui dando os enfeites um a um e perguntando “posso colar esse aqui,
onde fica melhor”? Ele dispôs os enfeites de forma aleatória, mas achou bonito e ficou feliz
com o resultado.

8. S.H. – 85 anos

D.N. 1/12/1935

- Foi diagnosticada com esquizofrenia

- Faz uso de medicação e não tem tido mais surtos.

- Foi empregada doméstica na adolescência em casa de pessoas estrangeiras ricas.

- Quando a família voltou para o país de origem, já se encontrando na mocidade, acredita-se


que teve um surto de esquizofrenia.

- Após tal surto tornou-se moradora de rua e assim viveu por muitos anos.

- Foi levada ao psiquiatra, recebeu diagnóstico de esquizofrenia e desde então tem sido
medicada.
117

- Dorme cedo logo após tomar a medicação

- Tem episódios de ligeira desorientação sempre no final do dia.

a. Questionário sociodemográfico

Respondeu adequadamente todas as questões evitando relatar eventos de sua vida. Apresentou
fala coerente, riqueza de vocabulário, atenção ao interlocutor, raciocínio lógico e boa memória.
Manteve-se reservada buscando responder exclusivamente o que lhe era perguntado sem se
aprofundar nos temas.

b. Dinâmica das telas

Observou com atenção todas as telas e fez comentários coerentes sobre a atmosfera de cada
imagem, cores, elementos e personagens. Escolheu como preferida a tela das crianças. Várias
vezes abordou a questão de não ter se casado, nunca ter namorado e não ter filhos. Disse que,
de todas as cores, a que mais gosta é o branco por ser “uma cor eclesiástica” (SIC).

c. Instalação perfil sensorial

A área visual está preservada e suponho que o fato de evitar o contato visual não esteja
relacionado à visão, mas sim ao quadro de esquizofrenia. Na área auditiva, o não
reconhecimento dos sons me deixou em dúvida. Os instrumentos foram apresentados um por
um anteriormente com seus respectivos timbres que são facilmente reconhecíveis. Não sei se,
de fato, não os reconhece ou se sentiu insegura para responder. Em alguns momentos pareceu
se sentir desconfortável, talvez por estar num ambiente completamente diferente de tudo que já
tinha visto. Na área tátil, chamou a atenção o fato de, apesar de reconhecer todas as texturas,
não haver mudança de expressão facial nem demonstração de surpresa ao percepcionar texturas
contrastantes. Não respondeu a nada relacionado ao olfato. As áreas motora, proprioceptiva e
vestibular estão preservadas, entretanto, deve-se considerar que o quadro de esquizofrenia é um
transtorno mental, que se reflete nas áreas emocional e social.

d. Primeira oficina

Demonstrou precisão rítmica, integridade no equilíbrio e regularidade na marcha ao caminhar


sobre o plástico bolha. Na dinâmica do retroprojetou pingou as gotas de anilina enfileiradas.
Fez algumas filas de gotinhas da mesma cor. Quando fui mostrar que se pingasse duas gotas,
uma de cada cor por cima uma da outra, surgiria uma terceira tonalidade a sua reação foi não
118

gostar da minha interferência no seu trabalho, como se eu estivesse atrapalhado a sua


organização.

e. Segunda oficina

Realizou plenamente todas as propostas, se divertiu, experimentou todos os elementos


sensoriais, foi a única que quis pisar na areia, criou personagem e desenvolveu trama coerente
na personagem, com início, meio e fim. Ficou muito alegre. Até então não a tinha visto sorrir.

f. Terceira oficina

Não apresentou dificuldade em identificar pelo tato os enfeites tendo à frente o suporte visual.
Montou a árvore agrupando e enfileirando enfeites iguais. Quis guardar os chocolates para
comer em casa e saiu bastante satisfeita com o resultado do seu trabalho.
119

8. ARTIGO – METODOLOGIAS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA EM IDOSOS FREQUENTADORES DE


UM CENTRO DIA: UMA ANÁLISE BIOGRÁFICA

Este artigo será submetido a revista ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE O


ENVELHECIMENTO, após a apreciação da banca, conforme as orientações:
https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/about/submissions#authorGuidelines

Marcia Degani1
Andrezza Veridyanna Cardoso2
Isabelle Patriciá Freitas Soares Chariglione3

Resumo
O processo de envelhecimento traz consigo uma série de desconfortos, sendo que
um deles é provocado pela redução da acuidade sensorial. Nessa perspectiva, todas
as relações estabelecidas entre os indivíduos e o mundo ocorrem através das funções
sensoriais. O objetivo deste estudo foi analisar diferentes metodologias de expressões
artísticas e suas relações com o fazer artístico e com o desenvolvimento de potenciais
perceptivos em idosos. Optou-se por uma metodologia de natureza qualitativa, não
experimental, exploratória, descritiva e transversal. A amostra de conveniência foi
composta por oito idosos, com média de idade igual a 86 anos (DP= ± 7,66).
participantes de um Centro-Dia para idosos. Os idosos foram avaliados por
instrumentos de caracterização e desenvolvimento para a descrição da amostra e
instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento dos idosos no decorrer do
tempo (avaliação sensorial). O procedimento metodológico foi composto por seis
etapas: a) recrutamento; b) levantamento de informações sobre os participantes; c)
entrevista inicial; d) dinâmica de introdução à apreciação artística; e) avaliação do
perfil sensorial; e f) oficinas. Os relatórios foram analisados à luz do método biográfico.
Os resultados corroboram estudos que indicam as intervenções de natureza sensorial
como importantes promotoras de ganhos psicológicos, emocionais e sociais. Conclui-
se ainda que o caráter permissivo e lúdico da arte trouxe o rompimento com padrões
que caracterizam as coisas como boas ou ruins, propiciando a valorização de todas
as produções como únicas que atribuiu valor devido à sua natureza expressiva.

Palavras-chave: Idoso. Intervenções. Arte. Estimulação Sensorial.

1
Graduada em Fonoaudiologia, Doutoranda em Gerontologia, Universidade Católica de Brasília, e-mail:
marciadegani@yahoo.com.br
2
Graduanda em Psicologia, Universidade de Brasília, e-mail: andrezzacpsi@gmail.com
3
Graduada em Psicologia, Doutorado em Cognição e Neurociências, Universidade de Brasília, e-mail:
ichariglione@unb.br
120

Abstract
The aging process brings with it a series of discomforts, one of which is caused by the
reduction in sensory acuity. From this perspective, all relationships established
between individuals and the world occur through sensory functions. The aim of this
study was to analyze different methodologies of artistic expressions and their
relationship with artistic practice and with the development of perceptual potentials in
the elderly. A qualitative, non-experimental, exploratory, descriptive and transversal
methodology was chosen. The convenience sample consisted of eight elderly people,
with a mean age of 86 years (SD= ± 7.66). participants of a Day Center for the elderly.
The elderly were evaluated by characterization and development instruments to
characterize the sample and instruments to monitor the development of the elderly
over time (sensory evaluation). The methodological procedure consisted of six steps:
a) recruitment; b) gathering information about the participants; c) initial interview; d)
introduction dynamics to artistic appreciation; e) evaluation of the sensory profile; and
f) workshops. The reports were analyzed using the biographical method. The results
corroborate studies that indicate sensory interventions as important promoters of
psychological, emotional and social gains. It is also concluded that the flexible and
playful character of art brought about a break with standards that characterize things
as good or bad, promoting the appreciation of all productions as unique that attributed
value due to their expressive nature.

Keywords: Aged. Interventions. Art. Sensory Stimulation.


121

1 Introdução

Os seres humanos necessitam dos sentidos não apenas para apreenderem o


ambiente e o outro, mas também para sentirem prazer e desprazer. Seja no sabor
(cheiro e gosto) da culinária, na apreciação musical, na contemplação de uma
paisagem, de uma obra de arte ou pelo relaxamento obtido através de uma
massagem, um toque de carinho, uma brisa marinha, o calor e o frio. O fato é que as
sensações proporcionadas pelos nossos sentidos estão constantemente conectando
os indivíduos à própria vida e trazendo-os à percepção da sua corporeidade (DEGANI;
CHARIGLIONE, 2019).
A abordagem Snoezelen é uma forma de estimulação multissensorial que pode
se adequar à demanda dos idosos, especialmente os que apresentam quadros
cognitivos mais comprometidos. O método foi criado na década de 1970, na Holanda,
pelos terapeutas Verheul e Husegge, com a finalidade de melhorar o bem-estar de
pessoas com deficiência mental profunda. Snoezelen é a junção de duas palavras
holandesas: snuffelen (cheirar/explorar) e doezelen (repousar/relaxar). As salas
Snoezelen são ambientes aconchegantes e tranquilos, projetados para despertar
percepções sensoriais de forma controlada, confortável e segura. Essa abordagem se
desenvolve por meio de diversos tipos de equipamentos que promovem estímulos
sensoriais, tais como: colchão de água, poltrona massageadora, projetores, óleos
aromáticos, tubos de bolhas, objetos com variedade de texturas, luzes coloridas etc.
A interação com esses elementos pode ser tanto ativa como passiva, em sessões
individuais ou em grupos pequenos que comportem, no máximo, três idosos. Esses
espaços destinam-se a promover estimulação, interação e/ou relaxamento (AMARAL,
2014; ROSA JUNIOR et al., 2009).
Estimular os sentidos dos idosos também pode ser uma boa estratégia para
acionar a memória. Santos et al. (2016) observaram que estimular cada sentido fez
com que aflorassem memórias de experiências cotidianas. Martins (2011) constatou
que a estimulação sensorial, além de reduzir a depressão e os processos disruptivos,
atinge fortemente a memória retrógrada, ressaltando que o ideal seria que o terapeuta
buscasse conhecer o percurso de vida do seu paciente, sobretudo na infância, de
forma que, ao selecionar os estímulos, possa ser mais eficiente e assertivo. Queiroz,
Ziruollo e Mello (2012) destacam que o estímulo sensorial ativa a memória retrógrada
e ressaltam que a reação sensorial é das últimas funções a serem perdidas com o
processo de envelhecimento.
O centro-dia para idosos é uma instituição de curta permanência, pública ou
privada, destinada a acolher pessoas idosas com dependência para desempenho das
atividades básicas de vida diária - higiene, alimentação, mobilidade (SECRETARIA
MUNICIPAL DE SAÚDE, 2019). Os serviços públicos acolhem idosos em situação de
vulnerabilidade social e que têm familiares, porém, não recebem os cuidados
necessários e/ou em tempo integral no domicílio (CONSELHO MUNICIPAL DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2014). Seu objetivo é prestar cuidado integral à pessoa
idosa, promovendo sua participação social e a preservação de sua capacidade
funcional, e a atenção global à sua família, por meio de intervenções interprofissionais
abrangentes e amplas (ALVAREZ; GUTIERREZ; SILVA, 2020).
Algumas das estratégias do equipamento público com os usuários são viabilizar
cuidados pessoais; prevenir o isolamento e a institucionalização; estimular a
autonomia e a independência; resgatar e/ou fortalecer vínculos familiares e
comunitários. Assim como possibilitar ao cuidador familiar o suporte na tarefa de
cuidar da pessoa idosa; e a prevenção de sobrecarga e desgaste de vínculos
122

