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Campinas
2016
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COMISSÃO JULGADORA
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço aos meus pais, Rose e Antonio, por toda a dedicação,
paciência e amor. Por possibilitar e incentivar a busca dos meus sonhos, não medindo
esforços para me auxiliar nesta caminhada. Aos meus irmãos, Beatriz e Gustavo, meus
companheiros, que tanto me ajudam nas empreitadas da vida.
Agradeço a minha orientadora e professora, Olívia, por toda sua disponibilidade,
atenção, dedicação e carinho.
Agradeço as ONGs de Campinas que aceitaram e participaram desta pesquisa.
Aos meus amigos da UNICAMP, meus meninos, que tornaram minha estada
mais alegre, mais doce e mais viva: Jônatas Reges, Gustavo Dal’Bó, Lucas do Carmo,
Eduardo Rigonatto, Leonardo Lazarini, Leonardo Megeto e Daniel Candiani. Ao Ricardo
Zambon, meu consultor de e-mails, a Luana Fernandes por todas as conversas
compartilhando esse momento único de nossa graduação, ao Leonardo Carvalho por me
mostrar que a primeira impressão muda (e que bom que ela muda), a Leidiane Souza por
seus abraços únicos e sua luz envolvente a minha turma 012 por todo esse ‘compartilhar’
de momentos, conhecimentos, aflições e alegrias.
Agradeço ao Bruno Lima, grande amigo, que sempre esteve ao meu lado dando
apoio e suporte. Ao Jhonny Trinca por sempre estar comigo.
Aos sorrisos, abraços, músicas, cantos, danças e movimentos que emanam dessa
universidade, que tanto me inspiraram e me confortaram.
Por fim, agradeço a grande luz, ao grande amor, ao grande regente desse
universo e a toda sua divindade que me acompanha por todos os momentos da minha
vida.
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“Um nascimento de proporções magníficas e mágicas ocorreu,
mas o nascimento não era finito... Era infinito! Quando o ventre
se abriu e a mitose do futuro começou, percebeu-se que esse
infame momento na vida não era temporal e sim eterno. E assim
começou o início de uma nova raça, uma raça dentro da
humanidade, uma raça sem preconceitos, sem julgamentos, só
uma liberdade sem fronteiras. Mas nesse dia, enquanto a mãe
eterna desovava no multiverso, um outro nascimento mais
assustador aconteceu: O nascimento do mal. Enquanto ela se
dividia em dois, girando de agonia entre duas forças
elementares, o pêndulo da alegria começou a dançar. Parece
fácil imaginar, gravitar instantaneamente e sem desviar em
direção ao bem. Mas ela se perguntou: Como protegerei algo
tão perfeito sem o mal?"
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BLANCO, Bianca. Planejamento de projetos sociais: um estudo na prática da dança.
50f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-Faculdade de Educação Física,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
RESUMO
Os projetos sociais do terceiro setor buscam atender as demandas sociais, dentre elas o
lazer. A dança é uma prática corporal que oferece diversas possibilidades e é de fácil
acessibilidade. A participação do público beneficiado no planejamento do projeto o torna
mais próximo das demandas dos beneficiados. Nesta perspectiva, o estudo presente teve
como objetivo analisar as características de planejamento dos diferentes projetos sociais
de dança realizados nas ONGs da cidade de Campinas/SP e pretendeu relacionar o
planejamento com as possíveis dificuldades do projeto. Os métodos da pesquisa foram a
pesquisa bibliográfica e documental combinada com a pesquisa de campo. A análise de
dados foi por meio da análise temática. Os resultados mostraram que a principal
dificuldade das entidades são as fontes de financiamento inconstantes advindas do Estado
e do mercado, o que gera instabilidade nos projetos e a necessidade de reconfiguração do
planejamento. Todas as entidades pesquisadas têm em vigência um projeto recente, mas
que foi reconfigurado a partir de um projeto anterior. Foi visto que os projetos sociais
apresentam quatro etapas no processo de planejamento: a formulação, a implementação,
o monitoramento e a avaliação, e, também, que a comunidade tem participação neste
processo, o que dialoga com a gestão participativa defendida pelos autores pesquisados.
Outro aspecto encontrado foi em relação às modalidades de dança abordadas: a escolha
desta tem relação com as necessidades do público beneficiado e não houve a delimitação
de um único estilo. Por fim, os resultados da presente pesquisa contribuem para a
discussão do terceiro setor e de suas ações no campo do lazer.
