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Psicologia: Ciência e Profissão 2022 v. 42, e234194, 1-14.

https://doi.org/10.1590/1982-3703003234194 ENCONTRO GETRAFOR Artigo


11/08/2022

Mediação Audiovisual e Educação Permanente: Cenas de um


Percurso de Formação com Trabalhadoras do SUAS

Allan Henrique Gomes1 Letícia de Andrade2


1
Universidade da Região de Joinville, SC, Brasil. Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil.
2

Kátia Maheirie2
2
Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil.

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa-intervenção que teve como objetivo
investigar a potência da mediação audiovisual em um percurso formativo com trabalhadoras
da Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no município de
Joinville – SC no Brasil. A orientação teórica e metodológica foi a Psicologia Sócio-histórica em
diálogo com conceitos da obra de Jacques Rancière. A ênfase metodológica do percurso foi a
mediação audiovisual, que privilegiou a audiência de obras cinematográficas produzidas na
cidade, dentre outras atividades imagéticas, seguida por um grupo de discussão. No processo
de análise buscou-se trabalhar com a montagem de cenas da pesquisa, conjecturando relações
entre o plano destes episódios na pesquisa-intervenção com o campo mais amplo que contorna
a experiência de ser trabalhador(a) do SUAS. Os resultados e discussões são apresentados em
três cenas. Na primeira cena destacamos o trabalho de mediação e apresentamos uma narrativa
pontuando alguns episódios e detalhes dos próprios encontros da pesquisa. Na segunda são
discorridos os prováveis sentidos da expectação e discute-se o modo como a participação no
percurso produziu vivências qualitativas com a expectação. Por fim, na terceira cena, refletimos
a necessidade de atividades de educação permanente que possibilitem espaços de diálogo,
vivências e abertura para significar o trabalho socioassistencial. Consideramos que o modo
como o percurso foi vivenciado permitiu a emergência de cenas na pesquisa que expressam
a potência da mediação audiovisual. Ademais, o arranjo teórico metodológico que embasou o
percurso formativo foi indispensável para a construção destes resultados.
Palavras-chave: Educação permanente. Cinema. Proteção social.

Audiovisual Mediation and Permanent Education:


Scenes from a Training Course with SUAS Workers

Abstract: This paper presents the results of an intervention study that aimed to investigate
the capacity of audiovisual mediation in a formative course with workers from the basic
social assistance of the Single Social Assistance System – SUAS in the municipality of Joinville
in Brazil. The theoretical and methodological orientation was the social historical psychology in
dialogue with ideas from Jacques Rancière’s work. The route’s methodological emphasis was
the audiovisual mediation, that privileged the audience of cinematographic works produced
in the city, among other imagetic activities, followed by a discussion group. In the process of
analysis, we sought to work with the assembly of the scenes of the study, conjecturing relations
between the plan of these episodes in the intervention-study with the broader field that
circumvents the experience of being a worker of SUAS. We present the results and discussions
in three scenes. In the first scene we highlight the work of mediation and present a narrative

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showing some episodes and details of the study meetings. In the second we discuss the probable
senses of expectation and debate the way the participation in the course produced qualitative
experiences with expectation. And, in the third scene, we reflect on the need for permanent
education activities that allow spaces for dialogue, experiences, and openness to give meaning
to the social assistance work. We consider that the way in which the journey was experienced
allowed the emergence of scenes in the study that express the power of audiovisual mediation.
Also, the  theoretical methodological arrangement that underpinned the training course was
necessary for the construction of these results.
Keywords: Permanent education. Movie theater. Social protection.

Mediación Audiovisual y Educación Continua: Escenas de


un Curso de Formación con Trabajadoras del SUAS

Resumen: Este artículo presenta los resultados de una investigación-acción cuyo objetivo fue
investigar la potencia de la mediación audiovisual en un recorrido formativo con trabajadoras
de la Protección Social Básica del Sistema Único de Asistencia Social (SUAS) en el municipio de
Joinville, en Brasil. El enfoque teórico-metodológico fue la psicología sociohistórica en diálogo
con los conceptos de la obra de Jacques Rancière. El énfasis metodológico del recorrido fue
la mediación audiovisual, que privilegió la audiencia de obras cinematográficas producidas en la
ciudad, entre otras actividades imagéticas, seguido de un grupo de discusión. En el proceso de
análisis se buscó trabajar con el montaje de escenas de la investigación, conjeturando relaciones
entre el plan de estos episodios en la investigación-acción con el campo más amplio que rodea
la experiencia de ser trabajador/a del SUAS. Los resultados y discusiones se presentan en tres
escenas. En la primera escena se destaca el trabajo de mediación y se presenta una narrativa
puntuando algunos episodios y detalles de los propios encuentros de la investigación. En la
segunda se discuten los probables sentidos de la expectación y se ventila cómo la participación
en el recorrido produjo vivencias cualitativas con la expectación. En la tercera escena, se refleja
la necesidad de actividades de educación continua que posibiliten espacios de diálogo, vivencias
y apertura para significar el trabajo socioasistencial. Es necesario señalar que el modo en que
fue vivido el recorrido permitió la emergencia de escenas en la investigación que expresan la
potencia de la mediación audiovisual. Además, el arreglo teórico-metodológico que basó el
recorrido formativo fue indispensable para construir estos resultados.
Palabras clave: Educación continua. Cine. Protección social.

Cenas preliminares ainda se praticava os programas sociais de acordo


No Brasil, desde 2005 a Assistência Social tem com as vontades dos governos.
sido administrada como política pública na forma Criado à imagem e semelhança do Sistema Único
de um Sistema Único de Assistência Social (SUAS). de Saúde, o SUAS organiza suas ações em níveis dife-
A implantação deste sistema é reconhecida- renciados de atenção. No caso do SUAS são modalida-
mente um marco histórico na garantia dos direitos des: a) a Proteção Social Básica (PSB), que compreende
sociais. A Constituição Federal de 1988 instituiu a um arranjo de atividades socioassistenciais destinado
Assistência Social como um bem jurídico vinculado às pessoas e famílias em situações de vulnerabilidade
à Seguridade Social e, com isso, apontava na dire- pessoal ou social, com ênfase no fortalecimento da
ção de uma política pública. Entretanto, durante os convivência familiar e comunitária; b) a Proteção
quinze anos que se seguiram à Constituição Cidadã, Social Especial (PSE), destinada a família e indivíduos