decorrentes da prestação de cuidados prolongados e permanentes (CONSELHO


MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2014; OLIVEIRA; SILVA, 2019).
Compreender as diversas alterações no processo do envelhecimento é
necessário para a compreensão ampliada do envelhecimento, assim como sobre
como as pessoas o vivenciam; e como a gerontologia deve atuar diretamente no
cuidado à pessoa idosa. Tal compreensão pode possibilitar assistência assertiva, e
um cuidado mais efetivo e com maior qualidade. Nesse sentido, este estudo ancora-
se na seguinte pergunta de pesquisa: Como metodologias de expressão artística
podem beneficiar os idosos inseridos em um centro-dia? Assim, objetivou-se analisar
diferentes metodologias de expressões artísticas e as suas relações com o fazer
artístico e com o desenvolvimento de potenciais perceptivos em idosos.

2 Métodos

2.1 Tipo de estudo e considerações éticas

A pesquisa que será apresentada assim como o seu referido Termo de


Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram submetidos e aprovados (CAAE:
informação suprimida para a submissão), nas condições anteriormente detalhadas,
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade informação suprimida para a
submissão, respeitando as normas da Comissão Nacional de Pesquisa do Ministério
da Saúde.
Optou-se por um método de natureza qualitativa, não experimental,
exploratório, descritivo e transversal. Qualitativa, por se tratar de dados não
quantificáveis, por ser um tema diretamente ligado à subjetividade dos participantes
envolvidos e pela relevância da construção teórica a ser desenvolvida no curso da
pesquisa.

2.2 Amostra

A amostra de conveniência foi composta por oito sujeitos, com média de idade
igual a 86 anos (DP= ± 7,66), sendo três homens e cinco mulheres, com escolaridade
entre nível médio e superior, majoritariamente com uso de medicamentos e com
dificuldade de compreensão; dois dos idosos possuem sequelas de acidente vascular
encefálico (AVE), um idoso com esquizofrenia e um com doença de Parkinson.
frequentadores do Centro-Dia para idosos, situado em São Paulo, SP. Foi utilizado
como critério de inclusão ser frequentador desse Centro-Dia, e como critérios de
exclusão: apresentar algum déficit visual, auditivo e/ou motor que inviabilizassem o
entendimento e a realização das atividades relacionadas às avaliações e às
intervenções artísticas.

2.3 Instrumentos

Os instrumentos foram apresentados em dois blocos, sendo eles: a)


instrumentos de caracterização e desenvolvimento para a definição da amostra; b)
instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento dos idosos no decorrer do
tempo (avaliação sensorial).
Os instrumentos de caracterização e desenvolvimento foram: o TCLE, o
questionário sociodemográfico e as entrevistas iniciais. As pessoas que atenderam
aos critérios para participar da pesquisa, de forma voluntária e não remunerada,
123

assinaram o TCLE. O questionário sociodemográfico foi composto por perguntas que


auxiliaram a caracterização da amostra, sendo: nome, data de nascimento, sexo,
escolaridade, composição familiar, vivência artística, função exercida (prévia e
atualmente). Como os idosos participantes em sua totalidade apresentam déficits
cognitivos dados referentes ao questionário foram obtidos por meio da leitura das
pastas de cada frequentador do Centro-Dia. A aplicação do questionário foi realizada
visando ao estabelecimento do vínculo com cada integrante. O tema arte foi abordado
de forma superficial durante a apresentação do termo de consentimento ao explicar
no que consistiria a pesquisa a ser realizada. Para além dessas questões, foi feito um
levantamento ao final perguntando se o entrevistado teria interesse em expressar,
ainda, alguma informação que não lhe fora questionada. As respostas foram gravadas
e transcritas.
Devido à mudança da amostra, levando-se em consideração que o projeto foi
elaborado inicialmente, antes da pandemia de COVID, para ser realizado com idosos
cognitivamente saudáveis, os instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento
tiveram que ser adequados ao déficit cognitivo apresentado pelos participantes. Para
manter a coesão da pesquisa, o questionário sociodemográfico foi realizado no
formato de entrevista semiestruturada, de forma que as perguntas evoluíam de acordo
com a facilidade ou dificuldade de cada idoso em respondê-las. Outro cuidado em
relação à coesão para a apresentação dos resultados foi manter exatamente a
atividade de forma presencial para todos os idosos. As instalações eram montadas na
segunda-feira, no período da manhã, e permaneciam em funcionamento durante toda
a semana, assim cada integrante pôde experimentar cada uma delas no mesmo
horário durante a semana.

2.4 Procedimentos Metodológicos

O procedimento metodológico foi composto por seis etapas: a) Recrutamento;


b) Levantamento de informações sobre os participantes; c) Entrevista inicial; d)
Dinâmica de introdução à apreciação artística; e) Avaliação do Perfil Sensorial; e f)
Oficinas, conforme a Figura 1.

Figura 1- Procedimentos Metodológicos.


124

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Todos os idosos que frequentavam o Centro-Dia no mês de novembro de 2020


foram convidados a participar da pesquisa. Dois que haviam sido frequentadores, mas
não estavam comparecendo presencialmente, também foram convidados por
sugestão da diretora do Centro-Dia. O primeiro contato com os responsáveis legais
foi realizado pela diretora do estabelecimento no intuito de pedir o consentimento para
que os idosos que não pudessem assinar o TCLE fossem inclusos, se eles
desejassem participar da pesquisa. Após essa autorização, iniciaram-se os contatos
presenciais.
O levantamento das informações dos participantes ocorreu por meio da leitura
das pastas de cada idoso frequentador do Centro-Dia para idosos. Nelas havia os
documentos de cada um deles, informações de anamnese em entrevista com
familiares e responsáveis legais, diagnósticos médicos, avaliações, tratamentos
medicamentosos e relatórios redigidos pelos profissionais que os atenderam no
Centro-Dia informando a evolução dos atendimentos realizados. Nos diagnósticos
médicos, os laudos encontrados atestavam demência senil, doença de Alzheimer,
doença de Parkinson e comprometimentos físicos e cognitivos decorrentes de AVE.

2.5 Procedimentos de Análise de Dados

Os relatórios foram analisados à luz do método biográfico. Sergio Vilas-Boas


(2008) explica que o método de análise biográfica se distingue da metodologia das
histórias de vida, amplamente empregada nas ciências humanas, devido ao caráter
coletivo desse modo de análise. A análise biográfica, por sua vez, busca revelar
personalidades únicas, desvendar individualidades, investigar como o indivíduo viveu
no seu tempo e como uma vida, em particular, pode influenciar muitas (SANTOS;
OLIVEIRA; SUSIN, 2014; VILAS-BOAS, 2008).
Esses mesmos autores detectam seis características de natureza filosófica que
permeiam a narrativa biográfica, sendo elas: a descendência, na qual relativiza a
herança familiar como sendo explicativa dos seres; o fatalismo, considerando fictício
qualquer personagem real vista como predestinado vencedor; a extraordinariedade,
125

que critica os preconceitos decorrentes da crença em uma genialidade nata; a


verdade, que desmistifica o desvelar de uma única verdade nua e crua; a
transparência, que permite ao pesquisador, nesse caso, também se revelar ao longo
de seus textos; e o tempo, que valoriza o psicológico, de forma que a narrativa não
siga uma ordem necessariamente linear e cronológica (SANTOS; OLIVEIRA; SUSIN,
2014; VILAS-BOAS, 2008).
A abordagem de narrativas biográficas permite a construção de tipologias de
interpretações do mundo da vida, considerando, neste processo, como os indivíduos
manuseiam seu “estoque de conhecimento” e, sobretudo, como manuseiam o sistema
de relevância e tipificação, elementos-chave no processo interpretativo cotidiano do
sujeito (SCHÜTZ, 2003; SCHÜTZ; LUCKMANN, 1973), tendo em vista sua
importância no processo de atribuição de sentido, assim como no processo de tomada
de decisão no curso de ação na vida cotidiana (SANTOS; OLIVEIRA; SUSIN, 2014).

3 Resultados

Os resultados serão apresentados de forma descritiva e, para uma melhor


compreensão do processo de cada um dos integrantes, serão descritos em ordem
cronológica, por participante.

