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MÓDULO II
SALVAMENTO AQUÁTICO
Princípios e Procedimentos Gerais para o Guarda-Vidas
Créditos e Informações
CONTEÚDO REVISADO
E ATUALIZADO EM:
2014
Colaboradores:
8º Grupamento de Bombeiros (Manual de Salvamento Aquático 2014)
Conteudista: 1º Ten. QOBM Alexis Iverson Martins - BM/3 (2014)
Diagramação: 1º Ten. QOBM Jonatas Barrionuevo Theodoro (2014)
Ajude você também a melhorar os conteúdos! ccb-bm3-ensino@bm.pr.gov.br
De acordo com Beek e Branche (2006, p. 41), confirmando estudos da OMS, afogamento é uma grande
causa de óbitos, invalidez e perda de qualidade de vida. Com aproximadamente 409.000 óbitos por afo-
gamento ao redor do mundo anualmente, é um significante problema de saúde pública. O índice mundial
de mortalidade por afogamento está próximo de 8,4 por grupo de 100.000 habitantes.
De maneira geral, homens têm uma probabilidade três vezes maior de se afogar do que as mulheres, con-
siderando qualquer faixa etária, podendo chegar, em alguns países, entre adolescentes, a taxas de nove
afogamentos de adolescentes do sexo masculino para cada afogamento de adolescentes do sexo femini-
no.
A faixa etária de maior ocorrência de óbitos por afogamento, no Brasil, é de 20 a 29 anos, sem distinção
entre estados banhados ou não pelo mar, sendo que o homem morre em média cinco vezes mais por afo-
gamento do que a mulher, independentemente da faixa etária, atingindo o ápice de 8,7 vezes mais fre-
quente na faixa etária de 20 a 29 anos.
Em 2010, a partir da análise de 1.353 Relatórios de Incidente com Pessoa em Meio Líquido
(RML), foi possível fazer, pela primeira vez, a definição do perfil epidemiológico da vítima
de incidente em meio líquido nas praias oceânicas do litoral do Paraná.
Foram definidos três grupos de fatores que podem influenciar a ocorrência dos incidentes
em meio líquido. Cada um destes fatores foi subdividido em componentes que possuem sua
parcela de participação nos eventos.
Indivíduos entre 10 e 14 anos contribuem com mais de 31% das ocorrências e aqueles entre
15 e 19 anos com, aproximadamente, 20% dos incidentes. Portanto, apenas essas duas
faixas etárias, que representam algo em torno de 19% da população, contribuem com mais
de 50% das ocorrências, demonstrando que deve haver um cuidado especial com a elabo-
ração de programas de prevenção voltados para indivíduos jovens entre 10 e 19 anos de
idade.
Em casos relativos somente a óbitos o sexo masculino contribui com mais de 89% dos ca-
sos e as faixas etárias dos 15 aos 19 anos e dos 20 aos 24 anos contribuem com, respecti-
vamente, 33,85% e 16,15% das ocorrências, perfazendo exatamente 50% do total. Essas
faixas etárias representam, segundo dados do IBGE (2000), menos de 19% da população.
34% da população paranaense está cursando ou já concluiu algum curso de nível superior,
no entanto, apenas 5,6% dos indivíduos que se envolvem nessas ocorrências estão inseri-
dos neste grupo. Por outro lado, mais de 92% dos envolvidos possuem até 11 anos de estu-
do, ou seja, está cursando ou concluiu o ensino fundamental e não continuou os estudos,
porém apenas 65% da população, de modo geral, encontram-se nesta situação.
78% dos casos a vítima estava acompanhada de pais ou familiares e que em mais de 24%
desses eventos a vítima era menor de 18 anos de idade e estava acompanhada pelos pais,
revelando falta de conhecimento dos pais quanto às medidas de segurança a serem toma-
das para evitar os incidentes com filhos púberes e pré-púberes.
48,26% dos indivíduos que se envolveram em incidentes em meio líquido declararam não
saber nadar e outros 22,91% declararam ter conhecimentos básicos, o que significa, do
ponto de vista prático, não possuir habilidade de natação suficiente para, efetivamente,
nadar no mar.
37% dos indivíduos envolvidos em um incidente em meio líquido declararam que ficariam
entre um e dois dias no litoral e que em torno de 90% das vítimas ficariam menos do que
oito dias nas praias. Por outro lado, residentes se envolveram em cerca de apenas 3% das
ocorrências, além de outros 7% de ocorrências que envolveram pessoas que ficariam mais
do que oito dias no litoral.
79% dos casos ocorreram com pessoas que estavam aproveitando o mar para banhar-se.
Em quase 11% dos casos a atividade estava ligada a algum tipo de esporte com prancha.
Nesse sentido, causa preocupação a prática de esportes de prancha por pessoas sem habi-
lidade e conhecimento para tal, incidindo, em grande parte dos casos, em uso inadequado
do material, como, por exemplo, o uso de pranchas de bodyboard sem a utilização de nada-
deiras, as quais são essenciais para o deslocamento com o equipamento.
Quando alguém se afoga em uma área balneária atendida por guarda-vidas não é em vir-
tude de falta de habilidade, velocidade, força ou conhecimento daquele profissional, mas
sim devido a lapsos mentais, distração ou monotonia, que levaram o guarda-vidas a não
perceber sinais de um incidente em andamento na água. Existe um grande número de teo-
rias a respeito de maneiras apropriadas de um guarda-vidas manter a vigilância em seu
local de trabalho, no entanto, a maioria dessas teorias é baseada muito mais em opiniões
do que em fatos.
