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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTC

DISCIPLINA DIREITO E ARTE


NOTURNO, HORÁRIO 7:20 ÀS 08:10

ROSEANE PINHEIRO ICÓ

ILHÉUS, BA
2021
Pesquisa sobre a relação entre Direito e Arte

Obra escolhida: O livro O Pequeno Príncipe.


Autor: Antoine de Saint-Exupéry.

Resumo do livro:

 A história do livro é narrada por um aviador que, como a maioria dos


adultos, aprendeu a deixar a criança que fora em seu passado. Mas uma pane
no seu avião o forçou a pousar em um deserto na África, um lugar ermo que
mudaria para sempre a sua vida. Foi em meio a esta situação emergencial e
desagradável que o piloto conheceu o pequeno príncipe.
O principezinho apareceu ao piloto pedindo que este desenhasse um
carneiro. Mesmo não entendendo muito bem o pedido, o aviador desenhou. Foi
assim que se conheceram e começaram a dialogar.
O homenzinho relata ao piloto como é o seu pequeno planeta. Fala
sobre os três vulcões, os baobás, o pôr do sol e sua amada flor. Todos estes
pequenos elementos do seu planeta, trazem ao piloto um novo olhar sobre o
que é realmente importante na vida.
Em meio ao conserto do avião, o pequeno príncipe conta ao piloto
como foi parar no planeta Terra. Em sua viajem, passou por seis outros
planetas. Cada um desses planetas o principezinho conheceu figuras
excêntricas. E quando chega ao planeta Terra, ele encontra outros
personagens como a serpente e a raposa. Nasce, então, uma amizade entre o
piloto e o principezinho.

