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Federação Espírita

Guardiões da Luz
O Bàbáláwo
O Bàbáláwo (pai que detém o segredo) é o sacerdote de maior importância
dentro do sistema religioso e de crença Yorubá; todos os procedimentos e
métodos ritualísticos e iniciáticos do sistema em questão dependem de sua
orientação, não podendo nada ser feito sem a instrução dele.

Esta figura, que aqui no Brasil entendemos como sendo apenas religiosa, na
África era e é, ainda hoje, tratada e adorada pelos povos da mesma forma que
o papa católico, pois orientava toda e qualquer pessoa sobre todo e qualquer
assunto. Uma vez que começaremos a descrever a hierarquia imposta pelo
sistema oracular de Ifá perante os seus adoradores e seguidores, não podemos
deixar de, inicialmente, falar que esta hierarquia rígida e organizada só pode
ser exercida na África; para nós, aqui no Brasil, cultuadores e adoradores de
Ifá, vale conhecê-la, respeitá-la e procurar, da melhor maneira, adequá-Ia
dentro das condições impostas pela nossa sociedade.

Ser um Bàbáláwo na África não é fácil, pois a sua carreira, se assim podemos
dizer, começa desde muito cedo; a criança que fosse aprender os segredos de
Ifá deveria obrigatoriamente ter nascido em Ilé Ìfé, e só chegaria aos cargos de
maior poder caso pertencesse à família real.

Esta criança, ao se aproximar dos sete anos de idade, passaria a viver em uma
comunidade secreta, restrita e fechada, pertencente aos cultuadores de Ifá
daquele reinado; a criança, então, passaria a estar sob a responsabilidade de
um dos membros desta comunidade, chamado de Ojúgbònà  (mestre de
ensinamentos dos caminhos de Ifá), e passava a ser chamado de omo áwo
(filho do segredo), tendo a obrigação de obedecer e servir ao seu mestre como
se ele fosse o seu próprio pai. Tempos depois, porém ainda em pleno
aprendizado, quando já acompanhava o seu mestre em saídas públicas, esta
criança passaria a ser conhecida como Akopo, que é aquele que carrega a
bolsa que contém Abira (objetos sagrados de Ifá), bolsa esta que seu mestre
utilizava para efetuar a divinação sagrada.

Daí, então, a criança era submetida a uma disciplina intensa e até certo ponto
árdua, pelo fato de ter de memorizar os dezesseis principais versos de Ifá por
completo, que são os que utilizamos no oráculo dos búzios.

Após isso, a criança passaria a aprender e memorizar os demais versos de Ifá


correspondentes aos omo odú (256 odú, que são combinações dos dezesseis
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básicos entre si). Feito isso, ela começava a aprender a prática de ebo, adimú e
a utilização das folhas como medicina sagrada dos Òrìsà.

Conseguindo chegar a este ponto, o Akopo receberia de seu mestre o, então,


esperado e cobiçado prêmio: a sua Owò Áwo (mão do segredo), a tal,
chamada Mão de Ifá que, aqui no Brasil se diz "mão de búzios", recebida após
alguns atos religiosos de iniciação do futuro sacerdote.

O cargo de Owó Áwo era a coroação de anos de esforços e estudos intensos,


sendo sancionada em ritual próprio que promovia a união do mundo natural e
do sobrenatural, juntamente com a intuição psíquica introduzida pelo transe
mediúnico leve, que passava a abrir canais diretos de percepção do Bàbáláwo
para a presença do àsé de Orúnmilà,Èsù Bara, Ori e seu Olori; já que o
sacerdote jamais entraria em transe possessivo, sendo isso, na verdade, a
grande diferença entre o verdadeiro Bàbáláwo e o Bàbálòrìsà.

Assim sendo, todo Bàbáláwo se esforçava para alcançar, sucessivamente, as


três categorias imediatamente superiores de sua carreira e, se as alcançasse e
estivesse habilitado também por seu nascimento em uma das dezesseis
famílias nobres de Ilé lfè, ele habilitava-se, ainda, a disputar uma das
dezesseis supra-divisões hierárquicas e vitalícias dos Awoni (advinhos de Ifá).