Situação de Risco
A situação de risco se refere aos casos em que o banhista está em dificuldade de voltar sozinho
para um local seguro, no entanto, em virtude de sua capacidade de se manter na superfície, con-
segue acenar ou chamar por socorro. A esta vítima podemos chamar de “nadador cansado”. É a
típica vítima que auxilia o guarda-vidas, facilitando seu serviço de resgate.
Situação de Afogamento
A situação de afogamento pode ser dividida em dois tipos, a que envolve vítimas passivas e a que
envolve vítimas ativas.
As vítimas passivas normalmente afundam sem dar qualquer sinal ou lutar na superfície por sua
vida. Geralmente isso ocorre em virtude de súbita perda de consciência, muitas vezes causada por
ataques cardíacos, derrames, choques térmicos, congestões ou pelo consumo excessivo de bebi-
das alcoólicas. O guarda-vidas deverá procurar identificar este tipo de vítima, previamente à en-
trada na água, e, em caso de positivo, deverá observar cuidadosamente este banhista, procuran-
do se antecipar a incidentes.
A vítima provavelmente afundará e voltará à superfície diversas vezes durante esse processo de luta.
As crianças podem suportar essa luta por aproximadamente 10 a 20 segundos antes da submersão
final, enquanto que os adultos provavelmente suportarão de 20 a 60 segundos nessa situação.
Em virtude do ato de respirar ter, instintivamente, precedência sobre outros fatores nessa situação,
as vítimas de afogamento normalmente ficam sem condições de pedir por socorro. E a experiência
mostra que se o guarda-vidas não estiver atento ao cenário que o cerca, incidentes podem ocorrer sem
que se percebam os sinais que já estavam externando a necessidade de auxílio.
a) Posição vertical característica na água, com as pernas pendendo diretamente para baixo e sem
realizar qualquer tipo de esforço para manter o corpo na superfície e a cabeça acima da linha d’água.
Esta posição impede que o corpo bóie.
b) Movimentos instintivos dos braços. As vítimas tentam manter suas cabeças ele-
vadas em relação à água usando os braços para bater na superfície da água, lateralmente ao corpo.
No entanto, estas vítimas não conseguem erguer suficientemente os braços para pedir por ajuda. Elas
poderão parecer despreocupadas com a situação, como se estivessem
c) O pescoço estará superestendido, com a cabeça jogada para trás e o queixo apon-tando para cima,
procurando manter o rosto fora d’água, na esperança de respirar. Enquanto tenta respirar, não conse-
gue pedir por socorro. Um guarda-vidas sem treinamento adequado irá observar uma vítima afogar-se
sem, no entanto, perceber que isto está acontecendo, até
d) Esta vítima irá se debater na superfície da água por 20 a 60 segundos e, incapaz de progredir em
direção à segurança, finalmente submergirá.
A varredura visual e a vigilância de um guarda-vidas podem ser descritas como sendo a observação,
memorização e avaliação das vítimas e condições da área que está sendo patrulhada. Desta forma,
varredura visual é a utilização do sistema visual para fornecer informações do mundo externo ao cé-
rebro, permitindo ao guarda-vidas a adoção de um planejamento estratégico e o gerenciamento de
suas funções, o que resultará em um ambiente mais seguro para os banhistas.
A varredura visual de uma determinada área é acompanhada de ideias conflitantes. É sabido que um
tempo maior de observação de uma área específica permite uma melhor avaliação do que está ocor-
rendo. No entanto, é importante, também, que esta varredura visual seja feita rápida, já que um afo-
gamento pode ocorrer em um intervalo de 20 a 60 segundos.
Padrão carta – efetue a varredura visual de sua área de responsabilidade como se estivesse lendo uma carta, da
esquerda para a direita e de cima para baixo (do ponto mais distante para o ponto mais próximo da areia).
Agrupando – conte o número de banhistas por grupos pequenos e mantenha a conta de cada um desses grupos.
Monitore as mudanças do número de banhistas nos grupos.
Contagem individual – conte o número total de banhistas em sua área de atuação e monitore as mudanças.
Rastreando – Siga com o olhar os banhistas que mergulham para ter certeza de que emergirão.
Pontos críticos – também conhecidos por hotspots, correntes de retorno, pedras, molhes, trapiches, desemboca-
duras de rios, entre outros pontos, devem ser sempre fonte de particular atenção por parte dos guarda-vidas.
Atividades incomuns – observe atentamente grupos incomuns de banhistas ou atividades que parecem estar fora
de lugar.
Pesquisas recentes demonstraram que quanto mais visual ou sonoramente poluído um ambiente menor
será a possibilidade de se concentrar em uma atividade e as pessoas tendem a ficar menos atentas a
objetos e eventos periféricos. Isto também ocorrerá com guarda-vidas em um dia de praia lotada e cheia
de barulho e movimento.
• ABORRECIMENTO E MONOTONIA;
• STRESS;
• HORÁRIOS E TURNOS;
• FADIGA E USO DE ÁLCOOL;
• DESIDRATAÇÃO, SOL E CALOR.
O Corpo de Bombeiros, no que concerne ao seu serviço de prevenção e salvamento aquático, embora pudesse
ser em qualquer de suas áreas de atuação, deve manter rígido controle sobre os seus procedimentos, desde a
consolidação de pesquisas e formulação de teorias, conceitos e técnicas, passando pela formação, treina-
mento e reciclagem do seu corpo profissional, até à efetiva atuação desses profissionais durante as operações
verão.
SOUZA, Paulo Henrique de. PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS GERAIS PARA GUARDA-VIDAS. In:
SOUZA, Paulo Henrique de, 1970 - (Org.) Manual Técnico de Salvamento Aquático / Corpo de
Bombeiros da Polícia Militar do Paraná. - 1a Edição. Curitiba : Associação da Vila Militar
- Departamento Cultural, 2014. 340 p.