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que tiveram seus direitos violados por ocorrência de trabalhadores(as) pode contribuir para a problemati-
abandono, maus-tratos, abuso sexual e uso de drogas, zação acerca das concepções de sujeitos e reconheci-
entre outras situações. A proteção social especial divi- mento dos usuários do SUAS como sujeitos de direitos
de-se em média e alta complexidade e, no caso desta e, a partir disso, a pertinência dos processos de trabalho
última, o principal serviço de referência é o acolhi- com relação às demandas das populações atendidas e
mento institucional (Cruz & Guareschi, 2013). objetivos dos serviços socioassistenciais (MDS, 2013).
Apesar de compreendermos que existem ques- A aposta no encontro entre “assistência social”,
tões transversais à política de Assistência Social, “audiovisual” e “trabalhadores do SUAS” tinha como
aqui nos deteremos em aspectos relativos à PSB, premissa a demanda por ações criativas no contexto da
que tem nos Centros de Referência de Assistência PSB. Salienta-se que esta modalidade de proteção social
Social (Cras) sua principal expressão e estratégia, pode ser considerada uma inovação no setor socioassis-
porque, entre outras razões, é um serviço ofertado tencial, entre outros argumentos, por sua ênfase de tra-
nos territórios das famílias e comunidade. Na PSB, balho nos aspectos potenciais que constituem pessoas,
opera-se o Programa de Atenção Integral às Famílias  famílias e comunidades (Oliveira et al., 2011).
(Paif ), o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Compreendemos a atividade criadora, na perspec-
o Programa Bolsa Família (PBF). tiva de Vigotski (2009), como aquela em que algo novo
Pela matricialidade sociofamiliar, pela transfe- é criado. Esse novo pode ser uma ideia, uma invenção,
rência de renda e também pela presença territorial uma obra artística ou mesmo uma simples novidade
contínua, dentre outros elementos que suplantam no cotidiano. A tese inicial desse autor é que todas as
a PSB, os Cras funcionam “como um organizador e produções humanas foram, primeiro, produto da ima-
gerenciador de dispositivos, grupos e instituições que ginação. Nesse sentido, a atividade criadora sempre
existem no território”, com a finalidade de articulá-los será uma atividade psicológica complexa, pois a ima-
para promover um trabalho contínuo com as famílias ginação está conectada aos demais processos psicoló-
que participam destes programas (Oliveira, Dantas, gicos. Assim, um detalhe adicionado ao processo pode
Solon, & Amorim, 2011, p. 141). mobilizar outras formas de relações e combinações em
Com isso, temos a compreensão de que nestes uma realidade. Logo, estava presumido que diante das
serviços os profissionais da Assistência Social são demandas por atividades inovadoras e ações coletivas
desafiados a realizar novas práticas socioassistenciais, nesta modalidade da política, poderia ser interessante
na perspectiva das potencialidades dos territórios, aos profissionais apropriar-se da mediação audiovisual
processos grupais e coletivos. Assim, emergiu a pro- em seus mais diversos modos de trabalho com filmes.
posta desta pesquisa em fazer encontrar um grupo de A mediação audiovisual concebida para esta
trabalhadores da PSB com realizações audiovisuais investigação refere-se, primeiramente, à possibili-
produzidas na cidade de Joinville – SC. dade de fazer encontrar sujeitos de um determinado
A Educação Permanente no SUAS tem ênfase campo com algum filme. É interessante lembrar que a
na atuação, na gestão e nos desafios do trabalho, mediação é inerente à constituição de sujeito em uma
isto é, não busca “apenas desenvolver habilidades perspectiva sócio-histórica, justamente, pela ênfase
específicas, mas problematizar os pressupostos e os nas relações objetivas e subjetivas que marcam o pro-
contextos dos processos de trabalho e das práticas cesso de significação, sem perder de vista as dimensões
profissionais realmente existentes” (Ministério do históricas e concretas que objetivam ou subjetivam a
Desenvolvimento Social e Combate à Fome [MDS], existência humana. Por conta dessas múltiplas rela-
2013, p.  30). Essa perspectiva de formação parte dos ções entre “sujeito” e “mundo”, a mediação audiovi-
desafios e da realidade que se apresenta aos(às) traba- sual mobilizada no encontro entre sujeitos e filme não
lhadores(as), possibilitando emergir saberes/fazeres se resume na audiência em si, mas se abastece a partir
relevantes ao cotidiano e ao trabalho socioassistencial. das incontáveis possibilidades de composição entre
Uma das apostas é que a Educação Permanente os signos que pluralizam as relações no processo de
no âmbito do SUAS possa fomentar questionamentos significação de um encontro (Smolka, 2004).
e reflexões acerca dos contextos nos quais as equipes Nesta concepção da mediação audiovisual como
estão inseridas, os diferentes modos de vida e pro- conceito e recurso metodológico, valem alguns pressu-
cessos de trabalho. Além disso, a formação dos(as) postos da obra de Jacques Rancière (2012). Entre eles,

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consta a compreensão do espectador emancipado, investigação que a mediação audiovisual pode ser
sujeito de uma inteligência que não pode ser reduzida potente para disparar encontros com infinitas possibili-
a um modo passivo na recepção audiovisual, e, com dades de significação, inclusive, de pensamentos ainda
isso, a premissa de que uma obra potente não será não elaborados entre os saberes/fazeres de trabalhadores
necessariamente aquela que visa transmitir um conhe- na PSB/SUAS e aquilo que pode emergir de conexões e
cimento ao espectador. Em boa medida, a mediação sentidos em alguns filmes produzidos localmente.
audiovisual acontece no processo de flagrar cenas que Sendo assim, compreendemos que o encontro
demandam um trabalho de significação do espectador. entre sujeitos trabalhadores na Assistência Social
Do mesmo modo que uma obra pode ser signifi- com obras cinematográficas pode deflagrar discus-
cada de maneiras distintas pelo espectador em dife- sões sobre suas experiências com as (des)igualdades.
rentes momentos de sua vida, uma mesma obra pode Apesar de apontar uma possibilidade, qualquer previ-
ser expectada de diferentes modos em uma audiência são mais apurada relativa ao processo de significação
em grupo. Logo, a mediação audiovisual desenhada e efeitos nos participantes de uma mediação audio-
nesta pesquisa compreendia o encontro entre espec- visual, não pode ser considerada na relação de causa
tador e obra e, ainda, o encontro entre espectadores. e efeito. Em síntese, não é possível determinar seu
Com isso, podemos afirmar a mediação audiovi- resultado com precisão.
sual como um processo potente da atividade criadora,
inclusive pela possibilidade de invenção de sentidos Percurso metodológico
no processo de expectação e discussão de uma obra. Esta investigação pode ser caracterizada como
Na mediação audiovisual, a significação pode ser uma pesquisa-intervenção, pois, mediante a promoção
potencializada pelos intervalos e distâncias produzi- de um percurso de formação com trabalhadoras da PSB
das tanto na audiência como também nos diálogos integrantes da Secretaria de Assistência Social (SAS) de
entre os espectadores. Joinville, realizou-se uma análise de alguns dos possíveis
Os intervalos ou ainda as distâncias – primeiro efeitos da mediação audiovisual como recurso do pro-
entre espectador e obra, depois entre os próprios espec- cesso formativo de trabalhadoras no SUAS.
tadores – são espaços para o exercício da inteligência, A presença das trabalhadoras no percurso forma-
para movimentar o pensamento entre (pelo menos) tivo ocorreu mediante o convite da SAS aos serviços
dois pontos, duas realidades. Nesse contexto, um filme, que integram a gerência de PSB da referida Secretaria.
bem como outras objetivações artísticas, pode ser uma Foram disponibilizadas 18 vagas que foram preenchi-
obra potente para uma inteligência desdobrar pensa- das por trabalhadoras (todas elas mulheres), profis-
mentos ainda não pensados: “a imagem da arte . . . está sionais das seguintes áreas: Psicologia, Serviço Social,
sempre entre duas formas. Ela é o trabalho que é criado Pedagogia e Terapia Ocupacional. Além das trabalha-
em seu intervalo” (Rancière, 2010, p.  102). O efeito doras dos Cras, também participaram profissionais de
de uma obra no espectador não somente confirma a outros programas vinculados à gerência da PSB.
potência de um filme ou informa sobre o processo psi- No convite aos serviços foi informado sobre o tra-
cológico complexo presente na recepção audiovisual. balho de pesquisa vinculado ao percurso formativo.
Além dessas questões, o argumento citado aponta que Para garantir a participação efetiva das trabalhadoras,
os indícios de imagens produzidas no espectador e des- a SAS dispensou as profissionais de seus locais de tra-
coladas da visualidade projetada qualificam a dimen- balho nos dias agendados para os encontros, de modo
são artística de um filme. Por extensão, isso significa que as atividades da formação foram contadas como
que, na perspectiva de Rancière, a “imagem da arte” é horas trabalhadas.
uma obra do pensamento, é uma relação de mundos e A proposição de encontros mediados por ati-
um processo combinatório plasmado no encontro de vidades com ênfase no processo criativo, pode ser
algumas inteligências. denominada como “oficinas estéticas”, especialmente
A partir dessas formulações conceituais, quando prevê um processo grupal e, nele, a discus-
constituiu-se objetivo desta pesquisa: investigar a são do produto dessas oficinas. Nas oficinas estéti-
potência da mediação audiovisual em um percurso cas, são frequentemente utilizados recursos ligados
formativo com trabalhadores da PSB/SUAS em ao campo da arte e da produção cultural, dentre
Joinville – SC, Brasil. Também foi uma hipótese desta eles, o trabalho com imagens, o audiovisual/cinema.