1. S.F.S. – 89 anos, sexo feminino


a. Questionário sociodemográfico
No primeiro contato, demonstrou bom nível de compreensão, porém limitações
relacionadas à expressão, devido à acentuada deficiência auditiva (mesmo com
utilização de prótese). A fala apresentou episódios de anomia, comprometimento de
memória recente e repetições. Quando não compreende a fala do outro, balança a
cabeça afirmativamente como se tivesse compreendido ou faz outros sinais verbais
ou não verbais que dão a entender que compreendeu. Quando expliquei que o
trabalho envolveria arte disse: “não gosto de arte”, “isso não é pra mim” (SIC). Ao
responder sobre profissão, referiu ter trabalhado por mais de 20 anos como costureira.
Mais tarde, soube pela coordenadora do Centro-dia que suas roupas são
confeccionadas até hoje por ela própria. Também soube, durante o desenrolar da
pesquisa, que, ao voltar a frequentar o centro-dia, apresentava sinais de depressão.
Respondeu coerentemente que é viúva, tem dois casais de filhos e reside com uma
das filhas (nutricionista) que é casada com um médico. Essa fala foi repetida durante
toda a entrevista. Perguntava: “qual é a sua profissão”? Eu respondia que era
“fonoaudióloga” e ela complementava dizendo: “minha filha é nutricionista e o marido
dela é médico” (SIC). Essa fala apareceu mais de dez vezes. Demonstrou estar
interessada no trabalho que seria realizado por mim afirmando: “que coisa
interessante, quem pode ter essas ideias”? (SIC). Mostrei no notebook fotografias da
instalação sensorial realizada no projeto piloto explicando que gostaria de fazer a
mesma coisa com eles. Observei que se manteve atenta durante toda a sessão e que
apresenta ótimo nível de atenção. Sobre o nível de escolaridade, respondeu que não
sabe ler nem escrever, mas que cursou até a quarta série primária. Nos contatos
subsequentes, observei que é alfabetizada e que possui um nível de exigência
consigo mesma muito elevado. Afirmava, antes de todas as atividades propostas, que
não seria capaz de realizá-las. Sobre sua saúde, não referiu o uso de prótese auditiva,
mas relatou ter sofrido muito com dores de cabeça. Disse que alguém sugeriu a ela
substituir os analgésicos por café, as dores cessaram e que mantém esse hábito até
hoje, apesar de não apreciar o sabor. Esse relato foi repetido diversas vezes.
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b. Dinâmica das imagens


Não participou porque nos dias em que foi realizada ela não estava presente
no centro-dia (a frequência da S.F.S. era uma vez por semana).
c. Avaliação do perfil sensorial
Comprometimento auditivo significativo, percepção e discriminação olfativa
apenas para odores fortes e de fácil reconhecimento (café e alho); demonstrou
resistência corporal não relaxando na poltrona nem tolerando posição supina; ótima
discriminação visual, tátil, orientação espacial e desempenho cognitivo (compreendeu
todas as instruções com facilidade).
d. Primeira oficina
Em um primeiro momento, foi resistente à dinâmica com os instrumentos,
afirmando que não conseguiria, mas depois realizou os jogos rítmicos com bastante
facilidade. Caminhou sobre o plástico bolha apoiada no corrimão de um lado e na
bengala do outro, pois apresenta comprometimento na locomoção. Em todos os
momentos, manteve a fisionomia serena e alegre. Durante a atividade com o
retroprojetor, dispôs as gotinhas de anilina de forma simétrica, buscando ocupar o
espaço da transparência de modo equidistante. Demorou um pouco para
compreender que as imagens projetadas na parede eram as gotinhas de anilina que
pingou. Ficou muito admirada com o resultado dessa dinâmica. Referiu: “isso é
artístico”, “como pode alguém pensar numa coisa dessa”? (SIC). Após essa atividade,
observei que seu humor melhorou bastante.
e. Segunda oficina
Deu a impressão de não se sentir à vontade no cenário da sacola de praia
preenchendo-a com poucos elementos. Recusou-se a tirar os sapatos, usar chapéu e
óculos. Realizou a dramatização com os bonecos respondendo apenas “sim ou não”
às perguntas feitas pelo meu personagem. Elogiou a imagem projetada na parede, o
ventinho, quis ficar sentada bebendo água de coco e comendo umas frutinhas.
Entendi que o temperamento de S.F.S. se adapta melhor a atividades mais sóbrias.
f. Terceira oficina
S.F.S. fez a árvore de natal mais caprichada, simétrica e harmônica. Dispôs os
enfeites mantendo a distância uns dos outros, evitando colocar próximo elementos
iguais. Interagiu com todos os objetos que compunham a árvore reconhecendo-os
pelo tato antes de retirá-los da sacola, olfato (pompons com cheiro) e paladar/olfato
no caso do chocolate. Tocou a marimba e ainda cantou “bate o sino/jingle bells”.

2. N.T.A. – 79 anos, sexo feminino


a. Questionário sociodemográfico
Já no primeiro contato, N.T.A. demonstrou muita sociabilidade, alegria e
simpatia, evidenciando o prazer que sente em estar em contato com as pessoas e
conversar, mesmo diante das limitações na linguagem presentes na doença de
Alzheimer. Houve diversos episódios de anomia, de perda de memória, utilização de
jargões para preenchimento de turno (por exemplo, fora de qualquer contexto, ela
dizia “eu gosto de conversar, gosto de me divertir, tem gente que fica sentada com a
cara fechada ‘assim’” SIC), generalizações e repetições. Durante toda a entrevista, as
perguntas do questionário sociodemográfico foram respondidas com três ou quatro
relatos: que é brasileira filha de japoneses, tem setenta e poucos anos e nasceu no
dia 21 de março, mas não se lembra o local e o ano; que tem um casal de filhos, mora
com uma das filhas e tem uma neta; que estudou em uma escola japonesa até a
quarta série; que sabe cantar “Cabecinha no ombro” em japonês e realizar esse canto
fazendo gestos delicados que remetem às danças japonesas. Quando perguntei se
127

ela gostaria de participar da minha pesquisa e que seriam realizadas atividades que
envolveriam as artes, ela se animou afirmando que gosta de “todo tipo de artesanato”
(SIC). Durante a entrevista cantou várias vezes “Cabecinha no ombro” (encosta sua
cabecinha no meu ombro e chora) em português e em japonês. Em uma dessas
vezes, ao terminar a música, comecei a cantar logo em seguida “Beijinho doce”. Ela
me acompanhou demonstrando o conhecimento da melodia e da letra. Terminamos o
horário destinado à realização do questionário sociodemográfico cantando músicas
que geralmente são conhecidas pelos idosos dessa geração.
b. Dinâmica dos quadros
Escolheu a imagem da moça flutuando e, ao explorarmos a figura como um
todo, demonstrou ótimo reconhecimento de cores, ótima orientação espacial
relacionada à imagem e refinada percepção de detalhes.
c. Perfil sensorial
Apresentou excelente desempenho nas áreas motora, visual, vestibular e
proprioceptiva. Apresentou pequena dificuldade no reconhecimento de texturas e
timbres. O comprometimento maior recaiu sobre a área olfativa. Afirmou ter sentido
os cheiros, não conseguindo identificá-los. Não sei se isso realmente ocorreu, pois
observei que não houve alteração significativa em sua fisionomia ao inalar o conteúdo
dos potinhos.
d. Primeira oficina
Realizou as três atividades com ótima desenvoltura. Observei certa dificuldade
em manter a atenção durante as instruções para cada atividade. Os tempos binários
realizou com muita facilidade, e nos ternários encaixei “Cabecinha no ombro” em ritmo
de valsa. No plástico bolha ela quis dançar e disse que sente muita vontade de
conhecer uma “balada”. Demonstrou ter gostado muito da atividade com o
retroprojetor e demorou um pouco para compreender que a imagem projetada na
parede era aquela que tinha feito na transparência.
e. Segunda oficina
Não funcionou com N.T.A. O fato de haver muitos elementos com possibilidade
de escolha desencadeou um estado de desorganização mental, euforia e
hiperatividade. Ela não apenas quis colocar tudo que viu dentro da sacola como
passou todo o tempo em que permaneceu na instalação perguntando se poderia levar
as coisas para casa. O estado de euforia diminuiu um pouco quando retirei o som das
ondas do mar para reduzir a quantidade de estímulos e bebemos a água de coco com
o biscoito e as frutinhas. Mesmo assim, saiu da sala querendo levar consigo o chapéu.
f. Terceira oficina
Realizou bem, experimentou todos os enfeites sensoriais que, dessa vez, tive
o cuidado de oferecer um por vez, para que ela os explorasse e indicasse o local em
que deveriam ser colados. Perguntou várias vezes se poderia levar para casa, eu
respondia que sim, ela se esquecia e perguntava novamente. Ficou muito feliz com o
resultado e mais ainda por poder levar a árvore para casa.