Livro e Direito:
O direito é uma ciência que pode e deve dialogar com a arte. No caso
deste trabalho, os paralelos elaborados entre o mundo jurídico e o livro O
Pequeno Príncipe são inspiradores para uma nova visão do direito.
No início do livro, o narrador relata que, quando criança, fez um desenho
de uma jiboia que havia engolido um elefante e, ao mostrar a ilustração aos
adultos, ouvia deles que aquilo era o desenho de um chapéu. O menino, que
recém havia lido sobre aventuras na selva e sobre a capacidade das jiboias de
comerem suas presas inteiras, reconhecia em seu desenho uma jiboia que
tinha engolido um elefante. Já os mais velhos, influenciados pelas referências
do mundo adulto, enxergavam a aba de um chapéu naquilo que o menino dizia
ser as extremidades da jiboia, e entendiam como sendo a parte mais alta do
chapéu, a elevação que o menino desenhara no corpo da jiboia para
representar o elefante que a cobra acabara de engolir.
De fato, muitas vezes o que algo parece ser para uma pessoa ou para
um grupo delas, não é o que parece ser para outras tantas. Tal ocorre
frequentemente no mundo jurídico, em que uma mesma questão pode ser
analisada sob diversos aspectos e, a depender dos referenciais utilizados por
quem a analisa, pode-se chegar a diferentes resultados ou conclusões.
A mudança de paradigmas e, consequentemente, a assunção de novos
referenciais, leva a interpretações inovadoras, em virtude de aparatos
perceptivos que ainda não haviam aflorado. Em O Pequeno Príncipe, as
diferentes formas de perceber o mundo, a partir de referenciais subjetivos,
possibilitam que o mesmo desenho represente coisas tão diversas: uma jiboia
que engoliu em elefante, para um, e um chapéu, para outros.
Ocorre também quando o principezinho pede ao aviador que desenhe
um carneiro. Como o aviador não sabia fazê-lo, desenhou algo que comumente
se percebe como sendo uma caixa e explicou que o carneiro se encontrava
dentro dela. O principezinho, feliz, disse que era exatamente esse o carneiro
que ele queria, atribuindo, assim, ao desenho um significado bastante diferente
daquele que geralmente lhe é atribuído. No direito, por vezes os textos
normativos, enquanto significantes, ensejam significados não apenas
diferentes, mas muitas vezes radicalmente opostos.
No decorrer da história, um pouco a frente, o aviador, que é o narrador
do livro, relata que o primeiro astrônomo a falar sobre o planeta do
principezinho, o asteroide B612, foi um turco, em um congresso internacional,
no qual seus pares não lhe deram crédito, haja vista estar ele trajando roupas
típicas de seu país. Onze anos depois, o mesmo astrônomo repetiu a
demonstração, trajando vestes europeias e, dessa vez, todos acreditaram nele,
o que demonstra que a aparência e o emissor da mensagem podem sobrepor-
se ao seu próprio conteúdo, que fica relegado a um segundo plano.
Na aplicação do direito observa-se, por vezes, o dilema entre solucionar
os conflitos com base na tendência generalizadora da justiça ou mediante o
tratamento dos problemas singulares isolados (CANARIS, 2008). Tendo em
vista o grande número de processos que abarrotam o Poder Judiciário e a
consabida falta de estrutura deste para dirimir os litígios que são submetidos à
sua apreciação, tem-se tornado bastante comum a aplicação indistinta de
jurisprudências, a fim de pretensamente solucionar, de modo mais célere,
situações das mais diversas.
Verifica-se, com isso, que as particularidades do caso concreto são
desconsideradas, em nome de um julgamento mais rápido. De fato, o
entendimento dominante sustenta que os conflitos sub judice devem ser
julgados de modo sistemático, ou seja, devem ser solucionados com base na
totalidade da ordem jurídica. Mas tal não significa defender a morte da
tendência individualizadora da justiça, consubstanciada na equidade,
especialmente em se tratando de setores do direito marcados por lacunas ou
por cláusulas gerais (CANARIS, 2008).
O primeiro planeta era habitado por um rei que fazia questão de ver
sua autoridade respeitada. Este rei se gabava da obediência às suas ordens,
todavia, todas as suas diretrizes eram medidas que naturalmente seriam
cumpridas, ou seja, eram comportamentos esperados. Como explicou ao
pequeno príncipe: “‘Se eu ordenasse’, costumava dizer, ‘que um general se
transformasse numa gaivota e o general não me obedecesse, a culpa não seria
do general, seria minha’’. O mais interessante nesta passagem do livro é que a
postura do rei muito se assemelha à questão da eficácia social da norma
jurídica. Uma lei para ter eficácia necessita estar de acordo com os anseios e
comportamentos de uma sociedade ou grupo social.
Assim como o vaidoso e o bêbado do planeta, o Direito não pode ser
passivo. Sabe-se que a lei sempre serviu ao titular do poder como fator de
ratificação e consolidação de uma realidade dada. De tal maneira que cada vez
que há uma mudança significativa do titular do poder, há também a
necessidade de nova regulamentação para aquela sociedade. O Direito deve
ser agente transformador e não somente agente abalizador tanto para o Estado
quanto para o povo.
É evidente que neste livro há algumas incidentais referências jurídicas
absolutamente corretas. Já referimos as diferenças entre reinar e governar e
reinar e possuir. O que tem implicações não apenas técnicas, mas que vão
muito mais longe que a técnica. Por outro lado, a descrição da aquisição
originária está perfeita, embora não tenha especial sentido no contexto. Mas
está, em si mesma, muito bem descrita:
“– Como pode a gente possuir as estrelas?
– De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios.
– Eu não sei. De ninguém.
– Logo são minhas, porque pensei primeiro.
– Basta isso?
– Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele
é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens
uma ideia primeiro, tua a fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo
as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a ideia de as possuir.”
Nas lições propriamente jurídicas deste texto tem a ver de novo com a
natureza das coisas, mas agora de uma forma mais carregada de tintas do
Direito.
O Principezinho procura um amigo verdadeiro. O Direito almeja a
encontrar a sua mãe, Justiça, mas nessa demanda precisa de amigos, de
defensores, de paladinos.
Referências Bibliográficas

CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema


na ciência do direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. Tradução de: A.
Menezes Cordeiro.
]
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. 48. ed. Rio de Janeiro:
Agir, 2009. 92 p. Tradução de: Dom Marcos Barbosa.

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