O primeiro degrau a ser superado era o de ser Bàbá Elegán: o pai que tem e
carrega elegán (egán é uma pena de um passáro sagrado). O Bàbá Elegán era
obrigado a manter sempre a sua cabeça totalmente raspada e a descobri-Ia,
caso portasse alguma cobertura, na presença de Bàbáláwo de categorias
superiores.

O segundo degrau só seria alcançado após alguns anos de prática, que era a
obtenção do cargo de Bàbá Olòsù: o pai que tem tufos de cabelos, cargo em
que era permitido deixar crescer um tufo de cabelo do lado direito posterior da
cabeça.

O terceiro degrau, na ascensão religiosa de um Bàbáláwo, era o cargo de Bàbá


Olodu: o pai que tem Odú. Para chegar a esta condição o sacerdote deveria,
além de tudo que já mencionamos, ter assentado Odu e ser detentor de um
extraordinário Oso (poder mágico). A partir deste ponto poderia passar a ser
reconhecido como Ifá-Toso: aquele que tem os poderes mágicos de Ifá.

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A seguir, ou paralelamente à terceira graduação mencionada, havia outro
posto, que era mais um reconhecimento de mérito específico, mas que era
necessário para se alcançar algumas funções públicas e políticas, que é o título
de Olúwo: o senhor dos Segredos de Ìfá.

Assim, chegamos ao patamar maior do sacerdócio de Orúnmilà e do credo


Yorubá, que é o quarto degrau de ascensão da carreira religiosa de um
Bàbáláwo à categoria de Àwoni, que são sacerdotes ou adivinhos reais.

Para ser um Àwoni, um Bàbáláwo precisava obedecer a algumas regras


básicas:

 precisava ser um Bàbáláwo praticante;


 precisava ter status de Olodù;
 precisava obter a reputação de Olúwo;
 precisava já ter sido um Ojúgbònà;
 precisava ter nascido em Ilé Ìfé e em uma das dezesseis famílias reais.

A hierarquia do sacerdócio do culto à Orúnmilà apresenta ainda outros cargos,


que são:

 Iwarefá: funcionário encarregado de cuidar dos assuntos de Orúnmilà


dentro do palácio real;
 Otú: funcionário encarregado de executar os sacrifícios do Rei;
 Oloyare: sacerdotes de pequena ordem da cidade de Ilé Ìfé;
 Émése: atendentes encarregados dos mais de cinqüenta Orígi
(montículos sagrados de Ifá que estariam em Ilé Ìfé).

O Bàbáláwo era, pois, o ponto central em volta do qual gravitava a ritualística


Yorubá, isto porque as funções de um Bàbáláwo não se restringiam à
divinação sagrada nem ao culto organizado de Orúnmilà, pois ele tinha de ter
conhecimentos específicos sobre os
cultos de todos os òrìsà e, nessa faixa, atuava tanto no atendimento aos
devotos desses òrìsà como no aconselhamento e assessoramento aos
sacerdotes dos outros òrìsà.

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Quando, pouco antes, dissemos que para ser um Àwoni, é preciso ter a
reputação de Olúwo, dissemos, na verdade, que um  Àwoni deve obedecer às
seguintes regras:

 Ser humilde o suficiente para reconhecer os próprios erros e pedir


desculpas para o, até então, prejudicado;
 Ser humilde para buscar aprimorar-se junto de seus mais velhos e
acumular conhecimentos do oráculo de Ifá;
 Sempre estar de prontidão a ajudar a alguém necessitado;
 Não cobiçar nem relacionar-se com a mulher do próximo;
 Efetuar o jogo de graça para quem não tiver condições de pagar;
 Dedicar-se a adorar Orúnrnilà durante toda a sua vida;
 Não praticar feitiço contra outra pessoa;
 Não provocar intrigas junto de seus mais velhos e mestres;
 Ajudar de qualquer maneira um outro sacerdote que esteja passando por
qualquer tipo de dificuldade, não importando a sua graduação;
 Não provocar intrigas com outros sacerdotes;
 Não falar mal de outro sacerdote, a não ser para ele mesmo e em
reuniões secretas, efetuadas dentro do palácio real;
 Não divulgar as discussões tidas entre os membros do palácio real.