3. N.G. – 96 anos, sexo feminino


a. Questionário sociodemográfico
N.G. soube responder sua data de nascimento e contou diversas vezes durante
a entrevista que recebeu esse nome por ter nascido no dia de Natal. No final de todas
as repetições, acrescentava: “coitada da minha mãe que bem no dia de natal estava
tendo filho” (SIC). Afirmou ter dois filhos (um casal) e residir com um deles. Disse que
sabe ler e escrever, mas não se lembrou até que “ano” foi para a escola. Como
profissão, afirmou ter sido tecelã em uma fábrica de tecidos. Tem consciência da
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própria deficiência auditiva, mas até então se recusava a usar a prótese. Conheceu
Inezita Barroso e demonstrou que esse evento foi marcante na sua vida, pois diversas
vezes interrompeu a entrevista para cantar “Marvada pinga”. Outro evento que relatou
várias vezes referia-se à sua infância afirmando que morou na roça, colhia café
(gestualizando como se colhe), contou que criavam porcos e que era seu pai quem
matava o porco. “Uma delícia comer o porco na hora” (SIC). Enfatizou o fato de o pai
fazer um salame maravilhoso “por causa do tempero, ele punha muito alho”.
Recordou-se que os salames ficavam dependurados como em um varal e que se
divertia indo lá no meio da noite para “roubar e comer escondido” (SIC). Prefere as
comidas fortes e salgadas. Repetiu muitas vezes “comida boa é a italiana: polenta
com molho ao sugo, polenta com leite, rabada com polenta. Polenta boa pra fritar tem
que ser feita no dia anterior pra não ficar molengona” (SIC). Reclamou que no centro-
dia não servem torresmo. Se casou com um italiano, ótimo pai, “severo como tem que
ser” (SIC). “As mulheres de hoje são muito fraquinhas: gravidez, no meu tempo, não
tinha esse monte de frescura. Essas grávidas parecem que vão quebrar. Conheci uma
grávida que saiu do tanque para ter filho e no dia seguinte já tinha voltado pro tanque”
(SIC). Essas citações consistiram no conteúdo da entrevista que era relatado diversas
vezes, com as mesmas palavras. De vez em quando o discurso era interrompido para
me perguntar se eu sabia que ela conheceu Inezita Barroso e cantar “Marvada pinga”,
recordando-se de grande parte da extensa letra e da melodia da música. “Sabia que
eu conheci a Inezita Barroso”? (SIC). Antes de deixar a sala afirmou amar a vida e
achar uma pena que tudo passe muito rápido. Complementei: “como uma viagem boa
que a gente tem que aproveitar”? E ela: “pena que essa viagem acaba” (SIC).
b. Dinâmica dos quadros
Escolheu o quadro das crianças brincando na praia, observou alguns detalhes
da pintura, reconheceu o ambiente e repetia “olha que gracinha, mas que coisinha
mais linda, olha as dobrinhas...” (SIC). Nesse dia relatou que seu sonho era ter sido
avó, mas que não teve nenhum neto.
c. Instalação perfil sensorial
Apesar do acentuado declínio de memória recente, N.G. demonstrou ótimo
nível de atenção e compreensão. Os sistemas sensoriais mais comprometidos foram:
auditivo, pela recusa em usar a prótese, olfativo, demonstrando dificuldade tanto na
percepção como no reconhecimento dos aromas, e vestibular, evidenciando
instabilidade na marcha, desequilíbrio e tontura.
d. Primeira oficina
Compreendeu o jogo rítmico, mas sentiu muita dificuldade para manter o
andamento da batida. Não encontramos a sua batida orgânica, ou seja, um tempo no
qual mantivesse as batidas com periodicidade. Entretanto, houve empenho de sua
parte e em alguns momentos conseguimos realizar tempos em uníssono. Demonstrou
musicalidade assimilando com facilidade os tempos binários e ternários. Caminhou
sobre o plástico bolha apoiada na barra e gostou de sentir as bolinhas estourarem ao
pisar nelas. Adorou a dinâmica da anilina no retroprojetor. No início já compreendeu
que a imagem projetada era o reflexo das gotas sobre a transparência.
e. Segunda oficina
Realizou tudo que lhe foi sugerido com incrível desenvoltura e plena
compreensão de todas as ações. N.G. demonstrou extrema abertura para o lúdico.
Montou a sacola, quis usar os adereços, experimentar água de coco, frutas e biscoito.
Criou personagem, desenvolveu enredo com coerência, temporalidade (começo, meio
e fim), colocou os pés na água acompanhando os acontecimentos fictícios, ou seja,
no momento em que as personagens decidiram caminhar na praia, seguindo o
129

desenrolar da trama. Às vezes minha personagem perguntava algo, ela se esquecia


que a pergunta era dirigida à personagem e respondia por si, mas bastava lembrar
que quem estava conversando era a “Mariazinha” (personagem que ela criou) e não
ela, que imediatamente retomava o discurso na fala da personagem. Divertiu-se muito.
f. Terceira oficina
Explorei o tato deixando todos os enfeites repetidos dentro da sacola e um de
cada sobre a mesa, para que ela os sentisse no tato e relacionasse visualmente
dizendo qual deles seria. Ela acertou todos. Com os olhos vendados, conseguiu
perceber, mas não identificou o cheiro do chocolate. Explorou os sons da marimba e
cantamos “Bate o sino pequenino” (a única música que saía relativamente afinada no
brinquedo). Encerrou a sessão encantada com a árvore. Me perguntou se eu sabia
que ela conheceu a Inezita Barroso e cantou “Marvada pinga”.

4. Z.S. – 87 anos, sexo masculino


a. Questionário sociodemográfico
Antes de iniciar a entrevista, Z.S. demonstrou insegurança, perguntou se a
atividade seria difícil e antes que eu a explicasse, referiu que não iria conseguir realizá-
la. Logo deu a entender que seu receio era o medo de precisar escrever alguma coisa,
por ser analfabeto. Falou sem parar e não prestou atenção naquilo que lhe era
perguntado, demonstrando extrema necessidade de receber aprovação e atenção.
Repetiu várias vezes: “meu nome é Z.S., assim que se pronuncia. Nunca conheci outro
Z.S. (enfatizando o acento forte em parte do nome), meu nome é exclusivo, ninguém
mais se chama assim” (SIC). Falou o tempo todo sobre sua vida independentemente
das perguntas que eram feitas. Afirmou várias vezes ter prosperado como
comerciante. Falou muito sobre dinheiro (compra, venda, imóveis, carro). Referiu ser
viúvo e ter dois filhos homens. Disse que mora com os dois, ficando cada semana na
casa de um. Disse que os dois filhos são bons para ele, cada um do seu jeito, e que
as duas casas são muito boas, que tem o quarto dele em ambas. “Meus filhos me
levam e me buscam aqui do centro-dia. Gosto de vir apreciando a paisagem. Gosto
muito das minhas noras porque elas me tratam muito bem. As casas são grandes, têm
jardim, piscina e ficam uma do lado da outra” (SIC). Soube pela coordenadora do
Centro-dia que um dos filhos é homossexual, que ele não consegue processar bem
esse fato e que não existem duas noras. “Em casa gosto de fazer nada porque já
trabalhei muito na vida” (SIC). Decidiu que vai aprender a ler e escrever e pede às
cuidadoras que o ensinem e mandem “dever de casa” para ele treinar. Retomou
muitas vezes o assunto da alfabetização. Deixou transparecer que detesta ser
analfabeto e que esse fato lhe traz sentimentos de inferioridade. Observei que busca
compensar o analfabetismo incluindo na fala relatos que deem a entender que é rico.
b. Dinâmica das telas
Ficou deslumbrado com a tela da moça que parece flutuar. Várias vezes disse
“olha que coisa linda, parece que ela está assim... dançando no céu” (SIC). Quando
referi que aquilo é uma obra de arte porque despertou sua admiração, respondeu que
“arte é uma coisa muito importante, muito grande e eu não entendo nada disso” (SIC).
Sobre música, afirmou gostar de música sertaneja, Zezé Di Camargo e Luciano, e
cantou várias vezes “Saudades de Matão”, música difícil de ser cantada por exigir boa
afinação que ele demonstrou ter.
c. Instalação do perfil sensorial
Realizou com desenvoltura as atividades que envolveram desempenho visual,
motor e proprioceptivo. O olfato apresentou-se bastante comprometido, demonstrou
desorientação espacial no final da sessão ao sair da sala, não conseguindo identificar
130

a própria localização: não sabia para que lado ir. Fazendo uso da prótese auditiva
conseguiu localizar os sons e identificar timbres. Achou que a música utilizada no final
parecia “música de enterro” (SIC).
d. Primeira oficina
Realizou todos os jogos rítmicos propostos mantendo o andamento.
Compreendeu os tempos binários e ternários: “Cabecinha no ombro” e “Saudades de
Matão” são valsinhas e a marcação do tempo é ternária. Caminhou sobre o plástico
bolha com facilidade. Realizou a atividade do retroprojetor consciente desde o início
que a projeção na parede era o reflexo do que era feito na transparência.
e. Segunda oficina
Divertiu-se muito. Fez a seguinte observação: “mas aqui está muito melhor que
na praia! A praia é cheia de gente, um calorão, quando chove falta água...” (SIC). Quis
realizar todas as ações propostas. Criou personagem, desenvolveu trama fictícia e
realizou as falas com criatividade e facilidade para improvisar no contexto da trama.
Foi incisivo ao querer conquistar meu personagem, fazendo elogios que davam a
entender que eram para mim, mas foi possível desconversar, fazer piada e contornar
a situação com facilidade.
f. Terceira oficina
Montou sua árvore de Natal com muito pouca ajuda, demonstrou interesse pela
marimba e identificou vários enfeites pelo tato tendo, à frente, o modelo de cada um.