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Outra característica das oficinas estéticas é a abertura discussões (Weller, 2006). Sendo assim, partimos
de espaço afetivo-reflexivo sobre relações cotidianas e deste recurso tendo em vista a coerência com os pres-
práticas de trabalho (Reis & Zanella, 2015). supostos conceituais de uma mediação audiovisual.
De acordo com Reis e Zanella (2015), as oficinas Do ponto de vista metodológico, a mediação
estéticas podem ser concebidas como dispositivo de audiovisual acontece pelo menos em dois tempos:
pesquisa-intervenção, pois essa prática colabora para a) expectação de uma obra ou outra atividade imagé-
a construção de conhecimento a partir das relações, tica; b) discussões no grupo. Sobre o segundo item é
da criação e do compartilhamento. As oficinas estéti- preciso destacar que ele também se constitui como
cas podem produzir efeitos diversos e que não podem uma atividade criadora, pois é um tempo de interlo-
ser antecipadamente visibilizados, restando ao pesqui- cução e fluência de ideias, conceitos, discussões, etc.
sador conjecturar hipóteses, algumas que por vezes Assim, compreendemos que se trata de uma
não serão também conhecidas, pois alguns dos efeitos atividade intelectual, de exercício do pensamento,
das oficinas escapam ao tempo e ao espaço da pesqui- de problematização pela palavra própria e/ou do
sa-intervenção. Contudo, podemos afirmar que esta outro (Rancière, 2004). Com essas características, não
proposta metodológica tem no próprio encontro sua fica difícil assumir o grupo de discussão também como
potência, pois visa produzir deslocamentos em relação um espaço de produção de sentidos (Smolka, 2004).
àquilo que é vivido cotidianamente. No decorrer dos encontros, cada vez mais os
Diante disso, a presença da cinematografia grupos de discussão foram sendo ocupados pelas
local como acervo definido para a mediação audio- trabalhadoras e, com isso, foi-se modificando o
visual não tinha uma definição temática a priori. recurso metodológico, abrindo-se mão de um roteiro
Conforme será descrito nas cenas do percurso, de perguntas e lançando-se no encontro da pes-
a questão era muito mais a experimentação do pro- quisa. Ao que parece, esse deslocamento dos lugares
cesso de mediação audiovisual, cujas obras para de pesquisadores e pesquisados vai ao encontro de
exibição foram selecionadas a partir do interesse um “método da igualdade” (Rancière, 2014). Sobre
das trabalhadoras participantes. esse resultado metodológico ainda estabeleceremos
No percurso de formação foram realizados sete discussão no presente texto.
encontros, entre os meses de abril e setembro de O trabalho de análise constituiu-se em um pro-
2015, tendo cada um deles aproximadamente três cesso de montagem das cenas de pesquisa. Esse pro-
horas de duração. Com relação aos aspectos éticos, cesso se abasteceu das anotações dos diários de
o  projeto de pesquisa foi aprovado no comitê de campo, da transcrição dos grupos de discussão e,
ética em pesquisa com seres humanos, com número ainda, de uma escrita narrativa sobre cada um dos
CAAE 57618316.7.0000.5365. A participação das tra- encontros. Apesar de os listar aqui em três momentos
balhadoras foi voluntária e mediante a adesão ao distintos, esses procedimentos se entrelaçaram, pois
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), fomos compreendendo que os encontros estavam
apresentado ao grupo de profissionais no primeiro ligados entre si pelos efeitos do percurso.
encontro do percurso de formação. No TCLE havia Esta proposta de análise orienta-se pelo para-
um item solicitando a autorização para a gravação de digma indiciário, mas diferente do objetivo dos his-
todo o percurso em câmera de vídeo. Tal solicitação toriadores, nossa perspectiva é de uma leitura que
justifica-se em virtude das atividades de discussão permita a compreensão de uma experiência a par-
em grupo. O recurso das imagens favoreceu a identi- tir do residual significativo (Ginzburg, 2007; Góes,
ficação dos respectivos locutores na fase de transcri- 2000). Considerando que, em síntese, o trabalho de
ção dos encontros. campo desta pesquisa foi um convite para pensar/
A produção das informações nesta investigação sentir possíveis relações entre “realizações audiovi-
foi orientada pelos grupos de discussão. Trata-se de suais” e “realizações socioassistenciais”, a montagem
um trabalho amparado em um método de pesquisa de cenas foi uma construção que privilegiou detalhes
que se interessa pela produção coletiva de opini- produzidos nos encontros da mediação audiovisual.
ões e pensamentos, onde o pesquisador não atenta Esses detalhes podem ser “qualquer” ocorrência.
somente aos conteúdos (falas individuais e/ou cole- Quando afirmamos o “qualquer” como um mate-
tivas), mas também às performances do grupo nas rial possível à cena, é por conta de sua natureza não