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BLANCO, Bianca. Social planning project: a study in dance practice. 50f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação)-Faculdade de Educação Física, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
ABSTRACT
The social projects of the third sector intend to assist the social demands, including
recreation. The dance is a body practice that offers various possibilities and has easy
accessibility. The participation of the benefited public on the planning of this project
makes it even better to attend the demands of benefited people. On this perspective, the
following study had as purpose to analyze the characteristics of the planning of different
recent social dance projects carried out on NGOs of Campinas/SP and intended to relate
this planning with the possible difficulties of the project. The research methods were
bibliographical and documentary research combined with the field research. The data
analysis was made through thematic analysis. The results showed that the main difficulty
of the entities is the inconstant source of funding coming from the State and the market,
which creates instability on the projects and the necessity to reconfigure the planning, and
all the entities interviewed have a recent project in effect, but have been reconfigured
from a previous project. It was seen that social projects have four stages in the planning
process: formulation, implementation, monitoring and evaluation, and the community has
participation in this process, which dialogues with the participative management
defended by researched authors. Another aspect found was in relation to the dance
modalities approached, which the selection of those is related to the needs of the benefited
public, having no delimitation of just one single style. Finally, the results of this research
contribute to the discussion of the third sector and its actions on the recreation field.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
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LISTA DE FIGURAS
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LISTA DE QUADROS
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
1.1 Procedimentos metodológicos .................................................................................. 13
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 44
ANEXOS ........................................................................................................................ 48
Anexo I – Roteiro de entrevista ...................................................................................... 48
Anexo II – Comitê de Ética ............................................................................................ 49
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1. INTRODUÇÃO
Enquanto alguns podem cada vez mais desfrutar das benesses do avanço
tecnológico e de todas as ofertas culturais, a maioria está cada vez mais
afastada desses ganhos. E quando isso ocorre, os privilegiados incorporam
esses benefícios como capital cultural, algo que colabora para a construção e a
manutenção da diferença social (MELO, 2005, p.15).
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Com o crescimento do terceiro setor no país e a atual realidade do lazer como
demanda social, houve um aumento significativo de projetos sociais oferecidos pelas
ONGs que objetivam o lazer.
O planejamento é o primeiro e um importante passo para o desenvolvimento de
um projeto social. Pesquisas trazem como a participação da comunidade no processo de
planejamento podem tornar os projetos sociais mais próximos das demandas dos
beneficiados e ao mesmo tempo contemplar o objetivo das instituições do terceiro setor.
Em paralelo, a dança é uma prática corporal que tem várias possibilidades e, de
acordo com a forma que é abordada pode possibilitar tanto um produto desvinculado da
realidade dos beneficiados, quanto uma expressão da comunidade em si.
A partir da importância do lazer como direito social e demanda do terceiro setor,
da necessidade de um planejamento eficaz para o funcionamento dos projetos sociais,
bem como da dança como uma prática corporal frequentemente presente nas ações
sociais, a presente pesquisa teve como objetivo analisar as características do planejamento
dos projetos sociais na área da dança realizados por ONGs da cidade de Campinas/SP.
Pretendeu verificar qual o público alvo atendido, quais as modalidades de dança
abordadas, quem são os profissionais atuantes, quais as principais despesas e fontes de
financiamento, além de levantar como se dá a participação da comunidade beneficiada
nas etapas do desenvolvimento. Ainda teve como propósito buscar relações com as
possíveis dificuldades que tais projetos enfrentam em sua implementação.
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Foi também analisado os perfis das ONGs da cidade de Campinas/SP que realizam
ações na área de dança. Essas instituições foram escolhidas a partir de seus endereços
eletrônicos em um documento divulgado pela Secretaria Municipal de Cidadania,
Assistência e Inclusão Social, no endereço eletrônico da Prefeitura Municipal de
Campinas/SP, uma vez que essas são cofinanciadas pelo munícipio. Ao todo, foram
encontradas 17 entidades com o perfil da pesquisa. Após um primeiro contato para
explicar a pesquisa com as entidades encontradas, cinco instituições se dispuseram a
participar do estudo, porém de fato, três participaram da pesquisa. Foram encontradas
dificuldades em relação à essas duas instituições, visto que, em uma das entidades, os
profissionais atuantes no projeto de dança estavam em período de férias durante a coleta
de dados; na outra, as oficinas de dança que acontecem na instituição fazem parte de um
projeto maior que não é planejado pelos profissionais da entidade em questão e não foi
possível o acesso a essa outra equipe.
Foram analisados os documentos que tinham relação com o projeto realizado na
ONG, desde o próprio planejamento escrito, até folders de divulgação, reportagens,
estatutos da instituição e registros do desenvolvimento do projeto.
Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com o responsável pela
instituição e/ou pelo projeto social em si, a partir de um roteiro prévio. Ao todo foram
cinco entrevistados, ou seja, duas diretoras, uma coordenadora do projeto, uma educadora
e um pedagogo. Os entrevistados foram escolhidos a partir de uma indicação da própria
ONG após explicação sobre as intenções da pesquisa e direcionado para os profissionais
que tinham o conhecimento sobre as etapas do planejamento e desenvolvimento do
projeto social de dança. As entrevistas ocorreram nas próprias instituições de acordo com
a disponibilidade do entrevistado e do entrevistador. Antes da mesma, foram explicados
os procedimentos e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado.
As entrevistas foram gravadas e depois transcritas para análise. A duração média do
processo foi de trinta minutos. Foi assegurado a preservação da identidade dos
entrevistados e o descarte da gravação após a conclusão do trabalho. Essa pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNICAMP cujo número do Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) foi o 60630216.6.0000.5404.