5. J.B. – 85 anos, sexo masculino


a. Questionário sociodemográfico
J.B. entrou na sala acompanhado pela cuidadora e, logo em seguida, a
cuidadora saiu. Demonstrou resistência e desconfiança por meio da fisionomia. Antes
que eu iniciasse minha fala, seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Olhou o
gravador e supus não ter gostado de haver um gravador sobre a mesa, não
entendendo que estava desligado. Liguei e desliguei mostrando-lhe que quando está
ligado a luz acende, guardei o gravador no estojo e coloquei dentro da minha bolsa.
A tristeza no seu olhar era impactante. Disse que estava achando sua carinha muito
triste e perguntei se havia acontecido alguma coisa. Ele respondeu afirmando: “estou
com um problema”. As sequelas do AVE comprometeram muito sua fala, retardando
o tempo de processamento da informação e da resposta. Ao perceber minha
dificuldade para compreender sua fala, baixou os olhos, a cabeça e encolheu os
ombros. Busquei estabelecer contato visual e disse: Sr. J.B., o senhor acha que o seu
problema tem solução? Ele respondeu: “tem solução”. Complementei afirmando que
também acho que os problemas podem ser resolvidos. Notei que houve uma tentativa
em expor o que estava acontecendo, mas para mim estava realmente muito difícil
compreender o que ele dizia pela demora nas respostas, articulação imprecisa e
volume muito baixo. Seus olhos novamente se encheram de lágrimas. Coloquei luvas
e perguntei se poderia segurar suas mãos. Ele balançou a cabeça afirmando que sim.
Fiz um carinho nas suas mãos e disse que, apesar de não estar entendendo direito o
que ele estava falando, tinha compreendido que ele estava passando por um
momento muito difícil e que eu estava do lado dele. Ficamos praticamente toda a
sessão de mãos dadas e ele correspondeu ao carinho movimentando o dedo polegar
acariciando minha mão. Falei que a Vanessa me disse que ele gosta muito de ouvir
música clássica e que eu também gosto. Perguntei se ele gostaria de ouvir uma
música bem bonita e ele respondeu que sim. Coloquei “Clair de Lune”, de C. Debussy,
no celular e segurei bem perto dele, porque naquele dia não havia planejado utilizar
caixa de som. Tive a impressão de que a música transmitiu o alento que ele estava
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precisando e ele expressou uma fisionomia mais serena. Nesse momento, entrou a
cuidadora avisando que iria servir o almoço dele na sala em que estávamos. Ele abriu
um sorriso e a cuidadora disse que achou ótimo vê-lo com a carinha melhor porque
tem sofrido muito nos últimos tempos. Ao deixar a sala eu disse: “Sr. J.B., bom
almoço. Logo, logo nos vemos”. Ele, como professor, me corrigiu: “logo nos ve-re-
mos”. Achei muito positiva a correção e entendi como uma afirmação da própria
identidade.
b. Instalação do perfil sensorial
Não quis realizar. Ao sentar-se na cadeira, começou a chorar muito. Conduzi-
o à poltrona reclinável que havia na sala, reduzi a intensidade e retirei o movimento
das luzes, deixando apenas uma luz suave que mudava de cor lentamente, como se
uma cor se transformasse em outra, em sequência cromática. Coloquei as luvas e
massageei suas mãos, braços e pés. Nesse dia, havia caixa de som. Inicialmente
escolhi músicas instrumentais com fundo sonoro de água e depois temas de filmes
como “A bela e a fera”, o dueto final de “O fantasma da ópera” e “A thousand years”,
todas executadas de forma instrumental. Me transmitiu que estava sentindo
necessidade de ser acolhido com delicadeza. Terminou a sessão com fisionomia
serena e sorriu quando a cuidadora chegou para almoçarem.
c. Primeira oficina
Também não quis realizar as atividades e foi direto para a poltrona reclinável.
Chorou bem menos do que na sessão anterior. O repertório desse dia foi Bach, Mozart
e Vivaldi. Escolhi melodias mais vibrantes na intenção de trazer energia por meio da
atmosfera musical. Utilizei massageadores manuais e elétricos para proporcionar
qualidades diferentes de estímulos táteis.
d. Segunda oficina
Entrou na sala mais animado, montou a sacola, gostou do cenário de praia, do
barulho do mar, nesse dia observei que leva tudo que toca à boca. Ao comer o que
havia sobre a mesinha, apresentou comportamento compulsivo e comeu tudo com
muita rapidez. Concordou em colocar os pés na água morna e deixou transparecer
que essa atividade trouxe relaxamento. Demonstrou necessitar de contato físico, pois
usei o hidratante para bebês como se fosse o protetor solar e ele quis prolongar a
ação esticando os braços e as pernas. Foi o primeiro dia que não chorou e finalizou a
sessão demonstrando satisfação e presença no aqui e agora.
e. Terceira oficina
Demonstrou interagir bem diante de vários estímulos, apresentou harmonia na
disposição dos elementos visuais, não identificou o chocolate pelo cheiro, mas comeu
todos (eram três bengalinhas para cada árvore), não se interessou pela marimba, mas
finalizou a sessão sorrindo e satisfeito com o resultado e por poder levar o enfeite para
sua casa.

6. R.L.B. – 73 anos, sexo feminino


a. Questionário sociodemográfico
R.L.B. foi recebida por mim na sala do ateliê. Chegou bastante reservada,
desconfiada e falando muito baixo, quase não dava para entender. Inicialmente,
expliquei o trabalho que seria feito e comecei a sessão com as perguntas do
questionário sociodemográfico. Respondeu nome completo, data de nascimento,
naturalidade (SP), estado civil (viúva), filhos (3 filhas). Falou que terminou o colegial e
imediatamente se casou aos 18 anos. Tem uma filha casada comissária de bordo que
não tem filhos por causa da profissão. Não tem netos. Disse que a saúde está boa,
que tem dormido bem, que já tomou remédio para dormir, mas não toma mais. Referiu
132

sempre ter se tratado com homeopatia. Ao perguntar o nome das filhas, respondeu
que as filhas não gostam que ela diga aos outros o nome delas. Assiste ao noticiário
porque o marido a acostumou assim. Gosta de vir ao centro-dia para fazer fisioterapia,
se exercitar. Gosta de ficar sozinha e não entende quem reclama de solidão. Mora
com a filha. Ressaltou que o marido a instruía a não falar sobre sua própria vida e se
negou a responder às demais perguntas. Busquei deixar claro que minha pesquisa
abordaria os sentidos e ela citou os cinco sentidos principais. Novamente referiu não
querer falar sobre si porque o marido não gostava porque as pessoas iriam se
aproveitar dela financeiramente. “Meu marido falava: não fala da sua vida porque tem
perigo, eu tenho tudo na minha vida, na minha bolsa tem seguro saúde, eu vou na
psicóloga do seguro saúde, é que tem uma certa segurança que ele deixou pra nós,
é perigoso, é tanta coisa que pode acontecer, não se fala da própria vida, tem que
pensar que qualquer um pode ser inimigo” (SIC). “Minhas filhas também não gostam,
não é pra dar endereço, a senhora diz que não mora aqui porque é demais, as
pessoas incomodam muito, querem saber tudo da vida da gente. Eu venho aqui pra
almoçar uma vez por semana porque tenho que esperar a faxineira” (SIC). Perguntei
se gosta da comida do centro-dia. “Gosto sim, é muito boa e as moças são tão
boazinhas” (SIC). Repetiu não querer falar sobre si porque as pessoas usam as
informações para roubar seu dinheiro. Associei ao delírio persecutório, pois soube que
comumente confunde as suas coisas com as coisas dos outros e acha que está sendo
roubada.
b. Dinâmica dos quadros
Ao mostrar as seis imagens, ela se impressionou com a imagem do casal sério
e perguntou sobre o homem: “esse aqui morreu”? Respondi que não sabia e ela
começou a narrar uma história como se conhecesse o casal. No quadro das crianças
na praia, perguntou: “elas têm problema”? Respondi que não sabia, mas que achava
que só estavam brincando na praia. Perguntei qual dos quadros chamou mais a sua
atenção. “O das crianças, elas têm o rostinho redondinho, são tão bonitinhas” (SIC).
A Sra. gosta de praia? “Acho uma delícia pôr o pé na areia e sentir aquele ventinho.
Eu adoro criança, queria muito ter netos, mas minha filha não quer ter filhos porque
agora está nos Estados Unidos” (SIC). Qual dos quadros a senhora não gostou?
Respondeu que todas as imagens eram bonitas, mas achou o casal com a cara
estranha. Quando perguntei se ela achava que eram felizes não soube responder.
Ainda sobre esse quadro, afirmou ter achado “pesado” (SIC). “A cara da mulher alivia
um pouco, mas é assustador” (SIC). Logo após ter dito isso, foi se levantando e
pedindo desculpas porque estava na hora de ir, porque tinha que almoçar, por causa
da faxineira, porque não pode atrasar a filha que viria buscá-la.
c. Instalação perfil sensorial
As áreas olfativa, visual e tátil apresentaram-se íntegras, com a ressalva de não
permitir contato corporal. O olfato apresentou-se muito prejudicado. Reagiu aos
aromas mais fortes, mas não identificou nenhum deles. Na área motora, devido à
rigidez característica da doença de Parkinson, apresentou instabilidade no equilíbrio,
dificuldade em relaxar e incapacidade para permanecer na posição supina. A força e
a mobilidade dos membros superiores preservada. Quanto à área social e psicológica,
durante a avaliação apresentou bons resultados, contudo, em situações corriqueiras
é comum entrar em conflito com as pessoas, sentir-se perseguida, achar que está
sendo lesada sem motivo aparente e irritar-se com facilidade.
d. Primeira oficina
Realizou todas as atividades propostas sem demonstrar dificuldade e com bom
nível de compreensão. Suponho que a atividade rítmica tenha favorecido o equilíbrio
133

e melhorado a estabilidade da marcha, pois caminhou sobre o plástico bolha melhor


do que normalmente caminha. Realizou bem a dinâmica do retroprojetor, demorando
um pouco para associar suas ações ao reflexo projetado.
e. Segunda oficina
Aderiu de bom grado à proposta do “faz de conta”, explorou os elementos da
instalação, porém, não foi capaz de dissociar a personagem de si mesma.
f. Terceira oficina
Montou a própria árvore demonstrando certa confusão na disposição dos
enfeites, quis colar uns em cima dos outros e evidenciou desorientação espacial.