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hierarquizada, não capturada por uma ordenação No primeiro encontro foi reservado um tempo
de valores. Independentemente de onde e como dis- inicial para apresentações dos pesquisadores, das
param, esses diálogos são pensamentos próprios do trabalhadoras e, ainda, do projeto de pesquisa,
encontro (Rancière, 2009, 2014). incluindo detalhes do TCLE. O encontro aconteceu
Logo, a montagem da cena está ligada a um episó- em um espaço da própria SAS e tinha como temática
dio (ocorrência, detalhe etc.) na pesquisa que sinaliza previamente divulgada no cronograma do percurso:
a existência de uma trama de relações que constituem “a constituição dos trabalhadores na Assistência
certo plano de significação neste campo. A  elabo- Social”. Para começar a estabelecer relações entre
ração de uma cena é um trabalho mais processual, “SUAS” e “audiovisual”, foi projetada a seguinte per-
que  se estende para além do detalhe em si, todavia, gunta: “que filme poderíamos fazer sobre o trabalho
sem deixar escapar as minúcias do lance flagrado. na Assistência Social?”.
Nesse sentido, a análise remete à composição de um Diante dessa questão, organizamos quatro gru-
evento singular, mas isso não significa ocupar-se da pos de trabalho com a tarefa de produzir uma narra-
ocorrência como se ela fosse uma exclusividade, tiva imagética sobre suas experiências no campo da
tampouco é o exercício afoito de ajuizamento de um Assistência Social. No momento em que a atividade
fato ou, ainda, a exposição de um desacordo entre foi colocada, as profissionais prontamente acolhe-
aquilo que aparece no campo e aquilo que teorica- ram a proposta, dialogando entre si e com as imagens
mente o pesquisador concebe. oferecidas pela equipe de pesquisa. Durante apro-
As cenas remetem ao coletivo, às linhas de cons- ximadamente uma hora, cada grupo elaborou sua
tituição da trama e, ainda, às pistas daquilo que mobi- narrativa imagética. Ao final do encontro fez-se uma
lizou o próprio episódio. Trata-se de um singular que apresentação dessas produções.
de alguma maneira expõe o genérico e o comum. Depois de três semanas houve um novo encon-
Na montagem da cena vai-se flagrando sua reversi- tro, agora em um auditório de uma instituição de
bilidade e o modo como aquele detalhe emerge no ensino superior da cidade. Sua temática foi “o audio-
tempo/espaço da pesquisa. Logo, ao mesmo tempo visual como dispositivo de trabalho socioassisten-
em que faz referência aos interstícios daquilo que é cial” e, assim, conversamos sobre a potencialidade do
próprio do campo da pesquisa, a montagem da cena cinema, especialmente de curtas metragens.
carrega as marcas do pesquisador. Tal qual o cineasta, Uma profissional levanta a seguinte problemá-
o pesquisador aparece naquilo que flagra. tica: “Com os grupos de pais é difícil, parece que eles
têm dificuldades em interpretar a imagem, quando eu
assisto a ideia está ali, perfeita [para aquilo que desejo
Resultados e discussões
transmitir]. Mas na verdade [prática] temos que cons-
truir com eles, explicar como se fossem criancinhas”.
Cenas de mediação Uma discussão interessante emerge dessa fala, pois
No percurso de formação, algumas temáticas uma das participantes interrompe questionando:
ganharam relevo durante as discussões, dentre elas, “Eles não fazem leitura nenhuma, ou não fazem a lei-
a experiência de ser trabalhadora no SUAS, os desafios tura que você fez?” e, depois desta interrogação, acres-
da atuação, as condições de trabalho e as imagens e centa: “Na minha experiência, não teve nenhum que
os patrimônios da cidade. Todavia, no procedimento não teve leitura”. Este episódio expressa uma situação
de análise dos encontros, percebeu-se que também em que o próprio grupo conduziu a discussão sobre
outro resultado, com aspectos mais processuais a necessidade de pensar o audiovisual em uma pro-
e indiciários, emergiu como um desdobramento posta aberta aos espectadores/usuários dos serviços.
relevante da pesquisa. Esse outro resultado está Uma das psicólogas, contribuindo com essa dis-
associado à definição metodológica do percurso cussão, aponta a questão do vínculo entre o “grupo
formativo que teve a mediação audiovisual como de usuários do serviço” e o profissional como uma
recurso principal dos encontros. Nesta seção, necessidade para que as pessoas se sintam à vontade
realizamos uma narrativa com o intuito de expor, para expressar suas leituras (opiniões, sentimentos
resumidamente, como se constituiu nesta pesquisa etc.). A partir disso, a discussão segue com outras
o percurso de mediação audiovisual. falas sobre suas vivências com grupos: “A gente

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assiste na reunião e não rola nada, aí chega no lanche a pesquisa-intervenção se deu como percurso aberto.
e todo mundo se solta, conversa”. As questões discutidas nos encontros moveram os
Aproveitamos esse relato para pensar com elas rumos, os temas e a própria expectativa que as traba-
sobre o trabalho do espectador. Depois de poucas lhadoras tinham sobre um percurso formativo.
palavras que qualificavam essa condição aparente- Do segundo ao quinto encontro, todos foram
mente passiva de um sujeito, surge uma frase no grupo: realizados em uma instituição de ensino superior.
“Na Assistência a gente não trabalha com o espectador, O sexto encontro, contudo, levou a termo a ênfase
mas com o protagonista”. Vale destacar que essa enun- audiovisual do percurso formativo e, por meio de uma
ciação foi proferida em uma tonalidade afirmativa, mas parceria com um dos espaços culturais da cidade,
sob alguma suspeita de que o espectador não poderia fomos com as trabalhadoras a uma sala de cinema.
ser descartado desse processo de trabalho. Essa decisão ocorreu no processo da pesquisa inter-
Ainda no segundo encontro, foram apresentados venção, como uma aposta nos incontáveis possíveis
aproximadamente trinta títulos de filmes realizados da mediação audiovisual.
em Joinville – SC, resultado de um verdadeiro garimpo Nessas condições e espaço físico, achamos conve-
feito pelos pesquisadores. Combinamos neste dia que niente a projeção de uma ficção de longa-metragem.
assistiríamos a uma dessas obras, preferencialmente Esse encontro mobilizou a vivência delas no lugar
de curta-metragem, com o propósito de iniciar uma de espectadoras. Assistir a um filme em uma sala de
aproximação com a produção local. Diante disso, cinema, ainda que essa obra de gênero dramático
as participantes escolheram um filme que tematizava a tenha na desigualdade social seu material ficcional,
história da cidade. Ao final desse encontro, solicitamos potencializou outros sentidos sobre suas presenças
que as trabalhadoras, com suas respectivas colegas de no percurso de formação. Além das questões refle-
trabalho, produzissem imagens (fotografias, vídeos xivas trazidas pelas participantes no grupo, assistir
etc.) relativas ao cotidiano e ao território de atuação. àquela obra de longa-metragem foi uma experiência
No terceiro encontro, todas as equipes de traba- com possíveis efeitos em suas concepções sobre a ati-
lho levaram algum material imagético, alguns deles vidade expectadora.
no formato de vídeo, atendendo ao pedido realizado O sétimo encontro voltou a acontecer na institui-
no encontro anterior. Por meio das imagens levadas, ção de ensino. Foi um tempo para relatos, lembranças
foi possível que falassem um pouco mais sobre suas e considerações sobre a configuração dos encontros no
condições de trabalho e, ainda, os desafios da atua- percurso. Era também um dia para a avaliação de todo
ção na PSB. Diante do que disseram e também do que o processo e, para mediar esse momento, decidimos
escutavam de suas colegas trabalhadoras em outros organizar um pequeno vídeo com fotografias, áudios
serviços da PSB, trocaram experiências e pensaram e outras imagens produzidas nos próprios encontros.
coletivamente em alternativas para dilemas comuns Após a projeção do vídeo, organizamos uma roda de
entre seus serviços/atuação. Nesse dia, também pontu- conversa, como fazíamos nos encontros anteriores.
aram que a proteção social é básica, mas nem por isso Observando aspectos metodológicos do processo
sua execução é simples. E, assim, nos afirmaram que da pesquisa, não é possível desvincular a mediação
“o trabalho no Cras possui a sua própria complexidade”. audiovisual do grupo de discussão. As atividades ima-
O quarto encontro, assim como o terceiro, con- géticas e audiências seguidas pela discussão no grupo
tou com a presença de um facilitador. A temática foi um recurso proponente do diálogo, pois no grupo
proposta era “imagens e patrimônios comunitários” também se operou deslocamentos interessantes,
e tinha como propósito discutir sobre as histórias, que  apontam para um método da igualdade. Esse
os grupos, as práticas, os sujeitos e as imagens que pressuposto metodológico faz referência a um modo
compõem os territórios onde estão instalados os Cras. de produzir conhecimento que foi montado por
A partir das discussões do quarto encontro, as parti- Jacques Rancière (2014) e tem relações estreitas com
cipantes expressaram a vontade de assistir a um as “lições de emancipação intelectual” transmitidas
documentário sobre o mercado público de Joinville na obra O Mestre Ignorante (Rancière, 2004).
e, assim, constituiu-se o quinto encontro. A escolha O desdobramento do método da igualdade na
desse filme pelas trabalhadoras, entre outras produ- mediação audiovisual tem como prerrogativa que
ções locais disponibilizadas, expressa o modo como diretor e espectador desfrutam de inteligências