A análise dos dados foi realizada por meio da análise temática. De acordo com
Minayo e Gomes (2009), nesse tipo de análise o conceito central é o tema, e este comporta
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um leque de relações e pode ser graficamente apresentado por meio de uma palavra, uma
frase, um resumo. Bardin (2011) também enfatiza que podemos nos concentrar mais no
tema geral de investigação e, assim, extrair significados associados a ele. A autora ainda
explica que na análise temática trabalhamos com os ‘núcleos de sentido’, e que a presença
ou frequência de aparição significa algo para o objetivo analítico escolhido. A partir dos
dados concentrou-se nos seguintes temas: “modalidades de danças oferecidas”,
“dificuldades encontradas” “planejamento realizado”.
A presente pesquisa está estruturada da seguinte maneira: o próximo capítulo faz
uma revisão de literatura em que são abordados conceitos e discussões acerca do terceiro
setor, projeto social, projeto social em dança e planejamento de projetos sociais; no
capítulo seguinte, os resultados são apresentados e discutidos e, por fim, o último item
traz algumas considerações sobre o trabalho apresentado.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
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Existe uma carência de atendimento às pessoas em suas necessidades sociais
básicas e as ações governamentais não têm sido suficientes para reverter esse quadro
(MORGAN e BENEDICTO, 2009). Segundo Araújo (2001, apud CORREIA 2008), o
terceiro setor vem do processo de reconstrução neoliberal1 do Estado, que passou a dividir
funções e responsabilidades para a qualidade de vida, como uma forma de tentar amenizar
os desequilíbrios sociais e econômicos, por meio da oferta de alguns serviços
compensatórios às comunidades de risco.
1
O Neoliberalismo é uma doutrina desenvolvida na segunda metade do século XX que defende a não
participação do Estado na economia e a total liberdade de comércio (livre mercado). Essa política favorece
o desemprego, baixos salários, desigualdade social e a dependência do capital internacional (ANDERSON,
1995).
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O estatuto social da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
(ABONG) define ONG como:
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A população passa a auxiliar e dar mais credibilidade para as ONGs do que os
movimentos sociais, pois estas entidades têm mais espaço nas mídias e sua lógica
gerencial é tida como eficiente. A ONG passa a ter uma relação diferente com o primeiro
e o segundo setor, deixa o aspecto de enfrentamento ao sistema e passa a se relacionar
com o Estado e com as empresas como parceiros, uma relação funcional ao projeto
neoliberal de reestruturação sistêmica. Ocorre, então, uma “terceirização” dos
movimentos sociais, pois estes agora passam a ter uma relação indireta com o Estado,
intermediado pelas ONGs (MONTAÑO, 2002).
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fazer da ação uma intervenção organizada com melhores possibilidades de atingir seus
objetivos” (ZINGONI e RIBEIRO, 2006, p.15).
Os projetos sociais são ações planejadas que objetivam as demandas do terceiro
setor, ou seja, buscam “transformar uma parcela da realidade, reduzindo ou eliminando
um déficit, ou solucionando um problema, para satisfazer necessidades de grupos que não
possuem meios para solucioná-las por intermédio do mercado” (COUTINHO et al., 2006,
p. 767). Os projetos sociais se caracterizam como ações voltadas para a população
vulnerável ou carente e busca, de alguma forma, promover alterações nas condições de
vida dos beneficiados, proporcionando um ambiente mais justo e democrático (COUTO
e COUTO, 2011).
Melo (2007) discute a associação do termo “projeto social” com políticas
públicas. Segundo o autor, essa associação reforça uma lógica de focalização das ações
apenas nos setores mais empobrecidos alegando mais urgência e configurando os direitos
como dádivas para esta população. Nesta perspectiva, Melo (2008) traz que esta
configuração permite uma compreensão comum de que os chamados “projetos sociais”
são somente àqueles desenvolvidos em comunidades de risco.
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Já no patrocínio de projetos sociais próprios, temos as empresas específicas que
desenvolvem seus projetos por meio de seus institutos e fundações sociais, com recursos
próprios (PASSADOR, 2002).
Em suma, os projetos sociais são as ações planejadas do terceiro setor, porém o
patrocínio é uma possibilidade de intervenção do primeiro e do segundo setor nestas
ações.
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Um direito social – diferentemente dos direitos civis e políticos - deve ser
garantido à população por meio de políticas públicas, tanto de Estado quanto de governo.
Embora considerada a existência do Ministério de Cultura e a criação do Ministério do
Esporte e do Turismo, ainda não há este direito garantido de forma universal a todos os
brasileiros. Talvez por esta razão também houve um crescimento dos projetos sociais
oferecidos pelas ONGs no país.
Atualmente é visível este aumento dos projetos sociais no Brasil e as práticas
esportivas e/ou artísticas são as principais ferramentas de intervenção (MELO, 2008).
A dança é uma prática corporal recorrente nos projetos sociais, principalmente
pelas suas diversas modalidades e possibilidades. Por estar presente no desenvolvimento
da sociedade, é também uma prática que permite ampla participação e aceitação. O seu
processo de aprendizado vai além de uma educação rítmica, de técnica e coreografia, o
que permite atender necessidades e interesses do contexto no qual ela se faz presente
(UGAYA, 2007).