7. S.L. – 95 anos, sexo masculino


a. Questionário sociodemográfico
Preparei a entrevista no ateliê do centro-dia, de modo que conversaríamos um
de frente para o outro separados por uma mesa. Sr. S.L. foi desembargador e mantém
uma desenvoltura social admirável, apesar de apresentar demência senil bastante
avançada. Ao entrar na sala, pegou a cadeira que estava posta ao lado da sua
tentando colocá-la em cima da mesa, entre mim e ele. Eu o ajudei e a cadeira
permaneceu em cima da mesa entre nós durante toda a entrevista. As ferragens que
se cruzam embaixo do assento comprometiam a visualização um do outro, mas
realizamos o questionário assim mesmo. Perguntei o porquê de querer colocá-la ali e
ele respondeu que era para a entrevista “ficar mais interessante” (SIC). Afirmei de
forma humorada que nunca havia entrevistado alguém daquela forma e que para mim
aquele momento seria inesquecível. Ele complementou minha fala afirmando que o
intuito era aquele mesmo: “ser inesquecível” (SIC). Iniciei o contato me apresentando
e, em seguida, expliquei como seriam as intervenções. Perguntei se ele estaria de
acordo em participar da pesquisa e ele disse que sim. Sr. S.L. apresenta
comprometimento cognitivo acentuado, sua fala não faz sentido algum, mas
demonstra uma extrema habilidade em disfarçar suas limitações por meio de
generalizações. Estabelece contato visual com o interlocutor como se compreendesse
todas as informações, balança a cabeça de modo afirmativo e repete as últimas
palavras que ouviu como se expressasse a própria opinião. Nos episódios de anomia,
encaixa na fala “tá tá tá”. Dentre os jargões que utiliza para manter a interação,
destacam-se “foi assim que eles decidiram, fazer o quê”, “isso é difícil”, “então fomos
e agora está assim”, “são muitas coisas”, “por isso que está assim nessa coisa”,
“habitualmente é no fim” e “tudo nessa faixa”. Por meio dessas falas ele conversa
sobre qualquer assunto. Das perguntas do questionário respondeu seu nome,
nacionalidade brasileira, estado civil casado, uma filha e profissão advogado. Disse
que sua saúde está “cada vez melhor” (SIC), que come e dorme muito bem. Sobre a
idade perguntei: “quantos anos o Sr. tem”? Sua resposta: “muitos”.
b. Dinâmica dos quadros
Na tela que representa um casal sério ele disse: “sabia que eles ficaram ruim
no mês passado”? Respondi: “Não. Por quê? Ele disse: “É. Só eles que ficaram. Eu
também não sabia. Começou essa história e isso não funcionou. Mas muita coisa não
foi feita. Olha, as coisas foram apreciadas, isso, aquilo. Devo fazê-lo ou deixar de
fazer, sabe? Então foi isso. Tem mais coisa pra fazer com menos coisa do que disse.
Então eu tô assim” (SIC). Complementei: “mas o Sr. está tão bem”! Ele: “Eu acho que
estou. Esperando não sair disso”. Perguntei qual das imagens ele tinha gostado mais.
Ele falou: “deixa eu ver” e ficou um tempo olhando. “Essa aqui foca, né? Mas em geral
isso aqui tem muita coisa que precisa mentalizar. Não sei por quê. Tem que fazer isso
e aquilo, então eu já fico meio sem ação” (SIC). Voltou à tela do casal sério e disse:
134

“essas pessoas não têm família”. Frequentemente se esquece ou nem saiba sobre o
que está falando, mas possui uma habilidade em manter o diálogo que chama a
atenção. Afirmou gostar de ouvir ópera e perguntei se havia alguma preferida. Ele
respondeu: “isso é um acervo...”, “exato”, “não sei por que”, “nada foi feito”, “disseram
que seria”, “e agora eu tô nisso” e “tá tá tá”. Perguntei se ele gostava de Puccini, da
ópera Turandot, e ele ficou animado demonstrando familiaridade com o tema. Ao
encerrar a entrevista, perguntei se poderia contar com ele. Respondeu que sim e
complementou: “Semana que vem, né? Sem chateação” (SIC).
c. Instalação perfil sensorial
Basicamente apresentou apenas reação aos estímulos, exceto aos olfativos.
Percebeu e reagiu a alguns dos estímulos apresentados, porém, não foi capaz de
identificá-los e nomeá-los. Levando em consideração a idade avançada, obteve bom
desempenho vestibular e proprioceptivo. Apresenta limitações motoras e dificuldades
para locomoção. Demonstrou certa intolerância ao toque, resistência ao relaxamento
e à posição supina. Apresentou rigidez corporal.
d. Primeira oficina
Realizou apenas a dinâmica do retroprojetor, coloquei como fundo musical a
ária de ópera “Nessum dorma” cantada por Luciano Pavarotti, mas ele não deu a
mínima bola para isso.
e. Segunda oficina
Participou, escolheu os itens da sacola, quis usar o chapéu e os óculos, não
quis beber a água de coco porque coloquei no copo e ele não gostou do aspecto turvo
da água. Comeu as frutas e ficou conversando como se estivesse na praia (ele
mesmo, não criou personagem). Não realizou o teatro com os fantoches.
f. Terceira oficina
Quis levar tudo à boca, fui dando os enfeites um a um e perguntando “posso
colar esse aqui, onde fica melhor”? ele dispôs os enfeites de forma aleatória, mas
achou bonito e ficou feliz com o resultado.

8. S.H. – 85 anos, sexo feminino


a. Questionário sociodemográfico
Respondeu adequadamente a todas as questões evitando relatar eventos de
sua vida. Apresentou fala coerente, riqueza de vocabulário, atenção ao interlocutor,
raciocínio lógico e boa memória. Manteve-se reservada buscando responder
exclusivamente ao que lhe era perguntado, sem se aprofundar nos temas.
b. Dinâmica das telas
Observou com atenção todas as telas e fez comentários coerentes sobre a
atmosfera de cada imagem, cores, elementos e personagens. Escolheu como
preferida a tela das crianças. Várias vezes abordou a questão de não ter se casado,
nunca ter namorado e não ter filhos. Disse que, de todas as cores, a que mais gosta
é o branco por ser “uma cor eclesiástica” (SIC).
c. Instalação perfil sensorial
A área visual está preservada e suponho que o fato de evitar o contato visual
não esteja relacionado à visão, mas sim ao quadro de esquizofrenia. Na área auditiva,
o não reconhecimento dos sons me deixou em dúvida. Os instrumentos foram
apresentados um por um anteriormente com seus respectivos timbres que são
facilmente reconhecíveis. Não sei se, de fato, não os reconheceu ou se sentiu
insegura para responder. Em alguns momentos pareceu se sentir desconfortável,
talvez por estar em um ambiente completamente diferente de tudo que já tinha visto.
Na área tátil, chamou a atenção o fato de, apesar de reconhecer todas as texturas,
135

não haver mudança de expressão facial nem demonstração de surpresa ao


percepcionar texturas contrastantes. Não respondeu a nada relacionado ao olfato. As
áreas motora, proprioceptiva e vestibular estão preservadas, entretanto, deve-se
considerar que o quadro de esquizofrenia é um transtorno mental, que se reflete nas
áreas emocional e social.
d. Primeira oficina
Demonstrou precisão rítmica, integridade no equilíbrio e regularidade na
marcha ao caminhar sobre o plástico bolha. Na dinâmica do retroprojetou pingou as
gotas de anilina enfileiradas. Fez algumas filas de gotinhas da mesma cor. Quando fui
mostrar que se pingasse duas gotas, uma de cada cor, por cima uma da outra, surgiria
uma terceira tonalidade a sua reação foi não gostar da minha interferência no seu
trabalho, como se eu estivesse atrapalhado a sua organização.
e. Segunda oficina
Realizou plenamente todas as propostas, se divertiu, experimentou todos os
elementos sensoriais, foi a única que quis pisar na areia, criou personagem e
desenvolveu trama coerente na personagem, com início, meio e fim. Ficou muito
alegre. Até então não a tinha visto sorrir.
f. Terceira oficina
Não apresentou dificuldade em identificar pelo tato os enfeites tendo à frente o
suporte visual. Montou a árvore agrupando e enfileirando enfeites iguais. Quis guardar
os chocolates para comer em casa e saiu bastante satisfeita com o resultado do seu
trabalho.

4 Discussão

Estudos realizados nessa fase da pandemia demonstraram que o isolamento


acarreta privação sensorial (CARMO et al., 2020; MATTA et al., 2021). O referencial
teórico deste trabalho aborda a questão de idosos institucionalizados apresentarem
níveis mais altos de privação sensorial. Como visto anteriormente, a privação
sensorial pode trazer transtornos de natureza física, emocional e cognitiva.
Houve uma mudança significativa na qualidade da amostra, que seria
inicialmente (em uma previsão pré-pandemia) a de idosos mais jovens frequentadores
de um grupo de pesquisa, cognitivamente saudáveis e fisicamente aptos para uma
gama maior de atividades para uma amostra na qual a média etária se situa nos 80
anos, ou seja, que vivencia um período da existência hoje reconhecido como longevos
(OLIVEIRA et al., 2017; SULZBACH; DALLEPIANE, 2020).
Embora deva-se relativizar o fato de que a idade cronológica determine os
modos de vida na velhice, indivíduos acima de 80 anos normalmente apresentam
características distintas daqueles que ainda não atingiram a chamada velhice longeva
(KRUG et al., 2018). Dessa forma, foi necessário adaptar o olhar à nova amostra,
buscando compreender suas capacidades, para que fosse possível a adequação das
atividades que seriam realizadas com eles de acordo com seus potenciais de
resposta. Um ponto importante que também deve ser destacado refere-se ao fato de
que os idosos estudados, quase que em sua totalidade, foram diagnosticados
portadores de demência, e todos eles apresentaram alterações cognitivas em algum
nível. A demência, além de exacerbar os déficits sensoriais, compromete também o
vivenciar qualitativo dessas experiências (EKRA; DALE, 2020; LOURIDA et al., 2020).
Estudos apontam que as intervenções de natureza sensorial realizadas com
idosos que vivenciam processos neurodegenerativos tendem a atingir resultados
muito positivos, ao ponto de ocorrerem aquisições de novas habilidades ou mesmo
136