Ao desenvolver o jogo de búzios para uma pessoa, o sacerdote deve ter a


técnica, que só será aIcançada após muita prática e dedicação, e a
sensibilidade de percepção para utilizar as possíveis ajudas das entidades ali
presentes através da audição, intuição, visão e/ou outros.

O sacerdote deve aprender e procurar sempre desenvolver o seu próprio jogo


para não ficar extremamente limitado, assim vindo a limitar-se quanto às
respostas a serem obtidas e, conseqüentemente, quanto às soluções dos
problemas. Os sacerdotes de Ifá nunca devem achar que já sabem tudo ou que
sabem o suficiente para desenvolver o seu trabalho, mas, sim, ter a gana e a
vontade incansável de, cada vez mais, buscar novos conhecimentos dentro do
culto de Ifá, mesmo porque nem todos os versos de Ifá estão registrados ou
grafados em livros ou outros meios de obtenção de conhecimento. Vale
lembrar que, na África, os ensinamentos de Ìfá eram recitados; assim sendo,
muitos foram perdidos ao vento. Outro fato importante para a real integração e
desenvolvimento do jogo entre o Ifá e o sacerdote, é que este deve possuir
dentro de seu coração e mente, a humildade de saber dizer "eu não sei", para
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que assim possa buscar com mais facilidade aquilo que realmente não sabe.
Não devemos nos deixar levar pela vaidade que se encontra contida dentro de
nós; nunca iremos saber tanto quanto os aprendizes existentes na África, e fato
de um sacerdote não ter conhecimento de um assunto específico, sendo
forçado a procurar um outro sacerdote que saiba sobre aquele determinado
assunto, não significa que o anterior saiba menos ou mais que o outro, até
mesmo porque, para Ifá, o que importa neste caso não é saber quem tem mais
conhecimentos sobre o seu culto, mas, sim, poder verificar a real integração
entre seus filhos e adoradores.

Um exemplo prático do que dissemos acima é que, ao jogar os búzios para


uma determinada pessoa, dificilmente a solução para os problemas dela se
encontrará somente na execução de um único ritual ou de um único ebo. Pode
até se apresentar desta maneira, mas, com certeza, ficará faltando algum
complemento para levar uma melhora substancial à vida daquela pessoa.

Sempre utilize o bom-senso ao jogar para alguém; sempre esteja com o


pensamento voltado para conseguir ajudar aquela pessoa, pois cada pessoa
que procura um jogo de búzios ou qualquer outro tipo de oráculo, é motivada
por algum tipo de problema que a aflige e tira a sua tranqüilidade; a função do
sacerdote é, por meio do oráculo, contatar o problema, interpretá-lo e
apresentar as soluções dadas por Ifá para o mesmo.

Para que isso possa ocorrer com absoluta segurança, é indispensável que, no
momento do jogo, o sacerdote esteja em completa concentração e o local seja
propício ao jogo, pois as entidades invocadas estarão presentes assistindo e
emprestando auxílio ao sacerdote e ao consulente. Não se pode esquecer que
essas entidades estarão presentes observando tudo o que se passa durante a
consulta, estarão observando não só a sinceridade do sacerdote perante o
consulente, mas também os seus pensamentos e sentimentos para com este;
assim, devemos sempre manter imenso respeito pelos consulentes que nos
procurarem para uma consulta; respeitando-os, estaremos respeitando Ifá.

É obvio dizer que, para uma determinada consulta ser finalizada com
completo êxito não basta apenas que o sacerdote exerça o que acabamos de
dizer, mas que também as suas obrigações perante o seu Èsù Bara assentado
estejam em dia, como também as suas obrigações e iniciações junto a Ifá.

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Texto extraído do Livro: Jogo de Búzios e o Culto a Ifá
Autores: Nelson Pires Filho e Wagner Veneziani Costa
Ed. Madras

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