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semelhantes. Nas discussões, as trabalhadoras se daqueles que entendem que o espectador é sujeito
colocaram como interlocutoras umas das outras, passivo. Sob essa ótica, afirma-se que “primeira-
problematizando assuntos entre si e dispensando a mente, olhar é o contrário de conhecer. O espectador
necessidade de perguntas de pesquisa para mobilizar mantém-se diante de uma aparência ignorando o
suas elaborações. Os grupos de discussão se constitu- processo de produção dessa aparência ou a realidade
íram como um lugar para o pensamento. por ela encoberta. Em segundo lugar, é o contrário de
Desde o primeiro momento da formação, as tra- agir” (Rancière, 2012, p. 8).
balhadoras foram convidadas a pensar sobre as rela- É bom lembrar que essa citação que aqui fize-
ções entre o “audiovisual” e a “assistência social” mos de Rancière (2012) não expressa seu pensa-
e, com isso, também se nutriu gradativamente um mento, mas fizemos esse recorte porque o autor
espaço para discussões sem respostas prontas ou recupera pontualmente dois significados que de
mesmo assertivas. Mais tarde, no trabalho de análise, alguma maneira refratam o sentido de passividade
compreendeu-se a expectação das obras como um que repousa no senso comum sobre o espectador:
processo disparador de questões significativas sobre um sujeito fracassado, que assim é porque ele não
o trabalho no SUAS, questões que não poderiam ser conhece e também não age. Assumindo agora a
oferecidas a priori na forma de perguntas de pesquisa. perspectiva com a qual pensamos a expectação,
Apesar disso, o audiovisual como ferramenta perguntamo-nos: seria possível ser passivo em
de trabalho socioassistencial não foi uma grande algum momento da vida, compreendendo o sujeito
novidade. Desde os primeiros encontros já tivemos como produto e produtor da vida em sociedade?
notícias de algumas situações em que elas utilizaram A proposta de recepção audiovisual combinada
vídeos com grupos. Uma das psicólogas comparti- com discussões daquilo que sentem e pensam do tra-
lhou uma vivência com um curta-metragem para balho socioassistencial no campo da desigualdade,
pensar, com os jovens, a questão da alienação paren- foi instigando relações e sentidos que se aproximam
tal. Uma pedagoga que utilizou vídeos para trabalhar de uma condição espectadora: “Foram cinco meses que
questões do Estatuto da Criança e do Adolescente, a gente não sentia em vir para uma capacitação, por-
também comentou: “Acho que é um recurso de traba- que às vezes a gente está lá, não participa de nada, tem
lho que não é só para Assistência, mas também para alguma coisa que não nos chama atenção . . . a gente
qualquer profissional”. veio aqui mesmo sem saber muito do que se tratava e
Entretanto, o diálogo entre elas trouxe à tona o se surpreendeu”. A surpresa possivelmente está rela-
fato de que, na maioria das vezes, elas escolhem um cionada àquilo que se construiu a partir do encontro,
filme com o objetivo de discutir uma temática e de diferente de outras propostas formativas cujos
exibir alguma situação com efeito reflexivo. Assim, conteúdos estão previamente elaborados.
a possibilidade de elas ampliarem o trabalho com No trabalho de análise, identificou-se que a media-
grupos tendo como estratégia a audiência de filmes, ção audiovisual, como estratégia de trabalho e promo-
colocou em cena um termo sem muito uso no campo ção do encontro entre elas, brotou um efeito que pode
da Assistência Social. Trata-se do “espectador”. ser percebido nem tanto pelas discussões no grupo,
Apesar de este texto não ter a pretensão de tratar
mas talvez muito mais pelas performáticas cenas pro-
o modo como essa experiência de formação se desdo-
duzidas nos encontros. Uma das psicólogas observa
brou em práticas criativas e com medicação audiovi-
que diferente das reuniões técnicas ou de outros espa-
sual nas ações socioassistenciais, durante o percurso
ços de capacitação, o percurso das oficinas “foi leve,
formativo se teve notícia de como as participantes
não é? A gente se deixa desprender, eu acho. Então, você
passaram a vislumbrar possibilidades de trabalho com
foi trabalhando com essa leveza. E tem discussão, dis-
o audiovisual, especialmente nos processos grupais.
cussões de assuntos delicados e coisas que mexeram”.
Esta última expressão, “coisas que mexeram”, remete ao
Cenas de expectação residual de uma experiência, ou seja, sinaliza a existên-
Rancière (2012), na obra O espectador emanci- cia de alguma imagem (pensamento não pensado) que
pado, opera um giro conceitual significativo contra permanece no espectador em processo de significação.
a tradição, especialmente a teatral, no modo como Dialogando com a psicóloga que afirma a
o espectador tem sido concebido, na perspectiva leveza dos encontros, outra profissional afirma que

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Gomes, A. H., Andrade, L. de, & Maheirie, K. (2022). Mediação audiovisual e educação permanente.