resgatar funções consideradas como perdidas (ALCANTARA; MATTOS; NOVELLI,


2019; DEGANI; CHARIGLIONE, 2019). Contudo, também foi observado que, ao
cessarem as intervenções, houve a ocorrência da total perda dos ganhos obtidos, de
modo que é importante a manutenção de uma dieta sensorial que atenda às
necessidades particulares de cada idoso para que ele desfrute de uma boa qualidade
de vida sendo, portador ou não de demência (CHARIGLIONE; JANCZURA, 2013;
CHARIGLIONE; JANCZURA; BELLEVILLE, 2018).
A literatura também menciona que, dentre os efeitos positivos da estimulação
multissensorial, no caso relacionada à abordagem Snoezelen direcionada aos idosos,
destacam-se: o aumento da atenção e concentração, a melhora do raciocínio, a
ativação da memória, uma melhor qualidade nos relacionamentos interpessoais,
ocorrência de comportamentos mais adaptados, redução de estereotipias, melhora da
autoestima e do autocuidado, aumento das expressões de bem-estar e tranquilidade,
maior facilidade em atingir estados de relaxamento, melhora do humor, redução das
manifestações de medo e tristeza, redução dos estados de ansiedade e angústia,
melhora na comunicação, redução de comportamentos agressivos e o aumento da
independência nas atividades de vida diária (DEGANI; CHARIGLIONE, 2019;
MARTINS, 2011; MARTINS; RODRÍGUEZ; MEDEIROS, 2017).
Observou-se em todos os integrantes da pesquisa que o comprometimento
com as atividades realizadas trouxe um tempo de atenção superior ao esperado e a
melhora do raciocínio que se favoreceu com o aumento do tempo de atenção, como
também observado por Exner, Batista e Almeida (2018). Acredita-se que a escolha
adequada das dinâmicas, a beleza das instalações, a natureza artística do que fora
proposto, juntamente com a proposição de realizar algo tangível e até mesmo o
período que antecedeu a pesquisa, que se caracterizou pela carência de estímulos
sensoriais, contribuíram para que ocorressem tais resultados positivos.
Sobre a ativação da memória, não foi observada alteração até mesmo porque
não foram propostas dinâmicas que requeressem diretamente a utilização da memória
para serem realizadas. Contudo, é válido mencionar que foi observada a não
ocorrência de falas repetitivas enquanto o idoso esteve imerso na atmosfera das
instalações e durante a confecção da árvore de natal. Atribui-se isso ao fato de a arte
suscitar o exercício da criatividade e, sobretudo, devido ao comprometimento
estabelecido com suas produções artísticas. Acredita-se que a arte foi a principal
responsável por situá-los no aqui e agora, resgatando-os dos devaneios muito comuns
em idosos portadores de demência, como também relatado por Silva et al., 2019.
Também é relevante destacar a observação de uma importante e gradativa
melhora do humor em dois dos integrantes da pesquisa, Sra. S.F.S e Sr. J.B., que no
primeiro contato evidenciaram estar deprimidos e que na última oficina demonstraram
serenidade e satisfação. Um aumento da expressão de estados de alegria e bem-
estar que acompanham a melhora do humor foi observado em todos eles, assim como
falas e comportamentos mais autoconfiantes, em especial nos idosos mais inseguros,
como foi o caso do Sr. Z.B., e com alto nível de exigência e perfeccionismo, que seria
o caso da Sra. S.F.S. Atribui-se esses comportamentos ao prazer sensorial obtido
durante as oficinas, que possui papel importantíssimo na estimulação dos
neurotransmissores relacionados ao prazer (CORRÊA et al., 2020). Por fim, destaca-
se o caráter permissivo e lúdico da arte que trouxe o rompimento com padrões que
caracterizam as coisas como boas ou ruins, propiciando a valorização de todas as
produções como únicas, atribuindo valor devido à sua natureza expressiva.
137

Referências

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VILAS-BOAS, Sergio. Biografismo: Reflexões sobre as escritas da vida. São Paulo:


Editora UNESP, 2008.
140

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apresentados nesta Tese se fazem importantes como uma proposta de


analisar e refletir a estimulação dos sentidos do idoso por meio da apreciação e do fazer artístico.
Embora os idosos fossem bastante longevos e apresentassem alterações de natureza cognitiva,
foi possível observar que a utilização de diferentes metodologias de expressões artísticas
ampliou o potencial de percepção sensorial nos indivíduos que participaram das intervenções,
dado ao impacto estético provocado pelas atividades realizadas e dada a possibilidade de
produzir arte num momento de vida em que normalmente a capacidade produtiva é
desconsiderada. Nesse aspecto, acreditamos que a proposta da metodologia Snoezelen
beneficiou no sentido de apresentar um espaço no qual foi possível controlar os estímulos e
proporcionar sensações prazerosas por meio deles. Esses fatores trouxeram a atenção dos
participantes para o aqui e o agora. Nenhum dos integrantes, em nenhum momento, “mudou de
assunto”, externalizou o desejo de sair da sala ou quis deixar a atividade, pelo contrário, o
ambiente rico em estímulos sensoriais, por si só, já provocou a imersão no universo sensorial e
das artes. Assim, acreditamos que conseguimos atingir a meta central deste trabalho.

Quanto aos objetivos secundários, cremos que a arte, por natureza, se encarregou de
promover uma abertura para novas possibilidades de diálogo, independentemente de haver ou
não integridade cognitiva, pois os critérios de avaliação de uma produção artística são amplos
e inclusivos. Não observamos descoberta de novos potenciais e talentos, mas sim o desejo de
realizar, participar, interagir e, sobretudo, o prazer de se relacionar com uma nova forma de
linguagem.

Nunca, na história da humanidade, tivemos notícias de que o ser humano atingiu níveis
tão elevados de longevidade. Como administrar esse tempo a mais de vida e o que devemos
fazer para que estes anos a mais sejam bem vividos ainda é um desafio para a nossa geração.
Cremos que o trabalho realizado se traduziu na busca de um novo caminho explorando a riqueza
inerente à linguagem artística. Gostaríamos que esse estudo se transforme em incentivo à busca
de alternativas criativas que possam também explorar novas possibilidades de intervenção
direcionadas ao público idoso. Cremos que o olhar sobre a velhice tem se transformado, porém
ainda existe a concepção de que a longevidade avançada está atrelada à incapacidade, perdas e
doenças. Por mais que os participantes dessa pesquisa fossem portadores de demência, pudemos
observar que são conscientes do fato de serem velhos e também da carga de significados
depreciativos que a velhice carrega, pois os vivenciam de forma internalizada. O convívio com
141

essas pessoas nos ensinou a dar mais importância à resistência desses indivíduos frente à
passagem de tantos anos, do que à natural fragilidade de seus corpos.

Não apenas observamos nos idosos em questão, mas também em nós mesmos, diante
do isolamento o qual tivemos que nos submeter durante a pandemia, a importância dos
estímulos sensoriais para a manutenção de uma integridade física, mental e emocional. No caso
do indivíduo idoso, a necessidade de uma dieta sensorial adequada se amplia e, se
considerarmos os que vivenciam quadros demenciais, ainda mais, pois o sensorial alimenta o
cognitivo e as perdas sensoriais requerem adaptação. Estimulação sensorial é algo muito
necessário aos idosos.

O olhar da arte trouxe a possibilidade de uma livre expressão sem padrões, julgamentos
de certo e errado, bom e ruim. O impacto foi marcante e potencializou o diálogo com o
sensorial. A arte também convidou à valorização do diferente e estimulou a memória pela via
da sensação e da emoção. Por essas razões e pelo fato de a matéria prima da arte ser a memória
reinventada, cremos que as atividades artísticas sejam realmente benéficas aos idosos,
acrescentando o fato de ser um veículo de expressão que amplia a voz de pessoas que têm muito
a dizer.

Apesar da queda do desempenho cognitivo e do aumento progressivo das limitações,


por meio dessa experiência que tivemos, a velhice longeva nos ensinou que não existe um único
modo de se vivenciá-la, ao contrário, cada velhice, cada demência e cada perda de
funcionalidade são únicas. Velhice avançada, com demência, nos seus diferentes graus de
lucidez e funcionalidade, continua sendo a sequência da história de vida de cada um: o caminho
não deixou de ser trilhado.

“PRESENTE, PASSADO E FUTURO? TOLICE. NÃO EXISTEM. A VIDA É UMA PONTE


INTERMINÁVEL. VAI-SE CONSTRUINDO E DESTRUINDO. O QUE VAI FICANDO PARA
TRÁS COM O PASSADO É A MORTE. O QUE ESTÁ VIVO VAI ADIANTE”

Darcy Ribeiro.
142

REFERÊNCIAS

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YIN, R. K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.