Sabe-se que não há uma única maneira de dançar, nem uma única maneira de
aprender/ensinar a dançar. São inúmeras as possibilidades de dançar, inúmeros
os estilos (balé, jazz, sapateado, danças étnicas, danças folclóricas,
contemporânea, hip hop, entre tantas outras), inúmeros objetivos que passam
pelo simples prazer momentâneo, pelo lazer, pela celebração, por seus
benefícios à saúde física e mental, ao processo expressivo e artístico”
(PRONSATO, 2014, p.27).
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[...] potencialidades para o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos.
Tanto cumprindo objetivos consumatórios, como o relaxamento e o prazer
propiciados pela prática ou pela contemplação, quanto objetivos instrumentais
no sentido de contribuir para a compreensão da realidade, as atividades de lazer
favorecem, a par do desenvolvimento pessoal, também o desenvolvimento
social, pelo reconhecimento das responsabilidades sociais, a partir do
aguçamento da sensibilidade ao nível pessoal, pelo incentivo ao auto-
aperfeiçoamento, pelas oportunidades de contatos primários e de
desenvolvimento de sentimentos de solidariedade (MARCELLINO, 1987,
p.60).
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A autora ainda ressalta como esta visão gera um “descompasso entre os ideais
referenciados pelos artistas que se envolvem em ações socioeducativas e as instituições
que criam, organizam e administram os programas e projetos socioeducativos”
(PRONSATO, 2014, p.242).
Franco (2004) em sua pesquisa “A dança e a expressão corporal como estratégias
de reinserção social em duas instituições de Campinas” analisou dois projetos sociais de
dança, um que abordava o balé clássico e o outro a dança afro-brasileira. A autora discute
inúmeras diferenças entre os projetos decorrentes das distintas modalidades, entre elas a
rigidez e disciplina na instituição com o balé clássico e o barulho e liberdade da dança
afro-brasileira.
[...] cada um cumpre este papel a seu modo, um com marcas mais
reformadoras, oferecendo toda a assistência necessária para a formação de
bailarinos profissionais de qualidade, cultivando sonhos, oferecendo instrução
e cultura, e outro, com marcas mais transformadoras, que não oferece tanta
assistência, mas busca antes conscientizar e formar seres humanos cônscios de
si, "guerreiros", humildes para assim tornarem-se bons educadores e artistas
(FRANCO, 2004, p.59).
Importante destacar que não foram encontradas muitas pesquisas que abordam
os projetos sociais em dança na pesquisa bibliográfica realizada.
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necessário ter um diagnóstico preciso sobre as condições holísticas do
ambiente. Sua orientação é influenciada por diversas variáveis, como tempo,
espaço geográfico, recursos, gestão (HÜBNER, 2004, p.177-178).
De acordo com Coelho et al. (2009) é necessário uma cultura inovadora para o
terceiro setor e suas ações. Ao tratar dos projetos sociais no campo do lazer, as autoras
evidenciam a lacuna nas organizações por falta de mão de obra especializada e ressaltam
a importância do processo básico da administração: planejar, organizar, captar recursos,
dirigir e controlar. Outro ponto é o papel fundamental que o gestor tem sobre as etapas
do projeto, sua atuação deve contemplar diversos aspectos, como a liderança, a
flexibilidade, a criatividade, a constante busca de informações e a comunicação, esta
última que deve acontecer tanto entre a equipe atuante no processo quanto na relação
destes com os beneficiados pelo projeto. A Gestão Participativa defende justamente esta
comunicação, ou seja, é o planejamento com a participação da população beneficiada em
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suas etapas. Esse diálogo é de suma importância para que o projeto atenda demandas reais
e não perca seu foco durante o processo, se tornando um “fim” e não mais um “meio”
(COELHO et al. 2009).
A gestão social defendida por Couto e Couto (2011) dialoga com a lógica de
marcos normativos, analíticos, organizacionais e de gestão de Nogueira (1998 apud
COUTO e COUTO, 2011). O marco normativo é orientado pelos valores e prioridades
sociais, busca a coerência entre a atuação do projeto e o seu campo (no caso, o lazer) e
traz os objetivos do projeto, sejam estes declarados ou não declarados. Em suma, se
caracteriza pelo campo, a área de discussão e objetivos do projeto. O marco analítico é a
compreensão dos problemas a serem enfrentados, se refere à discussão do problema, os
meios legitimados e as tecnologias utilizadas. Os marcos organizacionais tratam da
distribuição de responsabilidades e das capacidades decisórias. O marco de gestão, por
fim, são as modalidades de funcionamento, que abordam a administração de recursos e a
articulação com o meio. É no marco de gestão que os autores também tratam da gestão
participativa como um caminho eficaz no que se diz projetos sociais. De acordo com eles,
a gestão participativa se caracteriza pelo envolvimento da comunidade do projeto em
todas as etapas do planejamento e desenvolvimento do projeto e possibilita espaços para
o diálogo.