“Então, não é porque é leve que foi brincadeira”. Parece N’A noite dos proletários (Rancière, 1988),
aqui uma tentativa de afirmar ao próprio grupo que encontramos operários que faziam a abstenção do
elas trabalharam enquanto realizavam o percurso de repouso noturno pela possibilidade de sonhar outra
formação. Esta mesma profissional já havia afirmado: vida, ocupando as madrugadas para compor lite-
“Nós participamos, eu aprendi muito também, me diverti ratura. Nos arquivos do sonho operário, Rancière
muito também”. expôs que não somente o conhecimento da explora-
Não se pode negar que uma proposta de curso ção poderia mudar algo naqueles homens, mas um
que tenha como ênfase principal a audiência de filmes, saber (no sentido de uma vontade e uma experiên-
possa carregar consigo um sentido de tempo mal empre- cia) que transcendesse a exploração. Nessas pala-
gado. Esse atravessamento, pelo que sabemos, não é vras, atribui-se à imaginação uma grandeza que não
deliberado ou consciente, mas também não pode ser se encerra na relação ficcional.
ignorado. Ele talvez justifique a desconfiança delas em Dialogando com A noite dos proletários, citamos
relação à proposta de mediação audiovisual, como dito, um trecho que também remete a uma ontologia da
principalmente pela negação de apresentar um saber já igualdade: “se o mais penoso dessas fadigas fosse jus-
construído e/ou validado. A mediação mobilizada pela tamente que elas não deixam tempo para esses lan-
expectação passa por uma aparente ociosidade. gores, se a dor mais verdadeira fosse a de não poder
O (lugar de) espectador parece ser o de um her- desfrutar das falsas?” (Rancière, 1988, p.  29). Essa
deiro da desocupação, de passividade ou mesmo de potência da ficção foi também um argumento cons-
uma aparente diversão, há muito tempo proibida ao titutivo na concepção de um percurso audiovisual
trabalhador. A folga, o repouso, o tempo livre foi his- com trabalhadores no campo da desigualdade social.
toricamente significado como uma hora de prejuízo e Era hipótese de pesquisa que pela ficção, a história de
associado diretamente ao mau trabalhador (o pregui- alguém não contada nas relações sociais, pudesse se
çoso). “Assim nasceu, . . . o orgulho do trabalho inces- tornar uma intercessora no pensamento/imaginação
sante que absorve a vida toda, mas ao mesmo tempo do espectador, fazendo ver/escutar/perceber os ruí-
a glorifica. Ideal daquele que, sem nunca parar, morre dos de existências outras.
de pé, num derradeiro labor” (Corbin, 2001, p. 385). Logo, compreendemos que as implicações da
Ainda que esteja discutindo a produção do traba- expectação vão além das relações audiovisuais e,
lhador da Assistência Social e não o usuário do serviço, no caso do trabalho socioassistencial, podem implicar
é possível compreender a resistência que, não delibe- nos modos como são percebidos os sujeitos usuários
radamente (em suas falas), fazem-nas desconfiar se a do SUAS. Ao escolher inserir alguns argumentos cons-
mediação audiovisual, em uma perspectiva que não truídos a partir daquilo que foi encontrado no campo
pressupõe uma mensagem ao espectador, poderia ser da pesquisa, queremos fazer ver a dimensão especta-
um recurso válido. dora que também pode compor a Assistência Social.
Ao que parece, a proposta de assistir e fazerem-se Dialogando com Rancière (2012), compreendemos
espectadoras de obras cinematográficas gerou nelas que todo ser humano é um espectador com potência
um prazer (ainda que em meio à audiência de um para significar a própria existência.
filme dramático), ao mesmo tempo que certo incô- O espectador tem o direito e a inteligência para
modo pela desconfiança de que pode existir potência não pensar o que está proposto que pense; por isso,
na aparente “passividade” do espectador. uma das questões importantes da mediação audio-
Não é o fazer nada que as agrada, mas a liber- visual remete a definição de uma obra. Talvez nessa
dade da expectação, a inteligência da contemplação. direção o conceito de “espectador” possa ser rele-
Na avaliação de uma das trabalhadoras participantes vante, como uma forma de pluralizar as concepções
do percurso: “Eu via como um momento para relaxar de sujeito no campo do SUAS.
mesmo”. Ao que parece, o espectador tem privilégios Nesse sentido, entende-se que os encontros
que não estão colocados ao protagonista, especial- mobilizaram questões interessantes, entre elas, pelos
mente o direito ao ócio e à contemplação, o direito de deslocamentos das trabalhadoras com os sentidos
produzir o sentido, de experimentar sua imaginação. mais comuns do trabalho (regra, disciplina, operacio-
Estar nos encontros parece ter sido uma possibilidade nalização) e, também, porque o percurso fomentou
de desocupar modos instituídos nas lógicas da gestão. a abertura de uma potente relação conceitual, entre