152

APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O(a) Senhor(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto: ARTES SENSORIAIS:


ESTIMULANDO OS SENTIDOS DO IDOSO ATRAVÉS DA APRECIAÇÃO E DO
FAZER ARTÍSTICO sob responsabilidade de Marcia Degani, Fonoaudióloga, CRFFa 6540 -
GO, Musicista, OMB 4602 – DF, sob a orientação da Profa. Dra. Isabelle Patríciá Freitas
Soares Chariglione.
O objetivo desta pesquisa é estimular os sentidos dos através de práticas artísticas, direcionado
aos idosos do Distrito Federal. Esta pesquisa justifica-se por haver uma perda natural da
acuidade sensorial à medida que se envelhece, sendo que em geral, essas perdas são
irreversíveis. A arte se apresenta como poderoso recurso em estimulação multissensorial
promovendo o refinamento das percepções de forma que, mesmo diante da redução nos limiares
perceptivos, permite uma intensa estimulação em todo o aparato sensorial. Assim, torna-se
importante a investigação referente ao efeito da estimulação multissensorial através das artes e
seus efeitos no aprimoramento sensorial em idosos, com a finalidade de explorar uma estratégia
adicional para o envelhecimento ativo em idosos do DF.
O(a) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e
lhe asseguramos que seu nome não aparecerá, sendo mantido o mais rigoroso sigilo por meio
da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo(a). O Senhor(a) pode se
recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de
participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo.
A sua participação será da seguinte forma: comparecer por 08 semanas, em encontros semanais.
No primeiro encontro o senhor (a) irá responder o questionário sociodemográfico e quatro
questões subjetivas que serão gravadas. Em seguida o senhor participará de seis oficinas de
artes. Ao término dos encontros, será feita nova entrevista. O tempo estimado para a realização
das oficinas será o de 45 minutos e para as entrevistas individuais, 30 minutos.
Os resultados da pesquisa serão divulgados na defesa da tese de doutorado na Instituição
Universidade Católica de Brasília, podendo ser publicados posteriormente em artigos e
congressos futuros, nos meios científicos, sempre respeitando o total sigilo das informações do
senhor (a). Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda do pesquisador.
Este projeto possui os seguintes benefícios: entrar em contanto com o universo das artes e com
a criatividade de modo a propiciar ganhos em relação à qualidade das experiências sensoriais
presentes no próprio cotidiano, assim como desenvolver de novos potenciais e caminhos que
levarão à expressão criativa e estabelecimento de diálogos com o mundo. O participante terá a
oportunidade de realizar novas aprendizagens, ampliação do universo sociocultural e artístico,
além de realizar reflexões críticas sobre os temas que serão abordados.

Se, por ventura sentir-se ameaçado(a) ou mesmo assustado(a) com alguma atividade realizada
durante a pesquisa, ou sentir-se desmotivado diante das atividades propostas, o desconforto
poderá ser minimizado da seguinte forma: o senhor(a) será encaminhado(a) à equipe
responsável pelo atendimento psicológico do Centro-Dia Pasárgada, ou mesmo poderá solicitar
meu acompanhamento profissional, de forma a garantir que quaisquer danos previsíveis serão
evitados (minimização dos riscos).
153

É de nossa responsabilidade a assistência integral caso ocorra danos que estejam diretamente
ou indiretamente relacionados à pesquisa. Esta pesquisa não lhe trará custos e é de nossa
responsabilidade o ressarcimento do custeio das despesas relacionadas à mesma.
Todas as medidas de proteção relacionadas à pandemia do novo Coronavírus serão adotadas,
tais como a utilização de máscaras, luvas e vestimentas adequadas, limpeza e higienização do
ambiente antes de todas as intervenções. Os materiais que serão utilizados nas oficinas serão
previamente higienizados e de uso exclusivo de cada participante.
A todos os participantes será garantido o acesso aos resultados da pesquisa assim como o acesso
ao registro deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sempre que o mesmo for
solicitado.
Neste ato e, para todos os fins de direito, será autorizado o uso de todos os registros de imagem
e voz realizados durante a pesquisa, que poderão ser exibidos parcial ou totalmente durante a
defesa da tese, apresentações audiovisuais, publicações, eventos científicos e/ou artísticos
nacionais e internacionais, assim como disponibilizadas no banco de imagens resultante da
pesquisa, na Internet ou em outras mídias, fazendo-se constatar os devidos créditos aos
pesquisadores. Caso os senhores preferirem não serem identificados, comprometemo-nos a
preservar suas identidades por meio da utilização de recursos de imagem que desfoquem as
suas fisionomias.
Se o(a) Senhor(a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor telefone para: Marcia
Degani, telefone: 61- 981760939 em horário comercial.
Este projeto foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UCB, número do protocolo
________. As dúvidas com relação à assinatura do TCLE ou os direitos do sujeito da pesquisa
podem ser obtidas no CEP/UCB pelo telefone: (61) 3356-9784. O CEP da UCB está localizado
na sala K-239, no endereço Campus I - QS 07 – Lote 01 – EPCT – Águas Claras – Brasília –
DF.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra
com o voluntário da pesquisa.
Eu aceito participar da pesquisa: SIM ( ) NÃO ( )
Desejo não ser identificado nos registros de imagem: SIM ( ) NÃO ( )

Nome completo:
Assinatura:

Nome completo do pesquisador responsável: Marcia Degani


Assinatura:

Brasília, ___ de __________de _________


154

APÊNDICE II – Questionário Sociodemográfico

I- Características Gerais
1. Iniciais Nome:
2. Sexo ( )feminino ( ) masculino
3. Nacionalidade ( ) Brasil ( ) Outros: __________
4. Naturalidade:
5. Data Nascimento:
6. Idade:
7. Há quanto tempo mora em SP?
8. Cidade que reside:
9. Qual seu estado civil? ( ) solteiro ( ) casado ( ) viúvo ( ) separado ( ) desquitado ( ) Outros
10. Filhos ( ) Não ( ) Sim Quantos? _____________________
11. Com quem reside atualmente? ( ) sozinho ( ) neto(s) ( ) filhos ( ) outros parentes ( ) Outros
12. Escolaridade
( ) 1º grau incompleto ( ) 2º grau incompleto
( ) 1º grau completo ( ) 3º grau incompleto
( ) 2º grau incompleto ( ) 3º grau completo

II – Outras Informações
13. Profissão ( ) aposentado ( ) Trabalhando ( ) benefício ( ) nunca trabalhou
14. Lazer ( ) não ( ) sim Qual?___________________
15. Hobbies ( ) não ( ) sim Qual?_______________________
16. Atividade Física ( ) não ( ) sim Qual? Frequência?
17. Como está a sua saúde? ( )ruim ( )nem boa nem ruim ( )boa ( )excelente
18.Utiliza alguma medicação? ( ) sim ( ) não
Qual? __________________________________________________________
Para que serve? __________________________________________________
Avaliador: ____________________________________
Data:________________________
155

ANEXO I – Critérios de Avaliação do Perfil Sensorial


Nome:
Data de Nascimento:
Idade:

Diagnóstico:

a) Apresenta algum problema visual, qual?


b) Apresenta algum problema auditivo, qual?
c) Utiliza óculos e/ou próteses auditivas:
d) Apresenta ajuda(s) técnica(s)? Qual?
e) Outras patologias

Data da Avaliação Inicial:

Av. Inicial Data Antes TA S D SOP2 P Depois TA S D SOP2 P


Sessão 1
Sessão 2
Sessão 3
Sessão 4
Sessão 5
Sessão 6
Sessão 7
Sessão 8
Sessão 9
Sessão 10
Sessão 11
Sessão 12
Sessão 13
Sessão 14
Sessão 15
ÁREA VISUAL

Avaliação
Inicial

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.

A. Mostra reação perante objetos luminosos


B. Segue objetos luminosos e de cores brilhantes
C. Estabelece contato visual com as pessoas
D. Reconhece e identifica algumas cores
E. Mostra-se sobre-excitado ao ter vários estímulos ao mesmo tempo
F. Reage perante luzes fortes
G. Apesar da sua visão normal apresenta necessidade constante de tocar os objetos
156

AUDITIVA

Avaliação
Inicial
ÁREA

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.
A. Reage a sons
B. Apresenta um movimento exagerado (espasmo) ao escutar um som repentino
C. Localiza a fonte sonora
D. Agrada-lhe o som da música
E. Responde à voz do terapeuta
F. Reconhece ou identifica alguns sons (sinos, tambores, areias etc.)
G. Com audição normal, ignora os sons e ruídos
ÁREA TACTIL

Avaliação
Inicial

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.

A. Reage ao ser tocado com texturas


B. Reage a mudanças de temperatura
C. Tolera o contato com diferentes texturas
D. Tolera o contato com outras pessoas
E. Reconhece e identifica algumas texturas
F. Percebe as vibrações do colchão
G. Busca o contato físico
OLFATIVA

Avaliação
Inicial
ÁREA

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.

A. Reage a aromas
B. Reconhece aromas
157

C. Percebe com facilidade aromas suaves (flores, doces, frutas)


D. Percebe com facilidade aromas fortes (café, perfume concentrado...)
E. Reconhece o cheiro do cuidador
F. Cheira os objetos
G. Escolhe aromas
Avaliação
MOTORA

Inicial
ÁREA

A.

D.

G.

H.
B.

E.

F.
C

A. Apresenta movimentos involuntários


B. Tolera a posição supina
C. Mantém-se em equilíbrio de pé
D. Agarra objetos:
E. Com as duas mãos
F. Com a mão direita
G. Com a mão esquerda
H. Mostra-se relaxado com facilidade
VESTIBULAR E
PROPRIOCEPTI

Avaliação
Inicial
ÁREA

VA

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.

A. Gira a cabeça para seguir o movimento de um objeto


B. Busca objetos que saem do seu campo de visão
C. Reage aos movimentos inesperados
D. Movimenta-se constantemente (mo. rotatórios, aceleração, deitar, levantar)
E. Utiliza força nas suas ações
F. Localiza-se espacialmente
G. Com capacidades para mover-se, mas é inativo e desmotivado
158

PSICOLÓGICA
ÁREA SOCIAL

Avaliação
Inicial
E

A.

D.

G.
B.

C.

E.

F.
A. Estabelece facilmente contato visual
B. Mostra sorriso
C. Permite a proximidade do/s terapeutas
D. Interagir com os outros
E. Irrita-se com facilidade
F. Expressa estados de ânimo
G. Mostra-se contente

1 Não apresenta resposta


legenda

2 Pouca resposta
3 Resposta com ajuda
4 Alguma resposta
5 Apresenta muito boa resposta

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