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Para esse autor, existem três fases no processo de articulação com as
comunidades. A primeira fase é composta por quatro etapas. A deflagração é o primeiro
passo, que consiste no conhecer a comunidade que o projeto vai atuar, identificando as
possíveis lideranças comunitárias. Quando identificadas estas lideranças, propor uma
reunião com a presença delas, na busca de consolidar parcerias múltiplas. A segunda etapa
é a capacitação dos indivíduos da própria comunidade, neste ponto o autor evidencia que
não é necessário se limitar ao que a comunidade deseja, que o diálogo deve estar presente
em todo o processo para que o projeto contemple seus objetivos da maneira mais
produtiva possível. Para marcar o início do projeto é organizada e realizada uma atividade
de impacto, que consiste na terceira etapa. É importante que este evento envolva o maior
número de pessoas possíveis, pois é uma oportunidade de conseguir mais voluntários da
comunidade no projeto. Encerrando a primeira fase, a quarta etapa é a avaliação desta
atividade de impacto, que vai ser base para o planejamento da próxima fase. Então, a
segunda fase, denominada pelo autor de “Período de Carência”, é a implementação do
projeto, programando as atividades que serão desenvolvidas cotidianamente. E por fim, a
terceira e última fase, a continuidade, que é quando a comunidade prossegue com o
projeto de maneira independente (MELO, 2005).
Então, a participação da comunidade no processo de planejamento dos projetos
sociais é fundamental para que as demandas objetivadas por este sejam condizentes com
a realidade do público beneficiado.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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atividades socioeducativas; e desenvolver a melhoria da qualidade de vida, a
independência e a inclusão social" (ESTATUTO INSTITUIÇÃO C).
Como exposto na introdução, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
os responsáveis pela entidade e/ou pelo projeto de dança desenvolvido na unidade. Na
Instituição A foram entrevistadas a diretora da entidade (Entrevistada I) e a coordenadora
do projeto (Entrevistada II), que também atua como educadora; na Instituição B foram
entrevistados o pedagogo (Entrevistado III) e a educadora do projeto (Entrevistada IV); e
na Instituição C foi entrevistada a diretora educacional da entidade (Entrevistada V).
Logo no primeiro questionamento em relação ao tempo de existência do projeto,
percebem-se características em comum entre as instituições. Todas elas têm em vigência
um projeto recente, mas que foi reconfigurado a partir de um projeto anterior. A
Instituição A relata que o projeto sempre existiu na entidade. Em meados de 2011 ele foi
estruturado para ser submetido a um patrocínio via Programa de Ação Cultural (ProAC)2
que durou até 2012. Atualmente ele foi reestruturado devido a recursos mais escassos e,
nessa nova configuração, ele tem cerca de sete meses. Como apontado na fala da diretora
da Instituição A:
[...] foi um projeto social que a gente escreveu pra conseguir financiamento do
ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] lá do ProAC, e a
gente conseguiu via uma agência. Então veio um bom dinheiro, a gente montou
o projeto assim dos sonhos, com tudo que precisava, dinheiro pra tudo, pessoal,
figurino... e era esse projeto que continua de outra forma, mas ele começou
dessa maneira, bem grande, que era uma coisa que a ONG já tinha, mas a gente
não tinha dinheiro pra dar aquela alavancada nele, quando veio esse dinheiro a
gente realmente planejou ele, escreveu ele pleno (ENTREVISTADA I) (sic).
2
O ProAC é um programa da Secretaria de Estado da Cultura que financia projetos sociais a partir de uma
seleção. Existem duas modalidades: O ProAC ICMS e o ProAC Editais. O primeiro funciona por meio de
incentivos fiscais. O projeto aprovado previamente pela Secretaria de Estado da Cultura recebe autorização
para captar patrocínio junto a empresas que, depois, poderão descontar o valor desse investimento do ICMS
devido. O ProAC Editais funciona por meio de concursos públicos. Os projetos aprovados recebem dinheiro
diretamente da Secretaria de Estado da Cultura para sua execução (BRASIL, Secretaria de Estado da
Cultura, 2016).
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Já na Instituição C, o motivo foi semelhante ao da Instituição A. A entidade era
contemplada com o patrocínio do Programa Petrobrás Cultural, como a diretora
educacional traz em sua fala:
[...] esse projeto nós escrevemos para a Petrobrás há dois anos e o projeto foi
aprovado, teve uma evolução ótima durante esses dois anos [...] Porém, com
tudo o que aconteceu, a crise no país, esse projeto, quando completou os dois
anos, ele não foi renovado. Até na época, várias ONGs, a gente até escreveu
um documento chamando os órfãos da Petrobrás, porque a gente acabou tendo
que demitir seis profissionais que atuavam dentro desses projetos e desse
projeto específico e aí a gente fez uma otimização (ENTREVISTADA V) (sic).
30
agregar o teatro por meio do trabalho da expressão corporal e a música não se manteve
na atual configuração.
No tocante aos objetivos do projeto, a Instituição A, de acordo com a
coordenadora do projeto, traz que a preocupação é:
[...] com o processo, com a experiência estética, com a educação visual, com a
experiência sonora. A gente não tem ideia de oferecer que o menino saia daqui
tocando violão, mas que ele tenha experiências sonoras significativas pra ele,
de acordo com a deficiência que ele tem, daquilo que ele vai enfrentar lá fora
(ENTREVISTADA II).