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“protagonistas” e “espectadores”, fazendo pensar que Por conta disso, começamos a suspeitar que a
o “assistir” é um aspecto intensamente polissêmico e grande novidade produzida durante o percurso rea-
constitutivo da Assistência Social. lizado com elas, não foi tanto o material audiovisual
dos encontros (apesar de sua relevância), mas a pro-
posta mediadora vivenciada nos encontros que per-
Cenas de improvisação
mitiu emergir detalhes significativos da participação
Nesta seção apresentamos algumas cenas do per-
delas no percurso.
curso que apontam para possíveis efeitos do processo
No processo de análise, observamos que a refe-
de mediação audiovisual nos encontros da pesquisa.
rência das trabalhadoras à educação permanente no
Um desses efeitos pode ser denominado de “improvi-
SUAS, conforme suas falas indicam, remete a cur-
sação”. Esse termo não foi objetivamente pronunciado
sos integralmente planejados, em que não há muito
pelas participantes em qualquer momento dos encon-
tros, mas nos apropriamos dele para esboçar parte do espaço para a inclusão de suas realidades de trabalho.
significado que ficou predito no último dia da formação. Esses cursos acabam por não oferecer tempo e espaço
Nos primeiros instantes de discussão sobre os para as questões das(os) trabalhadoras(es).
encontros realizados, uma das participantes argumen- Enfim, capacitações neste setor significam cur-
tou sobre o que era sua expectativa e o que aconteceu sos que apresentam práticas prontas ou, pelo menos,
efetivamente: “esse conceito inicial do que a gente veio scripts de trabalho e de atuação no SUAS: “só rece-
esperando . . . e o que a gente teve aqui”. Ao que parece bendo, só recebendo e a gente esquece que a gente tem
foi uma frustração positiva, pois a mesma profissional esse potencial de estar discutindo”. O que elas transmi-
considera que teve “um aprendizado gigante . . . pelos tem na expressão “potencial de estar discutindo” pode
questionamentos, pelas situações”. ser uma referência a qualquer episódio (não necessa-
No processo de análise da pesquisa-percurso, riamente possível de ser localizada pontualmente nos
observou-se que a mediação audiovisual como uma encontros de formação) em que elas se vejam pen-
prática que acolhe os movimentos do processo gru- sando modos ainda não percebidos de compreender
pal, afetou os sentidos relativos à expectativa das tra- suas experiências com a desigualdade social.
balhadoras sobre a educação permanente. Isso fica Nesse sentido, pensamos que a “improvisação” é
evidente quando uma das participantes comenta que: uma espécie de invenção do encontro. Seus comentá-
“Surgiram até assuntos que não eram para ser discutidos rios indicam que elas imaginavam que essa proposta
aqui, não é?”. A questão feita por uma assistente social de formação não teria espaço para falar o que falaram –
expressa ainda que apesar da ênfase da formação ser a que não havia o interesse de levar suas experiências
mediação audiovisual, depois de todo o processo forma- ao primeiro plano –, então, possivelmente, sentem
tivo, fica-lhe a impressão de que “fugimos” da proposta: que suas participações não se limitaram aos conteú-
“Mas eu fico curiosa de saber assim, para você, para vocês dos, mas atuaram na composição do modo como os
como foi? Porque parece, dá a impressão que fugiu um encontros foram acontecendo. Enfim, que todos nós
pouco do tema”. O que conjecturamos com esse comen- “improvisamos”, criando movimentos de apropria-
tário é que as concepções relativas às intervenções gru- ção e reflexão que puderam trazer questões até então
pais, pelo menos neste contexto em que realizamos o não trabalhadas. Nas palavras de uma profissional de
percurso formativo, desenvolvem objetivos com maior Psicologia: “além da gente entender algumas coisas
ênfase nos conteúdos do que nos processos e encontros. diferenciadas sobre a metodologia que era a proposta,
Além disso, a quebra da expectativa se mostra a gente também conseguiu elaborar algumas questões
como um resultado positivo da pesquisa, pois aponta nossas do trabalho, que estavam meio latentes”.
para aquilo que foi situado neste texto como um A existência de uma novidade relativa não
método da igualdade, especificamente, pelas relações somente à “metodologia que era a proposta”, dá a
democráticas e não hierárquicas na condução do sensação de uma expectativa pela transmissão de
percurso. Essa abertura para um compartilhamento conteúdos de trabalho. Mas vale observar, na pro-
diretivo do processo não significa uma abstenção de gressão da fala, que é mais significativa a possibili-
objetivos com o percurso formativo, mas a definição dade de construção de conhecimentos entre elas,
de um propósito dialógico, processual, relacional e, na verdade, de elaboração de coisas do pensamento
concomitantemente, significativo em seus efeitos. que estavam aquietadas.

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Cabe conjeturar que as “questões  .  .  .  latentes” desafios do trabalho e indicam fortes atravessamen-
acima proferidas, não estão indicando uma pers- tos no processo de subjetivação das trabalhadoras.
pectiva individualizada de sentimentos e/ou emo- Compreendemos que na base dessa afetação
ções no trabalho. Antes, pode-se pensar que esta pela política pública estão presentes questões que
proposta mediadora, que gera espaço de discussão extrapolam a dimensão normativa da Assistência
sobre práticas e perspectivas, pode ir ao encontro Social no Brasil. Quando nos referimos à normativa,
daquilo que, em diversos momentos, foi nomeado consideramo-la como direito público desde a rede-
por elas como “angústia”. mocratização do Estado brasileiro, depois consoli-
Pensando nesses aspectos afetivos das relações dado com a implantação do SUAS. Entretanto, para
do trabalho socioassistencial, encontramos um texto além e aquém do marco legal e institucional, com-
oficial do SUAS argumentando possíveis contradições preendemos que é preciso atentar aos elementos que
vividas neste setor. Então, de acordo com o MDS (2011, deflagram os aspectos suscitantes e ainda contornam
p. 62), há na experiência desses sujeitos uma realiza- o senso comum da Assistência Social.
ção profissional “diante da possibilidade de realizar um O senso comum neste texto está em diálogo com
trabalho comprometido com os direitos dos sujeitos a noção trazida por Rancière (2012, p. 99) como “uma
violados”, atuando na garantia e na defesa da cidada- comunidade de dados sensíveis: coisas cuja visibilidade
nia. Entretanto, por outro lado, “o sofrimento, a dor e o considera-se partilhável por todos, modos de percep-
desalento diante da exposição continuada à impotên- ção dessas coisas e significados também partilháveis
cia frente à ausência de meios e recursos que possam que lhes são conferidos”. O senso aqui está ligado ao
efetivamente remover as causas estruturais que provo- modo como algo existente não tem necessidade de
cam a pobreza”, afetam os trabalhadores do SUAS. ser questionado em sua condição, ou seja: o que está
O texto ainda reforça que se trata “de uma dinâ- partilhado é assim porque não tem razão nem suspeita
mica institucional que desencadeia desgaste e adoeci- de sentido para que seja percebido de modo diferente.
mento físico e mental e que, no caso dos trabalhadores Portanto, é o comum, é uma inteligibilidade que está
do SUAS, precisa ser melhor conhecido, pois esta é tão bem impregnada nas relações sociais que parece
uma questão nova que requer pesquisas” (MDS, 2011, justificar-se por conta própria. Sem esquecer que esta-
p. 62). A questão sugerida no documento que analisa mos falando das desigualdades sociais, a perspectiva
justamente a gestão do trabalho no âmbito do SUAS, do senso comum é “um dispositivo espaço-temporal
parece indicar a necessidade de um caminho similar dentro da qual palavras e formas visíveis são reunidas
ao da saúde, em que os aspectos psicossociais rela- em dados comuns, em maneiras de perceber, de ser
cionados às condições de trabalho dos profissionais afetado e de dar sentido” (Rancière, 2012, p. 99).
compõem uma temática de estudo já consolidada. Com isso, afirmamos que não podem ser ignora-
Apesar de não termos esboçado nenhum obje- dos os esquemas sensoriais e corpo visceral dos sen-
tivo relacionado à temática afetiva de ser trabalhador tidos que atravessam as condições de ser trabalhador
do SUAS, pontualmente queremos refletir sobre um e no SUAS. Dito de outra forma, a educação continuada
outro indício nos modos de subjetivação que pude- de trabalhadores no SUAS não pode seguir somente
mos perceber no trabalho de campo da pesquisa. apregoando as normativas e capacitando do ponto de
Primeiro, que essas questões do trabalho não vista técnico-jurídico. É preciso criar espaços de ela-
podem ser tratadas em perspectiva exclusiva- boração conceitual, de apropriação técnica e ainda de
mente psicológicas e/ou individualizantes, pois “improvisação” na qual outros sensíveis possam ser
claramente têm um desdobramento sociopolítico. compartilhados. A improvisação aqui não sugere um
Observamos, por exemplo, que a constituição pro- encontro desqualificado do ponto de vista temático
fissional (psicologia, serviço social, pedagogia ou ou metodológico, mas aberto às questões flagradas
ainda terapia ocupacional, no caso das participantes no campo de trabalho. São conhecimentos confusos
do percurso formativo) não se expressa tanto como e partilháveis, que não podem ser significados fora do
dificuldade para uma atuação multidisciplinar, entre plano relacional da “dor” ou da afetação.
outras particularidades técnicas. Mas  as relações Portanto, parte do complexo jogo de constituição
com a própria política pública e, ainda, a atuação no do trabalhador do SUAS está inexoravelmente mar-
campo da desigualdade, podem ser observadas como cado pelos efeitos da desigualdade social. E o SUAS,