31
autoconhecimento e sua relação com o mundo externo. Já a Instituição B aborda a dança
como um meio para promover o relacionamento entre os educandos, incentivando a
sociabilização e a cooperação, além da promoção da saúde e qualidade de vida.
Quanto ao público alvo dos projetos, tanto a Instituição B como a Instituição C
atendem todas as idades com turmas divididas de acordo com a faixa etária. Na Instituição
B, mais especificamente, os educandos estão na faixa de idade a partir dos seis anos e são
divididos em seis turmas que são dispostas em períodos distintos (manhã e tarde) e são
atendidos, ao todo, 88 educandos. A Instituição C oferece o projeto para duas turmas de
adolescentes, entre 11 e 15 anos, uma em cada período; uma turma para crianças no
período da manhã e uma turma para os adultos no período da tarde e, ao todo, beneficia
cerca de 100 participantes.
Por outro lado, a Instituição A atende somente crianças que estão matriculadas
na escola, ou seja, em período escolar. Devido ao público específico, este fator não é
determinante de uma faixa etária, pois o processo escolar para os deficientes intelectuais
acontece de maneira diferenciada. As oficinas acontecem no contraturno escolar, então
as crianças são divididas em duas turmas, com distinção de horários e atendem um total
de 30 beneficiados.
Com exceção da Instituição B, os entrevistados das entidades relataram que esse
número atual é reduzido se comparado ao número dos educandos antes da reconfiguração
do projeto. A Instituição A atendia cerca de 110 pessoas antes do corte de verbas e não
havia a restrição do beneficiado estar em idade escolar. E, na Instituição C, havia mais
oficinas oferecidas durante a semana e, por consequência, mais beneficiados.
Um aspecto em comum é que não há rotatividade dos beneficiados, todos passam
por uma matrícula e existe um acompanhamento de frequência. O período de vigência
desta matrícula é de um ano na Instituição A e na Instituição C e de seis meses na
Instituição B e, em todas, há a possibilidade de rematrícula. Por se tratar de pessoas em
situação de vulnerabilidade social, quando há faltas constantes nas atividades, as
instituições entram em contato com o educando e a família por meio da assistência social
da entidade, a fim de identificar o possível problema e oferecer auxílio se necessário.
Em relação às equipes de profissionais, na Instituição A o projeto conta com sete
profissionais: a coordenadora do projeto e educadora em artes visuais, um educador em
música, um educador em dança, um outro educador em artes visuais também, duas
32
psicólogas e uma assistente social. Na Instituição B a equipe é formada por uma
educadora em educação física, um pedagogo, dois assistentes sociais e dois psicólogos,
totalizando seis profissionais. E na Instituição C são cinco profissionais: uma educadora
em educação física, duas pedagogas e duas assistentes sociais.
O número de profissionais envolvidos são semelhantes entre as instituições,
todos tem formação superior na área em que atua, o que representa um avanço visto a
discussão de Coelho et al. (2009) que evidenciam a falta de mão de obra especializada de
quem está à frente dos projetos sociais. A presença da assistência social é um ponto em
comum e todos entrevistados ressaltaram a importância do profissional no decorrer do
projeto. De acordo com a diretora da Instituição A:
[...] você pega um deficiente e por trás do deficiente tem uma família muito
complicada, não só a nível financeiro, que a gente aqui é gratuito, atende
pessoas de baixa renda, mas problemas sérios outros, como lidar com essa
criança, com a higiene, a gente tem investigar tudo isso, ver se ele está na
escola, elas fazem esse papel (ENTREVISTADA I) (sic).
33
De acordo com a coordenadora da Instituição C, além da oficina específica de
balé clássico, a oficina de dança:
[...] trabalha diversas modalidades, lógico que a gente tem que acessar o
público pelos interesses deles. Então eles gostam muito das danças urbanas,
mas a gente não fica focado só nisso não. Então a gente tem a dança
contemporânea, ela faz uma mistura, ela traz um pouco da dança clássica
(ENTREVISTADA V) (sic).
[...] o jovem que dança o Break encontra nesta manifestação uma via
alternativa de vivência que lhe permite reinventar sua subjetividade. Assim, o
que vem de fora, imposto pelo armamento político-econômico que categoriza
o sujeito sob as rédeas de uma sociedade dividida em classes, afeta o sujeito,
mas este, por sua vez, forja espaços sob esta malha opressiva mostrando que
também pode, mas de uma outra maneira além dos ideais vigentes (ALVES e
DIAS, 2004, p.6).
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O autoconhecimento e a expressão são objetivos da Instituição C contemplados
com as danças urbanas e com a dança contemporânea, último estilo citado pela
entrevistada, que permite a livre movimentação e criação dos educandos.
A Instituição A justifica a escolha da dança contemporânea, pois:
[...] dá uma liberdade maior num projeto experimental com a dança, permite
essa investigação dos movimentos de uma maneira que o deficiente vai
aproveitar. Não dá para trabalhar com o balé clássico aqui, porque estaria
fazendo a mesma coisa, no nosso público, que ele tem que aprender a ler e a
escrever, essa rigidez [...] (ENTREVISTADA II).
35
Figura 1: Diagrama das motivações da dança / Fonte: Robinson (apud STRAZZACAPA, 2001, p.72)
36
arrecadadas de empresas multadas para a entidade e, com ela, é pago os outros
profissionais do projeto. O restante a instituição se autofinancia.
A Instituição B conta com três recursos para seu financiamento, ou seja, a
Prefeitura do munícipio, a Fundação das Entidades Assistenciais de Campinas (FEAC) e
a própria entidade com o bazar beneficente. Muitos materiais que a educadora utiliza nas
oficinas vêm de doações, de acordo com o pedagogo "[...] no decorrer do ano, se a gente
sabe que vai ter alguma apresentação, e a educadora vai usar certo tipo de material,
quando chegar a doação a gente vai guardando esse material, pra quando chegar a
apresentação a gente já tem o material” (ENTREVISTADO III).
Cerca de 60% do financiamento da Instituição C advém da prefeitura, o restante
é suprido pela própria entidade. Dentre as formas internas de arrecadação de recursos
estão a destinação de impostos de renda, tanto da pessoa jurídica como da pessoa física,
e eventos beneficentes.
Em todas as instituições é observado o auxílio da prefeitura no financiamento,
ou seja, o patrocínio de terceiros (PASSADOR, 2002). Isto retoma a Montaño (2002) e
sua discussão de como as ONGs passam a ter uma relação de parceria e dependência do
Estado, o que favorece uma “terceirização” dos movimentos sociais, visto que estas
passam a ter uma relação indireta com o Estado, intermediado pelas ONGs. Tal fato
contraria a definição de ONG defendida pela ABONG (2016), onde traz a busca do
fortalecimento dos movimentos sociais como uma de suas funções.
O processo de planejamento das entidades é semelhante e dialogam com os três
momentos do planejar defendido por Bramante (1997). A princípio ocorre a Formulação,
que consiste em uma reunião com a equipe de profissionais envolvidos, onde é definido
as intenções do projeto, a previsão das despesas, os recursos disponíveis e um cronograma
de execução. Depois ocorre a fase de Implementação do projeto, que é a execução
propriamente dita, e o Monitoramento que acontece por meio de pequenas avaliações
diárias tanto com a equipe técnica do projeto como com os educandos. Na Instituição A
e na Instituição C este monitoramento técnico é por meio de uma conversa entre os
profissionais após a realização da atividade, já na Instituição B é usado um relatório que
o educador escreve após a vivência. O monitoramento com os educandos acontece por
meio de uma roda de conversa após as atividades nas Instituições B e C, já na Instituição
A, por se tratar de um público com limitações, a avaliação ocorre a partir da observação
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dos educadores. Por fim ocorre a Avaliação, que é dividida em dois momentos nas
entidades, uma no meio do ano, a fim de aprimorar o planejamento para o segundo
semestre caso necessário e a outra no final do ano. As famílias dos beneficiados também
participam do processo de avaliação nas Instituições A e C. Na Instituição A isso ocorre
através de conversas principalmente por meio da assistência social, já na Instituição C
existe uma avaliação escrita.
A participação da comunidade no processo de planejamento acontece somente
através da avaliação na Instituição C. Na Instituição A ocorre uma reunião antes do início
do projeto com toda a equipe e as famílias dos educandos, porém o caráter é mais
informativo, de acordo com a diretora da Instituição A:
[...] em vários momentos nós fazemos reuniões com a família, como quando a
gente começou o projeto, foi uma reunião grande que apresentou os
profissionais, apresentamos a proposta, claro que tem mil perguntas, mas
assim, a nível de falar acho que pode ser assim ou assado, não. Acho que isso
não entra muito, mas ao longo do caminho a gente tem muito contato com eles
(ENTREVISTADA I) (sic).
[...] a psicóloga fala com os pais, elas fazem visita domiciliar quando tem a
necessidade, que a gente percebe que às vezes eles mudam de remédio, às
vezes a mãe não dá o remédio direito, o menino vem aqui e surta, então
trabalhamos com um público que tem esses problemas, que tomam remédios
fortes, que surtam, ou que chega aqui dormindo e ele não estava assim ontem,
será que a mãe deu errado? A gente tem que ficar de olho em como ele chega,
em como ele tá (ENTREVISTADA I) (sic).
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princípio é a comunicação com os beneficiados, o diálogo para que o projeto atenda
demandas reais sem perder o foco durante o processo. Couto e Couto (2011) caracterizam
a Gestão participativa pelo envolvimento da comunidade do projeto em todas as etapas
do planejamento e desenvolvimento do projeto e possibilita espaços para o diálogo. Melo
(2005) também discute a importância de agir em conjunto com os beneficiados do projeto.
Com isso, pode-se observar que nas três instituições tem um processo de monitoramento
e avaliação que permite essa comunicação diária, o que pode ser considerado um ponto
de partida para que esse diálogo se aprofunde e venha a se tornar uma participação mais
efetiva da comunidade em todas as etapas do planejamento.