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como política pública, passa a ser um território privi- entre seus critérios a compreensão de que esses sujeitos
legiado pelo senso que contorna os (não) lugares dos são trabalhadores que atuam em uma linha assistencial
sem parcela (Rancière, 1996). Ao mesmo tempo, pode que, em tese, atua com as potencialidades dos territórios
forjar encontros com outras formas de vida e mun- e, ainda, dos processos grupais e comunitários.
dos, mobilizando um processo de subjetivação e de A perspectiva de mediação audiovisual assumida
relações peculiares, em que a atividade profissional no percurso e em seu desdobramento metodológico
pode ser significada de outra forma: trabalha-DOR e, nutriu-se de conceitos da obra de Jacques Rancière, na
ainda, especta-DOR, justamente pelos avessos vividos interlocução com uma compreensão sócio-histórica
e “assistidos” no campo socioassistencial. de sujeito. A proposta de fazer encontrar, de promover
Essa condição entre desigualdade e vida, entre espaço de significação e de oferecer filmes, sem uma
exclusão e potência, não é uma questão de capaci- leitura marcada para ser apreendida, foi também a
tação para alguma forma específica de competência, expressão de um princípio ontológico. E esse princí-
mas sugere efetivamente espaços de (re)significa- pio da igualdade das inteligências se fez orientador
ção e encontros de mediação. Outrossim, tendo em da possibilidade de propor a mediação audiovisual
vista a complexidade dessas relações e de tantos em plano aberto, como algo para ser experimentado
pensamentos não pensados e ainda a ausência de e significado individual e coletivamente.
respostas definitivas, não se pode dispensar a ativi- Ao final do percurso, avalia-se que a mediação
dade significativa do trabalhador. audiovisual como um modo de trabalho e o contato
A improvisação, apesar de ser um tanto mais com a produção cinematográfica da cidade, foram
comum nas discussões que tematizam a música, recursos que se mostraram potentes para encontros
empresta para nossos estudos as ideias de que o per- com trabalhadores no campo da desigualdade social.
curso é uma composição realizada no encontro com Como expressão deste resultado, podemos consi-
outros e de que as vozes, palavras e sentidos desses derar que o modo como foi vivenciado o percurso
outros, ainda que não harmonicamente, produzem uma colocou em cena aspectos qualitativos da mediação
sonoridade ao processo grupal. Essa sonoridade faz-se audiovisual, com destaque aos efeitos da própria
memória do encontro, não se pode repetir, nem se pode expectação e, também, as discussões no grupo que
replicar, mas faz-se referência para outros percursos, ganharam status de improvisação.
outros encontros (Petry, Toneli, & Maheirie, 2019). No acabamento deste texto, consideramos que
Esse modo de educação permanente apresen- outras propostas de percursos formativos possam ser
tado contrapõe-se a propostas caracterizadas como recriadas com trabalhadores e também usuários do
capacitações, uma vez que está pautado no diálogo SUAS, não somente da PSB. A mediação audiovisual
e orientado para a construção de saberes a partir das apresenta-se como estratégia para educação perma-
experiências das trabalhadoras. A abertura ao pro- nente e para a facilitação de processos grupais, não
cesso de significação soa para as participantes como só pelo recurso audiovisual, mas pelo modo como a
improvisação e leva para a cena os sentidos relaciona- mediação pode produzir possibilidades outras, para
dos ao trabalho socioassistencial. além das intencionalidades do filme. Avaliamos que
esta pesquisa intervenção aponta para uma potência
Considerações finais extensiva, ou seja, entendemos que o SUAS na prática
Neste texto foram apresentados aspectos que mar- está em construção e que, de acordo com seu marco
caram um percurso de formação com trabalhadoras do teórico, é um sistema com princípios democráticos
SUAS, em que a noção de mediação audiovisual foi pen- e inclusivos quanto às possibilidades de investiga-
sada como estratégia metodológica de promoção dos ções, experimentações e outras formas inovadoras de
encontros. A escolha pelos trabalhadores da PSB teve conhecer e produzir a Assistência Social no Brasil.

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Allan Henrique Gomes


Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC, Brasil. Docente
permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade da Região de Joinville (Univille),
Joinville – SC, Brasil. Vice-líder do Núcleo de Pesquisa em Educação, Políticas e Subjetividades (Neps). Professor da
Associação Catarinense de Ensino (ACE), Joinville – SC, Brasil. Membro do GT ANPEPP Psicologia, estética e arte.
E-mail: allanpsi@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0001-5366-8600

Letícia de Andrade
Mestra e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Psicóloga pela
Associação Catarinense de Ensino (ACE), Joinville – SC, Brasil. Professora da Faculdade Anhanguera de Joinville,
Joinville – SC, Brasil.
E-mail: ldandrade@outlook.com
https://orcid.org/0000-0002-9619-2347

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Kátia Maheirie
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC, Brasil. Mestre e
doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo – SP, Brasil.
Fez estágio pós-doutoral em Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas – SP, Brasil;
e em Psicologia Social na Universitat Autónoma de Barcelona, Espanha, e na PUC-SP. Professora no Programa de
Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da UFSC.
E-mail: maheirie@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5226-0734

Endereço para envio de correspondência:


Universidade da Região de Joinville, Programa de Pós-Graduação em Educação. Rua Paulo Malschitzki, 10, sala
A-221, Campus Universitário. CEP: 89219-710. Joinville – SC. Brasil.

Recebido 18/02/2020
Aceito 22/06/2021

Received 02/18/2020
Approved 06/22/2021

Recibido 18/02/2020
Aceptado 22/06/2021

Como citar: Gomes, A. H., Andrade, L. de, & Maheirie, K. (2022). Mediação audiovisual e educação permanente:
Cenas de um percurso de formação com trabalhadoras do SUAS. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-14.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003234194

How to cite: Gomes, A. H., Andrade, L. de, & Maheirie, K. (2022). Audiovisual mediation and permanent
education: Scenes from a training course with SUAS workers. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-14.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003234194

Cómo citar: Gomes, A. H., Andrade, L. de, & Maheirie, K. (2022). Mediación audiovisual y educación continua:
Escenas de un curso de formación con trabajadoras del SUAS. Psicologia: Ciência e Profissão, 42, 1-14.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003234194

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