A divulgação do projeto na Instituição A é por meio da mídia e por meio de redes
sociais virtuais. A diretora relata que, por se tratar de uma entidade antiga e conhecida da
cidade, não há grandes dificuldades nesse quesito: “[...] a gente teve uma matéria do jornal
no meio do ano, porque a escola é muito antiga, a escola é muito conhecida porque a
gente já fez tanta coisa, então às vezes a mídia vem, chega, cai no colo”
(ENTREVISTADA I) (sic). Um dos vídeos de divulgação da entidade, vinculado a uma
rede social virtual, mostra a fala do dirigente da empresa que patrocinou o projeto. Isso
retoma ao marketing social discutido por Passador (2002) e Melo (2008), em que as
empresas atuam no financiamento das ações sociais na busca da construção de uma
imagem de responsabilidade social, além de descontos fiscais.
Na Instituição B a divulgação ocorre por meio de apresentações em escolas o
que, de acordo com a educadora, houve dificuldades nesse sentido, neste ano: “Porque
eles [educandos] fazem várias atividades. E por conta das greves nas escolas, de tudo, a
gente não teve oportunidade de ir” (ENTREVISTADA IV). A ONG também possui
divulgação por seu endereço eletrônico e por redes sociais virtuais.
A Instituição C faz a divulgação por meio de uma reunião intersetorial que
envolve um representante das escolas da região, um representante do Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) e um representante da própria Instituição C.
Essas reuniões ocorrem mensalmente e os envolvidos se auxiliam na divulgação de suas
ações para a comunidade. Outro meio de divulgação acontece pelos próprios
frequentadores que usam a camiseta da ONG, de acordo com a diretora educacional:
Hoje a gente já quase nem precisa divulgar, porque as próprias crianças têm
uma camiseta do projeto. A gente entende que isso não é ser uma escola formal,
39
muitas vezes as pessoas confundem, [...] ela é um espaço de desenvolvimento
humano, mas ela tem uma organização e essa organização só nos favorece e
favorece quem vem aqui. Então aqui tem chamada, a gente faz controle de
frequência porque a gente precisa saber quem está frequentando, porque tá
faltando, quem não está vindo, tem uniforme que é a camiseta, e o que eles
fazem aqui eles levam para fora, então os próprios educandos são RH naturais
(ENTREVISTADA V) (sic).
A dificuldade maior é falta de recurso, que a gente muitas vezes fica muito
restrito. A gente não sai muito, às vezes sai duas vezes por ano. O espetáculo
mesmo, para fazer um espetáculo no final do ano, recurso para fazer figurino
é caro. Quando tinha o projeto a gente conseguia colocar tudo isso dentro do
projeto, figurino, agora a gente não tem. Então minimamente a gente tem que
pagar o educador, o lanche para as crianças, ter o material pedagógico de uso
diário aqui e quando chega o sarau a gente tem que usar criatividade, pedir
doação, correr atrás de parcerias. Então a maior dificuldade que nós temos hoje
é a falta de dinheiro (ENTREVISTADA V) (sic).
Essa instabilidade é discutida por Melo (2007) em que a lógica neoliberal tem
sua manutenção e difusão pelos projetos sociais, sendo que “a possibilidade da fonte de
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financiamento cessar - por motivos vários- e os usuários, supostamente sujeitos de
direitos, serem sumariamente descartados é constante” (MELO, 2007, p.19).
Segundo a coordenadora do projeto da Instituição A, a dificuldade
[...] tudo foi construído aqui, desde da marcenaria, dos figurinos, tudo foi
pensado aqui os instrumentos eram construídos, afinados e inclusive a
gravação do CD foi aqui. A gente tinha essa ideia de manter o projeto
sustentável aqui, ele não se sustentou depois porque a gente não arrecadou,
mas tudo a gente queria que fosse feito e elaborado aqui. Então a gente tinha
um grupo que permitiu, né? A gente acabou tendo um grupo que permitiu,
então assim, tinha marceneiro, tinha um músico, então em 2013 que a gente
acabou fechando esse projeto, que aí mudou o cenário completamente [se
referindo ao corte do ProAC] (ENTREVISTADA II) (sic).
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aponta a identificação de fontes de financiamento e a captação de recursos como
dificuldades atuais das ONGs.
Segundo Oliveira (2005), o terceiro setor surgiu na tentativa de prover ou
reforçar as ações que são obrigações estatais. Além da transmissão de responsabilidades
para o terceiro setor, as políticas públicas voltadas para o financiamento dos projetos
sociais são insustentáveis e inconstantes. Como apontado por Coelho et. al. (2009), há
décadas que o Estado mínimo prejudica a população e reforça a diferença social. Isto
retoma a discussão de Santos e Amaral (2010) sobre como o lazer ainda é tratado apenas
como política de governo, apesar de ser um direito social que deveria ser assegurado a
todos pelo Estado.
Como Montaño (2002) defende, é necessário revitalizar os movimentos sociais,
reassumindo a parceria com as ONGs. O que vai de encontro com o discutido por Santos
e Amaral (2010) onde há a necessidade de ampliar a discussão política sobre o lazer, para
que a população o reconheça como relevante, cobrando as ações do Estado a fim de
assegurar esse direito constitucional.
42
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
43
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47
ANEXOS
Anexo I – Roteiro de entrevista
Instituição:
Nome do Projeto Social:
Entrevistado:
Função:
48
Anexo II – Comitê de Ética
49